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Revista mensal publicada originalmente em setembro/2007 pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
Tema da edição
Adaptado de W. Kelly, The Bible Treasury, 12: 30-41
W. J. Prost
J. N. Darby, Collected Writings, 27:209
D. C. Buchanan
W. J. Prost
E. Dennett, adaptado de The Christian Friend, 1897
G. W. Frazer, Hinário Little Flock – Hino 200
Pecado e Libertação
O sofrimento e a morte do Senhor Jesus não só afastaram meus pecados, mas também afastaram a mim mesmo. Quando Cristo morreu, Deus diz que eu morri com Ele.
Dentro de mim, o pecado habita em minha carne. Essa carne pecaminosa está determinada a ter seu próprio caminho e nunca mudará. Deus me diz que Ele condenou esse pecado em mim. Eu não devo mais viver de acordo com os desejos da carne, pois meu Salvador também é meu Libertador.
Eu não poderia me livrar do poder desse pecado em minha carne. Porque tenho Sua vida em ressurreição, tenho o desejo de agradar a Deus em minha vida e, por Sua Palavra, tenho o conhecimento do que Lhe agrada. Mas desejo e conhecimento não são suficientes. Eu preciso de poder para superar o pecado que habita no meu corpo de morte.
A Palavra me diz que Deus me liberta por meio de Cristo e, tendo me libertado, o Espírito que habita em mim é mais forte do que a carne em mim. Então eu posso e devo ser um vencedor. Mas, eu sou?
Como os escritores desta edição explicam, essa verdade de libertação do poder do pecado é aprendida pela experiência. Cada um deve aprender individualmente na escola de Deus. Mas Deus é um Professor perfeito e paciente, portanto, não desprezemos a necessidade de aprender ou desmaiar diante das dolorosas lições que fazem parte do processo de aprendizado.
Tema da edição
Libertação – Suas Três Partes
O começo de Romanos 8 é a resposta completa ao clamor de miséria no capítulo 7 – “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7:24). Há três grandes partes na libertação: primeiro, a libertação da alma no começo de sua carreira, depois a liberdade prática em seu curso e, finalmente, a libertação final para o corpo na ressurreição na vinda do Senhor.
Libertando a alma
Sem a liberdade espiritual, não pode haver poder prático, seja na adoração ou no serviço. Vamos então primeiro considerar a libertação da alma. Deve-se notar que a libertação é distinta da vivificação, e em Romanos 7 temos a prova mais forte disso. Aquele em Romanos 7 está vivificado, mas não liberto. Ele não é descuidado nem está desacordado, mas não está liberto. Ele não é um homem natural, mas sim um homem carnal. O homem natural não tem interesse nas coisas de Deus, mas o homem carnal, embora tenha a nova vida, não está andando em pleno gozo dela. Em Romanos 7, uma luta é descrita e totalmente discutida. É um estado, não de iniquidade natural, mas de impotência espiritual. Sempre que ele quer fazer a vontade de Deus, o peso morto do mal dentro dele o arrasta para baixo. Ele desperta para o fato humilhante de que existe esse constante mal interior sempre buscando se manifestar e que ter o sangue de Jesus para seu perdão não resolve totalmente com o caso. Uma consciência despertada deu o poder à lei de matar, e ele está morto na convicção do pecado, que ele não tinha como um homem não convertido.
A experiência da alma é uma coisa valiosa, e nenhuma alma jamais valoriza a liberdade sem ter conhecido algo da escravidão. Na experiência própria de cada crente, há uma quebra muito oportuna do “eu”, que é a consequência de nos avaliar a nós mesmos diante de Deus. Isso não pode ser aprendido por um simples esforço da mente. Como essa lição necessária é aprendida? Ele tenta fazer o que deveria e o que ele deseja, mas ele falha. Ele tenta novamente, e ele falha novamente. Ele ainda não aprendeu a abandonar a si próprio e a descansar em Outro. A verdade é que o efeito do pecado é muito mais profundo do que supomos. Libertação vem depois de ter havido prova prática, não apenas de que somos pecadores, mas de que estamos sem força, o que é algo muito mais profundo. O homem é finalmente levado ao ponto de olhar para fora de si mesmo, e este é o ponto de virada. Ele tinha olhado para o Senhor para encontrar descanso e perdão, mas quando ele tinha Cristo, ele pensou: “Agora poderei continuar glorificando alegremente o Senhor”. Ele descobre sua fraqueza e finalmente olha para além de si mesmo, para Cristo, onde ele descobre que “agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1).
Morto e ressuscitado com Cristo
O Cristão não é meramente perdoado; ele é identificado com um Cristo morto e, como tal, está morto para o pecado. Ele é batizado para a morte de Cristo, mas como Cristo também ressuscitou, ele é identificado com um Cristo ressurreto. Assim, o crente está morto para o pecado, mas vivo para Deus, porque ele é visto como morto e ressuscitado com Cristo. Não pode haver condenação para o crente – ele tem perdão absoluto. Ele está em Cristo!
