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Foto do escritorJ. G. Bellett (1795-1864)

Os Patriarcas - Jacó 1 - Parte 9/18

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ÍNDICE


 

Os Patriarcas

John Gifford Bellett

 

Jacó

Parte 1

  

Já seguimos o curso do Livro de Gênesis até o final de Gênesis 27. Desse capítulo até Gênesis 36, Jacó é o principal; e é essa parte que pretendo considerar agora.

 

Depois disso, houve uma época muito importante na vida de Jacó: sua peregrinação no Egito por dezessete anos e sua morte lá. Mas isso é encontrado naquela parte do livro em que José se torna o principal, de modo que me referirei ao livro apenas no que diz respeito a Jacó.

 

A vida de Jacó é de uma atividade muito ampla e variada, de caráter bem diferente da de seu pai Isaque. A sabedoria de Deus explica isso prontamente; porque há intenção divina no desenrolar dessas histórias, assim como há veracidade divina no registro delas. Por elas somos instruídos nos mistérios, tão certamente quanto as circunstâncias nos são dadas a conhecer. Tem sido meu desejo observar esses mistérios, bem como reunir a moral dessas primeiras eras da família humana e desses primeiros pais dos eleitos de Deus.

 

A eleição e o chamado de Deus, no exercício soberano de Sua graça, foram exibidos em Abraão.

 

A filiação, à qual a eleição nos leva (pois somos predestinados à adoção de filhos), foi então demonstrada em Isaque.

 

A disciplina, como a de um filho (pois qual é o filho a quem o pai não corrija?) deve agora, a seu tempo, ser exibida em Jacó.

 

E assim, dessa maneira, essas histórias sucessivas não apenas continuam a narrativa ordenada dos fatos, mas nos apresentam uma visão daquele curso ou conduta que a graça e a sabedoria de Deus estão tomando com Seu povo.

 

Jacó aprende o amor por meio do castigo 

Jacó era um filho assim como Isaque. Mas ele era um filho na escola ou sob correção; não um filho, como Isaque, sob criação e cuidados da casa de seu pai; não como alguém que conhece os direitos e dignidades de filho e herdeiro, mas como alguém a quem é dado a conhecer o amor, o amor prático, que castiga e corrige. Este era o filho Jacó. Mas nunca devemos esquecer que nunca somos mais claramente filhos do que quando estamos sob tal disciplina. A disciplina pressupõe adoção. A exortação ou correção fala-nos como a filhos. A disciplina pode ocupar o primeiro plano, mas o amor paterno é o segredo.

 

A ordem da vida de Jacó 

Mas este relato de Jacó como filho sob disciplina é apresentado aqui apenas como uma característica geral. Quanto aos materiais de sua história, por mais variados e marcantes que sejam, podemos distingui-los em quatro épocas:

 

  1. Seu nascimento e infância na casa de seu pai na terra de Canaã.

  2. Sua jornada para Padã-Arã e sua residência ali, na casa de Labão, o sírio, por vinte anos.

  3. Sua viagem de volta de Padã-Arã e sua segunda residência em Canaã.

  4. Sua jornada de Canaã ao Egito, e sua residência e morte lá.

 

Isto pode ser lido como um índice simples e natural, por assim dizer, e eu o seguiria em sua ordem.

 

Parte 1 – Início da história de Jacó 

Esta parte mais antiga da história de Jacó, seu nascimento e sua vida na casa de seu pai na terra de Canaã até aproximadamente os setenta anos de idade (diz-se nos escritos judaicos que ele tinha setenta e sete anos de idade). Eu de uma maneira geral antecipei isso no artigo anterior, intitulado “Isaque”. E posso dizer, necessariamente; porque está envolvido naqueles capítulos do livro de Gênesis, onde Isaque é o principal. Preciso, portanto, referir-me a ele.

 

Parte 2 – Os tratamentos do Pai celestial 

Jacó começa a ser visto sob disciplina no capítulo 28, e é aí que se inicia esta segunda parte de sua história, e onde também, no Livro do Gênesis, ele se torna o personagem principal.

 

Na sua viagem rumo a Padã, mas antes de sair das fronteiras de Canaã, no lugar chamado Luz, o Senhor o encontra. Este não era o leito de seu pai, onde ele estava pecando, mas um local solitário, triste e distante onde seu pecado o havia lançado, e onde a disciplina de seu Pai celestial estava tratando com ele. Em um tal lugar assim, Deus pode nos encontrar. Ele não pode aparecer para nós no cenário de nossas iniquidades, mas Ele pode no lugar de Sua correção. E tal foi Luz para Jacó. Era um local desconfortável. As pedras do lugar eram seu travesseiro, e o céu sobre sua cabeça sua cobertura; e ele não tinha nenhum amigo além de seu cajado para acompanhá-lo e animá-lo. Mas o Deus de seus pais vai até ele. Ele não altera suas circunstâncias atuais nem reverte o castigo. Ele o deixa seguir seu caminho sem amigos, para encontrar, no final dele, vinte anos de serviço árduo nas mãos de um estranho, com muitas injustiças e danos. Mas ele lhe dá promessas celestiais de que os exércitos do alto deveriam vigiar e cuidar ao seu redor.

