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Governo e Cristianismo (Novembro de 2007)

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Revista mensal publicada originalmente em novembro/2007 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          Tema da edição

          W. Kelly

          P. Wilson, adaptado de Christian Truth, 6:26-28

          E. Dennett, adaptado de Doze Cartas

          P. Wilson, de Christian Truth, 23:253-254

          T. B. Baines (adaptado)

          W. J. Prost

          P. Wilson, adaptado de Christian Truth, 9:164-168

          J. G. Deck, Hinário The Little Flock - hino 28

 

Governo e Cristianismo 


A maioria de nós vive no país em que nascemos e, em virtude do nosso nascimento, somos cidadãos desse país. Mas todos nós que nascemos de novo (nascemos de cima) somos agora “cidadãos” do nosso novo país de nascimento – “céu”.

 

Nosso Senhor, por meio de Quem recebemos nossa nova vida e cidadania, nos mostra como ser pessoas celestiais que vivem na Terra onde os homens têm poder e governo. Quando em julgamento, nosso Senhor Se submeteu ao juiz, como tendo autoridade governamental dada a ele por Deus. Nós devemos segui-Lo, estando sujeitos ao governo, “porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1). Nosso Senhor não tentou mudar o governo ou ser um governante entre os homens nos assuntos do governo. Nós devemos segui-Lo nisto também.

 

O Senhor vivia em um país cujo governo havia sido derrubado pela força por outro país. Não importava “porque não há autoridade que não venha de Deus”. Estar sujeito ao governo é estar sujeito a Deus.

 

A vontade de Deus para nós em questões de governo não muda em função do país em que vivemos. Como cidadãos celestiais devemos representar o Senhor Jesus segundo as mesmas instruções, quer tenhamos nascido e vivido em Cuba, no Iraque, em Israel, no Canadá, nos EUA ou em qualquer outro país.

 

Tema da edição

 

As Autoridades que Foram Ordenadas

 

“Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1).

 

O governo humano, tem sido dito corretamente, encontra sua raiz na autoridade que Deus conferiu a Noé. Não havia tal coisa, propriamente falando, na Terra antediluviana. Adão tinha o mais extenso domínio, mas nenhum poder sobre a vida. “E disse Deus: Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a Terra, e sobre todo réptil que se move sobre a Terra. E criou Deus o homem” (Gn 1:26-27). Não havia autoridade delegada sobre o homem, nem mesmo de tirar a vida do menor animal. Por isso, mesmo o homicídio de um irmão não dava lugar à vingança pelo homem, embora a consciência temesse o golpe retributivo de todas as mãos. “A voz do sangue do teu irmão clama a Mim desde a terra”, disse o Senhor ao culpado Caim, e Ele pôs nele uma marca, para que não matassem o fugitivo. Então se seguiu um longo reinado de gigantesca perversidade e desenfreada impiedade. Finalmente um pregador da justiça foi levantado que os advertiu pelo espaço de 120 anos, antes que Deus varresse a corrupção e a violência da raça nas águas do dilúvio.

 

A comissão de Noé 

Depois dessa catástrofe, uma nova comissão se inicia. Noé e seus filhos têm a responsabilidade Adâmica confirmada, mas eles têm muito mais. Toda coisa que se move, mesmo a erva verde, deve servir de alimento para eles, com exceção do sangue. “E certamente requererei o vosso sangue, o sangue da vossa vida; da mão de todo animal o requererei, como também da mão do homem e da mão do irmão de cada um requererei a vida do homem. Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a Sua imagem. Mas vós, frutificai e multiplicai-vos” (Gn 9:5-7). Evidentemente, o mundo foi então colocado sob novas condições, as quais, em sua essência, continuam e devem subsistir até que um novo e futuro trato de Deus mude a face de todas as coisas, como pode ser extraído de 2 Pedro e outras Escrituras.

 

O princípio, então, do mandamento divino para Noé e seus filhos permanece verdadeiro e obrigatório até o dia do Senhor. Agora qual é sua principal característica? Claramente, é a entrega da espada de Deus, ou o poder da vida e da morte, nas mãos do homem. “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado”. Essa é a verdadeira fonte e base do governo civil. Isso não surgiu de acordos sociais. Não se desenvolveu gradualmente a partir das relações familiares. Não se originou na usurpação do homem ou de uma classe. Assim como o mandamento de Deus deu-lhe existência, assim nunca poderá deixar de estar revestido de Sua autoridade, quer os homens ouçam ou deixem de ouvir. Se houver alguma parte da ordenação que mais se destaque, é a da responsabilidade do homem derramar o sangue daquele que derrama o sangue do homem. Tal é a exigência de Deus, baseada no fato de que Ele fez o homem à Sua imagem. Mas embora a razão para isso possa se aplicar desde Adão em diante, tal poder não foi delegado até Noé. A noção, portanto, de isso ser, em qualquer espécie ou grau, um direito inerente ao homem, é assim descartada. É um direito de Deus, o qual Ele, desde o dilúvio, Se agradou em confiar à guarda humana, que aqueles em autoridade estão obrigados a executar, em sujeição a Ele, e pelo exercício do qual irão, no futuro, dar conta de si mesmos (Sl 82).