O apóstolo dá duas razões conclusivas para isso. Primeiro, ele diz: “A lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8:2). A expressão “a lei do Espírito de vida” significa o princípio fixo pelo qual o Cristão agora vive. É o lugar de libertação que ninguém jamais teve até que Cristo morreu e ressuscitou. Quando o Senhor ressuscitou dentre os mortos, Ele agiu imediatamente sobre esse princípio ao soprar nos discípulos o sopro de Sua própria vida ressurreta (Jo 20:22). O pecado não é mais uma lei ou princípio sob o qual o crente vive, pois ele não está mais preso a ele. Nem é verdade que ele está condenado a morrer, como todos os homens naturalmente estão. A Escritura diz: “Nem todos dormiremos” (1 Co 15:51). Aqueles que estiverem vivos quando o Senhor vier serão transformados sem morrer. Naturalmente, o Cristão pode morrer, assim como ele pode pecar, mas nenhuma delas é uma necessidade para o Cristão. Quando a vida no Espírito foi dada, houve poder contra o pecado e, quando Cristo vier, a morte desaparecerá para todos os que são d'Ele. Consequentemente, temos o direito de ter paz, gozo, poder e vitória consciente agora.
Uma bênção dupla
Segundo, “Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). Por causa do pecado, há duas coisas designadas por Deus ao homem – morte e julgamento. Cristo carregou tanto o julgamento quanto a morte, e agora o crente recebe uma bênção dupla. Não somente ele tem vida, em contraste com a morte, mas também libertação n'Ele ressuscitado e nenhuma condenação, porque a condenação caiu sobre Cristo. Ele era o Santo, mas Se tornou homem – tão verdadeiramente Homem como Ele era Deus. Ele veio “à semelhança da carne do pecado, pelo pecado”. Esta última expressão significa que Ele veio como uma oferta pelo pecado. Foi para tratar do “pecado”, não apenas dos “pecados”, que Cristo foi enviado – para remover a raiz e também o fruto. Deus condenou na cruz o pecado na carne, pois não é o perdão que é desejado para uma natureza pecaminosa, mas a condenação. Esta condenação caiu sobre Aquele em Quem nunca houve pecado, pois “n’Ele não há pecado” (1 Jo 3:5). Sendo o Santo de Deus, o Único em Quem não havia pecado, Ele poderia sofrer, não só pelos pecados, mas pelo pecado. Assim, Deus condenou o pecado na carne.
O resultado final
O fim moral de tudo isso é “para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:4). Aqui está a caminhada do Cristão, na sua devida ordem e verdadeiro lugar. Quando a sua posição é um fato estabelecido e quando ele se conhece conscientemente liberto, então segue-se uma caminhada de acordo com o Espírito. Quando não estamos felizes e livres, tudo dá errado; nós somos incomodados com as circunstâncias, com outras pessoas e, finalmente, conosco mesmos. Tal é a condição da alma em Romanos 7. Quando pela fé nós reconhecemos que morremos com Cristo e estamos vivos n'Ele para Deus, não mais nos atormentamos a nós mesmos por causa da corrupção interna. Sabemos que nosso velho “eu” pecaminoso é totalmente mau, mas aceitamos a bendita verdade que o “eu” já foi condenado por Deus na morte de Cristo. Agora, pela justiça e em Cristo, a vitória vem sobre o “eu”.
É claro que, embora um seja liberto, ele pode nem sempre andar no Espírito. Ele pode ceder à carne e provar suas amargas consequências. Não é a mesma miserabilidade que a de Romanos 7, mas de um tipo ainda mais profundo. Que angústia é se esquecer e desonrar a Ele, depois de conhecer tal amor e graça! O capítulo 7 descreve a tristeza de alguém ainda não liberto, mas as afeições mais profundas do capítulo 8 são despertadas, não apenas em fazendo o bem, mas também no pecado, se o crente pecar.
Assim, há o constante discernimento entre carne e espírito. Não devemos tolerar o menor broto da velha raiz. Devemos andar segundo o Espírito, não segundo a carne. Isso é realizado de maneira prática pela aplicação da bendita verdade de que tenho o direito de me considerar morto para o pecado, mas vivo para Deus em Cristo.
Adaptado de W. Kelly, The Bible Treasury, 12: 30-41
Julgando a Raiz
Em outros artigos desta edição, veremos como, na cruz, Deus lidou com o pecado, assim como com os pecados. O sangue de Cristo retira os nossos pecados, enquanto na morte de Cristo, estamos mortos para o próprio pecado, a causa de todo o problema. Pecados são o fruto, mas o pecado é a raiz, e a raiz deve ser tratada se quisermos viver uma vida de vitória diante de Deus.