 

Misericórdia adicional 

O Senhor havia feito, como sabemos, grandes promessas a Abraão: as mesmas foram repetidas a Isaque e agora, em Betel, são dadas a Jacó. Mas, para Jacó, algo muito distinto dessas promessas comuns é acrescentado: “eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra, porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito” (Gn 28:15). Esta foi uma nova promessa, uma misericórdia adicional; só porque Jacó precisava disso, o que Abraão e Isaque não precisavam. Jacó era o único dos três que precisava que o Senhor estivesse com ele onde quer que fosse, e o trouxesse para casa novamente. Jacó, por seu próprio comportamento prejudicial, tornou essa misericórdia adicional necessária para si mesmo e, em graça abundante, ele a obtém e a visão da escada a garante. As promessas a Abraão e a Isaque não incluíam este cuidado providencial e angelical. Eles permaneceram na terra; mas Jacó se tornou um exilado, que precisava do cuidado e da vigilância de uma supervisão especial do céu, e ele consegue. E é a isso, acredito, que Jacó se refere, quando diz a José: “As bênçãos de teu pai excederão as bênçãos de meus pais” (Gn 49:26). Este cuidado angélico que velou sobre ele, sob comissão direta do céu, em seus dias de exílio e trabalho penoso, aos quais o seu próprio erro havia incorrido, distinguiu-o como um objeto de misericórdia e deu-lhe “bênçãos” acima das de seus “pais”. E neste caráter ele alcançou a “extremidade dos outeiros eternos”. Ele era herdeiro do reino como credor de uma misericórdia especial, por meio daquela graça abundante que o ajudou e o manteve em meio aos frutos amargos de seu próprio comportamento prejudicial. Como Davi, em sua época, triunfou no “concerto eterno” feito com ele, embora no momento sua casa estivesse em ruínas por causa de seu próprio pecado (2 Sm 23).

 

Graça e santidade combinadas 

Este é o caminho de Deus, excelente e perfeito na combinação de graça e santidade. E sobre isso, deixe-me observar, que em todas as circunstâncias existem dois objetos, e que a natureza olha para um e a fé para o outro. Portanto, na disciplina divina, tal como Jacó estava experimentando agora, existe a vara, e também a mão que a utiliza. A natureza considera o primeiro, a fé reconhece a segunda. Jó, em sua época, foi quebrantado sob a vara, porque se preocupava apenas com ela. Se ele tivesse olhado para o conselho, para o coração ou para a mão que a havia designado (como somos exortados a fazer, Miquéias 6:9), ele teria permanecido em pé. Mas a natureza prevaleceu nele, e ele manteve os olhos na vara, e isso foi demais para ele.

 

Portanto, nas falhas, assim como nas circunstâncias, existem dois objetos. A consciência tem o seu objeto, e a fé também tem o seu objeto. Mas não se deve permitir que a consciência roube da fé os seus tesouros, os tesouros da graça restauradora e perdoadora, que o amor de Deus em Cristo reservou para ela.

 

Há um grande conforto nisso. A natureza não deve se sobrecarregar com as circunstâncias, nem a consciência com os fracassos. A natureza deve sentir que nenhuma aflição é para o gozo presente, e que a consciência ou o coração podem ficar quebrantados; mas em ambos os casos, a fé deve estar no seu posto e cumprir o seu dever; e grande parte da energia graciosa do Espírito nas epístolas está empenhada em colocar a fé em seu posto e encorajá-la a cumprir seu dever. Os apóstolos, sob o Espírito Santo, tomam conhecimento do perigo e da tentação que enfrentamos por natureza; e embora seja abundantemente aplicada, essa consciência deve ser avivada e zelosa, mas é necessário que a fé se mantenha diante dela.

 

Conhecer a Deus na graça é Seu louvor e nosso regozijo. Naturalmente, ou de acordo com os instintos de uma natureza contaminada, pensamos n’Ele como Alguém que exige obediência e busca serviço. Mas a fé O conhece como Alguém que se comunica, que nos fala de privilégios, da liberdade e da bênção de nosso relacionamento com Ele.

 

A rica graça de Deus 

Mas a alma de Jacó não estava à altura desta forma de graça. Ele descobriu que o lugar onde a escada e os anjos eram vistos, e onde o Deus de seus pais falava com ele, era “terrível”. Em certo sentido, foi demais para ele. Como aconteceu muito tempo depois com Pedro no monte santo. Deus é fiel à abundância de Sua graça. Jacó podia dizer: “Quão terrível é este lugar!” Pedro e seus companheiros puderam ter medo; mas a escada, no entanto, alcança o céu, e os anjos sobem e descem sobre ela à vista do patriarca; e a glória no monte ainda brilha. Pois a graça de Deus é mais rica do que as apreensões da alma sobre ela. Deus brilha em Si mesmo acima de nossas experiências. E é em Si mesmo que Ele deve ser conhecido, e não nos reflexos de nossa experiência.

 

Ainda assim, como Pedro no monte, Jacó, em certo sentido, achou bom estar na Luz e chamou o lugar de Betel. Ali era a casa de Deus para ele, pois Deus estivera ali com ele e falara com ele; era a porta do céu aos seus olhos, pois ali os anjos haviam aparecido, descendo de seu próprio lugar no alto. “Este não é outro lugar senão a Casa de Deus”, diz ele, “e esta é a porta do céu”.

