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Vida Eterna (Março de 2009)

Foto do escritor: Revista O CristãoRevista O Cristão

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Revista mensal publicada originalmente em março/2009 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          Tema da edição

          A. H. Rule

          W. J. Prost

          W. W. Fereday

         A. C. Ord

          W. T. P. Wolston

          E. Dennett, The Christian Friend, 15:49

          J. N. Darby

          Adaptado de A. C. Ord

          G. V. Wigram

          J. N. Darby, selecionado

          Autor desconhecido

 

Vida Eterna

  

Se temos o Filho, temos a vida eterna. Se não temos o Filho, não temos essa vida. Quando Jesus Cristo, o Filho de Deus, Se tornou Homem, Sua vida era a luz dos homens. Ele não foi recebido, pois o homem na carne não somente está nas trevas, mas é as próprias trevas e está em uma condição de morto diante de Deus. Deus, por meio do Filho, fala aos homens que estão nessa condição: “vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão” (Jo 5:25).

 

Antes de existir o tempo, nós existíamos apenas nos propósitos de Deus. Agora pertencemos à eternidade. Passamos à existência ao nascermos da carne, mas agora nascemos “de novo” pelo Espírito de Deus por meio de Sua Palavra recebida em fé. Nossa nova vida é do céu. Nossa nova vida é a vida no Espírito, “em Cristo Jesus”, e o próprio Cristo é a nossa vida. Deus nos gerou em Sua família e, como Seus filhos, participamos da natureza divina. A vida que temos flui desse Homem que foi ressuscitado dos mortos e glorificado pelo poder de Deus – uma vida além do reino da morte. Como filhos de Deus, nós a temos agora, e pela fé devemos tomar posse do que será quando estivermos com Ele e formos semelhantes a Ele com nosso corpo glorificado.

 

Tema da edição 

 

O Que as Escrituras Dizem sobre a Vida Eterna 


Não sabemos nada sobre a vida eterna além do que Deus graciosamente nos revelou pelo Seu Espírito na Palavra escrita. Que possamos nos voltar para ela com reverência e temor de Deus e receber seus ensinamentos com um coração adorador, lembrando que o Espírito perscruta “as profundezas de Deus” e nos faz “conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus”.

 

A Escritura nos ensina que a “vida eterna” foi prometida antes do início do mundo. Também lemos sobre “a promessa da vida que está em Cristo Jesus” e que “o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por [ou melhor, em – ARA] Cristo Jesus, nosso Senhor” (Tt 1:1-2; 2 Tm 1:1; Rm 6:23). Aprendemos também que a “vida eterna” estava “com o Pai” (1 Jo 1:2). Com o Pai, a vida eterna estava na Pessoa do Filho eterno antes de Ele Se tornar carne. Mas a vida eterna foi “manifestada”. Preciosa verdade! “A Palavra da vida” foi vista e ouvida, contemplada e tocada. “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14). “A vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada” (1 Jo 1:2). Em toda a Sua vida, modos, palavras e ser, a vida eterna foi manifestada a tal ponto que foi vista, ouvida e declarada. A vida foi manifestada na perfeição de Sua Pessoa, em perfeito amor, obediência e justiça, em comunhão ininterrupta com o Pai e em cuidado para com os outros; sim, as próprias “palavras” de nosso Salvador encarnado eram “espírito” e “vida”. Ele era “a vida” e “a verdade”, vistas e ouvidas. Um grande mistério, de fato, que não pode ser explicado por linguagem humana. O profundo pecado da mente humana é tentar desvendar e explicar o que o Espírito diz: “Grande é o mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne”, e novamente: “ninguém conhece o Filho, senão o Pai” (1 Tm 3:16 – ACF; Mt 11:27). Um mistério insondável de fato!

 

Vida e amor manifestados 

Quando o crente recorda Seu humilde e solitário caminho por este mundo pecaminoso e discerne no “Homem de dores” “o verdadeiro Deus e a vida eterna”, seu coração se enche de gozo e alegria. Ele reverentemente adora e encontra verdadeiro deleite em confessá-Lo e servi-Lo. No evangelho de João, vemos a vida eterna manifestada no Filho; a primeira epístola de João trata do caráter da vida eterna como algo comunicado aos crentes. Mas, embora a vida eterna tenha sido prometida, estivesse com o Pai e no devido tempo nos tenha sido manifestada, como ela poderia se apossar de nós, que éramos tais pecadores? A resposta é: o amor também se manifestou e atingiu seu imensurável clímax na morte de Cristo, o Filho de Deus, na cruz, pois dessa forma o dom divino da vida eterna poderia ser comunicado a nós. “Nisto se manifestou a caridade [o amor – ARA] de Deus para conosco: que Deus enviou Seu Filho unigênito ao mundo, para que por Ele vivamos” (1 Jo 4:9).

 

Assim, aprendemos que, com a morte de nosso Senhor Jesus Cristo, duas bênçãos maravilhosas nos foram garantidas: primeiro, a remoção de nossos pecados judicialmente e para sempre, pela oferta única de Si mesmo, e, segundo, para que pudéssemos viver por Ele. Aqui, novamente, nossa alma é tocada com o amor de Deus para conosco, e somos cheios de ações de graças e louvor. A graça divina operou para “que por Ele vivamos”, pois nosso Senhor disse: “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24). Sim, os homens devem ser judicialmente limpos de seus pecados pelo sacrifício de Cristo, a fim de estarem em verdadeiro relacionamento com Deus. Que amor indizível que “Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”.