Libertação posicional e prática
Em Romanos 6:6 lemos: “sabendo isto: que o nosso velho homem foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado”. Na cruz, Deus viu o fim do velho homem – o que nós éramos como filhos de Adão – e agora o crente não precisa estar em escravidão ao pecado. Somos chamados a agir na prática nesta verdade e a nos considerarmos “mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). Porque Cristo já conquistou a vitória para nós e nos deu este lugar, há poder n'Ele (não em nós) para nós tomarmos este lugar de forma prática. Como resultado, os crentes podem agora oferecer os seus membros para “servirem à justiça para a santificação” (Rm 6:19).
É importante perceber que o lado prático disso em nossa vida é uma coisa experimental, pois a maioria de nós deve passar por uma experiência semelhante à do homem em Romanos 7 antes de obtermos verdadeira libertação. É possível entender a verdade da morte e ressurreição com Cristo de uma maneira intelectual, ter sido batizado, e até mesmo ter, pelo menos de maneira limitada, reconhecido que estamos mortos para o pecado, e ainda assim não termos realmente nos rendido ao Senhor. Uma coisa é dizer: “Miserável homem que eu sou!” de uma maneira geral, e admitir que não haja nada de bom em meu velho “eu” pecaminoso, mas é outra coisa estar disposto a permitir que o olho sondador de Deus exponha minha velha natureza no que ela realmente é. Foi somente à luz da lei que o pecado se tornou “excessivamente maligno” (Rm 7:13), e é somente à luz da presença de Deus que eu posso dizer com Jó: “Por isso, me abomino” (Jó 42:6). Se for para eu ser realmente livre, devo estar disposto a tomar este lugar e não confiar mais em mim mesmo.
Justiça própria
Infelizmente, a maioria de nós não quer admitir que nosso coração seja capaz de alguns dos piores pecados. Gostamos de fomentar nossa estima própria e sentir, como o fariseu hipócrita de Lucas 18:11, que “não sou como os demais homens”. Lembro-me bem de uma irmã em Cristo que, referindo-se a outro crente que havia cometido um grave pecado moral, disse-me: “Mas você e eu não faríamos algo assim, não é mesmo?” Gostamos de nos convencer de que somos em nós mesmos melhores que os outros. Então, quando nossa natureza pecaminosa se manifesta de tempos em tempos, há a tendência de ficar zangado e na defensiva, ou talvez negar que alguma vez fizemos tal coisa. Tal tendência à justiça própria no crente é em grande parte responsável pela miséria encontrada entre os Cristãos. Se eles justificassem a Deus em vez de si mesmos, evitariam o desgastante processo de justificação própria, e também muita tristeza em sua vida.
O bom é mau
Ao lidar com essa raiz má, devemos também perceber que não apenas o “mau” em nós deve morrer, mas também o “bom”. A maioria de nós tem a tendência de sentir que, enquanto somos pecadores e, portanto, temos algumas más qualidades, também temos algumas boas qualidades que podem ser recuperadas dos destroços de nosso “eu” pecaminoso. Talvez sejamos naturalmente bondosos e amorosos – não podemos ser usados para Deus em nossa vida Cristã? Ou talvez nós sejamos generosos em dar – não é uma boa qualidade? Talvez alguém seja um bom líder – não precisamos de liderança assim entre os crentes? Não, pois enquanto é correto ser gentil e correto ser generoso, o pecado estragou até mesmo ações como essas. A capacidade de liderança não é em si mesma errada, mas mesmo que o ato seja correto, o pecado atribui motivos errados a ele, e o “eu” torna-se o objeto, não Cristo. Paulo não apenas teve que dizer: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18), mas ele também nos disse sobre as suas assim chamadas “boas qualidades”: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo” (Fp 3:7). Fora da nova vida em Cristo, não temos motivos puros.
Precisamos entender que não existe algo como reforma para a carne; a morte é o único remédio para ela. Às vezes, quando a carne se torna forte demais, podemos tentar controlá-la pela energia humana. Isso pode funcionar por um tempo, e se tivermos uma forte determinação, podemos conseguir manter a carne sob uma medida de controle. No entanto, inevitavelmente, vamos perceber que ela é muito forte para nós, e então nos encontraremos de volta em Romanos 7:19 – “o mal que não quero, esse faço”.
