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A. J. Pollock (1864-1957)

"Segue-Me" e Jejuando ou Festejando

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ÍNDICE


 

"Segue-Me" e Jejuando ou Festejando 

 (Leia Lucas 5:27-39)

 

 

Introdução

Meu desejo é trazer uma mensagem muito simples, para que até o mais jovem Cristão possa ser ajudado e encorajado. O objetivo dela será encontrado nas duas palavras dirigidas pelo Senhor a Levi: “Segue-Me”.

 

Primeiro, deixe-me chamar sua atenção para duas palavras encontradas no versículo 27: “Depois disso”. Embora não precisemos ser bem estudados sobre as palavras da Escritura, devemos sempre ter em mente que cada uma delas é divinamente inspirada. Sem forçar um ponto ou usar de engenhosidade, essas duas palavras contêm um significado profundo, e é a falha em reconhecer a verdade que elas transmitem que leva a tanta tristeza e decepção.

 

Deixe-me explicar. Antes que esse ponto seja alcançado no capítulo, três coisas surgem que levam a esse momento e explicam as palavras, “Depois disso”.

 

  1. Descoberta de si mesmo;

  2. A necessidade atendida;

  3. O poder concedido.

     

Essas três coisas indicam a história da alma que deve ser experimentada primeiro antes que o Senhor possa dizer a qualquer um de nós: “Segue-Me”, ou antes que possamos estar em posição de responder. A falha em reconhecer isso leva pessoas não convertidas, que não conhecem nem o segundo ponto nem o terceiro, e que conhecem apenas parcialmente o primeiro, a tentar servir ao Senhor, e o resultado é o fracasso absoluto e total. Por outro lado, muitos Cristãos, que conhecem os dois primeiros pontos, mas falham em reconhecer o verdadeiro significado do terceiro, tentam seguir o Senhor mais ou menos em sua própria força, e isso novamente é cansaço, decepção e vergonha. Vamos olhar brevemente para esses três pontos.

 

Descoberta de Si Mesmo  

O primeiro incidente é o de Simão Pedro. O Senhor pede emprestado seu barco e prega a partir dele. Depois Ele diz a Simão para ir ao mar alto e lançar suas redes para pescar. Simão responde que eles trabalharam arduamente a noite toda e não pegaram nada, mas por Sua palavra ele lançaria a rede. Feito isso, uma grande multidão de peixes foi colhida de modo que a rede rompia-se, e os barcos começaram a afundar.

 

Que efeito isso teve sobre Simão? Certamente o caráter Divino da Pessoa em cuja presença ele se encontrava deve ter tido um efeito avassalador sobre ele. Será que ele pensou no Salmo 8, onde o Filho do Homem tem poder sobre “os peixes do mar”[1]? (Sl 8:8).  

[1] N. do A.: Não é notável que quando os tempos dos gentios chegam, e Nabucodonosor - a cabeça de ouro - tem poder dado a ele, esse poder inclui os animais do campo e as aves dos céus, mas não os peixes do mar. Poder sobre “os peixes do mar” é dado somente ao Filho do Homem. Nos evangelhos, o número de incidentes em conexão com os peixes do mar é impressionante, e pretende indicar claramente Quem era o Filho do Homem.

 

De qualquer forma, ele se viu conscientemente na presença de uma Pessoa Divina, e se viu completamente inadequado para essa presença. Você já experimentou isso? Você já esteve na presença Divina, e lá aprendeu algo de você mesmo? Para o homem natural, é um lugar terrível. Quando Deus falou na visão da escada para Jacó, aquele pecador culpado clamou assim que acordou: “Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a Casa de Deus; e esta é a porta dos céus” No entanto, este era Betel de Jacó. Será que um pecador, como pecador, será feliz na presença de Deus? Não, o céu seria para o tal mais intolerável do que o inferno.

 

Simão Pedro sentiu tudo isso e clamou: “Senhor, ausenta-Te de mim, por que sou um homem pecador”. Aqui está mais a convicção de seu estado do que de suas ações, pois ele diz: “Senhor... sou um homem pecador. Ele foi descoberto nas fontes secretas de seu ser.

 

No entanto, nessa exposição, Simão foi atraído, o que é sempre o caso quando a pessoa é o objeto de uma obra divina, e não meramente convencida pela consciência natural, a qual deixa a vontade e a afeição intocadas. Isso é ilustrado pela diferença de conduta entre Simão neste incidente e os fariseus em João 8.

