(Revista bimestral publicada originalmente em Setembro/Outubro 1991)
ÍNDICE
"E TEVE COMPAIXÃO DELES"
Em um mundo de miséria e necessidade, quão bom é conhecermos Alguém cujo coração sofreu isso tudo, tomando sobre Si as dores, e cujas emoções de profundo amor são tão expressivas que podemos vê-las e conhecê-las nestas palavras: "E teve compaixão deles". Aquela bendita face expressava, claramente, o palpitar de uma misericórdia divina a revolver o Seu interior. O coração se expressava antes mesmo que a mão se movesse para aliviar aquilo que Seus olhos contemplavam. Não se tratava de um sentimento passageiro, uma emoção de momento. A dor da miséria humana encontrou morada permanente no coração de Jesus, e Ele, que é "o mesmo ontem, e hoje, e eternamente" (Hb 13:8), embora esteja agora no trono de Deus em glória, ainda tem "compaixão deles", enquanto olha para nós e assimila toda a miséria e necessidade que sobem em incessante súplica, e com uma intensidade cada vez mais profunda, ao trono de misericórdia.
Se o Pastor de Israel Se moveu de compaixão, enquanto olhava para os filhos de Abraão, e os via "como ovelhas que não têm pastor" (Mc 6:34), quão profunda deve ser a emoção com que agora o Senhor Jesus contempla os filhos de Deus mais uma vez espalhados! Que terrível estrago os "lobos cruéis" (At 20:29), fizeram no "rebanho"! Como os pregadores de coisas pervertidas atraíram "os discípulos após si" (At 20:30)! Quanta divisão, e ofensa generalizada, trouxeram aqueles que "não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre"! (Rm 16:18). Certamente tudo isso aparece com força perante Ele que "amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela" (Ef 5:25).
Mas será que tudo se resumia no fato de ser, o povo de Jeová, "como ovelhas que não têm pastor" (Mc 6:34)? Acaso não foram eles próprios que haviam pecado? Terá o coração deles sido "reto para com Ele"? Teriam eles sido "fiéis ao Seu concerto"? Ele sabia muito bem que tinham sido exatamente o contrário; a longa e triste história daquele povo perverso e obstinado estava toda diante d'Ele, "mas Ele, que é misericordioso, perdoou a sua iniquidade" (Sl 78:37-38).
E será que, a Igreja do Deus vivo, tem sofrido apenas em razão de falsos mestres e guias maus? Acaso terão os filhos de Deus uma história melhor que a dos filhos de Israel? Terão sido menos perversos e obstinados? Terão todos, juntamente, guardado a Sua Palavra? E será que o seu coração têm sido “reto para com Ele”, que os redimiu com Seu próprio sangue? Quão bem Ele sabe que os privilégios mais elevados e as promessas melhores apenas revelaram um pecado mais profundo, e, na mesma proporção, menos ainda foi correspondido o Seu amor! Certamente todo coração conhece isto. Quão doce, então, em nossos dias, nos voltarmos para Aquele cuja compaixão não termina e que "como havia amado os Seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (Jo 13:1)!
Quão bom era estarem ali, e poder contar com aquele coração profundamente comovido de amor e perdão profundos, que "começou a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6:34). É certo que hoje Ele fala a nós lá do céu, mas é o mesmo céu que está aberto para nós, e não existe distância para a fé. A ruína e a ignorância encontram-se ao nosso redor. Podemos, tão somente, perceber a primeira e ministrar à segunda, enquanto permanecemos com Ele que, acima de todo mal, vê tudo e apenas aguarda o momento para o ministério do amor.
Aqueles que, em qualquer medida, servem às ovelhas de Cristo nestes últimos e derradeiros dias, precisam ponderar muito nestas palavras, dirigidas a alguém no passado, "executai juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia cada um a seu irmão" (Zc 7:9), enquanto, acima de tudo, permaneçam bem no espírito d'Aquele que é "misericordioso e fiel Sumo Sacerdote" (Hb 2:17), que, rodeado de fraqueza, e tocado com os mesmos sentimentos que temos, pode "compadecer-Se ternamente dos ignorantes e errados" (Hb 5:2).
C. Wolston (1834-1923)
ESPERE!
Gostaria de falar sobre algo que, creio eu, se puder ser aprendido enquanto somos jovens, será para nós de grande auxílio. Sei, porém, que esta característica é também muito necessária para os anos mais avançados de nossa vida.
Vamos ler 1 Samuel, capítulo 10, versículos 6 ao 8 (É quando o povo escolhe um rei. Tendo Saul sido escolhido para ser o rei; Samuel fala com Saul) "E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e te mudarás em outro homem. E há de ser que, quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão, porque Deus é contigo. Tu porém descerás diante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ti, para sacrificar holocaustos, e para oferecer ofertas pacíficas: ali sete dias esperarás, até que eu venha a ti, e te declare o que hás de fazer".
Foi dito a Saul que ele seria um outro homem. E foram dadas a ele instruções específicas (note o versículo 8): "ali sete dias esperarás, até que eu venha a ti, e te declare o que hás de fazer". Foi dada a ele uma ordem bem específica. No versículo 7 diz, "E há de ser que, quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão". Mas no versículo 8, não é assim; trata-se de uma instrução específica: "sete dias esperarás, até que eu venha para sacrificar holocaustos, oferecer ofertas pacíficas e te declarar o que hás de fazer".
Passemos, agora, ao capítulo 13 para ver o que fez Saul; o contexto é dado nos versículo 5 ao 7: "E os filisteus se ajuntaram para pelejar contra Israel: trinta mil carros, e seis mil cavaleiros, e povo em multidão como a areia que está à borda do mar; e subiram, e se acamparam em Micmas, ao oriente de Bete-Áven. Vendo pois os homens de Israel que estavam em angústia (porque o povo estava apertado), o povo se escondeu pelas cavernas, e pelos espinhais, e pelos penhascos, e pelas fortificações e pelas covas, e os hebreus passaram o Jordão para a terra de Gade e Gileade: e, estando Saul ainda em Gilgal, todo o povo veio atrás dele tremendo". Agora Saul encontra-se em dificuldade. Ele está no lugar certo – Gilgal; é o lugar para onde recebeu ordens de se dirigir. Mas, agora ele encontra-se realmente pressionado, pois os inimigos se ajuntaram para lutar contra ele.
