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ÍNDICE
Prefácio
Durante o meio século em que o autor deste artigo esteve entre os irmãos reunidos somente ao nome do Senhor, no terreno de Sua prometida presença no meio dos dois ou três (Mt 18:20), ele testemunhou repetidas tentativas de se introduzir música instrumental como um complemento ao testemunho do evangelho. Até agora, esse esforço tem se limitado ao trabalho da escola dominical, trabalho missionário, reuniões de jovens, reuniões do evangelho, casamentos e funerais.
Na medida em que essa tendência está presente entre nós, consideramos oportuno reexaminar toda a questão da relação bíblica, se houver, entre instrumentos musicais e o Cristianismo bíblico. Buscaremos graça para fazer isso, não em espírito de contenda, mas sim por meio de um exame sóbrio e ponderado da Palavra em busca da mente do Senhor sobre o assunto. A Palavra de Deus é sempre o último tribunal de apelação em tudo o que tem a ver com a ordem em Sua casa. Que possamos então abordar a questão com coração ensinável e buscar nada além de Sua mente como tem sido do Seu agrado revelá-la a nós. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Is 8:20 – ACF).
Capítulo 1 O Padrão do Novo Testamento
Todos nós somos propensos a cair no conceito popular de que “não importa o que seja, está correto”. Como crianças nascidas nesta cena, nos encontramos cercados por uma Igreja que já funciona de acordo com padrões aceitos de pensamento e método. É bastante natural para nós, à medida que nos desenvolvemos em nossa capacidade mental e espiritual, acomodar-nos ao que encontramos diante de nós, na suposição de que possui aprovação bíblica.
O autor, quando criança, frequentava uma assim chamada “Igreja”, onde o órgão era usado em todos os cultos. A conveniência disso era tida como certa. Ao ampliar mais tarde sua esfera de associações, ele encontrou o piano, o órgão e até mesmo a orquestra ocupando um lugar de maior ou menor destaque em todos os diferentes grupos religiosos que contatou. Nunca lhe ocorreu questionar a presença desses instrumentos. Ele aceitou tudo como algo que sempre fez parte da adoração e testemunho da Igreja. Atrevemo-nos a dizer que tal atitude é bastante típica entre os Cristãos de hoje.
Logo após sua conversão, com cerca de dezessete anos, o autor foi convidado a participar de uma pequena reunião de crentes reunidos em simplicidade ao nome do Senhor Jesus. Tudo parecia muito diferente de qualquer coisa que ele já tinha visto. Não havia órgão ou instrumento musical de qualquer tipo, nem sinal de coro. Toda a congregação cantava, sem regente visível. Tudo isso o impressionou como sendo muito incomum, e ele não se sentiu nem um pouco atraído pela estranha simplicidade de tudo. Naquela época, ele não havia alcançado o ponto em seu crescimento espiritual em que tivesse qualquer disposição para procurar a razão de tudo isso.
Ora, é justamente nesse ponto que o assunto proposto pelo título deste capítulo assume forma definida. Deixe-me afirmar isso o mais claramente possível nesta pergunta ousada: Desde o início da história da Igreja de Deus na Terra, passando pelo tempo dos apóstolos, até os primeiros séculos e posteriormente, a música instrumental fazia parte da adoração da Igreja ou do testemunho do evangelho? Em resposta a essa pergunta, são fornecidos os seguintes fatos.
Lembremo-nos, para começar, de que a dispensação “Cristã” ou da Igreja propriamente não começou até o dia de Pentecostes. Quando nosso Salvador estava na Terra, Ele disse a Pedro em Mateus 16:18: “Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” – não diz: “Eu edifico a Minha Igreja”, e nem, “Eu edifiquei a Minha Igreja”, mas, “Eu edificarei”; ainda era futuro. A única outra menção da Igreja em qualquer um dos quatro Evangelhos está em Mateus 18:17: “Dize-o à Igreja”. Mas um exame atento dos versículos 15-20 nos mostrará que nosso Senhor está aqui contemplando os dias que estavam por vir após Sua partida da Terra. Isso é claramente visto se considerarmos o versículo 20: “Pois onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Isso estava antecipando o tempo subsequente à Sua ascensão ao céu, quando Ele concederia Sua presença invisível, embora real, no meio dos dois ou três reunidos em Seu nome.
A realidade da Igreja como um corpo presente e funcional na Terra começa no dia de Pentecostes, conforme descrito em Atos 2. Isso é definitivamente confirmado pela palavra em 1 Coríntios 12:13: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo” (ARA). A primeira vez que a palavra “Igreja” (apropriadamente “assembleia”, da palavra grega ekklesia) é usada no livro de Atos, para designar este novo corpo, está no capítulo 5:11. “E houve um grande temor em toda a Igreja”[1] Portanto, estamos bastante seguros de nosso fundamento se concluirmos que devemos limitar nossa investigação da prática apostólica na Igreja às porções do Novo Testamento que são subsequentes aos quatro Evangelhos. Com isso em mente, vamos prosseguir com o nosso assunto.
A primeira coisa que nos impressiona ao examinarmos o Livro de Atos é o silêncio quanto a qualquer coisa que se assemelhe ao uso atual de instrumentos musicais na Igreja. Na verdade, a única menção ao canto, em todo o livro de Atos, é por ocasião da prisão de Paulo e Silas em Filipos. “Perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus” (cap. 16:25). Certamente ninguém pensaria em instrumentos musicais naquela masmorra escura e profunda.
Quando passamos às Epístolas, encontramos o mesmo silêncio absoluto quanto ao uso de qualquer mecanismo para ajudar a adoração ou testemunho Cristão. Vamos listar aqui todas as ocorrências nas Epístolas do Novo Testamento de qualquer menção de música ou canto.
“Como está escrito: Portanto, Eu Te louvarei entre os gentios e cantarei ao Teu nome” (Rm 15:9, citando o Salmo 18:49).
“Cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (1 Co 14:15).
“Falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5:19).
“ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Cl 3:16).
“cantar-te-ei louvores no meio da congregação” (Hb 2:12, citando o Salmo 22:22).
“Está alguém contente? Cante louvores” (Tg 5:13).
Assim, afirmamos que nada em qualquer uma dessas seis referências traz consigo a menor indicação de acompanhamento musical. O canto é claramente mencionado como o que está “no vosso coração”.
