INTRODUÇÃO
Se houve alguma coisa que pesou mais sobre o coração do autor ao escrever estas páginas, foi o pensamento de que a maioria dos que professam fé em Cristo praticam bem pouco essa fé. Em nossa preocupação com a ideia de levar paz às pessoas, existe um perigo especial que precisamos observar e orar para nos preservarmos dele e, ou seja, intrometer-nos (embora involuntariamente) entre Deus e os exercícios espirituais do indivíduo.
Este risco nunca foi provavelmente maior do que numa época superficial como a nossa. E fácil possuir hoje uma certa loquacidade em assuntos religiosos sem que a alma tenha sido absolutamente despertada. Ou, caso haja alguma espiritualidade, o caráter da mesma é tão pouco profundo que mal se deixa perceber em sua vida e comportamento diários.
Ao mesmo tempo, não pode haver dúvida de que através de impressões erradas quanto às próprias verdades fundamentais do evangelho, mediante hábitos de pensamento e expressão não-escriturísticos correntes em toda a Igreja professante, muitos corações se acham cheios de confusão e perplexidade realmente trágicos; embora os mesmos pudessem de outra forma estar saboreando a doçura da “alegria e paz na fé”. Isto não explica também a maneira pouco satisfatória do estilo de vida de inúmeras pessoas? Pois enquanto não tivermos um solo firme debaixo dos pés nosso andar será sempre vacilante.
Esta foi a consideração que encorajou o autor em seu objetivo de ajudar as almas, colocando estas páginas à frente delas; e sua oração é no sentido de que possam servir de bênção a muitos, sem fazer ninguém tropeçar. Quanto consolo encontramos nas palavras: “Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta” (SI 107.9).
O PROBLEMA ESPIRITUAL
NÃO existe problema no mundo como o espiritual. Quem pode suportar o tormento de uma consciência culpada? “Mas ao espírito abatido quem o levantará?” (Pv 18.14).
Um pouco menor do que a angústia de acordar na eternidade e descobrir que nossa alma está “perdida”, é a amargura de fazer essa descoberta a tempo embora o grande abismo não esteja ainda completamente “fixado”, nem a condenação da alma eternamente selada.
Quando o homem despertar para a verdade de que o fim da vida pecaminosa é o inferno, sendo esse no entanto, justamente o seu estilo de vida; quando o Espírito de Deus o fizer lembrar de que o próximo bater de seu pulso e de seu coração podem ser os últimos e que o Deus contra quem por tanto tempo e tão obstinadamente rebelou-se, comanda a sua respiração com o seu poder, não será de admirar então que vá para a cama sem jantar, passando a noite em vigília silenciosa e não em sono reparador, temendo e tremendo, debatendo-se e gemendo, orando e chorando.
A condenação ou a salvação eterna da alma não é uma questão superficial, e como poderá ele descansar até que isso se resolva? Merece perfeitamente ser condenado, todavia deseja com fervor a salvação. Ele parece esperar contra toda esperança, no entanto espera e não pode escapar desse sentimento. De um lado fica a “verdade”, irradiando a luz de sua “lâmpada” sobre o futuro inevitável e o passado inegável expondo plenamente ambos. Do outro lado, por assim dizer, se coloca a “graça”, dando-lhe testemunho de que apesar de sua perversidade e inteiramente devido ao mérito de Outrem, a bênção eterna ainda pode ser sua.
Quanta intensidade nesse conflito interior, até que o perdão sobrevenha e reine a paz; até que o destino da alma na eternidade esteja garantido além de qualquer dúvida ou indagação.
Existe um outro fator de importância nesta luta feroz. Satanás com suas sugestões e mentiras, está agora em plena atividade. Ele manteve-se “quieto por longo tempo”, mas agora precisa pôr em prática todos os recursos diabólicos que possa inventar a fim de impedir, se possível, os propósitos da graça; caso contrário, seu ex-escravo obediente se transformará em outra testemunha do valor do sangue do Redentor na purificação c de seu poder para salvar.
Num momento ele murmura, “Você é bom demais para perder-se afinal”; em outro, “Você é ruim demais para ser salvo; pelo menos, ruim demais para ser salvo na condição em que se acha; espere até melhorar”. Alguém disse muito bem que o relógio de Satanás está sempre muito adiantado ou muito atrasado. Segundo os conselhos perigosos dele, sempre há “muito tempo para pensar nessas coisas”, ou ele sussurra, “Deus é muito duro e justiceiro para mostrar misericórdia a um pecador como você; é tarde demais agora”.
DIFICULDADES ESPIRITUAIS
Como poderei escapar do castigo pelos meus pecados, desde que Deus é justo e eu pecador?
ESTA pergunta é tão antiga quanto o livro de Jó. E toca as próprias bases de todo descanso e paz. “Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce da mulher?” (Jó 25.4). Deus não poderia deixar de corresponder ao seu caráter santo e justo. O pecado o coloca no lugar de juiz e da mesma forma que Deus é justo, o pecado precisa ser plenamente castigado. Os homens sentimentalizam o amor de Deus e se esquecem da sua justiça. O Senhor, porém, será tão justo ao levar alguém para o céu através da obra de Cristo, como ao enviar o pecador para o inferno por causa de suas próprias obras perversas.
Quando Ele exaltou Cristo à sua destra na glória, declarou sua própria justiça através desse ato. Quando enviar Satanás ao castigo eterno no lago de fogo, estará conforme essa mesma justiça. De fato, se qualquer pecador for salvo, Deus será tão justo ao fazê-lo quanto o foi ao colocar Cristo na radiância da glória celestial, ou como será ao enviar Satanás para as trevas do juízo eterno.
De que modo então, depois de calar “toda boca” na família humana inteira, e pronunciar “todo homem” culpado diante dele, poderá Deus salvar qualquer um com justiça?
Ouça a resposta abençoada do Espírito de Deus: “Pois é Cristo quem morreu” (Rm 8.34). “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).
A culpa do pecado recaiu sobre o Cordeiro, segundo os desígnios do próprio Deus. Toda indagação da consciência perturbada quanto à penalidade aplicada ao pecado é respondida por outra pergunta, a qual perdurará por toda a eternidade, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15:34).
Quem poderia responder esse “Por que?” misterioso do Calvário? Vamos fazer uma pausa e investigar.
Os demônios confessaram ser Ele o Santo de Deus. Poderiam os poderes das trevas nos dar uma razão? Impossível. O próprio Satanás viu-se frustrado toda vez que se aproximou daquele que podia dizer, “Porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim”.
Os anjos ministraram a Ele depois de sua tentação no deserto. Não sabiam que Deus se agradava dele e que fizera sempre aquilo que dava prazer ao Pai? Seria possível, no entanto, responderem a esta pergunta momentosa? Repetimos, impossível: “para as quais coisas os anjos desejam bem atentar” (1 Pe 1.12).
Seus discípulos viram como a boca dos opositores fora silenciada pelo seu desafio sem resposta: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8.46) Eles deviam conhecer as palavras de Davi nas escrituras do Velho Testamento: “Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão” (SI 37.25). Vemos agora o único Homem absolutamente justo que já pisou nesta terra, “Jesus Cristo, o justo” e Ele foi desamparado! Maravilha das maravilhas! Por que? O homem não tem resposta para essa pergunta; nem mesmo aqueles mais dedicados a Ele.
Deus o Pai, atraíra mais de uma vez a atenção do céu e da terra para o fato de que no Abençoado e Humilde, Ele encontrara perfeita satisfação e prazer. Irá Ele abrir novamente os céus para dar uma resposta a esse “Por que?” misterioso? Não. O bendito portador de pecados é deixado para sentir, como só Ele poderia sentir, em meio às trevas daquelas três horas, o terror dessa palavra: “DESAMPARADO”. Outros haviam clamado em tempos idos; suas vozes foram ouvidas, eles foram salvos; mas atente às palavras d’Ele, enquanto alcançam e ferem nosso coração, em meio àquelas trevas terríveis: “Eu clamo... e tu não me ouves” (SI 22.2). Não existe, portanto, resposta à pergunta? Bendito seja Deus, ela existe, caso contrário, adeus a qualquer esperança de paz para você e para mim. A fé encontrou uma resposta. De onde a tirou? Se os demônios, anjos, homens, não puderam fornecê-la; se Deus não o fez, qual a sua procedência? Ela saiu dos lábios d’Aquele que fora Esquecido! Ele justificou a Deus por Se esquecer d’Ele. Quão precioso! Precioso e inconcebível! Repita isso sempre e jamais deixe que essa lembrança se apague. Ele justificou Deus por desampará-lo. Ouça as suas palavras benditas no Salmo 22.3, PORÉM TU ÉS SANTO, o que habitas entre os louvores de Israel”. Foi como se dissesse: “Sois tão santo que não poderias fazer menos que isso, em toda justiça, além de voltar as costas ao pecado, mesmo quando teu amado Filho o levava sobre Si”. É verdade! Quando se trata de julgar o pecado, não pode haver alívio, nenhuma resposta, até que a taça da condenação se esgote. Quanta solenidade, todavia quanta beleza nisso tudo! Como o pecador perturbado se sente atraído para esse precioso Salvador, enchendo seu coração de paz e fazendo-o transbordar de louvor. Que maior prova podemos ter então de que os pecados dos crentes em Jesus já foram julgados com justiça, julgados na pessoa de seu adorável Substituto? Deus pode ser agora então “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3: 26) Eles não são justificados pelo fato de nada poder ser dito contra a sua pessoa, mas sim pelo sangue precioso que, de uma vez por todas, satisfez todas as acusações que o próprio Deus poderia fazer contra eles.
Adorai-Lhe, Adorai-Lhe,
Sua gloriosa obra consumou
Louvai-Lhe e Exaltai-Lhe,
Do pecador o juízo tirou
E sobre o Filho de Deus o lançou
“Está consumado”
clamou em dor na cruz ao morrer por mim
Fui culpado e pecador
Mas Cristo me salva assim.
Vemos assim que os pecados do crente não escaparam do castigo. O evangelho não fala de um Deus cujo amor foi expresso passando por alto o pecado, mas de um Deus cujo amor pelo pecador só poderia manifestar-se quando seus direitos santos contra o pecado tivessem sido rigorosamente satisfeitos e sua penalidade suportada até o fim.
“Que seja o pecado julgado”
Sobre a cruz está escrito.
“E o pecador libertado”
Oh gozo bendito!
Ao tentar ser bom, só consegui tornar-me pior.
Não encontramos talvez um erro mais comum do que supor que salvação significa um aperfeiçoamento gradual do indivíduo, uma melhora, até que ele se encontre finalmente cm condições para estar na presença de Deus, pronto para o céu.
Mas a Bíblia torna claro que a salvação vem somente pela fé na obra de Cristo, consumada na cruz de uma vez por todas.
Sabemos que o apóstolo Pedro ficou “cheio do Espírito Santo” quando testemunhou corajosamente diante das autoridades e anciãos de Israel, “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12).