Versículo 8: "E esperou sete dias, até ao tempo que Samuel determinara; não vindo, porém, Samuel a Gilgal, o povo se espalhava dele". A situação está ficando cada vez pior; o povo começa a se dispersar, abandonando-o. A pressão vai ficando cada vez maior. Versículo 9: "Então disse Saul: Trazei-me aqui um holocausto, e ofertas pacíficas. E ofereceu o holocausto. E sucedeu que, acabando ele de oferecer o holocausto, eis que Samuel chegou; e Saul lhe saiu ao encontro, para o saudar".
O fardo que trago agora em meu coração está expresso em uma só palavra – Espere! Saul achou que não podia esperar. A pressão estava sobre ele – verdadeira pressão; real responsabilidade com o povo de Deus, pois eles estavam se dispersando. Ele achou que não poderia esperar por Samuel, conforme ele lhe havia dito que fizesse (Samuel havia dito, "Espere sete dias até que eu venha"). Então, ele ofereceu o holocausto. E, vemos nos versículos 11 e 12, qual foi a reação de Samuel: "Então disse Samuel: Que fizeste? Disse Saul: Porquanto via que o povo se espalhava de mim, e tu não vinhas nos dias aprazados, e os filisteus já se tinham ajuntado em Micmas, eu disse: Agora descerão os filisteus sobre mim a Gilgal, e ainda à face do Senhor não orei: e violentei-me, e ofereci holocausto. Então disse Samuel a Saul: Obraste nesciamente".
Querido jovem, espere pelo Senhor! Sinto que isto é muito necessário nestes últimos dias de fraqueza, quando tudo parece estar saindo errado. Olhe para Saul; pense nele:
Ele tinha todos os motivos para não esperar. Ele apresenta a Samuel todos os seus motivos – motivos válidos; eles pareciam razoáveis; mas estavam em direta desobediência àquilo que Samuel, o profeta do Senhor, lhe havia dito que fizesse. Então, ele diz (e sinto por Saul), "violentei-me". Porém Samuel o interrompe bruscamente, dizendo: "Obraste nesciamente, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou" (1 Sm 13:13). Vivemos numa época de terrível pressão. Eu sei disso, em Hong Kong – há apenas uma semana, um jovem me disse o mesmo: "A vida nos pressiona tanto; que simplesmente não me sobra tempo". Precisamos separar um tempo para permanecermos em silêncio diante do Senhor, para buscarmos a Sua mente, conhecer a Sua vontade.
Um irmão de Hong Kong disse, "Não se engane; Deus não é um advogado. Algumas pessoas tratam Deus como se fosse um advogado, para o qual correm quando estão com problema; e quando não têm problemas, simplesmente não vão visitá-Lo". Você não pode tratar Deus desta maneira; você tem que separar um tempo para permanecer em silêncio. Você já teve uma experiência como a que eu tive? Sentado, pela manhã, com sua Bíblia aberta; você lê as palavras, mas não há nada ali – parece não haver nenhuma mensagem para você. Você já passou pela experiência de ter que agir, encontrando-se sob pressão? Você sente que deve agir; você vê a situação ao seu redor se desintegrando, e diz, "Se não agir agora, vai ficar pior". Mas, será que você esperou pelo Senhor? Quando, então, você age, poderá dizer, "Eu o fiz com uma ordem recebida diretamente do Senhor"? Você age em uma tranquila dependência do Senhor? Ao tomar sua decisão, você ora acerca dela? Samuel disse a Saul, "Obraste nesciamente, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou – (você não esperou)" (1 Sm 13:13). Eu sei que podemos ser preguiçosos, como Saul (como nos foi apontado), em 1 Samuel 14:2, sentado “debaixo da romeira”. Mas, com frequência é tão fácil nos anteciparmos, sem que estejamos conscientes de qual seja a vontade do Senhor. Querido jovem, eu rogo a você: assegure-se de antemão.
Há também o outro lado. Não quero distorcer toda a cena enfatizando apenas um lado. Houve ocasiões, em minha experiência pessoal, em que ficaria temeroso em afirmar que Deus havia me falado para fazer algo em particular – como dizer, "Esta é a vontade do Senhor; tenho certeza disto". A razão pela qual o Senhor permite esta incerteza é que, se eu soubesse vinte e quatro horas por dia qual é a vontade do Senhor, seria a pessoa mais orgulhosa na face da Terra. Porém, as vezes, não tenho tanta certeza. Em tais situações, antes de agir, gosto de, serenamente, dizer ao Senhor, "Chegou a hora de agir; não estou querendo forçar a Tua mão; acho que isto é o que Tu desejas que eu faça. Agora, Senhor Jesus, vou dar um passo; por favor, esteja à vontade para interferir em minha vida e me impedir se não for esta a Tua vontade". Então, se encontro um obstáculo, tenho que ficar bem atento; para ver se é Satanás, que está querendo me impedir; ou, se é o próprio Senhor, tentando fazer-me parar de fazer algo que não é de Sua vontade.
Assim, começamos com esta pequena história acerca de Saul – ele não conseguia esperar! Isto é algo que me toca muito. Estou sempre tão ocupado, e tão enrolado – como disse um irmão certa vez, "Somos como carrinhos de brinquedo; você dá corda neles, até fazer com que a mola do mecanismo fique bem enrolada, coloca-os no chão e lá se vão. Você não pode pará-los; se param, ao bater numa cadeira, suas rodinhas continuam girando". É fácil ficarmos assim atualmente, pois vivemos sob pressão. Nossa vida é muito ocupada, não somente profissionalmente, mas também socialmente. Você tem reservado um tempo para permanecer em silêncio com o Senhor? Talvez você diga, "Não posso; vivo muito ocupado; parece haver sempre alguma coisa para fazer a cada noite da semana". Por que você não assume um compromisso com o Senhor por uma noite? E, se alguém lhe fizer um convite, "Venha à minha casa para fazermos algo", você dirá, "Desculpe-me, mas já tenho um compromisso". Onde? Na quietude da presença do Senhor. Fique a sós com Ele e, nessa quietude, ore e leia.
Tenho experimentado ser isto tão útil em minha vida, que quando me encontro em Hong Kong sob verdadeira pressão, saio para as montanhas – para a Estrada do Reservatório; longe, onde ninguém possa me encontrar. Gosto de caminhar por aquelas trilhas silenciosas; às vezes me ajoelho no caminho e oro; às vezes caminho em silêncio, orando ao Senhor e dizendo, "Estou sendo pressionado; não entendo a situação; parece estar ficando cada vez pior, Senhor. Será que Tu podias falar comigo, e me ajudar?" Eu não exijo que o Senhor me responda em cinco minutos. Ele não recebe ordens. Mas após haver rogado a Ele, procuro estar certo de me colocar na escuta. Quando algum irmão ou irmã fala comigo, ou quando estou sentado durante a reunião, e um versículo vem à minha mente, procuro me certificar do que se trata aquela passagem. E não somente isto, mas recorro à Palavra de Deus para procurá-la, e ver o que vem antes e o que está depois daquele versículo. Às vezes descubro que o assunto da passagem se encaixa perfeitamente em minha necessidade. Então posso dizer com toda a certeza: "Sinto que esta é a voz do Senhor para mim".