Certamente, se Deus pretendesse que os instrumentos musicais tivessem um lugar na Igreja, será que Ele não nos teria dado a conhecer Sua aprovação disso em algum lugar, seja nos vinte e oito capítulos de Atos ou dentro do corpo das quatorze epístolas de Paulo, as três de João, as duas de Pedro, ou as de Tiago e de Judas? Quão impressionante é o fato de que aquilo que agora é tão grande no pensamento e na prática do Cristianismo atual não tenha qualquer menção nessas vinte e duas comunicações, escritas por seis servos diferentes do Senhor, cobrindo um período de aproximadamente setenta anos[2].
E o último livro do Novo Testamento? Não devemos nos surpreender que encontremos menção frequente de cânticos nesse livro de triunfo celestial após os sofrimentos e provações da peregrinação da Terra. E não é o canto dos anjos que saúda nossos ouvidos no livro apocalíptico. É digno de nota que não há registro bíblico de anjos cantando. Eles não são redimidos.
Vestido com este manto, como eu brilho!
Os anjos não possuem um vestido assim;
Os anjos não têm um manto como o meu –
Jesus, o Senhor, é minha justiça.
Embora os anjos louvem o Rei celestial,
E a Ele, seu Senhor, adorem,
Podemos com exultação cantar,
Ele veste nossa natureza no trono.
A primeira menção ao canto em Apocalipse está no capítulo 5:8-9: “os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um novo cântico”.
O grupo descrito sob a figura dos vinte e quatro anciãos são inquestionavelmente os santos glorificados. Em Sinopse de Apocalipse, J. N. Darby diz: “Em torno dele (o trono) aqueles que representam os santos levados na vinda de Cristo, os reis e sacerdotes, estão assentados em tronos” (pág. 519). Aqui encontramos um grupo munido de harpas e taças de ouro cheias de incenso. Que influência isso tem sobre a nossa investigação?
Em primeiro lugar, não podemos tomar essa cena celestial como um padrão de adoração e testemunho terrenais. Não é a Igreja que funciona em adoração e testemunho aqui abaixo. Se fosse esse o caso, certamente teríamos algo semelhante a essa cena mencionada em algum lugar nos Atos ou nas Epístolas. Portanto, essa deve ser a cena que representa, não o padrão de adoração terrenal, mas algo de uma nova ordem.
Em segundo lugar, devemos sempre ter em mente ao ler o Apocalipse que ele é um livro cheio de símbolos. O Dr. A. H. Burton em seu panfleto, The Symbols of the Apocalypse Briefly Defined, lista nada menos que duzentos símbolos diferentes neste livro do Apocalipse.
Logicamente, então, não se deve colocar muita ênfase na literalidade do que encontramos nesta revelação mais notável do futuro. Por exemplo, embora reconheçamos prontamente o fato de que os vinte e quatro anciãos simbolizam os santos glorificados, nunca, nem por um momento, tomaríamos o número vinte e quatro literalmente. Na verdade, acreditamos que o número deles estará além do nosso cálculo. Se não temos dificuldade em ver o significado simbólico do número vinte e quatro, por que devemos hesitar em considerar as harpas como totalmente simbólicas? O Dr. Burton, em seu livro acima referido, lista as harpas como “simbólicas do serviço coral de louvor” (Sl 98:5).
Além disso, se estivermos inclinados a insistir em um significado literal das harpas celestiais, também devemos aceitar as figuras que as acompanham em sua literalidade. Se precisarmos adicionar harpas (instrumentos de música) à nossa adoração e testemunho da assembleia porque encontramos harpas no céu, então sejamos coerentes e adicionemos também as taças de ouro e o incenso, o altar de ouro e as coroas sobre a cabeça! Não, irmãos, se tentarmos anexar os símbolos materiais do Apocalipse nos desviaremos muito da simplicidade do grupo redimido de Atos 2:42. Quão abençoadamente simples é o padrão:
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”.
Se o leitor se preocupa em considerar ainda mais as referências no Apocalipse que mostram os cânticos ou os instrumentos musicais, as listamos aqui para facilitar: Apocalipse 5:8-9; 14:2-3; 15:2-3.
Nas duas últimas referências, somos novamente confrontados com harpas e harpistas celestiais, mas as observações acima feitas se aplicariam igualmente aqui. Sabemos que não haverá literalmente “mar de vidro misturado com fogo”. Por que, então, devemos interpretar no sentido literal as “harpas de Deus”?
Por fim, será que não podemos com a certeza dizer a partir da vontade revelada de Deus, conforme encontrada na doutrina e prática do Novo Testamento, que a música instrumental não tinha lugar na Igreja apostólica?.[3]
Capítulo 2 Instrumentos Musicais na Igreja Pós-Apostólica[4]
Temos certeza de que muitos que leem essas linhas ficarão muito surpresos ao saber que vários séculos de história da Igreja se passaram antes da introdução dos instrumentos musicais. Os defensores da música na Igreja têm tido dificuldade de encontrar qualquer menção a tal inovação durante os primeiros sete séculos da história da Igreja. Uma tentativa elaborada foi feita para relacionar Clemente de Alexandria como a primeira testemunha a favor da música instrumental na Igreja. Clemente foi um teólogo grego que ensinou em Alexandria e foi proeminente nos assuntos da Igreja de cerca de 192 d.C. até sua morte por volta de 215 d.C. Citamos aqui Kurfees, Instrumental Music in the Worship, págs. 125-134:
“Joseph Bingham, o eminente autor de ‘Antiquities of the Christian Church’, diz sem hesitação: ‘Clemente argumenta, porém, que a música instrumental, o alaúde e a harpa, dos quais ele fala, não estavam em uso nas Igrejas públicas’ (Antiquities, Vol. 2, pág. 485).
“Mas isso não é tudo... Alguns ilustres estudiosos são apresentados com a convicção de que a passagem agora em análise é, sem sombra de dúvida, uma interpolação... Johann Caspor Suicer, um notável escritor latino do século XVII... faz certas citações de Clemente, entre as quais as seguintes: ‘A música supérflua deve ser rejeitada porque perturba e afeta a mente de várias maneiras... Suicer tira esta incisiva conclusão: ‘Portanto, Clemente não escreveu nada que favoreceria minimamente os órgãos e seu uso contemporâneo, porém, exatamente o contrário.’
