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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
J. N. Darby (adaptado)
Adaptado de Christian Treasury, Vol. 4
J. N. Darby
D. C. Buchanan
C. E. Lunden (adaptado)
W. J. Prost
D. F. Rule
W. J. Prost
J. G. Bellett
J. N. Darby
W. Kelly
S. Ridout (extraído e adaptado)
Autor desconhecido
Jó: Os Caminhos de Deus com Ele
Deus estava tratando com Jó; então ele teve que aprender a respeito de si mesmo. Quando descubro o que sou e não consigo dizer o que Deus é, estou em miséria. Quando Deus está arando o solo, isso não é uma colheita. Arar o solo vem antes da colheita. “Em tudo isso Jó não pecou”. Não havia ninguém como Jó em toda a Terra, mas ele não se conhecia: um espírito de justiça própria estava se movendo lentamente sobre ele.
Supondo que Deus tivesse parado ali, o que teria acontecido? Jó poderia ter dito: “Na prosperidade eu era olhos para o cego; na adversidade eu era paciente”, e a situação toda teria sido pior. Ele continua até que seus amigos vêm, e então, talvez por orgulho ou porque ele não conseguia suportar a empatia deles, ele desmorona. O processo foi difícil e humilhante. “Oh, se eu pudesse encontrar Deus”, Jó diz.
Jó, tendo sido assim trabalhado, exercitado e arado, passa por todas as várias considerações sobre como ele poderia se encontrar com Deus. Por toda parte há certos ditados verdadeiros, como, “O Senhor é Justo e ama a justiça” mas, e nós, somos justos? Finalmente Jó se encontra com Deus, e o resultado: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora Te veem os meus olhos. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza”. Agora ele conhece a Deus como não conhecia antes; agora ele se conhece melhor e recebe “o fim que o Senhor lhe deu” – a bênção.
J. N. Darby (adaptado)
O Fim ou o Propósito do Senhor
"Vistes o fim que o Senhor lhe deu" (Tg 5:11). O Senhor sempre tem um "fim" ou objetivo em vista em tudo o que acontece com Seu povo, particularmente quando doenças e problemas semelhantes vêm sobre eles. É extremamente importante que tenhamos esse fato firmemente estabelecido em nosso coração, pois se conhecermos "o fim do Senhor", isso nos permitirá passar ainda mais agradecidos pelo período de provação. E quanto mais firmemente estivermos convencidos desse fato, mais leve a provação parecerá e mais curta sua duração.
O apóstolo Paulo, em suas inigualáveis aflições, sabia que “o fim do Senhor” era “um peso eterno de glória mui excelente”. Com essa perspectiva em vista, sua aflição presente parecia ser leve quanto ao seu caráter e apenas por um momento quanto à sua duração (2 Co 4:17-18).
Há uma grande diferença entre procurar o fim da provação e procurar “o fim do Senhor”. É natural procurar o primeiro, e se a provação for uma doença, então o mais comum é chamar um médico e tomar remédios para se livrar dela. Pois espera-se que cuidemos desse corpo que temos agora. Mas é preciso fé para procurar “o fim do Senhor”, pois essa é uma das coisas “que se não veem”. “Ora, a fé é a substanciação das coisas que se esperam, a convicção de coisas que não se veem” (Hb 11:1 – JND).
A referência em Tiago 5:11 é a única alusão ao livro de Jó em toda a Bíblia, embora o nome de Jó seja mencionado duas vezes em Ezequiel 14. Jó, em todas as suas explicações sobre suas aflições, atribuiu-as às ações de Deus, mas não reconheceu que Deus tinha um propósito benéfico nelas. A única perspectiva que Jó podia ver de escapar delas era pela morte. A diferença entre a visão de Jó e a de seus três amigos era que Jó sustentava que Deus enviava o mal aos homens, assim como enviava o bem, e que sendo Deus, Ele tinha o direito de fazer o que quisesse com Suas próprias criaturas. Portanto, os homens devem aceitar o mal sem reclamar, assim como aceitam o bem das mãos de Deus. As palavras de Jó para sua esposa declaram suas opiniões: “receberemos o bem de Deus e não receberíamos o mal? Em tudo isso não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:10). Jó manteve isso até silenciar seus três amigos.
Os três amigos de Jó
Seus amigos sustentavam o contrário. Eles diziam que as aflições eram punições pelos pecados e eram sempre em proporção exata à natureza dos pecados. Por esse argumento ficou claro que Jó, sendo o mais aflito de todos os homens, devia ser o mais perverso de todos os homens. A grande discussão chegou ao fim sem que nenhum dos quatro homens demonstrasse ter a menor ideia do propósito de Deus, apesar das muitas coisas excelentes que eles disseram sobre Deus.
O propósito de Deus em permitir aflições é trazer o aflito à bênção por meio do julgamento próprio, confissão e correção de seus caminhos. Nenhum deles tinha o menor pensamento sobre “o fim do Senhor” ou que “o Senhor é muito misericordioso e piedoso”. Em tudo o que aqueles quatro homens disseram sobre Deus, as palavras amor, misericórdia, gentileza, bondade, compaixão, piedade e semelhantes não ocorreram uma única vez. Não obstante todos os seus grandes pensamentos sobre Deus, eles não O conheciam bem. “Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu Sou o SENHOR, que faço beneficência, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o SENHOR” (Jr 9:23-24).
Eliú
Eliú resume a contenda de Jó no capítulo 33:9-11: “Limpo estou, sem transgressão; puro sou; e não tenho culpa. Eis que Ele acha contra mim ocasiões e me considerou como Seu inimigo. Põe no tronco os meus pés e observa todas as minhas veredas” Ou seja, Deus fez todas essas coisas arbitrariamente, embora Jó fosse, aos seus próprios olhos, limpo, sem transgressão e inocente.
Eliú rejeita essa visão do assunto dizendo brevemente: “Eis que nisto te respondo: Não foste justo; porque maior é Deus do que o homem”. Então ele prossegue mostrando que em todos os tratamentos de Deus para com os homens, Seu propósito é salvá-los de descer ao abismo e trazê-los para a luz dos viventes.
Muitas vezes agimos como se não tivéssemos nenhum “Intérprete” inspirado para nos dizer claramente os significados dessas coisas em nossa vida, Alguém que nos dirá que “o Senhor é muito misericordioso e piedoso”. Mas há Alguém para revelar o fato de que Ele mesmo disse: “já achei resgate” na Pessoa de Seu próprio Filho amado. Ele abrirá livremente o depósito de Suas ricas misericórdias para todo homem como Jó, que disse: “Pequei e perverti o direito, o que de nada me aproveitou” (Jó 33:27).
Eliú conclui sua lição com as palavras em Jó 37:23: “Ao Todo-poderoso não podemos alcançar; grande é em poder; porém a ninguém oprime em juízo e grandeza de justiça” Em relação à aflição, também está escrito: “Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das Suas misericórdias. Porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens” (Lm 3:32-33).
Quantas vezes os filhos de Deus, como Jó, têm que aprender da maneira mais difícil. O velho ditado alemão está correto: “Quem não quer ouvir, tem que sentir”. As súplicas graciosas do Senhor passam despercebidas até que, a cada vez, precisam ser ditas de maneiras mais claras. Pode ser primeiro por um sonho, em uma visão da noite, quando o sono profundo cai sobre os homens, em sonolências na cama. Se não forem ouvidas, podem ser em seguida por instrução: “então, abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a sua instrução”. Finalmente, pode ser por castigo como “Também na sua cama é com dores castigado, e com a incessante contenda dos seus ossos”. Finalmente, em sua dor, Jó aprendeu sua lição.
Adaptado de Christian Treasury, Vol. 4
Os Tratamentos de Deus com Jó
Deus estava tratando com Jó; então ele teve que aprender a respeito de si mesmo. O que torna Jó tão interessante é que o livro é independente de todas as dispensações.
Quando descubro o que sou e não consigo dizer o que Deus é, estou em miséria. Quando Deus está arando o solo, isso não é uma colheita. Arar o solo vem antes da colheita. “Em tudo isso Jó não pecou”. Não havia ninguém como Jó em toda a Terra, mas ele não se conhecia: um espírito de justiça própria estava se movendo lentamente sobre ele.
Supondo que Deus tivesse parado ali, o que teria acontecido? Jó poderia ter dito: “Na prosperidade eu era olhos para o cego; na adversidade eu era paciente”, e a situação toda teria sido pior. Ele continua até que seus amigos vêm, e então, talvez por orgulho ou porque ele não conseguia suportar a empatia deles, ele desmorona. O processo foi difícil e humilhante. “Oh, se eu pudesse encontrar Deus”, Jó diz, “Ele não é como vocês: há bondade n’Ele”.
