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Restituição (Setembro de 2024)

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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          P. Wilson (adaptado)

        H. A. Ironside

          W. J. Prost

         W. J. Prost

         W. Kelly (adaptado)

         F. B. Hole (adaptado)

         H. P. Barker

         A Expiação da Culpa

          W. W. Fereday

          F. R. Havergal

 

Restituição


Na expiação da culpa, aprendemos que a “transgressão” está relacionada a um caso em que Deus é desonrado, embora possa ser um mero homem que tenha sido defraudado. Também não é suficiente que um sacrifício seja oferecido a Deus, mas o mal feito ao homem deveria ser restituído, e isso não apenas na íntegra, um quinto a mais deveria ser acrescentado à quantia da restituição.

 

Agora, se nos voltarmos para o Salmo 69, temos o próprio Senhor profeticamente falando: “então restituí o que não furtei” (v 4). O homem pecou contra Deus; Cristo fez a restituição por ele. Este é outro aspecto da expiação pelo pecado. A expiação da culpa leva em conta o dano causado ao outro por causa do pecado de alguém. E se considerarmos como o pecado desonrou a Deus, o opróbrio lançado sobre Ele pelo pecado do homem, vemos como o Senhor não apenas sofreu no lugar do pecador, na cruz, mas glorificou a Deus em todo o opróbrio e desonra trazidos a Ele pelo pecado. O Senhor Jesus Cristo não apenas respondeu a Deus pelos pecados do homem, mas trouxe glória e honra a Deus, de modo que (falando reverentemente) a natureza de Deus foi glorificada. A quinta parte também foi adicionada, de modo que Deus é mais rico do que se o pecado nunca tivesse se intrometido em Sua bela criação. Na cruz de Cristo, vemos como a santidade de Deus - santidade intrínseca - Sua justiça, Sua graça, Seu amor e todos os Seus atributos se encontram. Verdadeiramente Ele foi glorificado!

 

P. Wilson (adaptado)

 

Pregos de Cobre


“Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia” (Sl 32:3).

 

Não há nada que tire o gozo da vida como a consciência de um pecado não confessado. Em uma ocasião, um pregador estava falando sobre essa questão e instando seus ouvintes sobre a importância da confissão de pecado e, sempre que possível, da restituição pelo mal feito aos outros. No final, um jovem se aproximou dele com um semblante perturbado. “Senhor” disse ele, “o senhor me colocou numa triste situação. Eu fiz mal a outro e tenho vergonha de confessar ou tentar consertar a situação. Veja, eu sou um construtor de barcos e o homem para quem trabalho é um infiel. Falei com ele muitas vezes sobre sua necessidade de Cristo e o incitei a vir e ouvi-lo pregar, mas ele zomba e ridiculariza tudo. Mas, sou culpado de algo que, se eu reconhecer isso a ele, arruinará meu testemunho para sempre.”

 

Então esse jovem passou a dizer que o homem para quem ele trabalhava há algum tempo começou a construir um barco por si mesmo em seu próprio quintal. Nesse trabalho, os pregos de cobre são usados porque não enferrujam na água. Esses pregos são bastante caros, e o jovem levava para sua casa alguns deles para usar no seu trabalho. Ele sabia que era roubo, mas tentou aliviar sua consciência dizendo a si mesmo que o homem tinha tantos que ele nunca sentiria falta deles; além disso, ele sentiu que não estava sendo pago por tudo o que achava que merecia. Mas o sermão o levou a encarar o fato de que ele era apenas um ladrão comum, para cujas ações desonestas não havia desculpa.

 

“Mas”, disse ele, “não posso ir ao meu chefe e dizer a ele o que fiz ou me oferecer para pagar por aqueles que usei e devolver o resto. Se eu fizer isso, ele vai pensar que sou apenas um hipócrita. E, no entanto, esses pregos de cobre estão espetando minha consciência, e sei que nunca terei paz até resolver este assunto.”

 

Por algumas semanas, a luta continuou. Então, uma noite, ele veio até o pregador e exclamou: “Senhor, resolvi o problema dos pregos de cobre e minha consciência finalmente está aliviada. “O que aconteceu quando confessou ao seu empregador o que tinha feito?” perguntou o pregador. “Oh”, respondeu, “ele olhou estranhamente para mim e depois exclamou: ‘George, eu sempre pensei que você era apenas um hipócrita, mas agora eu começo a sentir, que há algo nesse Cristianismo, afinal de contas. Qualquer religião que faça um trabalhador desonesto voltar e confessar que estava roubando pregos de cobre, e se ofereça para pagar por eles, deve valer a pena”. O pregador perguntou se poderia usar a história e recebeu permissão.

 

Os resultados da restituição 

Algum tempo depois, o pregador contou isso em outra cidade. No dia seguinte, uma senhora se aproximou dele e disse: “Senhor, eu também tive ‘pregos de cobre’ na minha consciência”. “Ora, com certeza a senhora não constrói barcos!”. “Não, mas sou amante de livros e roubei vários livros de uma amiga que tem muito mais do que eu poderia pagar. Decidi ontem à noite que devo me livrar dos ‘pregos de cobre’, então os levei de volta para ela hoje e confessei meu pecado. Não consigo nem dizer como fiquei aliviada. Ela me perdoou, e Deus me perdoou... Estou muito grata que os “pregos de cobre” não estão mais espetando minha consciência”.

 

Eu contei essa história muitas vezes e quase invariavelmente as pessoas vieram depois até mim para contar sobre “pregos de cobre” que, de uma forma ou de outra, eles tiveram que se livrar. Em uma ocasião, contei isso numa pregação na capela de uma escola secundária. No dia seguinte, o diretor me viu e disse: “Como resultado dessa história de ’pregos de cobre', muitas canetas-tinteiro roubadas e outras coisas foram devolvidas aos seus legítimos donos”.

 

Reformação e restituição não salvam. Mas onde alguém está verdadeiramente arrependido e chegou a Deus em confissão sincera, ele vai usar o melhor de sua habilidade para acertar as coisas com os outros.

