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ÍNDICE
Princípios da Guerra Espiritual
O Evangelho no Livro de Josué
Henry Forbes Witherby
Parte 2/4
O Caráter Cristão - Josué 5:2-9
“Naquele tempo, disse o SENHOR a Josué: Faze facas de pedra e torna a circuncidar os filhos de Israel. Então, Josué fez para si facas de pedra e circuncidou aos filhos de Israel em Gibeate-Haralote. E foi esta a causa por que Josué os circuncidou: todo o povo que tinha saído do Egito, os varões, todos os homens de guerra, eram já mortos no deserto, pelo caminho, depois que saíram do Egito. Porque todo o povo que saíra estava circuncidado, mas a nenhum do povo que nascera no deserto, pelo caminho, depois de terem saído do Egito, haviam circuncidado. Porque quarenta anos andaram os filhos de Israel pelo deserto, até se acabar toda a nação, os homens de guerra, que saíram do Egito, que não obedeceram à voz do SENHOR, aos quais o SENHOR tinha jurado que lhes não havia de deixar ver a terra que o SENHOR jurara a seus pais dar-nos, terra que mana leite e mel. Porém, em seu lugar, pôs a seus filhos; a estes Josué circuncidou, porquanto estavam incircuncisos, porque os não circuncidaram no caminho. E aconteceu que, acabando de circuncidar toda a nação, ficaram no seu lugar no arraial, até que sararam. Disse mais o SENHOR a Josué: Hoje, revolvi [removi – ARA] de sobre vós o opróbrio do Egito; pelo que o nome daquele lugar se chamou Gilgal (isto é, Remoção ou Liberdade), até ao dia de hoje” (Js 5:2-9).
“Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus... Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra” (Cl 3:3, 5).
Quanto mais um homem aprende sobre Deus, mais ele conhece a graça. Se quisermos aplicar espiritualmente a nós mesmos as lições da circuncisão na terra, devemos dar lugar pleno à graça de Deus, que levou à circuncisão, e lembrar que Deus pede a devoção de Seu povo, porque Ele, em Cristo, os trouxe ao perfeito favor; caso contrário, cairemos no erro de mentes semelhantes a monges e, com elas, ofenderemos a Deus, buscando obter esse favor por meio de nossos próprios esforços.
Foi observando as ordenanças de Deus, ou foi pela graça todo-poderosa de Deus que Israel entrou na terra da promessa? Eles entraram como uma nação em incircuncisão e, portanto, foi exclusivamente pela graça soberana de Deus. O povo de Israel foi circuncidado antes que a sentença judicial fosse proferida sobre os homens de guerra em Escol, onde eles desprezaram a graça de Deus e, portanto, tiveram quarenta anos de peregrinação no deserto designados a eles. Durante esses quarenta anos, a nação negligenciou a circuncisão. Deus, portanto, considerando Seu povo como um todo, agora que Ele os havia trazido para a terra da promessa, ordenou a Josué “torna a circuncidar os filhos de Israel”.
Deus não exigiu circuncisão de Israel enquanto eles vagavam “pelo caminho”, mas quando Ele os trouxe para a terra, então (“naquele tempo”) Ele a exigiu. E por que Deus não buscou circuncisão do povo de Israel, enquanto eles andavam no deserto? O deserto era o cenário de sua desconfiança de Deus. Enquanto estavam lá, eles duvidaram de Sua promessa de trazê-los para Sua terra, e não estavam, portanto, em uma condição que justificasse aquela separação completa para Si mesmo que a circuncisão significava. Mas agora, sendo trazidos pela própria fidelidade de Deus, e podemos dizer, quase a despeito deles mesmos, para a terra da promessa, e, porque eles estavam lá, não duvidando mais, Deus podia chamá-los para a circuncisão. A graça os havia libertado da incredulidade do coração deles – a graça os havia trazido para a terra, e Deus podia chamá-los para a proximidade total de Si mesmo, e, consequentemente, para a separação completa do resto das nações.
Um espírito desconfiado é ignorante do verdadeiro caráter de Deus e, consequentemente, não é moralmente adequado para a separação para Si mesmo; mas Deus, tendo nos trazido por Sua graça para saber que estamos nos lugares celestiais em Cristo, busca a separação para Si mesmo, correspondendo à liberdade para a qual Ele nos trouxe. A graça conhecida e realizada é o único poder verdadeiro para a separação do coração para Deus.
“E foi esta a causa por que Josué os circuncidou: todo o povo que tinha saído do Egito, os varões, todos os homens de guerra, eram já mortos no deserto, pelo caminho... Porém, em seu lugar, (o Senhor) pôs a seus filhos; a estes Josué circuncidou, porquanto estavam incircuncisos, porque os não circuncidaram no caminho”.
Aqui é feita distinção entre os homens de guerra que saíram do Egito e aqueles que cresceram no deserto. Os “homens de guerra” que saíram do Egito, porque “não obedeceram à voz do Senhor” a respeito da terra prometida, foram consumidos no deserto (veja Nm 14:32-33). Em Escol, eles foram incrédulos quanto à promessa de Deus de trazê-los para a terra, e então adicionaram ao seu pecado de incredulidade o da obstinação, obstinação até mesmo para subir à terra da promessa em sua própria energia desobediente. Deus rejeitou tais homens de guerra, e em vez destes, Ele levantou no deserto outros, a quem Ele treinou, por disciplina, para Si mesmo.
Israel aprendeu a morte para seus homens de guerra que saíram do Egito por um longo e doloroso processo; um por um, por quarenta anos exaustivos, eles caíram e morreram, até que todos foram consumidos. E lentamente, muito lentamente, a força e o vigor que trouxemos do mundo morrem em nós, à medida que Deus disciplina, castiga e nos ensina o que somos. Esta lição não é aprendida em um dia. É uma experiência para toda a vida e, em certo sentido, ocupa todos os nossos “anos de tolice” de nossa peregrinação. No entanto, este ensinamento é abençoado, pois a mesma mão que “consome”, levanta outros em lugar daquilo que ela murcha. No próprio lugar da disciplina, isto é, este mundo desértico, Deus desperta em Seu povo novos poderes; à medida que o “eu” morre, a vida de Cristo se manifesta. O processo é doloroso, mas o fim é abençoado. Deus consome nosso zelo carnal em graça, para que Seu próprio poder possa habitar em nós.
