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N. Simon (1962- )

Duas Naturezas

Por Nicolas Simon



 

ÍNDICE

Introdução

A Carne

Vivificado

Nascido de Novo

Lavagem da Regeneração

Sepultado com Ele pelo Batismo

Capítulo Sete de Romanos

Nosso Caminhar Prático

Conclusão




 


Introdução


Todo verdadeiro crente em Cristo tem duas naturezas. A primeira é a que ele possui como filho de Adão – é uma natureza compartilhada por todos. A segunda é aquela vida divina que agora possuímos como filhos de Deus. Às vezes, são chamadas de nossa velha e de nossa nova natureza – uma vem com o nascimento natural, a outra com o novo nascimento.


Nossa velha natureza também é chamada de a carne – e não deve ser confundida com nosso corpo físico; é simplesmente carne[1]. Também é chamada de pecado – não a ação, mas a fonte dele. Esta é nossa natureza pecaminosa e decaída; é a condição natural de todos os nascidos neste mundo – com exceção de Jesus[2]. Encontramos a carne mencionada em muitos versículos. Uma, onde é usada junto com a palavra natureza, pode ser encontrada em Efésios: “Entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” (Ef 2:3). Paulo está falando aqui de sua própria raça judaica, mas ele mostra que todos (assim como os outros, tanto judeus como gentios) são por natureza filhos da ira, totalmente sujeitos aos desejos da carne.


A segunda ou nova natureza também é mencionada em muitos versículos. Pedro, em sua segunda epístola, usa explicitamente a expressão a natureza divina: “Pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo” (2 Pe 1:4). Aqui, Pedro não diz como chegamos a possuir a natureza divina. Deus, em Seu poder divino, “nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe 1:3). Pedro, portanto, exorta os crentes a andarem em comunhão[3] com a natureza divina – para dar expressão a ela. Somente aquele que é nascido do Espírito possui essa natureza (Jo 3:6).


Quanto a alguém sem Cristo, esse vive totalmente na carne. A velha natureza dita todo o seu desejo e ação – e não pode ser de outra forma. Como dizemos, é sua natureza. Aquele que é salvo, por outro lado, tem uma natureza dirigida e empoderada pelo Espírito Santo. Eles não são mais obrigados a agir de acordo com os ditames da carne: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito” (Rm 8:9). Embora a carne ainda esteja neles, Deus a vê como crucificada com Cristo – é um assunto encerrado aos olhos de Deus. “Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). Nós também devemos considerar dessa forma. “Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5:24).


Este assunto não é acadêmico. Se não entendermos que nós, como crentes, possuímos uma nova natureza, e que nossa velha natureza está morta aos olhos de Deus, isso resultará em um conflito frustrante. Ao longo da história do Cristianismo, muitos santos têm procurado subjugar a carne e erradicar o pecado, sem entender que isso já é assunto encerrado aos olhos de Deus, e que eles podem viver no proveito de uma nova natureza e no poder do Espírito Santo.



A Carne


Na epístola aos Romanos, lemos: “Eu sou de carne, para estar sujeito ao pecado” (Rm 7:14 – TB). Novamente, “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum (Rm 7:18). No próximo capítulo, encontramos: “Porquanto a mente da carne é inimizade contra Deus, visto que não é sujeita à Lei de Deus, nem o pode ser (Rm 8:7 – TB). Paulo não está sozinho ao escrever sobre este assunto. No Evangelho de João lemos: “O que é nascido da carne é carne” (Jo 3:6). A carne não pode ser outra coisa senão o que ela é. Isso está em nítido contraste com os pensamentos do homem. Os filósofos há muito procuram e promovem o bem na humanidade. Deus em Sua Palavra nos diz que não há quem faça o bem (Rm 3:12). Não nego que o afeto e a benevolência naturais possam ser encontradas no mundo, mas aqui estamos falando da condição moral do homem. A bondade natural do homem é para sua própria preservação e benefício, sem pensar em Deus (Rm 3:18). Alguém poderá dizer que falar a uma pessoa que ela é má, pode ser destrutivo; que destrói sua autoestima – mas isso só é verdade se não oferecermos uma solução. É para nosso bem e bênção, não nossa destruição, que Deus nos diz o que realmente somos. A bondade de Deus nos leva ao arrependimento (Rm 2:4).


Os capítulos iniciais da epístola de Paulo aos Romanos estão ocupados com nossos pecados – aqueles atos de impiedade e obstinação[4] que praticamos. A partir de Romanos 5:12, entretanto, o apóstolo aborda o assunto de nossa natureza decaída. Nestes capítulos, quando encontramos a palavra pecado, não é mais do ato antes referido, mas a natureza que o produz. “Pelo que, como por um homem [Adão] entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5:12). Pecados e pecado estão obviamente relacionados. Alguém pode contestar e perguntar: O que o pecado de Adão tem a ver comigo? A essa pergunta respondemos: Você peca? Quem, com toda a honestidade, poderia responder negativamente? Devemos reconhecer, por meio de nossas ações, que somos filhos de Adão. O fruto revela a raiz. Os pecados que cometemos são a evidência de uma natureza interna; eles são indicativos de um problema mais profundo.


Toda religião do homem procura abordar o comportamento humano; elas não tratam e não podem abordar a causa raiz desse comportamento. Duas perguntas foram feitas a Adão e Eva no Éden. A segunda foi: “Por que fizeste isso?” (Gn 3:13). A isto o homem procura responder dando desculpas, ou pedirá outra chance. A primeira pergunta, porém, é a mais fundamental: “Onde estás?” (Gn 3:9). Adão se escondeu de Deus; mais tarde ele foi expulso do jardim e da presença de Deus. Nós nascemos, não apenas com a natureza de Adão, mas também na posição de Adão, separados de Deus.