 

H. A. Ironside

 

A Importância da Restituição 


Todos nós entendemos a importância da restituição em um sentido natural, embora, se formos honestos conosco mesmos, entendamos o assunto muito melhor quando somos os que têm o direito à restituição, do que quando somos nós que devemos fazer a restituição. Nosso coração natural não gosta de assumir a responsabilidade pelos danos que causamos.

 

Há uma história real sobre uma mulher que saiu de um shopping center e descobriu que alguém havia calculado mal e batido no carro dela, causando danos óbvios. Mas quando ela leu o bilhete que estava colocado sob o limpador de para-brisa, tudo o que dizia era: “Desculpe!” Ela esperava encontrar um nome e número de telefone, para que pudesse receber o dinheiro para pagar os reparos.

 

Um homem sentado em um banco próximo viu todo o incidente acontecer, mas seu único comentário, quando a mulher lhe mostrou o bilhete, foi: “Ele disse que estava arrependido; isso não é o suficiente?”. Mas certamente não foi suficiente para a mulher cujo carro fora danificado.

 

Em momentos diferentes, em lugares diferentes, tive a oportunidade de ficar em hotéis onde a água quente não estava disponível à noite. Descobri o problema apenas quando tentei usá-la tarde da noite. Em ambos os casos, relatei o assunto à recepção pela manhã, mas as reações dos dois hotéis foram muito diferentes. Um gerente de hotel simplesmente descartou o assunto dizendo: “Desculpe por isso, eu desconhecia esse problema”. Ele não assumiu nenhuma responsabilidade e não ofereceu reembolso ou restituição. O outro gerente do hotel (era uma rede de hotéis diferente) disse imediatamente: “Então seu quarto está isento; sem custo!”. Você pode facilmente adivinhar qual rede de hotéis continuo a usar hoje!

 

Restituição em relação ao homem e em relação a Deus 

A restituição também é marcante na Palavra de Deus, e de duas maneiras diferentes – em relação ao homem e a Deus. Neste artigo, discutiremos a restituição em relação ao homem, conforme nos foi dada pela Palavra de Deus, e consideraremos a restituição em relação a Deus em um outro artigo. Pode haver alguma sobreposição quando consideramos os dois tipos de restituição.

 

Um dos primeiros exemplos registrados de restituição na Escritura ocorre em Gênesis 20:14, quando Abimeleque não apenas restituiu a esposa de Abraão, Sara, mas também lhe deu “ovelhas, bois, servos e servas”. Embora Abraão também fosse culpado por aconselhar Sara a dizer a outros que ela era sua irmã, Abimeleque reconheceu a seriedade de tomar a esposa de outro homem. Mais tarde, depois de Jacó ter enganado Isaque e obtido sua bênção de modo desonesto, depois de muitos anos, ele deu a Esaú um presente de gado, cabras, ovelhas, camelos e jumentos, como meio de apaziguar a ira que ele pensava que certamente estaria no coração de Esaú.

 

Muito mais tarde, na lei mosaica, a restituição foi definitivamente ensinada, e o valor da restituição estava de acordo com o grau de iniquidade relacionado com o pecado que deu causa à restituição. Por exemplo, lemos que, “Se alguém furtar boi ou ovelha e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois; e pela ovelha, quatro ovelhas” (Êx 22:1). No entanto, “Se o furto for achado vivo na sua mão, seja boi, ou jumento, ou ovelha, pagará o dobro” (v. 4). Também está registrado: “e se não tiver com que pagar, será vendido por seu furto” (v. 3). Roubar era um pecado grave, mas dar o próximo passo de se livrar do animal que havia sido roubado era ainda mais sério e exigia maior restituição. Outras leis governavam coisas como a destruição das plantações de outra pessoa acendendo uma fogueira, permitindo que um animal se alimentasse no campo de outra pessoa, ou até mesmo cometendo fornicação com uma mulher solteira: A restituição teria que ser feita. Evidentemente, esses princípios estavam diante de Zaqueu (Lc 19:8) quando ele disse ao Senhor Jesus: “se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado”. Ele reconheceu seu dever de restituição de acordo com a lei.

 

Restituição quíntupla 

Podemos perguntar, no entanto, por que a restituição era tão grande em alguns casos: cinco vezes mais para um boi e quatro vezes mais para uma ovelha. Normalmente não exigimos isso na maior parte do mundo hoje e, em muitos casos em que o dinheiro é roubado, ele nunca é recuperado. Os indivíduos de quem o dinheiro foi roubado são simplesmente deixados para arcar com a perda. No entanto, Deus não tratou Israel dessa maneira, nem trata conosco dessa maneira quanto aos nossos pecados.

 

Quando um homem roubava, não só havia o mal feito ao seu próximo, mas também o erro moral envolvido no roubo. Deus exigiu restituições quádruplas e quíntuplas por várias razões. Em primeiro lugar, o valor da restituição era um forte impedimento para a repetição da ofensa. Uma restituição quádrupla ou quíntupla, sem dúvida, esgotaria muito o próprio gado ou ovelhas do ofensor e o lembraria de que “o crime não compensa”. Segundo, serviria de lembrete para outros de que a terra pertencia a Jeová e que o roubo na terra de Jeová era um assunto sério. Terceiro, ela reembolsava o dono do animal roubado pelo tempo e problemas que todo o incidente lhe causou. Além disso, o fato de que o homem podia não ter os meios para restituir quatro ou cinco vezes não o liberava de sua obrigação. Há um ditado em inglês: “Você não pode tirar sangue de uma pedra”, mas a incapacidade do ofensor de restituir não servia para livrá-lo. Nesse caso, ele deveria ser vendido por seu roubo, a punição mais assustadora, pois sua servidão duraria seis anos. Só então ele se tornaria um homem livre novamente.