A circuncisão com Israel era meramente uma ordenança carnal e, em comum com todas as ordenanças, não dava poder para comunhão com Deus, nem para conflito com Seus inimigos. Era um sinal de que os filhos de Israel eram a família terrenal de Deus e um povo separado de todo o resto da humanidade. A circuncisão feita sem mãos, com a qual o Cristão é circuncidado, em Cristo, é uma separação do mundo para Deus. Deus havia trazido Seu povo, Israel, para Sua própria terra, e sendo esta a posição deles diante d’Ele, por necessidade, para satisfazer Seu próprio caráter, Ele exigiu deles uma condição adequada. Ele não podia, sem Se comprometer a Si mesmo, permitir que Seu povo fosse como o resto da humanidade. “A santidade convém à Tua casa, Senhor, para sempre” (Sl 93:5). É um princípio na Escritura que quanto mais próximo for o relacionamento com Ele próprio, no qual Deus graciosamente traz Seu povo, mais rigoroso é o chamado feito a eles para separação do mal.
Deus primeiro trouxe Israel através do Jordão para Canaã, e então Ele ordenou que fossem circuncidados. Assim como Israel foi separado para Deus pelo rio Jordão, do Egito, do deserto e de seus antigos “homens de guerra”, assim o Cristão, pela morte de Cristo, é separado do mundo e de sua velha natureza para Deus, seja em sua incredulidade ou energia. E porque temos uma nova vida em Cristo, somos ordenados, no poder dessa vida, a nos considerar mortos. Na caminhada e testemunho do crente, a ordem da Palavra de Deus é assim: “ressuscitastes”; “estáveis mortos”; “já ressuscitastes”; portanto, “buscai as coisas que são de cima”, e “pensai nas coisas que são de cima”. “Já estais mortos”; portanto, “Mortificai, pois, os vossos membros”. “Já ressuscitastes”; Cristo é sua vida; daí a força para a energia celestial. Vocês estão mortos; Cristo morreu; daí o poder para morrer para o mundo e para si mesmo. O Cristão está, aos olhos de Deus, morto para tudo aquilo pelo qual Cristo morreu; “o nosso velho homem foi com Ele crucificado” (Rm 6:6). Mas o Cristão, embora tenha vida divina, ainda está na carne. Antes ele andava na concupiscência da carne; mas agora, estando morto com Cristo, ele é exortado a “despir-se” dos vícios da velha natureza, “pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”. A natureza de Adão é chamada de “velho homem”, do qual se diz que o Cristão já “se despiu”. Aqueles que não estão mortos com Cristo estão vivendo em desobediência a Deus, e são chamados de “filhos da desobediência” (Ef 2:2; Cl 3:6). Eles são assim chamados porque são de seu pai Adão, o homem desobediente.
Assim como o povo de Israel, por ter sido trazido através do Jordão, foi ordenado por Deus a ser circuncidado, e seus caminhos descuidados no deserto não foram mais permitidos; assim o Cristão, por ter morrido com Cristo para o mundo e para seu antigo “eu”, é exortado a mortificar seus membros, e seus caminhos mundanos não são mais permitidos. Essa mortificação é simplesmente a negação própria, pelo poder do Espírito Santo. O homem ama naturalmente o pecado; ele ama seu próprio caminho, que é a essência do pecado; mas aquele que vive em Cristo é chamado a morrer para si mesmo na caminhada e conduta diárias. Não há maneira de viver para Cristo, a não ser morrendo para si mesmo.
O Filho de Deus, visto na glória, seca todas as fontes da nossa velha natureza por um lado, e por outro, energiza a nova vida. E se o Cristão quiser viver de acordo com a medida daquela graça em que ele está – como alguém vivo no Cristo ressuscitado, ele deve se lembrar de que morreu com Cristo para o mundo. Seria impossível se gloriar no fato de ter ressuscitado com Cristo, a menos que estivéssemos mortos com Ele. Não poderia haver assento para o Cristão nos lugares celestiais, a menos que Cristo tivesse sido pendurado na cruz pelo pecado. Não poderia haver habitação nas cidades da terra da promessa para os filhos de Israel, se eles não tivessem passado pelo Rio da Morte.
Esse sistema de doutrina Cristã que meramente se gloria na vida que “está escondida com Cristo em Deus”, e não trata o “eu” como morto, é impraticável. Para sermos práticos em nossa caminhada sobre a Terra, devemos ser como homens circuncidados; como homens que, estando mortos para o mundo e para o “eu” por Cristo, mortificam seus membros que estão na Terra.
Não era de forma alguma suficiente para Israel saber que eles atravessaram o Jordão, a fim de desfrutar das riquezas da herança; pois até que a circuncisão fosse efetuada, nenhuma comida de Canaã foi servida a eles, nem eles foram chamados para o conflito. E podemos ter certeza de que, enquanto andarmos na carne e nos agradarmos, não pode haver comunhão – nenhuma alimentação em Cristo. Nem pode haver vitórias para o Senhor, a menos que o “eu” seja subjugado.
A tendência do homem é dar destaque indevido a alguma doutrina favorita, e a tristeza causada por essa falha universal é generalizada. Deus ultimamente tem graciosamente ensinado a Seu povo muitas verdades relativas à vida em Cristo e ao chamado celestial da Igreja; e Satanás está ocupado tentando induzir o povo de Deus a tomar porções apenas dessas verdades, para que ele possa introduzir pesos falsos nas balanças e, assim, transformar a graça de Deus em dissolução (ou libertinagem – ARA).
Satanás quer enganar o jovem crente levando-o à sombria atmosfera de uma Canaã imaginária, onde a carne tem permissão para agir. Neste Cristianismo imaginário, a circuncisão – mortificação própria – não é permitida; o resultado prático de estar morto com Cristo não tem permissão para ferir a vontade. Mas não há estabilidade de alma, nenhuma devoção sólida. Tal crente é como o inseto, que, composto apenas de asas, e não tendo peso algum, é expulso do jardim de flores pela primeira tempestade. Quando Deus, por Seu Espírito, conduz tal pessoa para a plena luz clara de Sua própria presença, há uma santa e vigilante negação própria que supera todas as pretensões do Cristianismo professante.