 

É fácil dizer que Deus retirou ou anulou a comissão dada a Noé e seus descendentes. Mas eu pergunto onde? Quando? Como? E espere em vão a sombra de uma prova.

 

A promessa a Abraão 

Sem dúvida, Deus revelou outros pensamentos e esperanças para a fé de Abraão e de sua semente. Com os pais ele entrou em um novo relacionamento – um concerto de graça e promessa, como provado por Romanos 4 e Gálatas 3 – que não é contrário ao concerto anterior assinado, selado e entregue, se assim posso dizer, a Noé e a seus filhos. Este era um concerto entre Deus e a Terra como um todo; aquele era um concerto especial entre Deus e Seu próprio povo. Por um concerto, a maldade do mundo foi mantida sob controle, pelo outro, os patriarcas peregrinos caminhavam como estrangeiros em uma terra prometida a eles e sua semente como uma possessão eterna. O primeiro concerto ameaçou a violência humana, quando necessário, com a morte, este último liderou os homens que abraçaram suas esperanças, peregrinos na Terra, sob a direção de um Amigo conhecido e Todo-Poderoso. O governo da Terra se estendia em sua própria esfera, abrangendo todas as famílias da Terra. O chamado de Abraão e sua semente tinha seu domínio próprio e peculiar. Entre esses concertos não havia confusão, muito menos contradição.

 

O governo e o chamado de Deus unidos 

É verdade que, depois da libertação de Israel do Egito, o princípio de governo, primeiro delegado a Noé, e o do chamado de Deus, primeiro manifestado a Abraão, foram vistos juntos. Nesse povo escolhido, separado dos gentios como Sua testemunha, Deus desenvolveu Seus caminhos como um Governante. Mas, infelizmente, no Sinai, em vez de eles confessarem seu pecado e implorarem as promessas absolutas feitas aos pais, eles aceitaram as condições de sua própria obediência. O resultado foi a ruína sob toda a variedade de circunstâncias: a lei quebrada antes de ser trazida do monte, o próprio Deus rejeitado, o fracasso sob os sacerdotes, sob os profetas, sob os reis, até que “mais nenhum remédio houve”, e Deus por fim lhes deu nas mãos de seus inimigos. Durante sua existência nacional em Canaã, ninguém pôde fingir que Deus livrou Israel da responsabilidade de punir com a morte.

 

Governo terreno dado aos gentios 

No cativeiro babilônico, Deus separou o princípio do governo terrenal do de Seu chamado, transferindo o primeiro aos gentios. Os quatro grandes impérios apareceram em sucessão, como Daniel e outros escritores inspirados previram e atestaram. O último, o império romano, dominava, como é bem conhecido, quando nosso Senhor nasceu e morreu, e Deus começou a chamar Sua Igreja, escolhida dentre judeus e gentios, como um só corpo aqui embaixo.

 

A assembleia e o governo 

Porém, em Atos dos Apóstolos e no resto do Novo Testamento, é claro e certo que a Igreja não interferia de maneira alguma no governo terrenal, o qual Deus havia colocado nas mãos dos magistrados. Eles tinham, sem dúvida, que ouvir e suportar o opróbrio de que eles tinham “alvoroçado o mundo” e de “procedem contra os decretos de César”, mas isso era falso. O reino de Cristo não é deste mundo. Eles sabiam disso, eles o tinham, e eles não queriam outro. Eles se lembravam de Suas palavras brilhantes sobre eles:' Eles “não são do mundo, como Eu do mundo não sou”, e eles O esperavam do céu, certos de que aqueles que com Ele sofrem também reinarão com Ele. Como eles nunca resistiam às autoridades pela força, então eles procuravam em seus ensinamentos apoiar, e não enfraquecer, o justo lugar que Deus delegou a eles desde a antiguidade. Assim, o apóstolo Paulo escreveu aos crentes que moravam na cidade imperial: “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal. Portanto, é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência” (Rm 13:1-5).

 

O imperador reinante era um pagão e um perseguidor, mas claramente essa não era a questão. A linguagem do Espírito é moldada de modo a excluir as discussões fundadas tanto na profissão quanto na prática do governante. “Porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus”. O que pode ser concebido mais definido por um lado, e mais abrangente por outro? O que mais se opõe ao movimento revolucionário? Os judeus eram então considerados pelos governos dominantes como turbulentos e os Cristãos como detestáveis ao extremo. Parece provável que alguns em Roma, de antigas associações judaicas, achassem difícil reconhecer e respeitar, como sendo de Deus, aqueles governantes que eles viam afundados nas degradações espirituais e morais do paganismo. Sob tais circunstâncias, alguém poderia ter suposto a priori que Deus poderia ter revogado a concessão de poder dos gentios que a empunhava, já que Ele não transferiu esse poder para a Igreja. Mas não! A porta está fechada contra todas as desculpas. “As autoridades que há foram ordenadas por Deus”.