 

Em todas essas leis e ordenanças, vemos Deus instruindo Seu povo escolhido, Israel, em um caminho correto, tanto para Sua glória quanto para sua bênção no final. Lemos em outro lugar que: “Visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal” (Ec 8:11). Não podemos deixar de sentir que, se os princípios da restituição de acordo com a lei mosaica fossem incorporados à lei hoje, a taxa de criminalidade seria consideravelmente reduzida. As fortes e pecaminosas tendências do homem natural só podem ser refreadas pelo temor da punição apropriada.

 

No entanto, todos devemos perceber que, sem a graça de Deus, o coração de todos nós é igual. Alguns de nós que crescemos em lares Cristãos tivemos essas tendências perversas reprimidas por uma educação piedosa, mas a natureza pecaminosa não era melhor do que a de qualquer outra pessoa. Por causa de nossos pecados, todos nós contraímos uma dívida que não podemos pagar, e nossa penalidade seria o inferno eternamente. Mas nosso Senhor Jesus Cristo fez a restituição que nunca poderíamos fazer.

 

W. J. Prost

 

Restituição em Relação a Deus


Em outro artigo desta edição de “O Cristão”, vimos a importância que a Palavra de Deus atribui à restituição em relação ao homem, em nossas responsabilidades uns para com os outros. Também sabemos que o homem, como cabeça da criação de Deus, tem um espírito que o capacita a reconhecer Quem é Deus e também o capacita a se comunicar com Deus. O homem é, portanto, responsável perante Deus por sua conduta, bem como perante seu próximo. Quando um pecado é cometido contra o próximo, é também um pecado contra Deus, que criou o homem à Sua imagem e semelhança. No entanto, existem pecados contra Deus que nada têm a ver com nossos semelhantes.


Pecado contra Deus 

Um pecado contra Deus era mais sério do que um pecado contra o homem e, no Velho Testamento, a restituição tinha que ser feita por sacrifício, que prefigurava a obra de Cristo. Na expiação do pecado, detalhada para nós em Levítico 4, os pecados da ignorância são considerados. Mencionam-se quatro diferentes ofertas pelo pecado, e notamos que se exigia um sacrifício maior para um sacerdote ou para toda a congregação do que para uma pessoa. Também, um governante tinha de oferecer um sacrifício maior do que alguém comum do povo, mostrando que Deus reconhecia maior responsabilidade em alguns do que em outros. Deus leva em conta nosso grau de conhecimento e entendimento.

 

Deve tocar nosso coração perceber que, aos olhos de Deus, somente um sacrifício poderia fazer a restituição do pecado. Antes de nosso Senhor Jesus Cristo ir para a cruz do Calvário e consumar a obra da redenção, Deus aceitava um sacrifício animal que indicava a morte de Cristo. No entanto, até mesmo a morte de um animal era uma indicação solene da seriedade do pecado aos olhos de Deus.

 

Na expiação do pecado, é mais a iniquidade real diante de Deus que está em questão, enquanto na expiação da culpa, a ênfase está mais no dano real causado. Mais uma vez, mesmo que o indivíduo fosse ignorante de seu pecado, ele ainda era considerado culpado. Ele havia desobedecido a um mandamento definido do Senhor. É muito significativo que se um homem pecasse nas coisas sagradas do Senhor (Lv 5:14-16) ou pecasse contra seu próximo (o que também era uma transgressão contra o Senhor, Lv 6:1-7), ele deve não apenas trazer como sacrifício um carneiro sem defeito, mas também adicionar a “quinta parte” a tudo o que ele era obrigado a restituir. O carneiro falava de consagração – aquela consagração de nosso bendito Salvador para consumar a obra que o Pai Lhe dera para fazer, custasse o que custasse. Ele estava totalmente separado para Deus e podia dizer: “Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade” (Hb 10:7).

 

A quinta parte adicionada 

Adicionar “o seu quinto [a quinta parte – TB] ao que o indivíduo era obrigado a restaurar também é uma figura muito preciosa do que a obra de Cristo fez por nós e para a glória de Deus. Se o pecado nunca tivesse entrado neste mundo, ainda seríamos capazes de desfrutar do Jardim do Éden. Mas a obra de Cristo tem feito muito mais do que restituir o que foi tirado pelo pecado. Nosso Senhor Jesus Cristo pôde dizer profeticamente: “Então restituí o que não furtei” (Sl 69:4). Deus tem sido muito mais glorificado e nós temos sido muito mais abençoados do que se o pecado nunca tivesse entrado neste mundo. A obra de Cristo nos levou a um relacionamento mais próximo a Deus do que jamais poderia ter sido conhecido antes que o pecado entrasse neste mundo. Um hino expressa bem isso:

 

Embora a queda de nossa natureza em Adão

 Parecesse nos afastar de Deus,

 Foi assim que Seu conselho nos trouxe

 Mais perto ainda, por meio do sangue de Jesus.

 

Vemos, então, que a restituição em relação a Deus não poderia ser feita pelos próprios esforços do homem. Ele pode satisfazer seus semelhantes por meios naturais, mas o próprio Deus não precisa de nada que o homem possa oferecer a Ele. Caim pensou que poderia trazer a Deus o fruto de uma terra amaldiçoada, mas Deus teve que rejeitar aquele sacrifício. Ao longo dos tempos, muitos pensaram que poderiam levar suas próprias boas obras a Deus, mas nenhuma delas pode tirar o pecado. O apóstolo Paulo lembrou aos atenienses que Deus não é “servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois Ele mesmo é Quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas” (At 17:25). Mesmo em questão de sacrifício, Davi reconheceu que as exigências de Deus para a restituição iam muito além da oferta de um animal. Ele disse: “Porque Te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; Tu não Te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51:16-17). Davi reconheceu que, embora os sacrifícios fossem bons aos olhos de Deus, porque falavam do sacrifício de Cristo, o arrependimento e a confissão deveriam acompanhá-los. A mera oferta de um sacrifício não era suficiente; tinha que haver o pleno reconhecimento da gravidade do pecado diante de Deus e que os próprios esforços do homem não poderiam remover a culpa.