Triste como é o resultado de deixar a imaginação levar a alma, talvez o efeito de aceitar a verdade divina no intelectualismo seja ainda mais. Um Cristão que sustenta a doutrina da morte com Cristo e da ressurreição com Cristo, apenas no entendimento, sai da luz do Sol da presença de Deus para uma terra de frieza mortal. Se ele transgride, ele não exercita sua alma sobre seu pecado, mas responde: "Estou morto". Ele cobre seus maus caminhos com um manto de doutrina semelhante ao gelo, e talvez vá tão longe em distância moral de Deus a ponto de dizer que seu caráter Cristão é de pouca importância comparado com sua posição em Cristo. Infelizmente, esta não é uma imagem fantasiosa; vimos os frutos ternos do cultivo de Deus rudemente pisoteados por homens deste espírito. A doutrina tem sido ostentada, mas as virtudes que pertencem a ela têm sido ignoradas. É, de fato, uma coisa vã sustentar uma doutrina apenas em palavras; na melhor das hipóteses, não é melhor do que o brilho claro da Lua em uma paisagem desolada coberta de neve, que não alegra nenhum coração e não desperta nenhum desejo de permanecer sob sua influência.
Se a circuncisão em seu significado espiritual fosse corretamente valorizada, tais abusos da verdade de Deus certamente não encontrariam lugar no coração do crente. Mortificar nossos membros não é um exercício indolor. Dizer: “Estamos mortos” não é mortificante; mas negar os desejos de nossa velha natureza porque “estamos mortos” é. “Se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” (Rm 8:13).
O mero fato da entrada do povo de Israel em Canaã não os constituiu em liberdade diante de Deus. Eles foram trazidos para a terra da promessa pela passagem do Jordão, mas não foram declarados livres por Jeová até serem circuncidados. “Disse mais o SENHOR a Josué: Hoje, revolvi [removi – ARA] de sobre vós o opróbrio do Egito; pelo que o nome daquele lugar se chamou Gilgal (isto é, Remoção ou Liberdade), até ao dia de hoje” (Js 5:2-9). Deus tirou Seu povo do Egito, através do deserto e, para a Terra da Promessa, ordenou que fossem circuncidados e então declarou que Ele os havia libertado.
A liberdade de Deus para Seu povo é feita por Ele próprio e, portanto, perfeita. É o que Ele aprova e Se deleita completamente. E o meio pelo qual, passo a passo, Ele traz Seu povo ao desfrute dessa liberdade é a graça. Se somos homens de Deus já livres, é evidentemente na terra da promessa que temos liberdade, pois somente na plenitude do favor de Deus podemos experimentar Sua remoção da reprovação de nossa escravidão.
Agora, todo crente em Cristo está espiritualmente sobre o rio da morte, e assentado nos lugares celestiais; “acabando todo o povo de passar”, pois Cristo ressuscitou. É então uma questão solene e profunda que o crente pode colocar a si mesmo: Sou um dos homens do Senhor já livre? Não apenas ressuscitado com Cristo e assentado em Cristo nos lugares celestiais, mas praticamente livre do amor ao mundo? Será que a morte de Cristo cortou minhas afeições pelo mundo, ou ainda há, como Israel cobiçou às vezes a comida do Egito, uma cobiça por suas atrações? O próprio Deus declarou que Seu povo era livre; sua liberdade era o resultado de Sua própria obra. Sua mão graciosa havia trabalhado tanto por eles que eles não apenas passaram pelo Jordão e entraram na terra de Canaã, mas se circuncidaram.
Gilgal é o centro da força de Israel através de todos os conflitos registrados no livro diante de nós. Para lá eles se dirigiram; tanto após a vitória quanto após a derrota, lá estava o arraial. E precisamos de um retorno contínuo ao nosso Gilgal; tanto na hora da tristeza quanto no tempo da prosperidade. Se quisermos ser homens verdadeiros para o Senhor, devemos sempre nos apressar para o lugar secreto da força – o santo julgamento próprio na presença de um Salvador outrora crucificado e agora ascendido.
Como este é um princípio tão profundamente importante, que seja repetido: Deus exorta Seu povo a colocar em prática aquilo que realmente existe. Ele diz: “já estais mortos”; portanto, “Mortificai, pois, os vossos membros”. Deus coloca a morte em nossa velha natureza como ponto de partida; o homem, em seus ensinamentos religiosos, exorta a destruir a velha natureza para que, em algum dia, a vida possa ser alcançada, e assim leva as almas ao desespero. Esses feitores são mais implacáveis do que aqueles que espancaram os escravos no Egito quando, sendo a palha tirada deles, eles alegaram sua impotência para fazer os tijolos. Amargo é o clamor que se eleva a Deus de muitos de Seus amados; alguns, afligindo seu corpo para se purificarem de suas concupiscências; alguns, torturados com penitências; alguns, levantando-se cedo e dormindo tarde; todos espancados por tiranos espirituais e incitados a suas tarefas sem esperança, com as palavras "Vós sois ociosos; vós sois ociosos”. Esses estão tentando destruir sua velha natureza; não sabendo que foram crucificados com Cristo e estão mortos; os tais estão se esforçando para mortificar a si mesmos por sua própria força, sendo ignorantes do poder do Espírito que habita neles. “se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis”. “A carne para nada aproveita” (Rm 8:13; Jo 6:63).
É maravilhoso, diante de um ensino tão claro como é o das Epístolas aos Colossenses e aos Efésios, que tais escravos espirituais possam se submeter à sua escravidão. A menos que o crente tivesse uma nova natureza, ele não seria convidado a se considerar (sua velha natureza) morto. Quando o Cristão impõe a si mesmo a escravidão das ordenanças carnais, se sujeita a um sistema religioso, que se dirige à alma por meio de seus sentidos – por meio de visões, cheiros e sons – evidentemente não é de fé nem do Espírito de Deus. Se, pela morte de Cristo, o Cristão é separado e morto para os rudimentos (ou elementos) do mundo, será que ele deve, como se estivesse vivendo no mundo, estar sujeito a ordenanças que afetam meramente os sentidos de sua velha natureza, “Não toques; não proves; não manuseies”? Será que ele se desviará de sua Cabeça exaltada nos céus, de Quem todo alimento é ministrado, para elementos tão fracos e miseráveis como carnes, bebidas, feriados, luas novas ou sábados? Quem enganará o mais fraco dos homens de Deus já livres com uma falsa humildade e adoração de anjos? Essa “demonstração de sabedoria” é segundo os mandamentos e tradições dos homens, e não segundo Cristo.