Separe um tempo para permanecer em silêncio junto ao Senhor – para esperar por Ele na situação em que se encontra. Saul aqui não podia esperar, e por isso Samuel disse, "Obraste nesciamente, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou". Qual foi o resultado? Ele diz (final do versículo 13): "porque agora o Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Porém agora não subsistirá o teu reino: já tem buscado o Senhor para Si um homem segundo o Seu coração, e já lhe tem ordenado o Senhor, que seja chefe sobre o Seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou". Às vezes não se trata tanto de termos feito a coisa errada, mas por tê-la feito muito depressa; não esperamos pelo tempo do Senhor. Assim, meu desejo é o de encorajar a cada um de nós, principalmente aos jovens, para que aprendam, enquanto são jovens, a separar um tempo para permanecer em silêncio diante do Senhor. Você pode encontrar o seu próprio lugar. Para mim é a encosta de uma montanha; para você poderá ser em sua casa ou apartamento; pode ser o seu quarto – qualquer lugar onde o seu coração possa se sentir à vontade e em quietude. Por exemplo, eu não poderia usar meu escritório, pois está com pilhas de coisas esperando ser resolvidas. Provavelmente eu me sentaria ali e diria, "Muito bem, eu já gastei meus cinco minutos, agora tenho que voltar ao trabalho". Devemos sair de perto de tudo o que nos pressiona, e estar disponíveis por um tempo com o Senhor. Portanto, o juízo veio rápido sobre Saul, porque ele não podia esperar!
No entanto, querido jovem, quero soar um alarme. Um irmão nos falou acerca do capítulo 14 de 1 Samuel, e eu gostaria de apontar duas coisas que encontramos ali: Antes de mais nada, Saul estava sentado “debaixo da romeira” (1 Sm 14:2), enquanto Jônatas estava conquistando a vitória. Agora preste atenção nos versículos 18 ao 20: "Então Saul disse a Aía: Traze aqui a arca de Deus (porque naquele dia estava a arca de Deus com os filhos de Israel). E sucedeu que, estando Saul ainda falando com o sacerdote, o alvoroço que havia no arraial dos filisteus ia crescendo muito, e se multiplicava, pelo que disse Saul ao sacerdote: Retira a tua mão. Então Saul e todo o povo que havia com ele se ajuntaram, e vieram à peleja; e eis que a espada dum era contra o outro, e houve mui grande tumulto". Você pode notar a atitude de Saul aqui; ele pede a arca do Senhor, mas ele não espera por uma resposta. Ele não pode esperar. Sabe por que? Porque não creio que Saul pertencesse ao Senhor; ele não era um "homem salvo". (Suponho que não é muito correto usar este termo no Antigo Testamento; mas você sabe o que quero dizer – inconverso.) Portanto, se você não conhece o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador, você está exatamente como Saul. Trata-se de uma característica marcante, naqueles que não conhecem ao Senhor Jesus Cristo como seu Salvador, o fato de não poderem esperar pelo Senhor ou buscar Sua direção para as suas vidas. Saul não podia esperar. Esta é uma característica da velha natureza – inquietude; nunca pode esperar; está sempre muito depressa; ou muito devagar; mas nunca está na hora certa. A razão disto, é que uma pessoa que ainda não está salva não possui o Espírito Santo habitando nela, e não pode compreender as coisas de Deus. Portanto eu insisto com você, se ainda não conhece o Senhor Jesus, não seja como Saul: ele tentou mostrar uma boa fachada, mas não adiantou. Sua velha e inquieta natureza sempre acabava se precipitando. Ele não podia esperar que o sacerdote recebesse a mensagem; ele disse, "sai da minha frente, eu vou sair à batalha". Mais tarde, ele quis matar Jônatas, aquele que havia salvo o povo de Deus (1 Sm 14:36-45). Ele estava sempre fazendo a coisa errada. Querido jovem, para seu proveito, dê uma olhada na história de Saul; é uma história de tormento, de tormento verdadeiro. Ele fez a coisa errada no momento errado. Se você ler todo o livro de Samuel, encontrará uma divisão: até um certo ponto a Bíblia parece apresentar as coisas boas de Saul; mas então, do momento que o Senhor lhe disse para guerrear contra os Amalequitas, a mim parece, quando leio isso, que ele fez tudo errado. Não significa que Saul era um homem mau; era apenas a revelação de que uma pessoa não salva não é capaz de viver para Deus, ou de fazer a Sua vontade.
Vamos segui-lo até o final, capítulo 28, versículos 5 e 6 (a mesma situação – inimigos; pressão…): "E, vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu, e estremeceu muito o seu coração. E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor lhe não respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas". Ele encontra-se agora em real dificuldade. Como já foi dito, muitas pessoas tratam a Deus como seu advogado; quando estão em dificuldade, entram em contato com Ele; quando não estão, permanecem longe d'Ele. Mas Deus não é para ser tratado desta forma. Por isso diz, que o Senhor não lhe responderia, "nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas". Nenhuma resposta havia para Saul. Não há resposta antes que você conheça o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador – é preciso que você seja uma pessoa salva para poder desfrutar de comunhão; para desfrutar de uma conexão com o Senhor. Não é de admirar que você não receba uma resposta se ainda não está salvo, se ainda não pertence a Ele. Ele ama você, sim; mas você não tem nada a ver com a vontade de Deus. Você deve vir a Ele como um pobre pecador, e dizer, "Senhor Jesus, eu me entrego a Ti como meu Salvador e Senhor".