 

W. Kelly

 

Os Ministros de Deus Para Nós

 

“Não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Que cena terrível seria este mundo se não houvesse governos!) Embora o Cristão devesse estar separado da política, ele pode agradecer a Deus por aqueles que Ele ordena – ministros de Deus para o nosso bem (Rm 13:4).

 

Nós alertaríamos os companheiros de fé em relação a um hábito predominante no mundo de falar mal dos governantes. Isso não nos convém; pelo contrário, devemos prestar “honra a quem honra”. Embora não tenhamos nada a ver com o estabelecimento de governantes, devemos ser os mais respeitosos dentre todas as pessoas para com eles.

 

O lugar de oração 

Outro privilégio que temos é orar por eles; De fato, somos exortados a fazer “deprecações, orações, intercessões e ações de graças... por todos os que estão em eminência [autoridade – ARA](1 Tm 2:1-2). Quem pode medir o efeito sobre a tranquilidade de qualquer nação que as intercessões de separados e devotados santos de Deus causam! Não é ajudando a escolher governantes, nem nos misturando na política, que essa influência é efetuada. Considere Ló em Sodoma, por exemplo; ele estava bem no meio de sua política e não era de nenhuma ajuda, enquanto seu tio piedoso Abraão, que estava separado dela, poderia fazer intercessão em nome daquela cidade perversa. Deus ouviu a intercessão de Abraão, mas a impiedade do lugar tinha ido longe demais para que o julgamento fosse retido. Ló não percebeu a iminência do julgamento, nem foi apto a interceder pela cidade. Suas associações políticas cegaram seus olhos. Seus contatos morais cegaram sua alma e arruinaram sua família.

 

A história do mundo registra o fato de que, quando os Cristãos perderam de vista sua vocação celestial e procuraram ajudar a alcançar certos objetivos políticos ou tentaram obter o favor e o apoio dos “poderes constituídos”, eles o fizeram para o seu próprio prejuízo. Não é bom se apoiar em “um braço de carne”; antes, “É melhor confiar no SENHOR do que confiar nos príncipes” (Sl 118:9).

 

Tomando partido 

Por mais terrível e ímpio que seja o comunismo ateu, é de se temer que em muitos lugares onde os comunistas ganharam o controle, os Cristãos sofreram justamente por terem tomado partido contra eles e procurado por meios políticos impedir que os comunistas chegassem ao poder. Dessa forma, os Cristãos, que deveriam ter mantido sua separação, se tornaram identificados com forças políticas. Então, quando a nova autoridade foi criada, eles foram tratados como inimigos políticos. Os comentários inflamados contra o comunismo por parte de alguns líderes Cristãos neste país talvez tenham contribuído para a gravidade da perseguição contra os Cristãos em tais lugares. Satanás tem sido muito bem-sucedido em seduzir os Cristãos a esquecer o seu caráter de estrangeiro terrenal e sua cidadania celestial e a fazer com que eles procurem adaptar o Cristianismo aos caminhos e objetivos do mundo. Há pouca ou nenhuma censura por esse tipo comprometedor de Cristianismo no mundo. O deus deste mundo facilmente faz uso dele para seus próprios fins. O Cristianismo se tornou integrado com a política mundial, reformas e avanços de todos os tipos.

 

Estrangeiros e peregrinos 

De certa forma, deveríamos ser mais parecidos com os cativos judeus na Babilônia. Eles foram tirados de suas próprias terras e eram estrangeiros (não peregrinos numa jornada para casa, como nós somos) em uma terra estrangeira, mas foram informados por Deus por meio de Jeremias: “procurai a paz da cidade para onde vos fiz transportar; e orai por ela ao SENHOR, porque, na sua paz, vós tereis paz” (Jr 29:7). Eles não deviam estar empenhados em consertar as coisas na terra de seu cativeiro, mas podiam e deveriam recorrer à oração em favor daquele lugar, não no espírito de buscar sua grandeza, mas para que desfrutassem da paz. No mesmo espírito, devemos orar pelos que estão em autoridade, “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1 Tm 2:2).

 

Não nos esqueçamos de que somos “peregrinos e forasteiros” neste mundo. Nossa cidadania está no céu (Fp 3:20); nosso chamado é para o céu (Hb 3:1); nossa esperança está no céu (Cl 1:5). No entanto, apesar de tudo isso, os Cristãos que agem de acordo e fazem intercessão por aqueles que estão em autoridade são o maior poder para o bem em qualquer terra.

 

P. Wilson, adaptado de Christian Truth, 6:26-28

 

Nosso Lugar na Terra


Nota do Editor: Para entender nossa presente identificação com Cristo é necessário entender nossa presente posição com relação ao governo.

 

Nosso lugar aqui na Terra está conectado com Cristo. Apenas, de fato, à medida que nos identificamos com Cristo diante de Deus quanto à posição, também somos identificados com Cristo diante do mundo. Em outras palavras, somos colocados em Seu lugar aqui, assim como estamos n'Ele diante de Deus, e tenho certeza de que seria muito útil a todos nós ter essa verdade continuamente diante de nossa alma.