 

Eles encontraram uma mulher no próprio ato de adultério e a trouxeram ao Senhor. Nisso eles foram influenciados não tanto por um zelo ardente pela justiça, mas sim por um desejo intenso de se opor ao Senhor. E esta é sempre a verdadeira atitude da religiosidade da carne em relação a Ele. Eles pensaram: como poderia o Expoente da graça manter a lei? A graça injusta, sabemos, não é graça real de forma alguma.

 

O Senhor respondeu a eles: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela”; em outras palavras, Ele indicou que o executor da lei deve estar livre de sua maldição. Ah! Eles foram expostos, mas, diferentemente de Pedro, não foram atraídos. A luz era muito poderosa. O caráter defeituoso deles só podia ser mantido em trevas. Empenhados em manter esse caráter, eles saíram. Em outras palavras, eles assumiram a responsabilidade de se afastar da luz, de Cristo; enquanto Pedro, verdadeiramente exposto, e de uma forma diferente e mais profunda do que os fariseus, pois nenhuma confissão saiu dos lábios deles, colocou sobre o Senhor a responsabilidade de Se afastar, pois Pedro disse: “Senhor, ausenta-Te de mim, por que sou um homem pecador”. Bendito seja Seu nome, Ele nunca Se afasta da necessidade, e assim é aqui.

 

Contudo, tal era a atração de Simão, assim como de Tiago e João, seus companheiros, que, quando chegaram à terra, abandonaram tudo e O seguiram.

 

No próximo incidente, temos a necessidade satisfeita.

 

A necessidade Atendida  

A necessidade aqui é a do homem “cheio de lepra”, que clamou ao Senhor: “Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me”. Se Simão era “pecador”, o leproso era “cheio de lepra”. A purificação do leproso ilustra como o estado pecaminoso é tratado. Novamente, é uma questão de estado, com a lepra ilustrando mais a corrupção interna da carne em sua atividade.

 

Ele estava consciente de sua necessidade, consciente de que ninguém tinha poder, a não ser o Senhor, para suprir essa necessidade, mas faltava-lhe segurança quanto à Sua vontade de supri-la. Daí seu clamor sincero: “Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me”. Novamente encontramos a resposta sempre pronta do Senhor ao clamor da necessidade: “Quero; sê limpo”. Imediatamente, diante daquela palavra maravilhosa, a lepra desapareceu.

 

Então, quando nos encontramos descobertos nas fontes secretas do nosso ser como pecadores, leprosos, nós igualmente aprendemos este fato abençoado, que Aquele que nos descobre é Aquele que pode suprir nossa necessidade. Claro que a figura falha, pois enquanto a lepra desapareceu do homem, nós nunca estamos livres, em nosso corpo mortal, do pecado na carne. Graças a Deus, todos os nossos pecados foram resolvidos pela cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Cada obra da carne em nós foi tratada e julgada no terrível julgamento da cruz. E além disso, o pecado, o próprio princípio maligno, foi condenado na cruz, colocado de lado diante de Deus, não mais reconhecido por Ele, e os crentes são assim exortados: “Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). E o Senhor podia dizer aos Seus discípulos: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15:3). Graças a Deus, nossa necessidade é completamente atendida, mas, enquanto estivermos aqui, precisaremos de um poder para dar efeito prático à graça de Deus, para que em nossos caminhos e maneiras possamos estar livres do pecado e vivendo para Deus. Isso nós temos no terceiro incidente.

 

O Poder Concedido  

Se a pecaminosidade é exemplificada no homem leproso, a impotência é demonstrada no homem paralítico. Coloque os dois casos juntos, e você terá uma ideia muito completa do que é um pecador. Sua pecaminosidade o expõe ao julgamento de Deus; sua impotência o faz depender inteiramente da Sua misericórdia, pois ele não tem recurso em si mesmo.

