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Foto do escritorJ. G. Bellett (1795-1864)

O Filho de Deus - Parte 4/6

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O Filho de Deus

John Gifford Bellett 

 

Capítulo 4


“Recebido acima, em glória” (1 Tm 3:16 – JND).


Nos dias passados, os anjos desejavam atentar para as coisas de Cristo (1 Pe 1:12). Quando essas próprias coisas se manifestavam e se cumpriam, esse desejo era atendido, pois na história, como a encontramos nos evangelistas, os anjos são colocados como testemunhas oculares daquilo que há muito desejavam contemplar. Eles têm o privilégio de encontrar o lugar e o gozo deles na história de Cristo no “mistério da piedade”, e para encontrá-lo no santuário de Deus, assim como antigamente. Naquele santuário, é verdade, tudo era para uso e bênção dos pecadores. Os altares, a pia e o propiciatório, e tudo mais, foi fornecido para nós. A ação e a graça da casa de Deus eram para os pecadores. Mas os querubins contemplavam. Eles foram colocados naquela casa para olhar para seus mistérios mais profundos. E assim, na mesma condição, os encontramos no dia das grandes originações, ou das próprias coisas celestiais, quando “Deus Se manifestou em carne”. Pois então, é igualmente verdade, tudo era para o serviço e salvação de nós pecadores, ou para que Deus, assim manifestado, fosse “pregado aos gentios” e “crido no mundo”, mas ainda assim, tudo foi certamente para este fim, para que Ele pudesse ser “contemplado por anjos” (ARA).

 

Assim, eles tomaram o mesmo lugar no santuário de outrora e no próprio grande mistério. Eles olharam, contemplaram, eram testemunhas oculares. E, além disso, a visão que eles tiveram do mistério era do mesmo caráter intenso e interessado que os querubins haviam expressado antes no Santo dos Santos. “E os querubins estendiam as asas por cima, cobrindo com as asas o propiciatório; e os seus rostos estavam defronte um do outro; o rosto dos querubins estava virado para o propiciatório” (Êx 37:9). E assim, na história de Cristo, a Arca Verdadeira, eles seriam assim vistos novamente.

 

O anjo do Senhor veio, em sua comissão e ministério do céu, anunciar aos pastores de Belém o nascimento de Jesus. Mas, assim que cumpriu seu serviço, “no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens!” (Lc 2:13-14). E quando chegou a hora de outro grande evento, e “Deus manifesto em carne” foi ressuscitado dos mortos, para logo ser “recebido acima em glória” (JND), os anjos se apresentam novamente com o mesmo intenso e atento deleite. No sepulcro, enquanto Maria Madalena olhava, dois deles estavam sentados, “onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés”, e no momento crucial da ascensão, eles se apresentam novamente, instruindo os homens da Galileia sobre os próximos passos do caminho d’Aquele que acabara de subir ao alto (Jo 20; At 1).

 

O que pairava sobre o propiciatório era tudo isso! Que olhar de querubim foi esse repetidamente! Aquela declaração das hostes celestial nos campos de Belém não fazia parte do ministério deles para o homem, mas foi um ato de adoração a Deus. Eles não estavam então instruindo os pastores, nem mesmo se dirigindo formalmente a eles, mas exalando o êxtase em que o próprio espírito deles estava envolvido ao pensar sobre Aquele que então nascera. E foi assim a atitude deles no sepulcro. Quando Maria aparece, eles tinham, na verdade, uma palavra de empatia para ela, mas lá estavam eles no sepulcro antes que ela tivesse vindo, e lá estariam se ela nunca tivesse ido. Assim como os querubins do tabernáculo estavam sobre a arca e o propiciatório, de um lado e de outro, agora no sepulcro os anjos estavam sobre o lugar onde o corpo de Jesus jazera, um à cabeceira e outro aos pés.

 

Que maneiras de contemplar a Jesus eram essas! Como lemos, “Deus Se manifestou em carne, visto dos [contemplados por – ARA] anjos”. Que nós, amados, possamos desejar a graça de ter as mesmas declarações e atitudes em relação a Jesus. E que possamos lamentar o que em nosso coração está aquém disso, por mais que saibamos como tudo isso é grandioso. Acredito que muitos de nós precisamos ser mais atraídos por essas coisas do que somos. Muitos de nós habitamos (se me é permitido distinguir tais coisas por tais termos) mais na luz do conhecimento das dispensações divinas, do que no calor de tais mistérios como Belém, o jardim e o Monte das Oliveiras, revelado aos anjos extasiados. Mas nisso temos sido perdedores – perdedores em grande parte daquela comunhão que marcou o caminho e o espírito de outros em outros tempos. Meu desejo tem sido voltar-me para essa “grande visão”, conduzido dessa forma pela condição das coisas ao nosso redor e entre nós.

 

Glorioso, não preciso dizer, é o Objeto – a mesma Pessoa, “Deus manifestado em carne”, seguido pela fé da manjedoura à cruz, desde a cruz passando pela sepultura, pela ressurreição, e daí para os céus atuais, e as eras eternas além deles.

 

O Espírito Santo – de uma maneira que agora consideraremos por um tempo – faz com que seja Seu gracioso trabalho ajudar essa visão de fé, formando cuidadosamente diante de nós (por assim dizer) os elos entre as partes ou estágios dessa jornada maravilhosa, “Deus manifestado em carne... recebido acima em glória”. Pelo apóstolo João, como nossas meditações anteriores podem ter nos levado a ver, o Espírito revela ou declara muito especialmente o elo entre “Deus” e “carne” na Pessoa de Jesus. Ouvimos isso no início do seu evangelho e da sua epístola. Não preciso repetir aqui. Mas, é claro, todos os escritos divinos assumem ou proferem essa verdade, de diferentes maneiras, assim como João. Mas é o outro elo, ou aquele entre “Deus manifestado em carne” e “glória” ou os céus, que é antes de tudo o nosso presente assunto no progresso dessas meditações, de modo que agora passaremos, com evangelistas e anjos, de Belém ao jardim do sepulcro e ao Monte das Oliveiras.