As fontes da vida do crente estão em Deus, e não no homem; e esta verdade simples, mas abençoada (abençoada além de qualquer expressão para aqueles que conhecem experimentalmente um pouco do funcionamento do pecado interior), é a torre forte do crente. Não há uma partícula de relacionamento com Deus através dos canais da natureza do velho Adão. Quando Deus fez esses canais, eles eram amáveis e, como originalmente formados, o relacionamento com Deus fluía através deles. Mas, quando Adão caiu – quando, em desobediência e independência, ele comeu do fruto proibido – as fontes de sua natureza foram corrompidas e os canais quebraram. Deus nunca purificou as fontes, nem reparou os canais. Ele os deixa em ruínas. Agora, de Cristo nos céus, como de uma fonte vivificante, e por meio do Espírito Santo, como por um canal, a nutrição é ministrada ao povo de Deus na Terra. A água celestial alimenta a nova natureza que Ele transmitiu ao Seu povo, ela não ministra nada à velha natureza – ela nunca a alcança. Aqueles que podem ter observado os poços cavados ao redor das encostas das colinas italianas, que recebem sua nutrição da fonte distante, entenderão nossa ilustração. Lá, durante os longos meses de verão, a seca resseca os vales e, para suprir a necessidade de suas frutas, os camponeses cavam poços nas encostas das colinas. Os poços recebem sua nutrição da montanha cercada pelo céu, de cujas alturas a fonte inesgotável derrama suas águas. As águas da fonte são, podemos dizer, a vida dos poços. E o meio pelo qual a água é recebida nos poços é um curso de água em forma de fio, humilde aos olhos, mas de extrema importância. Este curso de água vai do topo da montanha até os poços, atravessando ravinas e desfiladeiros em seu curso descendente, e traz, com certeza infalível, a generosidade da fonte até os poços. Assim como a fonte é o nosso Cabeça no céu, e assim como o curso de água, é o bendito Espírito de Deus, que testifica d’Ele; e comunica de Sua plenitude ao povo de Deus.
A Palavra de Deus ensina essa doutrina, e a experiência do filho de Deus testemunha sua verdade. Apelando para essa experiência, apelamos para o testemunho do Espírito a respeito de Cristo dentre o povo de Deus. Agora, o que diz essa voz? Ela fala somente de Cristo, que é nossa Vida, nossa Fonte, nossa Força. Nada vindo do “eu”, ou no “eu” ajuda, o mínimo que seja, a conhecer, amar ou desfrutar de Cristo; mas, ao contrário, quando o “eu” é colocado fora de vista, considerado morto e esquecido, então o amor de Deus e o poder de Deus enchem o vaso de barro. “Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3:3).
O que Deus quer que Seu povo use para sua mortificação própria? É, cremos, a cruz de Cristo. Sendo ressuscitados com Ele, temos graça para usar o fato de Sua morte, como o instrumento de separação do que é do “eu” e do mundo. A cruz provou que nosso velho homem – o “eu” – está judicialmente morto “para com Deus”: “já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o Qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20). Quando o crente, pela graça de Deus, percebe que está morto com Cristo, não há mais desculpa dada para a propensão do velho homem a agir de forma contrária a Deus, ou permissão para as obras da carne, ou sanção para pecar. E na medida em que ele anda com Deus no poder da vida d’Aquele que nos amou e Se entregou por nós, ele tem graça para praticamente recusar as inclinações da carne. A mente carnal ainda é inimizade para com Deus. O mundo que odiava o Filho de Deus, ainda é o mundo. Sua religião, seus governantes, seu povo, todos e cada um, se opõem a Cristo. Mas será que o poder da cruz falhou no coração e vida daqueles que estão mortos para o mundo e vivos para Deus?
É vão dizer: Nós ressuscitamos com Cristo, e estamos assentados n’Ele nos lugares celestiais, se andamos aqui como homens da Terra. “Já estais mortos... mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a Terra”.
Comunhão com Deus - Josué 5:10-12
“Estando, pois, os filhos de Israel alojados em Gilgal, celebraram a Páscoa no dia catorze do mês, à tarde, nas campinas de Jericó” (Js 5:10).
Exatamente quarenta anos antes de os filhos de Israel acamparem em Gilgal, eles eram escravos trabalhando arduamente na casa da servidão, e Deus havia preparado sua entrada em Canaã de tal forma que a primeira festa que eles celebraram lá foi a lembrança de sua libertação.
A Páscoa e a festa da Páscoa eram distintas; uma era a libertação em si, a outra o memorial da libertação. Na primeira, Israel estava ocupado com sua fuga, na outra, eles meditavam sobre os meios pelos quais Deus os havia tirado de lá.
Eles agora se regozijavam diante de Deus de uma maneira impossível até então, pois estando em Canaã eles não tinham nenhum anjo destruidor a temer como no Egito. E para aqueles que estão em Cristo Jesus, que passaram da morte para a vida, agora não há julgamento. Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós. Vamos celebrar a festa; vamos meditar com ações de graças sobre nosso resgate e sobre o amor de nosso Salvador ao morrer. Deus deu descanso à nossa consciência e Ele quer que nossas afeições estejam em constante exercício. Na proporção em que contemplamos o sacrifício de Cristo, nosso coração cresce em comunhão com Deus Pai.
Se não tivéssemos passado da morte para a vida, não poderíamos nos lembrar da morte do Senhor Jesus, e quanto mais conhecemos a vida eterna em Cristo, maior o valor que damos à Sua morte.