Torna-se necessário entender claramente que o Espírito Santo jamais é apresentado como nosso Salvador, como se Ele tivesse morrido pelos nossos pecados. Através do Espírito Eterno é que Cristo ofereceu-se, sem mácula, a Deus (Hb 9.14). Mediante a obra do Espírito em nossas almas nos tornamos sensíveis à nossa necessidade de Cristo e de Seu sacrifício. O Espírito é que efetivamente aponta a obra de Cristo a toda alma despertada. No entanto, o trabalho do Espírito em nós não é a base da paz. “Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1), pois foi Ele que “por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4.25). Vamos examinar a ideia simples de “sede” usada repetidamente nas Escrituras para descrever a necessidade de um pobre pecador: “Se alguém tem sede”, disse o Senhor bendito, “venha a mim, e beba” (Jo 7.37). Até uma criança, se lhe perguntássemos isso, poderia dizer que a sede é o resultado de algo produzido no interior de nosso corpo; o que mata essa sede é algo provido exteriormente e quando esta provisão externa é aplicada à necessidade interna, a sede é extinta.
Quando o testemunho da palavra de Deus, quanto à morte de Cristo, é recebido pela fé por parte de um pecador com a consciência atormentada, o resultado é paz. Eu merecia a morte e a condenação, ele lhe dirá, mas Cristo bebeu a taça do juízo e morreu em meu lugar; meus pecados eram inúmeros, mas Deus, que os conhecia, colocou os mesmos sobre o Seu Filho amado, como meu substituto, e o juízo completo sobre eles recaiu sobre a Sua bendita cabeça. Toda a minha perversidade foi exposta; nada ficou oculto; nada escapou ao julgamento. “Ele foi ferido pelas nossas transgressões”, “Foi entregue pelas nossas ofensas”, Deus ressuscitou-o dentre os mortos e a paz da alma é obtida através da fé n’Ele e no Deus que o ressuscitou.
Não se trata de um “aperfeiçoamento cada vez maior” da nossa parte. Se Deus não pudesse salvar-nos até que fôssemos suficientemente bons para merecê-lo, não haveria esperança para nós. Em lugar de estabelecer um determinado padrão de mérito a ser atingido pelo homem, Ele nos ensina dois fatos bem dolorosos sobre a nossa natureza:
Nossa condição de pecadores.
Nossa incapacidade de salvar-nos a nós mesmos.
Devemos aprender que não somos apenas culpados e ímpios, mas também que não temos poder para nos tornar aquilo que desejaríamos ser.
Só depois de repetidos esforços de reforma, após inúmeras decisões não levadas a termo, é que o versículo 6 do capítulo 5 de Romanos foi aplicado à alma sequiosa do escritor, “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios”; assim como a água satisfaz a necessidade de um viajante sedento perdido no deserto, esse versículo satisfez a sua necessidade. O seu passado dera provas abundantes de que era “ímpio”, enquanto todos os seus esforços infrutíferos para ser o que um cristão deveria ser provaram apenas que era “fraco”. Mas agora, “Minha sede foi saciada, minha alma reviveu, E vivo hoje n’Ele”.
Não é necessário crescer na graça até que sejamos salvos; i.e., até que estejamos preparados para o céu?
Esta dificuldade se assemelha à que acabamos de tratar. A resposta será simplificada se lembrarmos que em vista da salvação da nossa alma apoiar-se inteiramente nos méritos da obra de Cristo na cruz a nosso favor, não pode haver progresso na segurança do crente, nenhum progresso na libertação “da ira vindoura”, desde que não existe progresso numa obra já “consumada”.
“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11); “Eis aqui agora o dia da salvação” (2 Co 6.2); “Hoje veio a salvação a esta casa” (Lc 19.9); “Que nos salvou” (2 Tm 1.9); “Porque pela graça sois salvos” (Ef 2.8).
Deve ser notado, porém, que existe além deste, um outro aspecto da salvação, embora não seja o tema tratado por nós aqui a salvação futura do corpo na vinda do Senhor (Fp 3.21), e a proteção diária dos que são reconciliados com Deus (Rm 5.10).
Deus havia declarado em tempos idos: NÃO SUBIRÁS POR DEGRAUS AO MEU ALTAR.
“Não o farás de pedras lavradas; se sobre ele levantares o teu buril, profana-lo-ás. Não subirás também por degraus ao meu altar” (Êx 20:25-26). Tome nota! Nenhuma obra artesanal, nenhum progresso na obra dos pés, é o que aprendemos aqui. Em linguagem figurada, o significado é este, “Estai quietos, e vede o livramento do Senhor”. Como um altar desse tipo era conveniente para um ladrão agonizante!
O que poderia ele ler feito caso houvesse necessidade de qualquer atividade das mãos e dos pés? Só podia olhar para Cristo, e isso era tudo. Seu pecado levou-o à presença do Cordeiro de Deus sobre o altar. A Luz da Vida despertou a sua consciência; o amor atraiu seu coração; sem necessidade de aguardar o progresso de um dia sequer, ele foi preparado para o paraíso naquele mesmo momento. E, mais ainda, com base na maior Autoridade, ele sabia disso.
Podemos então perguntar: Não existe algo como o progresso ou crescimento cristão? Graças a Deus há, mas (e repetimos com nova ênfase) nenhum progresso em nosso preparo para o céu, nem nosso livramento do juízo vindouro. Que “nos livra da ira futura” (1 Ts 1.10). “Que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz. Que nos tirou da potestade das trevas” (Cl 1.12,13).
Vejamos uma ilustração. Um homem que não sabia nadar caiu num rio profundo. Um senhor, desconhecido do indivíduo que se afogava, se apressa ao longo da margem até onde ele se acha lutando e afundando. Tirando o casado e o chapéu, ele corajosamente mergulha para salvá-lo. Sua coragem é recompensada. O homem é salvo. Algumas palavras de agradecimento sincero são trocadas de um lado e cumprimentos alegres do outro. O salvador e o salvo se despedem então, seguindo cada um o seu caminho.
Uma terceira pessoa que testemunhara o incidente seguiu o homem salvo e lhe disse: Você sabe quem foi que lhe salvou a vida?
“Ele me disse o seu nome”, replicou este, “mas gostaria de conhecê-lo melhor”.
“Você quer que vá visitá-lo um dia desses e lhe fale sobre ele? É uma excelente pessoa.”
“Quero sim. Venha e passe comigo algum tempo esta noite.”
O convite foi aceito e repetido para cada noite daquele mês. O tema da conversa foi sempre a pessoa que o salvara de morrer afogado. No fim desse período, aquele homem não estaria conhecendo muito melhor o seu bondoso salvador, do que o conhecia no primeiro dia? Claro que sim. Mas, teria havido algum progresso na salvação propriamente dita? Não. Todavia, houve crescimento. Ele cresceu no conhecimento de seu salvador.
Vamos aplicar agora nosso exemplo. O Filho bendito de Deus viu, em sua presciência, que se não interferisse a nosso favor, nos afogaríamos para sempre nas profundezas do juízo de Deus sobre o pecado. Não havia outro olhar misericordioso, nenhum outro braço que pudesse salvar. Mas “o amor levou-o a morrer”, e na plenitude do tempo Ele veio:
Desde os céus Ele veio, alta glória
Ao Calvário morrer, linda história.
Ele empreendeu a obra da nossa salvação. Foi batizado nas águas escuras da morte. As enchentes do juízo levantaram a sua voz. As ondas da ira rolaram com força esmagadora sobre Ele; de modo que para Ele e seu povo protegido nada resta a sofrer. A justiça foi satisfeita: Deus recebeu glória nesse sacrifício de expiação de pecados. Através dessa obra consumada, todo culpado que n’Ele confia, ficou tão livre da condenação quanto Aquele que a suportou em seu lugar. Ele está “livre da ira futura”. Foi feito filho de Deus mediante a fé em Cristo Jesus (Gl 3..26), e por ser filho, Deus lhe envia o Espírito de seu Filho ao seu coração, clamando Abba, Pai (G1 4.6). Note que não recebemos o Espírito para tornar-nos filhos, mas porque somos filhos. Nossos corpos se tornam então o templo do Espírito Santo. (Veja 1 Co 6.19.) Ele habita em nós e nos sela para o “dia da redenção”, i.e., a “redenção de nosso corpo”. (Compare Ef 4.30 com Rm 8.23.)
Não se trata de um simples visitante, que aparece ocasionalmente como o homem na ilustração; Ele permanece; fica para sempre”, foi a promessa fiel (Jo 14.16). E qual o seu grande tema como habitante permanente? Cristo. “Ele testificará de mim” (Jo 15.26). “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.14).
No ano de 1888 um idoso cristão morreu em Lincolnshire. Ele fora convertido em 1813 e servira como pregador local durante 50 anos. Andara a serviço do Mestre cerca de 24.000km cálculo feito por baixo. Todavia, não possuía maior mérito para a salvação, depois de todos esses anos de serviço, do que no dia em que deu o primeiro passo nela. Não há dúvida que durante 75 anos ele atravessara com segurança muitas dificuldades, fora salvo de muitas armadilhas, ajudado em inúmeras situações complexas; aprendera também bastante a respeito de si mesmo e de seu Mestre, cujo conhecimento não tinha no princípio. Mas só o sangue era o seu direito ao céu no início e também só ele tinha valor no fim. Seu crescimento na graça durante todos aqueles longos anos dependeria da medida em que andara na companhia do Espírito. Todavia, a não ser que pudesse haver qualquer acréscimo ao valor do sangue precioso, seu título para a glória não tinha condições de crescer. Impossível Se o homem salvo em nosso exemplo tivesse mantido o visitante ocupado todo o tempo, ou a maior parte dele, em corrigir seu procedimento errado, teria havido pouco desenvolvimento no que se refere a conhecer melhor a pessoa que salvara. Não é isso que acontece com muitos de nós?
Nosso comportamento é tal que entristecemos o Espírito Santo, pois Ele tem de ocupar-se mais em corrigir nossas más tendências do que em exercer sua missão agradável de desvendar as glórias de Cristo. É por isso que não crescemos. Embora salvo deva crescer, o crescimento na graça não representa salvação do juízo devido aos nossos pecados.
Devemos notar que o apóstolo Pedro não só nos exorta “aperfeiçoar-nos”, mas também nos ensina como conseguir isso “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo” (1 Pe 2.2). E se alguém perguntar, “Como crescemos, alimentando-nos da Palavra?”
E porque as Escrituras falam de Cristo. “As Escrituras ... de mim testificam” (Jo 5.39).
Assim sendo:
O Espírito dá testemunho de Cristo.
As Escrituras testificam de Cristo.
Ambos trazem Cristo à nossa presença, ou seja, o Espírito usa a Palavra para isso, fazendo que cresçamos no conhecimento pessoal de Cristo. Repetimos, no entanto, não existe progresso em nossa segurança. O homem na água necessitava salvação teria perecido caso não a recebesse; fora da água, na terra seca estava salvo.
Em nossos pecados não estamos salvos.
Fora de nossos pecados, mediante o sangue precioso de Cristo, estamos salvos. A partir de então, o Espírito Santo passa a habitar em nós. Que maior testemunho poderíamos ter de estarmos preparados para a presença de Deus do que a habitação do Espírito Santo em nós? Lembre-se, porém, Ele não faz isso em vista daquilo que somos por nós mesmos, mas devido ao valor do sangue. O azeite (tipo do Espírito) foi colocado em cima do sangue da expiação da culpa, quando o leproso foi purificado (Lv 14.17) e não diretamente sobre o carne dele.
Penso que sou pecador demais para ser salvo, perverso demais para merecer o favor de Deus, não tendo mérito algum para ter qualquer relacionamento com Ele.