 

O Evangelho de Mateus, de uma forma geral, testemunha a ressurreição. Para ter certeza disso, os anjos no túmulo declaram isso; as mulheres, no caminho de volta para a cidade abraçaram os pés do Salvador ressuscitado, e os discípulos O encontram no monte da Galileia.

 

Marcos fala de várias aparições do Senhor aos Seus, após Sua ressurreição, a quem Ele havia escolhido, como, a Maria Madalena, a dois deles enquanto caminhavam para o campo, e aos onze enquanto se sentavam à mesa.

 

Lucas, no entanto, entra mais cuidadosamente nas provas que Jesus deu a Seus discípulos, que era de fato Ele mesmo e nenhum outro que estava no meio deles novamente. Ele come diante deles. Ele lhes mostra as Suas mãos e o Seu lado. Ele lhes diz que um espírito não tem carne nem ossos, como eles viram que Ele tinha. Ele mostra, nos Salmos e nos profetas, que assim deveria ser.

 

João ainda tem seu próprio estilo peculiar, ao lidar com esse comum testemunho. Em seu evangelho, podemos dizer que tudo com o Senhor é força e vitória, e assim foi no sepulcro, como em qualquer outro lugar. Quando os discípulos o visitaram, viram os lençóis de linho no chão e o lenço, que estava sobre a cabeça do Senhor, enrolado num lugar à parte. Não havia nenhuma perturbação, nenhum indício de esforço ou de luta, nenhum sinal como se algo árduo tivesse sido realizado lá. Tudo ficou como um troféu e testemunho da vitória, e não como o calor e a luta de batalha. “Louvado, louvado seja o Conquistador morto”, é a voz do túmulo, ao ser aberto diante de nós por João. E se o lugar assim fala, o mesmo acontece com o próprio Senhor depois. Não que Ele comprove Sua ressurreição da mesma maneira que O encontramos fazendo em Lucas. Ele não lhes dá, tão apropriadamente, sinais visíveis de que Ele próprio estava no meio deles novamente. Ele não come e bebe com eles aqui, como havia feito lá. O peixe assado e o favo de mel não são citados como parte da evidência. Mas em outros tribunais, por assim dizer, a verdade de Sua ressurreição é registrada. Ele a confirma ao coração e à consciência de Seus discípulos. Sua voz no ouvido de Maria diz a ela Quem Ele era, porque o coração dela estava familiarizado com esse nome naqueles lábios; e Suas mãos e lados perfurados foram mostrados, para que essas coisas pudessem falar de paz à consciência de outros, na certeza do sacrifício aceito; sim, até mesmo para extrair, das profundezas e segredos da alma de um deles, o grito de plena convicção: “Senhor meu e Deus meu!”.

 

Assim, os evangelistas nos conduzem ao jardim do sepulcro. O Monte das Oliveiras também tem suas testemunhas – a ascensão assim como a ressurreição de Jesus. E, novamente, eu diria, com certeza tem.

 

Nem Mateus nem João, no entanto, declaram isso. O evangelho de Mateus se encerra quando o Senhor ainda está no monte na Galileia. Do mesmo jeito, João não nos leva ao Monte das Oliveiras ou à Betânia. Em uma ação simbólica, como eu entendo, depois que os discípulos terem jantado em Sua presença na margem do Mar da Galileia, Ele anuncia que está indo para a casa do Pai e que eles O seguirão até lá, mas não é a ascensão propriamente dita, não é a cena em Betânia, não é na verdade a transladação do Senhor da Terra para o céu (Jo 21).

 

Marcos, no entanto, afirma o fato: Quando o Senhor terminou de falar com Seus discípulos, Ele foi recebido no céu e assentou-Se à direita de Deus. Aqui o fato, o próprio momento da ascensão, é declarado. Mas, posso dizer, isso é tudo. É simplesmente a ascensão d’Aquele que tinha todos os direitos e honras pertencentes a Ele e que O aguardavam nas alturas, mas entre os discípulos não há comunhão, em espírito, com aquele evento. A história em Marcos não nos diz se os discípulos foram ou não testemunhas oculares disso.

 

Mas Lucas nos dá algo muito além disso. Em seu evangelho, a ascensão do Senhor é testemunhada por olhos e corações que tinham, e sentiam que tinham, seu próprio interesse imediato e pessoal nela: “E levou-os, até Betânia; e, levantando as mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os Ele, Se apartou deles e foi elevado ao céu. E, adorando-O eles, tornaram com grande júbilo para Jerusalém. E estavam sempre no templo, louvando e bendizendo a Deus. Amém!” (Lc 24:50-53).

 

Assim, então, sendo o Homem ressuscitado dentre uma multidão de testemunhas de que Ele era de fato o mesmo Jesus, Ele chega aos céus. E embora uma nuvem O tenha recebido fora da visão deles, Ele foi reconhecido como estando além dela, no mais alto, ainda era o mesmo Jesus. Jesus, que havia comido com eles nos dias de Sua peregrinação entre eles, agora havia comido com eles em Seus dias de ressurreição. Jesus, que lhes dera uma multidão de peixes nos dias de Sua peregrinação entre eles, agora lhes dera uma multidão de peixes em Seus dias de ressurreição. Jesus, que havia abençoado o alimento e dado a eles então, o fez da mesma maneira agora; e este era Aquele que agora havia subido aos olhos deles. Como todas as etapas desta maravilhosa jornada são assim distintamente rastreadas para nós, embora de várias maneiras, pelo mesmo Espírito, nos evangelistas! Temos Aquele mesmo Bendito em vista, em Belém, no jardim da ressurreição e no monte da ascensão. Manifesto em carne, o Filho fez Sua jornada de Belém ao Calvário. Ressuscitado dos mortos, com as mãos e o lado feridos, comeu e bebeu com Seus discípulos durante quarenta dias; e então, com as mesmas mãos e o lado feridos, Ele subiu aos céus. Ele lhes deu conselhos depois de ressuscitar, como havia feito antes. Ele confiou uma comissão e ministério a eles então, como antes. Ele os conhecia e os chamava pelo nome, assim como antes. E, por fim, quando olharam para Ele como se O tivessem perdido para sempre, o anjo aparece para dizer-lhes que “este mesmo Jesus” ainda tinha outros caminhos a percorrer por eles: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu? ESSE MESMO (KJV) JESUS, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu O vistes ir” (At 1:11).