 

O Senhor Jesus, falando aos judeus, disse: “Vós sois de baixo, Eu Sou de cima; vós sois deste mundo, Eu não Sou deste mundo” (Jo 8:23). Posteriormente, ao apresentar os Seus ante o Pai, Ele disse: “Não são do mundo, como Eu do mundo não sou” (Jo 17:16). Você verá que, do versículo 14 ao 19, Ele essencialmente coloca Seus discípulos em Seu próprio lugar no mundo, assim como do versículo 6 ao 13 Ele os coloca em Seu lugar diante do Pai. E eles têm o Seu lugar no mundo, note isso, porque eles não são daqui, assim como Ele não era do mundo, por ter nascido de novo eles não são mais do mundo. Por isso, ele fala continuamente de ter que encontrar o mesmo ódio e a mesma perseguição que caiu sobre Ele. Assim, para citar um exemplo, Ele diz: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que vos disse: não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardarem a Minha palavra, também guardarão a vossa” (Jo 15:18-20). O apóstolo João, da mesma forma, indica o contraste entre os crentes e o mundo, quando ele diz: “Sabemos que somos de Deus e que todo o mundo está no maligno” (1 Jo 5:19).

 

Cada crente é considerado por Deus como tendo morrido e ressuscitado juntamente com Cristo (Rm 6; Cl 3:13). Ele foi trazido assim, pela morte e ressurreição de Cristo, como completamente, na visão de Deus, fora do mundo assim como Israel foi trazido do Egito através do Mar Vermelho. Daí ele não é mais do mundo, embora ele seja enviado de volta para ele (Jo 17:18) para ser por Cristo no meio dele. Paulo, portanto, pôde dizer, enquanto ativo no serviço para Cristo no mundo, “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo” (Gl 6:14). Pela cruz de Cristo ele viu que o mundo já havia sido julgado (Jo 12:31), e pela aplicação da cruz a si mesmo ele se considerava morto – crucificado para o mundo – assim havia separação entre os dois tão completa como somente a morte poderia fazer.

 

                                                                                   E. Dennett, adaptado de Doze Cartas

 

 

O Cristão e a Política


Quando as campanhas políticas esquentam e o mundo é assediado por reivindicações e contrarreivindicações, os Cristãos conscientes de seu chamado celestial podem continuar serenos, sabendo que os homens estão meramente trabalhando “para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” (At 4:28). Mesmo que Satanás seja o deus e o príncipe deste mundo e esteja cegando as mentes daqueles que não creem, Deus ainda é Supremo e está Se movendo nos bastidores para desenvolver Seus próprios propósitos e conselhos. Estes podem não ser o que os homens acham que são os melhores, mas devemos lembrar que este mundo, como é agora, não está caminhando para um futuro brilhante, mas para certos problemas, os quais nunca terão sido conhecidos antes. É culpado de expulsar o Filho de Deus e não se arrependeu de seu feito. Os juízos justos de Deus pairam sobre ele, prontos para começar a cair quando os Cristãos verdadeiros forem removidos.

 

Que erro é para os Cristãos pensarem que podem melhorar essa cena condenada por meios políticos. Quando o próprio Senhor esteva aqui, Ele não tentou melhorá-lo. Ele Se recusou a ser juiz entre dois irmãos, para remover um iníquo Herodes ou para impedir um perverso Pilatos. Ele deixou este mundo como Ele achou, exceto que quando Ele o deixou, o mundo era culpado de tê-Lo rejeitado. Podemos supor que devemos fazer o que o Senhor não fez? Os pensamentos de Deus sobre o mundo mudaram? Ele enviou Seu Filho ao mundo para testificar por Ele e, da mesma maneira, o Filho nos enviou ao mundo.

 

O exemplo de Cristo 

Quão completamente diferente de Cristo seria para um Cristão ajudar a escolher ou exercer o poder político. Cristo é o Herdeiro deste mundo e somos co-herdeiros com Ele. Devemos nós, os co-herdeiros, ter um lugar aqui antes de o Herdeiro ter Seu lugar? Somos apenas seguidores do Rejeitado, esperando pelo momento em que Ele nos levará para casa. Nossa posição é muito semelhante à dos israelitas que foram protegidos pelo sangue do cordeiro em um Egito sob sentença divina, enquanto eles mesmos aguardavam a ordem de partir. Quão incongruente teria sido para aqueles israelitas serem envolvidos na política egípcia ou tentarem ajudar a melhorar aquela terra condenada!

 

O Cristão é obrigado a respeitar todos os que estão em autoridade e a tratá-los como estabelecidos por Deus, mas ao mesmo tempo ele deve passar como um estrangeiro e um peregrino. Seu lar está em outro lugar, ele está apenas de passagem. Ele está aqui para representar Aquele que está no céu – para manifestar Cristo e Seus caminhos, que sempre foram cheios de graça e verdade. Seria tão fora do lugar para um Cristão se misturar na política terrestre quanto para o embaixador britânico em Washington se envolver na política americana.