Ouça bem! Talvez existam milhares no inferno que se julgam bons demais para se “perderem”, até que provaram a amarga realidade dessa palavra terrível, além do ocaso de seu dia da graça. Mas é certo que entre as incontáveis miríades dos remidos na glória, não se pode encontrar um que diga, “Estou aqui gozando o céu porque na terra fui suficientemente bom para ser salvo”. O apóstolo Pedro lá se encontra, mas ele se declara um homem “pecador”, indigno de estar na presença do Mestre.
Paulo confessou ser “o principal dos pecadores” e assim todos os outros. “Pela graça” e só por ela, cada um deles foi salvo.
O fato é que o pensamento de merecer a salvação é tão natural ao coração humano quanto as ervas daninhas ao seu jardim; e Satanás sabe muito bem como tirar proveito disto, ocultando de seus olhos o caráter amoroso da “multiforme graça de Deus”, através da qual ele recebe a salvação. Satanás odeia a história da graça de Deus, pois ela não pode ser contada sem registrar a glória redentora de Cristo. É a “graça” que reina através da justiça — uma justiça declarada na cruz, onde o castigo devido ao pecado recaiu sobre o Substituto voluntário. Só por causa desse sangue precioso derramado é que o perdão livre e imerecido poderia ser pregado aos pecadores culpados.
O mérito é então todo d’Ele, e a culpa nossa. Nós, suficientemente perversos para merecer o juízo: e Ele, bom o bastante para vir e livrar-nos da morte, suficientemente bondoso para beber a taça do juízo por nós. Ele bebeu-a até o fim e disse, “Está consumado”. Deus só tem dois métodos para tratar com os homens culpados. Ele lhes dará (com base em seus próprios méritos) tudo o que merecem, até a última gota; ou, achegando-se a Cristo como culpados e perdidos, Ele lhes dará, completamente, aquilo que Cristo merece. Felizes, portanto, os que podem cantar:
Sou salvo por seu mérito, não há outro mais fiel, Nem mesmo onde a glória habita, na terra de Emanuel”.
Se o leitor tivesse apenas um vislumbre do que é a graça, ele jamais falaria de ser perverso demais para receber a salvação.
Suponhamos que alguém tivesse de colocar sobre a sua porta estas palavras (vamos chamar essa porta de No. 2):
CAFÉ DA MANHÃ NESTA CASA.
BILHETES ENTREGUES NA PORTA AO LADO (No. 1) SÓ PARA NEGROS. NINGUÉM PODE ENTRAR DEPOIS DAS NOVE HORAS.
Qual o negro, velho ou jovem, escravo ou livre, que seria tão tolo a ponto de ficar tremendo do lado de fora daquela porta até passar do horário de entrar, com medo de ser “negro demais” para conseguir um bilhete grátis para o café da manhã? Nada disso, quanto mais negra a pele, tanto mais inegável seu direito à entrada.
Suponhamos, entretanto, que um certo negro, tendo-se recusado a pedir o bilhete na porta No. 1, vá até a porta No. 2 e peça o café sem ele. Deveria surpreender-se ao descobrir que ela não se abre? De que valeria se argumentasse: “Vocês acabaram de receber um homem menos negro do que eu” “Tem razão”, seria a resposta, “mas não foi por causa da cor preta, ou branca, que foi admitido.”
A cor de sua pele deu-lhe a melhor recomendação possível para a entrega do bilhete, se fosse mais branco seu direito a ser chamado de negro poderia ter sido posto em dúvida, mas é o bilhete que lhe confere o direito ao café, e foi isto que você recusou. Vá-se embora.”
Existem igualmente muitos que parecem pensar que o fato de sermos todos pecadores e por ouvirem que Deus vai levar alguns destes ao céu, com certeza julgam que só irão os melhores dentre eles; essas pessoas raciocinam então, se fulano e fulano chegarem lá, eu certamente terei uma boa possibilidade de ser admitido.
Grave porém isto, caro leitor, o fato de ser pecador não lhe dá direito à glória, mesmo que pudesse afirmar ser o melhor dentre a raça arruinada de Adão. O fato de ser pecador lhe confere a melhor recomendação possível para o Salvador, mas é este Salvador que lhe dá o direito à glória.
“Este recebe pecadores” (Lc 15.2) é a inscrição colocada sobre a porta do Salvador e nenhum deles será perverso demais. Leia de novo, “Ninguém vem ao Pai, senão por mim”. “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 14.( 6.37). Outra vez, “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu os aliviarei” (Mt 11.28). “Se. Alguém entrar por mim, salvar-se-á” (Jo 10.9).
“Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra” (Is 45.22).
“Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10.13).
Tome cuidado, portanto, para não ignorar, como o negro a porta No. 1 e supor que pode, através daquilo que é, reclamai a bênção necessária na No. 2. Só seremos salvos em vista daquilo que Cristo é e da Sua obra a nosso favor. Mesmo que você tivesse feito tantos atos meritórios quantos grãos de areia existem nas praias do oceano e seus pecados fossem tão poucos e tão raros como os poderosos submarinos que singram através dos mares, ou tão ocultos quanto os torpedos mortais que se escondem em seu leito, sem Cristo você não teria direito algum, exceto ao lago de fogo. Um só pecado seria a sua ruína, uma palavra impensada, uma ideia maldosa, um único ato de obstinação bastaria. Ele fecharia as portas do céu para você com tanta força quanto o primeiro ato de desobediência de Adão bastou para expulsá-lo do paraíso.
Não perca tempo precioso “tentando melhorar” antes de achegar-se a Cristo. O próprio fato de necessitar de reforma prova que o seu passado não foi bom e se você pensa em basear-se em seu próprio mérito, lembre-se de que “DEUS PEDE CONTA DO QUE PASSOU” (Ec 3.15).
Dizer que é “perverso demais” é diminuir a glória da graça toda abundante de Deus, limitar o poder de purificação total do sangue de Jesus. O mar sustenta com a mesma facilidade o navio de cinco mil toneladas e a pena macia de uma gaivota. Desde que Ele busca os nossos corações e desde que aqueles a quem muito é perdoado muito amam, tenha a certeza de que Ele está tão disposto a acolher os mais perversos quanto é capaz de salvar os maiores pecadores.
Há alguns anos o autor visitou um próspero homem de negócios a fim de ver sua filha que estava morrendo. Ela estava doente sem esperança e sabia disso. A pobre mãe tentara por todos os meios aliviar o medo da filha, dizendo-lhe não haver uma verdadeira causa de alarme quanto ao futuro; que embora tivesse passado o verão anterior na terra em meio a toda a alegria da “temporada londrina”, continuara no entanto uma “moça de mente pura” em meio de tudo.
Depois de considerável relutância por parte dos pais, o autor teve finalmente permissão para subir ao quarto da doente.
A enfermeira foi dispensada pelo pai afetuoso e o visitante ajoelhou-se aos pés do leito e clamou do fundo de sua alma para que a moça agonizante fosse abençoada. Depois de levantar-se, ele leu alguns versos de Romanos 5, demorando-se um pouco no v.8, “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”.
Neste ponto aquela infeliz criatura exclamou, “Ah! o senhor não sabe o que fui, ou não estaria falando comigo sobre o amor de Deus. Não pode haver misericórdia para mim!”
O autor replicou a isto, “Srta. ..............., acredito que se visse a si mesma através dos olhos de Deus, se julgaria dez mil vezes pior do que se acha agora. Mas cometeu um grande erro hoje, a meu ver”.
O pai idoso levantou os olhos inquiridores, através das lágrimas, como se dissesse: “Qual o erro cometido?”
“Olhe”, continuou o autor, “não viajei tanto para perguntar se você acha que possui mérito suficiente para que Deus tenha confiança na sua pessoa, mas para trazer-lhe as novas benditas de que Deus acha seu Filho suficientemente digno para que você confie n’Ele. A sua bênção para a eternidade depende disto.”
No momento seguinte a fisionomia dela mudou, como se um raio de luz celestial acabasse de entrar.
Não pode também haver dúvida de que isso aconteceu; pois o pai dela escreveu pouco depois para falar da bênção de sua filha, dizendo que ela em breve estaria onde nuvem alguma surgiria para escurecer o seu céu, ou para ocultar por um momento sequer de seus olhos o Seu Senhor.
O Senhor também envia raios de glória da sua graça para entrarem no seu coração, caro leitor, e fazer com que veja que Deus não está procurando mérito em sua pessoa quanto ao passado, nem qualquer decisão de que será digno no futuro; mas Ele tem muito a dizer-lhe sobre o mérito de Jesus, seu Filho amado.
Ele é o “prego” colocado em “um lugar seguro” e sobre Ele você pode apoiar-se com toda tranquilidade e confiança. Se o “prego” cair, tudo que estava pendurado nele cairá, sejam utensílios de ouro polido ou o barro mais grosseiro. A segurança não depende da qualidade dos utensílios, mas da estabilidade do “prego”. (Veja Is 22:23, 24.) Creia n’Ele, então, porque é digno, aceitando a promessa de sua própria palavra, de que a bênção é sua. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Tentei reconciliar-me com Deus, mas jamais me senti tranquilo nesse sentido. Penso que não tentei da maneira certa.
“Tentar da maneira certa” é coisa que não existe. Em primeiro lugar não há necessidade, mesmo que pudesse. Em segundo, você não poderia mesmo que quisesse. Reconciliar-se com Deus em relação a seus pecados, seria satisfazer as reivindicações justas d’Ele quanto aos mesmos, suportar seu justo juízo por causa deles. Quem teria coragem de fazer tal transação? Claro que ninguém. Graças a Deus, não foi pedido a ninguém que o fizesse. Essa obra pertence a Outro. Cristo “havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz” e, pelo Espírito Santo, enviado pelo grande Pacificador, o Deus da paz, está agora “pregando a paz por Jesus Cristo”. É crendo no que Ele fez que a paz com Deus se estabelece.
“Justificados, pois, mediante a fé, tenhamos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).
O que a maioria das pessoas indica com a frase “fazer as pazes com Deus” é a ideia de apaziguá-lo fazendo algo que as recomende junto a Ele, como Jacó tentou abrandar a ira esperada de Esaú, o irmão roubado e frustrado. “Eu o aplacarei com o presente que me antecede, depois o verei; porventura me aceitará a presença” (Gn 32.20). Eles esperam, mas não passa de um “porventura” afinal de contas, que em consideração aos erros corrigidos, Ele esquecerá os pecados da vida que passou e os leve para o céu. Mas, será que o pecado e a expiação são coisas assim tão superficiais? Estão certos em considerá-los leves, como disse alguém: “se da mesma forma que meu sopro apaga a vela ou uma gota d'água a extingue, uma oração, um suspiro penitente, ou algumas lágrimas derramadas, puderem extinguir a ira de Deus”. Tais pessoas devem saber muito bem que uma simples expressão de tristeza, um pequeno arrependimento, jamais seriam aceitos como pagamento de uma dívida entre homem e homem; no entanto, são suficientemente cegos para pensar que isso poderia satisfazer as exigências de um Deus santo em relação a uma vida inteira de pecado!