Seus amigos estavam em terreno totalmente falso; eles tomaram este mundo como testemunha adequada do governo de Deus. Isso só deixa Jó mais irado : o mundo não é testemunha adequada do governo de Deus.
Ali você vê uma alma se erguendo sob o que está sobre ela, lutando e se debatendo, a carne se manifestando para que ele se conheça a si mesmo. Jó, tendo sido assim trabalhado, exercitado e arado, passa por todas as várias considerações sobre como ele poderia se encontrar com Deus. Por toda parte há certos ditados verdadeiros, como, “O Senhor é Justo e ama a justiça” mas e nós, somos justos? Esta é outra história. Você está em condições, se tivesse que tratar com Deus neste momento, de dizer "Eu sou justo" diante d’Ele? Muitos olham para a cruz e dizem "Eu sou um pobre pecador, e não tenho esperança senão a cruz". Mas você pode dizer: "Eu sou um pobre pecador, e o tribunal é o que me convém?"
J. N. Darby
A Grandeza de Deus Demonstrada em Seus Tratamentos com Jó
O Livro de Jó nos mostra, como nenhum outro livro, como Deus controla todas as coisas para realizar Seus propósitos de bênção para os Seus. A maneira complexa pela qual Deus une as ações de Satanás, da esposa de Jó, de seus três amigos e do humilde Eliú para realizar Seus propósitos é uma testemunha de Seu grande poder, sabedoria e entendimento. Jó era um objeto especial do favor de Deus, e o livro é dado como uma demonstração de como as provações nas quais Ele nos coloca são para o nosso bem e bênção. A melhor bênção na leitura do livro não se encontra no entendimento de todas as discussões complexas, mas em ver o fim dos caminhos de Deus para com Jó – que Ele é misericordioso. Acreditamos que o Senhor nos deu este livro para nos ajudar enquanto passamos por provações.
A obra de Satanás
Satanás é o primeiro agente usado. Jeová chama a atenção para a vida perfeita e reta de Jó. Satanás sugeriu que Jó era piedoso por causa da proteção e bênção que Deus lhe deu e prontamente propôs um plano que ele achava que faria com que Jó amaldiçoasse a Deus. O Senhor Jeová permite isso com certas restrições que não permitem que ele vá além da razão de Deus para a provação. Satanás pode ser um agente em nossas provações, mas Deus está acima de tudo e Satanás não pode ir além do que Deus permite. Satanás foi imediatamente para medidas extremas de morte e destruição, doenças corporais e sofrimento, procurando refutar o que Deus lhe dissera e fazer com que Jó fracassasse. Não houve cuidado com o bem-estar de Jó da parte de Satanás, nem seus meios terríveis cumpriram sua previsão. Jó manteve sua integridade e não amaldiçoou a Deus. Parece que o esforço final de Satanás foi semear uma semente de desconfiança ou desespero no coração da esposa de Jó, levando-a a dizer: “Amaldiçoa a Deus e morre”.
Mas o Senhor tinha outras razões para permitir que Satanás fizesse o que ele fez. Ele desejava o bem e a bênção de Jó. Ele viu algo em Jó que era um obstáculo para essa bênção. A bênção que o Senhor reservou para Jó era muito melhor do que Jó podia obter por sua própria justiça. Esse plano exigiu uma provação para que Jó cessasse sua própria justiça e se apegasse somente a Deus. Os três amigos são os agentes usados por Deus para continuar a provação.
Os três amigos de Jó
Depois que Satanás terminou tudo o que pôde fazer, os amigos de Jó vieram consolá-lo. Mas em vez de ajudar diretamente Jó, levando-o a Deus, cada um deles usa sua própria experiência, lógica e tradição. Seus esforços para ensiná-lo por que todas essas coisas aconteceram, sendo imprecisos, só poderiam levar Jó a um caminho de resistência e justificação própria. Embora suas palavras sejam muitas vezes verdadeiras em si mesmas, elas erraram o motivo da provação. O poderoso trabalho de Deus em nossa vida é grande demais para ser explicado pelo entendimento humano. Precisamos entrar no santuário para aprender por que Deus permite provações.
Deus usou os três amigos para trazer para fora de Jó o que ninguém mais podia ver. Isso era necessário para revelar o que precisava ser exposto e julgado. Jó, em sua defesa contra suas acusações erradas, erroneamente atribuiu injustiça a Deus (Jó 27:2). Era correto que Jó sempre procurasse ser justo e reto, mas defender-se estava errado. Só Deus é nosso juiz. Nenhum homem colocado em provação é ao mesmo tempo o avaliador ou juiz. Quando começamos a nos defender, com certeza erraremos, embora seja especialmente difícil não defender a posição de alguém quando as acusações são falsas. Deus foi fiel em ter em mãos um homem que O representaria apropriadamente no momento correto.
As palavras fiéis de Eliú
Geralmente, só depois de termos parado de falar é que começamos a aprender, e Eliú espera sabiamente por esse momento, antes de começar a falar. Ele começa justificando a Deus e depois aponta os erros de Jó e dos seus amigos. Ele não assume uma posição de superioridade e dureza, mas fala como alguém feito de barro. Ele é cuidadoso em não acusar Jó das coisas invisíveis em seu coração; antes, ele pega apenas o que cada um disse e fala fielmente a verdade. Depois de dar a Jó a oportunidade de responder, Eliú conclui o discurso com uma admoestação para temer a Deus. Ele realmente traz Jó à presença de Deus, e então ele também se cala.
O Senhor então assume de onde Eliú parou. Ele traz Jó para um entendimento mais completo de Quem Ele é e do Seu grande poder. Jó reconhece sua própria condição vil após o primeiro discurso. Depois do segundo, Jó vê a Deus como Ele é e é restaurado ao Senhor.
O grande propósito de Deus abençoar poderia então ser graciosamente derramado na vida de Jó. Ele, então, recebe o dobro de tudo que ele havia perdido durante a provação. “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15:4). “Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso” (Tg 5:11).
D. C. Buchanan
Jó: Justiça Própria e Integridade
“E disse o SENHOR a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na Terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a Deus, desviando-se do mal” (Jó 2:3). Observe que ele ainda mantém firme sua integridade. Isso não foi mencionado em outras instâncias.
Esta é a chave para o livro de Jó – integridade. O que integridade significa? Bem, nós a entendemos como um homem honesto, um homem fiel, mas também significa alguém que se considera justo – justiça própria.
Esse era o problema dele, ele era justo em si mesmo. Isso era algo que o homem não conseguia ver muito bem, mas Deus conseguia. No que dizia respeito aos homens, Jó era reto em todos os seus caminhos; ninguém podia apontar o dedo para Jó. E agora Deus vai permitir que isso venha à tona. Deus vai tratar com Jó, e então Satanás pede que Jó seja colocado em suas mãos novamente, e ele foi.
Jó tem uma chaga maligna, (observe) desde a planta do pé até ao alto da cabeça. Como você gostaria de andar por aí com uma chaga maligna cobrindo seu corpo dos pés à cabeça? Isso aconteceu com Jó, não sei por quanto tempo; Jó 29:2 fala de “meses”, vários “meses passados” que ele estava coberto de chagas.
Agora observe Jó 2:9: “Então, sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade [integridade – ARA]? Amaldiçoa a Deus e morre”. Ela sabia, sim, ela sabia. Integridade, justiça própria; oh sim, ele era um homem justo diante dos homens. Ele não andou em pecado, mas ele carregava aquele caráter de que ele mesmo era justo diante de Deus, e isso nunca funcionará.
E o que mais ela diz? “Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (ARA). Então Jó diz: “Estás falando como fala uma mulher tola” (TB). Ele não disse que sua esposa era tola, não, ele manteve seus lábios. Ele apenas disse o que estava em ordem: “Estás falando como fala uma mulher tola” (Jó 2:10). Mas ele disse a ela: “Que? receberemos o bem da mão de Deus, e não receberemos o mal? Em tudo isso não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:10 – TB). No que diz respeito aos homens, seu caminho era bom. Mas Deus olha para o segredo de nossa vida e nos lembra do que nós mesmos somos.
Justiça própria (Jó 2:11 – Jó 31)
E enquanto Jó debatia com seus três amigos nos próximos capítulos, descobrimos que Jó finalmente admite que havia pecados em sua vida, mas ele não os considerava tão ruins. Ele era justo: você vê o que isso faz com um homem? Não torna um homem humilde, mas o torna orgulhoso. Jó tinha orgulho de sua retidão. Isso não deu certo.