“É simplesmente impossível interpretar Clemente em apoio à música instrumental no culto Cristão sem envolvê-lo em inexplicável autocontradição.”
O próximo, em ordem de supostas testemunhas convocadas em favor da música instrumental na Igreja, está Ambrósio, Bispo de Milão, 340-397 d.C. Mas o Sr. Kurfees, que fez um estudo tão exaustivo sobre o assunto, afirma:
“Apenas afirmamos aqui que as evidências até agora apresentadas em apoio à alegação não são apenas não conclusivas, mas apontam decididamente para a conclusão de que Ambrósio, de qualquer forma, nunca a introduziu. Na verdade, a McClintock and Strong's Cyclopedia diz: ‘Nem Ambrose, nem Basil, nem Chrysostom nos nobres elogios que, individualmente, pronunciavam sobre a música, faziam qualquer menção à música instrumental’ [Vol. 6, pág. 759, Art. Musica]” (Kurfees, págs. 123-124).
O Sr. Kurfees em seguida cita várias autoridades sobre música e costumes da Igreja. Ele cita pela primeira vez o Dr. Ritter, Diretor da Escola de Música do Vassar College, em sua History of Music, pág. 144:
“Não temos conhecimento real do caráter exato da música que fazia parte da devoção religiosa da primeira congregação Cristã. Ela era, no entanto, puramente vocal. A música instrumental foi excluída no início, como tendo sido usada pelos romanos em suas festividades depravadas; e tudo que os lembrava da adoração pagã não podia ser suportado pelos novos religiosos.”
Edward Dickinson, Professor de História da Música, no Conservatório de Música, Oberlin College, cita John Chrysostom, Doutor da Igreja de Antioquia, o maior dos pais gregos, que viveu a partir de 347(?)-407. Ele declara:
“Davi anteriormente cantava em salmos; também nós cantamos hoje com ele; ele tinha uma lira com cordas sem vida; a Igreja tem uma lira com cordas vivas. Nossa língua são as cordas da lira, com um tom diferente, de fato, mas com uma piedade mais coerente” (pág. 145).
O professor Dickinson observa também a respeito de Santo Agostinho, 354-430, que foi bispo em Hipona, no norte da África: “Ele admoestou os crentes a não voltarem o coração para instrumentos teatrais. Os guias religiosos dos primeiros Cristãos sentiram que haveria uma incongruência... no uso de... som instrumental em seu culto... A expressão vocal pura era a expressão mais adequada de sua fé” (Music in the History of the Western Church, págs. 54-55).
Neste ponto, podemos levantar a questão: se todo o testemunho dos pais da Igreja primitiva é contra o uso de instrumentos na Igreja, então exatamente quando foi que ocorreu a mudança de atitude em relação à introdução de instrumentos? A American Cyclopedia afirma: “O Papa Vitaliano está conectado com a introdução pela primeira vez de órgãos em algumas das Igrejas da Europa Ocidental por volta de 670 d.C; mas o primeiro relato confiável é o do órgão enviado como um presente pelo imperador grego Constantino Coprônimo a Pepino, rei dos francos, em 775”. (Vol. 12, pág. 688).
Pepino, por sua vez, apresentou o órgão à Igreja de St. Corneille em Compiegne (New International Encyclopedia, Vol. 13, pág. 446).
A McClintock and Strong 's Cyclopedia diz: “Mas os estudantes de arqueologia eclesiástica geralmente concordam que a música instrumental não foi usada nas Igrejas até uma data muito posterior [do que o Papa Vitaliano em 660 d.C]; Tomás de Aquino [famoso teólogo italiano; 1225-1274 d.C.], 1250 d.C., tem estas palavras notáveis: ‘Nossa Igreja não usa instrumentos musicais, como harpas e saltérios, para louvar a Deus, para que ela não pareça adotar práticas judaizantes’. A partir desta passagem, certamente estamos seguros em concluir que não havia uso eclesiástico de órgãos no tempo de Aquino. Alega-se que Marinus Sanutus, que viveu por volta de 1290, foi o primeiro a trazer o uso de órgãos de sopro para as Igrejas” (Vol. 8, pág. 739).
A Concise Cyclopedia of Religious Knowledge sob o artigo “Organ”, na página 683, afirma: “Na Reforma, eles [órgãos] foram descartados, sendo considerados os restos mais vis do papado”.
Pode ser uma surpresa para muitos dos leitores deste artigo saber que a Igreja Ortodoxa Oriental, que de acordo com o Almanaque Mundial de 1955 conta com 125.000.000 de membros, nunca, em qualquer momento de sua história de 1.800 anos, introduziu a música instrumental.[5]
John Bingham, autor de Antiquities of the Christian Church, um estudioso da Igreja da Inglaterra, observa: “Nem foi [o órgão] jamais recebido nas Igrejas gregas, não havendo menção de um órgão em todas as suas liturgias, antigas ou modernas” (Words, Vol. 2, pág. 482-484, London Ed.).
A McClintock and Strong’s Cyclopedia diz: “Nunca o órgão ou qualquer outro instrumento foi empregado no culto público nas Igrejas orientais, nem a menção da música instrumental é encontrada em todas as suas liturgias, antigas ou modernas.” (Vol. 8, pág. 739).
O professor John Gibardeau, em seu trabalho sobre Música na Igreja, escrito enquanto ele era professor no Seminário Teológico da Columbia, Carolina do Sul, um presbiteriano, observa: “Assim, foi provado por um apelo aos fatos históricos que a Igreja, embora tenha caído cada vez mais na deserção da verdade em direção a uma corrupção da prática apostólica, não teve música instrumental por mil e duzentos anos [ele quer dizer que não se tornou geral durante este período], e que a Igreja Reformada Calvinista a expulsou de seus cultos como um elemento do Papado, mesmo a Igreja da Inglaterra tendo chegado muito perto de sua extrusão [exclusão] de sua adoração. O argumento histórico, portanto, combina com o bíblico... para levantar um protesto solene e poderoso contra seu emprego pela Igreja Presbiteriana. É heresia na esfera do culto” (pág. 179).