O que fez Saul? Desta vez, ele é realmente insensato! Ele vai procurar uma mulher que tem um espírito mau. Veja o versículo 15 ao 20, onde Samuel sobe: "Samuel disse a Saul: Por que me desinquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas, e nem por sonhos; por isso te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer. Então disse Samuel: Por que pois a mim me perguntas, visto que o Senhor te tem desamparado, e Se tem feito teu inimigo? Porque o Senhor tem feito para contigo como pela minha boca te disse, e tem rasgado o reino da tua mão, e o tem dado ao teu companheiro Davi. Como tu não deste ouvidos à voz do Senhor, e não executaste o fervor da Sua ira contra Amaleque, por isso o Senhor te fez hoje isto. E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo; e o arraial de Israel o Senhor entregará na mão dos filisteus. E imediatamente Saul caiu estendido por terra, e grandemente temeu por causa daquelas palavras de Samuel: e não houve força nele; porque não tinha comido pão todo aquele dia e toda aquela noite".
É o fim! Não há esperança para ele! Por que? Ele não pertencia ao Senhor.
Tudo começou com aquele pequeno detalhe que desejo frisar bem aqui – espere por instruções vindas do Senhor; isto é extremamente necessário em todos os detalhes de nossa vida. Espere pelo Senhor. É preciso muita energia para esperar em quietude; para tão somente esperar pelo Senhor. Vimos como era Saul: ele disse, "Eu não podia esperar mais; eu me violentei". Sempre há desculpas, mas Deus não aceita desculpas. Você pode sentir-se obrigado a agir; mas tente, sempre, ficar em silêncio com o Senhor, assim você pode entender o que Ele quer que você entenda, e para que assim você possa perguntar a Ele qual é o Seu momento certo e a Sua maneira de agir naquela circunstância.
Agora, vamos dar uma olhada numa segunda pessoa, em 2 Reis, capítulo 6. Trata-se da história de Acabe; houve grande fome pois o rei da Síria havia subido e cercado Samaria. Versículos 25 ao 27: "E houve grande fome em Samaria, porque eis que a cercaram, até que se vendeu uma cabeça dum jumento por oitenta peças de prata, e a quarta parte dum cabo de esterco de pombas por cinco peças de prata. E sucedeu que, passando o rei pelo muro uma mulher lhe bradou, dizendo: Acode-me, ó rei meu senhor. E ele lhe disse: Se o Senhor te não acode, donde te acudirei eu, da eira ou do lagar?". Em outras palavras, ele disse, "Se o Senhor não ajuda você, quem poderá ajudar? Eu não posso". Outra pessoa que não era salva! Então, ele fica sabendo a respeito das duas mulheres e de seus dois filhos, e fica aterrorizado com a condição a que chegou o povo de Deus. O versículo 31 mostra sua reação: "E disse: Assim me faça Deus, e outro tanto, se a cabeça de Eliseu, filho de Safate, hoje ficar sobre ele". Então, ele vai cortar a cabeça de Eliseu para resolver o problema. Agora, no versículo 33: "E, estando ele ainda falando com eles, eis que o mensageiro descia a ele; e disse: Eis que este mal vem do Senhor, que mais pois esperaria do Senhor?"; (ou, como diz na tradução de John Nelson Darby): "Por que, pois, esperaria eu mais pelo Senhor?” (ver 2 Rs 6:33 – AIB). É algo terrível de se dizer, não é mesmo? – "este mal, ou esta situação em minha vida, vem do Senhor; por que deveria eu ainda esperar por Ele? Ele não está resolvendo o meu problema; afinal Ele não está me ajudando em nada". Com certeza, você e eu que conhecemos e amamos o Senhor nunca diríamos uma coisa como esta; mas esta é uma resposta de quem não conhece o Senhor. “Este mal vem do Senhor (ele reconhece o fato); porque deveria eu esperar ainda mais? É melhor eu cuidar de mim mesmo”. Mas ainda que o rei quisesse, ele não podia fazer nada a respeito daquela situação; as tropas do inimigo estavam ao redor da cidade; ele não tinha meios para mudar a situação. Então, ele diz: "Eis que este mal vem do Senhor, por que, pois, esperaria eu mais pelo Senhor?". Desejo encorajar a cada um de nós a esperar no Senhor. Em algumas situações é necessário nos acalmarmos, e ficar em silêncio, e tão somente esperar que o Senhor trabalhe em nós.
Passemos, agora, a duas pessoas no livro de Gênesis, as quais tiveram que esperar. Primeiro, Abrão, no capítulo 12. Aqui o Senhor chamou Abrão, quando ele estava com setenta e cinco anos de idade, para que saísse da terra de Harã e fosse à terra de Canaã. E, o Senhor prometeu que daria a Abrão um filho por meio de Sarai, sua esposa. Mas o tempo foi passando; vamos passar ao capítulo 16: "Ora Sarai, mulher de Abrão, não lhe gerava filhos, e ele tinha uma serva egípcia, cujo nome era Hagar. E disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de gerar; entra pois à minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai". Sarai também reconhecia a mão do Senhor em suas circunstâncias. Não acredito, que exista alguém, que não admita o fato de que nossas vidas estão nas mãos do Senhor. No entanto, às vezes nos esquecemos disto. Deveríamos trazer isto à memória, e então, talvez, não cairíamos no erro de Sarai. Ela disse, "O Senhor me tem impedido de gerar" (Gn 16:2). Portanto, ela tinha uma solução para o problema; era uma solução dolorosa – trouxe dor e sofrimento àquela família. Por que? Porque ela não podia esperar! Abrão também era responsável; mas era Sarai quem não podia esperar. Mais tarde, quando puder, leia os capítulos inteiros, e veja todo o problema que resultou por Abrão tomar a serva egípcia.
Versículo 4: "E ele entrou a Hagar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos". Os resultados chegam rápido! Se você não espera pelo Senhor, logo vêm os resultados; e são bem dolorosos. Tenho somente uma coisa a dizer: espere pelo Senhor. E se você tiver que agir, será um mau sinal se agir por um instinto de desespero. Se você não sabe com clareza qual é a vontade do Senhor, você, ou não deveria agir de maneira nenhuma, ou deveria agir com um espírito quebrantado, em grande humilhação, pois não conhece a vontade do Senhor. Ele quer que você conheça a Sua vontade; Ele está desejoso de comunicá-la a você. Com frequência leva tempo, até que o Senhor tire do nosso caminho alguns dos obstáculos, antes de nos comunicar a Sua vontade. Isto com certeza é uma grande misericórdia do Senhor, quando Ele perscruta o meu coração, e me conhece no mais íntimo do meu ser – até mesmo melhor do que eu próprio me conheço – e diz, "Se eu disser a você para fazer algo, sei que você se rebelará. Sua primeira reação será de completa rebeldia contra o que eu lhe disser para fazer; e você vai desobedecer; e ficará em apuros". Por isso, às vezes, Ele esconde de nós a percepção da Sua vontade; Ele não nos diz qual é a Sua vontade, pois Ele sabe que, antes de qualquer outra coisa, devemos estar preparados. Ele tem que quebrar nossa vontade, para que, quando Ele disser, "Por favor, faça isto para Mim", ou, "Esta é a maneira que quero que tal situação seja tratada", então estaremos desejosos de ser um instrumento nas Suas mãos. Esta é a chave, acredito, para se compreender a vontade do Senhor; temos que dizer, "Senhor, tenho que saber o que fazer; mas qualquer outra coisa que Tu desejares me dizer, estarei pronto para escutar". Porém, devo alertar você, algumas vezes as coisas poderão ser bem dolorosas; pois Ele falará com você, a respeito de você mesmo, e sua obstinada teimosia. E Ele tem os Seus próprios métodos, e as Suas próprias maneiras, de quebrar essa obstinada teimosia. Ele tem o Seu próprio método para tornar nossos ouvidos desejosos de ouvir o que Ele tem a dizer. Aqui, portanto, Sarai agiu; ela não podia esperar. O Senhor havia prometido, mas ela não podia esperar; e ela trouxe um bocado de dor e sofrimento àquela família.