 

Vida ressurreta

Na ressurreição – a ressurreição do Filho dentre os mortos, pela qual Ele foi declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santidade –, nós O contemplamos vivo novamente, e isso para todo o sempre. Pelo poder divino e pela justiça divina, Deus interveio e O ressuscitou dentre os mortos, e O glorificou como Homem à Sua própria destra. Agora, lemos que “Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho” – não apenas “por Ele” que por nós suportou o juízo, mas “n'Ele” glorificado. Ela é o dom de Deus, e está no Filho. Ele disse: “Eu sou... a vida. Ela é, então, para nós uma vida nova e eterna, tanto por meio do Filho quanto no Filho, e o dom de Deus. Que sabedoria, amor e poder divinos são assim trazidos à vista! O dom de Deus, então, é a vida eterna – nada menos que a vida eterna. Lemos, portanto, a respeito do apóstolo inspirado escrevendo aos crentes e dizendo: “Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em Seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevo, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna” (1 Jo 5:11-13 – AIBB). Uma vida inteiramente nova nos foi comunicada e devemos saber que a temos. Nos é dito que “passamos da morte para a vida”. Os efeitos de ter essa vida são amor aos irmãos, obediência, justiça, comunhão e oração, aos quais o Espírito certamente conduz; em resumo, andar como Ele andou, pois todos esses caminhos eram perfeitos n'Ele que é a nossa vida.

 

Presente possessão

Nada pode estar mais claramente estabelecido na Escritura do que a presente possessão da vida eterna. “Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho”. Embora comunicada a nós, ela está no Filho como sua fonte e manancial, e é desfrutada por nós ao nos alimentarmos d'Ele. Estávamos mortos, mortos em pecados, até que pela graça ouvimos a voz do Filho de Deus e vivemos: “Os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (Jo 5:25). Até termos fé na obra expiatória do Filho do Homem, não tínhamos nenhuma vida em nós; agora temos vida eterna, e Jesus acrescentou: “Eu o ressuscitarei no último Dia” (Jo 6:54). Que certeza divina essas palavras nos dão de estar em glória com o Salvador!


O Espírito Santo  

Mas, além de termos a vida eterna, o Espírito Santo nos foi dado como o selo, o penhor de nossa herança e a unção. Assim, temos o poder para a comunhão com o Pai e o Filho e para servir e honrar nosso Senhor Jesus Cristo com alegria (Gl 4:6; Rm 8:15; 15:13; Ef 1:13-14). Tendo recebido a vida no Filho, devemos manifestá-la em nosso corpo mortal. Considerando a carne como morta, devemos andar “trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos” (2 Co 4:10). Enquanto no mundo, com a carne ainda em nós, devemos nos considerar como mortos com Cristo e, como vivos para Deus, devemos manifestar a vida de Jesus em nossa carne mortal. Isso é Cristianismo prático.

 

Resultados eternos 

Também descobrimos que a Timóteo foi dito: “toma posse da vida eterna” (1 Tm 6:12). Não tinha ele recebido o dom da vida eterna? Certamente que sim. Mas “toma[r] posse da vida eterna” é agarrá-la pela fé em todos os seus resultados gloriosos e eternos, quando reinaremos “em vida” (Rm 5:17). Nós, assim, tomamos posse de tudo o que a vida eterna envolve, e assim a tornamos nossa pela fé e esperança, para que sua bem-aventurança seja desfrutada agora. Com essa gloriosa perspectiva diante de nós e o Espírito revelando-a a nós, seremos conduzidos adiante. Cristo será reproduzido em nossa vida e andar, e estaremos separados do que não é adequado a Ele.

 

É claro que, quando o Senhor reinar, os salvos das tribos de Israel, bem como os gentios, entrarão na vida eterna em uma ordem, sem dúvida, adequada a pessoas abençoadas na Terra (Dn 12:2; Mt 25:46).

 

Manifestados com Ele  

Mas Cristo será manifestado novamente. Quando o Encarnado esteve na Terra, como vimos, a vida eterna se manifestou. Naquele tempo, Ele estava sozinho. Mas quando Ele Se manifestar em glória, “os filhos de Deus” serão manifestados com Ele. “Quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos” (1 Jo 3:2). Também lemos que “quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então, vós também sereis manifestados com Ele, em glória” (Cl 3:4). Estando já vivos espiritualmente, aguardamos o Salvador para transformar nosso corpo de humilhação e moldá-lo “conforme o Seu corpo glorioso”. Nós já temos a vida eterna, mas, quando o Salvador vier, a “esperança da vida eterna” será realizada “num momento, num abrir e fechar de olhos”. “Então, cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória”.

 

Posse e esperança da vida eterna 

Enquanto o Cristianismo começa com a posse da vida eterna, “o fim” também é a vida eterna, mas tudo é “o dom de Deus”. Nós temos a vida eterna enquanto estamos vivendo na “esperança da vida eterna”. Vemos que a redenção também nos é apresentada na Escritura da mesma maneira. A respeito do crente é dito: “Em Quem [Cristo] temos a redenção pelo Seu sangue”, e, no entanto, estamos esperando “a redenção do nosso corpo” (Ef 1:7; Rm 8:23). O mesmo pode ser observado quanto à salvação – somos salvos e, no entanto, aguardamos pela salvação. O mesmo autor inspirado que diz: “Deus, que nos salvou”, também diz: “esperamos o Salvador... que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o Seu corpo glorioso”. Essa transformação e translação, em outro lugar nos é dito que ocorrerão quando o próprio Senhor descer do céu com alarido. Então, tendo a vida eterna em todas as suas gloriosas emanações, compartilhamos com Cristo a presença do Pai na casa do Pai, em toda a indizível bem-aventurança da glória eterna.          