 

Deus mesmo tanto registra o Seu nome como o glorifica. Ele o registra ou o revela primeiro, e a fé O aceita. No devido tempo, Ele comprova esse registro ou testemunho, tornando tudo bom, e assim glorifica Seu nome. E onde quer que Ele registre Seu nome, ali estará Sua casa. A eira de Ornã ganhou, muito tempo depois, a mesma dignidade que Luz agora recebe, e com o mesmo título. “Esta é a casa de Senhor Deus, e este é o altar de holocausto para Israel”, diz Davi sobre aquele local dos jebuseus (1 Cr 22:1 – AIBB). Pois era o lugar, como este Betel de nosso patriarca, onde a misericórdia triunfa sobre o juízo, onde Deus estava Se revelando na abundância de Sua graça, e ali a fé avista a casa de Deus. Jacó e Davi, cada um em sua época, eram santos sob disciplina; mas o Senhor os encontrou nas ricas provisões de Seu amor, revelando-Se desta forma ou registrando Seu nome; e esta era a Sua casa para eles. Mas é mais fácil consagrar a casa desta forma do que aprender a lição que ali é ensinada. Jacó expressou corretamente seu coração sob a força das impressões que a visão não poderia deixar de despertar; mas ainda há algo do velho Jacó em seu espírito. O caminho defeituoso de seu coração ainda está em ação, e ele parece calcular, fazer barganhas e estabelecer condições, embora o Senhor tenha falado com ele ali na linguagem da promessa, em bondade livre, soberana e abundante. Pois a natureza ainda se agita depois de muitas repreensões e derrotas, e sobrevive ao que por um momento pode ter parecido um golpe mortal. Jacó não a deixa para trás agora em Betel, assim como antes não havia a deixado para trás na tenda de sua mãe.

 

Chegada à casa de Labão 

Mas ele continua. Graça colocou o santo castigado em sua jornada, e com algum entusiasmo também, até que “chegou à terra dos filhos do Oriente” (TB), até chegar a Padã-Arã, onde o conselho de sua mãe o havia designado, e, sem dúvida, aonde a mão de Deus agora o conduziu.

 

Sua apresentação a Raquel foi no poço e no meio do rebanho, como a de Eliezer a Rebeca; e Eliezer era apenas o representante de Isaque. Mas Jacó era o homem pobre, Isaque, o rico. Isaque poderia enriquecer Rebeca com brincos e pulseiras de ouro, penhores da boa riqueza que tinha para ela. Jacó tem apenas seu trabalho e suor no rosto. Um era como filho e herdeiro, o outro, um homem que se empobreceu e deve encontrar seu próprio caminho por meio do desgaste da vida da melhor maneira possível, com a ajuda de Deus. Israel serviu por uma esposa, e por uma esposa ele guardou o gado (Oséias 12:12). E um serviço difícil que ele estava prestes a encontrar. Mas ele entra imediatamente nele e continua por vinte longos anos (Gn 29-31).

 

A cena se passa na casa de Labão, irmão de sua mãe, e rapidamente se torna uma cena de várias ações morais, e assim continua. Não temos apenas o próprio Jacó e Labão, mas as duas esposas Léia e Raquel, e suas duas servas Zilpa e Bilha.

 

Reconhecendo a disciplina 

Jacó passou pouco tempo sob as provações e tristezas de sua estadia com Labão, antes de ser visitado conforme o mesmo padrão de sua própria ofensa em casa. Ele havia enganado seu pai com relação a seu irmão e a bênção. Labão agora engana Jacó com relação a Raquel e o casamento. Mas em grande parte do seu comportamento durante os vinte anos que passou com Labão, vemos o que havia de excelente nele. Pois a força e a influência de saber que estamos sob a mão de Deus para correção são necessariamente sentidas por uma mente que tem algo correto em relação a Deus. Não é que a natureza seja alterada ou quebrantada sob tal pressão, mas deve, em certa medida, mais ou menos, ser controlada. Davi, quando sob repreensão, dura e humilhante como jamais um santo se expôs, comporta-se de forma bela. Suas palavras a Itai, a Zadoque e a Husai, seu ressentimento pela ação dos filhos de Zeruia, suas humilhações, suas lamentações sobre Absalão e seu uso de sua vitória como se tivesse sido uma derrota, tudo isso e mais do que isso do mesmo tipo, mostra-nos uma obra abençoada do Espírito em sua alma. Em Jacó, em Padã-Arã, não conseguimos nada tão bom quanto isso, eu sei; mas, se não me engano, temos um santo sob disciplina, consciente da disciplina, entendendo bem o caráter do momento sob a mão de Deus e a justiça da repreensão do Senhor, comportando-se com mansidão e vigilância. Ele se submete em silêncio às injustiças de um senhor maligno. Ele serve pacientemente e sofre sem reclamar. Seu salário foi alterado dez vezes, mas ele não responde novamente. Em tudo isso ele é humilhado sob a poderosa mão de Deus, como alguém que estaria inclinado a lembrar seus próprios caminhos passados. E ao final de vinte anos de trabalho árduo e maus tratos, ele é capaz de testemunhar sua fidelidade, e o próprio Deus parece selar o testemunho. Pelas providências de Sua mão, e pelas revelações nas visitações de Seu Espírito, e também por interferências diretas com o próprio Labão, o Senhor protege, abençoa e justifica Jacó.

 

Há beleza nisso. Não digo que a natureza ficou mortificada, que a raiz da amargura foi julgada. Descobriremos, eu sei, que depois disso Jacó ainda é o velho Jacó, tristemente traído pelo mesmo fermento que trabalhou nele desde o início. Mas, enquanto estava na casa do sírio, Jacó era como alguém que sabia estar sob a poderosa mão de Deus quanto à correção, e se comportou de acordo, nem se justificando contra reprovações, nem lutando por seus direitos diante de ofensas e injustiça.