Passe para o capítulo 17: "Sendo pois Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o Senhor a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-poderoso, anda em minha presença e sê perfeito". Versículo 6: "E te farei frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti". Noventa e nove anos de idade! Quanto tempo você já esperou por sua oração? Abraão saiu de Harã quando tinha setenta e cinco anos; portanto ele esperou vinte e quatro anos. Quanto tempo você esperou pelo Senhor em sua vida – 24 horas? Isto pode parecer horrível em certas ocasiões. Vinte e quatro meses? Dois anos parece ser um longo tempo para ficar esperando pelo Senhor. Abrão esperou um longo tempo; mas ele recebeu a bênção no final! Certo, havia Hagar e Ismael – uma tribulação e uma dor. Mas, pela graça de Deus, ele foi guardado e preservado de maneira que pudesse esperar até o fim. Pela graça de Deus, cada um de nós tenha paciência para esperar em silêncio no Senhor, sabendo que a Sua escolha é a melhor; e que Ele fará tudo da Sua maneira e no Seu tempo; e então será perfeito.
Havia um irmão em uma assembléia que estava passando por problemas em seu casamento. Outro irmão nunca havia lhe falado nada a respeito; mas queria fazê-lo, pois o amava e desfrutava de um relacionamento muito bom com ele. Um terceiro irmão estava se mudando justamente naquela época, e os dois o estavam ajudando em sua mudança, e trabalharam até tarde. Saíram, por volta das 10:30, aqueles dois irmãos e mais um ajudante. Pararam no caminho para deixar o ajudante em sua casa, e continuaram somente os dois no automóvel. Ele queria falar algo, mas conhecia o seu temperamento de fazer as coisas sem antes refletir, e falar rápido demais. Em vez de fazê-lo, orou silenciosamente em seu coração: "Senhor, eu poderia falar agora; estamos só nós dois, mas quero que Tu me dê a oportunidade." Então, eles continuaram viagem por mais dez minutos. Conversaram acerca de tudo o que há debaixo do sol, exceto sobre o assunto que ele queria falar. Quando faltavam apenas três ou quatro minutos para chegar em casa, o irmão que estava com o problema trouxe o assunto à tona. Ele disse, "Você ficou sabendo de mim e minha esposa, e dos problemas que estamos passando em nosso casamento?"
Agora ele estava contente de não ter falado antes, pois naquele momento o irmão lhe contou algumas coisas que foram muito úteis na compreensão da situação, e o ajudaram a falar com sabedoria no seu aconselhamento. Será que esperamos no Senhor em nossas oportunidades? Se assim o fizermos, então poderemos falar com um coração tranquilo; não com um coração despreparado; e nem agindo por impulso.
Versículos 17, 18: "Então caiu Abraão sobre o seu rosto, e riu-se e disse no seu coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? E conceberá Sara na idade de noventa anos? E disse Abraão a Deus: Oxalá que viva Ismael diante de teu rosto!"
O velho problema – porque ele não estava disposto a esperar. Querido jovem, você pode arruinar toda a sua vida; você pode estragar toda a direção do Senhor, se você se apressar. Tente gastar um tempo a sós com Ele, orando em quietude, descobrindo qual é a vontade do Senhor. Espere pelo Senhor; não corra na frente d'Ele. Aqui Abraão está surpreso que o Senhor possa ajudá-lo. Às vezes em nossa vida, sentimos que simplesmente não há solução para nosso problema. Mas não sabemos do que o Senhor é capaz; como Ele pode curar; como Ele pode guiar e direcionar para bênção. Espere por Ele!
Capítulo 21, versículos 5-7: "E era Abraão da idade de cem anos, quando lhe nasceu Isaque seu filho. E disse Sara: Deus me tem feito riso; todo aquele que o ouvir, se rirá comigo. Disse mais: Quem diria a Abraão, que Sara daria de mamar a filhos? Porque lhe dei um filho na sua velhice". O final da história – pela graça de Deus! Pode ser o final da história para você também nos seus problemas, e em sua vida.
"Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto" (Is 55:6). Espere por Ele. Busque em seu coração a percepção de conhecer qual é a vontade do Senhor para você, em sua vida e na situação em que se encontra. Sara disse, "Quem pensaria, quem jamais teria dito a Sara que ela iria ter um filho?" Há muitos irmãos mais velhos que podem dizer pela graça de Deus, "Esta é a minha história – eu nunca teria sonhado da graça de Deus em minha família, e da bênção de Deus em minha vida." Desejo encorajá-lo: Deus é bom. Ele quer a sua bênção; Ele quer fazer a sua vida repleta; Ele quer fazer de você uma bênção para os amigos que o rodeiam. Espere por Ele em toda situação!
Vamos passar agora à última pessoa, cuja história é talvez a mais bela de todas – José. Ele, também, teve que esperar muito. Abra no Salmo 105:17-20: "Mandou perante eles um varão, que foi vendido por escravo: José, cujos pés apertaram com grilhões, e a quem puseram em ferros: até ao tempo em que chegou a sua palavra; a palavra do Senhor o provou. Mandou o rei, e o fez soltar; o dominador dos povos, e o soltou". Todos nós conhecemos a história de José; o tempo não permitiria que a lêssemos toda aqui. José teve um sonho que seus irmãos, sua mãe e seu pai se inclinariam diante dele. Ele foi repreendido por isso; desprezado por isso; odiado por isso. Então ele foi, em amor, buscar por seus irmãos; e eles o pegaram, e o lançaram numa cova. O que ele havia feito de errado? Nada. Este Salmo nos diz que Deus o enviou. Querido jovem, com bastante frequência, na situação em que nos encontramos, podemos dizer, "Eu preferiria não estar aqui. Eu não gosto de estar em uma pequena reunião; eu gostaria de estar numa grande assembléia, onde houvesse muita comunhão". Deus lhe enviou; Ele o colocou naquela situação. Talvez seja um emprego; seja o que for, Ele o colocou nessa situação; espere por Ele. Ele planejou uma bênção para você, e para outros. Espere por Ele!