Redenção e Ressurreição (Jó 19)
Vamos para Jó 19:25. Agora, aqui está algo que Jó sabia. Quero que você diga ao seu coração e eu ao meu, “Eu sei disso?”
“Porque eu sei que o Meu Redentor vive, e que por fim Se levantará sobre a Terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus”. Jó tinha um Redentor; você tem um Salvador? Você crê na ressurreição? Jó cria. Ele disse: “Depois de consumida a minha pele” (ele esperava morrer a qualquer momento – com chagas malignas dos pés à cabeça) , “ainda em minha carne verei a Deus”. Não é maravilhoso?
Ó, que coisa maravilhosa é a ressurreição, e pode dizer “verei a Deus” em nossa carne. Corpos de glória; Jó não sabia sobre o corpo de glória, mas nós sabemos.
Eliú (Jó 36)
Agora vamos abrir o capítulo 36. Temos outra pessoa entrando em cena além dos três amigos – Eliú. Eliú deu muitas coisas maravilhosas em seu ministério, em suas respostas, mas eu gostaria de chamar a atenção para duas delas.
Primeiro, “Eis que Deus é exaltado em Seu poder”; e segundo, “quem ensina como Ele?” (Jó 36:22 – JND).
O Senhor assume o controle (Jó 38)
Agora, isso ocorre pouco antes do capítulo 38, quando o próprio Senhor Jesus assume o controle, e Ele pessoalmente trata com Seu servo Jó. Antes de acusá-lo de pecado, lemos – “Poderás tu ajuntar as cadeias do Sete-estrelo ou soltar os atilhos do Órion?” (Jó 38:31). O que são as cadeias do Sete-estrelo, ou os atílios do Órion? Você pode ajuntá-las, Jó?
Quais são as cadeias do Sete-estrelo? Havia várias estrelas em um aglomerado, elas estão lá em cima agora, seis são visíveis. Elas têm alguma influência sobre a Terra. Esse é o lado literal das coisas, mas você tem no próximo capítulo, ou nos dois seguintes, Deus falando com Jó, Ele vai restaurar sua alma, e Eliú introduz isso falando do poder de Deus, e agora temos esse poder introduzido no meio de tudo isso.
“A glória de Deus é encobrir o negócio, mas a glória dos reis é tudo investigar” (Pv 25:2).
Aqui temos esta bela ilustração, essas influências do céu. O que eram elas? O próprio Senhor está introduzindo coisas que vão restaurar a alma deste homem. Ele iria querer que fossem de outra forma? Não! Quando tudo acaba, ele a quer dessa maneira, mas ele não sabia disso antes. Ó quão bom Deus é; não havia outra maneira. Veja que Jó tinha justiça própria, ele não sabia que era um pecador da sola do seu pé até o alto de sua cabeça.
Estado de Jó (Jó 40-42)
Em todos esses últimos capítulos o Senhor está falando sobre Seu poder, então vamos agora para Jó 40.
No debate de Jó com seus amigos, ele contou sobre como Deus era injusto no que estava fazendo a ele. Deus é injusto no que está fazendo ao Seu povo? Não, Ele está fazendo o melhor que pode “de acordo com o nosso estado de alma”.
“Então Jó respondeu ao Senhor, e disse: Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos Teus pensamentos pode ser impedido... Por isso, falei do que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosíssimas, e que eu não compreendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu Te perguntarei, e Tu ensina-me. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora Te veem os meus olhos. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:1-6).
Integridade, oh! Esse era o problema dele, e agora ele se arrepende de tudo. Jó estava cheio de feridas da sola dos pés até o alto da cabeça aos olhos de Deus. Era uma imagem do que ele era moralmente por natureza. Ele descobriu isso, você descobriu isso?
Que descoberta maravilhosa, porque você sabe que Deus pode fazer fluir toda essa graça para nós. Descobrimos que todo o tempo em que pensávamos em nós mesmos e em nossa justiça própria, não tínhamos graça nenhuma? Se somos justos, é porque Deus em Sua graça incomparável enviou Seu Filho aqui para morrer, para que pudéssemos ter uma justiça divina. Isso é tudo o que temos, não a justiça humana.
Agora, qual é o resultado? Este último capítulo de Jó é tão abençoado. Quando lemos histórias, gostamos quando elas terminam bem. Esta termina bem; maravilhosa!
C. E. Lunden (adaptado)
Os Três Amigos de Jó
No mês passado, em nossa primeira edição de O Cristão sobre Jó, falamos um pouco sobre Jó e seus três amigos – quem eles eram e quando viveram. Podemos mencionar um pouco sobre eles quanto à sua origem ancestral. Está registrado que Elifaz era um temanita, e sabemos que o primeiro homem com o nome Elifaz era filho de Esaú. Por sua vez, seu filho Temã é nomeado como um dos príncipes de Edom – veja Gênesis 36:10, 15. Bildade, o suíta, é o próximo nomeado, e ele pode ter sido descendente de Suá, que era filho de Abraão e Quetura. Finalmente, Zofar, o naamatita, é nomeado, e não temos informações específicas sobre sua ascendência. Mas todos eram amigos de Jó, embora provavelmente vivessem a alguma distância dele.
A interação deles com Jó é interessante e instrutiva, pois embora eles tenham acusado Jó injustamente, o Senhor o permitiu, pois isso trouxe à tona algo em Jó que ainda não havia aparecido, apesar de toda a sua aflição anterior vinda de Satanás. O que havia em seus discursos para Jó que causou tanta dificuldade?
É claro que eles realmente eram amigos de Jó. Em toda a interação com Jó, o Espírito de Deus nunca os chama de outra coisa senão seus amigos. Que eles realmente se importavam com Jó é evidente, pois eles tinham combinado de se reunir para visitá-lo, sem dúvida depois de ouvir relatos de tudo o que tinha acontecido com ele. Mais do que isso, eles não eram rápidos em falar, como talvez alguns de nós teríamos sido. Não, está registrado que “E se assentaram juntamente com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande” (Jó 2:13). Então foi Jó quem quebrou o silêncio, e eles começaram, um após o outro, a responder a ele.
Justiça retributiva
O que foi dito por aqueles três amigos às vezes continha verdade, e até mesmo Jó reconheceu isso em um ponto, quando disse: "Na verdade sei que assim é" (Jó 9:2). No entanto, sua perspectiva e base de raciocínio estavam erradas, e essas têm sido frequentemente usadas neste mundo, quando os tratamentos de Deus com o homem estão em questão. Todos os três assumiram que os atuais tratamentos de Deus com o homem, e particularmente o que parecia ser "justiça retributiva", eram o governo e o julgamento de Deus sobre o homem por transgressões. Quando Jó foi afligido tão severamente, eles assumiram que Deus o estava punindo por pecados ocultos. Eles até inventaram uma lista de supostos pecados que Jó haveria cometido, e o acusaram deles, sem qualquer prova.
Como apontamos em outro lugar nesta edição de O Cristão, Deus usou tudo isso para trazer à tona algo em Jó que talvez nem ele mesmo tivesse percebido que estava lá – uma raiva e impaciência que eram o resultado de seu orgulho em seu próprio caráter. Infelizmente, essa raiva e impaciência foram eventualmente direcionadas até mesmo contra o Senhor. No entanto, quando Jó aprendeu sua lição, Deus teve que dizer a Elifaz: “A Minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de Mim o que era reto, como o Meu servo Jó” (Jó 42:7). Eles foram compelidos a oferecer sacrifícios e a pedir a Jó que orasse por eles. Evidentemente eles fizeram isso e foram perdoados.
O que aprendemos com tudo isso? Primeiro, do lado de Jó, aprendemos que Deus pode e usa aqueles que podem dizer coisas sobre nós que não são verdadeiras. Um velho irmão costumava nos lembrar: "Eu nunca saberei o quão próximo você anda do Senhor até que alguém diga algo desagradável sobre você, e eu veja como você reage". Outros podem ser culpados de ações erradas, mas, será que às vezes somos, como Jó, culpados de reações erradas?
Suposições erradas
Do lado dos amigos de Jó, suas reações às calamidades de Jó mostraram que eles não tinham ideia de como o Senhor trabalha ou o que Ele estava fazendo com Jó. Como resultado, todos os seus conselhos estavam "longe do alvo" e apenas aumentaram o sofrimento de Jó. Eles basearam seus conselhos em seus próprios pensamentos e experiências, em vez dos pensamentos de Deus. Dessa forma, eles fizeram suposições sobre Jó que não eram verdadeiras e que causaram muito dano.