 

Labão: homem do mundo 

Eu julgo que Jacó foi uma pessoa assim na casa de Labão. Quanto a Labão, ele era um homem completamente do mundo quando Jacó entrou em sua casa, e também assim o era quando Jacó a deixou. Em todas as suas negociações, do início ao fim, ele busca sua própria vantagem. Ele é obrigado a reconhecer que a mão de Deus estava com Jacó; mas ele faria essa mão, por meio de Jacó, ministrar a si mesmo, e transformaria o interesse de Jacó em Deus em seu próprio proveito. Durante vinte anos ele teve o testemunho da mão do Senhor e a operação de Sua graça e poder, sob seus olhos e em sua casa, e isso diariamente; mas ele ainda continuou sendo um homem do mundo. Deus Se aproximou dele, como depois em Betsaida e Corazim, na realização de Suas obras poderosas; mas não houve arrependimento. E a saída de Jacó de sua casa finalmente foi como uma fuga das mãos do inimigo ou do laço do passarinheiro. Foi uma espécie de êxodo. De um modo familiar foi o que mais tarde ficou conhecido por Israel de uma forma nacional. Labão era como Faraó e Padã-Arã como Egito para nosso patriarca. Ele gostaria de ter mantido Jacó como um escravo ou, na melhor das hipóteses, mandá-lo embora como um mendigo; mas o Senhor interveio por Jacó diante de Labão, como depois interveio por Israel diante de Faraó. Labão e Faraó testemunharam, cada um em sua época, a operação de Deus, mas nenhum deles se tornou objeto dela.

 

Ele certamente era um completo amante do mundo, e nunca foi algo melhor; um astuto e hipócrita também – companheiros comuns. No final, quando todos os seus artifícios são despedaçados e nenhum encantamento é permitido prosperar, como contra Israel, ele faz o que pode, de acordo com o estilo miserável e repugnante de um coração astuto, para cobrir o propósito que agora tinha falhado, e para dar a si mesmo um caráter justo. Ele finge que o fato de Jacó o ter deixado foi apenas uma questão de afeto por seu lar, enquanto sua consciência deve ter lhe dito uma razão muito diferente. Ele demonstra tristeza e indignação por não ter tido a oportunidade de beijar suas filhas e netos, e de mandá-los embora com honra, enquanto sua consciência deve tê-lo lembrado de como ele os vendeu repetidas vezes. Ele parece estar preocupado com eles, agora prestes a estar nas mãos de Jacó, como se suas próprias mãos tivessem sido as de um pai para eles. Ele finge poupar Jacó através do medo religioso das palavras de Deus, enquanto ele deve ter se sentido completamente restringido por Deus, disposto ou não, religioso ou profano; como Balaão foi depois. E ele dá um ar sério à última barganha entre ele e Jacó, introduzindo o nome do Deus de Abraão, embora ele estivesse apenas em busca de seus ídolos e se preparasse para retornar àquela terra da qual Deus havia chamado Abraão, e continuar ali como um homem completamente do mundo e sem coração, um adorador de seu próprio deus.

 

Homem miserável! Indicando uma lição santa e séria para nós.

 

Mulheres e crianças 

Mas temos as mulheres e as crianças de Padã-Arã, bem como Labão, o sírio. As mulheres e as crianças do Livro do Gênesis são todas mistérios. Vemos isso em Eva e seus três filhos – na Sara de Abraão, e na Agar de Abraão, e na Quetura de Abraão, e na semente de cada um deles. E notamos em Isaque (veja “Isaque”) o mesmo personagem místico em Rebeca, sua esposa, e Esaú e Jacó, seus filhos. Todos e cada um contam partes integrantes do propósito de Deus, como em figuras. E agora, nas mulheres que se ligam a Jacó em Padã-Arã, seja sua esposa, a irmã mais velha, ou sua esposa, a irmã mais nova, ou as servas dadas a elas, e nos filhos de cada uma delas, há mistérios novamente.

 

Os filhos de Israel 

Nos filhos de Israel, isto é, na nação, na semente de Abraão, encontramos três classes.

 

  1. Já existiu Israel segundo a carne, estabelecido na terra sob o título de seu concerto carnal com Abraão.

  2. Existe agora, neste momento, a nação em escravidão, levada a conhecer o serviço aos gentios.

  3. Haverá, em breve, a nação estabelecida em graça, Israel redimido e aceito, estabelecido nas promessas feitas aos pais.

 

Estas são três gerações na nação de Israel, como essa nação foi, agora é e será no futuro. E a sombra disso, eu julgo, vemos nas famílias de Jacó em Padã; isto é, nos filhos de Léia, que tinham seu título na carne; nos filhos das servas; e nos filhos de Raquel, a amada, que não tinha força na natureza, mas cuja semente era toda de promessa ou de Deus.

 

O caminho da sabedoria de Deus é, portanto, aprendido nas mulheres e crianças aqui, em Gênesis 29-31, como havia sido nas primeiras cenas familiares deste livro maravilhoso.

 

Ponto da virada 

Assim que José, o filho da promessa, filho de Raquel, a amada, lhe é dado, Jacó fala em deixar Padã, o lugar de seu exílio e escravidão. (Veja Gênesis 30:25-26). E isso, por mais simples que pareça, tem seu caráter. A condição de estrangeiro e servo não lhe convinha, assim que obteve a semente que lhe testemunhou o poder de Deus em seu favor. Ele pôde ter sentido, de forma um tanto instintiva, que agora lhe cabia afirmar sua liberdade e pensar em seu lar e em sua herança. Não digo se Jacó realmente percebeu isso, ou se foi uma espécie de inspiração que ele respirou e que, em todo o seu significado, estava além dele. Mas foi assim que ele disse a Labão, imediatamente após o nascimento de José: “Deixa-me ir; que me vá ao meu lugar e à minha terra”.

 

Tinha sido exatamente assim com Abraão antigamente. Assim que Isaque foi desmamado, o cenário em torno de Abraão mudou imediatamente. O filho da escrava tem que sair de casa, e Abraão tem precedência sobre o gentio. (Veja Gênesis 21). O desmame de Isaque foi o ponto da virada na condição de Abraão. Em espírito, por um momento, ele entra no reino, erguendo um novo altar, um altar ao “Deus eterno”, e plantando um bosque. Isso foi muito bom, e considerei seu caráter em seu lugar (Veja “Abraão”). Mas o mesmo aconteceu agora com Jacó, como então com Abraão. Assim que José, o filho da promessa, que testemunhou a graça e a força de Deus, lhe é dado, ele concebe o pensamento da liberdade e do lar.