 

Restituição plena 

Quão gratos devemos ser que a plena restituição pelo pecado foi feita a Deus e que a poderosa obra feita por nosso Senhor Jesus Cristo na cruz não apenas eliminou nossos pecados, mas forneceu a base pela qual Deus pode nos levar a uma bênção ainda maior do que era possível antes do pecado entrar neste mundo. Deus espera arrependimento e humildade de nossa parte, e quando isso acontece, reconhecemos que somente a obra de Cristo pode satisfazer os requisitos de um Deus santo e fornecer restituição pelo dano e insulto a Deus que foi feito pelo pecado.

 

No entanto, há sacrifícios que podemos fazer hoje, não na forma de restituição a Deus, mas sim como uma indicação do nosso apreço pelo que Cristo fez por nós. Em primeiro lugar, temos o privilégio de oferecer “sempre... a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13:15). Além disso, nossa gratidão deve transbordar para os outros, pois também nos é dito “não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque, com tais sacrifícios, Deus Se agrada” (Hb 13:16). Finalmente, toda a nossa vida deve ser de sacrifício, não um sacrifício morto, como Israel ofereceu, mas sim um sacrifício vivo. Depois de ter dado uma descrição completa e brilhante da obra de Cristo e tudo o que isso significa para os crentes, Paulo apela para aqueles em Roma: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional [serviço inteligente – JND] (Rm 12:1). Nunca podemos fazer restituição a Deus pelo que Cristo fez por nós, mas Ele valoriza aqueles sacrifícios que fluem de um coração cheio de gratidão por tudo o que Seu amor e graça fizeram por nós.

 

W. J. Prost 

 

Expiação da Culpa


Levítico 5:14-19; 6:1-7 

Em Levítico 6:1-7, há outra forma de expiação da culpa ou da transgressão, que corresponde à deslealdade contra o próximo ou à mentira em relação a algo perdido. Jeová considerou isso, indiretamente, algo contra Si mesmo, visto que o primeiro caso (em Levítico 5:14-19, relativo à transgressão nas coisas sagradas do Senhor) O afetou diretamente. Ao tratar com o próximo, não se admite ignorância do pecado. É óbvio que esses sete versículos (Lv 6:1-7), embora seja um novo preceito que Jeová falou a Moisés, são a conclusão adequada do capítulo 5. (Na Bíblia hebraica, eles fazem parte do capítulo 5.)

 

“Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Quando alguma pessoa pecar, e transgredir contra o SENHOR, e negar ao seu próximo o que se lhe deu em guarda, ou o que depôs na sua mão, ou o roubo, ou o que retém violentamente ao seu próximo; ou que achou o perdido, e o negar com falso juramento, ou fizer alguma outra coisa de todas em que o homem costuma pecar, será, pois, que, porquanto pecou e ficou culpada, restituirá o roubo que roubou, ou o retido que retém violentamente, ou o depósito que lhe foi dado em guarda, ou o perdido que achou, ou tudo aquilo sobre que jurou falsamente; e o restituirá no seu cabedal [por inteiro – ARA] e ainda sobre isso acrescentará o quinto; àquele de quem é o dará no dia de sua expiação. E a sua expiação trará ao SENHOR um carneiro sem mancha do rebanho, conforme a tua estimação, para a expiação da culpa; trará ao sacerdote. E o sacerdote fará expiação por ela diante do SENHOR, e será perdoada de qualquer de todas as coisas que fez, sendo culpada nelas” (Lv 6:1-7).

 

Erros contra o próximo 

Que graça da parte de Jeová, portanto, considerar os erros contra o próximo como erros contra Si mesmo também, e exigir uma reparação e uma expiação da culpa! No entanto, era devido à Sua glória e necessário ao homem que uma ordenança distinta traçasse a linha entre eles. A transgressão contra o próximo trouxe à tona um novo discurso de Jeová a Moisés.

 

Como era de se esperar, há uma grande variedade nesses erros que exigiam uma expiação pela transgressão. A primeira forma de culpa aqui apontada parece ser uma falha na confiança privada. Pode ser qualquer documento valioso ou não, confiado à guarda de um amigo; pode ser apenas um animal, ou um livro emprestado, um machado emprestado ou dinheiro confiado, por menor que seja. Mas Jeová tomou conhecimento e associou os direitos do israelita fiel com Seu próprio Nome. A próxima parece ser uma questão de interesse público, de permuta ou de parceria virtual, talvez nos negócios, onde o mal feito não era visto como um erro, mas como uma falha quanto à responsabilidade, por mais honesta que fosse a aparência. Aqui, a versão KJV (como a Septuaginta) traduz como “em comunhão” (v. 2), diferente do caso anterior de confiança particular. As melhores autoridades judaicas distinguem o segundo caso como um empréstimo e o primeiro como um depósito. Então temos um exercício violento de poder, seguido por um de engano como na retenção de salários, por exemplo, ambos comuns e abrangendo muitas falhas das quais Jeová Se ressentia. Em seguida, temos a descoberta do que o próximo havia perdido, e a mentira sobre o achado, chegando até ao falso juramento.

 

Erros contra as coisas sagradas 

Em todos esses casos, Jeová exigiu uma expiação da culpa tão rigorosamente quanto em Suas coisas sagradas. Não só deve haver restituição do principal, mas um dízimo dobrado, ou quinta parte, cobrado como uma penalidade. E no que dizia respeito à Sua própria honra, no caso de fracasso em manter o santo relacionamento de Israel, um carneiro imaculado foi prescrito como a única e invariável expiação permitida pela transgressão. Por isso, e somente por isso, o sacerdote poderia fazer expiação pelo ofertante culpado, “e ele será perdoado” (TB), com o surpreendente acréscimo somente aqui “de qualquer de todas as coisas que fez, sendo culpada nelas”.