Alguns podem argumentar que eles fizeram o melhor que puderam e realmente tentaram ajudar com a luz limitada que tinham de Deus naqueles dias. Mas então um homem mais jovem aparece – Eliú – que tinha a mente do Senhor e que falava por Deus, não apenas a Jó, mas também a seus amigos. Como ele obteve essa luz, em um dia antes de as Escrituras serem escritas? A resposta é que ele estava andando com o Senhor e, como um homem mais jovem, ele não confiou em sua própria experiência ou em seus próprios pensamentos. Em vez disso, ele procurou olhar para todo o assunto com o ponto de vista de Deus, e ele foi o único capaz de esclarecer todo o assunto para Jó e seus amigos. O Senhor lhe deu sabedoria muito além de sua idade porque ele confiou no Senhor, e não em sua própria sabedoria.
Fale corretamente pelo Senhor
Ser capaz de falar pelo Senhor neste mundo é algo muito a ser desejado por cada um de nós. Vivemos em um mundo que está se afastando do temor do Senhor com ímpeto crescente e que despreza os pensamentos de Deus, enquanto se exalta. No meio de tudo isso, aqueles que podem falar pelo Senhor, com Seus pensamentos, são cada vez mais necessários. Paulo poderia lembrar aos colossenses: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal” (Cl 4:6), e é esse caráter duplo da linguagem que devemos desejar. Graça é o caráter desta dispensação, pois Deus “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tm 2:4 – ARA). Por outro lado, o sal nos lembra da santidade de Deus e de Suas justas reivindicações sobre nós. Ser capaz de misturá-los em uma combinação correta somente pode ser feito por uma caminhada com o Senhor e pelo poder do Espírito de Deus.
W. J. Prost
Uma Lição de Graça
Leia em 1 Coríntios 15:1, 10: “Vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis... Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a Sua graça para comigo não foi vã”. Somos salvos pela graça, permanecemos na graça, e pela graça de Deus somos o que somos. Vamos lembrar de uma lição que foi aprendida por um servo do Senhor muitos anos atrás. A lição era reconhecer que pela graça de Deus ele era o que era. Ao aprender essa lição, ele foi capaz de ser um servo proveitoso para o Senhor, particularmente como um servo de intercessão. Esse servo era Jó.
D. F. Rule
O que Eu Temia
Uma das coisas que Jó disse em seu discurso com seus amigos pode parecer um tanto intrigante para nós, e foi dita logo no início de seus discursos, antes que os amigos de Jó o acusassem falsamente.
Como sabemos, o Senhor permitiu que Satanás primeiro tirasse todas as posses de Jó, e até mesmo seus dez filhos. Pouco depois, o Senhor também permitiu que Satanás afligisse Jó com uma chaga maligna da cabeça aos pés; em suma, sua saúde foi tirada. Mas Jó passou no teste; em tudo isso não “pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:10). Antes de todas as ações de Satanás contra Jó, o próprio Senhor o elogiou, dizendo que “ninguém há na Terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus, e desviando-se do mal” (Jó 1:8). Isso era verdade, e é notável que Satanás, que sabemos que é rápido em apontar falhas no povo de Deus, não pudesse apresentar uma acusação contra Jó ou uma refutação à distinção que o Senhor fez dele. No entanto, encontramos, no primeiro discurso que Jó faz depois de tudo isso, ele diz estas palavras:
“Por que o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu. Nunca estive descansado, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação” (Jó 3:25-26).
Por que Jó teve temor?
Por que Jó teria ficado com medo? O próprio Senhor o elogiou, e Jó parecia ter tudo indo bem para ele. Ele era rico, evidentemente altamente respeitado, confortável em sua vida e andava bem diante do Senhor. Mais tarde, em conversa com seus amigos, ele pôde dizer sobre sua vida passada: “E dizia: no meu ninho expirarei e multiplicarei os meus dias como a areia” (Jó 29:18). Parece que Jó estava bastante confortável em toda a sua situação. No entanto, ele tem que dizer que “temia”, e agora que sérios problemas realmente o atingiram, ele revela seus sentimentos mais íntimos.
O temor que Jó tinha era o que muitas pessoas boas neste mundo sentiram de tempos em tempos. Certamente é sentido por incrédulos que estão dispostos a ser honestos diante de Deus, e também é sentido por verdadeiros crentes quando há algo em seu coração que eles sentem que não está correto diante de Deus. Em termos simples, o temor sobre o qual estamos falando é o temor do que não é julgado em nosso próprio coração diante de Deus. Apesar de tudo o que Jó era diante de seu próximo e diante de Deus, ele sabia no fundo de seu coração que nem tudo estava certo com Deus. Ele tinha um coração pecaminoso, como todos nós, e sentia que seu orgulho em sua própria bondade não estava correto. Ele sabia que havia pecado em seu coração, apesar de sua aparência externa de retidão. Ele se perguntava quando suas circunstâncias poderiam mudar, e quando isso aconteceu, ele disse, algo como: "Eu sabia que isso estava chegando!"
O medo de Caim
Vemos um tipo semelhante de medo em Caim, quando o Senhor lhe disse: “Fugitivo e errante serás na terra” (Gn 4:12). A resposta imediata de Caim foi, entre outras queixas, que “todo aquele que me achar me matará” (Gn 4:14). Por que ele disse isso? Alguém o ameaçou de morte? Não que saibamos. Em vez disso, seu medo era o produto do que estava em seu próprio coração. Ele próprio era um homicida e supôs que outros fariam o mesmo. É algo solene que frequentemente projetamos nos outros os pecados de nosso próprio coração, pensando que eles provavelmente fariam o mesmo.
Apressamo-nos a dizer que havia uma grande diferença entre Caim e Jó. Caim era um incrédulo e não queria estar na presença de Deus. Jó tinha uma nova vida e estava disposto a ser verdadeiro diante de Deus. Mas o caráter do medo deles, seja em Caim ou em Jó, em última análise, surgiu de uma fonte semelhante. Era o produto do que não era julgado no próprio coração deles.
Jó, o homem reto
No caso de Jó, ele era um homem reto, e o Senhor o elogiou por isso. Mas orgulhar-se disso era errado, pois o orgulho é um dos piores pecados aos olhos de Deus. Jó teve que perceber que tinha um coração pecaminoso, apesar do fato de ser uma alma nascida de novo. Embora mais tarde ele tenha se defendido diante das acusações de seus amigos e até mesmo desejado que pudesse ter um encontro com o Senhor, no fundo ele sabia que algo estava errado.
Houve apenas Um que passou por este mundo como um Homem, mas não sentiu temor. Nosso bendito Senhor e Mestre, o Senhor Jesus Cristo, andou por este mundo sem sentir temor, exceto (e falamos isso com a máxima reverência) o temor de ser feito pecado. Assim, lemos que “com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que O podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia” (Hb 5:7). Em todas as outras ocasiões, mesmo diante do governador romano Pilatos, Ele não demonstrou temor. Em vez disso, foi Pilatos quem “mais atemorizado ficou” (Jo 19:8).
Sem dúvida, todos nós, em algum momento ou outro, tivemos o medo que Jó teve. Ele só pode ser superado olhando para o exemplo de nosso Senhor e Mestre.
W. J. Prost
Jó – a Verdade da Ressurreição
Fé na ressurreição
A ressurreição também tem sido, desde o princípio, uma profissão de fé do povo de Deus; e, sendo tal, era também a lição que tiveram que aprender e praticar, o princípio da vida deles; porque o princípio de uma dispensação divina é sempre a regra e o caráter da conduta dos santos. A compra e ocupação do lugar de sepultura em Macpela nos dizem que os pais de Gênesis aprenderam a lição. Moisés aprendeu e praticou isso, quando escolheu a aflição com o povo de Deus, levando em consideração a recompensa do galardão. Davi a tinha em seu poder quando fez o concerto, a promessa de ressurreição, toda a sua salvação e todo o seu desejo, embora sua casa, sua casa presente, ainda não brotara (2 Samuel 23). Toda a nação de Israel aprendeu isso repetidas vezes por seus profetas, e em breve eles aprenderão e então testemunharão isso para o mundo inteiro, os ossos secos vivendo novamente, a azinheira (ou terebinto) castigada pelo inverno florescendo de novo; pois “qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?” O Senhor Jesus, “o Autor e Consumador da fé”, em Seus dias, não preciso dizer, praticou esta lição com toda a perfeição. E cada um de nós, Seus santos e povo, é direcionado a isso todos os dias, “para conhecê-Lo, e a virtude da Sua ressurreição, e a comunicação de Suas aflições”.