 

Quão maravilhosamente a necessidade é atendida! Suponha que Deus parasse repentinamente no perdão dos pecados, em que situação horrível o perdoado ainda estaria. Retire as maçãs de uma macieira silvestre, ela continua sendo tão macieira como sempre, e nem toda a habilidade do mundo pode fazê-la produzir outra coisa que não seja maçã, exceto pela introdução de uma nova vida. Perdoe os pecados de um homem e pare aí, e ele ainda será um pecador, sua natureza permanece inalterada, sem nenhuma habilidade além de dar efeito à sua natureza pecaminosa. No caso diante de nós, tanto o pecador Simão quanto o homem cheio de lepra estão representados, quando o Senhor disse ao paralítico: “Homem, os teus pecados te são perdoados”. Mas neste incidente damos um grande passo à frente, pois duas coisas eram proeminentes, (1) pecados perdoados, (2) poder comunicado. E é essa segunda coisa que é tão importante. É extremamente interessante ver como isso aconteceu. Os escribas murmuraram: “Quem é Este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” O Senhor respondeu-lhes em tantas palavras, enunciando um princípio muito importante, a saber: que Ele demonstra Sua capacidade de perdoar pecados, por Sua capacidade de libertar o pecador das consequências de seu pecado. Não me refiro às consequências físicas do pecado, mas à consequência moral, que é a impotência absoluta de andar para Deus. Nenhum homem pode ver que um outro teve seus pecados perdoados, mas a demonstração disso – capacidade de andar para Deus – pode ser vista. Quantas vezes isso é testemunhado por um incrédulo, quando ele diz que acredita que fulano de tal é convertido, porque sua vida está mudada.

 

Então o Senhor disse ao paralítico: “Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa”. Imediatamente o homem se levantou. Não somente sua necessidade é suprida, mas poder é concedido. Ele “tomando a cama em que estava deitado, foi para sua casa glorificando a Deus”. Em outras palavras, aquilo que o carregava, agora ele a carrega. Que demonstração de poder!

 

Esta é uma ilustração do fato de que o único poder que o crente tem está no Espírito Santo. Sem o Espírito de Deus, o Cristão seria sem poder. E quando ele entristece o Espírito e anda na carne, nessa proporção ele cai no poder do inimigo. Mas bendito seja Deus, “maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (1 Jo 4:4).

 

Graças a Deus, nossos pecados diante de Deus são tratados na cruz, e nosso estado foi ali condenado e colocado de lado, e nossa impotência é suprida pelo dom do Espírito Santo, libertando-nos assim de nós mesmos, e nos capacitando a andar para Deus. Oh! Que gozo quando tudo isso é aprendido na alma. Livres da pena do pecado pela obra de Cristo na cruz; livres do poder do pecado pela habitação do Espírito de Deus, e livres da presença do pecado quando o Senhor vier.

 

Há sempre uma resposta da parte do Espírito de Deus à obra de Cristo. A obra em nós pelo Espírito sempre responde à obra por nós na cruz. Por exemplo, somos justificados? Então “o dom gratuito veio... sobre [para – JND] todos os homens para justificação de vida” (Rm 5:16, 18). Será que já entregamos nossos membros como servos à imundícia e à iniquidade para a iniquidade? Então somos exortados a “assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para a santificação” (Rm. 6:19). O homem paralítico foi perdoado? Então ele pegou “a cama em que estava deitado, foi para sua casa glorificando a Deus”.

 

Lembro-me de uma jovem que veio até mim em grande aflição. Ela era Cristã e tinha se esforçado muito para seguir o Senhor, mas sempre terminava em amargo fracasso e decepção. Ela confessou que tinha um temperamento irritável e que havia muitas outras coisas que a deixavam muito infeliz e insatisfeita consigo mesma. Ela tinha tentado melhorar, mas tudo foi em vão.

 

“Agora, Srta. Moore”, eu disse, “se você pudesse controlar completamente seu temperamento e resolver todos os outros problemas, você ficaria satisfeita consigo mesma?”

 

Com o rosto se iluminando diante da perspectiva, ela respondeu que ficaria. Então eu disse a ela que sua condição atual era infinitamente melhor do que isso. Ela estava insatisfeita CONSIGO MESMA — isso era muito melhor do que estar satisfeita CONSIGO MESMA. Ela teria ficado satisfeita com uma Srta. Moore melhorada, mas isso nunca seria suficiente para Deus.

 

Carne será carne, seja ela refinada ou não. “não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos” (Lc 6:44). Eu disse a ela que o erro estava em procurar aperfeiçoamento próprio e satisfação própria, e que Deus queria que ela tirasse completamente os olhos de si mesma e os focasse em Cristo, e que Ele queria que Cristo Se manifestasse nela em sua caminhada e em suas maneiras.