 

E esse é o segredo ou o princípio de toda religião divina. Esse é “o mistério da piedade”. Nada mais recupera o homem para o conhecimento e adoração de Deus, a não ser o entendimento e a fé disso por meio do Espírito. Esta é a verdade que forma e enche a casa de Deus: “Deus manifestado em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e recebido acima, em glória” (1 Tm 3:16 – JND).

 

Será que, de fato, amados, vividamente e constantemente mantemos em vista essa Pessoa única do início ao fim? Ele passou pelas fadigas e tristezas da vida, morreu na cruz, ressuscitou das entranhas da Terra e subiu ao lugar mais alto do céu. Os elos são formados para nunca serem quebrados, embora unam o mais alto e o mais baixo. O Espírito os mantém à nossa vista, conforme Ele os formou, e os mantém à vista para momentos de desejo e deleite divinos. Em passagens como os Salmos 23 e 24, com que rapidez Ele leva Seu profeta da vida humilde de fé, dependência e esperança, que Jesus passou aqui nos dias de Sua carne, até o dia de Sua entrada como “o Senhor poderoso na guerra”, “o Senhor dos Exércitos”, “o Rei da glória”, nas “entradas eternas” de Sua Jerusalém milenar!

 

Estamos, em espírito, nesse caminho com Ele também? E, mais uma pergunta para nossa alma, que pode muito bem humilhar alguns de nós de novo, estamos em poder real e vivo com nosso Senhor no presente estágio desta jornada misteriosa? Pois Ele ainda é neste mundo, o Cristo rejeitado. Até que ponto estamos, em espírito, com Ele como tal? Estamos considerando “Este pobre” Homem (Sl 34:6) ou continuamos com Jesus em Suas tentações? (Sl 41:1; Lc 22:28). “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?” (Tg 4:4). Jesus não passou a ser Alguém no mundo depois de Sua ressurreição mais do que antes. A ressurreição não fez diferença quanto a isso. O mundo não era mais para Ele então do que havia sido em outros dias, quando, como sabemos, Ele não tinha onde reclinar a cabeça. Ele deixou o mundo para ir para o céu então, como o havia deixado para ir ao Calvário antes. Quando Ele nasceu, a manjedoura em Belém O recebeu: Agora, ressuscitado dos mortos, o céu O recebe. Como nascido, Ele Se propôs à fé e aceitação de Israel, mas isso seria recusado por Israel. Como ressuscitado, Ele voltou a Se apresentar a Israel por meio dos apóstolos, mas seria recusado por Israel novamente; e Jesus ainda é o Estranho aqui. O tempo presente ainda é a época de Sua rejeição. Ele estava solitário na estrada de Jerusalém para Emaús, como havia estado antes no caminho de Belém para o Calvário, embora fosse o Homem Ressuscitado. Mas, amados, é em tal caráter que você e eu temos nos juntado a Ele no caminho?

 

Muitos pensamentos seriam demais para nós, se não fôssemos treinados para isso de acordo com o método da sabedoria divina: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”, diz nosso divino Mestre para nós; e, dessa forma, Sua “benignidade” nos torna “grandes”. Estamos preparados para ampliar as comunicações vindas d’Ele. Jesus pode anular distâncias, pois Ele pode controlar obstáculos. No lago de Tiberíades, Ele andou sobre as águas turbulentas e, quando entrou no barco, imediatamente foi para a terra para onde os discípulos foram (Jo 6:18-21).

 

Como são bem-vindas, as irradiações da glória oculta feitas dessa maneira, que estavam lá e irrompem, penetrando na alma! E o que temos que fazer senão abrir todos os acessos da alma e deixar Jesus entrar? A fé escuta. O Senhor teria feito a pobre samaritana, junto ao poço, simplesmente uma ouvinte do começo ao fim. Ela pôde falar, e de fato falou, mas quais foram suas palavras, senão o testemunho de que o entendimento, a consciência e o coração estavam todos se abrindo para Suas Palavras. E quando todo o vaso estava aberto, Jesus Se derramou nele.

 

É essa atitude de escuta de fé que ansiamos mais simplesmente ocupar; e especialmente ao traçar esses assuntos profundos e santos.

 

Estamos agora considerando brevemente com os evangelistas, os elos entre as partes deste grande mistério, os momentos de transição no progresso do caminho de nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus. Em outras palavras, estivemos com anjos e com discípulos em Belém, no jardim do sepulcro e no monte das Oliveiras.

 

Ao entrarmos no livro dos Atos dos Apóstolos imediatamente depois, ficaremos impressionados com isto: que o que preenche a mente dos apóstolos, e forma o grande peso ou pensamento de toda a pregação deles, é que Jesus de Nazaré, o Homem negado e crucificado aqui, estava agora no céu. Pedro faz com que seu primeiro e constante trabalho seja vincular ao fato da ascensão de Jesus de Nazaré toda a graça e poder que foram então, naquele dia de seu testemunho, ministrados desde o céu no meio do povo judeu. Com a descida do Espírito Santo, a profecia de Joel se torna (adequada e naturalmente, ou melhor, necessariamente) o texto do sermão de Pedro. Mas a maneira pela qual ele prega a partir dela é a seguinte: ele encontra Jesus de Nazaré, o Crucificado, nessa profecia. Ele declara que o Homem que havia sido recentemente aprovado por Deus no meio deles por milagres e sinais, está agora no céu e, como o Deus mencionado naquela profecia, tinha então derramado o Espírito prometido; e, além disso, que Ele mesmo era o Senhor mencionado naquela profecia, cujo Nome era agora para salvação, mas cujo dia será para julgamento em breve.