Negação e defensividade
Há pelo menos duas reações comuns quanto à percepção do que sou em minha carne. Alguns crentes se tornarão abatidos e deprimidos, não querendo acreditar que são realmente tão maus assim. “O que as pessoas pensarão de mim, se descobrirem?” Outros se tornam defensivos, negando que sejam assim e se recusando a encarar o que realmente são por natureza. Infelizmente, existe em cada um de nós que é desonesto o suficiente para fingir render-se a Deus sem realmente fazê-lo. Podemos ser vistos externamente como bons Cristãos, seja em nossa vida pessoal, na vida familiar, no trabalho ou mesmo no serviço Cristão, enquanto por dentro não levamos realmente aquela raiz de pecado à cruz. Muitas vezes, quando somos confrontados, seja pelos outros ou pelo próprio Senhor, com alguma raiz má a qual Ele está nos chamando a julgar, nós fugiremos dela, negaremos e recusaremos enfrentá-la. Nós ainda queremos nos apegar a um pouco de dignidade para nós mesmos, ao invés de admitir na presença de Deus o que a carne realmente é. Precisamos entender que uma hipersensibilidade em relação ao nosso próprio caráter provém de um estado de alma que não está ocupado com Cristo. Buscando tentar esconder nosso verdadeiro estado do Senhor só produz um espírito pesaroso, e não desfrutaremos do calor da presença de Deus. Como o salmista, seremos obrigados a dizer: “Porque de dia e de noite a Tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio” (Sl 32:4).
Lidando com a raiz
Muitas vezes, lidar com a raiz do pecado envolve uma verdadeira luta na presença de Deus, pois a raiz pode ser bem diferente do fruto, embora, é claro, esteja ligada a ele. Uma raiz má pode dar origem a muitos frutos, talvez não aparecendo na superfície, mas todos crescendo da mesma raiz. Vemos exemplos disso na Palavra de Deus. Quando Davi pecou com Bate-Seba, pode parecer óbvio que a luxúria estava no fundo disso. No entanto, quando o profeta Natã confronta Davi, ele nem menciona o ato inicial de adultério, mas chama a atenção para a forma com que Davi desprezara o Senhor (2 Sm 12:7-9). Embora a concupiscência estivesse certamente envolvida, a verdadeira raiz era que Davi não se contentava com a abundante provisão que Deus havia lhe dado e, em seguida, abusava de sua autoridade e poder como rei. As outras coisas se originaram disso. Em outro caso, Geazi, o servo de Eliseu, foi atrás de Naamã e pediu-lhe alguma prata e roupas como recompensa por Naamã ter sido curado de sua lepra. Poderia parecer um simples caso de um homem pobre que queria um pouco da riqueza e abundância de Naamã, mas depois Eliseu expôs o coração de Geazi. Eliseu mencionou não somente dinheiro e vestes, mas também oliveiras, vinhas, ovelhas, bois, servos e servas (2 Rs 5:26). Evidentemente, Geazi se ressentia de ser um servo e, em vez de se contentar em servir a Eliseu, ele realmente queria ser um homem rico, com riquezas e servos próprios. Assim, a raiz pode ser profunda e pode exigir esquadrinhação pelo Senhor.
Rendição completa
A resposta feliz a Deus é estar pronto para se render a Ele e admitir a realidade de nosso “eu” pecaminoso. Deus está pronto para nos ajudar a fazer isso, pois “A alma do homem é a lâmpada do SENHOR, a qual esquadrinha todo o mais íntimo do ventre” (Pv 20:27). Uma vez que somos verdadeiramente salvos e o Espírito de Deus habita em nós, Deus está disposto, pelo Seu Espírito, a trazer à luz aquelas coisas com as quais precisamos lidar. Então, se respondermos a Ele, descobriremos que somos “transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3:18). Cada nova verdade que o Espírito de Deus busca trazer diante de nós encontrará sua correspondente opositora em alguma parte da minha velha natureza. Mas o Deus que nos chama a atenção já preparou o remédio para isso.
Não é naturalmente uma coisa feliz ter nosso coração exposto diante de Deus, pois encontraremos cavernas interiores cheias de sujeira e teias de engano. No entanto, podemos descansar no conhecimento de duas coisas. Antes de tudo, Ele já conhece nosso coração, pois “todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos d’Aquele com Quem temos de tratar” (Hb 4:13). Ele sabe muito melhor do que nós quão má a carne realmente é. Segundo, não importa quão mau seja o velho “eu” pecaminoso, podemos descansar no fato de “que o nosso velho homem foi com Ele crucificado” (Rm 6:6). Deus viu o fim do homem natural e, tendo morrido com Cristo, não precisamos mais servir ao pecado. Um senso da graça de Deus em nossa alma nos capacitará a justificar a Deus, a julgar a carne de forma firme e a viver uma vida de vitória para Ele.
W. J. Prost
Mortos, Não Morrendo
Se eu procuro andar segundo Cristo, devo me considerar morto. Eu nunca digo que devo morrer, porque isso seria supor que a carne está funcionando ali. Claro, ela está lá, mas eu digo que está morta. Entendo perfeitamente uma pessoa que passa por um estado pelo qual aprende o que é a carne e tais processos são mais ou menos longos. Mas, quando completamente abatido a ponto de dizer: “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum”, então Deus pode dizer: Considere-se morto; não deixe que o pecado tenha domínio sobre você. A fonte da qual todo poder vem é que você morreu. Essa é a verdade fundamental quanto à libertação. A libertação vem quando, pelo poder do Espírito de Deus, nos consideramos mortos. Não é assim se não for pela fé. Cristo está lá em poder, e eu me considero morto, e então posso lidar com poder.