Não se trata também apenas de considerar levianamente o pecado, mas de desprezar o que Deus é, tanto como “luz” ou como “amor”. Se o pecado tiver de ser castigado, nem todas as lágrimas de todos os arrependidos que este pobre mundo jamais conheceu poderiam servir para isso. É necessário que sangue seja derramado e não lágrimas. Pois “sem derramamento de sangue não há remissão”. Mas, quais são então as boas novas do evangelho? São estas: “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1 Pe 3.18). Tome nota, Ele “morreu”, pois o sofrimento (a morte) era a penalidade devida pelos nossos pecados.
Em lugar de nossas obras nos recomendarem ao amor de Deus, “Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Quando uma dívida tem de ser paga, um mar de lágrimas não irá cancelá-la. Nem os remorsos por atos passados, embora sinceros, nem promessas para o futuro, por mais autênticas que sejam, acertariam esta conta. Mas se o devedor soubesse que um amigo tinha interferido e pago o débito inteiro, toda ideia de “tentar um acordo” como credor seria afastada.
Toda alma ansiosa sem dúvida começa com o pensamento certo quando diz a si mesma: “Com todos os meus pecados diante de mim, se quiser colocar-me algum dia na posição reta à frente de um Deus santo, alguma coisa precisa ser feita.”
Nesse ponto é que Satanás encontra justamente uma brecha para murmurar: “E verdade, você vai descobrir que Deus é duro e exigente. O melhor é começar logo”, embora ninguém saiba melhor que Satanás que isso não está contido no evangelho. Não se trata de alguma coisa ter que ser feita e portanto eu devo fazê-la, mas sim: O que precisa ser feito já foi feito. CRISTO O FEZ: por isso Deus o exaltou tanto. O apóstolo, mediante o Espírito de Deus, chama a atenção do crente para Ele como Salvador entronizado e diz, “Ele é a nossa paz”.
“E seus ferimentos no céu declaram que a obra de expiação está feita.”
Alguém contou esta história: Do mesmo modo que os soldados de um exército vitorioso exibem sua bandeira manchada de sangue e perfurada por balas, assim como seus vários troféus e despojos de guerra, confirmando o preço pago pela derrota do inimigo e para garantir a paz em seu país, Jesus também, triunfante e ressurreto, voltando do lugar de conflito e morte, anuncia a paz que Ele assegurou para os que lhe pertencem (Jo 20. 19, 20); ao mesmo tempo, Ele exibe suas mãos e lado feridos para lembrá-los do alto preço pago pela sua paz, silenciando Satanás para sempre.
Será possível então, contemplar esse Vencedor coroado de glória sobre “ o trono da Majestade nos céus” e ainda falar de fazer paz com Deus? Não devemos em vez disso cantar, “O Senhor triunfou gloriosamente” e “nos deu a vitória”?
“Dele seja a vitória;
Pois veio só Ele Reinar.
Aos santos triunfantes resta a glória
Da conquista com Cristo gozar”
Sei perfeitamente o que Cristo fez. Se apenas pudesse aceitar isso e sentir-me satisfeito.
As almas nestas condições podem pensar que sabem o que Cristo fez, mas se realmente compreendessem a natureza de sua obra consumada não falariam desse modo.
Vejamos um caso suposto como ilustração: Um menino quebra o vidro de uma loja na cidade. Ele é preso e lhe exigem pagamento pelo dano causado. Mas o garoto não tem dinheiro { se o caso for adiante, não há outra saída para ele senão a prisão ou o reformatório. Acontece que um parente do lojista assistiu tudo e reconheceu o rapaz como aluno ocasional de uma escola noturna na periferia. Sua mão é posta imediatamente no bolso; algumas palavras de censura branca que quase cortam c coração do jovem e depois a pergunta importante:
Em quanto ficou o prejuízo?
Dez cruzados, é a resposta imediata.
Ei-los aqui. Está satisfeito?
Aceitando o dinheiro oferecido, o dono responde: Perfeitamente.
Agora então o recibo.
O recibo é dado, o lojista ficou satisfeito; e o garoto, o que aconteceu com ele? Tinha ainda de pedir misericórdia? Ficou desejando poder aceitar o que o amigo fez? Nada disso. Ele sabe que o perdão foi recebido e que ele está livre, livre de qualquer acusação. Sabe também que não é ele que deve sentir satisfação, mas diz: “Se aquele cuja vidraça quebrei está contente por que não devo também ficar tranquilo a esse respeito?”
Se você encontrasse um rapaz nessa situação e lhe perguntasse sobre o ocorrido, ele lhe diria que não lhe era possível pensar em seu ato irrefletido sem ligá-lo à bondade do amigo. Suponhamos que você diga: Como sabe que o lojista não irá pedir que você faça o pagamento um dia?
“Ah! Ele jamais faria isso. Não teria condições de agir desse modo legalmente, seria a resposta. “De fato, ele responde pelo meu perdão junto à pessoa que pagou os dez cruzados. A minha liberdade é devida ao meu amigo!”
Você quer dizer que está dependendo do caráter reto dele?
Claro. Ele é honesto demais para exigir um novo pagamento da mesma dívida.
Há necessidade de aplicarmos o exemplo? Cristo não se colocou na fresta aberta pelo pecado entre um Deus santo e os homens pecadores? Ele não se ofereceu, imaculado, a Deus, para a satisfação de todas as exigências justas de Deus quanto ao pecado? Não foi Ele também o dom do seu amor, o Cordeiro provido por Ele mesmo?
A pergunta não é, portanto: “Você pode aceitar o que Ele fez?” mas, “Pode Deus aceitar esse ato como satisfazendo a exigência infinita de sua própria justiça contra nossos pecados?” Você não crê que Deus aceitou o sofrimento de seu Filho na cruz pelos nossos pecados? Se acredita, comece a louvar imediatamente Aquele que sofreu em seu lugar, e o Deus que o ofereceu com amor para isso.
A aceitação da obra do Substituto por parte de Deus tem sido fartamente provada. O véu rasgado, o túmulo aberto, a glória que desceu para levantar dele o Portador de pecados esquecido, sua posição atual no lugar de maior honra à destra do Pai, a glória que brilha em seu rosto, as coroas que circundam sua testa, tudo nos assegura de que sua obra foi aceita. Além deste coro de testemunho celestial, acham-se as maravilhosas palavra que saíram de seus próprios lábios benditos, ao subir ao Pai, “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer” (Jo 17.4).
Como nos alegra ver que a palavra de Deus estende esta obra ao pecador. “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores” (1 Tm 1.15; veja também Rm 5.6-8).
Vamos imaginar o caso de um condenado à morte que jaz em sua cela esperando o dia fixado e fatal. Um mensageiro entra com notícias importantes. “Fui enviado para dizer-lhe”, afirma, “que alguém lá fora ofereceu-se para morrer em seu lugar.”
Como o prisioneiro parece imediatamente louco de alegria! Como suas faces enrubescem! E não é para menos!
“Ofereceu-se para morrer por MIM! Quem, Quem?” gagueja ele. “Quem fez isso?” A seguir vêm as perguntas, uma após outra, rapidamente.
“Ah! Parece bom demais para ser verdade. Você acha que ele pretende mesmo fazer o que prometeu? E se estiver sendo sincero agora, será que não vai mudar de ideia no final?”
“Não tenha medo”, disse o mensageiro. É meu privilégio informá-lo de que ele já morreu em seu lugar!
“Mas, e as autoridades do governo? O governador ficou satisfeito?”
“Sim. Seu amigo foi aceito como seu substituto voluntário antes de subir ao cadafalso. Agora que a execução já acabou, Sua Excelência enviou-me para contar-lhe que já não existem barreiras entre você, sua casa, e a liberdade. O perdão e a liberdade, através daquele que morreu por você, lhe são graciosamente anunciados em nome do governador.
Cristo não só ofereceu-se a si mesmo, imaculado, a Deus, por você (veja Hb 9.14; 10,9), mas “Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pe 3.18). Por que foi acrescentado, “para levar-nos a Deus”?
Porque Deus nos queria perto d’Ele. E agora o Senhor não só declarou-se satisfeito com a obra, duplamente satisfeito, tendo havido satisfação de seu coração amoroso e exigência santas, mas também glorificado.
Isto é da máxima importância, pois de que valeria a morte de alguém para o condenado se o governador não tivesse aceito esse ato de substituição? (A aceitação do substituto por parte do criminoso é naturalmente suposta aqui.)
Ouça agora a palavra de Deus (Jo 13.32),
“Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar”.
Isto Ele fez, porque lemos: “Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai” (Rm 6.4).
Ele foi “recebido acima na glória” (1 Tm 3.16).
Ele está “coroado de glória e de honra” (Hb 2.9).
Que provas maiores que essas Deus poderia dar de que estava satisfeito com a obra de Cristo? E se Ele se considera satisfeito, não devemos nós também ficar? Não satisfeitos conosco mesmos ou nossos feitos mesquinhos, mas com Cristo e a obra através da qual Ele glorificou eternamente a Deus, ao assegurar a bênção eterna para o homem.
Espero que o leitor não esteja mais preocupado com seus próprios sentimentos de satisfação, mas possa dizer:
Doce descanso encontro em Sua Luz, Rico louvor que minha alma sustem.
Deus se agradou em Jesus, E Nele eu me satisfaço também.
O pedido de perdão não me trouxe o sentimento que ambiciono de ter sido perdoado.
Ao considerar a questão do perdão de pecados é importante ver, em primeiro lugar, a base real da mesma. Se tiver de obter o perdão de Deus, é necessário que o alcance segundo a vontade d’Ele. Fica claro nas Escrituras que Deus associa nosso perdão com o valor da expiação através do sangue de Jesus. “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1.7).
Dois grandes erros costumam ser comuns hoje neste respeito. O primeiro é que iremos obter perdão se pedirmos insistentemente e por longo tempo, afim de induzir Deus a concedê-lo. O segundo, que vamos ter certeza de que o obtivemos mediante certas emoções interiores. A verdade, no entanto, é esta:
1. Ele é obtido para nós pelo sangue de Cristo.
2.
3. Ele é recebido pela fé.
4.
5. Isso nos é assegurado pela Palavra de Deus.
6.
Não é o fato que um cristão sensato não se alegre ao ouvir um pedido de misericórdia saído dos lábios de um pecador. Mas que a alma ansiosa veja que o perdão não é obtido através de suas lágrimas e gritos, mas pelo sangue de Cristo, e só por ele. “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22). Por outro lado, também não poderíamos deixar de alegrar-nos ao ver o coração de um pecador perdoado transbordando com “uma alegria profunda demais para ser traduzida em palavras”. Mas devemos lembrá-lo de que deve, para obter a certeza do perdão, apoiar-se em algo mais sólido do que os sentimentos profundos que a alegria confere. Quantos milhares descobriram isto, para sua tristeza, até agora? Enquanto a alegria e radiância do primeiro amor perdura eles se sentem seguros; mas com o tempo sua alegria se vai e ficam perdidos na mais negra escuridão.
Devemos aprender a associar nosso perdão com o preço que o obteve. Quanta tranquilidade sentiria um pobre devedor se não tivesse apenas visto a conta paga no escritório do credor, mas a própria nota de Cz$ 100, que um amigo pagara por ele, presa à página do livro onde sua conta fora registrada! Com que ousadia poderia dizer, “Estou livre de minha dívida. Não livrei-me mediante prestações; não fui “libertado sob fiança” até um ajuste futuro de contas! Minha dívida foi paga por inteiro, de uma vez para sempre.