 

Mas é bom notar a diferença na ordem prescrita entre a culpa nas coisas sagradas de Jeová (Lv 5:14-19) e aquela incorrida nos casos do próximo (Lv 6:1-7), com a qual estamos ocupados agora. No primeiro caso, a expiação ocupava o primeiro lugar; no segundo, a reparação. Ambas eram necessárias. Jeová considerava isso como uma desonra a Si mesmo, e o carneiro era igualmente necessário, assim como a reparação com a quinta parte adicional. Mas a diferença de ordem foi feita para impressionar o coração do israelita com aquilo que tocava Jeová diretamente em comparação com o que Lhe tocava indiretamente ao defraudar o próximo. Quem, senão Deus, poderia, de forma tão santa, ter provido para Seu povo, em distinções tão apropriadas e proveitosas? Nem Moisés, nem Arão, nem Samuel, nem Davi, muito menos homens mais tarde em um estado sombrio, caído e comparativamente descuidado poderiam fazê-lo. Havia sido Jeová desde o início.

 

Ainda não era, nem poderia ser sob a lei, a proclamação da remissão dos pecados de forma absoluta e para sempre a todo crente. Isso aguardava o Senhor Jesus e Sua obra consumada de redenção no evangelho, pois “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado. Mas Jeová, mesmo assim, deu ao israelita penitente grande conforto, quando ele se tornava consciente de ter pecado vergonhosamente e de ter profanado a santa posição de Seu povo.

 

W. Kelly (adaptado) 

 

Filemom


Filemom, um amigo muito amado e conservo do apóstolo, evidentemente morava em Colossos. A casa de Filemom era um local de reunião para o povo de Deus, para que Paulo pudesse escrever sobre “a Igreja que está em tua casa”.

 

Onésimo havia sido escravo de Filemom, como mostra o versículo 16. Ele havia prejudicado seu mestre Cristão e depois fugido (vs. 15, 18). Na grande misericórdia de Deus, no entanto, ele foi colocado em contato com Paulo em Roma durante sua prisão e, por meio de sua pregação, foi convertido (v. 10) - convertido tão profundamente que Paulo pôde falar dele não muito tempo depois como “amado e fiel irmão” (Cl 4:9).

 

Tíquico estava naquela época deixando Roma e indo para Colossos, levando a carta de Paulo àquela assembleia, e o apóstolo aproveitou aquela ocasião favorável para enviar Onésimo em sua companhia de volta ao seu próprio povo, para que novamente ele pudesse encontrar o mestre a quem uma vez ele havia prejudicado. Não foi fácil para Onésimo estar novamente na presença de Filemom, e Paulo escreveu pensativamente uma carta de intercessão a Filemom, fazendo de Onésimo o portador dela.

 

Ele prejudicou seu senhor 

Quando Onésimo prejudicou seu senhor, ele era um homem não convertido. Então, ele se tornou um irmão amado, mas isso não o isentou das obrigações incorridas por seu pecado anterior. No que diz respeito a Deus, esse pecado foi perdoado, pois ele estava “justificado de todas as coisas” (At 13:39 – ARA), mas no que diz respeito a Filemom, a confissão e algum tipo de restituição eram necessárias. Aqui, imediatamente, é trazida diante de nós uma lição importante. Se tivermos cometido algum erro manifesto a outro, nenhuma prova mais eficaz de nosso arrependimento pode ser dada do que a confissão e a restituição, na medida em que isso esteja ao nosso alcance. É sempre um processo difícil, mas é uma justiça prática, mais eficaz como testemunho e que mais glorifica a Deus.

 

A epístola enfatiza a cortesia como sendo uma graça que convém ao Cristianismo. O Cristão também deve ser marcado pela honestidade e franqueza, mas não deve permitir que a franqueza se transforme em uma grosseria insensível. Ele deve reconhecer os direitos dos outros e expressar-se com refinamento de sentimento e cortesia.

 

Observe também a maneira discreta e delicada com que Paulo introduz o assunto de Onésimo, suplicando ao invés de usar autoridade apostólica e apresentando Onésimo como seu filho espiritual, dado a ele durante o tempo de provação em seu cativeiro – uma consideração bem calculada para mover o coração de Filemom. Paulo teria gostado de manter Onésimo como ajudante em seu tempo de provação, mas ter feito isso sem consultar Filemom teria sido, segundo ele, uma liberdade injustificada. Seu antigo senhor tinha certos direitos que Paulo observou escrupulosamente, reconhecendo que, para ele ter a vantagem da ajuda de Onésimo, ele gostaria que fosse um “benefício” conferido por Filemom.

 

“Eu o pagarei” 

Sabendo ou suspeitando que seu antigo senhor havia sofrido perdas por causa do serviço infiel, de Onésimo, Paulo assume total responsabilidade para fazer a restituição adequada. Ele escreve com sua própria mão uma nota promissória: “Eu o pagarei”. Mas quão eficazes são as seguintes palavras: “para te não dizer que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves”! Filemom havia se convertido por meio de Paulo, aquele que lhe havia trazido, por meio de terrível oposição e sofrimento, vida e salvação para os dias eternos. Tal era a confiança de Paulo em Filemom que ele esperava que ele fosse além do que ele estava ordenando quanto ao tratamento de Onésimo. Não é de admirar que Paulo se dirigisse a ele como “nosso muito amado” (TB)!

 

Sabendo o terrível dano ao nome de Cristo que tem sido causado entre o povo de Deus em conexão com episódios semelhantes, sentimos como se não pudéssemos enfatizar suficientemente esta importante epístola. Ela nos ensina: Quanto à parte ofensora, um retorno com toda a humildade ao ofendido, com confissão e reconhecimento de seus direitos quanto à restituição. Quanto à parte ofendida, a recepção do ofensor arrependido em graça com o mais pleno reconhecimento possível de tudo o que Deus operou nele, seja por meio da conversão, como no caso de Onésimo, ou por meio da restauração, como pode ser o caso de muitos de nós. Quanto à parte do mediador, a ausência de qualquer coisa que se aproxime de um espírito ditatorial, juntamente com um amor ardente tanto pelo ofendido quanto pelo ofensor, expressando-se em súplicas marcadas pela cortesia e tato.

 

Um mediador 

Não devemos deixar esta epístola sem perceber a maneira impressionante como toda a história ilustra o que significa e envolve a mediação, ilustrando a declaração: “Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, Homem” (1 Tm 2:5). Deus é Aquele ofendido pelo pecado; o homem, o ofensor; o Homem Cristo Jesus, o Mediador.