 

A. H. Rule

 

Vida Eterna – Diferentes Aspectos 


A vida eterna é mencionada muitas vezes na Palavra de Deus, com a maioria esmagadora delas sendo encontrada no Novo Testamento. Dependendo do contexto e da verdade transmitida pelo Espírito Santo na passagem específica, eu sugeriria que existem pelo menos quatro maneiras diferentes pelas quais o assunto da vida eterna é apresentado na Escritura. É importante entendermos isso, pois podemos ficar confusos se não enxergarmos claramente o que Deus está nos dizendo.

 

O Filho em Sua encarnação 

Primeiro de tudo, temos Jesus Cristo, Filho de Deus, em Sua encarnação, apresentado a nós como a vida eterna que desceu à Terra. O evangelho de João apresenta isso muito claramente, e assim lemos: “N'Ele, estava a vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1:4). De modo geral, podemos dizer que o Evangelho de João é a vida eterna vindo à Terra na Pessoa do Filho, enquanto as epístolas de João (especialmente sua primeira epístola) abordam, em vez disso, a comunicação dessa vida aos crentes e as abençoadas consequências dela. Assim, João pode dizer do Senhor Jesus, a respeito de Seu caminho aqui na Terra: “porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada” (1 Jo 1:2).

 

Antes da vinda de nosso Senhor a este mundo, Deus não havia sido totalmente revelado, mas agora, como lemos em Hebreus 1:1-2, “Deus... a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho”. Deus foi revelado como um Deus Salvador, mas mais do que isso, Ele nos mostrou a vida eterna que estava no Filho e no Pai desde uma eternidade passada, mas que agora foi manifestada neste mundo no Homem – Seu Filho Jesus Cristo. Quando os homens contemplaram o Senhor Jesus aqui na Terra, eles viram a vida eterna.

 

Vida comunicada aos crentes 

Segundo, como mencionamos em conexão com a primeira epístola de João, Deus Se deleita em comunicar essa vida aos crentes. Isso é algo que não era conhecido no Velho Testamento. É verdade que, desde o início da história pecaminosa do homem, nova vida era comunicada pelo Espírito de Deus usando a Palavra de Deus (oral ou escrita). “Aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3:5). Esta é uma verdade que se aplica universalmente, a todas as dispensações. Mas a vida eterna é a vida em Cristo Jesus, e foi somente com a vinda do Filho a este mundo que a vida eterna foi prometida. Assim, ao crente é prometido não apenas que ele irá “nascer de novo”, mas que terá “vida eterna”. “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (Jo 3:36). “Estas coisas vos escrevo, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna” (1 Jo 5:13 – AIBB). “Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância” (Jo 10:10). A vida eterna é a presente possessão do crente, pois pela fé ele agora tem a mesma vida que Cristo Jesus tem, embora, é claro, uma vida derivada e, portanto, dependente, não independente. Não é meramente uma nova vida, mas uma vida que agora o associa intimamente à Fonte dela e o coloca em um relacionamento com Deus como seu Pai. É uma vida para ser desfrutada e vivida na energia do Espírito de Deus e com toda a proximidade de tal posição.

 

Vivendo a vida agora 

Terceiro, Deus espera que essa vida não seja meramente quieta e oculta, mas que seja desfrutada na alma e vivida neste mundo como Seus filhos para a Sua glória e o benefício de outros. Se Jesus Cristo era a vida eterna que desceu à Terra, “a vida era a luz dos homens” (Jo 1:4). A luz brilhou em um mundo de trevas, mesmo que o homem não a quisesse – “as trevas não a compreenderam” (Jo 1:5). Agora que a luz se foi, pois nosso Senhor agora está no céu, Deus chama Seus filhos, como participantes da natureza divina, a exibirem essa luz.

 

Mais do que isso, há inimigos neste mundo e há conflito no caminho Cristão. Assim, Paulo podia dizer a Timóteo: “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna” (1 Tm 6:12). Temos a vida como uma possessão presente, mas existe o aspecto prático de se apossar dela e buscar, com a ajuda do Senhor, viver no presente gozo daquela vida em que seremos perfeitamente semelhantes a Ele quando O virmos como Ele agora é em glória. Paulo diz aos gálatas que “o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna” (Gl 6:8 – ARA), mostrando-nos que, mesmo na Terra, o gozo dessa vida depende de obediência.

 

Além disso, se a vida eterna nos foi comunicada, nossas afeições irão para Cristo, “para conhecermos O que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:20). Ao tomarmos posse da vida eterna, conheceremos cada vez mais a Fonte dessa vida e perceberemos o lugar de bênção para o qual Deus nos trouxe.

 

Vida no fim da jornada 

Finalmente, temos a vida eterna apresentada como aquilo que obtemos no fim da jornada, quando a plena exibição dela será realizada. Essa visão da vida eterna é muito proeminente no ministério de Paulo. Em Romanos 6:22, Paulo diz: “agora... tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna”. Da mesma forma, em Tito 1:2, Paulo fala da “esperança da vida eterna”. Embora seja verdade que o crente tem a vida eterna como uma possessão presente neste mundo e que ele deve vivê-la em comunhão com o Senhor, ainda assim, quão mal fazemos isso, com tudo o que é contra nós! A carne – o velho pecaminoso “eu” – se afirma continuamente. O mundo, sob Satanás, seu deus e príncipe, é contrário ao crente em todos os sentidos, pois expulsou Aquele que era a vida eterna e pediu um homicida em seu lugar. Além disso, fazemos parte de uma criação que geme, e nosso corpo está sujeito a doenças e morte. Todas essas coisas se combinam para tornar turva e fraca a exibição da vida eterna.