Houve um testemunho aos olhos de Deus quando Seu povo redimido, a quem Ele havia trazido para a terra, celebrou a festa da Páscoa. “E te será por sinal sobre tua mão e por lembrança entre teus olhos” (Êx 13:5-10). E Deus é glorificado na lembrança da morte de Cristo por Seus redimidos, que estão assentados n’Ele nos lugares celestiais.
Enquanto Israel estava alojado em Gilgal, o lugar de perfeita liberdade, Deus preparou esta mesa para eles na presença de seus inimigos “nas campinas de Jericó”.
Mas isso não foi tudo; “E comeram do trigo da terra, do ano antecedente, ao outro dia depois da Páscoa… E cessou o maná no dia seguinte, depois que comeram do trigo da terra, do ano antecedente, e os filhos de Israel não tiveram mais maná; porém, no mesmo ano, comeram das novidades da terra de Canaã” (Js 5:11-12). Até que a terra fosse conquistada, o trigo do ano antecedente não poderia ser comido. O trigo da terra do ano antecedente representa o Senhor Jesus ressuscitado dos mortos. Ressuscitados com Ele, entramos n’Ele nos lugares celestiais, e Ele é a força de nossa alma. Se quisermos crescer na apreensão de nossa herança celestial, isso precisa ser por nossa comunhão com o Salvador ascendido. Ele é nosso Objeto celestial, e só podemos apreciar em algum grau as riquezas das “coisas que são de cima” pela intimidade com Ele por meio da graça e do poder do Espírito.
A necessidade diária do crente o lança sobre o Senhor Jesus, que uma vez foi humilhado e rejeitado aqui. Precisamos de graça adequada para o dia, e devemos ir até Ele que, tendo Ele mesmo passado pelo deserto, é Aquele que pode nos socorrer e fortalecer, e assim aprendemos sobre Ele como “o pão do céu”, como o maná.
Quanto ao corpo mortal, o crente está no deserto, mas “sua vida está escondida com Cristo em Deus”, e os suprimentos para esta vida são todos encontrados na Pessoa de Cristo. Precisamos conhecer Cristo tanto como o Maná, quanto como o Trigo da terra, do ano antecedente.
Pão sem fermento acompanha essas festas. “o levedado não se verá contigo, nem ainda fermento será visto em todos os teus termos”. “E comeram do trigo da terra, do ano antecedente, ao outro dia depois da Páscoa; pães asmos e espigas tostadas comeram no mesmo dia”. É impossível perceber a presença de Cristo, alimentar-se d’Ele e, ao mesmo tempo, a impiedade ser doce na boca, estar escondida sob a língua. Quando temos comunhão com Cristo, isso também é conhecido “no mesmo dia”. Façamos festa com os “asmos da sinceridade e da verdade”.
Daí em diante, a terra de Canaã fornece alimentos a Israel, “no mesmo ano, comeram das novidades da terra de Canaã”.
Mas vamos notar a ordem divina: primeiro o trigo do ano antecedente, depois as novidades (o fruto – ARF) da terra; primeiro Cristo, depois o gozo das coisas celestiais.
Haverá alguém que leia estas páginas sem se importar com as bênçãos celestiais, sem ter gosto pelas coisas divinas? Ele ainda não provou que o Senhor é gracioso. Ele está satisfeito com o mundo. A alma farta pisa o favo de mel, assim o coração do homem mundano se afasta de Cristo.
As festas de Israel eram realizadas anualmente, eram apenas sombras passageiras da substância eterna. Nossas festas são eternas. Nossa Páscoa é uma “festa ao Senhor”, “perpétua”, o trigo celestial de nossa terra celestial, o alimento para sempre.
Vitória - Josué 5:13-15; Josué 6
“Pela fé, caíram os muros de Jericó, sendo rodeados durante sete dias” (Hb 11:30).
Muito tinha que ser feito por Israel antes que Deus pudesse usá-los como Seu exército, como a passagem do Jordão – a circuncisão e Gilgal – a Páscoa e o trigo da terra do ano antecedente – testemunharam um por um. O povo agora sai para a guerra. Toda a terra foi dada a eles, mas sob a condição expressa de conquistar cada palmo dela, portanto, sua responsabilidade de entrar na plenitude de sua bênção não cessaria até que todo inimigo em Canaã, todo gigante e toda cidade murada fossem subjugados. Somente quando tudo isso fosse feito eles poderiam se assentar e descansar.
Josué, recém-saído das festas da Páscoa e das primícias, aproxima-se de Jericó e vê o Príncipe (ou Capitão) do exército do Senhor, “que tinha na mão uma espada nua”, e, adorando a Seus pés, ouve que a cidade, seu povo e seu rei foram entregues nas mãos de Israel, e também aprende quais armas devem ser usadas na guerra.
Deve-se notar que Josué 6:1 é um parêntesis, ocorrendo no meio das palavras do Príncipe do exército do Senhor, que marca o espírito endurecido e desafiador de Jericó; “Jericó cerrou-se e estava cerrada... nenhum saía nem entrava”. Eles não creram (veja Hb 11:31). Esta descrição é, infelizmente, muito verdadeira para o espírito que agora governa o mundo. Estamos então, dia a dia, tomando nossa marcha de fé, por mais desprezível que pareça aos olhos dos homens mundanos, ou não estamos? Estamos entre a companhia desprezível que sopra as trombetas de chifres de carneiros, ou estamos entre os escarnecedores sobre os altos muros da cidade da destruição?
Jericó é o mundo em figura. O Egito também é uma figura do mundo, mas como a “casa da servidão”, da qual Deus liberta o pecador pelo sangue do Cordeiro. Jericó é o mundo como a cidade da destruição para a qual, como um soldado de Cristo, e no poder da ressurreição de Cristo, o crente vem para conquistar.
O Senhor havia prometido que Israel seria vitorioso. Sua arma de guerra era a fé. “Pela fé, caíram os muros de Jericó”. A fé se apodera de Sua força com Quem todas as coisas são possíveis, e assim “tudo é possível ao que crê”. Se as cidades são “muradas até o céu”, Deus Se assenta no trono do céu. Se os antagonistas do crente são “os príncipes das trevas deste século [deste mundo – ARA]”, o Senhor de tudo é sua força. Portanto, quaisquer que sejam os inimigos, como eles são menos que nada diante de um Deus Todo-Poderoso, o soldado de Cristo, se agindo em confiança no Senhor, avança em plena certeza contra eles; “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”: A mão de Deus não é encurtada, e Ele responde à oração por Seu povo agora tão poderosamente quanto quando, de acordo com a fé de Israel, os muros de Jericó caíram: e aqueles que contam com Ele para tudo, provam por suas vitórias frequentes, quão agradável é a Deus quando Seu povo deposita sua confiança n’Ele. “Maior é o que está em vós do que o que está no mundo”.