Então José foi vendido, e levado para o Egito. Abra em Gênesis 42:21 (seus irmãos estão falando): "Então disseram uns aos outros: Na verdade, somos culpados acerca de nosso irmão, pois vimos a angústia de sua alma, quando nos rogava; nós porém não ouvimos, por isso vem sobre nós esta angústia". Os irmãos diziam, "vimos a angústia de sua alma". Às vezes, também, ficamos angustiados – quando nos sentimos como se tivéssemos presos nas circunstâncias. Note, quando ele estava na prisão, e explicou o sonho para o copeiro-mor, em Gênesis 40:14; "Porém lembra-te de mim, quando te for bem; e rogo-te que uses comigo de compaixão, e que faças menção de mim a Faraó, e faze-me sair desta casa". Então, no versículo 15, podemos dar uma pequena olhada em seu coração: "Porque, de fato, fui roubado da terra dos hebreus; e tão pouco aqui nada tenho feito para que me pusessem nesta cova". Você pode ver dentro de seu coração? Ele sentia-se prisioneiro, porém injustamente. Mas, espere pelo Senhor.
Qual é o final da história? Abra no capítulo 45:5: "Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da vida, Deus me enviou diante da vossa face". O que, José: Você quer dizer que Deus enviou você para ser vendido pelos seus irmãos – para ser traído? Acaso foi Deus Quem enviou você para aquelas masmorras escuras? "Sim, Deus me enviou". Querido jovem, eu quero confortar o seu coração – muitas situações que agora você não entende, quando ficar mais velho, e voltar-se para olhar atrás, irá entender; você verá o propósito de Deus em sua vida. Espere por Ele; creia n'Ele!
Gostaria, também, de deixar com você aquela pequena palavra em Provérbios 3:5-6: ali diz, "Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento". Não tenha a tendência de se apoiar em seu próprio discernimento. "Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas". Isto é algo que você pode fazer: em todos os teus caminhos – nos pequenos detalhes – reconhece-O; coloque-O em primeiro lugar. Então vem a promessa, "Ele endireitará as tuas veredas".
Ao terminar, vamos abrir em Romanos 5. Leia desde o versículo 3 (estes são os resultados de se esperar): "E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações". Tribulação – nos gloriamos nela; nos alegramos por ela. "Por que você se alegra com a tribulação?" Porque sabemos "que a tribulação produz a paciência (ou perseverança)". É agradável vermos alguém que pode seguir serenamente sob o fogo da tribulação, e não entrar em colapso – apenas seguir em quietude, caminhando com o Senhor; fazendo o bem àqueles que estão ao seu redor; feliz; contente por estar onde o Senhor o colocou. Sabemos que a tribulação produz perseverança, e que daquela perseverança (paciência) vem a experiência. Qual é o proveito da experiência? Porque, da experiência provém a esperança. Você olha para trás e diz, "O Senhor fez provisão para mim naquela tribulação; eu esperei por Ele e Ele me livrou – Ele corrigiu a situação”. Portanto, há esperança. "E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5:5). Podemos não estar certos da vontade do Senhor; mas estamos certos de uma coisa: Ele nos ama. Esperemos por Ele!
Robert Pilkington
Oakbrook, Illinois – julho de 1986
FORA DO ARRAIAL – LONGE DO ARRAIAL
"Saiamos pois a Ele fora do arraial, levando seu vitupério" (Hb 13:13). Poderíamos fazer várias perguntas em relação a este versículo da Bíblia. A quem foi dirigido este apelo? Por que foi dirigido? Pode ser aplicado a nós? E, se for para nós, qual é o seu motivo e significado? Busquemos a resposta a estas perguntas no temor do Senhor e para proveito de nossas almas.
Este versículo, assim como toda a epístola aos Hebreus, foi escrito para os judeus convertidos ao Cristianismo. Existem muitas razões para se crer que seu autor foi o apóstolo Paulo. Embora Paulo fosse o apóstolo dos gentios, nesta ocasião o Espírito de Deus o utilizou para redigir uma admoestação direta e especial aos judeus que haviam se arrependido, reconhecendo que sua nação havia rechaçado o seu Messias. Embora tendo aceitado ao Senhor Jesus como seu Salvador, os judeus recém-convertidos continuavam, naturalmente, ligados ao templo, aos ritos e costumes do judaísmo. Haviam sido criados nesse sistema, uma boa parte do qual fora instituído pelo próprio Deus. Mas agora, a partir da rejeição ao Senhor Jesus – da rejeição do testemunho do Espírito Santo a respeito de Cristo glorificado – Deus passou a desaprovar completamente esse sistema.
O Cristianismo nunca foi um mero complemento do judaísmo, ou a sua continuidade, mas tratava-se de algo inteiramente novo. Deus estava chamando para fora, de entre os judeus e gentios, um povo para o céu, com esperanças celestiais – nunca terrenais (At 15:14). Os Cristãos viriam a ser um povo na Terra à espera da vinda do Senhor do céu. Não deveriam ter uma religião de formas e cerimônias, tal como os judeus tinham, porém deveriam adorar a Deus em espírito. Os formalismos e ritos haviam de ser substituídos por sacrifícios espirituais. Tudo estava sendo encaminhado de forma a estabelecer um marcante contraste em relação ao que existia anteriormente. A forma judaica não somente tinha que ser abandonada, como também o próprio Deus iria julgar essa nação culpada, que teve a ousadia de dizer "O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" (Mt 27:25). A sentença anunciada em Mateus 22:7, "enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade", foi prontamente executada. Deus estava executando juízo sobre esse povo culpado e dirige, nesta tão bela e instrutiva epístola aos hebreus, uma ordem àqueles que creram dentre os judeus, para que se separassem totalmente daquilo que em breve iria ser objeto do juízo de Deus.