J. N. Darby, Collected Writings, 27:209
Levanta-o (2 Reis 6:1-7)
O poder de Eliseu de fazer o machado perdido nadar na água nos dá uma imagem de como o Cristão pode vencer o poder do pecado por meio da “lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus” (Rm 8:2). Aqueles que se voltaram para o Senhor Jesus para o perdão de seus pecados muitas vezes lutam para superar a raiz do pecado em si mesmos e buscam libertação em seu próprio poder. Quando um dos filhos dos profetas perdeu o machado que ele estava usando, ele se voltou para Eliseu em busca de ajuda, em vez de sondar as águas do rio Jordão para encontrá-lo sozinho.
Este lugar é muito estreito
Os filhos dos profetas sentiram que a morada deles era “muito estreita” para eles e começaram a construir um lugar maior. Este é um exemplo dos sentimentos de quem procura se controlar pela legalidade. Tão frequentemente as restrições do legalismo confinam a alma pelo controle, em vez de confiar no poder da graça. Esta é a condição do homem em Romanos 7 quando ele diz: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros” (vs. 22-23). Por natureza, o homem gosta de tentar guardar a lei de Deus, mas existe uma razão básica que o impede de fazê-lo. Sua natureza pecaminosa guerreia contra os desejos de sua mente e o arrasta para baixo. Esta condição o impede de obter o objetivo – libertação do pecado!
“Ai! Meu senhor! Porque era emprestado”
Um dos filhos dos profetas estava trabalhando com uma ferramenta emprestada. Enquanto trabalhava para ampliar a morada, o machado caiu no rio. Para ele, era mais grave porque era emprestado. Não nos é dito por que ele não tinha seu próprio machado, mas sua condição atual dá uma pista do fracasso anterior. Ele estava usando para trabalhar, mas precisava devolvê-lo ao seu dono. Agora ele não podia fazer nenhum dos dois. Após sua falha em cortar a madeira, ele fez a coisa certa ao se virar para Eliseu em vez de tentar recuperá-lo por si mesmo. Quantas vezes nos esquecemos de nos voltarmos para o Senhor quando falhamos. Precisamos de um homem como Eliseu que tenha poder.
“Onde caiu?”
O homem de Deus não disse: “Por que você não foi mais cuidadoso?” ou, “O que fez você fazer isso?” Tais questões tomam por certo que ainda pode haver poder interior para evitar tal erro. A questão não era sobre o que ele tinha feito, mas, “Onde ele estava?” Deus fez a mesma pergunta a Adão: “Onde estás?” A resposta é: “Caiu no pecado”.
O homem de Deus perguntou: “Onde caiu?” Isso nos direciona para o fundo do rio – o lugar de morte. O homem não poderia ir lá para recuperá-lo. Mas o lugar deve ser identificado antes que Eliseu possa remediar sua situação. Uma vez que o lugar foi identificado, Eliseu cortou um pedaço de pau e o jogou naquele lugar. Isso nos lembra como o Senhor Jesus teve que descer à morte para satisfazer as exigências de Deus relativas ao pecado. “Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). Cristo deve morrer para que obtenhamos uma vida que possa ser agradável a Deus.
Em Deuteronômio 19:5 há uma disposição interessante em relação ao machado. “Como também aquele que entrar com o seu próximo no bosque, para cortar lenha, e, pondo força na sua mão com o machado para cortar a árvore, o ferro saltar do cabo e ferir o seu próximo, e morrer, o tal se acolherá a uma dessas cidades e viverá”. Devemos reconhecer que nossas ações tornaram necessário que alguém dê sua vida para que não permaneçamos sob condenação para sempre. O Senhor Jesus fez isso, e uma cidade de refúgio foi providenciada para que possamos fugir e escapar do vingador. O Senhor Jesus não é apenas nosso substituto, mas também nosso lugar de refúgio.
“Fez o ferro nadar”
Depois que o pau foi lançado na água, “fez o ferro nadar”. Tinha vida ou poder sobre as águas da morte. A lei natural da gravidade faz o ferro afundar na água. Mas, na palavra de Eliseu, uma nova lei é introduzida e o ferro flutuou. Esta é uma figura da lei da vida e do poder da liberdade do Espírito. “A lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8:2). O pau sendo jogado na água resultou no ferro flutuar, superando a lei natural da gravidade. O Espírito de Deus após a morte e ressurreição do Senhor Jesus dá ao crente uma nova vida que é livre da lei do pecado e da morte. Esta nova vida não pode pecar nem está sujeita à morte. Dá liberdade para agir de acordo com a justiça, “para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”.