Adam Clark, o comentarista metodista, diz: “Creio que o uso de tais instrumentos de música na Igreja Cristã, seja sem o consentimento e contra a vontade de Deus; eles são uma subversão ao espírito de verdadeira devoção... Eu nunca os vi produzindo algo de bom na adoração a Deus. Música, como ciência, eu estimo e admiro; mas instrumentos de música na casa de Deus eu abomino e rejeito” (Vol. 4, pág. 686).
John Wesley, o mais conhecido de todos os ministros metodistas, se opunha ao uso de instrumentos na Igreja (a mesma obra, acima). João Calvino, o grande reformador, em seu comentário ao Salmo 33, diz: “Instrumentos musicais para celebrar os louvores a Deus não seriam mais adequados do que queimar incenso, acender lâmpadas e restaurar as outras sombras da lei.”
Charles Haddon Spurgeon, o notável ministro batista do Tabernáculo Metropolitano, Londres, Inglaterra, não usava instrumentos musicais em seus cultos. Ver Girardeau, Instrumental Music in the Church (pág. 176).
Alexander Campbell, 1788-1866, fundador dos “Discípulos de Cristo”, foi forte em sua rejeição aos instrumentos musicais na Igreja (Kurfees, pág. 210). No ano seguinte à morte do Sr. Campbell, um de seus proeminentes seguidores, o Dr. H. Christopher, fez um apelo emocionante contra o uso de instrumentos na Igreja. Ele disse, em uma parte: “Não posso, portanto, ver em todo o meu horizonte um fato, argumento, razão ou pretexto que possa nos justificar no uso de instrumentos musicais no culto da Igreja... É uma inovação na prática apostólica... Aprendamos com a experiência dos outros e nos contentemos com o que Deus ordenou, admitindo que a música instrumental e todos os seus concomitantes permaneçam onde nasceram, em meio às corrupções de uma Igreja apóstata” (Lord's Quarterly, Out. 1867, pág. 365-368).
Em vista de todas as evidências citadas quanto à ausência de música nos primeiros setecentos anos da história da Igreja, em vista da oposição tempestuosa que teve que encontrar durante os setecentos anos seguintes, e em vista da santa oposição a ela até o século XIX, não podemos concluir de forma justa que a história da Igreja de Deus na Terra é esmagadoramente oposta à introdução de instrumentos musicais na adoração e testemunho da Igreja?
Capítulo 3 A Questão das Palavras Gregas
Existem três verbos gregos e seus substantivos cognatos que são usados em conexão com o canto ou a melodia na Igreja. São eles ado, humneo e psallo. Kurfees diz: “Nunca houve qualquer controvérsia sobre o tipo de música, em geral, indicada pelos dois primeiros desses verbos e seus substantivos, nem, de fato, houve alguma, até anos recentes, sobre o significado de psallo com seu substantivo” (pág. 4).
Kurfees, após um estudo exaustivo desta palavra psallo, apresentou mais habilmente sua descoberta nos primeiros nove capítulos de seu Instrumental Music in the Worship (pág. 397). Vamos nos contentar em apenas declarar suas conclusões.
“Todos os lexicógrafos e teólogos concordam que, no início do período do Novo Testamento, psallo passou a significar ‘cantar’.”
“J. Henry Thayer, o autor do Léxico do Novo Testamento que, pela decisão unânime da erudição atual, está não apenas à frente, mas muito acima de todas as outras autoridades no campo especial da lexicografia do Novo Testamento, era um congregacionalista; no entanto, recusou-se, como alguns outros não conseguiram, a ser influenciado por considerações teológicas, e assim colocou em seu agora famoso Léxico um registro fiel do verdadeiro significado das palavras” (pág. 69-70).
Vamos citar Thayer sobre ‘psallo’.
“No Novo Testamento, cantar um hino, celebrar os louvores de Deus em cânticos. Tiago 5:13”.
Dr. James Begg em sua obra intitulada, The Use of Organs, cita com aprovação do teólogo presbiteriano escocês, Dr. William Porteous, de Glasgow (1735-1812), sobre o significado de ‘psallo’ no Novo Testamento:
“É evidente que a palavra grega ‘psallo’ significava, em seu tempo [dos pais gregos], ‘cantando apenas com a voz’... ‘Psallo’ nunca ocorre no Novo Testamento em seu significado do seu radical, ‘bater ou tocar um instrumento’” (citado em Kurfees, págs. 60-61).
Concluímos nosso breve exame do significado do Novo Testamento de ‘psallo’ por este contundente resumo de Kurfees:
“Quando Thayer chega ao período do Novo Testamento, ele diz que [psallo] significa: ‘No Novo Testamento, cantar um hino; celebrar os louvores de Deus em cântico.’
“Então, como que para pôr fim à controvérsia, o grande léxico de Sófocles,[6] dedicado exclusivamente aos períodos romano e bizantino, e cobrindo assim todo o período do Novo Testamento e da literatura patrística, diz que não encontrou um único exemplo da palavra ter qualquer outro significado” (Kurfees, pág. 48).
Assim, podemos descartar de nossa mente, como sendo pura conjectura ou ilusão, qualquer justificativa de instrumentos musicais na Igreja com base em tal suposta conotação nas palavras gregas usadas.
Capítulo 4 Cristianismo em Contraste com Judaísmo[7]
Estamos firmemente convencidos de que a aceitação de instrumentos musicais no culto e testemunho Cristãos se deve, basicamente, ao fracasso dos crentes em reconhecer a distinção entre as duas administrações – a lei e a graça. Uma das declarações mais notáveis de nosso Senhor quando aqui na Terra é encontrada no final de Lucas 5.
“E ninguém põe vinho novo em odres velhos; de outra sorte, o vinho novo romperá os odres e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão. Mas o vinho novo deve ser posto em odres novos, e ambos juntamente se conservarão E ninguém, tendo bebido o velho, quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho” (vs. 37-39).
Que declaração arrebatadora é essa! O que nosso Senhor gostaria que aprendêssemos com essa figura doméstica? Acreditamos que é simplesmente isto: O Judaísmo e o Cristianismo não se misturam; eles são mutuamente exclusivos. Tentar uni-los é perder completamente o significado de ambos.