Toda a epístola é formada de contrastes. O seu objetivo e propósito era de revelar aos judeus Cristãos que agora eles tinham algo melhor. A palavra melhor é repetida muitas vezes neste livro. Eles não perderiam nada ao abandonarem as fórmulas exteriores, ordenanças e cerimônias de sua religião, trocando-as pelo espiritual e celestial, porque tudo resultaria em algo melhor.
Há muito proveito, quando se lê Hebreus, em se constatar que todos os serviços que Deus dera aos judeus eram apenas tipos e sombras das coisas melhores que agora tinham chegado. Tudo o que tinha conexão com o santuário terrestre, havia servido com o propósito de assinalar as benditas realidades, que agora haviam sido introduzidas. Portanto, eles não estariam perdendo ao se voltarem às coisas melhores relacionadas com Cristo na glória; a tudo aquilo que havia realizado mediante Sua morte e ressurreição. Com tal fundamento estabelecido na epístola, o Espírito Santo afetuosamente os chama a saírem a Cristo, "fora do arraial".
Israel foi muitas vezes chamado de "arraial". Logo que os israelitas foram redimidos e tirados do Egito, encontramos em Êxodo 14:19 que; "o anjo de Deus, que ia adiante do exército (ou “arraial” – JND) de Israel, se retirou, e ia atrás deles". Esta expressão – “arraial” – era facilmente compreendida pelos judeus convertidos como uma referência a Israel e a Jerusalém. Eles foram chamados a sair “fora do arraial”, porém não somente isto. O apelo é para que definitivamente se dirigissem a “Ele” (Cristo). Disto se deduz que o Senhor Jesus está “fora do arraial”. Quando Cristo veio ao mundo, achegou-Se a Israel – "veio para o que era Seu, e os Seus não o receberam" (Jo 1:11). Finalmente, depois de haver sido apresentado àquele povo em cada aspecto da Sua Pessoa, de acordo com as promessas e profecias (Rei, Sacerdote, Profeta, Messias, Salvador etc.), teve que deixá-los dizendo "Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta" (Mt 23:38). Posteriormente Ele foi conduzido para fora do centro religioso – Jerusalém – sendo crucificado "fora da porta" (Hb 13:12). Vemos, portanto, que o Senhor Jesus já não se encontrava mais conectado com o arraial de Israel e sua religião de sombras.
Em Hebreus 13:13, de que estamos falando, provavelmente exista uma alusão à cena descrita em Êxodo 33:7, quando Moisés, divinamente ensinado, "tomou… a tenda, e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial", porque aquele arraial havia se transformado em um lugar contaminado. Deus não podia permanecer um minuto sequer em um lugar que havia sido profanado por causa da presença, e adoração, do bezerro de ouro (Êx 32). Moisés compreendeu os pensamentos de Deus e não somente levou a arca para “fora do arraial”, mas a levou para “longe do arraial” (Êx 33:7). Assim foi também nos dias em que a epístola aos hebreus foi escrita aos judeus Cristãos. O arraial estava contaminado e havia sido rejeitado por Deus e, consequentemente, Cristo estava separado de todo aquele sistema. Por isso os judeus Cristãos foram exortados a sair para fora do arraial, ao próprio Senhor Jesus. Os que deram ouvidos ao apelo daqueles dias, deixaram o templo, e finalmente deixaram também Jerusalém, antes que fosse incendiada e destruída no ano 70, pelos exércitos do império romano, tal como o Senhor havia anunciado em Mateus 22:7. Então a separação entre o Cristianismo e o judaísmo foi definitiva. É muito triste constatarmos, hoje, que aquele Cristianismo, do início, acabou caindo sob a influência do judaísmo, retrocedendo a uma religião de formalismos exteriores, cerimônias e rituais reconhecidamente imperfeitos.
Vimos, então, que o apelo para que saíssem do arraial, para Cristo, foi feito primeiramente aos Cristãos em Jerusalém, e por eles atendido. Eles encontraram as coisas melhores, as coisas superiores no Cristianismo, e tiveram que abandonar os meros símbolos e figuras que, na época de Israel, apontavam para Cristo. E tiveram que sair a “Ele”, que estava agora fora de todo o sistema judeu.
Passemos, agora, às perguntas que nos dizem respeito: Este convite de sair para “fora do arraial” pode aplicar-se a nós? E, se assim for, Qual é o seu verdadeiro significado e aplicação? Aplica-se aos dias de hoje? Para responder melhor a estas perguntas devemos antes indagar algo: Existe, nos dias de hoje, algo que corresponda ao “arraial” do tempo de Israel? Infelizmente sim, temos que admitir; e isso é muito triste. Existe algo que em muitos aspectos corresponde ao "arraial" que existia no tempo de Israel. E é a vasta profissão da Cristandade de nossos dias.
O Cristianismo não reteve por muito tempo o seu caráter celestial, porém foi influenciado pelo judaísmo, que era uma religião terrenal. No Novo Testamento não encontramos qualquer evidência de que a Igreja de Deus na Terra praticasse algum rito de um tabernáculo terrenal. Israel teve uma religião dada por Deus, mas em conformidade com o homem na carne. Assim, o homem não precisava de um novo nascimento para desfrutar e apreciar a magnificência do templo (Lc 21:5), seu mobiliário grandioso, seus sacrifícios, seus sacerdotes em trajes de gala, seus cantores bem treinados etc. Todas essas coisas davam prazer à carne do homem natural. Mas o Cristianismo nunca as reconheceu como tendo sido dadas por Deus para si. Na Bíblia, jamais lemos de um templo Cristão, mas, ao contrário, o Senhor disse à mulher samaritana que já não existiria um lugar terrenal para a adoração, mas que viria a hora "e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade" (Jo 4:21-24). Era isto que deveria caracterizar esta época. Os primeiros Cristãos se reuniam em casas particulares, e até no terceiro andar, como encontramos quando Paulo pregou em Troas (At 12:12; At 20:5-11; Rm 16:5).
Lemos que o Senhor e os apóstolos cantaram um hino, antes de saírem, na noite em que Ele foi traído, porém, não se faz menção em todo o Novo Testamento, nem nesta oportunidade e nem em outras, do uso de instrumentos musicais, relacionando-os com adoração ou serviço Cristão.
Encontramos, isto sim, exortações para cantarmos melodias com nosso coração ao Senhor, cantando com entendimento na assembléia, porém jamais com a ajuda de instrumentos musicais. Por outro lado, o uso de instrumentos musicais era bastante adequado à dispensação passada e formava parte do cerimonial judaico.