Isto leva a uma outra dificuldade muito comum.
Se apenas pudesse sentir-me feliz, acho que saberia que meus pecados foram perdoados.
Talvez não exista uma dificuldade mais geral que esta. As almas atormentadas ouvem os cristãos falarem da alegria que experimentaram quando souberam que seus pecados tinham sido perdoados; isto é feito algumas vezes deliberadamente de um modo que pode levar a interpretações erradas. Uma pessoa aflita, ouvindo tais declarações, naturalmente deduz que foi através desse fluxo de alegria celestial que os crentes em questão souberam ter sido perdoados.
O devedor perdoado, que acabamos de citar, nos diria que o fato de sentir-se feliz é que o levou a saber que sua dívida fora cancelada? Não diria ele, em vez disso, que tinha boas razões para sentir-se feliz porque sabia que sua dívida fora cancelada?
Não teria também o mesmo direito de afirmar, que o fato de sentir-se feliz ou não, de modo algum alteraria o valor daquela nota de Cz$ 100 pregada em sua conta?
Mas, o que você pensaria de um vizinho desse homem que, sendo também devedor, diz um dia: “Se pudesse pelo menos sentir-me tão feliz quanto meu vizinho, eu saberia que minha dívida também foi cancelada”.
Existe um absurdo igual? Todavia, quantas almas ansiosas estão cometendo justamente esse erro tolo.
Isso é começar pelo lado errado. Você deve começar com Deus em lugar de si mesmo. A satisfação do credor deve ser obtida antes que a mente do devedor possa tranquilizar-se.
Não se trata também simplesmente de um caso de satisfação justa, embora nada menos que isso traria paz contínua; pois, por trás da grande “transação” do Calvário descobrimos os anseios e a riqueza do amor de Deus. E maravilhoso dizer que o desejo de apagar nossos pecados não se originou em nossos corações, mas no d’Ele. Nem a obra da cruz foi o meio de atrair o coração de Deus para nós. Ela foi a expressão perfeita, o resultado transbordante do mesmo. Foi “pela graça de Deus” que Ele “provou a morte por todos” (Hb 2.9). “O Pai enviou o Filho.” Ele sabia que nada senão o valor infinito do precioso sangue de Jesus poderia expiar o pecado. “É o sangue que fará expiação pela alma”, Ele declarara muito tempo antes; e, mais ainda, “Vô-lo tenho dado (o sangue) sobre o altar” (Lv 17.11). Na plenitude do tempo esse sangue foi derramado com a declaração do Espírito sobre o que ele pode realizar, “purifica de todo o pecado” vem a notícia, “Seja-vos, pois, notório . . . que por Ele É JUSTIFICADO TODO AQUELE QUE CRÊ” (At 13.38,39).
Que consolo saber que temos o privilégio de descansar sobre os pensamentos de Deus e não sobre os nossos. Se me disser que Ele, que é o único a compreender o caráter desesperador do meu caso, o resolveu a seu modo, pelo sangue de Cristo, inclino-me e creio n’Ele.
Se Ele me der o penhor do que esse sangue pode realizar, eu aceito com gratidão. Se Ele se agrada em declarar o que pensa de todos os que têm fé nesse sangue, simplesmente acredito. Acredito porque foi Deus quem disse e não porque sinto isso. Ou, em resumo, acredito:
Nos pensamentos de Deus sobre minha necessidade.
Nos pensamentos d’Ele sobre o sangue d’Aquele a quem entregou para satisfazer essa necessidade.
Nos pensamentos d’Ele sobre todos os que creem em seu testemunho a esse respeito.
Não é possível crer no primeiro e segundo itens sem estar “justificado” de todas as coisas. Não é possível crer no terceiro sem se ter certeza disso. Deus diz, “TODO o que crê é justificado de TODAS as coisas”. Veja bem, o verbo está no presente e não no futuro: “É” e não “será”. Todas as coisas perversas que Deus sabia a respeito dos homens não pesam mais sobre eles; pela melhor das razões, a saber, que foram lançadas sobre Aquele que morreu por eles e ressuscitou. Nada existe aqui sobre sentimentos de felicidade. Como posso ser realmente feliz até saber que fui justificado? E como posso saber isso, a não ser através da melhor autoridade possível? E que melhor autoridade do que o Deus que afirma tal coisa?
Sob a mesma autoridade, o crente tem o privilégio de avançar mais um passo na segurança de sua bênção. Deus declara: “aos que justificou a estes também glorificou” (Rm 8.30).
Se o fato de crer torna a justificação certa no tempo, a justificação torna a glória certa na eternidade; e sei de ambas as coisas mediante a autoridade do próprio Deus.
Há dois anos atrás, o autor viu ao lado da linha da estrada de ferro um enorme anúncio feito de chapa de ferro que caíra evidentemente de um muro onde fora colocado. Ele observou que a alvenaria do muro fora recoberta com uma camada grossa de estuque e o anúncio pregado nessa massa. Quando chegaram as geadas e chuvas do inverno, o estuque desprendeu-se em grandes blocos do muro e ao cair deitou também por terra o anúncio.
Se a chapa de ferro tivesse sido fixada na alvenaria, provavelmente não se desprenderia até que o muro propriamente dito caísse. Esta é uma sugestão valiosa para você, leitor ansioso. Se prender a sua segurança de perdão aos sentimentos alegres de hoje quando estes tiverem desaparecido amanhã, sua certeza também se irá. Mas se quiser uma segurança permanente, você deve fixá-la naquilo que não pode ser derrubado. “Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu” (SI 119.89). “A palavra de nosso Deus subsiste eternamente” (Is 40.8).
Davi declarou, “Apego-me aos teus testemunhos”(Sl 119. 31), e se você fizer o mesmo; ou seja, se apegar-se ao testemunho divino, a segurança divina certamente se apegará a você. Não será “envergonhado” nem aqui nem futuramente.
Se Deus deu o Seu Filho, não devo aceitá-Lo? Meu medo é não ter ainda feito isso, embora saiba que é um Salvador digno e meu coração anseie por Ele.
Esse tipo de dificuldade com certeza não surgiria em relação às associações naturais, nem quanto às coisas espirituais, se nossas almas fossem mais simples e inocentes.
Quando as palavras ditas pelo servo de Abraão sobre Isaque, fizeram nascer no coração de Rebeca afeto por aquele de quem dava testemunho, a questão de “aceitar Isaque” estava fora de cogitação!
Abraão queria dar Isaque a ela e quando chegasse o momento em que ela desejasse recebê-lo, essa parte da questão estava resolvida.
Se através de um sentimento de seu estado culpado diante de Deus, você quiser ter Cristo, certamente no fundo do seu coração você já o aceitou, embora seja tímido demais para confessá-lo, seja a Ele mesmo ou a qualquer outro.
O “amor” e o “dar”' pertencem a Deus; o dom é seu Filho unigênito; e você não pode desejá-lo realmente sem ser acolhido por Ele.
Rebeca não iria de modo algum chorar porque Abraão não queria que ela tivesse Isaque, pois não fizera o seu servo aquela longa e difícil viagem porque ele desejava justamente isso?
Pense então nela chorando desconsolada por temer não tê-lo aceito! O que você diria a ela senão que cada lágrima derramada era uma prova inegável de que em seu coração ela o aceitara? A que ponto as nossas preocupações pessoais nos reduzem! Que o Senhor nos conceda mais simplicidade inocente e nos livre dos raciocínios insensatos de nossos pobres corações.
Sei que tudo se resume em crer e tento isso, mas não posso.
Vamos examinar mais de perto esta declaração frequentemente repetida. As pessoas não imaginam o que esteja envolvido nela.
Deus manifestou-se plenamente na Pessoa de seu Filho bendito, agindo neste mundo em perfeita concordância consigo mesmo. Ao fazer isto, segundo o que você está dizendo, Ele perdeu todo direito à sua confiança a ponto de você até “tentar crer nele, mas não conseguir”!
Mas ainda, Ele enviou uma mensagem especial do céu através do Espírito Santo, a mensagem do evangelho; mas as notícias enviadas por Ele são tão indignas de sua aceitação, que embora você tenha sido suficientemente bondoso para tentar crer nela, na verdade não consegue.
Está escrito que “Creu Abraão a Deus” (Rm 4.3). Como é simples essa declaração! Ficamos sabendo depois (v. 19), que ele não considerou as aparências, não olhou para si mesmo, pois tinha outra Pessoa à sua frente, alguém tão confiável que acreditou poderia fazer o que prometera. E assim, é-nos dito, “deu glória a Deus”.
Suponhamos que tivesse sido escrito: Abraão tentou crer em Deus, mas não pôde, que efeito grave isso teria sobre o Deus Eterno que não pode mentir!
Compare agora sua afirmação com esta, caro leitor, e prostre-se diante d’Ele, confessando a natureza desonrosa de sua incredulidade sobre Deus.
Além disto, seu modo de pensar não manifesta sua própria insensatez? Considere um pouco. Parece que você está tentando confiar em alguém que não é digno de confiança! Se se tratasse de uma questão de dinheiro, que negociante tentaria confiar em uma pessoa assim?
Mas eu não penso que Ele seja indigno! As suas palavras fazem então uma injustiça tanto a você como a Ele; pois quem falaria de tentar confiar em alguém em quem realmente tem confiança? A criança precisa tentar confiar em sua mãe?
E bem possível que você esteja considerando a fé como uma grande obra que tenha de realizar, a fim de obter a salvação não será isso?
Essa ideia é porém completamente errada. Devemos aprender a diferençar entre fé e as atividades da fé. Um banco lhe oferece segurança e você prova a sua fé no mesmo depositando nele o seu dinheiro.
Você está numa terra estranha, na companhia de amigos que conhecem bem a região. Um riacho profundo e escuro tem de ser atravessado e só uma tábua solitária liga as duas margens. Os que têm condições para julgar o informam que a tábua suportará o seu peso, e porque confia neles você coloca sem hesitar ambos os pés na mesma e atravessa.
Se embarcasse num navio, provaria a sua confiança em suas boas condições de navegação. A sua fé pode ser firme ou vacilante; mas, no momento em que, como passageiro, você entra a bordo do navio, confessa pelo seu ato, caso não o faça em palavras, que confia em sua capacidade de levá-lo a salvo através do imenso oceano Atlântico. Você ouviu falar no barco, sua confiança foi inspirada por aquilo que lhe disseram e a seguir veio o ato que expressou publicamente que o sentimento em seu coração era verdadeiro. Lemos então: “Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” (Rm 10.10).
“A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”
A palavra de Deus dá testemunho de um Salvador cheio de confiabilidade.
Ouço uma informação sobre Ele que, sem tentar, passo a crer n’Ele. E quando me achego a Ele e lhe digo isso, agindo de acordo, estou confessando com a boca e pela minha vida onde minha confiança repousa.
Contemple Aquele que merece toda honra e reverência na posição em que a justiça agora o colocou e da próxima vez que seu coração disser, “não posso crer”, pergunte a si mesmo:
1. Em quem eu não posso crer?
2.
3. O que Ele disse que não mereça minha aceitação?
4.
5. O que Ele fez e de que forma se comportou, para anular tanto a minha confiança?
6.
Não consigo crer que estou salvo. Tenho medo que minha fé não seja suficientemente forte.