 

Sim, queremos um Objeto fora de nós mesmos, e é por estarmos ocupados com Cristo que somos capazes de andar direito aqui embaixo. Você acha que o lavrador faria um sulco reto se mantivesse o olho em seus próprios pés, ou no arado, ou mesmo nos animais? Não, ele deve ter um objeto, digamos, uma árvore, no final do campo. Mantendo seus olhos constantemente fixos nela, o resultado será um sulco reto. E o poder – o Espírito Santo — é dado para nos libertar de nós mesmos ao nos ocupar com Cristo, e assim o Cristianismo se torna uma coisa muito simples e abençoada para nossa alma.

 

Agora chegamos às duas palavras para as quais desejo chamar sua atenção especial: “Segue-Me”.

 

"Segue-Me"  

Se conhecermos as três coisas que descrevemos, a saber: (1) a descoberta de si mesmo; (2) a necessidade atendida; (3) o poder concedido, estaremos numa posição “DEPOIS DISSO” para ouvir o Senhor nos dizendo em poder de comando: “Segue-Me”. Nós, então, teremos ouvidos para ouvir. Somos libertos da ocupação própria e temos um poder que nos permite responder ao chamado do Senhor.

 

É de fato abençoado acima de toda a babel das línguas, o chibolete das seitas, o clamor dos partidos, ouvir as palavras de comando que absorvem a alma, “Segue-Me”. Podemos discutir sobre doutrinas, mas como podemos divergir sobre Ele? Ao segui-Lo, encontramos descanso para nossa alma e aprendemos que Seu jugo é suave e Seu fardo leve. Como frequentemente cantamos:

 

“Jesus, Tu és o suficiente Para preencher a mente e o coração; Tua vida paciente para acalmar a alma; Teu amor para dissipar o medo.”

 

Levi estava assentado na recebedoria quando essas duas palavras chegaram aos seus ouvidos. Não há nada que prenda mais do que dinheiro. O que está prendendo você? O que impede qualquer um de nós de seguir o Senhor de coração, sinceramente e completamente? Cada coração por si pode dar a resposta. Mas no incidente diante de nós, Levi respondeu. O chamado encontrou uma resposta. As palavras do Senhor eram mais poderosas do que dinheiro. Lemos: “E ele, deixando tudo, levantou-se e O seguiu”.

 

Novamente, observe quão exata é a ordem das palavras na Escritura. Se eu fosse até a porta e acenasse para alguém me seguir, a primeira coisa que ele faria seria se levantar e então me seguir. Mas no caso de Levi, encontramos uma ação anterior a ele se levantar, e sem essa ação anterior, arrisco-me a dizer que o peso de suas bolsas de dinheiro o teria prendido ao seu assento. Lemos: “E ele, deixando tudo, levantou-se e O seguiu”. Se a segunda ação foi física, a primeira foi certamente moral. Que poder essas duas palavras, “Segue-Me”, devem ter carregado quando produziram uma operação tão interna a ponto de libertar Levi em seu espírito de tudo o que o detinha, de modo que foi fácil para ele se levantar e seguir o Senhor. Se ele tivesse tentado se levantar antes de ter deixado tudo, as cordas de suas bolsas de dinheiro o teriam segurado, mas, tendo deixado tudo, elas não tinham mais poder de detê-lo do que teias de aranha teriam. Eu gostaria de exortar os jovens Cristãos: façam com que seja tudo por Cristo; façam com que seja quebrado cada vínculo que nos detenha; sejam totalmente dedicados a Ele. Ele é digno.

 

“Mas devo deixar meu negócio?”, diz um; e “devo deixar minha esposa ou meu marido?”, pergunta outro.

 

Sim, deixe que cada elo seja quebrado, e então tome seus elos como vindos d’Ele, e os mantenha como Seu mordomo. Ele pode chamá-lo de suas redes de pesca, como Pedro, ou do recebimento de impostos, como Levi. Você está pronto para ser um pescador de homens? Ou Ele pode deixá-lo em seu negócio, e então, se você seguir o Senhor, você será um fiel homem de negócios. Eu não digo necessariamente um bem-sucedido, mas um fiel homem de negócios. Conheci um Cristão nos Estados Unidos, e depois o vi neste país. Ele me disse: “Agora sei por que vim para a Inglaterra, e estou retornando para a América tendo aprendido uma lição valiosa”. “O que você aprendeu?” Eu perguntei-lhe. “descobri”, disse ele, “que devo administrar meu negócio para Cristo”. Se você fizer tudo por Cristo, esteja você em uma condição exaltada ou humilde, isso colocará a beleza da santidade em tudo o que você fizer, seja limpando botas ou esfregando panelas e frigideiras. Você já ouviu falar da serva que, quando perguntada como sabia que era Cristã, respondeu: “Eu varro a sujeira que está debaixo dos tapetes agora”. Novamente, se o marido coloca Cristo e Seus interesses em primeiro lugar, a esposa será a ganhadora. O marido efésio é o melhor de todos os maridos, amando sua esposa, nutrindo-a e cuidando dela, assim como o Senhor nutre e cuida da Igreja.