 

Mas, em um dia vindouro, seremos perfeitamente semelhantes a Cristo. Nosso corpo será transformado em um corpo de glória, moldado “conforme o Seu corpo glorioso”. Não mais teremos a natureza pecaminosa, desejando pecar. Seremos tirados deste mundo, com todas as suas influências adversas, e transportados para uma esfera aonde o pecado nunca poderá chegar. É lá que a vida eterna florescerá como nunca pôde aqui embaixo, pois ela então estará no lugar onde foi projetada para se exibir.

 

Todas estas considerações deveriam, ao mesmo tempo, nos encorajar e nos exercitar, primeiro para nos darmos conta e desfrutarmos da vida que nos foi dada, e então procurarmos vivê-la em um mundo que rejeitou nosso Salvador.

 

W. J. Prost

 

A Fonte da Vida Eterna 

 

O Senhor diz mais em João 3 do que poderia ter sido conhecido nos tempos do Velho Testamento. Ele fala da vida eterna. Ele veio do céu para tornar Deus conhecido e mostrar o que convém a Ele e à Sua presença, e Ele era a manifestação da vida eterna. A vida eterna era Ele mesmo; sim, era Ele, uma vida celestial em fonte e caráter, cuja esfera apropriada e adequada é o céu, mas que é a porção desfrutada agora por todos os que creem no Filho. O Filho foi elevado para que vida pudesse ser concedida a todos os que confiam em Seu nome.

 

 W. W. Fereday

 

A Vida Eterna 

 

É dito que a vida eterna está no Filho, e não em nós, assim como falaríamos que a água está no reservatório, e não nos canos ou cisternas que ela abastece e através dos quais a água é levada até às casas onde ela é apreciada. Do mesmo modo, falamos da vida como estando na planta ou na árvore, não no galho ou na folha, embora eles estejam vivos em virtude de sua ligação com a árvore. Mas a vida é mencionada como estando em nós (2 Co 4:10-12). A vida eterna é vista como o Verbo, o próprio Filho. “N'Ele estava a vida”, “a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada”. Ela possui qualidades e características próprias: era a luz dos homens resplandecendo nas trevas e não foi compreendida por eles porque eles eram trevas. Foi vista, ouvida, contemplada e tocada, porque foi manifestada em carne. Tudo isso é algo objetivo, pois somos muito propensos a olhar de modo subjetivo para a vida comunicada a nós e a examiná-la em seus detalhes em nós, em vez de fixar nossos olhos nela em sua fonte (ou origem) e exibição, no Filho de Deus.

 

Dois perigos opostos estão diante de nós: de um lado, o de fazer da vida eterna, que todos os Cristãos possuem, uma questão de conquista, e, do outro, atribuir aos santos do Velho Testamento, ou às almas recém-vivificadas e que estão sob o convencimento do pecado ou sob a lei, essa vida eterna, que é a porção própria do Cristão como tal, a revelação completa do Pai e do Filho sendo conhecida e crida.

 

Vivificação 

Uma alma meramente convencida, na qual o Espírito de Deus operou, onde existe um verdadeiro senso do pecado e desejo por Cristo, é realmente vivificada, pois a dor é evidência de vida, e esses sentimentos são segundo Deus e produzidos pelo efeito da Palavra de Deus na alma. Isso vemos em Atos 2, onde a recepção da Palavra pregada fez aqueles que a receberam clamarem: “Que faremos, varões irmãos?” Eles creram na verdade falada a respeito de Cristo e de si mesmos, mas não conheciam o valor de Sua morte para eles ou como algo aplicável à culpa que sentiam. E é isso que o apóstolo Pedro lhes apresenta a seguir. Vemos a mesma obra do Espírito no próprio apóstolo, quando ele cai aos joelhos de Jesus, dizendo: “Senhor, ausenta-Te de mim, por que sou um homem pecador”. Havia atração por Cristo de um lado, e a consciência de sua própria inidoneidade e indignidade do outro. Por isso, em muitos casos nos dias atuais (e ainda mais antes de o perdão dos pecados ser tão pregado como é hoje), encontramos almas que sentem o que é o pecado e olham para Cristo como um mediador entre Deus e elas, mas não têm conhecimento de Sua obra absolvendo-as diante de Deus. Elas O reconhecem como Filho do Homem, e até mesmo como um divino Salvador, mas não como o Filho que revela o Pai, e ainda têm medo de Deus, a Quem consideram à distância e não O conhecem como Pai. Eles são como os israelitas no Egito, antes de cruzarem o Mar Vermelho e verem todos os seus inimigos mortos à beira-mar, sendo conduzidos como por terra seca pelas mãos do próprio Deus. As almas podem, assim como eles, conhecer algo do valor do sangue e ainda olhar para Deus como Juiz, e a morte e o poder de Satanás ainda são temidos. O efeito da ressurreição de Cristo não é conhecido, nem Deus é conhecido como Pai, nem consequentemente a vida eterna, embora exista na alma fé, arrependimento e vida, segundo a medida em que a verdade foi apreendida.

 

Filiação 

Mas na Escritura a vida eterna é colocada no conhecimento do Pai por meio do Filho e da obra de Cristo em seu caráter completo e perfeito. “E a vida eterna é esta: que conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro [o Pai], e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3 – ARA). Cristo é levantado na cruz como Filho do Homem, a fim de que “todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16), e quem come a Sua carne e bebe o Seu sangue tem a vida eterna, ambas as passagens mostrando que o adequado conhecimento ou apreciação da eficácia expiatória da obra de Cristo dá a vida eterna e, assim, ensinando que a posse dela é o estado normal de todo crente. Então, os bebês[1] em Cristo conhecem o Pai, e isso só pode ser por meio do Filho, que revela o Pai, e “a vontade d’Aquele que Me enviou é esta: que todo aquele que vê o Filho e crê n’Ele tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último Dia” (Jo 6:40). Novamente: “quem ouve a Minha palavra e crê n’Aquele que Me enviou [o Pai] tem a vida eterna” (Jo 5:24). Em nenhum desses versículos podemos fazer dela uma questão de conquista. Ela pertence aos bebês, a todos que viram o Filho ou conheceram o Pai ou creram na obra de Cristo segundo o adequado valor ou eficácia que ela tem diante de Deus. Os filhinhos também têm uma unção do Santo e sabem todas as coisas; e, guardando o que ouviram desde o princípio, eles então continuam no Filho e no Pai.