“Levanta-o”
Eliseu deu a palavra: “Levanta-o”, indicando que ele deveria tomar o controle de seu machado, o que antes era incapaz de fazer. Agora ele estava habilitado para trabalhar por Deus. Diz que ele estendeu a mão e pegou. Para que trabalhemos por Deus, precisamos perceber nossa própria condição arruinada na carne. Só então podemos perceber a total libertação do pecado pelo Espírito de Deus em nós. “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós”. “O espírito vive por causa da justiça... E, se o Espírito d’Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita. De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” (Rm 8:10-13 – ACF). Devemos o serviço a Ele pelo que Ele fez por nós. Que possamos, então, assumir a obra que o Senhor nos deu com o entendimento de nossa nova vida no Espírito.
D. C. Buchanan
Perseguição
“E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3:12).
Em uma viagem à Índia no início deste ano, pudemos experimentar uma pequena amostra de perseguição quando um hindu radical interrompeu a reunião que realizávamos em uma casa particular, exigindo que parássemos imediatamente. Na mesma época, dois crentes no Butão foram condenados à prisão pelo governo fortemente budista por pregar o evangelho. Muitas outras histórias poderiam ser contadas, mas tudo isso nos lembra que Cristo e Seus seguidores ainda não são desejados neste mundo.
Desde a formação da Igreja, tem sido a porção de muitos crentes sofrerem perseguição. O Senhor Jesus poderia dizer aos Seus discípulos: “não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (Jo 15:20). Então, no capítulo seguinte, Ele os lembrou: “no mundo tereis aflições” (Jo 16:33). Mais tarde, Saulo de Tarso, depois chamado de apóstolo Paulo, foi abatido por uma luz do céu na estrada para Damasco. Quando o Senhor enviou Ananias para encontrar-se com ele, Ele disse a Ananias: “Este é para Mim um vaso escolhido... Eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo Meu nome” (At 9:15-16). Como representante da dispensação, Paulo exemplificou o caráter do caminho Cristão, e certamente foi de sofrimento.
Para aqueles que viverem piedosamente
No versículo citado de 2 Timóteo no começo deste artigo, Paulo lembra a Timóteo que todos os que viverem piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição. Concernente a alguns, Paulo teve que dizer: “os que estão na Ásia todos se apartaram de mim” (2 Tm 1:15). Eles não se afastaram do Cristianismo e voltaram ao paganismo, mas se afastaram daquele chamado celestial e daquelas preciosas verdades que Paulo havia trabalhado tão vigorosamente para ensiná-los. Sem dúvida, isso resultou, entre outras coisas, em um caminho mais fácil e os fez menos propensos a sofrer perseguição. No entanto, Paulo sustenta que, se vivermos de maneira piedosa em Cristo Jesus, sofreremos perseguição. Este mundo não quer o Senhor Jesus e não quer os Seus seguidores, se eles O seguem fielmente.
O piedoso em nossos dias
Em nossos dias, a verdade da Palavra de Deus permanece a mesma, e aqueles que viverem piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição. Nos últimos cinquenta anos ou mais, os governos comunistas em todo o mundo, particularmente na antiga União Soviética e em outros países do bloco oriental e, mais recentemente na China e outras nações, fizeram o melhor que puderam para acabar com o Cristianismo. Os crentes foram e continuam sendo presos, torturados e mortos por seguir e pregar a Cristo. Em outros países, particularmente aqueles com governos muçulmanos, há um preço real a ser pago por ser um Cristão sem reservas. Provavelmente há mais crentes hoje sofrendo por Cristo e entregando sua vida por Ele do que em qualquer outro momento da história da Igreja.
Formas sutis de perseguição
Para aqueles que vivem na Europa Ocidental e na América do Norte, a questão pode surgir: “E nós?” Na maior parte, não vivenciamos perseguição ativa. Podemos nos reunir sem medo, pregar o evangelho, testemunhar aos outros como indivíduos e, em geral, viver em paz. Será que Satanás é mais tolerante a Cristo e às Suas reivindicações no Ocidente?
É claro que estamos sempre abertos a coisas como o ridículo e talvez formas mais sutis de perseguição, como sermos ignorados numa promoção em nosso trabalho, ou nos encontrarmos sujeitos a fofocas e maus falatórios. Mas isso é tudo o que sofreremos por Cristo, sendo fiéis a Ele?
O Senhor Jesus não hesitou em dizer aos Seus seguidores o verdadeiro custo do discipulado, apontando que os termos não eram negociáveis. Quando Ele estabeleceu as condições para segui-Lo, Ele disse: “E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após Mim não pode ser Meu discípulo” (Lc 14:27). Carregar uma cruz tinha um significado terrível naquele dia, pois significava que aquele que a carregava estava indo morrer. Este é o verdadeiro custo do discipulado – morrer para tudo exceto Cristo e Seus interesses aqui embaixo. Se procurarmos fazer isso, realmente descobriremos que sofreremos perseguição, mesmo em terras que permitam a liberdade de culto. A perseguição pode assumir diferentes formas e, neste momento, não pode envolver tortura, prisão ou morte. No entanto, gostaria de sugerir que o Senhor permitirá formas de teste em nossa vida, testando que nos levará ao ponto em que devemos decidir se buscamos um caminho mais fácil por meio de comprometimentos ou permaneceremos fiéis a Cristo e sofreremos perseguição.