 

Estes são dias de egoísmo, ganância por dinheiro, amor à facilidade – dias de crescente indiferença e mornidão laodicense. Que este seja um chamado de trombeta para sua alma, querido jovem crente. O Senhor lhe diz: “Segue-Me”.

 

Jejum ou Banquete  

Agora, falarei um pouco sobre o jejum. Levi fez uma festa[2] (ou banquete) para o Senhor, e os escribas e fariseus murmuraram. Sempre há murmuradores quando Cristo é muito apreciado. Até os próprios discípulos murmuraram quando Maria derramou tudo o que tinha sobre o bendito Senhor. Bem, ela teve o privilégio de ser defendida por Ele. No caso diante de nós, os fariseus perguntaram: “Por que jejuam muitas vezes os discípulos de João e fazem orações, como também os dos fariseus, mas os Teus comem e bebem?” O Senhor respondeu a eles: “Podeis vós fazer jejuar os convidados das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e, então, naqueles dias, jejuarão”.

[2] N. do T.: Há duas palavras gregas traduzidas como “festa”, “ceia” ou “banquete”.

1.    δεῖπνον (deipnon – G1173): Jantar; ceia; a refeição principal, usualmente à noite; festa; banquete, e ocorre 16 vezes no Novo Testamento (Mt 23:6; Mc 6:21, 12:39; Lc 14:12, 16-17, 24, 20:46; Jo 12:2, 13:2, 4, 21:20; 1 Co 11:20-21; Ap 19:9, 17).

2.   δοχή (dochē – G1403): Uma recepção, uma recepção de convidados, um entretenimento festivo, e ocorre 2 vezes no Novo Testamento (Lc 5:29, 14:13).

 

Aqueles dias chegaram, e ao seguir Cristo deve haver jejum. Quem jejuou como o Homem de dores? E não somos chamados a segui-Lo? Bem, tenha certeza disto, quanto mais completamente seguirmos o Senhor, mais gozosos e alegres seremos verdadeiramente. Quem teve regozijos mais profundos, regozijos de comunhão, do que o Homem de dores? Quem jejuou como Ele, e Quem festejou como Ele? O Homem de dores, e o Homem do regozijo, nenhuma tristeza foi como a d’Ele, nenhum gozo como o d’Ele!

 

Você pode perguntar: “O que é jejum?” Não é abster-se do pecado. Esteja bem claro quanto a isso. Não deve haver concessão ao pecado, seja o pecado de desperdiçar as preciosas horas que Deus nos dá com coisas que apenas enfraquecem e contaminam, ou pecando de qualquer outra forma.

 

O que é jejum? O jejum físico é a abstinência de comida por um tempo. Ora, comer é correto. Deus nos dá abundantemente todas as coisas para delas desfrutarmos. A comida é necessária para o devido sustento do corpo, mas um homem pode se abster de comida por um tempo com um benefício em vista. Mas o jejum físico é, sem dúvida, uma figura do jejum moral. 

 

Há muitas coisas que um Cristão pode fazer, que não são pecado em si mesmas, mas das quais ele se abstém. Devemos estar separados do mundo, que rejeitou e crucificou nosso Senhor e, ao estarmos separados, o jejum está envolvido. O mundano está festejando hoje, mas, infelizmente, jejuará por toda a eternidade. O Cristão jejua hoje, mas festejará por toda a eternidade. Parece pouco justo ou correto que um Cristão festejasse em ambos os mundos. Na verdade, Deus não permitirá isso.  