Alguns falam como se Deus concedesse a salvação apenas àqueles cuja fé alcança um certo nível, medindo-a segundo esta fórmula: eles são capazes de crer que estão salvos. Isto é porém fazer da sua fé um salvador. Uma alma ansiosa disse certa vez a este autor, “Temo não ser um dos eleitos”.
“Por que diz isso?”
“Porque não tenho fé suficiente para crer que fui justificado”.
Se tivesse, mesmo assim não seria justificado por ela. Não é isso que Deus lhe pede para crer a fim de ser salvo. Ele não diz, Se você puder apenas crer que foi justificado, estará justificado; mas sim, se você crer n’Aquele que enviei para morrer em seu lugar e que ressuscitou, você tem a autoridade de minha palavra para saber que está justificado (At 13.38,39).
Uma grande fé pode trazer grande consolo a quem a possui, mas não oferece salvação maior do que a concedida aos de pequena fé. “Vai-te em paz” foram as palavras do Senhor, tanto à que o tocou timidamente como à que chegou-se ousadamente a Ele. (Compare Lc 8.48; 7.50.) A fé sincera, embora frágil, sempre se apega a Cristo. Ela se apoia em seu precioso sangue para a sua segurança e não confia em nada mais além do sangue de Cristo. Ela se refugia n’Ele como única proteção e não aceita qualquer outra oferta, por mais plausível que pareça.
O assassino que chegasse a uma “cidade de refúgio” em Canaã não estava seguro em vista da grandeza ou força da sua fé, mas por ter alcançado uma proteção fornecida por Deus (Dt 4:42) Ele tanto poderia entrar e permanecer dentro de seus muros temendo e tremendo, quanto ficar ali sem a menor sombra de dúvida ou apreensão, mas chegara ao refúgio e isso bastava no que dizia respeito a Deus para garantir a sua segurança.
A sua segurança também não consistia na crença de que se encontrava a salvo. Ele poderia presunçosamente acreditar nisto, permanecer em casa e perecer. Tal pensamento não serviria de nada; mas tendo-se apropriado de provisão divina, estava tão seguro quanto essa provisão poderia torná-lo.
É da máxima importância pensar no interesse do inimigo em colocar qualquer coisa diante da alma como um objeto de fé em lugar de Cristo. Mas o Senhor bendito fala do alto e continua dizendo: “Olhai para mim, e sede salvos, vós, todos os termos da terra” (Is 45.22).
Aproximei-me de Jesus da maneira certa?
Só existe um meio certo: sentir em seu coração que possui uma necessidade que ninguém senão Ele pode satisfazer. Não se preocupe com o ato de aproximar-se. Veja aquela pobre mulher citada nos evangelhos, abrindo caminho na multidão até poder baixar-se e tocar nas orlas das vestes d’Ele. Em que o seu coração se ocupava? Não com a ideia de achegar-se, mas com a Pessoa que desejava tocar. Toda ajuda anterior falhara e mesmo se um outro médico melhor e mais competente fosse a seu encontro na estrada, ela não tinha com que pagar seus honorários. “(Ela) gastara com os médicos todos os seus haveres”, mas “ouvira falar de Jesus” e acreditou que Ele tinha poder para curar os mais desenganados, assim como estava disposto a curar os mais abandonados. Certa de que achegar-se a Ele significaria cura e saúde e perder-Lo a deixaria doente para sempre, ela avançou até que aquele toque tímido lhe proporcionou tudo que seu coração poderia desejar. Quão difícil deve ter sido conseguir chegar no meio do povo que a comprimia! Ninguém mais poderia fazer o mesmo caminho. Mas, graças a Deus, milhares desde então se aproximaram da mesma Pessoa, declarando:
“Outro refúgio não tenho.
Minh'alma desesperada depende de Ti.”
Sem Ti perecerei para sempre, mas Tu “jamais lançarás fora”.
A Ti
“Ó Cordeiro de Deus, me aconchego.”
Todos foram acolhidos, ninguém rejeitado.
Tenho o tipo certo de fé?
Esta é uma grande dificuldade para muitos, mas trata-se realmente apenas de uma outra forma de auto-ocupação e interrogação.
Quero perguntar: “De que valeria se você tivesse o tipo certo de fé, e não houvesse o tipo certo de Pessoa em quem ter fé? E que, se você possui qualquer percepção de sua necessidade, pode ser essa Pessoa outra senão Aquela que tem tanta capacidade e disposição para satisfazê-la?
Qual o homem que, depois de ficar sabendo de uma grande dívida e de sua impossibilidade de quitá-la, falaria desse modo depois de lhe contarem que um amigo generosamente saldou-a? Coloque-se nessa posição e veja como tal linguagem soaria em seus lábios: “Acredito que meu amigo pagou tudo por mim, mas fico imaginando se acreditei da maneira certa?”
Se surgisse de fato uma pergunta, não seria na verdade esta: “O pagamento foi feito da maneira correta e meu credor ficou satisfeito com o modo como minha conta foi liquidada?”
Mas alguém pode perguntar, “não é possível crer com a mente e não com o coração?” Oh! eu temo que existam muitos que pensem assim.
Qual é então a diferença?
Crer n’Ele em seu coração é simplesmente crer com a consciência de que Ele e só Ele pode solucionar o seu caso e que sem Ele você perecerá para sempre, e assim confiar n’Ele. Trata-se de mais que uma simples aquiescência ao fato histórico de que Ele morreu e ressuscitou. E ver a si mesmo sem o seu precioso sacrifício completamente à mercê do juízo, então confiar n’Ele.
Uma coisa é alguém dizer, creio que num certo ponto da costa encontra-se um barco salva-vidas com pessoas preparadas e sempre prontas a fazer uso dele; mas outra coisa é encontrar-se no tombadilho de um navio em perigo, afundando, que lança foguetes pedindo socorro, a fim de que você possa ser salvo por aquele barco salva vidas, e subir ansioso para bordo quando ele chegar. Uma coisa é crer que um certo médico competente visita um vizinho enfermo todos os dias e outra coisa, consciente de que você apanhou a mesma moléstia, ficar ansiosamente à espera de que ele chegue, a fim de colocar o seu caso nas mãos dele e, quando chega, entregar-se satisfeito e confiante ao tratamento prescrito.
Uma mulher fraca ouve, à meia-noite, os passos furtivos de ladrões em sua casa. Seus dois filhos estão deitados, a maior tem apenas nove anos. Qual deles você acha que ela vai chamar para enfrentar os ladrões? Nenhum deles. O medo maior dela é que acordem com o barulho. A mãe não tem confiança neles para resolverem a dificuldade; ela mesma, fraca como é, não estaria à altura da tarefa. O que fazer, então? Ela sabe que há muito tempo um policial faz a ronda na rua em que mora. Embora durante anos não tivesse duvidado desse fato, como se lembra dele agora de modo diferente ao abrir a janela e gritar com todas as forças que possui: “Polícia, polícia!”
O chamado dela para o policial prova duas coisas: 1) ela tem um sentido real de sua necessidade. Leia agora Romanos 10 e veja que o versículo 10 diz: “Visto que com o coração se crê para a justiça” e o versículo 13: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”; e, de novo, no versículo 14, “Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram!” A informação que ouço sobre Ele conquista minha confiança. A seguir, porque creio que só Ele pode satisfazer minha necessidade, eu o invoco e recebo a segurança da sua palavra de que a salvação é minha; pois Ele diz: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.
O leitor não deve ocupar-se tanto com a fé em si, como se Deus deveras quisesse que tivéssemos fé na nossa fé. De que lhe valeria, repetimos, ter esse tipo de fé, por maior que fosse, se não existir o tipo certo de Pessoa em quem colocar a mesma?
Por exemplo, de que valeria à mulher de que falamos se tivesse muita fé no vizinho ao lado, mas quando chamasse e batesse esse homem não estivesse em casa ou não acordasse? Por maior que fosse a sua fé nele, ela não a salvaria dos ladrões, enquanto o chamado ao policial impelido pela mais trêmula fé trouxe salvação imediata. Com esse exato propósito é que ele se achava de guarda.
Você acredita então que é totalmente “fraco”, completamente indefeso quanto a solucionar a questão de sua culpa e pecado; que só Cristo, pela sua morte meritória, pode salvá-lo; que Deus em sua justiça colocou sobre Ele todo o castigo do pecado, quando em amor Ele se dera para ser feito pecado por nós; e que Deus declarou achar-se satisfeito com esse sacrifício expiatório, levantando-o dentre os mortos e coroando-o com a glória celestial? Você o invocou no sentido de que sem Ele estará perdido para sempre e que Ele está pronto e desejoso de salvá-lo? Aceite então a doce segurança que as próprias palavras do Senhor proporcionam, no sentido da salvação ser sua. Não hesite em confessá-la, não retenha mais o louvor que deve a Ele por isso.
Como posso saber que Cristo morreu por mim?
O autor encontrou certa vez no sul da Inglaterra uma mulher que ficou durante algum tempo mentalmente perturbada ao saber que seu filho morrera servindo como soldado no exterior. Alguém vira o seu nome num jornal. O clérigo da paróquia bondosamente escreveu ao quartel-general para saber se a notícia era exata, descobrindo que um soldado com o mesmo nome fora morto, mas não se tratava do filho dela.
Se Deus publicasse o nome de todos por quem Cristo morreu, quanto tempo levaria para você examinar todos eles, a fim de ver se o seu se encontrava na lista? Uma vida inteira não bastaria para realizar essa tarefa; se encontrasse acidentalmente o seu nome, como saberia que não se tratava de um homônimo?
Graças a Deus, que Ele não fez isso. Ele coloca diante de nós seu Filho bendito e precioso. Ele apresenta Cristo (como alguém disse) na glória da sua Pessoa, na ternura de seu amor, no valor de seu sangue, no poder da sua ressurreição; e, crendo n’Ele, ficamos certos de que “não pereceremos, mas teremos a vida eterna”. Mas, como eu pude escapar desse destino? O que poderia ter-me salvo da morte eterna se Cristo não tivesse morrido por mim ? Nada.
Mais que isto. Encontro na palavra de Deus esta declaração maravilhosa: “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores” (1 Tm 1.15). Se o Filho de Deus é tão digno que posso apoiar-me nele com segurança, aqui está uma palavra de Deus, igualmente digna de ser aceita, uma “palavra fiel” e “digna de toda a aceitação”. “Qual é ela?” A saber: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”. O Espírito Santo revelou-me então que sou pecador? Esta “palavra fiel” me dá assim o direito divino, diante de Deus, de dizer que Cristo veio ao mundo para salvar-me, pois sei que pertenço à classe a favor da qual Ele morreu, e somente pela sua morte poderia salvar quem quer que fosse.
Tenho aguardado que Deus me dê algum tipo de indicação ou sinal interior de perdão e aceitação.
“Se não virdes sinais e milagres, não crereis” (Jo 4.48) é um impedimento antigo para a bênção. Ele é gerado pela incredulidade de nossos corações ou pelo desejo de ter algo palpável para ver ou sentir em lugar da palavra de Deus e a Pessoa e obra de Cristo. Como nos alegra observar o nobre da antiguidade, deixando de lado os raciocínios de seu próprio coração e dando ouvidos, descobrindo assim uma suficiência satisfatória “na palavra que Jesus lhe disse” (Jo 4.50).