 

Esse é o sermão e a exortação de Pedro sobre o texto de Joel. É o Homem, que agora está no céu, que ele encontra ou declara em todas as partes desse magnífico discurso. Se João 1 pode dizer aqui que  encontrou em Jesus na Terra uma glória plena e imaculada, assim Pedro, encontra agora no céu, no lugar de toda graça, salvação e poder, o Filho do Homem, o Nazareno, que havia sido desprezado e rejeitado aqui.

 

Assim, no próximo capítulo, é Jesus de Nazaré, (o Nome de todo desprezo e escárnio entre os homens) agora glorificado nas alturas, de Quem Pedro fala e por Quem ele age. O mendigo aleijado na porta Formosa do templo é curado pela fé nesse Nome. E então o apóstolo declara ainda que Ele era o mesmo Jesus que os céus receberam, e O reteriam, até o momento em que Sua presença restabelecida trouxesse refrigério e restauração. E sendo desafiado pelos principais, no capítulo que se segue, com base nesse milagre de cura, Pedro manifesta esse mesmo desprezado Jesus de Nazaré como a Pedra rejeitada pelos edificadores aqui, mas colocada por “Cabeça de esquina” no céu.

 

Esse é o Nome, e esse é o testemunho. Se vemos os apóstolos diante do poder do mundo ou no meio das dores dos filhos dos homens, esse é o único pensamento deles. Aqui se encontra toda a capacidade, virtude e força dos apóstolos. E logo depois disso, esse mesmo Nome de Jesus é todo o apelo que eles têm e o fundamento de confiança na presença de Deus. Aquele fraco, como diriam os homens, o “Santo Menino Jesus”, a quem Israel e os gentios, Herodes e Pilatos, os reis da terra e os principais, haviam se oposto e recusado, é Aquele que eles esperam diante de Deus. Eles O conhecem no santuário agora, como O conheciam entre os homens antes. E observe o estilo diferente deles ao usar esse Nome. Observe a segurança com a qual se comprometem com os necessitados; a ousadia com que eles a disputam perante o mundo; e a ternura (“Teu Santo Filho Jesus”) com a qual suplicam a Deus. O mendigo na porta do templo fora curado por ela; e o lugar, onde eles assim mencionaram esse Nome, diante de Deus, tremeu, e eles foram cheios do Espírito Santo. Todo o poder agora é reconhecido no céu como pertencente a esse Nome, como antes todo o poder havia fluído d’Ele aqui. Sim, e mais, o mundo, ou o próprio inferno se treme com isso, pois o sumo sacerdote e os saduceus se enchem de indignação e lançam as testemunhas desse Nome na prisão comum.

 

Com tudo isso, Pedro, da maneira mais plena, expõe a fraqueza e a humilhação de Jesus, de Quem ele estava testemunhando repetidas vezes, ser agora exaltado ao mais alto dos céus. Isso é muito marcante nessas primeiras pregações dele. Jesus havia sido morto, diz Pedro, reduzido a nada, entregue, negado, preso, morto pendurado em um madeiro. Ele não se restringe a uma linguagem como esta. E, no mesmo espírito, parece gloriar-se no desprezado nome de “Jesus de Nazaré”. Ele tem isso em seus lábios repetidas vezes. Todas as formas de tristeza e de desprezo que “o Príncipe da Vida”, “o Santo e o Justo”, usava ou carregava em Seu coração, Seu corpo ou Suas circunstâncias aqui entre os homens, são lembradas e descritas por ele em seu estilo excelente e vívido, sob a nova unção do Espírito Santo. Este é Aquele em Quem ele se gloria, por meio de todos esses capítulos de seu primeiro ministério aos Judeus (At 2-5). E, no entanto, ele declara que Aquele que tinha sido assim tratado aqui, era a grande Ordenança de Deus, o “Senhor e Cristo”. Que um Homem no céu era o Senhor de Davi, que a Semente de Abraão foi levantada para a bênção, que o profeta prometido, semelhante a Moisés, foi elevado ao alto, foram palavras que Pedro falou com ousadia.

 

E assim como essa unção do Espírito Santo leva a Pedro testificar do Homem do céu, de Jesus de Nazaré, outrora negado aqui, mas então exaltado lá, da mesma forma o arrebatamento no Espírito Santo, logo depois, faz o mesmo com Estêvão. Se Pedro fala d’Ele no céu, Estêvão O  no céu. O pregador o declara sem temor, e o mártir O vê sem nuvens: “Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus” (At 7).

 

Assim, dessa maneira, o Espírito apresenta Jesus no céu aos lábios e aos olhos de Suas diferentes testemunhas. Mas é abençoado acrescentar, que Jesus no céu era uma realidade tão grande para Pedro quanto para Estêvão, embora Pedro conhecesse esse mistério somente sob uma unção, enquanto Estêvão o conhecia sob um arrebatamento, no Espírito Santo. Que nós, amados, conheçamos tanto a unção quanto o arrebatamento em nossa própria alma em mais do mesmo poder. Que possamos desfrutar disso à luz do Espírito agora, como desfrutaremos mais do que a essa visão para sempre.

 

Essa é a primeira pregação no livro de Atos, depois que o grande elo foi formado entre “Deus” e “carne”, e entre “Deus manifestado em carne” e “céu”. Mas que cena vasta e maravilhosa é assim mantida dentro da visão de fé, e tudo para nossa bênção, luz e gozo! Vemos os elos entre o céu e a Terra, Deus e os pecadores, o Pai e a manjedoura em Belém, a cruz do Calvário e o trono da Majestade nas alturas. Poderia o pensamento humano ter alcançado ou planejado uma cena como essa? Mas ei-la aqui diante de nós, uma grande realidade agora e para a eternidade. “Ora, isto – Ele subiu – que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da Terra?  Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” (Ef 4:9-10). O Espírito havia revelado o Deus da glória no Menino de Belém: e agora, quando todo o poder e graça são ministrados do céu, o derramamento do Espírito Santo, a cura das dores dos filhos dos homens, a salvação dos pecadores, a promessa de dias de refrigério e restauração, tudo isso é encontrado e declarado no, e a partir do Homem glorificado no céu.