 

Certamente nenhum Cristão verdadeiro deixará de responder a tudo o que está envolvido no chamado do Senhor. O Noivo não está aqui, e é aconselhável que jejuemos. Conheço um Cristão que gasta uma grande quantia por ano na obra do Senhor. Alguém lhe perguntou como ele conseguia gastar tanto. “Bem”, ele disse, “meus amigos têm seus cavalos e carruagens; eu posso viver muito bem sem essas coisas, e os interesses do Senhor podem ser ajudados por isso”. Quem poderia dizer que haveria algum mal em ele ter uma carruagem e cavalos? Ele jejuava dessa forma. Dois rapazes se converteram em Edimburgo algumas semanas atrás. Algum tempo depois, sua mãe lhes disse: “E o futebol agora, meninos?” “Nós paramos com isso, mãe”, foi a resposta. Certamente não poderia haver mal algum em chutar uma bola, mas neste caso envolvia filiação a um clube e associação com os ímpios, e o jejum era a verdadeira atitude deles no assunto. De mil e uma maneiras, o jejum convém ao Cristão, mas oh! Há recompensa em seguir o Senhor.

 

Um princípio importante que eu gostaria que você entendesse bem, e é que, na mesma proporção em que você jejua exteriormente, você festejará interiormente. Quem é tão verdadeiramente feliz quanto o absoluto seguidor do bendito Senhor? Ele não nos pede para esperar pela festa até chegarmos ao céu, mas Ele nos deu o penhor do Seu Espírito, o penhor do que está por vir agora mesmo, para que possamos cantar:

 

“Se mesmo aqui o provar das fontes celestiais,

Assim alegra o espírito que o peregrino canta,

O que o brilho do Sol de Sua glória provará?

O que a plenitude pura de Seu amor?”

  

A água que o Senhor dá está no crente, “fonte de água a jorrar para a vida eterna”. Você é um Cristão borbulhante? Sim, se você jejua, porque ama o Noivo. Fora com o jejum monástico! Fora com as restrições legais! Você ama o Senhor ausente? Então será seu gozo jejuar, e conforme você verdadeiramente jejua, na mesma intensidade, você se alegrará.

 

Deixe-me dar alguns exemplos da Escritura a respeito de jejuar e festejar. Veja o contraste entre Abraão e Ló. Abraão vivia em comunhão com Deus e em separação do mundo nas planícies de Manre. Sua tenda e seu altar proclamavam seu caráter. Ló, por outro lado, escolheu sua posição pela visão de seus olhos, e não pela fé. Ele escolheu a planície bem irrigada do Jordão, “como a terra do Egito, quando se entra em Zoar”. Ele persistentemente desejava o Egito (tipo do mundo), e isso influenciou sua escolha. Em seguida, ele “foi armando a sua tenda até chegar a Sodoma” e, finalmente, habitou na própria Sodoma, enquanto suas filhas contraíram alianças com os filhos de Sodoma. Sem dúvida, os sodomitas aplaudiram a liberalidade e a mente aberta de Ló e a contrastaram com a exclusividade de Abraão. Ló festejava enquanto Abraão jejuava. Ló também se assentou na porta de Sodoma. Ele ocupou o assento do magistrado. Quantas vezes ouvimos as pessoas dizerem: “Queremos que homens Cristãos sejam nossos políticos e juízes, para preencher lugares de influência para que possam ser um poder para o bem”, e os Cristãos são enganados por isso. Eu os advirto para não serem enganados pela mentira enganosa do diabo. Eles “não são do mundo, assim como Eu não Sou do mundo”, disse o Senhor a respeito de Seus discípulos; e a absoluta separação para o Cristão é o único caminho que a Bíblia fornece. Se um Cristão aceita um lugar de influência no mundo, ele descobrirá que não pode reformar o mundo, mas que ele próprio será arrastado para o seu nível. Seja avisado pela história de Ló. Cuidado com o primeiro passo em direção ao mundo. Se você recusa o primeiro passo, você nunca precisa temer o segundo.

 

Mas o tempo passou, e a colheita seguiu a semeadura, tão certamente quanto o efeito segue a causa. O julgamento caiu sobre Sodoma. Os anjos avisaram Ló sobre o julgamento vindouro. Despertado por fim, ele passou o aviso aos seus genros. Mas, ai! Ele era como alguém que zombava. Sua vida não dava peso ao seu testemunho. O que ele fazia roubava o poder daquilo que ele dizia. Ele havia criado raízes em Sodoma, e agora ele instava seus genros a fugirem. Do lado responsável e governamental, acredito que a proximidade de Ló com o mundo custou a vida de suas filhas casadas. Quão terrivelmente solene! Oh! Jovem crente, a proximidade com o mundo é uma coisa muito fatal! Recuse-se a se casar com um descrente a todo custo, por mais amável que ele ou ela seja, e por mais desejável que isso seja sob certos pontos de vista. “Somente no Senhor” (ARA), é o conselho da Escritura quanto ao casamento.