Pela vida de fé os antigos alcançaram bom testemunho. E assim os santos de todas as épocas. Pois “sem fé é impossível agradar-Lhe”; aquela fé que confia n’Ele como Galardoador dos que O buscam diligentemente, que valoriza o invisível e o futuro. Eles, dos quais o mundo não era digno, praticavam a vida de fé, a vida do povo morto e ressuscitado (Hb 11). Estevão diante do conselho nos diz o mesmo. Abraão, José e Moisés, segundo seu relato, foram grandes testemunhas desta mesma vida; e ele mesmo, naquele momento, seguindo o modelo de seu mestre, Jesus, estava exibindo a força e as virtudes disso, pelo poder do Espírito Santo, e apreendendo, pelo mesmo Espírito, os mais brilhantes gozos e glórias disso (Atos 7).
Aprendendo o poder da ressurreição
Agora, acredito que o principal propósito do Livro de Jó é demonstrar isso. É a história de um eleito, nos primeiros dias patriarcais, um filho da ressurreição, designado para aprender a lição da ressurreição. Sua célebre confissão nos diz que a ressurreição era entendida por ele como uma doutrina, enquanto toda a história nos diz que ele ainda precisava conhecer o poder dela em sua alma. Era a profissão de sua fé, mas não o princípio de sua vida.
E foi uma lição dolorosa para ele, realmente difícil de aprender e digerir. Ele não gostou (e qual de nós gosta?) de tomar para si a sentença de morte, para que não confiasse em si mesmo, ou nas circunstâncias de sua vida, ou em sua condição por natureza, mas em Deus que ressuscita os mortos. “No meu ninho expirarei”, era o seu pensamento e a sua esperança. Mas ele veria seu ninho despojado de tudo o que a natureza o encheu e com que as circunstâncias o adornaram.
Tal é, creio eu, o principal propósito do Espírito de Deus neste Livro. Este honrado e querido santo teve que aprender o poder do chamado de todos os eleitos, de forma prática e pessoal, a vida de fé, ou a lição da ressurreição. E pode ser um consolo para nós, amados, que sabemos que somos pequenos entre eles, ler, nos registros que temos deles, que nem todos foram alunos igualmente aptos e brilhantes naquela escola, e que todos, em diferentes medidas, falharam nela, bem como obtiveram resultados nela.
Quão indignamente, por exemplo, Abraão se comportou, quão pouco parecia um homem morto e ressuscitado, um homem de fé, quando negou que Sara era sua esposa diante do egípcio, e ainda assim quão maravilhosamente se comportou, como tal, quando entregou a escolha da terra a seu parente mais jovem. E até mesmo o nosso próprio apóstolo, o mais competente aluno da escola, o constante testemunho aos outros deste chamado, e o discípulo enérgico do poder dela em sua própria alma, num momento em que o medo do homem trouxe consigo uma armadilha, torna esta mesma doutrina o disfarce de um pensamento enganoso (Atos 23:6).
Encorajamentos e consolações visitam a alma em meio a tudo isso. Feliz é saber que nossa lição atual, como aqueles que estão mortos e cuja vida está escondida com Cristo em Deus, tem sido a lição dos eleitos desde o início – que em muitas ocasiões brilhantes e sagradas eles praticaram essa lição para a glória de seu Senhor, que às vezes eles a acharam difícil e às vezes falharam. Esta história da alma é bem entendida por nós. Somente nós, vivendo nos tempos do Novo Testamento, somos colocados para aprender a mesma lição numa página ainda mais ampla, e segundo o método mais claro, no qual agora nos é ensinada na morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
J. G. Bellett
Deus Atende às Necessidades de Jó
Se olharmos para Cristo, veremos que Ele atende exatamente à necessidade que Jó sentiu. Não posso responder a Deus nem uma em mil; mas o que encontro em Cristo? Deus em Sua Pessoa veio a mim neste mundo porque eu não podia fazer nada. O bendito Senhor não esperou no céu, mas veio até essas pessoas injustas. Ele nunca disse: "Vinde a Mim", até que Ele mesmo viesse.
J. N. Darby
Três Principais Ensinamentos
Na história de Jó, o Senhor nos ensina particularmente estas três coisas:
Até onde o homem pode chegar por seus próprios esforços, relativamente à piedade; em outras palavras, à justiça do homem fundada na força do homem.
O que acontece com essa justiça quando ela é submetida ao escrutínio de um Deus Santo e Perfeito.
Graça, o único meio de estar em comunhão verdadeira e permanente com Deus.
W. Kelly
O Homem Aprendendo Sua Própria Insignificância
“Toda a nossa infelicidade e fracasso, seja como santos ou pecadores, brota da incredulidade na bondade que está no coração de Deus para nós” (H. E. Hayhoe).
Em Jó, vemos um homem aprendendo a lição de sua própria nulidade, no fogo ardente de uma profunda aflição, pelo "mensageiro de Satanás" – por meio de perdas, luto e doença – lutando sozinho contra a filosofia grosseira e os ataques cruéis de seus amigos e, acima de tudo, com seu próprio orgulho, sua insubmissa justiça própria, e incredulidade, até que "um intérprete" seja ouvido, que o conduz ao ponto em que ele ouve a Deus e aprende a lição de todas as eras, que somente Deus é Deus, e nisso reside a bênção do homem.
Conhecendo Deus pessoalmente
Em sua piedade, assim como em sua prosperidade, parece ter havido em Jó uma falta de verdadeiro conhecimento pessoal de Deus. É essa falta de verdadeiro conhecimento de Deus, juntamente com a correspondente ignorância de seu próprio coração, foi o que provavelmente tornou necessárias as provações às quais Jó foi submetido.
Deus iria vindicar Sua verdade, silenciar Satanás e os homens maus, mas Ele sabia que Seu servo Jó precisava aprender lições para sua própria alma. Ele colocaria o minério precioso no cadinho[1], pois sabia quanto mal insuspeitado jazia escondido sob toda aquela excelência exterior, misturada até mesmo com a piedade interior deste bom homem. Ele mostraria que nem mesmo a piedade pode se alimentar de si mesma, nem a justiça se apoiar em seu próprio braço. Estas são algumas das lições que Jó deve aprender. Que nós também as aprendamos!
[1] Cadinho: Vaso utilizado para fundir minérios ou em reações químicas a temperatura muito elevada (Conf: Dicionário Aulete Digital)
Duvidando da bondade de Deus
Enquanto os sofrimentos de Jó eram exteriores, ou físicos, ele estava calmo, mas quando ele começou a duvidar da bondade de Deus, ele entrou em colapso. Isso aparecerá abundantemente à medida que prosseguirmos; é simplesmente notado aqui como sugerindo um tema principal do livro – a vindicação de Deus e Seus caminhos com os homens.
Jó havia perdido a percepção do favor de Deus; seus suspiros jorravam como uma torrente porque ele temia que Deus o tivesse abandonado. Ele não conseguia suportar a dúvida torturante de que Deus o havia entregado à miséria sem esperança. Esse temor aparentemente estava à espreita em seu coração – possivelmente até mesmo em seus dias brilhantes – e agora veio sobre ele! Ele lamenta: “Nunca estive descansado, nem sosseguei, nem repousei (do primeiro ataque de Satanás), mas veio sobre mim a perturbação”.
Na controvérsia dos três amigos, temos uma unidade de pensamento, baseada em um princípio comum. Esse princípio é que todo sofrimento é de natureza punitiva e não instrutiva – que é baseado na justiça de Deus e não em Seu amor – embora estes estejam sempre combinados em todos os Seus caminhos.
Jó difere de seus amigos nisto: Enquanto eles tendem firmemente a uma convicção de sua hipocrisia e pecado, Jó enfrenta o terrível pensamento da injustiça de Deus . Ele é levado a isso pela consciência da retidão pessoal, da qual ele não pode abrir mão na hora mais sombria. Por que então ele está tão aflito? Por outro lado, graças a Deus, ele tem fé verdadeira. Mesmo onde ele não consegue entender, ele precisa crer em Deus, e essa fé permanece, com luz crescente, através de todos os seus sofrimentos e apesar de todos os mistérios.
No desespero de Jó, sua aflição é indizivelmente grande; não há cura possível, portanto a morte seria um alívio bem-vindo. Não há um lampejo de esperança em meio à escuridão; a fé é quase completamente eclipsada por enquanto, e há a percepção da ira de Deus que é o precursor de uma dúvida sobre Sua bondade e justiça. Mas Jó precisa de luz, e ele deve aprender a confiar em Deus quando não consegue entendê-Lo. Jó quer que Deus tire sua vida. Isso, ele diz, seria um conforto, pois sua retidão consciente o sustentaria: Ele não rejeitou as palavras de Deus – não foi rebelde contra Ele. Temos aqui, como em todo seu longo conflito, uma declaração de retidão consciente. Embora verdadeira – como era de fato o fruto da graça de Deus nele – Jó está usando essa justiça de uma forma de justiça própria, para se justificar à custa da justiça de Deus .