 

Que mistérios divinos são esses, que ultrapassam toda a percepção do coração! “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”, foi a indagação do Senhor no dia de Sua humilhação, e a única resposta certa foi esta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. E depois, no tempo da pregação dos apóstolos, quando se pergunta a eles: “Com que poder ou em nome de quem fizestes isto?” A resposta divina é esta: “que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, Aquele a Quem vós crucificastes e a Quem Deus ressuscitou dos mortos, em nome d’Esse é que este está são diante de vós”.

 

Este é o Único, o mesmo Único, o único Único. Ele deixou Seu memorial nas “partes mais baixas da Terra” e o levou com Ele para cima, “acima de todos os céus”. Ele enche todas as coisas. Deus esteve aqui, o Homem está lá. O fato de que Deus esteve aqui na Terra em plena glória foi dito à fé em dias passados, o Filho entre os filhos dos homens; o fato de o Homem estar agora no céu, tendo passado por entre o desprezo e a afronta, a fraqueza e a humilhação da cena aqui, está sendo dito agora à fé da mesma maneira nestes dias. E a fé apreende o mistério de que é o Único, o mesmo Único, o único Único, que Aquele que subiu é também Aquele que desceu; que Aquele que desceu é também o Mesmo que subiu.

 

“Seu encontro glorioso”, para usar a linguagem de outro, “pois todos os atos e deveres de Seu ofício mediador foram resolvidos na união de Suas duas naturezas na mesma Pessoa. Aquele que foi concebido e nascido da virgem foi Emanuel, isto é, Deus manifestado em carne”, “um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu... e o Seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9). Aquele que falou aos Judeus, e como Homem tinha então pouco mais de trinta anos, era “antes de Abraão” (Jo 8). A obra perfeita e completa de Cristo em cada ato de Seu ofício, em tudo o que Ele fez, em tudo o que Ele sofreu, em tudo o que Ele continua a fazer, é o ato e a obra de toda a Sua Pessoa”.

 

Este é o mistério. A fé o apreende na plena certeza da alma. E a fé apreende mais do mesmo mistério, e ouve isto com inteligência e deleite: “justificado no Espírito... pregado aos gentios, crido no mundo”. Deus, embora manifestado em carne, foi justificado no Espírito. Tudo n’Ele era perfeita glória moral; tudo era, para a mente divina e para a aceitação divina, infinitamente, inefavelmente correto. Nós temos necessidade de uma justificação vinda de fora ou por meio de outro. Nada em nós se justifica por si só: tudo n’Ele se justificou. Nem uma sílaba, nem um sopro, nem um movimento, que não fosse uma oferta aceitável, agradável a Deus, um odor do mais suave cheiro: “Ele era tão imaculado como Homem quanto era como Deus; tão imaculado no meio das poluições do mundo como quando diariamente era o deleite do Pai antes que o mundo existisse”. A fé sabe disso, e o sabe bem, sem pensar em obscurecer isso. E, portanto, a fé também sabe que Sua história, as labutas e tristezas, a morte e ressurreição desse Bendito, “Deus manifestado em carne, justificado no Espírito”, não era para Si mesmo, como se Ele precisasse disso, mas para os pecadores, para que Ele e Sua preciosa história pudessem ser “pregado aos gentios” e “crido no mundo”. No sacrifício que Ele realizou, na justiça que Ele operou e trouxe, Ele é apresentado aos pecadores, mesmo os mais distantes, sejam eles quem forem, longe ou perto, gentios ou Judeus, para que possam confiar n’Ele, embora ainda estejam neste mundo, e ter certeza de sua justificação por meio d’Ele.

 

Não haveria tempo para observar e acompanhar esse mistério por toda a Palavra de Deus; mas eu acrescentaria que, entre todas as epístolas, à medida que seguem a partir de Atos, a epístola aos Hebreus é fundamental no que diz respeito ao serviço relacionado à nossa alma. “Recebido acima em glória” é uma voz ouvida durante todo esse oráculo divino do começo ao fim. Quem dera a alma tivesse em poder o que a mente tem em gozo ao ouvir tal voz!

 

Ninguém poderia escrever a não ser nesse sentido, e não se escreveria a não ser confessando isso.

 

Cada capítulo dessa maravilhosa Escritura, ou cada trecho ou frase da sua argumentação, nos dá uma visão de Jesus que ascendeu. Ela inicia direta e imediatamente falando isso. Parece que estava forçando em nós esse objeto de forma um tanto brusca. Esse é o estilo dessa escrita, mas, de fato, tudo isso é muito bem-vindo para a alma. O Filho, o resplendor da glória de Deus e a expressa imagem de Sua Pessoa, é visto – depois de haver purificado por Si mesmo nossos pecados aqui – em Seu lugar ascendido no céu, herdando lá um nome mais excelente do que o dos anjos, obtendo o direito de um trono que durará para sempre e preenchendo um assento na mais alta dignidade e poder, até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés.

 

O segundo capítulo nos dá outra visão do mesmo objeto. O Santificador, tendo descido para ser o Remidor da semente de Abraão, e para, em favor dela, cumprir a parte do Remidor, está então, em Sua Humanidade assumida, declarado ter ascendido novamente aos céus, para cumprir para nós os serviços de um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel. E essa Escritura, posso dizer, está tão repleta desse pensamento que este mesmo capítulo nos fala o mesmo objeto pela segunda vez. Isso nos mostra, como no Salmo 8, que o “Homem Admirável”, que por um pouco de tempo foi feito um pouco menor do que os anjos, está agora coroado nas alturas com glória e honra.