 

Este foi um exemplo excelente e impressionante da inteligência de uma nova mente em Jacó. O caminho de fé, devo acrescentar, é visto em Raquel na mesma ocasião, pois ela chama seu filho de “José”, isto é, “acrescentando”. Assegurando que o Senhor, que agora havia começado Suas misericórdias para com ela, iria com eles e os aperfeiçoaria. Como a fé agora em nosso coração e em nossos lábios, no mesmo espírito, diz: “Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?” A partir de Suas dádivas, Raquel não apenas “fez um apelo para pedir ainda mais”, mas, com uma fé ainda mais ousada e feliz, chegou à conclusão de confiar n’Ele para obter ainda mais.

 

Mas, embora tenha sido assim, a ligação entre Labão e Jacó continua por um tempo após o nascimento de José, até que a separação ocorre sob a força de outras circunstâncias, deixando Labão, ainda mais do que antes, uma espécie de estátua de sal, ou uma lembrança solene para nós do que nosso miserável coração é capaz.

 

Parte 3 – Retorno de Jacó 

O tempo de sua servidão termina em Gênesis 31. Ele está então voltando de Padã-Arã para Canaã; as principais cenas de sua jornada foram no Monte Gileade, logo após sua partida, e em Maanaim, perto do riacho Jaboque, um pouco antes de ele entrar na terra.

 

Foi no monte Gileade que ocorreu a separação entre ele e Labão, pois Labão o havia perseguido até lá. Mas ali eles fazem um pacto, oferecendo sacrifícios e depois comendo juntos o sacrifício.

 

Tal cena, em mistério, exibe nossa bênção. Pois desfrutamos de uma aliança de paz, garantida por um sacrifício e testemunhada por um banquete. Assim, na noite da redenção do Egito, o altar e a mesa, isto é, o sacrifício e o banquete, estão lá novamente.

 

O sangue está no umbral da porta, e a família, assim resgatada e protegida, está lá dentro, alimentando-se do cordeiro, cujo sangue estava protegendo-os e livrando-os.

 

Dignidade da fé 

Mas há outra coisa a ser notada nesta ocasião: é Jacó quem oferece o sacrifício.

 

Isso tem um grande caráter em si. Diz-nos que Jacó conhecia seu lugar e dignidade sob Deus. Labão tinha todas as reivindicações que a natureza, ou a carne ou o parentesco poderiam conferir, mas Jacó age apesar delas. Labão era o mais velho; ele era o senhor e o sogro. Mas ainda assim Jacó toma o lugar do “melhor” e oferece o sacrifício, com o mesmo espírito de fé de Abraão ao entrar em concerto com o rei de Gerar (Gn 21); ou como Jetro em Horebe, no meio do Israel de Deus, e na presença de Arão (Êx 18).

 

Tais casos estão entre os triunfos da fé; e também não são triunfos inferiores. Não é algo fácil conhecer nosso elevado título em Cristo e de forma alguma renunciar a ele, mesmo quando as circunstâncias possam nos humilhar. Jacó estava sob disciplina em Padã-Arã. Ele não tinha altar lá. Diante de Deus ele era mais um penitente do que um adorador. Mas antes de Labão ele se conhece como santo, e aqui, no Monte Gileade, ele tem sua coluna, seu sacrifício e seu banquete, e exerce aquela fé que o encoraja a agir de acordo com sua dignidade de santo e sacerdote de Deus, na presença de todas as reivindicações da carne e do sangue. Eliú, no livro de Jó, embora renunciando a si mesmo diante dos mais velhos, afirma nele a possessão do Espírito, diante das mais elevadas reivindicações da natureza.

 

É muito encorajador testemunhar tais fragmentos da mente de Cristo nos santos. Jacó nunca suspeitou de seu título em Cristo, do começo ao fim, embora estivesse sob disciplina todos os seus dias. E isto é abençoado – abençoado por ocupar o lugar que a graça, em suas riquezas, em suas excessivas riquezas, em sua glória e em sua abundância, nos dá. Não acredito que se Pedro, em João 21, tivesse o propósito de alcançar o Senhor como um penitente, ele teria corrido em direção a ele como fez. Um penitente teria se aproximado com um passo mais comedido. Mas Pedro não estava pensando em sua recente negação de seu Senhor, mas no próprio Senhor. Seu passo foi, portanto, apressado e mais rápido. Ele havia pecado contra seu Mestre, é verdade, e poderia ter ficado retraído e envergonhado. Mas, é maravilhoso dizê-lo, assim como Pedro, o penitente, não teria empreendido uma jornada tão pronta e tão séria, assim também Pedro, o penitente, não teria, no final dela, sido tão bem-vindo ao seu Mestre, como o confiante, embora errante, Pedro foi. Nisto está a graça e o coração dAquele “com Quem estão todos os nossos assuntos agora”.

 

Jacó mostra sua natureza novamente 

Estes são apenas fragmentos, pilares quebrados nos templos de Deus. A natureza ainda é natureza; e Jacó, logo depois de tudo isso, se revela ainda como o velho Jacó.

 

Alguém disse que se o Senhor tivesse afrouxado a mão com Jó, quando a primeira provação terminasse, Jó não teria recebido a bênção. Houve uma trégua; e poderia se ter pensado que tudo havia terminado. Mas o fim de Deus na graça ainda não foi alcançado; e podemos ter certeza de que a malícia de Satanás ainda não foi satisfeita. O adversário incansável recomeça, o Senhor lhe dá lugar novamente e Jó é visitado pela segunda vez.