Temos aqui o estado habitual da mente de Jó ao longo de toda a sua controvérsia com seus amigos. Há um senso de retidão moral, de temor genuíno de Deus, que ele não pode negar. É o testemunho de uma boa consciência, e permanece como uma rocha contra todas as suspeitas e acusações de seus amigos.
Acusações contra Deus
Ele faz acusações contra Deus, pois ainda não está pronto para ser despojado de toda a sua justiça imaginária. Ele acha que Deus o mantém como um inimigo, o conduz como uma folha seca diante do vento e o acusa daqueles pecados quase esquecidos da juventude (ah, Jó, parece que até você deve reconhecer que houve pecados).
O próprio fato de Jó ansiar por um intercessor mostra a fé escondida em sua alma. Enquanto isso, ele olha para a sepultura, sem fazer uma pausa para que Deus fale com ele. O simples fato de ele apelar a Deus, trazendo suas dúvidas e medos a Ele, mostra que a fé não falhou, e não pode falhar. Portanto, encontramos aqui a nobre declaração, que expressou a fé dos santos de todas as eras: “Eu sei que meu Redentor vive” (Jó 19:25).
Jó está totalmente ocupado com seu relacionamento com Deus – ele precisa entender Deus. Jó O acusa como o Autor de sua miséria e sofrimento. Sua reclamação e palavras inflamadas não lhe dão alívio. Ele não está disposto ou é incapaz de confiar em Deus na escuridão.
Com seu senso de indignação, Jó deseja ir diante de Deus e fazer acusações contra Ele! Ele iria com ousadia à Sua presença, em Sua própria morada, e exporia seu caso diante d’Ele, com sua boca cheia de argumentos. Ele até desafia qualquer resposta de Deus: Eu “Saberia as palavras com que Ele me responderia”. Assim pode um homem justo falar quando está distante de Deus. Quão diferente era quando ele teve seu desejo e Deus lhe apareceu!
Misturando fé e incredulidade
E aqui, quando seu desafio quase insano a Deus está no auge, irrompe um vislumbre daquela confiança em Deus que já tivemos ocasião de notar. “Ele pleiteará contra mim com Seu grande poder! Não! Mas Ele colocaria força em mim,” ou “me consideraria com compaixão”. Estas certamente não são as palavras de um incrédulo. Ele duvida dos caminhos de Deus, acusa-O, mas está confiante de que se pudesse apenas vê-Lo, tudo seria esclarecido. Deus consideraria seus “gritos fracos e errantes” e o justificaria da injustiça divina! Mas que anomalia – o homem justo disputando com Ele e liberto pelo próprio Juiz de Sua severidade injusta! Estranha contradição é tudo isso, mas é muito melhor desejar ir diante de Deus, do que o orgulho que lhe diria: “Retira-Te de nós; porque não desejamos ter conhecimento dos Teus caminhos”. É sempre melhor trazer até mesmo nossas dúvidas sobre Deus para Ele, se não temos mais nada a trazer.
Toda desconhecida para ele, a graça de Deus estava em ação, pois ele era um filho de Deus: não lhe era permitido ir aonde seus pensamentos incrédulos o levassem. Mas ainda temos que ouvi-lo derramar todo o seu coração, antes que Deus possa ser ouvido.
Há maior ou menor inconsistência no monólogo de Jó (Jó 29-31), correspondendo ao estado de seu coração, no qual emoções conflitantes, de integridade consciente diante do homem e do temor do Senhor, são misturadas com reminiscências doentias de grandeza passada e lamentos sobre a degradação presente. O tom geral, no entanto, mostra a necessidade de Deus tratar com sua alma e nos prepara para o que se segue.
É repulsivo que um pecador se debruce sobre sua própria bondade – da qual não tem nenhuma – e que um filho de Deus siga o mesmo caminho, isso mostra claramente que ele ainda não aprendeu sua lição.
Sinceridade é suficiente?
Não podemos questionar a verdade e a sinceridade de tudo o que Jó diz, mas, podemos muito bem perguntar, se a sua conclusão é feliz até para ele mesmo? Ele fecha a boca de seus amigos; ele parece abundantemente satisfeito consigo mesmo. Suponha que Deus deixasse as coisas dessa forma. Seria algo agradável o espetáculo de um homem completamente justificado por si mesmo? Ah, a verdade divina, assim como o amor divino, não permitirá que ele se envolva nessas ervas daninhas da justiça própria. Em outras palavras, Deus é deixado de fora, exceto no que diz respeito à justiça de Jó: Sua grandeza, bondade, santidade, como temas de adoração e gozo, são ignorados. No final de tudo o que ele tem a dizer, Jó está tão longe de Deus quanto no começo; não, mais longe ainda. Quando nos lembramos de que todos os caminhos de Deus com o homem são para trazê-lo para perto de Si mesmo, vemos a loucura e o pecado do curso de Jó.
Mas devemos notar a justiça própria que moveu Jó a falar de si mesmo dessa forma. Ele estava se enfeitando em vez de dar glória a Deus. Sem dúvida, no fundo, ele era um homem de piedade genuína, mas não é glória expor a própria glória.
Eliú fala pelo Senhor
Não; em uma breve frase Eliú deixa de lado todos os raciocínios humanos: “maior é Deus do que o homem”. Em outras palavras, Deus é Deus. Se formos raciocinar, que não seja do menor para o maior, mas do maior para o menor. Digamos: Como poderia o Todo-Poderoso, um Ser Todo-Perfeito, cometer um ato injusto? “Não faria justiça o Juiz de toda a Terra?” (Gn 18:25). Enquanto uma alma levanta uma questão contra o caráter de Deus, ela não está em condições de ter suas dificuldades atendidas. Eliú agora passa a explicar isso. Enquanto Jó acusa, ele não obtém resposta; que ele se submeta e Deus tornará tudo claro.
Eliú deixa claro que Deus fala assim ao homem. Quando a luz da natureza é retirada, quando tudo está em silêncio, Ele fala em “uma voz mansa e delicada” e torna conhecida Sua mente. Assim, a instrução é selada no coração do homem. Seu objetivo é corrigir pensamentos e ações erradas, afastar o homem do “mal”, ou do seu propósito, e esconder o orgulho do homem. Isso vai mais fundo do que a ação, pois o orgulho espreita no coração, e Deus o esconderia do homem – impediria seu controle sobre ele. “Também de pecados de presunção guarda o teu servo” (Sl 19:13 – AIBB). Assim, o homem é mantido afastado da destruição. Ele se curva à correção da verdade de Deus e, assim, é poupado do golpe da vara ou da espada.
A confiança na retidão de Deus é o fundamento de uma caminhada correta. “Bem sei eu, ó SENHOR, que os Teus juízos são justos e que em Tua fidelidade me afligiste” (Sl 119:75). Certamente, se perdermos a fé na justiça de Deus, o que resta? Isso é andar “no conselho dos ímpios”, muito mais perigoso do que as formas exteriores do mal. O efeito de tal ensino é que não há proveito em buscar agradar a Deus ou ter comunhão com Ele. Que acusação monstruosa para sair dos lábios de alguém que era filho de Deus! Podemos ser gratos que a fé de Jó não falhou apesar dessa nuvem de incredulidade. Como Deus poderia agir perversamente ou perverter o que é certo? Ele não seria Deus se isso fosse possível.
“Ainda que dizes que não O vês, a tua causa está diante d’Ele; por isso, espera n’Ele”. Não pense que Deus Se esqueceu; seja paciente; aprenda a lição que Ele lhe ensina. Quão admirável e bíblico é esse conselho – exatamente o que Jó precisava. “Espera pelo SENHOR, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo SENHOR” (ARA).
Em uma palavra, ele varre as suspeitas profanas que foram abrigadas por Jó – “Eis que Deus é mui grande; contudo, a ninguém despreza”. Infinito em poder como Ele é, Ele olha com compaixão para a mais fraca de Suas criaturas. Há dois infinitos nos quais Ele é igualmente visto – no infinitamente grande e no infinitamente pequeno. Quão reconfortante é a verdade: Ele “a ninguém despreza”! O desprezador encontrará sua condenação com todos os impuros, mas Deus salvará o humilde sofredor, em, e de fato, por sua aflição. Ela “opera” bênçãos para ele. É o Todo-Poderoso, não podemos compreender Sua grandeza, mas sabemos que Sua retidão é tão grande quanto Seu poder. Vamos nos curvar em adoração diante d’Ele: Ele não ouve aqueles que são sábios em seus próprios conceitos.