Perseguição de dentro de casa
Um crente da China que passava algum tempo no Canadá, viajando e pregando, foi subitamente submetido a um ataque verbal por uma mensagem de e-mail viciosa (e totalmente falsa) que circulava. Ele ficou arrasado com isso e acabou percebendo que, enquanto os crentes na China eram perseguidos por espancamentos e prisões, os crentes dos países ocidentais eram às vezes perseguidos pelas palavras de outros Cristãos. Em outros casos, Satanás atacará a verdade de Deus ao permitir dificuldades em uma assembleia local, ou pior ainda, ao trazer uma situação em que crentes em várias assembleias se encontram divididos sobre um assunto. Em tais dificuldades, é fácil permitir que laços familiares e sentimentos pessoais anulem nossa lealdade a Cristo e tomemos um caminho mais fácil do que o da fidelidade.
Por outro lado, tenhamos cuidado para que, num zelo por Deus sem conhecimento, nos tornemos os perseguidores de nossos irmãos. Fazemos bem em lembrar a advertência do Senhor: “ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt 18:7).
A coroa da vida
Através dos tempos, muitos queridos crentes se mantiveram firmes diante da terrível perseguição física e, triunfantes, deram sua vida por Cristo. Eles são aqueles que foram “fiéis até a morte” e que receberão a “coroa da vida” (Ap 2:10). No entanto, lemos na Palavra de Deus sobre outra maneira de ganhar a coroa do mártir. “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação [provação – ARA]; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida” (Tg 1:12). O crente não precisa ser condenado à morte para ganhar a coroa do mártir, mas ao resistir silenciosamente à tentação de se comprometer e ter um caminho mais fácil e ao suportar a perseguição de dentro da grande casa, ele também receberá essa coroa.
Do Senhor Jesus, pode-se dizer: “O Qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus” (Hb 12.2). Aqui Ele é um Exemplo para nós, e Seu gozo pode ser nosso gozo, se estivermos prontos para segui-Lo.
W. J. Prost
Libertação do Pecado
Nada poderia ser mais sombrio do que insistir sobre o tema do “pecado”, nem nada tão calculado para nos humilhar, se nosso coração é honesto, como o fato de termos herdado uma natureza de Adão que, em todos os sentidos, é oposta a Deus. Mas a libertação do pecado é aquilo com o qual a glória da redenção está conectada. O conhecimento disto dissipa a tristeza e alegra o coração dos filhos de Deus por meio da aplicação da Sua Palavra à nossa alma. O apóstolo assim escreve: “Mas, agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna” (Rm 6:22).
Pecado – uma vontade com um caminho
Toda pessoa não convertida é caracterizada e controlada por uma natureza maligna, que a Escritura chama de “pecado”, e que nada mais é do que “uma vontade com um caminho”, sempre agindo contrariamente a Deus.
O “pecado” em sua natureza e os “pecados” que praticamos são claramente distinguidos na Palavra de Deus. O perdão dos pecados é obtido assim que o coração recebe pela fé a bendita verdade de que Cristo “o Qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4:25). A liberdade prática do pecado é obtida ao perceber, por meio da fé, a nossa identificação com Cristo em Sua morte e da entrada àquilo que é ensinado nos seguintes versículos: “Sabendo isto: que o nosso velho homem foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado” (Rm 6:6-7).
Pecado – não há perdão, nem há melhora
A Escritura frequentemente fala do perdão dos pecados, mas pecado não é perdoável nem pode ser melhorado. É loucura desculpar o pecado quando Deus o expôs, ou procurar aperfeiçoá-lo agora que Ele o condenou. Tanto a exposição quanto a condenação do pecado são vistas na cruz – expostas em todo o seu ódio à luz da santidade de Deus e condenadas no sacrifício de Seu próprio Filho. “Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). O Espírito de Deus nos leva a ver o infinito valor do sacrifício de Cristo assegurando-nos da Palavra de Deus que não somente nossos pecados foram perdoados, mas que o pecado na carne foi condenado.