O judaísmo tinha sacerdotes que se colocavam entre o povo e Deus. O povo, como uma entidade, não podia aproximar-se de Deus. No Cristianismo autêntico todas as pessoas salvas são sacerdotes, e estão plenamente qualificadas para oferecer, diretamente a Deus, “sacrifícios espirituais” (1 Pe 2:5). Porém, hoje em dia se conta com ministros, sacerdotes e outros mais que se colocam como superiores sobre todo o povo, dividindo a Igreja de Deus em clérigos e leigos. Isto nunca esteve na mente de Deus que fez com que todos, "pelo sangue de Cristo", se aproximassem d'Ele (Ef 2:13).
Contemplando o panorama atual, encontraremos a Cristandade dotada de esplêndidos edifícios, grandiosas decorações, ornamentos especiais, etc, que não passam de imitação do Antigo Testamento, da época dos símbolos e das sombras "dos bens futuros" (1 Co 10:11; Hb 10:1). Hoje se ouve música instrumental da mais alta qualidade, e exalta-se os talentos mais refinados, supostamente úteis para a adoração ao Senhor. Pode-se ver o clero e cada aspecto de uma religião terrenal, porém o caráter celestial é perdido! Trata-se do mundo e do judaísmo mesclados com o Cristianismo para satisfazer ao homem natural.
Não é preciso que alguém seja salvo para desfrutar dos majestosos edifícios, grandiosas cerimônias ou magníficos oradores, como ocorre com a atual Cristandade professa. As verdades de Deus foram corrompidas e alteradas de uma maneira que pudessem ser aceitas pela maioria, e adaptadas ao homem natural, tal qual ele é. A verdade é abandonada, e tudo o que importa é que o número de membros aumente! E há algo mais; toda o tipo de pecado e maldade entra às escondidas nesse sistema, de tal forma que a verdade de Deus está sendo negada em muitas partes do "arraial". O arraial de hoje está muito pior e corrompido, em comparação com aquele do tempo de Moisés, quando ele tirou a tenda, não só para “fora do arraial”, mas para “longe do arraial”. O Senhor Jesus e a verdade da vocação celestial do Cristão se acham fora do campo de profissão Cristã ou "arraial" de nossos dias.
Amado irmão Cristão! Você escutou o chamado do Senhor para sair a “Ele, fora do arraial”? Para gozar de Sua aprovação nestes dias é preciso que você obedeça a tal chamado. Os muitos lados do arraial encontram-se, hoje, contaminados e a tendência é de se distanciarem cada vez mais da verdade. Além disso, o nosso Senhor está do lado de fora e faz um convite para você vir para onde Ele está.
Algumas pessoas, vendo a corrupção dentro da esfera da profissão Cristã, têm decidido separar-se totalmente, e andar sozinhas, e por sua própria conta. Mas isso, não é o que Deus quer que façamos. A exortação é que saiamos a “Ele”. Deve existir um lugar e, bendito seja Deus, existe este lugar “fora do arraial”, onde o Senhor está no meio e para onde você é atraído.
Na segunda epístola a Timóteo, onde são descritas as horríveis condições dos últimos dias, temos a direção que deve seguir todo aquele que quiser agradar ao Senhor. É exortado a separar-se (1º passo) dos "vasos de… desonra", e reunir-se (2º passo) “com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2:19-22). Você não deve caminhar sozinho. Um carvão solitário apaga-se rapidamente. Quando você se encontra cercado pelo mal, não é apenas chamado a distanciar-se dele, mas também deve buscar a direção do Senhor para que o guie para o lugar onde Ele está.
O “arraial”, e tudo o que lhe pertence, satisfaz única e tão somente ao homem carnal. Cada um de nós tem uma natureza que se recreia nas coisas formosas, boa música, oratória convincente, etc. Mas Cristo, o Senhor que está fora, chama a você e a mim. Por quê? Onde? Como? E com quem?
"Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí, estou Eu no meio deles" (Mt 18:20).
Alguns argumentam que há Cristãos fiéis no arraial. Cremos verdadeiramente que há, mas o que se deve fazer diante de uma convocação de Deus? Quando Moisés, na sua época, levou a arca do testemunho a uma grande distância, não resta dúvida de que no arraial ficaram alguns israelitas veneráveis, inclusive alguns que profetizavam ali. Da mesma forma pode haver os mais excelentes pregadores e ministros no arraial religioso de nossos dias, e sem dúvida o admitimos também. Mas se Deus tem chamado você para fora, este deve ser o seu lugar. Deixemos os que permanecem no arraial nas mãos do Senhor, sabendo que "O Senhor conhece os que são Seus" (2 Tm 2:19), mas o seu lugar, e o meu também, não é somente fora, mas também, pela graça de Deus, longe do contaminado "Cristianismo judaico".
Que Deus nos conceda graça de conservamos tal distância, não com um espírito de orgulho ou de autossuficiência, porém com nossa cabeça inclinada de vergonha, por termos dado tão pouco valor a nosso Senhor e ao lugar onde Ele está. Confessemos quão pouco temos desfrutado de um andar em santidade, segundo a soberana vocação celestial à qual Ele nos chamou. Nossos fracassos e nossas fraquezas não são motivos para nos aproximarmos daquilo que está corrompido. O andar com o Senhor em uma verdadeira separação tem que custar a algo, mas lembre-se que ao chamado de Hebreus se acrescenta: "Levando Seu vitupério" (opróbrio, vergonha). Está você preparado para isso? Está disposto a levar um pouco de afronta por amor ao Seu Nome? Os discípulos, em Atos 5:41, estavam "regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo Nome de Jesus" (leia 2 Tm 3:12). Será que a aprovação de seu Senhor e Mestre não é suficiente para sustentá-lo em meio a tal vitupério? Alguns poderão não compreender o que você faz, inclusive podem chamá-lo de exclusivista, fanático, fechado, mas pergunte a si mesmo solenemente: Devo agradar ao Senhor ou aos homens?
Amado leitor. Se Deus em Sua graça tem chamado você ao lugar onde o Senhor Jesus está – “fora do arraial” – você deve buscar Sua ajuda para um andar santo e digno d'Aquele que está ali. Logo você poderá ser tentado a regressar ao arraial onde deixou bons amigos ou, talvez, para ouvir a pregação de homens bem dotados. Mas a voz de Deus em exortação para os que receberam Sua aprovação é: "Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa" (Ap 3:11). Devemos valorizar ao máximo a Palavra de Deus e retê-la, isto não seria dito nas Escrituras se não existisse o perigo de nos esquecermos de tudo o que já temos. "Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor" (Gl 2:18).
Autor Desconhecido
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