O sistema do Judaísmo resultou de uma promessa feita a Abrão quando ainda estava na terra de Ur dos Caldeus. “E far-te-ei uma grande nação... e em ti serão benditas todas as famílias da Terra” (Gn 12:2-3). Mais tarde, Deus renova Sua promessa nas palavras: “Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para a herdares” (Gn 15:7). Novamente, Deus encontra Abrão quando este tem noventa e nove anos de idade, muda seu nome para Abraão e reitera Sua promessa a ele com estas palavras: “E te darei a ti e à tua semente depois de ti a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão” (Gn 17:8).
Pede-se ao leitor que note cuidadosamente as três promessas acima citadas. Nem uma palavra é dita sobre o céu, nem sobre a vida por vir. Tudo está conectado com esta Terra, especialmente uma parte dela chamada “Canaã”, e as promessas são inteiramente em vista da prosperidade temporal aqui embaixo.
Mais tarde, depois que a nação de Israel foi tirada do Egito e trazida para a terra prometida de Canaã, os encontramos procurando cumprir a promessa feita por meio de Moisés neste sentido: “se, ouvindo estes juízos, os guardardes e fizerdes, o SENHOR, teu Deus, te guardará o concerto e a beneficência que jurou a teus pais”. Depois, segue uma promessa detalhada de prosperidade terrenal, grande fruto da família, rebanho e campo, remoção de doenças e enfermidades entre eles e a certeza da vitória sobre seus inimigos. (Veja a passagem na íntegra; Deuteronômio 7:9-18.) Em tudo isso, não há indício de nada além de bênção nesta vida. A questão do céu ou do inferno não é levantada; tudo é terrenal.
Quando examinamos as provisões feitas por Deus para a adoração formal de Seu povo terrenal, ficamos impressionados com o total contraste com o que encontramos no Cristianismo. No relato detalhado dos planos da adoração do tabernáculo, conforme registrado em Êxodo 25-30, ou da inauguração da adoração no templo, conforme detalhado em 2 Crônicas 27, estamos face a face com um sistema de adoração divinamente sancionado que é exterior, formal, ritualístico e terrenal em todos os detalhes.
Tem sido frequentemente observado em nossas meditações sobre a Epístola de Paulo aos Hebreus que ela não é tanto uma apresentação de comparações das duas administrações da lei e da graça, mas sim de contrastes entre as duas. No entanto, apesar de todos os esforços que Deus empreendeu trazer diante de nós as diferenças essenciais e básicas nas duas formas de tratar com o homem sobre a Terra, a Cristandade se recusou a observar a linha divisória e procurou, desastrosamente, combinar as duas. Vamos, muito brevemente, listar alguns dos contrastes divinamente registrados nos dois relacionamentos. Em oposição à promessa judaica de bênçãos terrenais, ao Cristão estão prometidas bênçãos celestiais. Veja Efésios 1:3: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais em lugares celestiais em Cristo”. Nosso Senhor deixou conosco a perspectiva: “No mundo tereis aflições” (Jo 16:33); “porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo 15:19). Aqui não há promessa de vitória sobre inimigos temporais, mas sim o oposto.
No sistema judaico, não havia aproximação à presença de Deus, exceto de forma mediadora por meio do sumo sacerdote, e isso apenas uma vez por ano (Hb 9:7-9). Mas no Cristianismo temos o abençoado privilégio de entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus (Hb 10:19 – ARA). No primeiro, somente uma classe diferenciada de pessoas – a tribo de Levi – poderia ministrar as coisas divinas, mas conosco está o conhecimento de que somos todos um sacerdócio santo e real para oferecer sacrifícios espirituais e mostrar Seus louvores. (Veja 1 Pedro 2:5, 9). No primeiro, não havia conhecimento da aceitação para com Deus, mas nós nos regozijamos no conhecimento de que os pecados estão perdoados. (Compare Hebreus 10:11 com Efésios 1:7) No judaísmo houve a constante repetição dos sacrifícios ano a ano e a oferta dos cordeiros diariamente no holocausto contínuo (Êx 29:38-42). Mas em Hebreus lemos: “Porque, com uma oferta, aperfeiçoou em perpetuidade os santificados” (Hb 10:14 – JND).
Agora chegamos a esse aspecto do Judaísmo que tem uma conexão especial com o assunto do nosso estudo. Referimo-nos à grandeza exterior do serviço do templo. Quando nos voltamos para a descrição da dedicação do templo como é dada em 2 Crônicas 27, aquele maravilhoso edifício, erguido a um custo estimado de mais de um bilhão de dólares[8], foi sem dúvida a estrutura mais cara e elaborada já erguida pelo homem. E imitando o precedente aqui estabelecido é que a Cristandade adotou seu padrão de basílicas, templos e catedrais. Mas quando nos voltamos para a instrução do Espírito quanto à época da Igreja, encontramos completo silêncio quanto à santificação de qualquer estrutura física para abrigar a Igreja. Não; em vez disso, encontramos o pronunciamento direto: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3:16). Novamente, “no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito” (Ef 2:22). Também, em 1 Pedro 2:5, “vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual”. Então que fique bem claro em nossa mente que não existe tal coisa na Terra hoje como um edifício físico, seja de madeira, pedra ou mármore, que tenha alguma santidade aos olhos de Deus.
Em seguida, consideremos o serviço do templo, conforme descrito em 2 Crônicas 5:12-13 – ARA: “E quando todos os levitas que eram cantores... vestidos de linho fino, estavam de pé, para o oriente do altar, com címbalos, alaúdes e harpas, e com eles até cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas; e quando em uníssono, a um tempo, tocaram as trombetas e cantaram para se fazerem ouvir, para louvarem o SENHOR e render-Lhe graças; e quando levantaram eles a voz com trombetas, címbalos e outros instrumentos músicos para louvarem o SENHOR... então, sucedeu que a casa, a saber, a Casa do SENHOR, se encheu de uma nuvem”.