 

Um escritor traduziu Filipenses 3:20 assim: “Nossa política está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”. Quão reconfortante! Que encorajador! A sensação disso deve nos libertar de toda participação, e até de toda ansiedade em qualquer agitação política, independentemente de como ou onde. Em breve ouviremos aquele alarido e nos encontraremos com nosso Senhor nos ares. Que sejamos encontrados nos alimentando em Cristo o “cordeiro assado” que sofreu o julgamento por nós, e por cujo precioso sangue fomos abrigados, enquanto estamos cingidos (sapatos nos pés e cajado na mão), prontos para partir (Veja Êxodo 12:8-12).

 

                                                                                   P. Wilson, de Christian Truth, 23:253-254

 

Um Cristão no Poder Político 


É significativo que, enquanto as Escrituras do Novo Testamento dão orientações amplas para o comportamento do marido para com a esposa e da esposa para com o marido, dos filhos para com os pais e dos pais para com os filhos, do servo para com o senhor e do senhor para com o servo, e enquanto elas também estabelecem a conduta propriamente dita de alguém sujeito para com os poderes constituídos, elas não dão instruções sobre a maneira de se portar em um cargo de confiança na política.

 

Um Cristão sob autoridade tem amplas orientações sobre como agir. Um Cristão que exerce poder governamental não tem orientação alguma. Por que essa omissão? O caráter dos crentes como “não sendo do mundo”, como associados a Cristo em Sua “paciência” e como co-herdeiros com Aquele que Deus ainda não colocou na posse da herança explica completamente a omissão.

 

Andando fazendo o bem 

Mas Jesus, alguém pode perguntar, não “andou por toda a parte, fazendo o bem” (TB)? E não pode a posse de poder político e ocupação com melhor governo ser o meio de fazer um grande bem? Isso, no entanto, é o raciocínio do homem. Visto amplamente, à luz da verdade de Deus, um Cristão não pode fazer o bem pela ação política, pois o fim para o qual tudo está operando é o justo julgamento de Deus.

 

O que a Palavra nos ensina? Ela nos diz que Jesus fez o bem e também nos diz que os crentes são colocados aqui pelo mesmo objetivo para o qual Ele esteve aqui: “Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo” (Jo 17:18). Como então Jesus fez o bem? Foi pelo exercício do poder político? Foi por combinações e sociedades mundanas? Foi buscando apoio popular? Embora tivesse o direito de governar e pudesse governar com justiça, Ele Se recusou absolutamente a receber poder. Sendo o poder oferecido pelo diabo, Ele imediatamente detectou e denunciou o enganador. Quando solicitado a tomar o lugar de um Árbitro, Ele respondeu: “Homem, quem Me pôs a Mim por Juiz ou Repartidor entre vós?” (Lc 12:14). Percebendo que o povo “haviam de vir arrebatá-Lo, para o fazerem Rei, tornou a retirar-Se, Ele só, para o monte” (Jo 6:15).

 

Em particular, ninguém jamais trabalhou como Ele para fazer o bem, mas o tempo para a bênção pública e governamental para a Terra ainda não havia chegado. O cetro ainda não havia sido colocado em Suas mãos pelo Único que tinha o direito de concedê-lo, e não o receberia de nenhum outro. Se tomado agora, deveria ser tomado ou do “deus deste mundo” ou do homem, e de nenhum destes Ele aceitaria o cetro. E de que maneira as coisas são diferentes agora? O Cristão pode receber o poder das mãos das quais Cristo recusou? Deus o dará aos coerdeiros enquanto Ele ainda está retendo o poder d’Aquele que Ele fez Herdeiro de todas as coisas?

 

T. B. Baines (adaptado) 

 

A Guerra e o Cristianismo


Na edição de março de 2005 da revista O Cristão, consideramos a reeleição de George W. Bush, incluindo algumas observações sobre as implicações de um cargo político Cristão. Agora, outra questão relacionada está surgindo nas notícias, a saber, como os soldados podem manter a fé sob o fogo da guerra. Enquanto a questão pode envolver principalmente os Estados Unidos no momento, a questão é relevante para qualquer indivíduo ou nação que se envolva na guerra hoje em dia.

 

O governo de Deus no Velho Testamento 

A controvérsia não é nova, pois a questão de Deus e da guerra tem sido debatida desde a queda do homem. No Velho Testamento, Deus estava reivindicando a Terra por meio do Seu povo escolhido Israel, e Ele os usou como Seu braço de poder contra outras nações. Isto foi particularmente verdadeiro em sua conquista da terra de Canaã, pois a “iniquidade dos amorreus” e a adoração de ídolos dos cananeus levaram o Senhor a expulsá-los e dar suas terras a Israel. Mais tarde, após o fracasso de Israel, Deus levantou os poderes dos gentios (Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma) como Seu governo na Terra. Os “tempos dos gentios” que foram introduzidos com Nabucodonosor e os babilônios continuam até hoje e não cessarão até a batalha do Armagedom.