 

E a natureza é tão incansável quanto Satanás. Expulse-a e ela retornará. Acabamos de ter esta pequena pausa no caminho da natureza, em Jacó, no Monte Gileade, e vimos por um momento a melhor mente nele, e algumas expressões da glória, mas estamos indo rapidamente, muito rapidamente, na verdade, para ver o velho homem novamente.

 

Jacó sai do Monte Gileade e, ao se aproximar dos limites da terra, os anjos de Deus o encontram. Jacó imediatamente os reconhece. “Este é o exército de Deus”, diz ele, e chamou o lugar de Maanaim.

 

Este era um solo santo. Os compromissos de Gênesis 28 foram cumpridos – as promessas de Betel foram resgatadas. Consequentemente, não temos escada aqui. A tutela providencial e angélica cumpriu seu ministério; Jacó foi mantido em uma terra distante e trazido para sua própria terra. A escada pode, portanto, ser retirada; e em vez de anjos subindo e descendo como entre o céu e o patriarca, anjos o encontram. Eles estão diante dele, apenas para saudá-lo ou para dar suas boas-vindas em seu retorno. O Senhor Deus de seus pais e das promessas estava dando as boas-vindas ao nosso patriarca, e ministros dos átrios celestiais foram enviados para expressar a mente de seu Rei para com ele.

 

Isso estava “tocando” para Jacó, e Jacó deveria ter “dançado”. Ele deveria ter respirado um espírito exultante. Ele já deveria estar em triunfo, antes da batalha ser travada, ou mesmo dos exércitos serem organizados. Ele deveria ter entrado em campo com cânticos, como Josafá. Se as hostes do céu pairavam por ele assim, o que ele tinha a temer das hostes de Esaú? “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Mas não foi assim com ele. Ele “lamenta”, em vez de dançar, com esse toque. Ele treme, ora e calcula. Ele comanda sua força, como se a batalha fosse dele. Tudo isso é religioso, mas também é incredulidade; e tudo isso faz o Senhor Se ressentir. Certamente Ele Se ressente. Tudo estava fora de harmonia em Seus ouvidos. Ele havia recebido Jacó em casa com todos os sinais de boas-vindas sinceras e honrosas, mas Jacó estava desanimado.

 

Confiando no Senhor na vida diária 

O Senhor procura ser um conosco e que sejamos um com Ele; de modo que a discordância de alma nunca pode agradar a Ele. Ele resiste a Jacó. “Lutou com ele um Varão”, como lemos, “até que a alva subia”. Esta foi a resposta de Deus à sua oração. E tudo isso é muito significativo e traz lições para nós.

 

É muito mais fácil para nós confiar no Senhor em todas as questões que surgem entre Ele e nós mesmos, do que trazê-Lo, usá-Lo e confiar n’Ele em questões que surgem entre nós e os outros – é mais fácil confiar n’Ele para a eternidade do que para o amanhã; porque a eternidade está inteiramente em Suas mãos. O amanhã, como julgamos, está mais ou menos dividido entre Ele e os outros – no poder das circunstâncias e também de Deus. Abraão, em sua época, revelou isso. Ele saiu a mando do Deus da glória, deixando país, parentela e casa paterna; mas assim que veio a fome, sua fé falhou e, em vez de confiar no Senhor diante das circunstâncias, ele desceu ao Egito.

 

Jacó, em Maanaim, revela o mesmo caminho fácil e comum da natureza. Ele é incapaz de confiar em Deus diante de Esaú. Os 400 homens de Esaú o assustam, e ele interporá, primeiro, seus mensageiros com palavras de paz e amizade, e depois, seus presentes, para que por um ou outro ele possa acalmar o ardor da ira de seu irmão. Ele não tem fé em Deus, a ponto de colocá-Lo entre ele e Esaú. Ele treme, e ora, e calcula, e coloca sua casa em fileiras. As circunstâncias foram demais para ele. Mas imediatamente depois, quando o próprio Senhor o resiste, quando se torna uma questão entre ele e Deus, então ele é ousado e prevalece. Ele não desmaia, embora repreendido, e repreendido severamente, pelo Senhor. Ele se comporta como um defensor da fé e obtém uma boa fama. Ele se comporta como um príncipe e ganha novas honras. Esta é uma experiência comum, e este momento na história de Jacó no riacho Jaboque expressa isso.

 

Advertência para nós 

Contudo, não há necessariamente, numa vitória como esta, uma cura para a covardia que ocasionou o conflito anterior. E Jacó está prestes a ilustrar isso para nossa admoestação adicional. No capítulo seguinte (Gênesis 33), que é apenas a continuação da mesma ação, ou um estágio adicional dela, encontramos-lhe o mesmo homem tímido, incrédulo e calculista, na presença de Esaú, como havia sido, antes de vencer o Lutador em Jaboque.

 

Isto é uma advertência para nós. Pode haver exercício de espírito diante de Deus, mas não muito progresso na força da alma para continuar seu conflito com o mundo. Em nenhum estágio de sua história Jacó parece tão moralmente inferior do que naquele que se segue imediatamente a Peniel. Ele não está de forma alguma purificado de si mesmo. Ele calcula, é evasivo, finge amabilidade e  confiança, mente, lisonjeia. Ele se posicionou contra o Estranho em Jaboque. Ele foi forte na fé, glorificando a graça de Deus, mesmo quando o caminho de Deus tinha uma controvérsia com ele. Mas diante de Esaú ele age como o velho Jacó com vergonhosa perfeição. Ele se livra de seu irmão por meio de um pretexto grosseiramente falso. Ele não é nada melhor do que um bajulador mesquinho, um cortesão servil, falando descaradamente da face de Esaú como da face de Deus. É tudo miserável – uma imagem humilhante da condição moral a que um santo pode chegar, por um tempo, se é permitido a natureza agir.