[1] N. do T: Os “filhos” em 1 João 2:13 - os recém-convertidos.

 

Então, em 1 João 4, o testemunho é que o Pai enviou o Filho para ser o Salvador do mundo, e “qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele e ele em Deus”. Isso envolve a posse da vida eterna, embora no poder do Espírito Santo. A habitação do Espírito Santo mostra ao mesmo tempo que todo privilégio Cristão, de acordo com a presente dispensação, está incluído. Quando a vida eterna é manifestada e declarada é que também se pode conhecer a comunhão com o Pai e o Filho, que é desfrutada pela mesma vida comunicada à alma pela Palavra, pois essa comunhão tem todos os elementos abençoados dessa vida, ambas conhecidas e das quais se é participante, e a revelação completa do Pai e do Filho. “Vimos a Sua glória”, diz o apóstolo, “como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”, e ele acrescenta: “E todos nós recebemos também da Sua plenitude, com graça sobre graça”. Esta foi apenas a propriedade comum de todos na bênção desta dispensação.

 

Vida em ressurreição, em poder, em nova criação 

Por Cristo, como o Grão de Trigo ressuscitado, essa vida é comunicada após a Sua ressurreição, quando Ele soprou em Seus discípulos. Ela não podia ser dada antes, e isso mostra notoriamente a diferença entre vida incipiente (ou em seu primeiro estágio ou como possuída pelos santos quando nosso Senhor estava na Terra, ainda que vivificados por Ele) e a vida em abundância concedida no poder da ressurreição e na nova criação, e no poder do Espírito Santo. Falando sobre isso, Ele diz: “porque Eu vivo, vós também vivereis” (ARA). “Naquele dia, conhecereis que estou em Meu Pai, e vós, em Mim, e Eu, em vós”. No Evangelho de João, salvo nessas passagens antecipatórias e em João 17, que também olha para o futuro, nunca vemos os santos mencionados como “n'Ele”, enquanto na epístola de João isso é constante. “E nós estamos n’Aquele que é verdadeiro, isto é, em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:20 – AIBB). “Que é verdadeiro n’Ele e em vós”. “No Filho, e no Pai”. Essa vida nos foi dada em Cristo Jesus e foi prometida antes dos tempos dos séculos (2 Tm 1:1, 8-10; Tt 1:2), mas isso mostra que sua esfera e alcance apropriados são celestiais, tanto por ser antes do tempo como por ter sido revelada n’Aquele que aboliu a morte, enquanto aqueles que desfrutam da vida divina na Terra têm seus nomes escritos no livro da vida “desde a fundação do mundo” (Ap 13:8; 17:8). Seu reino também foi preparado para eles desde a fundação do mundo. No Velho Testamento, isso é mencionado como a vida para sempre (Sl 133). Não lemos sobre a revelação do Pai pelo Filho no Velho Testamento, nem no Livro do Apocalipse, nem os santos do Milênio são mencionados como estando “em Cristo”, nem como usando uma coroa da vida, embora normalmente tenhamos a ideia de filhos e filhas do Deus vivo como nos tempos do Velho Testamento com Israel (Dt 32:19).

 

A. C. Ord

 

O Único Caminho Para a Vida 

 

O único caminho para a vida é por meio da morte. A única maneira de alcançar o reino de Deus é por um nascimento totalmente novo, uma nova vida, uma nova natureza em nós, e, para transmitir aquilo que envolve o julgamento da carne, Ele, que tinha a vida em Si mesmo, deve morrer. Este é o fim, sob o julgamento de Deus, de tudo o que é da carne e daí a introdução das coisas celestiais e da vida eterna.

 

W. T. P. Wolston

 

Vida Ressurreta 

 

“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós. E, havendo dito isso, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20:21-22).

 

Há uma grande diferença entre essa passagem e Atos 2:14. Está claro por João 7:39 que o Espírito Santo não havia sido dado aos crentes nem veio habitar neles no sentido de Atos 2 antes de Jesus ser glorificado. Também é visto pelas palavras do próprio Senhor que Ele não considerou, em nenhum aspecto, a ação em João 20 como sendo uma antecipação da bênção especial do Pentecostes (veja Lucas 24:49; Atos 1:4-5).

 

Entender isso nos preparará para considerar o significado das palavras do Senhor em João 20, “Recebei o Espírito Santo”. Esse é o cumprimento de João 10:10: “Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância”. Antes da cruz, durante a Sua jornada terrenal, Seus discípulos que realmente criam n’Ele tinham vida, mas foi somente com Ele em ressurreição que eles puderam recebê-la “com abundância”. Mas o fato de eles a terem recebido envolve o novo lugar ocupado pelo Senhor como ressuscitado dentre os mortos. Ele era o Segundo Homem em encarnação, mas Ele não tomou Seu lugar como tal e não estava na condição do Segundo Homem antes da ressurreição. É esse fato que confere à cena em João 20 seu significado.