 

Os próximos capítulos (3-4) são apenas parêntesis, relacionados ao ensino anterior, mas ainda assim esta visão de Cristo é mantida diante de nós. Ele é declarado como tendo estado aqui na Terra, tentado em todos os pontos como nós, mas sem pecado, contudo, Jesus, o Filho de Deus, agora foi para os céus, para nos dar graça e ajuda de lá do santuário.

 

No próximo assunto, o do sacerdócio (caps. 5-7), temos o mesmo Senhor ascendido ainda em vista. Declara-se que o Filho foi feito Sacerdote, “mais sublime do que os céus”. Ele havia descido para vir à tribo de Judá e Se aperfeiçoar (HB 2:10 – ARA) nos dias de Sua carne aqui, mas agora havia ascendido novamente, o Autor da salvação eterna para todos os que O obedecem.

 

E assim é, no próximo grande assunto tratado – os concertos (caps. 8-9). Imediatamente após sua abertura diante de nós, vemos Jesus no tabernáculo nos céus; aquele tabernáculo que o Senhor fundou e não o homem, e de lá ministrar o "melhor concerto”.

 

Então, novamente, no capítulo seguinte (10), quando o assunto é a oferta, como tinha sido antes no sacerdócio e nos concertos, temos em vista o mesmo Jesus ascendido. Esse é Aquele que pode dizer: “Eis que venho”, ou seja, revelado como havendo santificado pecadores no corpo preparado para Ele na Terra, mas havendo chegado aos céus, abriu para nós um caminho para trilharmos com toda a ousadia aqueles átrios mais altos, puros e brilhantes da presença de Deus.

 

Aqui a doutrina da epístola se encerra formalmente, e, dessa maneira, vemos, em várias luzes e caracteres, a mesma Pessoa gloriosa e maravilhosa, o Filho de Deus ascendido. E, posso acrescentar, tão rica é esta epístola neste pensamento, tão fiel é a este seu objeto, que depois de deixarmos formalmente a sua doutrina, logo descobrimos que não deixamos esse grande mistério – Cristo no céu. Nas advertências práticas que se seguem, ainda o encontramos. Jesus, como “o Autor e Consumador da fé”, é visto no final de Sua vida de fé no céu: “Olhando para Jesus, Autor e Consumador da fé, O Qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus” (Hb 12:2). Assim, Ele é visto no céu nesse novo caráter: a vida de fé O leva para lá; como tudo o que Ele fez e sofreu por nós, na graça divina, O levou para lá. E ali Ele brilha diante dos olhos de fé: E se apenas tivéssemos sentidos para discernir e um coração para desfrutar, conheceríamos isso – que o próprio céu está resplandecente de beleza e glória, antes desconhecidas para ele, já que Jesus chegou até lá, com todos esses atributos, conquistados e adquiridos na Terra para nós pecadores.

 

E este é o mistério, a assunção de carne e sangue pelo Filho, de modo que Ele Se tornou o Remidor da semente de Abraão, e então houve a ascensão daquela Pessoa maravilhosa ao céu: “Deus manifestado em carne... recebido acima em glória”. E abençoada é a tarefa de inspecionar, como temos procurado fazer, esses elos misteriosos. E esses elos são formados para nunca serem quebrados, embora unam o que estava a distâncias além do alcance de qualquer pensamento criado. O Espírito os mantém em nossa visão, ao formá-los para o deleite e glória divinos, de acordo com os conselhos divinos e eternos. “O Verbo feito carne” de João 1 é a “Coisa Boa” de Nazaré (vs. 14, 46). O Emanuel de Mateus é o Bebê que foi colocado na manjedoura em Belém. No meio do trono, foi visto um Cordeiro, como havendo sido morto (Ap 5). Na Pessoa d’Aquele cujos lábios falavam de sabedoria adequada ao cotidiano mais comum da vida humana, foi encontrado Aquele que havia sido estabelecido, no mistério das Pessoas da Divindade, como o fundamento de todo o caminho divino (Pv 8). Na sarça de Horebe, estava o Deus de Abraão, na nuvem do deserto, a glória; no Homem armado de Jericó, o Príncipe do exército do Senhor; no Estranho que visitou Gideão em sua eira e Manoá em seu campo; o Deus a Quem só se deve adorar em toda a criação.

 

Estas estão entre as testemunhas que (em graça indescritível e para o deleite e glória divinos) o mais alto e o mais baixo estão ligados: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu” (Jo 3:13).

 

Quão excelentemente esse pensamento do apóstolo, que lemos na Epístola aos Efésios, se eleva sobre a mente renovada: “Ora, isto – Ele subiu – que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da Terra?”  (Ef 4:8). As dignidades, os ofícios, os serviços, que o Ascendido preenche e presta, são de caráter tão eminente, que nos dizem que Ele deve ser Aquele que já desceu, já foi Um no céu “acima de tudo”; como está escrito: “Aquele que vem de cima é sobre todos” (Jo 3:31). A dignidade de Sua Pessoa está envolvida neste mistério de Sua subida e descida. O desafio em Efésios 4:8-9 parece indicar isso; e a epístola aos Hebreus abre as razões disso mais plenamente. Pois nos diz que antes de subir, Ele havia nos purificado de nossos pecados; que antes de subir, Ele destruiu aquele que tinha o poder da morte e libertou seus cativos; que antes de subir, Ele Se aperfeiçoou como o Autor da salvação eterna para aqueles que são como nós (Hb 5). Nesses atributos, e em outros, Ele subiu: e quando Ele realmente subiu, Ele encheu o verdadeiro santuário nos céus, o tabernáculo, que o Senhor fundou e não o homem, para garantir-nos uma herança eterna (Hb 8-9).

 

Quem poderia ter ascendido com tanta glória e força como esta – e muito mais do que isso – a não ser Aquele que já estava no céu “acima de todos os céus”? “Ora, isto – Ele subiu – que é, senão que também, antes, tinha descido?”. Os ofícios que Ele cumpriu dizem Quem Ele é. Seus sofrimentos, mesmo na fraqueza e humilhação, revelam Sua Pessoa em plena glória divina.