Josué deu ordens apenas para o dia, embora o Senhor tivesse designado sete dias para a obra de fé de Israel. No primeiro dia, ele disse: “Rodeareis a cidade… uma vez”, e assim o que ocupou suas mentes foi a vitória final prometida pelo Senhor, e não a marcha do próprio dia. Deixemos os resultados com Deus. Se estivermos ocupados com os resultados presentes da obra que nosso Deus nos designou, a fé dificilmente estará em exercício. O clímax da obra de fé do crente, e o fim para o qual devemos olhar, é a vitória final – o dia de Jesus Cristo.
Israel teve que aprender paciência também em sua obra de fé, pois eles tiveram que marchar sete dias ao redor de Jericó, e no sétimo dia sete vezes. Se eles não tivessem marchado persistentemente, o muro de Jericó não teria caído. E há uma provação de fé sétupla, perfeita, para o soldado de Cristo em seu caminho de obediência. E o Senhor frequentemente faz Seu povo passar pela disciplina da expectativa, como fez com Israel, para que Ele possa trazer à tona as qualidades de soldado neles. “A prova da vossa fé produz a paciência”.
Além da fé inabalável e da paciência de Israel, havia diligência: “Josué se levantou de madrugada”, e, no sétimo dia, “ao sétimo dia, madrugaram ao subir da alva”. A fé genuína, enquanto repousa calmamente em Deus, nunca é ociosa. Quanto maior a fé do soldado de Cristo, mais vigorosa sua energia no trabalho de seu Capitão. Mas vamos prestar atenção à ordem divina; fé primeiro, energia depois. Infelizmente, a ordem é frequentemente invertida. Em tal energia, o “eu” é a fonte de força, e Deus é deixado de fora. A fé conecta nossa alma com Deus, e não podemos exercitar a fé a menos que estejamos em comunhão com Ele. Ela extrai toda a força d’Ele. É um princípio ativo e vigoroso, que nunca perde de vista seu objetivo, mas, ao mesmo tempo, é paciente.
Obedientes à palavra de Josué, “Não gritareis, nem fareis ouvir a vossa voz, nem sairá palavra alguma da vossa boca, até ao dia em que eu vos diga: Gritai! Então, gritareis”; Israel marchou ao redor de Jericó, e por sua ação expressou a obediência do coração deles. A mente de Deus deve ser legível na vida dos de Seu povo agora. Uma vida Cristã é mais convincente do que sermões ou livros. E neste testemunho, tanto o recém-convertido quanto o pai em Cristo têm parte. Que ninguém diga que é muito fraco, mas que aprenda sobre o exército de Israel, onde não apenas os “homens de guerra”, mas também “o exército reunido” – “a retaguarda” – foram ordenados a rodear a cidade.
O resultado certo da fé em Deus é a vitória. À medida que as trombetas soavam continuamente, era como se Israel fosse proclamado conquistador, ou melhor, como proclamassem o triunfo que se aproximava. É verdade que o dia do jubileu ocorreu apenas muitos anos após a queda de Jericó, mas as trombetas usadas na ocasião tiveram seu significado, soando a fé triunfante diante da desafiadora Jericó. O soldado de Cristo tem um cântico de vitória agora mesmo – antecipando seu jubileu – e o Senhor nas alturas ama ouvi-lo cantado. Não deveríamos ficar atrás dos nobres homens de fé de tempos passados, pois sabemos que tudo o que se opõe a si mesmo – tudo o que isola Cristo do mundo, o poder do deus e rei deste mundo, tudo, será submetido ao nosso Senhor. Se colocássemos nosso cântico e nosso louvor, por assim dizer, à frente, como fez Israel; se disséssemos ao nosso coração: “Crede no SENHOR, vosso Deus, e estareis seguros [estabelecidos – TB]”, nos regozijaríamos sobre mais inimigos do que fazemos agora. A simples confiança no Senhor começa e termina o conflito com ações de graças; e se percebermos que Cristo está conosco, como Israel carregou a arca em sua frente, aí haverá louvor. Quem dera que o exército do Senhor agora apresentasse uma unidade gloriosa de fé, paciência, diligência, obediência e triunfo, como o fez o povo de Israel ao cercar Jericó! Que cada crente, na perspectiva do dia vindouro, possa obedecer à ordem de seu Capitão e subir, seja o caminho áspero ou suave, “cada um para o lugar que lhe ficar defronte” (TB)!
Esta palavra, “cada um para o lugar que lhe ficar defronte”, é particularmente adequada aos nossos dias, quando os homens seguem os passos uns dos outros, quando a nobreza da individualidade está tão ausente, e quando poucos ousam desafiar o escárnio de serem peculiares em obedecer à Palavra de Deus.
Que nunca nos esqueçamos de que este mundo é a Cidade da Destruição e, lembrando-nos disso, demos toda a atenção ao aviso solene contido na maldição de Josué sobre aquele que reconstruísse Jericó!
Derrota - Josué 7:8-29
“Estrangeiros lhe devoraram a força, e ele não o sabe; também as cãs se espalharam sobre ele, e não o sabe” (Os 7:9).
Profundas e comoventes são as lições ensinadas pela derrota de Israel diante de Ai, onde corações, fortes pela fé, tornaram-se fracos como água, e onde o grito de vitória se transformou em choro.
No primeiro versículo de Josué 7, o dedo de Deus aponta para a fonte secreta de onde a tristeza surgiu. O mal começa por dentro e se manifesta para fora, “o seu coração enganado o desviou”. O crente em declínio é como o nobre carvalho que, em um estado de decadência, retém a aparência externa de vida e vigor muito depois que sua força se foi.