 

Você conhece o triste fim da vida de Ló à beira do mundo. Ele fugiu da cidade com sua esposa e filhas solteiras. Sua esposa olhou para trás, para a cidade que seu marido a havia ensinado a amar, e ela se tornou numa estátua de sal. Em uma caverna, bêbado e enganado, Ló, por meio de suas próprias filhas, se tornou pai de filhos, que por sua vez foram os progenitores de dois dos piores inimigos de Israel – os moabitas e os amonitas.

 

Caro jovem Cristão, você gostaria de ser um Abraão ou um Ló? A escolha é sua. Certamente Abraão foi o homem mais honrado e mais feliz. Mostre-me um Cristão mundano e eu lhe mostrarei um homem miserável. Tais pessoas têm o suficiente de Cristo para arruiná-las para o mundo, e o suficiente do mundo para impedi-las de desfrutar de Cristo.

 

Alguns anos atrás, pediram-me para votar. Eu disse ao angariador que já tinha votado, e tinha dado todo o meu voto a Um, e a esse Um o mundo tinha votado contra, de modo que havia uma questão distinta entre mim e o mundo. Entendendo-me, o angariador insistiu: “O que aconteceria se todos fossem como você? Como as coisas continuariam no mundo?” Eu respondi: “A melhor coisa para este pobre mundo aconteceria. O que impediria Aquele, se todos tivessem votado n’Ele, de vir a reinar em justiça,

 

“Para fazer toda a criação sorrir, 

E silenciar seu gemido?”

  

Novamente, Moisés jejuou. As pessoas poderiam ter pensado que ele era um grande tolo por ter deixado a corte dos faraós, onde a providência de Deus o havia colocado, e se colocado ao lado de seus irmãos aflitos. Alguém poderia naturalmente ter raciocinado que, permanecendo na corte, ele teria sido capaz de melhorar a condição deles. Mas não, ele raciocinou corretamente e seguiu o caminho mais sábio. Lemos: “Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa” (Hb 11:24-26). Onde você encontrará um servo de Deus mais honrado? Ele é mencionado em toda a Escritura. Foi ele quem guiou os filhos de Israel pelo deserto. Foi ele quem apareceu no monte da transfiguração com o Senhor; e no Apocalipse temos seu nome ligado ao do Cordeiro – “o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro”.

 

Se ele tivesse permanecido na corte dos faraós, o que dizer de seu nome na Escritura? Eu me arrisco a dizer que nenhuma linha teria sido dedicada à sua história. Você poderia ter visto no máximo sua múmia no Museu Britânico, mas isso teria sido pouca honra comparado ao seu sepultamento pelo próprio Deus. Ele jejuou de fato, e Deus o honrou.

 

Tome Sansão agora. Em vez de jejuar, ele festejou. Ele amava uma filisteia, uma inimiga de Deus, e ela arrancou dele o segredo de sua força, e o traiu para seus inimigos. Seu cabelo longo era um símbolo de sua separação, e esse era o segredo de sua força. Acredite em mim, deve haver uma caminhada secreta diante de Deus em sua alma, ou então você logo será privado de seu poder.

 

Tendo aprendido seu segredo, Dalila o fez dormir sobre seus joelhos, e naquele sono fatal seus cabelos foram tosquiados. Quando acordou, Sansão pensou em se sacudir como de costume. Quão lamentável é o comentário da Escritura: “Ele não sabia que já o SENHOR Se tinha retirado dele”.

 

E observe quão retributivas são as formas do governo de Deus. Sansão usou seus olhos para cobiçar uma mulher dos filisteus. Os filisteus arrancaram seus olhos. Amarrado com grilhões de bronze, ele moía trigo na prisão. Que fim lamentável teve o festejo de Sansão! É verdade que em sua morte ele matou mais de seus inimigos do que em sua vida, mas ele morreu com eles. Seu pôr do Sol foi como o de um Sol se pondo atrás de nuvens sombrias e sinistras.