 

A mediação de Paulo entre Filemom e Onésimo ilustra, embora apenas vagamente, o que Cristo fez. Enquanto Paulo teve que escrever: “Eu o pagarei”, nosso Salvador ressuscitado não usa o tempo futuro. Sua Palavra para nós no evangelho como o fruto de Sua morte e ressurreição é: “Eu o paguei”. Jesus “por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação”. Por isso é que “justificados pela fé, temos paz com Deus”. Neste ponto, portanto, a ilustração fica muito aquém da realidade ilustrada.

 

Finalmente, Paulo diz a Filemom: “Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. Aquilo que Filemom poderia ter achado difícil de fazer, como nos aventuramos a pensar, Deus o fez. Todo crente, a partir do próprio Paulo até nós mesmos, não tem outra posição diante de Deus senão “agradáveis [aceitos – KJV] a Si no Amado” (Ef 1:6). Fomos recebidos em toda a aceitação e favor do próprio Cristo – uma coisa impressionante além das palavras.

 

A ligação entre Paulo, o mediador, e Onésimo, o ofensor, foi amor. Entre Paulo e Filemom, a parte ofendida, foi companheirismo. No entanto, aqui novamente precisamos notar como a ilustração fica aquém, pois Deus, o Pai, ama igualmente como Cristo, o Filho. O amor do Pai e o amor de Cristo estão docemente entrelaçados. Em uma eternidade passada, “o conselho de paz” era “entre Ambos” (Zc 6:13).

 

F. B. Hole (adaptado)

 

 

O Que Você Procuraria em um Homem que Diz Que Se Arrependeu?


Eu deveria esperar que ele produzisse “frutos dignos de arrependimento”. É inútil para alguém dizer que se arrepende de seus pecados enquanto continua neles. Um homem que está genuinamente arrependido não apenas confessa seus pecados, mas os deixa (Pv 28:13).

 

Entre outros sinais de verdadeiro arrependimento, observaremos a disposição de fazer restituição a qualquer um que tenha sido injustiçado.

 

Vemos isso no caso de Onésimo. Ele havia prejudicado seu senhor, Filemom, fugindo. Após sua conversão, ele procura fazer uma compensação, na medida do possível, voltando para seu senhor. Em Zaqueu, temos outro exemplo disso. Quando o Senhor Jesus respondeu tão graciosamente a ele quanto ao seu desejo de vê-Lo e trouxe salvação para sua casa, Zaqueu disse: “se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” (Lc 19:8). Esse é um caso de produzir frutos dignos de arrependimento.

 

Existe alguém que você prejudicou? Alguém a quem você defraudou há muitos anos cuja desonestidade nunca foi descoberta desde aquele dia até hoje? Alguém que você prejudicou com sua língua, danificado seu caráter por calúnias e fofocas? Existe tal pessoa? Não me diga que você está arrependido, a menos que esteja disposto a fazer o que puder para corrigir o erro.

 

Uma senhora que se converteu em uma de nossas reuniões havia trabalhado, em sua juventude, em uma loja de tecidos. Ela havia comprado um chapéu novo e precisava de uma fita para enfeitá-lo. Não tendo o dinheiro necessário, ela ficou tentada a pegar um tanto que precisava da loja de seu empregador. Ninguém ficou sabendo, ninguém sentiu falta do pedaço da fita.

 

Quando aquela senhora se converteu, a circunstância voltou à sua mente. Pegando a caneta, ela escreveu para a encarregada da loja mais ou menos assim:

 

“Prezada ___: Quando trabalhei nessa loja de tecidos, lamento dizer que roubei um pedaço de fita rosa. Agora sou Cristã, pela graça de Deus, por isso anexo o pagamento em selos e peço que aceite esta expressão do meu sincero arrependimento”.

 

Esse é o tipo de coisa que esperamos ver quando alguém professa arrependimento.

 

H. P. Barker

 

A Expiação da Culpa


A expiação da culpa (encontramos os detalhes dela em Levítico 5, 6:1-7, 7:1-10) é uma expiação obrigatória, não voluntária, e pode ser corretamente considerada como uma subdivisão da expiação do pecado. No entanto, existem algumas características específicas pertencentes à expiação da culpa que a tornam distinta e a diferenciam da expiação do pecado. Sabendo que a Palavra de Deus nunca é redundante, tentarei explicar algumas das características distintas dessa oferta, esperando que haja algum benefício espiritual para todos nós. A expiação do pecado já foi bem explicada em detalhes, então, em conexão com ela, vou apenas apontar aqui que nada pode manter em nosso coração o sentimento correto do que é o pecado e o que é a santidade de Deus do que um entendimento real do significado da expiação do pecado. Precisamos entender o que aconteceu no Calvário, quando nosso Senhor e Salvador foi feito pecado por nós, carregou nossos pecados em Seu corpo no madeiro e fez expiação completa por todos e cada um deles.

 

O governo de Deus - A santidade de Deus 

Ao considerar a expiação pelo pecado, vemos que atos específicos não são mencionados, na medida em que o pensamento principal nessa oferta é a condenação daquilo que é totalmente abominável à santidade de Deus, e o homem é mostrado como um pecador, quanto à sua natureza. Mas com a expiação da culpa são enumeradas ofensas específicas, e o homem é considerado um transgressor quanto aos seus atos. Isso traz um efeito duplo do pecado e lança luz adicional sobre a diferença entre a expiação do pecado e a expiação da culpa. Primeiro, por causa do nosso pecado, não fomos capazes de alcançar o padrão estabelecido por Deus: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23), e esse aspecto é apresentado na expiação do pecado. Em segundo lugar, por causa do mesmo pecado, não apenas falhamos em alcançar o padrão de Deus, mas continuamos a nos alienar d'Ele cada vez mais: “A vós também, que noutro tempo éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más” (Cl 1:21); Este aspecto encontramos na expiação da culpa. Por um lado, o pecado é uma grave afronta à santidade de Deus e, por outro lado, também é uma transgressão, quando cometido contra um mandamento conhecido. Podemos dizer que toda transgressão é um pecado, mas nem todo pecado é uma transgressão. A expiação da culpa está, portanto, conectada com o governo de Deus, e não com a santidade de Deus.