 

Jesus já havia revelado aos discípulos, por meio de Maria, que Seu Pai era agora o Pai deles e Seu Deus, o Deus deles. Ele os havia, assim, associado a Si mesmo em Seus próprios relacionamentos, e a partir de então Ele era o Cabeça de uma nova raça. Quando, portanto, Ele Se pôs no meio deles, onde estavam reunidos, depois de dizer-lhes “Paz seja convosco”, Ele mostrou-lhes as mãos e o lado e ordenou-lhes que seguissem adiante no poder da paz que Ele havia concedido. Ele comunicou a eles a vida mais abundante, capacitando-os a entrar em seu novo lugar e relacionamento. Essa vida em toda a sua extensão será a conformidade com Sua condição em glória.

 

Devemos também observar que a própria forma com que Ele comunicou o Espírito Santo, como o poder da vida, explica seu significado. Ele “assoprou sobre eles”. Voltando a Gênesis, lemos que “formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2:7). O primeiro homem foi vivificado por uma comunicação divina de sopro – foi então “feito alma vivente”; “O último Adão”, como Espírito vivificante, soprou sobre Seus discípulos Sua própria vida em ressurreição, e eles viveram no poder dela por meio do Espírito Santo.

 

O que os discípulos receberam em João 20 foi o Espírito Santo como o poder da vida, correspondendo ao que encontramos em Romanos 8:1-11. No dia de Pentecostes, eles receberam a habitação do Espírito como poder, como a unção, bem como o penhor, o selo e o Espírito de adoção. E, assim, só depois do Pentecostes é que eles foram trazidos à plena posição Cristã.

 

E. Dennett, The Christian Friend, 15:49

 

Como Obtemos a Vida Eterna 

 

Agora, podemos ver como ela é obtida. É o Espírito operando pela Palavra. Somos nascidos do Espírito e, “segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das Suas criaturas” (Tg 1:18). Daí João 5:24: “Quem ouve a Minha palavra e crê n’Aquele que Me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação [julgamento – JND], mas passou da morte para a vida”. A forma ou caráter disso é a ressurreição. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então, também vós vos manifestareis com Ele em glória” (Cl 3:1, 3-4). Então Efésios 2:4-5: “Deus... estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo”. Esta passagem mostra que é o mesmo poder que ressuscitou a Cristo – não de obras, mas em ressurreição. Ela tem seu fundamento, quanto à fé (pois, sendo pela Palavra, é pela fé), no conhecimento do Pai e de Jesus, a Quem Ele enviou, pois aquela foi a revelação de Deus agindo em graça e para dar vida. Então, Cristo dá vida eterna às Suas ovelhas (João 10).

 

Vida pela fé no Filho 

Essa fé que recebe vida em seu presente objeto é revelada em João 6: “Todo aquele que vê o Filho e crê n’Ele tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último Dia”. “Aquele que crê em Mim tem a vida eterna”. Primeiro, Ele é recebido como encarnado, o pão que desceu do céu. Mas isso é particularizado: Ele dá a Sua carne “pela vida do mundo”, e isso em Sua morte, de modo que, se alguém não comer a carne do Filho do Homem e beber o Seu sangue, ele não tem vida em si mesmo. Quem o faz tem a vida eterna. Para fazer isso, portanto, Ele, como representante do homem pecador, deve morrer e ser na morte o testemunho do amor do Pai, que O enviou, pois era amor aos pecadores. Isto é João 3:15-16. No final desse capítulo, é confirmado: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna”. O poder dela está no Espírito, o dom divino de Jesus. “É a fonte de água a jorrar para a vida eterna” (João 4). O Espírito é vida se Cristo estiver em nós (Rm 8). Ele ia dar a vida eterna a todos quantos o Pai Lhe deu (João 17).

 

Um grande princípio geral 

Há outro aspecto em que a vida eterna é vista, a saber, seu pleno cumprimento em glória, segundo o pleno propósito de Deus. A “esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos” (Tt 1:2). Nesse aspecto, é claro, não se diz que nós a temos, mas que a seguimos. Assim Romanos 6: “Tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna”. Então Paulo a Timóteo: “Toma posse da vida eterna”. Essa é uma energia presente, mas é a fé fervorosa do santo, não simplesmente o dom de Deus. Então Romanos 5: “para que... a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor”. Portanto, aquele que perde a vida “guardá-la-á para a vida eterna”. Isso é colocado como um grande princípio geral em Romanos 2. “A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra, e incorrupção”. Isso não lança nenhuma obscuridade sobre essa grande verdade; é simplesmente – o que é universal no Novo Testamento – a energia da fé, na jornada no deserto pela graça, que segue em frente até o completo resultado para o qual Deus nos redimiu. Temos que percorrer a estrada para chegar, mas temos a graça segura e a guarda de Deus para percorrê-la.

 

J. N. Darby

 

Participação na Natureza Divina 

 

O crente participa das abençoadas qualidades da natureza divina. Tanto a luz quanto o amor são, em sua própria natureza, qualidades divinas e características da vida eterna e são uma demonstração dela no meio do mal e das trevas, causados pelo pecado. Será que Deus já havia Se manifestado de tal maneira como “amor” antes de enviar Seu Filho ao mundo, para que pudéssemos viver por meio d'Ele? E Cristo era a expressão desse amor: “Conhecemos o amor nisto: que Ele deu a Sua vida por nós” (1 Jo 3:16 – ACF). Deus é amor, e o amor é dado como evidência da existência e da manifestação da vida eterna em nós (1 Jo 3:14). Novamente, “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (ACF). Deus também é luz e foi mostrado como luz pelo próprio Cristo como “a vida”, pois “n'Ele, estava a vida e a vida era a luz dos homens”. Agora não é dito apenas que somos filhos da luz (1 Ts 5:5) e que estamos na luz como Deus está na luz (1 Jo 1:7), mas, mais do que isso, que somos “luz no Senhor” (Ef 5:3). Essas são as próprias perfeições da natureza divina, e, portanto, somente as temos plenamente reveladas nos escritos do apóstolo João, que trata expressamente dessa natureza. O mesmo se pode dizer da “graça e verdade”, que, em contraste com a lei (dada por Moisés), é dito que vieram por Jesus Cristo. Isso mostra o que Deus é em Si mesmo, pois, estando acima do pecado do homem, Ele está ativamente curando, salvando e abençoando o homem, que está arruinado sob os efeitos do pecado neste mundo. Assim, a glória, como do Unigênito com o Pai, era cheia de graça e verdade.