 

Há momentos de alegria de espírito e podemos ser gratos por eles; como quando Jacó disse recentemente, no capítulo anterior: “Este é o exército de Deus”; e novamente: “Tenho visto a Deus face a face, e a minha vida foi preservada”. São momentos de alegria de espírito. Mas então, podem ser apenas refrigérios e não uma edificação sólida. E é triste, de fato, ver um santo depois desses momentos regressar tão rapidamente a si mesmo, dizendo: “Onde está então a bem-aventurança de que você falou?”

 

E quem confiará em seu próprio coração, quando vemos, por meio de tudo isso, que o de Jacó era tão falso? Jacó havia perdido o conhecimento do nome de Deus. Ele teve que perguntar sobre ele, em vez de usá-lo e desfrutá-lo. Esse nome era “Todo-Poderoso”, o nome que lhe falava de toda suficiência para todas as suas necessidades. Mas Jacó o perdeu em Gênesis 32, e ele não é como alguém que o tivesse recuperado em Gênesis 33. Ele está planejando por si mesmo. E podemos, da mesma forma, perder o nome que nos foi revelado. Esse nome é “Pai” – um nome que pode dar calma, força e liberdade permanentes à alma. Ele prepara um lar para o coração. “Aquele que permanece no amor permanece em Deus”. Isso é suficiente para tornar pleno o nosso gozo, como fala João. E embora possamos estar sob Suas mãos para disciplina, como Jacó estava, ainda assim devemos conhecer o poder desse nome, o amor pleno, secreto e imutável de um pai. Como Jacó nestes dois capítulos, perdemos o nome de Deus, se não for assim com as nossas almas. “Já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos”, diz-nos o apóstolo. E Jacó, portanto, pode não ser mais uma maravilha para nós, mas às vezes podemos ser uma maravilha para nós mesmos.

 

Esquecendo o chamado 

Depois disso, em sua jornada a partir do local onde ele e Esaú se separaram, ele chega a Sucote e depois a Siquém, e podemos dizer que ele então retornou a Canaã. Mas a situação é cada vez pior com ele. Parece que, por um tempo, ele se esqueceu completamente do que ele mesmo era e do chamado de Deus. E o mal será a consequência. Espera-se por consistência com nosso chamado. Todos nós somos infiéis ao nosso chamado, e isso de mil maneiras; mas se ele for voluntariamente desconsiderado por uma consciência despreocupada e frouxa, as defesas morais mais comuns poderão em breve ceder. A verdade e a integridade podem ser forçadas a ceder, e podem finalmente ser encontradas tais contaminações que não seriam, como fala o apóstolo, sequer nomeadas entre os gentios.

 

Em Sucote, aonde nosso patriarca chegou pela primeira vez, ele constrói uma casa; e depois em Salem, em Siquém, ele compra um campo – o que Abraão e Isaque, mais fiéis ao chamado de Deus, nunca fizeram e nunca teriam feito. Como ele poderia contar com segurança moral sob tais circunstâncias? A tenda foi trocada por uma casa, e o peregrino estrangeiro tornou-se cidadão e livre proprietário. Não foi tudo isso um esquecimento de si mesmo sob o chamado de Deus? O Senhor, muito depois disso, fez com que Davi soubesse, por meio de Seu servo Natã, que havia uma diferença entre uma casa e uma tenda, e que Ele desejaria que essa diferença fosse mantida (1 Cr 17). Mas aqui em Sucote, Jacó viola isso. Assim também é o memorial divino dos patriarcas em sua pureza, que habitaram em tendas (Hb 11:9); mas aqui em Sucote, Jacó voluntariamente perde esse memorial. E novamente, o Senhor não deu a Abraão nenhuma terra, nem ainda o espaço de um pé para pisar (At 7:5); mas aqui em Salém, em Siquém, Jacó, apesar disso, terá um terreno e o comprara como herança.

 

Um altar falso 

O altar, que vem a seguir na descrição, para a casa e para o campo, pode parecer à primeira vista um alívio e um santificador, a única coisa boa no meio da corrupção. Mas é, talvez, o pior de tudo. Ele não foi levantado Àquele que lhe havia aparecido. Não houve comunhão entre o Senhor e Jacó, nem em Sucote nem em Siquém. Siquém não era Betel, e essa parte do campo, onde El-Elohe-Israel (TB) foi erigido, não era o lugar de pedras e destituição, onde a graça abundante brilhou desde um céu aberto sobre a cabeça abandonada do patriarca, mas a parte do campo que Jacó comprou dos filhos de Hamor, pai de Siquém. Foi erigido, não por um estrangeiro celestial ao Deus que o visitou, mas no meio dos incircuncisos. Parece uma tentativa de obter a sanção do Senhor para a perda do caráter separado, peregrino e nazireu de Jacó; ligar Seu nome e Sua adoração com aquilo sobre o qual pairava Seu juízo, e para com aquilo que Sua longanimidade foi mostrada até que a iniquidade fosse completa.