A voz de Jeová
O testemunho de Jeová vindo da Criação está testando Jó e trazendo-o para o pó. Não estamos mais ouvindo o tatear da mente natural, como nos discursos dos amigos; nem os clamores irrefletidos de uma fé ferida, como em Jó; nem mesmo a linguagem clara e sóbria de Eliú – estamos na presença do próprio Jeová, que fala conosco.
Então, a voz que veio a Jó do redemoinho o trouxe à presença de Alguém de cujo caráter ele até então era grandemente ignorante. Ele havia falado muitas coisas excelentes sobre Deus, mas Sua presença real nunca havia sido conhecida antes. Isso, como se verá, fornece a chave para a maravilhosa mudança operada em Jó. Quando Deus é pessoalmente reconhecido como presente, Ele é assim reconhecido na totalidade de Seu ser. Não é meramente Seu poder que é visto ou Sua grandeza ou mesmo Sua bondade, mas Ele mesmo, Aquele em cuja presença os serafins velam seus rostos enquanto clamam: "Santo, santo, santo".
Pedro teve tal vislumbre d’Ele no mar da Galileia (Lucas 5), e foi constrangido a clamar: “Senhor, ausenta-Te de mim, por que sou um homem pecador”. E Paulo caiu em terra sob a mesma revelação, como também João no Apocalipse. A exibição externa em cada um desses casos foi diferente, passando de um humilde Homem em um barco de pesca para a Majestade entronizada nos céus; mas o fato essencial é que é Ele mesmo, e por mais que Ele possa velar Sua glória e encontrar o homem em misericórdia e graça, é Deus Quem assim fala e age. Se isso não for percebido, nenhuma grandeza de cenário, nenhum esplendor de fenômenos naturais, pode transmitir Sua mensagem ao homem.
Isso é tristemente evidente no uso que os homens fazem do majestoso panorama da natureza, diariamente estendido diante de seus olhos. Os céus como uma tenda infinitamente espaçosa estão arqueados acima, resplandecentes de dia e de noite; a cortina das nuvens, a grandeza das montanhas, a beleza da floresta, do campo e do mar – o que isso diz a alguém que não ouve a Voz? O pagão faz sua imagem, ou se curva ao Sol e à Lua; o cientista varre os céus com seu telescópio, e perfura a parte mais íntima da Terra com seu microscópio; ele fala erudita e interessantemente de “leis da natureza”, de “princípios da física e da química”, de gravitação, coesão e afinidade: mas a menos que tenha ouvido a Voz de Jeová, ele não O conhece mais do que o pobre idólatra iludido rastejando diante do hediondo ídolo Vixnu.
Essa ignorância é uma ignorância culpada, “Porque as Suas coisas invisíveis [Seus atributos invisíveis – ARA], desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus” etc. (Rm 1:18-25). Todos os homens estão em certa medida conscientes dessa culpa e distância moral de Deus, e bastante dispostos a permanecer nessa condição. Eles tapam os ouvidos à Voz d’Aquele que não está longe de cada um de nós.
Quão necessário para nós, ao falarmos disso, perceber Sua voz que fala na natureza e em Sua Palavra. Que seja a nossa porção, não nos retirarmos distanciando-nos, nem nos escondermos em meio a Suas belas árvores, mas nos aproximarmos com pés descalços e rostos velados e ouvir o que Deus, o Senhor, falará.
Olhando para Suas Palavras como um todo, podemos ficar surpresos com seu caráter. Elas não são, num sentido, profundas, como profundezas reveladoras da verdade teológica. Elas dificilmente são didáticas em um sentido moral, imprimindo ao homem seu dever. Elas não são tanto uma revelação da verdade quanto uma pergunta a Jó se ele conhece as verdades que estão ao seu redor na vasta criação de Deus. É isso que torna essas palavras de Jeová tão maravilhosas. Ele fala, não “numa língua que nenhum homem pode entender”, mas na linguagem da natureza, sobre a Terra, o céu, as nuvens e a chuva, e os animais e pássaros.
Pois a própria criação é, diríamos reverentemente, uma humilhação divina. Ela nos lembra d’Aquele que, “sendo em forma de Deus”, esvaziou-Se de Sua glória e tomou a forma de um Servo, sendo feito à semelhança dos homens. A criação é a “treliça” (JND) atrás da qual o Amado Se esconde (Cantares 2:9). E ainda assim Ele Se revela assim à fé. As faixas de panos (ou envolvedouro – Jó 38:9) do mar são apenas uma figura daquelas faixas de panos que Aquele que fez todas as coisas tomou sobre Si, quando Se tornou carne (Lc 2:7). O universo inteiro, imenso e ilimitado, forma as vestes do Deus infinito, que assim Se revela.
Ele nos encoraja a crer que Ele está Se aproximando de nós, que a mensagem que Ele tem a dar é de misericórdia. A mensagem da natureza e Sua Palavra testa e humilha o homem. Jó, que se gloriava em sua retidão, que parecia considerar seu conhecimento todo-suficiente, é obrigado a reconhecer sua ignorância, sua fraqueza e sua injustiça. Isso é divinamente feito, e feito de forma tão eficaz que a lição traz Jó ao seu verdadeiro lugar para sempre.
Julgando Deus
Jó presumiu assentar-se em julgamento sobre Jeová e Seus caminhos; sua competência para isso é testada: O que ele sabe? O que ele pode fazer? Deve a criatura – tão insignificante em poder, tão ignorante e, além disso, tão cheia de orgulho vão – presumir instruir Deus quanto a Seus deveres, apontar a Ele Suas falhas, de fato usurpar Suas prerrogativas? O efeito sobre Jó é visto em suas duas respostas. Na primeira resposta às perguntas de Deus, ele se humilha e coloca a mão sobre a boca. Na segunda, ele faz uma confissão completa de seu orgulho pecaminoso e abomina a si mesmo, preparando assim o caminho para a recuperação externa e restauração da prosperidade.
Podemos dizer que a segunda parte do discurso do Senhor é dedicada à humilhação do orgulho de Jó, ao colocar diante dele as criaturas nas quais esse orgulho é exibido, de forma figurada. O propósito divino pode ser visto por toda parte, e os efeitos são os mais abençoados e completos.
Jeová pergunta: “Quem é este que escurece o conselho”, que esconde os propósitos de Deus e a verdade, “com palavras sem conhecimento?” Jó havia derramado uma enxurrada de palavras – lamentações, protestos, acusações. Havia muita coisa que era verdadeira e excelente, mas tudo estava viciado, no que diz respeito aos propósitos de Deus, pela exaltação de sua própria justiça à custa da de Jeová. Ele conduz Jó através das vastas, e ainda assim familiares, cenas da criação. Será que ele pode resolver um de dez mil de seus enigmas? Ele pode desvendar os segredos ocultos da natureza? Se não, por que ele tenta declarar os conselhos de Deus e se intromete nos propósitos de Alguém que não dá conta de nenhum de Seus assuntos; de Quem o apóstolo adorador declara: “Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33).
A ciência tem muito a nos dizer que pode muito bem nos encher de admiração e espanto, e de reverência e adoração – de QUEM? Quanto mais conhecemos apenas de Suas manifestações, menos realmente conhecemos d’Ele mesmo, exceto quando Ele Se faz conhecido em Cristo. Ele não nos deu para mudar a ordem da natureza, ou ascender àqueles céus, mas Ele nos ensina a dar a verdadeira resposta às Suas perguntas, e essa resposta é: “vemos... Jesus” (Hb 2:9).
Assim, Jeová encerra Seu primeiro teste de Jó. Ele tomou, por assim dizer, o barro da Criação e o colocou sobre os olhos do pobre sofredor, que havia sido cegado por suas próprias tristezas para todo o poder, sabedoria e bondade de Deus. Será que Jó irá se lavar “no tanque de Siloé”?
O arrependimento de Jó
Ele se curvará ao teste de seu Criador? “Aquele que contende com o Todo-Poderoso O instruirá? Aquele que repreende Deus, que ele responda” (JND). Aqui está a raiz do problema de Jó: Ele havia se assentado para julgar Deus; ele havia acusado o Onipotente de mal. Deus Se aproximou, fez Sua presença ser sentida e levantou o véu da face da natureza para revelar parte de Seu caráter. Qual é o efeito sobre o homem orgulhoso?
“Eis que sou vil; que Te responderia eu?
A minha mão ponho na minha boca”.