 

Recebendo da Sua plenitude 

É assim que, embora não sejamos infinitos, ainda assim participamos do que é divino e infinito n'Ele, pois o Filho Jesus Cristo, como Filho e como Homem, trouxe essas qualidades divinas, que Ele possuía com o Pai antes que o mundo existisse, para a Humanidade. O apóstolo João fala de Sua glória, que ele contemplou, “a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. Essa glória era divina em seu caráter, sendo aquela do Filho com o Pai, e existindo n'Ele em plenitude divina e exibida aqui em sua perfeição, para que pudesse ser contemplada e declarada pelos apóstolos. Mas o apóstolo acrescenta: “E todos nós recebemos também da Sua plenitude, com graça sobre graça”. As palavras “todos nós” estendem a participação ou gozo do que é nomeado para além dos apóstolos, e as palavras “da Sua plenitude” ampliam o alcance da recepção a toda graça que é encontrada n'Ele, pois essa glória não é aqui algo exterior, visível aos olhos, mas sim aquelas qualidades, divinas em sua natureza, que nunca poderiam ter sido vistas ou conhecidas de outra forma, pois “o Verbo Se fez carne e habitou [tabernaculou] entre nós”. Essa glória habitava em Sua bendita Pessoa, assim como com Israel no passado de outra forma no deserto. Essa demonstração de Sua glória corresponde inteiramente ao que João viu: “a vida foi manifestada, e nós a vimos... e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada”. E é na contemplação disso que temos comunhão com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo, participando da natureza divina, recebendo da Sua plenitude.

 

Adaptado de A. C. Ord

 

O Doador da Vida Eterna 

 

O que era o primeiro Adão, quando colocado em seu pequeno território no Jardim do Éden, aos olhos de Deus, comparado com o Segundo Adão – Aquele, o Doador da vida eterna, a Rocha ferida, que em um momento poderia encher dez mil almas com correntes de água viva? Que contraste! Aquele cujos dias no Jardim do Éden foram apenas um curto período, cuja origem, um punhado de pó, Deus soprando em suas narinas o fôlego da vida, e Aquele, a vida eterna no seio do Pai antes de todos os mundos – Aquele que poderia falar a palavra e dar vida à corrupção – Ele, Aquele em Quem Deus poderia aceitar aqueles tirados da cova onde haviam caído, tendo-os escolhido n'Ele antes da fundação do mundo, para enchê-los com todas as bênçãos espirituais n'Ele.

 

G. V. Wigram

 

Comunhão com o Pai e com o Filho

 

O assunto da primeira epístola de João é a comunicação da vida divina. Nos Evangelhos, temos a exibição dela na Pessoa e no caráter de Jesus Cristo, mas, nas epístolas, temos a comunicação dela. Os quatro primeiros versículos de 1 João 1 exibem a beleza da vida eterna fora de nós – primeiro como manifestada no Filho Jesus Cristo, e depois como comunicada por Deus por meio d’Ele. Do quinto versículo até o fim, é comunhão com Deus. Também temos testes da vida divina, pois a vida divina em comunhão com Deus exibe o pecado em nós, e surge a questão de como podemos ter comunhão com Deus. Esses testes são feitos para nos assegurar da posse da vida, visto que “nisto sabemos que O conhecemos: se guardarmos os Seus mandamentos” (1 Jo 2:3).

 

A comunicação da nova vida 

É necessário comunhão com Deus para sermos felizes em Sua presença. Se tentarmos andar com Cristo sem ter comunhão com Ele, seremos infelizes. Mas como é que pessoas como nós temos comunhão com o Pai e com o Filho? Pela comunicação de uma vida inteiramente nova – algo que nunca tivemos antes. Cristo Se tornou Homem e, como Homem, por causa do pecado Ele manifestou a vida divina aqui na Terra de uma maneira que ela nunca poderia ter sido manifestada. Ela não poderia ter sido exibida dessa maneira no céu. A luz resplandeceu nas trevas. O homem natural (o primeiro Adão) não viu beleza n’Ele – nada para admirar. Mas, bendito seja Deus, a paciência da graça foi maior do que o pecado.

 

A vida divina foi adaptada às nossas necessidades por estar no Filho Jesus Cristo. N'Ele, o coração ao qual a vida foi comunicada pode ver a perfeição da vida divina. Foi para o homem como pecador que a vida divina se manifestou, e assim vemos o amor se adaptando a nós na Pessoa do Filho Jesus Cristo. João diz: “Vós... O conheceis e O tendes visto”. Eles O ouviram todos os dias, e o que foi que eles viram? Vida eterna. Você pode perguntar a muitos Cristãos o que é a vida eterna, e eles não conseguirão te dizer, embora eles a tenham dentro de si. Cristo é a vida eterna. João diz que “a vida foi manifestada, e nós a vimos”; eles viram e ouviram Cristo, e Ele era a vida eterna.

 

Vida eterna perfeitamente manifestada, depois comunicada 

A vida eterna foi primeiro manifestada, depois comunicada; como é dito mais adiante: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho” (1 Jo 5:11). Se eu não tenho Cristo, não tenho vida em mim, mas há imenso gozo no fato de que a vida que tenho está em Cristo, e não em mim mesmo. A vida divina foi perfeitamente manifestada em Cristo: nós temos o tesouro em vasos de barro; portanto, ela é exibida fracamente em nós.