Aqui, irmãos, temos a ordem de adoração divinamente aprovada para a velha administração, o Judaísmo, durante séculos dos tratamentos de Deus com Seu povo terrenal antes da cruz. Aqui está o vinho velho na sua melhor forma. Aqui vemos o templo divinamente designado, o coro trajado divinamente designado, a orquestra divinamente designada e o sacerdócio divinamente designado. Não é de admirar, então, que nosso Senhor pudesse dizer: “E ninguém, tendo bebido o velho, quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho” (Lc 5:39). Se quisermos uma explicação do que vemos sobre nós na Cristandade hoje, aqui a temos. Falhar em observar a distinção entre a adoração Judaica exterior, para o homem na carne, e a adoração espiritual Cristã, no Santo dos Santos, resultou no estado corrompido da Cristandade hoje. Isso é descrito por nosso Senhor em Seu discurso às sete Igrejas da Ásia correspondendo à última das sete – Laodiceia. A ela, solenemente, Ele anuncia: “Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca” (Ap 3:16).
Assim, vemos que nossa questão dos instrumentos musicais na Igreja é muito mais profunda do que a própria coisa; é, antes, apenas um elemento de um colapso geral em manter o vinho novo em odres novos. Se não o mantivermos lá, vamos perdê-lo. E assim, será que não podemos fazer a nós mesmos a pergunta: Ousamos arriscar a perda da preciosidade desse vinho novo voltando aos rudimentos fracos e pobres de um “santuário terrestre” (Hb 9:1)? Não devemos, antes, ouvir a voz de nosso bendito Senhor em Apocalipse 3 enquanto Ele Se dirige à Igreja na Filadélfia: “eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a Minha Palavra e não negaste o Meu Nome”?
Capítulo 5 O Chamado à Separação
Traçamos assim, brevemente, a história da introdução e aceitação geral da música instrumental na adoração e testemunho Cristãos. Vimos que foi aceito de forma muito relutante pela Igreja e não obteve aprovação geral até depois da Reforma. O caráter dos acompanhamentos musicais inicialmente trazidos era comparativamente simples, sendo limitado ao do órgão, como ilustrado no presente enviado por Constantino a Pepino em 670 (Veja capítulo 2).
Mas hoje nos encontramos cercados por um espetáculo estranho. A música instrumental em formas multiplicadas não só tem sido geralmente aceita pela Igreja professa, mas em grande parte deslocou a leitura da Palavra de Deus e a sadia e sólida pregação da mesma. Cito aqui um parágrafo de um panfleto de quatro páginas intitulado “Música nas Assembleias” (“Music in the Assemblies”).
“Esta é a época da ‘hinologia’. Hoje em dia, depende-se da música religiosa para despertar as emoções. A Palavra de Deus fica em segundo lugar e a Espada do Espírito está embainhada durante 50%, 60% ou mais dos programas de rádio. A música é colocada tanto à frente e tornada tão atraente que, quando a Palavra é finalmente pregada, o público perdeu seu desejo pela Palavra”.
Aqui, vamos citar da obra 400 Questions and Answers compiladas por H. B. Coder:[9]
“À medida que a realidade de Cristo se afasta da alma, o ritualismo toma o lugar, e formas sem vida surgem por todos os lados. A tal ponto isso cresceu que até o mundo está perdendo o respeito por um Cristianismo que parece mais inclinado a entreter do que a converter homens. Acreditamos, portanto, que qualquer uso de música instrumental na adoração a Deus, do começo ao fim, na escola dominical, na reunião do evangelho ou em qualquer outra... terá uma tendência a diminuir o caráter do próprio Cristianismo” (págs. 212-213).
Estamos convencidos de que o último século da história da Igreja testemunhou um declínio acelerado no tom de adoração e testemunho. Temos a convicção de que o aumento da ênfase no uso de instrumentos musicais, juntamente com a hinologia do tipo secular, tem contribuído muito para o movimento de rebaixamento.
Espero que não estejamos fazendo uma injustiça ao tão usado evangelista, querido Dwight L. Moody, quando o citamos como alguém que definitivamente promoveu a abordagem moderna da obra do evangelho. Nosso estimado irmão John Nelson Darby conhecia pessoalmente o Sr. Moody e procurou ajudá-lo. A avaliação do Sr. Darby sobre os métodos do Sr. Moody na obra do evangelho é definitivamente profética. Citamos aqui partes das suas observações, conforme registradas nas suas cartas publicadas:
“Eu me regozijo, sou obrigado a me regozijar, em cada alma convertida – devo fazê-lo – e salva para sempre. Nem duvido da seriedade de Moody, pois conheço bem o homem. Vejo que Deus está usando meios extraordinários para despertar Seus santos adormecidos... mas não me deixo levar por isso. Quanto ao resultado como um todo, não durará... Julgo plenamente que promoverá o mundanismo nos santos... Os indivíduos podem se converter; devemos nos alegrar com isso; o efeito sobre a Igreja de Deus será prejudicial” (Cartas de J. N. Darby,” (Vol. 2, pág. 308).
“A obra do Sr. M. ... declaradamente mistura o Cristianismo com o mundo e as influências mundanas, e as usa porque elas favorecem a obra dele e promovem o mundanismo e os males da Cristandade” (Vol. 2, pág. 394).
“Ele mistura suas atividades com o que é da carne, de modo a prejudicar os Cristãos e misturar os santos e o mundo” (Vol. 2, pág. 428).
Embora o Sr. Moody tenha dado o exemplo em grandes coros e acompanhamentos musicais, tudo foi mais suave em comparação com a atual pompa no chamado testemunho “Cristão”. Aqueles que surgiram na geração após o Sr. Moody têm sido insaciáveis em seus esforços para tornar o Cristianismo atraente para o homem na carne, e especialmente para torná-lo atraente para os jovens.
Há cinquenta anos, a Igreja professa reconheceu uma linha divisória entre o que era considerado “mundano” e o que era apropriado para um Cristão. Mas hoje a Igreja tem competido com aquela grande corruptora – Hollywood – na busca de atrair a multidão. Uma vez o teatro foi considerado como pertencente ao mundo e foi expressamente mencionado como algo que deveria ser evitado pelos crentes. Mas atualmente apresentações teatrais formam uma parte definida das atividades Cristãs professas. As chamadas escolas “fundamentalistas” publicam atraentes apelos para futuros alunos, destacando suas excepcionais instalações para o treinamento em teatro. Títulos sedutores e ilustrações de filmes supostamente “Cristãos” estão espalhados diante dos olhos em anúncios de revistas. Os crentes que antes pensavam que o cinema pertencia ao mundo agora se reúnem nos cinemas do centro da cidade para assistir “Martinho Lutero” ou algo parecido. Desnecessário será dizer que todas essas histórias são acompanhadas por elaboradas apresentações musicais que cativam as emoções e a imaginação, mas não trazem o ouvinte à presença d’Aquele que tão fielmente disse em Sua Palavra: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais” (2 Co 10:4).