 

Certamente é antes um Jacó incircunciso que vemos aqui, e não siquemitas circuncidados. É tudo miserável. Este é um filho de Abraão? Este é um santo de Deus? Será este um dos estrangeiros de Deus num mundo que se revoltou contra Ele? Isto é como a energia religiosa da Cristandade, que colocou o nome de Cristo em companhia do mundo que está sob Seu juízo, e apenas suportado em Sua longanimidade. É como se Israel tivesse consentido com o Faraó e se comprometido a dar a Jeová um altar no Egito. Mas tais altares não são altares – assim como outro evangelho não é outro. Tal religião é vã, seja praticada nestes primeiros dias em Siquém, ou agora nestes dias da Cristandade, entre as nações de um mundo julgado e condenado, do qual a separação é o chamado de Deus. Mas isso não vai funcionar. Um intercâmbio de aparência saudável com o mundo se seguirá, e o seu curso será seguido avidamente, sem vigilância ou convicção, mas os serviços religiosos familiares e as ordenanças religiosas nacionais, a ordem moderna em Siquém, serão desejados a todo o tempo.

 

Foi por causa do fruto de tudo isso que Jacó disse depois: “No seu secreto conselho, não entre minha alma; com a sua congregação, minha glória não se ajunte”. Pois é à ação de Gênesis 34 que Jacó se refere, quando estava prestes a morrer, em Gênesis 49. Ele descobre, no final, o verdadeiro caráter de tudo isso – fruto de ter habitado em Siquém. Voluntariamente um homem foi morto ali e uma cerca foi derrubada. Mas certamente o próprio Jacó já havia derrubado a cerca de Deus antes. O muro divisório que o chamado de Deus levantou entre o limpo e o impuro, entre a circuncisão e o gentio, o próprio Jacó, em espírito, quebrou quando se estabeleceu como cidadão ou proprietário em sua propriedade adquirida em Siquém. E Simeão e Levi podem aperfeiçoar isso, assim que quiserem.

 

Roupas sujas e misturadas 

“E saiu Diná, filha de Léia, que esta dera a Jacó, a ver as filhas da terra” (Gn 34:1). Foi este o caminho da casa de Abraão? Esta era a família do patriarca separado que guardava o caminho do Senhor? Abraão foi negligente nisso? Que relacionamento ele permitiu aos seus filhos com os filhos ou com as filhas da terra?

 

É tudo triste e proclama a sua própria vergonha. Siquém fica ao lado de Sodoma. Mas não é Sodoma, garanto. Jacó não é Ló. Podemos distinguir; e temos que distinguir, embora seja triste ter que fazer o trabalho de distinguir. A natureza prevalece, em alguns mais, em outros menos, em todos os santos de Deus registrados. Mas há variedade moral, bem como a prevalência da natureza, e “coisas que diferem” (KJV – margem) entre os santos devem ser distinguidas por nós. Há uma roupa suja e há uma roupa misturada. Nosso caminho, sob o Espírito, é manter a roupa tanto limpa quanto sem mistura. Certamente é para cada um “guardar-se incontaminado do mundo”. Mas ainda assim, uma vestimenta suja não é uma vestimenta mista, uma vestimenta, como diz a Escritura, “de estofo misturado, de lã e linho juntamente” (AIBB). Nem uma vestimenta com um fio de “diferentes espécies” deve ser confundido com uma vestimenta mista, cuja textura é forjada com base no próprio princípio da lã e do linho. A Escritura, sempre fecunda e perfeita, exibe caráteres formados pelos chamados “princípios mistos”, e também caráteres que ocasionalmente revelam a mistura, mas que não são totalmente formados por eles. A vida de Ló foi formada completamente por princípios mistos. Assim que a tentação se dirigiu a ele, ele entrou em conexão com o mal. Embora associado ao chamado de Deus, ele teve que ser salvo como que pelo fogo. A vestimenta que Ló usava era de vários tipos, de lã e de linho. Abraão, às vezes, usava roupas sujas, mas nunca misturadas. Ló não foi fiel ao chamado de Deus desde o início até o fim de sua carreira. Ele se tornou cidadão onde deveria ser um estrangeiro, tomando uma casa na cidade de Sodoma, enquanto Abraão atravessava o país de tenda em tenda. E a vida de falsos princípios de Ló o leva a tristezas que são sua vergonha – e essa é a verdadeira miséria da tristeza. Ele não teve conforto em sua tristeza. Sua alma justa foi afligida: isto é dito sobre ele; mas não havia gozo, nem brilho, nem triunfo em seu espírito. Os anjos mantiveram muita reserva em relação a ele. Ele teve que escapar com sua vida como despojo e com a perda de tudo o mais a sua volta.

 

Nosso Jacó não era desta geração. Não ousamos dizer que ele era um homem de princípios mistos, ou que usava roupas de vários tipos, de lã e linho. Mas ele frequentemente usava uma roupa suja, e aqui em Sucote e em Siquém, uma roupa com fios de outra espécie tecidos nela. Seus esquemas e cálculos o desfiguram e são a roupa suja; a construção de uma casa em Sucote e a compra de um campo em Siquém, infiéis ao chamado de Deus e à vida na tenda de seus pais, parecem muito com uma vestimenta com fios de outra espécie tecidos nela.

 

Mesmo assim, Jacó não será colocado com Ló. Sua vida não foi formada por princípios mistos. Ele era realmente um estrangeiro para Deus na Terra. Mas, como Ló, ele voluntariamente esteve no lugar dos incircuncisos; e ele agora sentiria a amargura de seu próprio caminho; e muito do que Sodoma foi para Ló, Siquém é agora para Jacó. Ele é salvo (não posso dizer?), mas como sendo pelo fogo. A iniquidade de Simeão e Levi, com os instrumentos de crueldade que havia em suas habitações, abateu muito o pobre Jacó. Ele está perdendo o juízo no meio daquele povo, de quem comprou sua propriedade e na vizinhança de quem, como Ló, consentiu em se estabelecer.


J. G. Bellet

 

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