 

A comunicação da vida, ao nos dar uma nova natureza, torna natural para nós amar o que Cristo ama e fazer como Cristo faz. É necessário obediência, pois obediência a Deus é a essência de fazer o certo, mas, mais do que isso, Cristo Se separou como o Homem perfeito e glorificado, para atrair as afeições do meu coração para Ele. Meus desejos devem fluir de acordo com a nova natureza que Ele concedeu. Se eu recebo Sua Palavra, eu recebo Cristo, e Ele é a vida eterna. De agora em diante, eu odeio o pecado, e o Filho de Deus é minha vida. Se Cristo é minha vida, isso é comunhão. Meu andar não deve ser resultado meramente de obediência, mas dos mesmos sentimentos que os de Cristo. Portanto, o Espírito, por meio de João, diz “andarmos na luz”, não de acordo com a luz, o que seria obediência, mas na luz, o que é comunhão.

 

Comunhão 

A vida divina foi manifestada; a vida divina foi comunicada, “Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra”. É Jesus o deleite do Pai? Então Ele é o meu; minhas afeições podem ser fracas, mas em alguma medida elas fluem na mesma direção que os pensamentos do Pai. Isto é comunhão com o Pai. E, então, é o Pai o deleite do Filho, e Sua confiança, e gozo? Então Ele é o meu, e isso é comunhão com o Filho. “Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo”.

 

Aqui, por enquanto, o pecado é deixado de lado, porque a nova vida não tem nada a ver, por assim dizer, com o pecado (embora tenhamos que lidar com ele). A nova vida está no Último Adão; esta vida e gozo é a bem-aventurança do céu. Mas aqui embaixo somos responsáveis. A vida eterna se manifestou, e agora a mensagem para nós é que Deus é luz e n’Ele não há trevas, de modo que, se dissermos que estamos em comunhão com Ele enquanto andamos em trevas (o apóstolo usa uma linguagem muito clara) nós mentimos. Se eu falo de ter comunhão com Deus, devo ser capaz de estar na Sua presença e desfrutar dela. Não é que eu seja bom, mas que Deus me purificou. Não depende da minha imundície, mas do Seu poder de purificar. Quando lavo algo, não fico pensando se estava muito sujo ou um pouco sujo, mas que agora está limpo. E o mesmo acontece com os santos, mas “agora estais limpos”, e Deus Se deleita em olhar para mim, porque Ele me lavou. Não depende dos meus grandes ou pequenos pecados, mas da boa lavagem, do valor do sangue. Então leio: “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1:7). Você tem comunhão com Deus e com Seu Filho Jesus Cristo.

 

Advocacia 

No versículo 9, lemos: “Se confessarmos os nossos pecados”, não pecado apenas, mas pecados. Temos uma natureza má, mas também temos uma conduta má quando não reprimimos a natureza má.

 

Existem as duas coisas, que são distintas: perdão dos pecados cometidos (má conduta) e purificação do pecado em abstrato (a natureza maligna). Não posso entrar na presença de Deus, a não ser por Cristo, e, ao entrar por meio d’Ele, entro sem mácula e absolutamente purificado. Então, há a minha fraqueza diária. Estou de fato reconciliado, mas sou fraco. Por isso os detalhes do curso de alguém assim são dados agora. Aquele que busca andar na luz costuma falhar, mas nunca procura desculpas. Ele não pode dizer: “Eu não pude evitar”, porque Deus disse: “A Minha graça te basta... o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9). Eu costumo falhar, mas isso não altera o fundamento da minha justiça diante de Deus. Cristo é a minha justiça; eu não tenho outra. Sua agonia e morte garantiram minha justiça. Eu mudo; eu falho; Ele é imutável, infalível. Pode Ele permitir minha culpa? Não. Ele é o meu Advogado como também a minha propiciação; eu me volto a Deus, e Ele perdoa.

 

J. N. Darby, selecionado

 

Vida Eterna

 

Ah, quem pode o valor do querido Filho de Deus dizer, 

Sua grandeza medir, ou Seus caminhos recitar? 

Não as hostes de anjos, ainda que se distingam em poder, 

E sempre em Sua presença a contemplar; 

Como então pode o homem pecador suportar  

O brilho de Sua refulgência e Seu valor registrar? 

Somente o Espírito pode mostrar o louvor 

E as glórias sem fim do Bendito Senhor, 

O Companheiro de Jeová, Filho, a Vida Eterna, e Verbo.

 

Verbo encarnado! Com Ele estava a graça e a verdade; 

O caminho que Ele trilhou era terra santa; 

Ao velho e ao jovem graça pura Ele mostrou; 

E, oh, que bênçãos Ele derramou, 

Onde quer que houvesse carência e miséria; 

O enfermo Ele curou, as lágrimas do enlutado secou, 

E um espírito abatido jamais desprezou; 

Cada alma atribulada n’Ele podia sim confiar, 

Pois em Seu seio fluía maré inesgotável de profundo amor.

 

O túmulo O recebeu, mas não O pôde reter;

O Santo não poderia corrupção ver; 

Ele próprio a vida, logo ressuscitou; 

Vencedor sobre a morte, os cativos libertou, 

Tendo a chave da morte e do Hades; 

À destra de Deus, exaltado no trono; 

A Ele em breve o joelho de toda criatura se dobrará, 

O universo Seu poder e grandeza reconhecerá, 

E toda língua confessará que só Ele é Senhor.

W. Trotter

 

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” 

João 3:16

 




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