À medida que folheamos as páginas de uma revista fundamentalista atual, Vida Cristã, ficamos impressionados com a grande porcentagem de páginas publicitárias que estabelecem anúncios de empresas oferecendo vários e elaborados instrumentos musicais e dispositivos musicais em hinologia. O apelo é definitivamente sensual.
Ó santos de Deus, Será que não devemos despertar para o fato de que estamos à deriva? A Cristandade, e, infelizmente, o “fundamentalismo” com ela, atingiram “o ponto mais alto de todos os tempos” em sua imitação do entretenimento mundano e um “recente ponto mais baixo” em poder espiritual. Atores e atrizes de Hollywood são apresentados como principais atrações nos chamados esforços evangelísticos, até mesmo para a requisição de heróis da TV do reino animal. Que incongruência grotesca com o padrão que nos é dado na Palavra de Deus: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2:4).
Em muitos casos, a paixão pela exibição musical foi tão longe que ensaios elaborados de talentos puramente musicais são oferecidos no palco da Igreja. Em vez da súplica sincera e solene do pregador cheio do Espírito das boas novas de Deus, a respeito de Seu bendito Filho, ouve-se o barulho do xilofone, o dedilhar da guitarra, a lamentação do violino ou o toque da trombeta e do saxofone. E tudo isso em nome de Cristo!
Neste ponto, vamos citar novamente a publicação 400 Questions and Answers, H. B. Coder, páginas 212-214:[10]
“Não somos inimigos da música instrumental. Gostamos dela se for mantida livre das imoralidades que muitas vezes se acrescentam a ela, e se for mantida onde pertence no círculo do lar e da vida social. Mas no ‘círculo Cristão’ – o círculo do povo celestial, que conhece a Deus e se aproxima d’Ele em toda a realidade do que Ele é – acreditamos ser inconsistente e inaplicável. Cremos que ela tem sido o meio de degradar o Cristianismo em grande medida.
“Vejam o efeito disso nas congregações Cristãs: Isso teria sido para ajudá-los a cantar no início; agora, mudos em louvor a Deus, eles estão, em vez disso, recebendo um deleite para si mesmos da arte musical. É de se admirar que depois disso eles possam associar o teatro à Igreja? Uma parte ‘lhes dá prazer’ e a outra também.
“Mais uma vez, observe seus efeitos no evangelismo moderno. Tornou-se um novo tipo de entretenimento, e, em vez de convertidos marcados por terem chorado em arrependimento pelo pecado, por uma separação clara até mesmo da vestimenta manchada por ele, e por um espírito de oração e devoção a Cristo, formou neles uma mente leviana e amante dos prazeres, destruindo o verdadeiro Cristianismo.”
Quando, em seus dias, Moisés veio do monte para encontrar o arraial de Israel em devoção desenfreada a um falso deus, ele “tomou a tenda e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial, e chamou-lhe a tenda da congregação; E aconteceu que todo aquele que buscava o SENHOR saía à tenda da congregação, que estava fora do arraial” (Êx 33:7). O Espírito de Deus Se apropria deste exemplo para dar-lhe uma aplicação Cristã em Hebreus 13:13: “Saiamos pois a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério”.
No início do século passado, o Espírito de Deus exercitou milhares de crentes para agir de acordo com essa passagem e sair de um arraial Cristão judaizado para encontrar Cristo no meio de dois ou três reunidos para Seu nome. Eles agiram com plena fé na promessa de Mateus 18:20. Deus os abençoou maravilhosamente e abriu-lhes a Escritura de uma maneira que nunca havia sido aberta desde os dias apostólicos. Aqueles crentes deixaram para trás títulos religiosos, sacramentos, vestimentas, edifícios, órgãos, coros, livros de oração e confessionários. O Novo Testamento tornou-se o único guia deles, e preciosos hinos de louvor indicados pelo Espírito foram alegremente oferecidos a Deus em todas as suas assembleias. A introdução de qualquer ajuda mecânica à sua adoração teria sido abominável para eles. Seu testemunho do evangelho foi com simplicidade, mas com poder. Nenhum glamour acompanhava seu trabalho no evangelho para cada alma. Eles procuraram, na realidade do juízo próprio, estar em conformidade com a mente do Senhor, conforme expresso em Apocalipse 3:8: “tendo pouca força, guardaste a Minha Palavra e não negaste o Meu Nome”.
Devemos, queridos irmãos, que são os herdeiros de um testemunho tão santo, trair nossa confiança e ceder à pressão e ao padrão atual para corromper essa preciosa herança? Em vez disso, que possamos ouvir o Espírito de Deus falando conosco de novo: “Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão, que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tm 6:13-14).
Nosso Senhor anunciou à mulher de Sicar em João 4:23-24 que Deus Pai está buscando adoradores que O adorem em espírito e em verdade. Esse não era o caso no sistema do Judaísmo. Que nossa alma seja profundamente exercitada diante do Senhor para que possamos responder à Sua “busca” e sermos encontrados como verdadeiros adoradores, não com flauta e órgão, mas com coração e alma. Em breve Ele virá! Então nos juntaremos ao coro celestial e cantaremos Seus louvores na casa do Pai. “Ora, vem, Senhor Jesus!”
Apêndice
Para aqueles que podem desejar um breve resumo das visões anteriores sobre o uso de instrumentos musicais na adoração e testemunho Cristãos, reproduzimos aqui um pequeno artigo que apareceu na revista The Young Christian[11] sob o assunto, “Um Encontro de Jovens – A Caixa de Perguntas””.
Pergunta: Por que instrumentos musicais não são usados nas reuniões daqueles reunidos para o nome do Senhor Jesus Cristo?