 

Três categorias de transgressões 

Como podemos ver claramente, lendo Levítico 5-6, existem três categorias principais de transgressões apresentadas: transgressões contra o Senhor (Lv 5:1-13), transgressões contra as coisas santas do Senhor (Lv 5:14-19) e transgressões contra o próximo (Lv 6:1-7). Em todos os três casos, mesmo quando as reivindicações humanas eram totalmente atendidas, o perdão e a expiação só podiam ser obtidos por meio da morte de uma vítima, “pois sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). O próprio Deus, por Sua Palavra, estabelece o padrão para o julgamento do pecado, e esta é uma verdade muito importante que nunca devemos esquecer. Também notamos o fato de que a ignorância em cometer uma transgressão não pode ser invocada como desculpa. Todos sabemos que os precursores da ignorância são, na maioria dos casos, a negligência, a preguiça espiritual ou a indiferença às exigências de Deus.

 

Restituição

Em alguns dos casos, também houve restituição envolvida na expiação da culpa. Assim, a restituição teve que ser feita e a quinta parte adicionada. Não apenas a expiação foi feita, mas a graça entrou para permitir que alguém fizesse reparação total; o que era devido a Deus ou ao próximo foi totalmente entregue, e com uma quinta parte adicionada. Além disso, não só foi perdoado aquele que transgrediu contra as coisas de Deus ou contra seu próximo, mas aquele cujos direitos tinham sido violados agora era mais rico do que antes. Por exemplo, mesmo que, infelizmente, eu tenha ferido um irmão de alguma forma, serei restaurado e farei a restituição completa trazendo, por assim dizer, a expiação da culpa de acordo com a avaliação do Senhor. Humilhar-me e reconhecer minha culpa, qualquer que tenha sido, pode não apenas restaurar meu relacionamento com o injustiçado, mas a demonstração de graça que operou em meu coração também trará gozo e benefício espiritual ao injustiçado. Maravilhosa obra da graça divina, que sempre se eleva acima do nosso pecado!

 

Mas, o mais importante, temos aqui uma bela característica da obra de Cristo na cruz: Ele restituiu mais a Deus do que o pecado do homem havia tirado, como lemos no Salmo 69:4: “então, restituí o que não furtei”. Tínhamos roubado de Deus o que Lhe era devido. O Senhor Jesus, ao Se tornar nossa expiação da culpa, fez restituição a Deus por todo o mal que havíamos feito, e acrescentou a quinta parte. Quando Seu coração foi quebrantado pelo opróbrio, Ele confiou Sua causa Àquele que julga com justiça e pagou nossa dívida integralmente. Ele também acrescentou a quinta parte, e isso é porque Sua obra na cruz tem um valor infinito, que não apenas fez a provisão para os pecados de todos os que creriam n'Ele, mas glorificou plenamente a Deus por toda a eternidade. O Senhor Jesus Cristo foi capaz de realizar a vontade de Deus perfeitamente, para que Deus fosse glorificado e o homem abençoado. Como H. A. Ironside escreveu: “A graça de Deus foi magnificada na grande expiação da culpa da cruz de uma maneira que nunca poderia ter sido conhecida se o pecado nunca tivesse entrado”.

 

Vemos, portanto, que a expiação da culpa nos apresenta várias lições importantes e distintas, revelando uma dimensão preciosa da obra de Cristo na cruz. Certamente, a apreciação das fragrantes perfeições de Sua Pessoa e da obra apresentada pela expiação da culpa, bem como pelas outras ofertas em Levítico, surge como um cheiro suave para nosso Deus e Pai.

 

Ensino prático 

Permita-me aqui mais uma observação. Às vezes, ouvimos os Cristãos falarem da “verdade prática”. O fato é que TODA verdade envolve o que é prático. Não há uma única verdade na revelação divina que Deus não pretendesse produzir, aqui e agora, um efeito prático na vida dos Seus. Menciono isso porque as muitas figuras dadas no Velho Testamento, em geral, e as ofertas do livro de Levítico, em particular, parecem ser bastante obscuros e difíceis de entender e, consequentemente, de pouco ou nenhum interesse para a grande maioria dos Cristãos. Mas Deus nos deu todas essas várias ofertas para que possamos ter uma apreensão mais profunda e melhor da obra singular de nosso Senhor Jesus na cruz. Essa obra é tão vasta, tão abençoada e tão abrangente que foram necessárias várias figuras no livro de Levítico para que ela fosse devidamente apresentada a nós. Que Deus nos dê a graça de considerar em oração todas elas e, desta forma, ter uma crescente apreensão da glória e bem-aventurança da Pessoa e da obra de nosso Senhor na cruz, para que possamos valorizá-Lo mais e ter um desejo crescente de agradá-Lo em nossa caminhada e conduta aqui.

 

E. Datcu 

 

A Restauração de Todas as Coisas


A frase a “restauração de todas as coisas” (ARA) refere-se àquela “era de ouro” da qual os profetas escreveram com entusiasmo e sobre a qual os salmistas cantaram extasiados desde o início de seu testemunho. É aquele maravilhoso tempo em que os direitos divinos serão respeitados em todos os lugares aqui embaixo, quando o Jesus, há muito rejeitado, será entronizado em Seu reino designado e quando a carreira maligna do homem será abruptamente interrompida. Então o poder de Satanás será colocado de lado; sua obra miserável será em grande parte desfeita e as feridas da criação serão curadas. “O ermo exultará e florescerá como a rosa”; “em lugar da sarça, crescerá a murta”; “a glória do SENHOR se manifestará, e toda carne juntamente a verá”; sim, “e todos os confins da Terra verão a salvação do nosso Deus” (Is 35:1, 55:13, 40:5 – ARA, 52:10). Era abençoada! Quão longe estaria se julgássemos pelas aparências, mas quão perto quando erguemos a lâmpada profética com fé!