Pecado aos olhos de Deus
Nenhum homem pode formar uma estimativa verdadeira do que ele é em si mesmo sem primeiro ver o que é o pecado aos olhos de Deus, e nada o declara tão claramente como a cruz de Cristo. Se eu aceitar o julgamento de Deus de acordo com a Sua Palavra, serei forçado a dizer, como Jó: “Por isso, me abomino” (Jó 42:6), e se, por outro lado, eu rejeitar o Seu julgamento e formar um por minha conta, vou pensar que sou tão bom quanto as outras pessoas. Onde está o homem que naturalmente se preocupa em se condenar a si mesmo? Mesmo que ele fizesse isso, seria apenas em parte, pois o pior homem vivo gosta de se gabar de suas boas qualidades. Mesmo quando parecemos estar “nos colocando para baixo”, como dizemos, podemos estar cheios de orgulho no mesmo instante sem estarmos conscientes disso. Uma criatura caída com um coração enganoso e natureza pecaminosa não é capaz de formar um julgamento quanto ao que ele é aos olhos de Deus, mas a oração dos retos é: “Da Tua presença saia a minha sentença”, e a linguagem da fé é: “seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Sl 17:2 – TB; Rm 3:4).
Cada coração tem sua própria reserva, uns mais ou outros menos, de autoestima, que nunca nos permitirá abandonar aquilo em que mais nos orgulhamos até vermos a morte e a condenação escritas sobre aquilo na cruz, onde o fim de toda carne veio diante de Deus.
A autodecepção do pecado
Jó era um homem padrão em seus dias, mas nunca esteve realmente descansado até descobrir que massa de corrupção moral ele era aos olhos de Deus. Satanás foi usado para trazer a enfermidade sobre seu corpo, com a qual ele estava coberto da cabeça aos pés, de modo que sua condição moral pudesse ser claramente descrita e que ele pudesse aparecer exteriormente aos olhos do homem, o que ele era interiormente aos olhos de Deus. Grande foi sua decepção quando ele se queixou do tratamento de Deus para com ele, mas tendo aceitado a estimativa de Deus de si mesmo, ele não mais se defendia. Em vez disso, ele se julgou como alguém que havia se enganado no passado, e depois recebeu abundantes sinais do favor de Deus na forma de prosperidade terrenal. É uma misericórdia, então, ser salvo do engano próprio em relação ao pecado. Devemos ser levados ao ponto em que renunciamos a qualquer direito ou título a algo que seja bom aos olhos de Deus, pois herdamos uma natureza que está afastada de Deus. Todos nós éramos escravos do pecado até que seu domínio sobre nós fosse quebrado pelo livramento em poder divino, uma libertação que “nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9).
Escravos do pecado e filhos de Deus
Os Judeus ficaram bastante indignados quando o Senhor Jesus lhes disse: “Se vós permanecerdes na Minha palavra, verdadeiramente, sereis Meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. “Somos descendência de Abraão”, responderam eles, “e nunca servimos a ninguém; como dizes Tu: Sereis livres?” Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado. Ora, o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres” (Jo 8:31-36).
Há apenas as duas posições trazidas diante de nós nesta Escritura – a dos escravos do pecado e a dos filhos de Deus. A primeira nós ocupamos por natureza, e o última nós passamos a ocupar pela graça, no terreno da redenção. O Espírito Santo nos dá a consciência de nosso novo relacionamento com Deus como Pai, como lemos: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4:6). Em Romanos 6, o pecado é visto como um “mestre [senhor]”, para quem toda a raça de Adão está em escravidão e cujo domínio se estende até o fim da Terra. O cativo do pecado precisa ser retirado de sua condição perdida e colocado em uma nova. Há duas coisas que foram realizadas pela morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, para aqueles que conhecem sua identificação com Ele: Primeiro, Ele morreu para tirá-los da servidão do pecado, e segundo, Ele ressuscitou para que pudessem viver em associação com Ele e produzir frutos para Deus. “Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:10-11).
É o privilégio do crente ver a si mesmo como havendo morrido para o pecado na morte de Cristo. Não mais na carne e sob condenação como filho de Adão, mas como morto para o pecado e vivo para Deus, ele é exortado a apresentar seu corpo em “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12:1), como seu culto racional.
E. Dennett, adaptado de The Christian Friend, 1897
Completa Libertação
Uma vez que estávamos em condenação,
Esperando assim o destino do pecador;
Cristo, na morte, operou a salvação;
Deus ressuscitou-O da sepultura.
Como estranhos a Deus então vivíamos,
Cheios de inimizade e medo;
Da morte as nossas almas Ele resgatou;
O amor revelou-nos e aproximou-nos.
Agora vemos na aceitação de Cristo
Mas a medida da nossa;
Ele que esteve sob nossa sentença,
Assentado no alto do trono está.
Vivificados, ressuscitados e n'Ele assentados,
Nós conhecemos uma libertação completa;
Todos os inimigos foram derrotados;
Cada inimigo foi abatido.
Agora temos uma vida em união
Com a vida ressuscitada no alto;
Agora bebemos em doce comunhão
Um rico antegozo do Seu amor.
Em breve, Senhor, na mais brilhante glória,
Toda a sua vastidão exploraremos;
Em breve lançaremos as nossas coroas diante de Ti,
Enquanto adoramos e adoramos.
G. W. Frazer, Hinário Little Flock – Hino 200
“Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado”
Romanos 7:25
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