É somente na luz que podemos ter comunhão com Deus, e se Israel estivesse andando na luz, eles teriam buscado conselho d’Ele antes da batalha e, assim, teriam sido poupados de sua tristeza.
Israel julgando pela vista, eles subiram e observaram a terra, e, entusiasmados com a vitória, eles dependeram de seus próprios recursos em vez de Jeová. “Não fatigues ali a todo o povo, porque poucos são os inimigos”. Portanto, quando a derrota veio, o desespero que os tomou expressou a real condição do coração deles. As circunstâncias sempre trazem à tona o que há em um homem, revelando seu estado real. Quando a derrota toma conta do crente que tem confiança em si mesmo, o desespero rapidamente se apodera dele.
Josué quase culpou Deus pela queda de Israel. Em sua amargura, ele exclamou: “Ah! Senhor JEOVÁ! Por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão, para nos dares nas mãos dos amorreus, para nos fazerem perecer?” O desespero surge quando nos afastamos de Deus. Josué considerou todo o Israel como completamente destruído, e chegou ao extremo, quando disse: “que farás ao Teu grande nome?” Mas, na verdade, esta era a própria pergunta que havia sido respondida pela derrota e o massacre que ele lamentava; e Deus ordenou que ele soubesse que Israel havia pecado, e que Seu nome deveria ser purificado da associação com o mal a qualquer custo. Israel havia tomado do anátema; eles também haviam roubado e mentido.
Quando o povo de Deus intencionalmente toca o mal – rouba aquilo que Ele designou para o fogo, dissimulação e desonestidade os caracterizam. E como “Deus é luz, e não há n’Ele treva nenhuma”, Ele tem uma questão com os tais, tanto por causa do “anátema (coisa condenada – ARA)”, quanto porque eles não andaram “honestamente” como “filhos do dia”. Deve o povo de Deus, cujos pecados são tirados pelo sangue de Jesus, o próprio Filho querido de Deus, esconder o mal em seu meio, quando Israel, que se aproximou de Deus pelo sangue de touros e bodes, que nunca poderia tirar o pecado, foi separado d’Ele porque o anátema estava entre suas coisas? “Santificai-vos”.
“Anátema há no meio de vós, Israel; diante dos vossos inimigos não podereis suster-vos, até que tireis o anátema do meio de vós”.
Josué não foi vagaroso em obedecer, “Então, Josué se levantou de madrugada” e, em obediência à Palavra de Deus, procurou o mal. Quando o mal foi detectado, o cuidado do povo pela glória do grande nome de Jeová foi despertado. Eles correram, tiraram as coisas escondidas, vomitaram-nas a todo o Israel e as colocaram diante do Senhor. Nenhuma vergonha do pecado foi encoberta, pois a questão com o povo era esta – Acã ou Jeová. Não havia trégua para Jericó, como então haveria trégua para o israelita que trouxe a coisa amaldiçoada de Jericó para o arraial do Senhor? E como todo o Israel estava envolvido na desonra feita ao nome do Senhor, então todo o Israel se juntou à purificação, “E todo o Israel o apedrejou com pedras, e os queimaram a fogo e os apedrejaram com pedras”.
Um grande monte de pedras foi erguido sobre o transgressor, pois não era intenção de Israel apagar a memória da triste lição que haviam aprendido. “Então o Senhor Se desviou do ardor (do furor – ARA) da Sua ira; pelo que se chamou o nome daquele lugar o vale de Acor (Perturbação), até ao dia de hoje”.
Este Vale de Acor se tornou uma porta de esperança para Israel, e, bendito seja o Deus de toda graça, vales de perturbações ainda são portas de esperança para os contritos, pois, “se confessarmos os nossos pecados, Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça”. A tristeza piedosa é sempre saudável para a alma. Chorar sobre o mal, e colocá-lo de lado, leva a bênçãos renovadas e mais vitórias.
A coisa amaldiçoada em si tem sua instrução. A capa veio de Sinar, a planície sobre a qual Babel foi construída. Os homens daquele dia deixando a luz – viajaram desde o leste, e deixando seus lugares altos – as montanhas onde a arca repousara – encontraram uma planície, e ali uniram corações e mãos para fazerem para si um nome em independência de Deus. Esta foi Babel, ou Confusão. Infelizmente, as capas da apostasia agora não estão apenas escondidas nas tendas dos crentes, mas usadas em plena luz do dia. E quanto à prata e ao ouro, o dinheiro é uma triste armadilha para o povo de Deus, atravessando-os com muitas tristezas.
Israel estava agora restaurado ao pleno favor de Deus. Ele os lembrou das primeiras promessas, e em fidelidade imutável ordenou-lhes novamente: “Não temas, e não te espantes”. É assim que o Senhor conduz nossa alma restaurada de volta à fonte de Sua graça, e refrigera nosso coração com Seu amor imutável. Mas porque Israel tinha sido negligente, e disse: “não fatigues ali a todo o povo”, o Senhor agora ordena que se esforcem ao máximo, “toma contigo toda a gente de guerra”; e como eles tinham confiado em sua própria força, eles agora têm que passar pela humilhação da fuga fingida para alcançar a vitória.
É bom andar suavemente depois de ter caído, pois embora Deus nos perdoe a iniquidade do nosso pecado quando o confessamos, Ele aprofunda em nós o senso dos nossos maus caminhos.
Há encorajamento recebido pelo modo com que o rei de Ai saiu contra o Israel restaurado. Ele não percebeu nenhuma diferença neles, mas correu orgulhosamente para sua ruína. Os caminhos de Deus com Seu povo confundem os cálculos de seus inimigos, que meramente colocam homem contra homem, e deixam Deus de fora em seu cálculo.
A chave para a vitória final é encontrada na persistente obediência de Josué aos comandos do Senhor: “Porque Josué não retirou a sua mão, que estendera com a lança, até destruir totalmente a todos os moradores de Ai”. Precisamos de um propósito de coração e dependência do Senhor. Um homem fiel, de coração pleno, nunca está satisfeito até que o nome do Senhor esteja em triunfo. É um pobre soldado de Cristo aquele que, tendo uma vez estendido a mão por ordem de seu Capitão, a retira antes de alcançar plenamente seu objetivo.