 

Vamos ler juntos Atos 3:19-21: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor. E envie Ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado, o Qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os Seus santos profetas, desde o princípio.” Pedro era o orador. Ele estava se dirigindo ao povo judeu por ocasião da cura do coxo na Porta Formosa do templo. Ele fez uma proposta definitiva ao seu público – pela autoridade divina, é claro. Se eles se arrependessem de seus muitos pecados, e especialmente de sua rejeição homicida de Jesus, tempos de refrigério viriam a eles desde a presença de Jeová. Ele até enviaria de volta Aquele a Quem eles haviam expulsado, e o tempo da restauração de todas as coisas seria estabelecido. Os leitores da Bíblia em Israel há muito esperavam por tal consumação. Em Mateus 17:11, o Senhor confirmou os discípulos em sua expectativa de que Elias “virá primeiro e restaurará todas as coisas”. De acordo com essa esperança, eles perguntaram a Ele após Sua ressurreição: “Senhor, restaurarás Tu neste tempo o reino a Israel?” (At 1:6). Agora Pedro, com luz do céu em sua própria alma como nunca possuiu antes, apresenta ao povo as condições sob as quais a tão esperada restauração poderia ocorrer. Seus pensamentos podem estar limitados a Israel; Os pensamentos de Deus abrangem toda a criação.

 

A restauração de todas as coisas depende de dois outros eventos: o arrependimento de Israel e o retorno de Jesus. Ele não retornará até que Israel esteja preparado para recebê-Lo, e até Seu retorno nenhuma restauração universal é possível. Um milênio sem o Senhor Jesus, quaisquer que sejam os objetivos e desejos dos homens, nunca pode existir.

 

O arrependimento de Israel 

A restauração de todas as coisas tem limitações. As palavras de Pedro mostram isso – “Do Qual Deus falou pela boca de Seus santos profetas desde o início dos tempos”. Alguns têm pressionado as palavras do apóstolo para que incluam até mesmo os mortos não perdoados. A restauração não vai além do que “Deus falou pela boca de todos os Seus santos profetas”, e certamente nenhum profeta nos convida a procurar a restauração do favor divino de homens que morreram em seus pecados. O ponto de vista dos profetas era a Terra, e em linguagem comovente descrevem a remoção pelo poder divino de todas as cicatrizes que o pecado causou, a fim de que Deus possa mais uma vez ter prazer nas obras de Suas mãos, e que os homens possam desfrutar de Sua misericórdia. A cura do coxo foi um exemplo, ilustrando de modo notável Isaías 35:5-6.

 

Naquela era, Israel será restaurado. Todas as doze tribos desfrutarão da bênção de Deus em toda a extensão da magnífica possessão prometida aos pais. (No passado, eles ocuparam apenas uma pequena parte de sua herança destinada.) O templo será restaurado a eles, com a presença de Jeová enchendo-o continuamente (Sl 68:29; Ez 43:4-5). Nenhum deles precisará exortar seu próximo: “conhecei ao Senhor”, pois todos O conhecerão do menor ao maior deles (Jr 31:34).

 

As nações 

As nações também serão abençoadas (Sl 22:27-28, 72:17). Não mais serão caracterizadas pelo orgulho e independência de Deus, não mais cheias de inveja e ódio uma pela outra, elas habitarão pacificamente sob o domínio do Rei dos reis e Senhor dos senhores. De acordo com o propósito divino, reconhecerão o lugar especial de favor e supremacia dado a Israel, e prestarão respeitosa homenagem. Elas buscarão a face de Jacó, como o Salmo 24:6 nos diz, porque Deus está na terra de Jacó. De ano em ano, os embaixadores de todas as nações comparecerão em Jerusalém na Festa dos Tabernáculos (Zc 14:16).

 

A criação em geral será restaurada. Os fortes não mais atacarão os fracos. Até o lobo habitará com o cordeiro, o leopardo se deitará com o cabrito e o leão comerá palha como o boi (Is 11:6-7). O governo benéfico do Filho do Homem se estenderá aos “animais do campo, às aves do céu e aos peixes do mar, e a tudo o que passa pelas veredas dos mares” (Sl 8:7-8). A manifestação dos filhos de Deus será o sinal para a libertação completa de todos da escravidão da corrupção (Rm 8:19-21).

 

Mas qualquer que seja a bem-aventurança daquela época, a perfeição absoluta não será alcançada e, portanto, a finalidade não será atingida. A Era Milenar (a última das dispensações de Deus) é o portal para o reino eterno, o estado eterno, os novos céus e a nova Terra. Nela a perfeição será realmente encontrada. O Filho do Homem tendo subjugado todo adversário e silenciada toda língua rebelde, Deus será “tudo em todos” (1 Co 16:28).

 

W. W. Fereday

 

“Agora Eu Vejo”

“Respondeu ele, pois, e disse: Se é pecador, não sei; uma coisa sei, e é que, havendo eu sido cego, agora vejo”

João 9:24

 

Agora eu vejo, mas não a separação

Da Terra e do céu se fundindo,

Nem uma visão terrível e surpreendente,

Forçando um grito desesperado;

Mas vejo a declaração solene:

Todos pecaram e todos devem morrer;

Santos preceitos desobedecidos,

Culpado todo o mundo deve jazer;

Curvando-se, silenciado, ao pó,

“Agora vejo” que Deus é justo.

 

Agora eu vejo, mas não a glória,

Não a face d’Aquele que amo,

Não a história completa e ardente

Dos mistérios acima;

Mas vejo o que Deus falou,

Como Seu bem-amado Filho

Guardou as leis que o homem havia quebrado,

Morreu pelos pecados que o homem havia cometido;

Morrendo, ressuscitando, entronizado acima!

Agora eu vejo Deus é amor.

 

F. R. Havergal

 

 

 “... então, restituí o que não furtei”

Salmo 69:4

 

 

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