 

Mas então, retomando: “Aquele que desceu é também o Mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” (Ef 4:9-10). E isso continua, e nos fala de Sua soberania ilimitada, e a outra nos revelou a dignidade de Sua Pessoa. Em Suas obras, Suas jornadas, Seus triunfos, as regiões mais altas e mais baixas são visitadas por Ele. Ele esteve na Terra, nas partes mais baixas da Terra. Ele esteve na sepultura, o território do poder da morte. Ele está agora nos mais altos céus, tendo passado por todos os principados e potestades. Seus reinos e domínios são assim mostrados aos olhos da fé. Nenhum pináculo do templo, nenhuma montanha muito alta, poderia ter proporcionado tal visão. Mas isso é mostrado à fé: “Aquele que desceu é também o Mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas”.

 

Este é o mistério. É o mesmo Jesus, Emanuel, o Filho, e ainda o Remidor da semente de Abraão. E aqui eu diria – pois há um chamado para isso – eu sei que não devemos confundir as naturezas neste Glorioso e Bendito Ser. Eu me curvo totalmente com fé à verdade de que o Santificador tomou parte na carne e no sangue. Confesso com toda a minha alma a verdadeira Humanidade em Sua Pessoa, mas ela não era, de forma alguma, uma Humanidade imperfeita na condição ou sob os resultados do pecado. Mas eu pergunto, não há alguma incredulidade imperceptível, mas real, tocando o mistério da Pessoa na mente de muitos? A indivisibilidade da Pessoa ao longo de todos os períodos e transições desta gloriosa e misteriosa história é mantida à vista da alma?

 

Eu teria a graça de me deleitar na linguagem do Espírito Santo e falar do “Homem Cristo Jesus”. O “Homem” que está ressuscitado é declarado como o penhor da ressurreição para nós (1 Co 15:21). O “Homem” que está ascendido é a grande garantia para nós de que nossos interesses estão, a cada momento, diante de Deus no céu (1 Tm 2:5). O “Homem” que retornará do céu, em breve, será a segurança e o gozo do reino vindouro (Sl 8). Portanto, o mistério do “Homem”, obediente, morto, ressuscitado, ascendido, e que voltará, sustenta, podemos dizer, todo o conselho de Deus. Mas, ainda assim, repito, a Pessoa em Sua indivisibilidade deve ser mantida à vista da alma. “A obra perfeita e completa de Cristo em cada ato de Seu trabalho, em tudo o que Ele fez, em tudo o que Ele sofreu, em tudo o que Ele continua a fazer, é o ato e a obra de Seu todo”. Sim, de fato, e toda a Sua Pessoa estava na cruz, assim como em qualquer outro lugar. A Pessoa era o sacrifício, e nessa Pessoa estava o Filho, acima de tudo, Deus Bendito para sempre. Ele “entregou o espírito”, embora tenha morrido sob o julgamento de Deus contra o pecado; e embora tenha sido crucificado e morto pelas mãos de homens ímpios. E esta é uma misericórdia infinita.

 

Foi Ele próprio, amado do início ao fim. Ele mesmo trilhou o caminho misterioso, embora o tenha trilhado sem ajuda e sozinho. Ninguém além d’Ele, “Deus manifestado na carne”, poderia ter estado lá. O Filho Se tornou o Cordeiro para o altar aqui; e então o Cordeiro que foi morto chegou ao lugar de glória, muito acima de todos os céus. É a Pessoa que dá eficácia a tudo. Os trabalhos não seriam nada, as tristezas não seriam nada, morte, ressurreição e ascensão, tudo seria nada (se pudéssemos compreender), se Jesus não fosse Aquele que Ele é. Sua Pessoa é a “Rocha”, portanto, “Sua obra é perfeita” (Dt 32:4). Esse é o mistério dos mistérios. Mas Ele não é apresentado para nossa discussão, mas para nossa apreensão, fé, confiança, amor e adoração.

 

Deus e o Homem, o céu e a Terra, estão juntos diante dos pensamentos de fé neste grande mistério. Deus esteve aqui na Terra, e isso também em carne; e o Homem glorificado está lá no alto do céu. Foi sobre os elos entre essas grandes coisas que procurei olhar particularmente, já que esse exercício é para tornar as coisas do céu e da eternidade reais e próximas de nossa alma. As distâncias morais são infinitas, mas as distâncias em si já não são nada. A natureza, cercada de concupiscências e mundanismo, dificulta, de fato, a entrada da alma nisso, mas a distância em si não é nada. Jesus, depois de estar no céu, em um momento, em um piscar de olhos, mostrou-Se a Estevão, e, em um momento semelhante, brilhou ao longo do caminho de Saulo de Tarso enquanto ele viajava de Jerusalém para Damasco; e embora não tenhamos visitas da glória como essas, a proximidade e a realidade dela são prometidas de novo e confirmadas para nossa alma pela visão desses grandes mistérios.

 

E o reino não será a exibição dos resultados desses elos misteriosos? Pois o céu e a Terra, em seus diferentes caminhos, os testemunharão e os celebrarão. “Alegrem-se os céus e regozije-se a Terra” (Sl 96:11). A Igreja, uma com Este Homem exaltado e glorificado, estará no alto, muito acima de todos os principados e potestades. A escada que Jacó viu (em mistério) será erguida, o Filho do Homem será o centro e a permanência de todo esse sistema predestinado de glória e de governo. As nações não aprenderão mais a guerra. A vara de Judá e a vara de Efraim serão uma só, e haverá um só Rei para ambos. “E acontecerá, naquele dia, que Eu responderei, diz o SENHOR, Eu responderei aos céus, e estes responderão à Terra. E a Terra responderá ao trigo, e ao mosto, e ao óleo; e estes responderão a Jezreel” (Os 2:21-22). E o que é tudo isso, senão o fruto feliz a ser colhido nos dias do reino vindouro, desses elos, que, como vimos, já foram formados? Os embriões e os princípios de todas essas manifestações no céu e na Terra, entre anjos e homens, e todas as criaturas, e a própria criação, são encontradas, por assim dizer, em Belém, no jardim do sepulcro e no Monte das Oliveiras.