 

Assim, vemos claramente que os governos que Deus instituiu no mundo depois do dilúvio estão aqui conosco hoje. Porque Deus os estabeleceu, Ele espera que eles desempenhem suas funções em Seu temor e Ele os tem como responsáveis pelo modo como eles o fazem. Infelizmente, a guerra tem sido um fator para milhares de anos na administração do homem neste mundo, e os governos têm continuamente usado conflitos armados para aumentar seu poder ou para proteger suas posições. Algumas nações, no entanto, foram à guerra especificamente para tentar corrigir o erro no mundo e libertar os outros da tirania de regimes injustos e opressivos.

 

Invocando o nome de Deus na guerra 

Uma vez que o homem é essencialmente um ser consciente diante de Deus, Deus tem sido frequentemente apelado e Seu nome invocado em favor das nações que estão em guerra. Muitas vezes, tanto no passado como no presente, falsos deuses ligados a falsas religiões foram procurados por ajuda, e algumas dessas ocasiões estão registradas na Palavra de Deus. Quando o verdadeiro Deus foi apelado no Velho Testamento, em uma causa da qual Ele aprovou, Seu povo de Israel podia contar com a vitória, para a Sua glória e a bênção final deles. Sem dúvida houve momentos em que apelos a falsos deuses estavam ligados à vitória, pois Deus está nos bastidores e “faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade” (Ef 1:11). Além disso, os apelos ao verdadeiro Deus às vezes estavam ligados à derrota porque o Seu povo estava se refugiando em uma posição exteriormente correta, mas sem a realidade interior. Embora permitisse a derrota em tais circunstâncias, Deus sempre vindicou Seu nome de outras maneiras, mesmo que Seu povo estivesse andando mal.

 

O pior do homem 

Em nossos dias, descobrimos que as guerras são frequentes, seja em grandes conflitos envolvendo muitas nações ou em combates menores envolvendo apenas algumas nações ou grupos étnicos. Em tais guerras, sejam elas grandes ou pequenas, muitas vezes as piores coisas da natureza pecaminosa do homem surgem, e são cometidas atrocidades que eles justificam pelo fim que é buscado. O nome de Deus é trazido à cena para justificar tudo isso, muitas vezes pelos dois lados, pois cada um vê a si mesmo como estando com a razão. Mesmo que as atrocidades não sejam conscientemente cometidas, ainda que o próprio ato de fazer a guerra, especialmente nestes dias de armas sofisticadas, resulte numa terrível carnificina que dificilmente pode ser imaginada por aqueles que não a experimentaram.

 

Envolvimento em corrigir as coisas 

Para os crentes que vivem em uma nação Cristã professa, a guerra provou ser um assunto difícil de enfrentar. Por um lado, quando vemos iniquidade e injustiça no mundo, é tentador querer nos envolver diretamente e acertar as coisas. Se isso envolve guerra e derramamento de sangue, podemos procurar justificá-lo com base no fato de que é necessário lidar com o mal para promover o bem. Isto é particularmente verdadeiro para as nações Cristãs, como a Grã-Bretanha no século XIX e os EUA hoje. Por outro lado, muitos crentes se perguntam como isso pode ser reconciliado com a mensagem de amor e graça de Deus nesta dispensação e com o mandamento do Senhor Jesus de “amar a vossos inimigos” (Mt 5:44).

 

Como sempre, encontramos a resposta na Palavra de Deus. É verdade que Deus estabeleceu o governo na Terra, pois não há outro modo de refrear os impulsos pecaminosos do homem caído. Por essa razão, Paulo nos lembra: “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores. Porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1). De acordo com isso, ele prossegue dizendo que “Porque ela [a autoridade] é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal” (Rm 13:4). O governo pelo homem continuará até que o Senhor Jesus venha e reine em justiça, e até então nenhum governo será perfeito, porque é administrado pelo homem caído. No entanto, o governo ainda é “o ministro de Deus”, e o crente é chamado a se submeter a ele, mesmo que, como Daniel lembrou a Nabucodonosor, às vezes Deus Se agrada em estabelecer no governo “o mais vil dos homens” (Dn 4:17).

 

O lugar do Cristão 

No entanto, as Escrituras são claras de que o Cristão não tem lugar no governo hoje, pois o Cristianismo e o governo não se misturam. Pela mesma razão, o crente, na verdade, não tem lugar na guerra também. Porque temos uma nova vida em nós que se deleita na justiça, somos constantemente sobrecarregados pela crescente onda do mal neste mundo e podemos ser tentados a querer endireitar as coisas. Fazer isso, porém, é ser como os coríntios, a quem Paulo teve que dizer: “Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós reinais!” (1 Co 4:8). Não é a hora de reinar ou consertar as coisas, pois nosso bendito Salvador foi rejeitado. Até que Ele tenha o Seu lugar de direito, nada estará certo neste mundo. Nós não devemos reinar antes do tempo.