A Palavra de Deus -Josué 8:30-35
“Bem-aventurados os que guardam os Seus testemunhos e O buscam de todo o coração” (Sl 119:2).
A disciplina que Israel havia sofrido produziu os frutos pacíficos da justiça; eles estavam fervorosos em obedecer à Palavra de Deus. Isso é visto na ordem de Josué para enterrar o corpo do rei de Ai antes do pôr do Sol, para que, por ele permanecer no madeiro, a terra não fosse contaminada (Dt 21:23). Mas, além disso, eles agora se dirigiram a Ebal e Gerizim, e ergueram as pedras onde a lei estava escrita.
O Senhor, por meio de Moisés, instruiu Israel a erguer as pedras quando entrassem em Canaã; Ele havia indicado os montes onde eles deveriam colocar a bênção e a maldição consequentes de sua obediência e desobediência à Sua Palavra, e lhes dera a entender que, ao estabelecerem as palavras de Sua lei, eles se colocavam a si mesmos sob a autoridade delas e se tornavam Seu povo disposto. (Veja Dt 11:29-30 e Dt 27:9-10.)
A fé de Josué é expressa na dedicação do primeiro altar erguido por Israel em Canaã ao “Senhor Deus de Israel”. Este altar foi construído de pedras brutas, não “poluídas” por ferramentas de ferro, pedras que nenhuma mão humana havia moldado. Era para holocausto e para oferta pacífica, e nenhuma menção é feita de ofertas pelo pecado sacrificadas sobre ele. O sacrifício oferecido sobre ele implicaria, portanto, que Israel ouviu a Palavra de Deus como adoradores e em comunhão com Ele. O altar foi construído sobre o Monte Ebal, de onde os Améns, respondendo às maldições por quebrar a lei, foram proferidos.
Eles também ergueram grandes pedras sobre o monte, caiaram-nas com cal e escreveram nelas as Palavras da lei (Dt 27:1-2). Tendo feito isso, os levitas cercaram a arca no vale entre as montanhas e leram as Palavras da lei, todo o exército de Israel enchendo as encostas (Js 8:33). Os anciãos de Israel, os oficiais e seus juízes; “assim estrangeiros como naturais”; o bebê e o guerreiro, homens, mulheres e crianças; ninguém estava ausente. Toda essa vasta companhia foi reunida, para que, por solenes Améns proferidos diante de Deus, pudessem se curvar à Sua Palavra e tomar sobre si mesmos sua responsabilidade.
Que lição essa multidão reunida nos ensina ao manifestar assim sua honra obediente à Palavra de Deus. Infelizmente, a Palavra de Deus é muito pouco reverenciada, muito pouco obedecida por Seu povo agora. Permitem-se que ideias humanas fiquem ao lado dela; ela nem sempre é o recurso final, bem como a força e o alimento do povo de Deus. Seu Amém nem sempre sobe para o céu quando seus preceitos são proferidos.
As maldições foram lidas em alta voz pelos levitas e, à medida que cada maldição por desobediência soava nos ouvidos de Israel, as centenas de milhares reunidas no Monte Ebal respondiam com Améns unânimes. Doze vezes eles disseram “Amém” às doze vezes proferidas maldições, e a décima segunda, “Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo!”, incluía toda possível negligência ou falha. Bênçãos também foram lidas (Js 8:33-34), mas onde estavam os Améns soando do Monte Gerizim? A Escritura é silente quanto a isso. Ela não registra um único “assim seja” respondendo às bênçãos conquistadas pela obediência do homem caído (Leia Dt 27). O homem pode justamente concordar com “todos os estatutos” (Êx 24:3) da lei de Deus, mas aqueles que permanecem sob a lei permanecem sob sua maldição (Gl 3:10).
A posição do Cristão apresenta um contraste marcante com a de Israel nesta cena. Cristo, por Sua morte, tornou Seu povo livre, pois eles morreram para a lei n’Ele. Sua cruz os separou do poder e domínio da lei, pois a lei não aborda suas demandas a homens que estão mortos: “meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo” (Rm 7:4).
O concerto inscrito sobre as pedras cobertas de cal, Paulo disse, mil e oitocentos anos atrás, “o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar” (Hb 8:13), mas o concerto da graça é imutável e eterno. “se aquele primeiro (concerto) fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo” (Hb 8:7). Mas o da graça é perfeito diante de Deus. O Senhor Jesus é o Mediador dele. Seu próprio sangue precioso o confirmou.
Nossas bênçãos não são confiadas à nossa própria custódia, mas estão sob a guarda segura e eterna do próprio Deus, nosso Pai, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais “em Cristo”.
Nosso altar de ação de graças e adoração não está, portanto, colocado, como o de Israel, sobre um Ebal – um monte de maldições – pois “Cristo nos redimiu da maldição da lei, fazendo-Se maldição por nós”.
Mas o contraste alcança nossa responsabilidade, bem como nossas bênçãos. Deus requer santidade de Seu povo de acordo com a revelação que Ele lhes dá, assim, o padrão de santidade de Israel era a lei, o padrão do Cristão é Cristo. Na medida em que nossas bênçãos são maiores do que as de Israel, assim é nossa responsabilidade.
O Cristão é amado em graça soberana e é ordenado a obedecer à verdade porque ele é tão amado, a fim de que não seja desobediente, e não perca a bondade mostrada a ele (Compare Romanos 12:1-2 com Deuteronômio 11:26-28). Aqueles que dizem que são Cristãos estão professamente sob a autoridade do Senhor Jesus, e sua responsabilidade é andar como Ele andou. “Aquele que diz que está n’Ele também deve andar como Ele andou” (1 Jo 2:6). Os tais estão sujeitos aos preceitos da Palavra, e se o Cristão não obedece à Palavra de Deus, ele desmente seu Cristianismo. “Aquele que diz: Eu conheço-O e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade” (1 Jo 2:4). É o “culto [serviço – JND] racional” daqueles que são trazidos à plenitude da bênção de Deus, apresentar seu “corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Porque seus pecados são perdoados por causa do Seu nome, eles devem buscar e fazer aquelas coisas que são agradáveis aos olhos de Deus. “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; e os Seus mandamentos não são pesados” (1 Jo 5:3).
H. F. Witherby
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