 

Tome novamente o caso de Daniel e seus três companheiros. Eles recusaram a comida e o vinho do rei, pediram legumes e água em vez de se contaminarem. Por dez dias o experimento foi feito, e no fim daquele tempo “pareceram os seus semblantes melhores; eles estavam mais gordos do que todos os jovens que comiam porção do manjar do rei”.

 

Sempre achei que os Cristãos assumidos são os mais felizes. O rosto deles exibe o sorriso mais brilhante, e o coração está sempre transbordando de alegria.

 

Por fim, tomemos dois casos do Novo Testamento. Instintivamente pensamos naquele magnífico exemplo de jejum – o apóstolo Paulo. Ele negou a si mesmo alegrias naturais. Ele nunca teve, depois de sua conversão, até onde sabemos, um lar terrenal. Nunca pensamos nele como tendo interesses particulares. Como ele jejuava! Ele podia se comparar com os outros. “Em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes... em trabalhos e fadiga, em vigílias, muitas vezes, em fome e sede, em jejum, muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas” (2 Co 11:23-28). Que registro de abnegado trabalho árduo! No entanto, no final de sua carreira notável, quebrantado até que ele pudesse se descrever como Paulo, o velho, abandonado pelos santos, toda a Ásia se afastou dele, na prisão, sem nenhuma perspectiva além do machado do carrasco, ele pôde escrever aos santos filipenses: “Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos”. Nenhuma nota de cansaço, desânimo ou decepção, mas sim, esquecendo as coisas que ficaram para trás, ele pôde dizer: “prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:14). Exemplo abençoado de festa interior e jejum exterior.

 

Que contraste é o pobre Demas. O caminho era estreito demais para ele. A carnalidade estreitou o caminho para ele, pois, na realidade, o caminho divino é o da mais verdadeira largueza. Paulo teve que escrever sobre ele: “Demas me desamparou, amando o presente século [mundo – ARA] (2 Tm 4:10). Observe, Paulo não disse: “o presente século mau”, como em Gálatas 1:4; mas este presente mundo. Não o acusamos de nada flagrante. Não supomos que ele tenha cessado de partir o pão, mas, infelizmente, ele estava fora da verdadeira comunhão com o Espírito de Deus. Ele se acomodou silenciosamente no curso das coisas aqui embaixo, e desistiu em grande parte da boa luta da fé, e depois disso não ouvimos mais falar dele. Demas foi para Tessalônica, e então o véu do silêncio cai. Não duvidamos que ele foi para o céu, mas e quanto à Terra? Agora é nossa única chance de testemunhar por Cristo.

 

Caro jovem Cristão, você seria um Abraão, um Moisés, um Daniel, um Paulo? Você pode, se não em dom ou proeminência, pelo menos em fidelidade e jejum. Você evitaria ser um Ló, um Sansão, um Demas? Você pode, se for zeloso e evitar o primeiro passo do abandono. “Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”. Ah! São as raposinhas com as quais temos de ter cuidado, o inocente(?) cachimbo, o romance religioso, o teatro musical religioso, o companheiro amável, mas não convertido.

 

Por fim, em Lucas 5 somos advertidos contra remendos exteriores e mistura interior; Deus não faz remendos ou misturas. “Ninguém tira um pedaço de uma veste nova para o coser em veste velha... E ninguém põe vinho novo em odres velhos”, disse o Senhor. Com Deus é nova criação, não reforma. Já passamos da fase de conserto como pecadores, e agora os crentes são vistos como tendo se revestido do novo homem. Devemos ser vestidos com um caráter completamente novo. Não é um “eu” melhorado ou consertado que servirá para Deus, mas tem que ser Cristo agora, e nada além de Cristo. Nem vinho novo pode ser posto em odres velhos. O vaso velho é incompetente para receber a alegria do Espírito Santo. Para isso deve haver um vaso novo, uma nova criação.

 

Graças a Deus, o velho “eu” insatisfatório foi colocado de lado por Deus, e temos o direito de deixá-lo de lado no poder do novo, no poder do Espírito.

 

Que as duas palavras — “SEGUE-ME” — soem em seus ouvidos e coração com mais poder, com permanência mais profunda, com resultados duradouros para Seu louvor e glória, e seu regozijo e recompensa, por amor do Seu nome.

 

A. J. Pollock

 

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