 

Mais do que isso, ir à guerra e procurar “corrigir o erro” é comprometer nossa posição como cidadãos celestiais e estragar nosso testemunho do amor e da graça de Deus. Há quase 150 anos, um servo piedoso do Senhor estava atravessando o Atlântico em um navio da marinha britânica. Os marinheiros de alguma forma descobriram que ele não apoiava a posição de Cristãos indo para a guerra, e um dia um número deles o cercou no convés, querendo saber por quê. Naquela época, a Grã-Bretanha era reconhecida como um importante “policial” do mundo, um papel que passou em grande parte para os EUA hoje. Sua resposta foi excelente e na linguagem que eles entenderam. Ele disse: “Rapazes, eu acredito em um jogo justo. Suponha que eu vá para a guerra e encontre um incrédulo do lado inimigo. Nós atiramos um no outro: Ele me mata e eu mato ele. Ele me envia direto para o céu, enquanto eu o envio diretamente para o inferno. Rapazes, eu não chamo isso de jogo justo”. Pior ainda, quão sério é pensar que um crente indo para a guerra pode se encontrar lutando contra um outro companheiro crente de outra nação.

 

Embaixadores celestiais 

Se nós, como Cristãos, entendermos nosso chamado celestial e entendermos nosso papel aqui neste mundo como embaixadores, veremos prontamente que não temos lugar nos conflitos deste mundo. Nós seremos gratos por qualquer medida de lei e ordem que experimentamos, pois “A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos” (Pv 14:34). No entanto, não procuraremos nos identificar com nosso país de cidadania natural, seja em sua justiça ou pecado, mas nos veremos como os chamados para fora deste mundo e parte da Igreja que foi formada por todas as nações. Procuraremos promover os interesses de Cristo aqui em baixo, pregar Sua mensagem de amor e graça e esperar que o Senhor venha e nos leve para casa.

 

O dia do Senhor 

A Escritura nos diz que Deus tratará com o mal quando nosso Senhor voltar em poder e glória para tomar o Seu lugar de direito. O derramamento de sangue e a destruição daquele dia serão terríveis e, ao contrário de hoje, ninguém escapará. Relativo a esse tempo, lemos que “o lagar foi pisado fora da cidade, e saiu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, pelo espaço de mil e seiscentos estádios” (Ap 14:20). Além disso, lemos que o Senhor Jesus irá “ferir com ela as nações; e Ele as regerá com vara de ferro e Ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso” (Ap 19:15). Quando o julgamento estiver terminado, Deus irá inaugurar o Milênio, onde reinará a justiça. Naquele tempo, “não levantará espada nação contra nação, nem aprenderão mais a guerrear” (Is 2:4).

 

As armas de nossa guerra 

Mas não há guerra para o crente hoje? De fato, há. Paulo pôde dizer a Timóteo para “Militar a boa milícia da fé” (1 Tm 6:12), e ele também pôde dizer aos coríntios que “as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus” (2 Co 10:4). Então, em Efésios 6:11 nos é dito: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus”, a fim de realizar tanto a guerra defensiva quanto a ofensiva.

 

Em particular, Paulo nos diz para ter “calçados os pés na preparação do evangelho da paz” (Ef 6:15). Isso pode parecer uma contradição, pois um guerreiro não é normalmente um homem de paz. No entanto, a contradição é apenas na aparência. O Cristão mais gentil deve ser um guerreiro severo, e seu poder em conflito com o inimigo será proporcional ao seu poder como pacificador. A menos que ele seja um homem de paz, ele não pode ser um homem de guerra. O Cristão deve primeiro ser governado pela verdade – “tendo cingidos os vossos lombos com a verdade” (Ef 6:14) – e deve andar com integridade de coração. Isso resulta em consistência de conduta, e ele buscará a felicidade de outros, sejam pecadores ou santos. Então o crente, como um homem de paz, estará pronto para a guerra contra “as astutas ciladas do diabo”, contra “os príncipes das trevas deste século”, contra “as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:11-12). É esse tipo de guerra em que o crente deve se engajar hoje.

 

Podemos estar certos de que Deus julgará o mal, mas a nossa parte é ser uma testemunha de Cristo no meio do mal, como Ele foi durante o Seu ministério terrenal, enquanto aguardamos o Seu retorno.                   

 

W. J. Prost 

 

Governo na Terra

 

O governo foi instituído após o dilúvio quando Deus disse a Noé: “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado” (Gn 9:6). Esta não foi uma ideia que se originou com Noé, mas uma ordem divina, e por ela Deus colocou a espada do governo na Terra nas mãos do homem. Antes do dilúvio, não havia governo na Terra e o homem se tornou completamente rebelde; a corrupção e a violência encheram a cena (Gn 6:11).

 

A raça humana seguiu um curso descendente desde o dia em que Adão e Eva foram expulsos do Éden; isso culminou em um mundo de horrível corrupção moral e derramamento de sangue humano. Daí Deus interveio e limpou a Terra com o dilúvio, enquanto Ele preservou Noé e sua família vivos na arca. Por eles Deus deu ao homem um novo começo, e o governo moral da Terra passou a ser exercido sob decreto divino. Isso nunca foi revogado e “as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1).