Resposta: A verdadeira adoração Cristã é “em espírito e em verdade” (Jo 4:23-24). É “com o Espírito” e “pelo Espírito” (1 Co 14:15-16; Fp 3:3 – TB) e não precisa de auxílios carnais. O Espírito Santo, habitando o crente individualmente, e a assembleia coletivamente (Jo 14:17), é o poder da adoração Cristã. Qualquer outra coisa serve somente à carne e, distraindo o coração do verdadeiro Objeto de adoração, é apenas um obstáculo. É uma coisa segura dizer que qualquer coisa que o homem comum, na carne, possa desfrutar não é adequada nas coisas de Deus. Podemos orar e cantar e bendizer a Deus no Espírito, mas o instrumento tem algum espírito? Os instrumentos musicais, sem dúvida, ajudariam na precisão e no tempo de nosso canto, mas impediriam o caráter espiritual de adoração, e somente esse é o que é aceitável a Deus.
Nenhum coração, a não ser aquele ensinado pelo Espírito,
Salmodia a Ti.
Quando observamos a origem dos instrumentos musicais (Gn 4:21), aprendemos que, como outras coisas que não são erradas em si mesmas, eles foram usados pela primeira vez pela família de Caim para ajudá-los a esquecer de Deus.
Este ainda é o uso que o mundo faz deles. Em Daniel 3:5, 7, 10, 15, instrumentos de música foram usados em conexão com adoração idólatra. Apelando para o sentido religioso da carne, eles produzem uma falsa percepção de adoração.
Os instrumentos musicais tiveram seu lugar no Velho Testamento e serão novamente usados no Milênio (2 Cr 5:11-13; Sl 150). Eles, como suas vestes sacerdotais e seus sacrifícios, estão conectados a um santuário terrestre. Mas a adoração Cristã é de fé, não de vista; celestial, não terrenal.
Novamente, Mateus 9:15 contém um princípio importante relacionado a esse assunto. O Senhor Jesus, desprezado e rejeitado por este mundo, está ausente, e isso deveria, em grande medida, caracterizar nossa adoração. A Igreja sente a ausência do Noivo! O toque das trombetas certamente não é consistente com nosso relacionamento com o Senhor como o Ausente! Como podemos adorá-Lo, a Quem o mundo matou, com os mesmos instrumentos que eles empregam para tirá-Lo de seus pensamentos? A esse respeito, não é a nossa posição a mesma de Israel na Babilônia (Sl 137:1-4)? As harpas estavam penduradas nos salgueiros. “Mas como entoaremos o cântico do SENHOR em terra estranha?”. Fraqueza deve caracterizar nossa adoração, enquanto pensamos em nosso Senhor como o Rejeitado e lamentamos Sua ausência.
E os instrumentos musicais relacionados com o evangelismo? Aqui, novamente, o apelo seria para o que a carne desfruta e não teria poder sobre a consciência. O grande lugar dado aos elaborados cultos musicais no arraial é, sem dúvida, uma atração para muitos, e não questionamos que Deus, em Sua soberania, poderia usar a execução de um hino, mesmo por um músico não salvo, para a salvação de uma alma. Mas poderíamos nós, que estamos reunidos para o nome do Senhor Jesus, fora do arraial (Hb 13:13), de forma consistente com nosso chamado celestial, usar em nosso serviço no evangelho o que Deus deixou de fora como inadequado para Ele na adoração em Sua presença e pensar que é adequado para Ele em Seu serviço no evangelho, seja para crianças ou adultos? Em vez disso, que possamos sempre buscar, pela graça, o que é adequado à Sua presença e agradável a Ele.
A Palavra de Deus nos proíbe de possuir instrumentos musicais e usá-los em nossa casa? Não. Os Cristãos são deixados livres para serem guiados pela graça de Deus que os salvou e para serem constrangidos pelo amor de Cristo, a viver, não para si mesmos, mas para Aquele que morreu por eles e ressuscitou (Rm 12:12).
Concluindo, embora o canto tenha um lugar reconhecido no serviço Cristão (At 16:25; Cl 3:16; Ef 5:19), os instrumentos musicais nunca são mencionados em conexão com o canto.
[1] N. do A.: Em Atos 2:47, as palavras, “à Igreja” não são encontradas nos melhores manuscritos. Veja Westcott & Hort, Nestlé e Oxford texts.
[2] N. do A.: O apóstolo João sobreviveu a todos os outros apóstolos e morreu em Éfeso, por volta de 100 d.C. Veja Davis & Gehman 's Westminster Dictionary of the Bible.
[3] N. do A.: Mais adiante em nosso artigo, trataremos do argumento que diz que algumas das palavras gregas traduzidas como "cantar" e "salmodiar" implicam o uso de instrumentos para acompanhamento [veja capítulo 3].
[4] N. do A.: O material para este capítulo é emprestado, em grande parte, do trabalho exaustivo de M. C. Kurfees, Instrumental Music in the Worship (1911), Gospel Advocate Co., Nashville, Tennessee, 1950.
[5] N. do A.: Por volta do ano de 1900, parece que as Igrejas ortodoxas gregas nos Estados Unidos começaram a usar instrumentos, mas esse não era o caso na Igreja europeia.
[6] N. do A.: Um estudioso greco-americano, professor de grego no Harvard College. Ele publicou a Gramática Grega em 1883, e outras obras sobre o idioma grego, gramática grega e o Léxico Grego dos Períodos Romano e Bizantino, 1870. (Veja Century Dictionary and Cyclopedia).
[7] N. do A.: Para aqueles que desejam uma discussão completa e capaz sobre este assunto, recomendamos fortemente o volume de J. L. Harris intitulado On Worship, or Jewish and Christian Worship Contrasted. Para uma apresentação mais curta, sugerimos um panfleto recente de nosso irmão H. E. Hayhoe: Christianity and Judaism Contrasted: An Exposition of Hebrews 6.
[8] N. do A.: Ver Down e Gehman, “Temple”, Westminster Dictionary Bible, pág. 594.
[9] N. do A.: Loizeaux Bros., Nova York, 1928.
[10] N. do A.: H. B. Coder (compiler), 400 Questions and Answers (com referência a mais de 1.200 passagens da Escritura), Loizeaux Bros., New York, 1928.
[11] N. do A.: Bible Truth Depot, St. Louis, 1940, Vol. 30, págs. 132-136.
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