 

Que o coração e a consciência aprendam a lição. Que possamos contemplar mais esses elos misteriosos, dos quais estamos falando, em companhia dos anjos nos campos de Belém e no túmulo de Jesus; ou, devo acrescentar aqui, contemplar mais na mente dos queridos discípulos no Monte das Oliveiras, enquanto contemplavam o elo glorioso que então se formava entre Jesus e os céus. Veja-os em Lucas 24:44-52. Eles eram então como Israel em Levítico 23:9-14, celebrando o movimento do molho das Primícias. Jesus, as Verdadeiras Primícias, acabara de ser colhido, e Ele tinha, como o Mestre divino, exposto a eles o mistério do molho colhido, isto é, o significado de Sua ressurreição. Eles então observaram aquele momento misterioso. Eles olharam enquanto seu Senhor ressuscitado subia, e mantiveram a festa como um sacrifício de holocausto. “E adorando-O eles, tornaram com grande júbilo para Jerusalém” (Lc 24:52).

 

Certamente podemos dizer: “o mistério da piedade é grande: Deus Se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, apareceu aos anjos, foi pregado entre os gentios, foi crido no mundo, foi recebido acima em glória” (JND).

 

Ele foi recebido gloriosamente, ou  em glória, bem como para a glória. Ele entrou na luz dos mais altos céus, mas Ele entrou ali gloriosamente em Si mesmo: Lá está Ele agora, um corpo glorioso, o padrão do que o nosso corpo deverá ser. A verdadeira Humanidade está lá, nos mais altos céus, mas está glorificada. E embora assim glorificada, ainda é a verdadeira natureza humana. Jesus está no mesmo corpo no céu com o qual Se comunicou aqui na Terra. Esse é Aquele “Santo” que foi formado imediatamente pelo Espírito Santo no ventre da virgem. Esse é aquele “Santo” que, quando estava na sepultura, não viu corrupção. Esse é aquele “corpo” que foi oferecido por nós e no qual Ele levou nossos pecados no madeiro. Aquela natureza individual em que Ele sofreu todos os tipos de reprovações, desprezo e misérias, está agora imutavelmente assentada em glória incompreensível. O corpo que foi traspassado é o que todos os olhos verão, e nenhum outro; Aquele tabernáculo nunca será desarmado. A Pessoa de Cristo, e nela Sua natureza Humana, será o Objeto eterno da glória, louvor e adoração divinos.

 

Assim se fala para nossa edificação e conforto. E um dos nossos próprios poetas cantou sobre Ele, olhando para Ele até o céu:

 

“Ali está assentado o Homem mais Bendito, meu Salvador,

  Deus, quão reluzente Ele brilha,

E espalha infinitos deleites

Em todas as mentes felizes

 

“Serafins, com cânticos elevados,

Circundam o trono ao redor,

 E encantam e mantêm as planícies estreladas

Com um som imortal.

 

“Jesus, o Senhor, suas harpas empregam;

Jesus, meu Senhor, eles cantam:

Jesus, o nome de todos nossos deleites,

Soa doce em cada corda.”

 

“Seu estado atual é um estado da mais alta glória de exaltação acima de toda a criação de Deus e acima de todo nome que é ou pode ser nomeado.”

 

Ele foi recebido com o amor indescritível e com a aceitação ilimitada e imensurável de Deus, o Pai, assim como operou e cumpriu o propósito de Sua graça na redenção dos pecadores. Ele foi recebido acima em triunfo, tendo levado cativo o cativeiro e despojado principados e potestades; e lá Ele Se assentou à direita da Majestade nas alturas, com todo o poder dado a Ele no céu e na Terra. Ele foi recebido como a Cabeça de Seu corpo, a Igreja, de modo que, da plenitude da Divindade, que habita n’Ele corporalmente, ela “cresce o crescimento que procede de Deus” (ARA), por meio do Espírito Santo dado a nós. Lá, Ele foi recebido como em um templo, para aparecer na presença de Deus por nós, para assentar-Se como o Ministro do verdadeiro tabernáculo, para fazer intercessão contínua por nós, e para servir em Seu corpo diante do trono, dessa e de outras formas semelhantes de graça. Lá, Ele foi recebido como nosso Precursor, como na casa do Pai, para preparar um lugar para os filhos, para que onde Ele estiver, eles também possam estar. E ainda: Quando Ele Se assentou no céu, Ele Se assentou como Um que espera. Ele espera sair para encontrar Seus santos nos ares, para que possam estar com Ele para sempre. Ele espera até que seja enviado para trazer, novamente, tempos de refrigério à Terra por Sua própria presença, e Ele espera até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés.

 

Fria é a afeição e pouca a energia; mas, em princípio, não sei nada digno de tais visões de fé, mas aquele espírito de devoção que pode dizer como Paulo: “sei estar abatido e sei também ter abundância”, e aquele espírito de desejo que ainda olha para Ele e diz: “Ora, vem, Senhor Jesus”.

 

Amados, nosso Deus Se uniu assim por laços que nunca podem ser quebrados, com Seu próprio prazer e glória neles, assim como Seu conselho e Sua força garantirão para sempre. Esses elos que observamos, por mais misteriosos e preciosos que sejam. Ele mesmo os formou; sim, Ele mesmo os constitui, a fé os entende, e sobre a Rocha Eterna o pecador quando crê descansa, e descansa em paz e segurança.

 

Com toda a minha alma digo, que essas meditações ajudem a tornar esses objetos de fé um pouco mais próximos e mais reais para nós! Eles serão inúteis se não servirem para glorificá-Lo em nossos pensamentos, a entregá-Lo, com revigorada intensidade, amados, ao nosso coração.

 

“Mais perto, meu Deus, de Ti,

 ais perto de Ti.”

 

 

Que essa seja a inspiração da nossa alma até que O vejamos. Amém.


J. G. Bellett

 

 

 

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