Muitas palavras Jó havia proferido: no início de seus sofrimentos, palavras de fé em Deus. Mesmo durante seu “choro na noite”, muitos pensamentos belos e nobres haviam saído de seus lábios, mas nenhuma palavra como essas – música no ouvido de Deus – confissão, contrição, reconhecimento calado de todo o erro de seu pensamento.
Aqui praticamente encerra o teste de Jó, e ainda assim, em fidelidade, Jeová sondará ainda mais os recessos mais profundos de seu coração e exporá seu potencial mal. Então, devemos ouvir mais o que o Senhor tem a falar. Em Seu segundo discurso, o Senhor aprofunda a obra que já está ocorrendo no coração de Jó. No primeiro, Jó é silenciado e convencido pela majestade, poder e sabedoria de Deus. Tal Ser, cujas perfeições são exibidas em Suas obras, não pode ser arbitrário e injusto em Seus tratamentos com o homem. O grande efeito de Seu primeiro discurso sobre Jó parece ser que Jeová Se tornou uma realidade para ele.
No segundo discurso, essas impressões são aprofundadas. Deus não deixará Seu servo com sua lição aprendida pela metade: Ele ara mais profundamente em seu coração até que as profundezas ocultas do orgulho sejam alcançadas e julgadas. O segundo discurso, portanto, se detém nesse orgulho tão comum à criatura. Ele convida Jó, por assim dizer, a ver se ele pode humilhar os orgulhosos e trazê-los para baixo. A implicação manifesta é que o próprio Jó está nessa classe.
No entanto, no chamado, “Cinge agora os teus lombos como varão”, temos encorajamento e também repreensão. Deus não está esmagando Seu pobre e tolo servo, mas apelando à sua razão e também à sua consciência. Jó já aprendeu, como de fato conheceu em medida, o poder, a sabedoria e a bondade de Deus. Mas o apelo presente é particularmente à sua consciência. Ele anulará, negará o julgamento justo de Deus e condenará Deus para que possa estabelecer uma mesquinha justiça humana? Isso é realmente o que estava no fundo das queixas de Jó; ele estava sofrendo aflição que não merecia; ele, um homem justo, estava sendo tratado como se fosse injusto. A conclusão então era inevitável – Aquele que o estava afligindo era injusto! Eliú já havia pressionado Jó com essas terríveis consequências de seus pensamentos: “Sou justo, e Deus tirou o meu direito” (cap. 34:5). “Achas que é justo dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus?” (cap. 35:2 – ARA). O Senhor queria enfatizar a Jó a repugnância desse pecado.
Ele presumiu julgar Deus – com base em que fundamentos? Ele tem poder e majestade divinos? Ele pode falar com uma voz de trovão? Ele pode reprimir a rebelião orgulhosa de todo malfeitor e trazer os homens ao pó diante dele? Ele fez isso com seu próprio coração orgulhoso e rebelde? Ele humilhou até mesmo seus amigos? Quanto menos o mundo inteiro.
É cruel da parte de Jeová tratar assim com uma pobre criatura de coração partido? Em vez disso, perguntemos: teria sido gentileza deixá-lo segurando seu orgulho sobre si como uma vestimenta e afrontando o Todo-Poderoso? Somente assim o orgulho pode ser humilhado, sendo levado face a face com a sua nulidade na presença da majestade e da bondade ilimitada de Deus. Até que Jó tenha aprendido isso, e aprendido completamente, todas as dispensações de Deus com ele em suas aflições, e os raciocínios de seus amigos e de Eliú, são em vão, e piores.
Somos levados assim a ouvir a aplicação por Jeová da lição da força e orgulho da criatura, como exibido e tipificado no beemote e no leviatã. E ainda assim ele é apenas uma criatura, dotada por Deus, para Seus propósitos Todo-Sábios, com força sobre-humana. Que possa Jó, e todos os que são tentados a confiar em sua própria força, seja do corpo, como aqui, ou do coração e da mente, considerem esta criatura, autossuficiente e indomável. Quão insignificante seu próprio braço parecerá. A justiça própria, o egoísmo, o orgulho de conduta ou de caráter, nega sua necessidade de Cristo e de Deus. Tal é o pecado na carne – incorrigível e repulsivo. Quem pode subjugá-lo ou mudar sua natureza?
Jó responde às palavras penetrantes e humilhantes de Jeová. Ele repete primeiro sua confissão de forma completa. Ele reconhece a onipotência de Deus e que Ele não pode ser frustrado em Seus propósitos, que demonstram Seu poder, sabedoria e bondade tão completamente quanto Suas obras. Há uma rendição completa e reversão de tudo o que ele havia dito anteriormente contra Deus. Citando as próprias palavras de Jeová, ele se pergunta: Quem é aquele que escurece o conselho? Quem ousa lançar uma sombra sobre o Todo-Poderoso? “Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir” (Sl 139:6).
“Agora Te veem os meus olhos”
Aplicando as palavras de Jeová a si mesmo, Jó se pergunta: “Quem é aquele?” “Escuta-me, pois, e eu falarei”. É como se ele se curvasse envilecido a essas perguntas, repetindo-as e dando sua resposta ao seu Questionador divino. E que resposta é esta! A única resposta que o orgulho humano pode dar a Deus: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi” – Jó tinha sido instruído corretamente de uma maneira geral, mas ele só tinha aprendido sobre Deus – “mas agora tem veem os meus olhos” – ele havia sido trazido face a face com Deus, não de fato visualmente, embora houvesse a glória terrível no céu, mas ele tinha tido uma percepção de Deus em sua alma pela razão iluminada que ele deu, e principalmente pela consciência. Deus tinha Se aproximado, Se aproximado pessoalmente, e Jó estava consciente daquela santidade inefável, bem como poder, que pertencem a Ele. Anteriormente ele tinha estado na presença do homem, e ele poderia mais do que se manter com o melhor deles. Na presença de Deus, nenhuma criatura pode se vangloriar, e Jó estava finalmente naquela gloriosa e santa Presença. Todos os “trapos de imundícia” de uma justiça pessoal imaginária caíram dele, e ele se levantou em todo o horror nu do orgulho e da rebelião contra Deus. Quem pode duvidar que o arrependimento de Jó vá além do mero julgamento de suas palavras; ele julgou a si mesmo – “me abomino”.
Estas são as palavras pelas quais podemos dizer que o Senhor há muito tempo estava esperando ouvir. O propósito de Deus era produzir justamente esta confissão. E por quê? Para humilhá-lo? Não, mas para dar-lhe a verdadeira glória – para privilegiá-lo, desde o pó, para que contemplasse a glória do Senhor e nunca mais tivesse uma nuvem sobre sua alma! A experiência valeu a pena? Só há uma resposta. Que todos nós a possamos dar.
Esta foi a controvérsia que, para Jó, se encerrou de forma tão feliz. Dirigindo-Se a Elifaz , como o líder dos três, Jeová declara Sua ira contra todos eles, porque eles não tinham falado d’Ele o que era reto, como Seu servo Jó tinha falado. Ainda que toda a contenda deles tenha sido aparentemente pela justiça de Deus! Pelo menos aparentemente. Mas Deus não aceita honra em detrimento da verdade. É Sua glória que todos os Seus atributos se misturem em uma luz harmoniosa. Ele pode então aceitar uma vindicação de Seu caráter e caminhos que é baseada em uma acusação falsa? “Como o meu servo Jó”. Quando Jó tinha falado assim? Certamente não quando Jó derramava amargas acusações contra Deus.
Isso é falar de Jeová “o que é reto”; é tomar e manter o lugar da criatura pecadora que não consegue entender o menor desses caminhos perfeitos – caminhos que são retos quando parecem os mais errados. É a declaração de que Deus é Deus – Jeová, o AutoExistente, Perfeito; o mais Sábio e Justo e Bom, bem como o mais Poderoso; Justo e Santo em todos os Seus caminhos, quaisquer que sejam.
“Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso”.
S. Ridout (extraído e adaptado)
Tranquilidade
“Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti” (Is 26:3).
A mão que colocou as estrelas no espaço
Segura firme minha mão; Minha vida é moldada por Aquele
Que moldou a Terra.
A mente que planejou a marcha dos sóis.
Pode entender as pequenas provações do meu dia , e certamente
Aquele que escavou a taça que contém os poderosos mares
E mantém as ondas sob controle, pode dar tranquilidade.
Em minhas pequenas tempestades, Aquele que mantém no lugar
A Via Láctea me guardará a cada dia, e por Sua graça
Apresentar-me-á em breve, pela obra do Calvário,
Diante de Sua face.
Autor desconhecido
“Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora Te veem os meus olhos. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza”
Jó 42:5-6
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