Mais cedo ou mais tarde todos nós teremos de aceitar isso. Quando o conhecido pregador, Dr. Chalmers, estava morrendo, ele disse a alguns de seus amigos teólogos que o rodeavam, “Deem-me uma porção da pura palavra de Deus para que eu possa morrer com isso”.
Quem não ouviu falar do menino cristão que disse quando a mão fria da morte já embaçara seus olhos: “Procure João 3.16 pra mim, mamãe. Coloque agora meu dedo sobre a palavra todo e deixe que eu morra com o dedo em cima dela. Todo diz respeito a mim, mamãe. A palavra de Deus bastava para ele.
O escritor deste livro conheceu um fazendeiro na Inglaterra que, em grande perplexidade de alma, pediu a Deus que lhe concedesse um sinal de aceitação. Ele tinha um rebanho de ovelhas na fazenda naquela época, vagando por vários lugares em suas terras e pediu a Deus que se houvesse qualquer esperança de salvação para ele, que dez destas ovelhas estivessem em um certo abrigo quando fosse até lá. Pouco depois ele encaminhou-se para o lugar estabelecido e contou ansioso as ovelhas no abrigo. Para seu grande alívio encontrou exatamente dez! Será que isso bastou para a sua alma ansiosa? Não. Deu-lhe apenas um raio transitório de esperança, que logo desvaneceu. Seria uma simples coincidência, ou um sinal autêntico de Deus em resposta à sua oração?
Mais uma vez teve a ousadia de repetir o pedido e desejou novamente dez ovelhas naquele canto do cercado como sinal. Com enorme excitação, sem dúvida, ele começou a contar o rebanho e mais uma vez, para seu alívio e surpresa, encontrou somente dez! “E isso lhe conferiu paz e segurança?” perguntamos. Não, disse ele, nada me deu a certeza de minha bênção até que obtive a palavra infalível de Deus sobre ela. Tudo permaneceu numa névoa de insegurança até que ele firmou os pés na frase “Assim diz o Senhor” e norteou sua vida pelo mapa das Escrituras.
Se você abrir a Bíblia e procurar o primeiro capítulo do Evangelho de Lucas, descobrirá um surpreendente contraste entre a fé simples e a incredulidade que pede sinais. No momento em que Maria ouviu a mensagem celestial, ela declarou:
“Cumpra-se em mim segundo a tua palavra”; e a resposta à fé manifestada por ela foi: “Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas” (v. 38, 45).
Por outro lado, quando Zacarias ouviu a mensagem do anjo Gabriel, ele disse, “Como saberei isto?” e ficou mudo em consequência. Em lugar de abrir a boca para louvar, como Maria tinha feito, ela foi fechada, silenciando-a pelo juízo de Deus.
Que você, caro leitor, possa ser levado como o centurião nos dias de outrora, a dizer ao Senhor, “Dize, porém, uma palavra” e isso bastará. Pois “Porventura diria ele, e não o faria? ou falaria, e não o confirmaria?” (Nm 23.19). Que não seja dito a seu respeito, “Se não virdes sinais e milagres, não crereis”. Que maior prodígio poderia ser mostrado do que o do Calvário, o Filho de Deus morrendo por rebeldes culpados? Que maior sinal de segurança do que este: “A boca do Senhor o disse”?
Tenho medo de enganar a mim mesmo supondo estar salvo quando na verdade não estou.
De todas as formas de engano, o autoengano, e especialmente o autoengano religioso, é talvez o que representa maior perigo. As questões em jogo são tão importantes que não podemos ser zelosos demais nesse assunto.
Existe, no entanto, uma coisa certa, ou seja, você só pode ser enganado pela pessoa ou coisa em que confia. Ananias e Safira tentaram enganar os apóstolos, mas Pedro não se iludiu porque não acreditou neles. A serpente murmurou uma mentira aos ouvidos de Eva; e, crendo nela, foi “enganada”. Se você quer escapar então das terríveis consequências do autoengano, fique alerta para a armadilha muito comum da auto-ocupação. O “eu” não pode enganar você se não confiar nele; repetimos, portanto, cuidado! O que vai no coração o homem foi declarado por quem o conhece perfeitamente, sabendo que é “desesperadamente corrupto” (Jr 17.9). Salomão disse, portanto, muito bem: “O que confia no seu próprio coração é insensato” (Pv 28.26).
Um dos bancos da Inglaterra ocidental adotou uma frase como lema e gravou em suas notas bancárias, “Combine a verdade com a confiança.” A excelência desse lema está no fato de que não se pode confiar nas aparências. Quando Eliabe, filho de Jessé, apresentou-se diante de Samuel, este disse, “Certamente está perante o Senhor o seu ungido”; mas “a aparência externa” não tinha valor. “O Senhor não vê como vê o homem” (1 Sm 16.7). O capitão do navio Dunbar pensou que tudo ia bem quando manobrou seu barco em direção ao porto de Sydney. Mas, infelizmente, pensou que o farol norte era o do sul e sua imponente embarcação ficou reduzida em pouco tempo a um monte de destroços. As aparências o iludiram. O patriarca Isaque teve dúvidas sobre o filho que com um prato apetitoso na mão, afirmando ser Esaú, pediu a bênção do pai, mas pensou que poderia pelo menos confiar em seus sentimentos. Ao fazer isso, foi enganado. Se o patriarca e o infeliz capitão tivessem combinado a verdade com a confiança, não seriam iludidos desse modo.
O leitor talvez pergunte: “Como chegar à verdade?” Deixaremos que a Bíblia responda: “A tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). “As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio” (SI 119,160).
Você quer evitar que seu barco siga uma luz falsa de farol, provocando o seu naufrágio eterno? “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos” (SI 119.105). “A exposição das tuas palavras dá luz; dá entendimento aos símplices” (v. 130). Você quer a verdade isolada, sem qualquer adulteração humana? “Toda a palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv 30.5,6). “Está a verdade em Jesus” (Ef 4.21). Ele disse, “Eu sou a verdade” (Jo 14.6). “A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1.17). Um cristão idoso disse certa vez, “Ao examinar a palavra de Deus, nunca se esqueça de três coisas:
1. Não acrescente nada a ela.
2.
3.
4.
5. Não subtraia nada a ela.
6.
7.
8.
9. Não mude nada nela.
10.
11.
12.
Três homens uniformizados conversavam na sala-de-espera de uma estação de estrada de ferro no interior: um policial, um soldado e o chefe da estação. O policial olhou para o relógio ali pendurado e perguntou, apontando para um papel colocado no mostrador do mesmo: “O que isso significa?”
“Ele não está andando direito já há algum tempo,” respondeu o chefe da estação, “e não querendo que ninguém se enganasse cobri o mostrador. Mas se quiser a hora exata”, disse ele, tirando um relógio do bolso, “posso dizê-la. Faltam exatamente três minutos para o trem chegar.”
Que coisa interessante, pensei, enquanto ouvia ali perto. Ele aprendeu pela experiência que não se pode confiar nesse relógio e o tratou de acordo. Como seria bom se tantas almas ocupadas com o “eu” aprendessem uma lição com aquele homem e escrevessem por sobre os sentimentos e emoções de seu coração: “Não se pode confiar”. Nem sempre nossos sentimentos estão errados, sabemos isso com certeza. Um relógio parado irá estar certo duas vezes em 24 horas. Também não somos contra os sentimentos de felicidade. Pelo contrário, há alguma coisa errada no caminhar ou no estilo de vida do crente se ele não se sentir alegre. O que queremos dizer é isto: Se não quiser ser auto-enganado, não creia no “eu” de forma alguma. Não coloque a sua confiança sobre o estado mental mais otimista que já experimentou, nem em todos os seus sentimentos de felicidade juntos. Fique alegre em tê-los, mas no momento em que se ocupe com eles em lugar de Cristo, tudo o que houver de bom neles irá desvanecer-se e você ficará sem mapa e sem bússola num mar tempestuoso de dúvidas e incertezas.
Como posso crer que estou salvo até que sinta isso?
Os sentimentos são produto da fé e não a fé um resultado dos sentimentos. Por exemplo, uma mãe dedicada recebe uma carta com uma letra desconhecida. Ela foi escrita por um médico na Nova Zelândia, dando-lhe as boas notícias que seu único filho, que acabara de recuperar-se de uma doença grave, estava a caminho de casa. Como ela ficou alegre com essas notícias. A sua emoção foi de tal forma intensa que chegou a chorar de alegria. Mas de onde surgiram os sentimentos alegres?
Ela sabia que o filho estava chegando. Como?
Acreditou na carta do médico.
Por que acreditou?
Soubera como ele tinha sido bondoso com seu filho e tinha a certeza de que não tentaria enganá-la.
Vemos então quatro coisas distintas associadas a esse fato.
Ela recebeu a carta.
Ela acreditou, em vista do remetente.
Ela soube que o filho estava melhor e a caminho de casa, por acreditar no conteúdo da carta.
Sentiu-se feliz, por saber que ele estava bem de saúde e de volta para casa.
Como já deve ter percebido, os sentimentos de alegria estão em último lugar, enquanto você os coloca em primeiro! Ela não disse, sei que ele está vindo para casa, porque me sinto tão feliz. Mas, sim, não posso deixar de sentir-me feliz, porque meu filho está chegando.
Nós temos a carta de Deus, contando sobre a obra aprovada de Cristo e o que acontece aos que confiam n’Ele. A fé aceita a mensagem alegre e se rejubila.
JESUS FEZ ISSO - na cruz.
DEUS DIZ ISSO - em sua palavra.
CREIO NISSO — em meu coração.
Creio (não porque sinto, mas) porque Deus diz isso; e Deus fez essa declaração porque Jesus fez isso.
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10.9).
A fé coloca ousadamente o seu “Amém” no que é dito por Deus, PORQUE é Deus quem o diz.
Que o leitor faça o mesmo.
É necessária uma obra interior da graça? Como posso ter certeza de que a obra da graça de Deus e meu arrependimento foram suficientemente profundos e reais?
O Espírito de Deus não nos ocupa com a sua obra em nosso íntimo, mas volta nossos olhos para Cristo e sua obra consumada a nosso favor. É verdade que se não houvesse um trabalho de graça em nossas almas, jamais nos preocuparíamos em participar dos frutos do que o Salvador fez por nós na cruz. Mas a paz não repousa sobre a nossa satisfação no que descobrimos quanto à operação do Espírito em nossos corações, e sim sobre a satisfação de Deus na obra de Cristo na cruz. Se pudéssemos apenas obter paz quando estivéssemos satisfeitos de que a obra interior da graça fosse suficientemente profunda, não haveria um crente sincero que pudesse tê-la neste mundo. Seu clamor continuaria sendo: “Senhor, aprofunda a tua obra de graça em minha alma; e cada dia sucessivo seria uma repetição do anterior: Mais fundo, Senhor, mais fundo ainda”.
Um bebedouro público foi colocado por um bondoso benfeitor em uma certa praça. Você ficaria olhando para aquela fonte perene de água, imaginando se a sua sede era suficientemente forte, embora soubesse que queria beber? De modo algum, a sua sede o leva até ela, mas é a água que sacia a sua sede quando está ali. Se compreender de fato a necessidade de sua alma, de tal modo que o grito de seu coração seja: “Preciso de Cristo!”, tenha a certeza de que Ele o acolherá de braços abertos. “A quem tiver sede de graça lhe darei da fonte da água da vida”(Ap 21.6). “E quem tem sede, venha, e quem quiser, tome de graça da água da vida” (Ap 22.17).