 

O lugar do Cristão 

Enquanto a colocação do governo terrenal nas mãos do homem nunca foi revogada, é bastante notável que em nenhum lugar do Novo Testamento haja qualquer instrução de como o Cristão deve se comportar numa posição de autoridade. Nem uma única vez sequer o Cristão é exortado a como deve governar como Cristão. Certamente isso não é uma omissão. Por outro lado, o Cristão é exortado a como se comportar em relação àqueles que estão no lugar de autoridade. Ele deve se submeter a toda lei por amor do Senhor, para obedecer aos magistrados e estar sujeito aos poderes constituídos. Ele deve pagar seus impostos, não porque ele não possa evitar fazê-lo, mas pela consciência para com Deus. Ele deve reconhecer no administrador da lei o ministro de Deus para ele para o bem (1 Pe 2:13-14; Rm 13:16). Ele também deve orar por todos aqueles em autoridade (1 Tm 2:2). Devemos sempre, no entanto, ter em mente que nossa primeira fidelidade é a Deus e que, se o governo exigir que façamos aquilo que Sua Palavra nos proíbe – por exemplo, negar a Cristo – devemos obedecer a Deus e sofrer as consequências.

 

A hora de reinar 

Embora não exista nenhuma instrução no Novo Testamento como um Cristão deve governar agora, supõe um dia em que o Cristão reinará: “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós... Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?” (1 Co 6:23). É evidente nas Escrituras que Deus não pretendia que os Cristãos procurassem julgar o mundo, mas que fossem súditos obedientes às leis governamentais, apenas esperando o Senhor Jesus vir e levá-los para casa. Quando o apóstolo Paulo procurou corrigir a vida de lazer e condescendência com a qual os santos coríntios viviam, ele disse: “Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós reinais! E prouvera Deus reinásseis para que também nós reinemos convosco!” (1 Co 4:8). O dia para os Cristãos reinarem ainda não veio, porque se tivesse vindo, Paulo estaria reinando com eles. O Cristão que procura endireitar este mundo e se engajar na política não entendeu esta importante lição. Ele está tão fora de lugar quanto Ló quando se assentou como juiz no portão da cidade de Sodoma. Ló teve sua alma justa afligida “todos os dias”.

 

Judaísmo e Cristianismo 

É verdade que há Cristãos no lugar de autoridade que procuram agir retamente diante de Deus, mas sua conduta no exercício do poder, se governada por princípios da Escritura, deve ser feita com base no Velho Testamento e não no Novo Testamento. No último, o santo na Terra é visto como um estrangeiro e um peregrino, apenas passando pelo mundo. Quanto mais os Cristãos buscam um lugar no mundo onde possam exercer o poder, mais eles misturam o governo terrenal e o Judaísmo com o chamado celestial do Cristão, e então o caráter distintivo de cada um é perdido.

 

Não devemos deixar de discernir os sinais desses tempos, quando tudo indica a proximidade da vinda do Senhor. O mundo está sendo preparado para aquelas terríveis horas finais do dia do homem, mas nossa libertação aqui e nosso estar com Cristo estão cada vez mais próximos.

 

P. Wilson, adaptado de Christian Truth, 9:164-168

 

Estranhos Aqui

 

Chamados do alto, e homens celestiais por nascimento

(Que outrora eram apenas cidadãos da Terra),

Como peregrinos aqui, procuramos um lar celestial,

A nossa porção nas eras que ainda hão de vir.

 

Onde todos os santos de todos os climas se encontrarão,

E cada um com todos saudará os redimidos,

Mas oh! O auge da felicidade, meu Senhor, será

Contigo tudo possuir e tudo partilhar.

 

Tu eras “a Imagem”, na aparência humilde do homem,

Do Invisível aos olhos mortais;

Viestes do Seu seio, dos céus acima,

Vemos em Ti encarnado, “Deus é amor”.

 

Os Teus lábios revelam-nos o nome do Pai;

Que poder ardente sentimos em todas as Tuas palavras,

Quando aos nossos corações arrebatados Te ouvimos contar

Das glórias celestiais que Tu conheces tão bem.

 

Aquela preciosa corrente de água e sangue,

Que do Teu lado trespassado fluiu tão livremente,

Colocou à parte os nossos pecados de cor escarlate,

Lavou-nos de toda mancha e nos aproximou de Ti.

 

Somos apenas estrangeiros aqui; não desejamos

Um lar na Terra, que Te deu apenas um túmulo:

Tua cruz cortou os laços que nos prendiam aqui,

Tu mesmo, o nosso tesouro, numa esfera mais brilhante.

 

J. G. Deck, Hinário The Little Flock - hino 28

 

“Procurai a paz da cidade para onde vos fiz transportar; e orai por ela ao SENHOR, porque, na sua paz, vós tereis paz”

Jeremias 29:7

 

 

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