Como esses últimos convites são simples, animadores e cheios de amor, convites ao sedento nas últimas páginas das Sagradas Escrituras!
“Darei” - “DE GRAÇA”.
“Tome” - “DE GRAÇA”.
O arrependimento é o juízo daquilo que somos, e o que fizemos de acordo com o que Deus é. Ele é o resultado da obra da graça de Deus em nós. O viajante que cai num fosso sujo na escuridão da meia-noite pode ter pelo menos uma ideia de sua sujeira quando a lua lança seus raios sobre ele, por trás das nuvens; e, à medida que amanhece gradualmente, terá conhecimento mais claro e crescente de sua verdadeira condição. Assim também o pecador, pela “luz do alto”, é levado ao arrependimento; e quanto mais ele anda com Deus, e se aproxima da luz do “dia perfeito”, tanto maior sua sensação de indignidade. Ele jamais poderá afirmar que seu arrependimento é suficientemente real, ou seu sentimento de indignidade suficientemente profundo. Pode, no entanto, declarar, “Quanto mais avanço, tanto mais descubro que sou mau o bastante para necessitar deste Salvador, e tanto mais me admiro da graça que pode descer à esse mundo para interessar-se por um pecador!
Tenho dúvidas porque não posso fixar o dia exato da minha conversão.
Essa é uma questão insignificante comparada ao fato de você ter-se voltado para Deus, deixando seu caminho errado, que confiou em Cristo e está agora procurando servi-lo. O fato de Paulo não ter dito, ao escrever a seu filho Timóteo, sei quando cri (embora sem dúvida ele soubesse), mas “sei em quem tenho crido”, foi comentado muitas vezes. Como alguém já disse, posso não saber o momento exato em que acordei esta manhã, nem o que me despertou, mas sei que estou acordado. Deus não quer que tenhamos fé em nossa conversão, mas em Cristo. “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (Jo 3.8). Quando o Espírito começa sua obra graciosa na alma, Ele não me ocupa com seu trabalho, mas com a minha necessidade da obra de Cristo. Curvo-me perante Deus como um crente arrependido. Meu desejo ardente é ter Cristo, todavia sinto-me tão vil que temo não ser aceito por Ele. Jamais penso na ocasião que tudo isto é fruto de uma obra eficaz da graça em minha alma; e, na minha ignorância, posso até datar minha bênção a partir do dia em que encontrei Cristo e, confiando no seu sangue, encontrei a paz; no entanto, o trabalho da graça teve início no dia em que o Espírito operou de tal forma em mim que levou minha alma a buscá-lo. Na parábola do filho pródigo, a obra começou quando ele “caiu em si” no país distante e disse, “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai” (Lc 15 ), e não quando o pai “lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou”. Ela começa quando a sede espiritual é criada e não quando ela é saciada.
Não amo a Deus como deveria. Se pudesse apenas encontrar em mim mais do fruto do Espírito sentiria alguma satisfação em dizer, espero estar salvo.
Quase cinquenta por cento de todas as dificuldades das almas ansiosas resultam da confusão entre a obra do Espírito que não terminará enquanto estivermos neste tabernáculo, e a obra de Cristo consumada na cruz.
As pessoas leem que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade” etc., e se pudessem descobrir esses frutos em si mesmas, imaginariam que haveria pelo menos alguma justificação para se considerarem cristãs.
Elas julgam, além disso, que a presença do Espírito Santo deveria fazê-las sentir-se muito bem e quando se sentem justamente o oposto, ficam certas de que “não têm nada a ver com o assunto”.
Este é um enorme erro.
Ouça —
“Ele não faz a alma dizer, Obrigada, Deus, por sentir-me tão bem; Mas leva os olhos a ver, A Jesus e o seu sangue também”.
Moisés não se ocupou de seu rosto brilhante, nem Estêvão fez isso, embora outros vissem a glória refletida em ambos. E os frutos do Espírito serão produzidos mais eficazmente em nós quando nos envolvermos mais com o que Cristo é para nós, e o que Ele fez e está fazendo por nós. Será quando nossos corações estiverem tão fixados em Cristo que não pensemos absolutamente em nosso “eu” bom ou mau, mas somente n’Ele. É ao “contemplar” a sua glória que somos “transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3.18).
Ouvimos falar de uma senhora cristã que ficou tão ocupada com seu amor por Cristo que acabou chegando à conclusão de que não possuía amor algum. Um amigo crente, procurando em vão consolá-la, deixou finalmente seu lugar ao lado da cama e foi até a janela, escrevendo num pedaço de papel estas palavras:
Não amo o Senhor Jesus Cristo, e entregando o papel, junto com um lápis, para a mulher perturbada, lhe disse tranquilamente: “Quer assinar seu nome aqui?” Com grande energia, ela imediatamente replicou: “Preferia ser cortada em pedaços, primeiro!”
Como aconteceu isso? Por que mudou de ideia tão de repente? A verdade é que ela tanto cria em Jesus como o amava, mas estivera refletindo mais no que ela era em relação a Ele do que naquilo que Ele era isoladamente, em seu valor pessoal.
A medida do nosso amor por Cristo é a mesma que nossa apreciação do seu amor por nós (2 Co 5 .14 ;1 Jo 4.19).
Como posso estar “sempre confiante” se meu estado de espírito varia tanto?
Nossas almas jamais se aquietam enquanto não percebemos que nossa disposição variável nada tem a ver com a nossa aceitação diante de Deus.
Quando Abel levou sua oferta ao Senhor, “os primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura”, lemos que “E atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta”. Não foi a excelência pessoal de Abel que Deus observou ao considerá-lo justo, mas a excelência do sacrifício apresentando e sua fé nele. Quando alguém leva um cheque ao banco, recebe o total da quantia escrita no cheque. Não receberia mais se tivesse um bom caráter, ou menos caso este fosse mau. Não se trata de uma questão do que o portador vale, mas do valor do cheque que possuía. Foi assim com Abel e será com todo pecador que se aproxima de Deus através de Cristo. Deus computa na conta de todo crente o total do valor da obra de Cristo.
Ela é perfeita?
Sim.
É perfeita eternamente?
Sim.
A aceitação do crente é portanto comparável, a isto. Lemos então, “Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados”, i.e., os que têm fé n’Ele. (Veja Hb 10.14 e At 26.18). Tome nota, não se trata simplesmente de ser “perfeito”. Não há intermissão, ruptura ou intervalo quando não é assim.
Há poucos anos, o autor, em companhia de outros cristãos, viajou da cidade de Penzance na Cornualha até Land's End. Sentado junto ao motorista, este chamou sua atenção para uma igreja à distância. Vamos passar por essa igreja, disse ele, e me contaram que entre este ponto da estrada e até chegarmos à igreja vamos perdê-la de vista nove vezes. Isto levou o escritor a desejar fazer um teste da declaração feita por ele. Logo descemos uma pequena colina e perdemos a igreja de vista. Subimos depois até o cume da lombada seguinte e o prédio ficou perfeitamente em nosso raio de visão. De novo afundamos no vale e a igreja desapareceu, chegamos a um cimo e vimos outra vez a igreja. Continuamos viajando, algumas vezes perdendo de vista e outras conseguindo vê-la, até que chegamos a poucos metros da antiga construção, com suas cruzes peculiares, etc., bem à nossa frente. Como o motorista avisara, havíamos perdido de vista o velho prédio nove vezes naqueles poucos quilômetros.
Mas, por que está contando isso? o leitor talvez pergunte. Só com o propósito de fazer-lhe uma pergunta sugestiva.
Quantas vezes você acha que a igreja subiu e desceu naqueles cinco ou seis quilômetros?
“A igreja para cima e para baixo?” diz você. Nem uma vez. “Os altos e baixos aconteciam com você e não com a igreja.”
Exatamente. E queremos acrescentar que nas condições variáveis da alma de que você fala, os altos e baixos são seus e não de Cristo. Não existe variação no conceito divino sobre o valor pessoal de Cristo ou de seu sacrifício; e se Ele aceita você nessa base, não podem haver altos e baixos na sua aceitação. Aquele que está no alto não muda. Ele é o mesmo “ontem, e hoje, e eternamente” e Deus “nos fez agradáveis a si no Amado” (Ef 1.6).
Se você quiser saber o que Deus pensa do crente, deve contemplar Cristo; “porque, qual ele é, somos nós também neste mundo”(1 Jo 4.17).
Um pregador nosso conhecido, que passara muitos anos no empreendimento inútil de alcançar alguma forma de perfeição na carne, libertou-se finalmente e declarou: eu costumava pensar que tinha de ser bom o bastante a fim de obter aprovação, mas vejo agora que Cristo ê que é suficientemente bom para ser aceito e Deus me aceita n’Ele. Se nosso comportamento tivesse algo a ver com nosso direito de aceitação, uma falha de comportamento iria significar então necessariamente um demérito nesse direito. Mas, graças a Deus, a verdade é que nossa atitude deriva do conhecimento de nosso lugar de aceitação diante do Pai; ou seja, a nossa aceitação não se baseia em nosso comportamento. Somos “santos chamados”, i.e., constituídos santos pelo chamado de Deus e solicitados depois a andar “como convém a santos”. Somos chamados a observar o amor que nos é concedido, a ponto de sermos chamados seus filhos e instruídos a “andar em amor” como “filhos amados” (1 Co 1.2; Ef 5.3; 1 Jo 3.1, Ef 5.1). Para usar uma ilustração, Deus primeiro enche a carteira e depois nos ensina como gastar o que Ele nos deu.
Será que não posso cair da graça e perecer no final? Não é “perigosa” a doutrina que ensina outra coisa?
Perecer? Um verdadeiro crente perecer? Que a Pessoa mais capacitada responda a essa importante pergunta. Ele diz, “Jamais!” “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer; e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10.28). O objetivo de Deus ao dar seu Filho para ser levantado, não era “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”? (Jo 3.16).
Se o Grande e Bom Pastor empenhou sua santa palavra que ovelha alguma de seu rebanho jamais perecerá (os incrédulos é que não são das ovelhas dele, veja Jo 10.26), por que não honrar a sua santa palavra e consolar sua alma perturbada com essa segurança? Dizemos mais ainda: afirmar outra coisa seria manchar a fidelidade d’Ele! Vamos explicar, pois muitos podem ter passado isto por alto. Eles cantam com a maior sinceridade essa linha do hino, “Tenho um depósito a guardar,” e desconsideram inteiramente o fato de que existe um outro lado a observar; a saber, que o Senhor Jesus Cristo, em dedicação amorosa à vontade do Pai, tem um “depósito a guardar”, precioso e solene. Não foi Ele que disse: “E a vontade do Pai que me enviou é esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se perca”? (Jo 6.39).
Como falar então sobre a possibilidade de um dos “seus” se perder, sem sugerir ao mesmo tempo a possibilidade de Cristo ser infiel à perfeita execução da vontade do Pai? Pensamentos tão desonrosos em relação a Cristo jamais deveriam ter lugar no coração daqueles que conhecem e amam o Senhor bendito, o “Santo” e “Verdadeiro”. Impossível. Ouçam as palavras dele ao Pai: “Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse” (Jo 17.12).
Comments