A consequência do pecado de Adão foi a morte. Resultou em morte espiritual e, em última instância, morte natural. Morte é separação. Na morte física, o corpo e o espírito se separam; um permanece neste mundo, o outro parte (Tg 2:26). Na morte espiritual há separação de Deus – Adão e Eva experimentaram isso no dia em que comeram do fruto proibido. Novamente, se houver alguma dúvida quanto a sermos filhos de Adão, a prova é a morte – o homem pode não reconhecer a morte espiritual, mas não há dúvida de que ele é mortal. Há ainda outra morte que aguarda o homem não regenerado, a segunda morte (Ap 21:8). Essa morte é separação eterna de Deus; é o lago de fogo – inferno. Ao longo da história humana, numerosas afrontas foram lançadas contra Deus; no entanto, o homem realmente deseja um mundo sem Deus? No inferno, separação de Deus será seu estado eterno; será um lugar sem luz e sem amor. “Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 25:30). “E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna” (Mt 25:46 JND).



Vivificado


A epístola de Paulo aos Efésios começa com a condição do homem diante de Deus – morto! “Estando vós mortos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo” (Ef 2:1-2). Não se está falando de morte física, pois somos encontrados andando nessa condição; é o nosso estado espiritual. A Epístola aos Romanos aborda as coisas de uma perspectiva um pouco diferente – embora a conclusão quanto à condição do homem seja a mesma. Nos primeiros três capítulos de Romanos, a humanidade está em julgamento – é verdadeiramente um cenário judicial no tribunal de Deus. “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça” (Rm 1:18). O julgamento abrange toda a raça humana, gentios e judeus – o judeu privilegiado é examinado em segundo lugar. O veredito é dado no terceiro capítulo (vs. 10-19). “Não há um justo, nem um sequer... sabemos que tudo o que a Lei diz aos que estão debaixo da Lei o diz, para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus (Rm 3:10,19). O homem é pecador e digno de morte. Além disso, Romanos também nos diz que, por meio da queda de Adão, a morte foi estampada sobre o primeiro homem e sua descendência – isto está em nossa própria natureza (Rm 5:12). O homem pode pleitear um julgamento imparcial (Deus já julgou e deu Seu veredito), mas, ao que parece, os pecados que cometemos não são nada mais que o fruto da natureza que está dentro de nós. Sim, os pecados podem ser perdoados, mas não o pecado – a carne deve ser julgada pelo que é.


Se estivermos espiritualmente mortos e incapazes de produzir fruto para Deus, que esperança temos? Um homem morto não pode fazer nada. Verdadeiramente, sem Deus não há esperança. Só Deus pode dar vida ao que está morto. A palavra usada na Bíblia para dar vida é vivificar. Esta antiga palavra dá o significado preciso do grego fundamental (zoopoieo) dar vida.[5] Tanto João quanto Paulo falam da vivificação. “O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são Espírito e vida” (Jo 6:63). “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo” (Ef 2:4-5).


A vivificação é inteiramente uma obra de Deus – a iniciativa também é d’Ele. Imagine alguém que se afogou, deitado morto no chão. Sua ressuscitação depende da iniciativa do médico. O morto é incapaz de avaliar seu próprio estado; não está em condições de buscar ajuda e é claramente incapaz de efetuar seu próprio reviver. Vai depender do fôlego de outro.[6]


No livro de Ezequiel temos um quadro vívido de vivificação, embora a palavra não seja usada.[7] O assunto é o futuro reviver de Israel. Mesmo que se fale de uma nação, em vez de um indivíduo, os princípios permanecem os mesmos. “O Senhor... me pôs no meio de um vale que estava cheio de ossos... E me disse: Filho do homem, poderão viver estes ossos?” (Ez 37:1,3). Naturalmente falando, tal coisa não é possível; a resposta repousa exclusivamente com Deus. “Assim diz o Senhor JEOVÁ a estes ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito [fôlego – JND], e vivereis” (Ez 37:5). É digno de nota que a palavra para fôlego neste caso[8] é a palavra hebraica para vento ou espírito. Posteriormente, no mesmo capítulo, lemos: “E porei em vós o Meu Espírito, e vivereis” (Ez 37:14). No Novo Testamento, temos um versículo que responde a isto: O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita” (Jo 6:63).


No evangelho de João, temos várias ilustrações de vivificação. O enfermo do quinto capítulo esteve preso em sua aflição por 38 anos; ele não tinha força para se beneficiar do poder de cura da água. O Senhor Jesus o livra de sua enfermidade com Sua palavra: “Levanta-te, toma tua cama e anda” (Jo 5:8). Apesar do milagre extraordinário, os judeus criticaram Jesus. Na resposta do Senhor, Ele diz: “Pois assim como o Pai ressuscita os mortos e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer(Jo 5:21). O poder do Pai na vivificação é compartilhado pelo Filho. Vivificação é a obra soberana de Deus. Todas as Pessoas da divindade estão envolvidas na vivificação – o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Toda atividade de Deus é em Trindade. O coração do Pai é a fonte, o Filho é o agente e o Espírito é o poder. O Senhor então olha para além da cura física (uma forma de vivificação que o judeu entendia), para o estado espiritual da humanidade: “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (Jo 5:25). Aqui temos a conexão entre a palavra de Deus e a vivificação. Encontramos isso também no próximo capítulo: “As palavras que Eu vos disse são espírito e vida (Jo 6:63). Foi a voz do Filho, a Ressurreição e a Vida, que tirou Lázaro do túmulo. A voz não foi alta por causa de Lázaro (ele era incapaz de ouvir), mas para aqueles que estavam por perto. No entanto, o efeito dessa palavra sobre o morto Lázaro, foi que ele viveu.


O apóstolo Paulo aborda o assunto da vivificação de uma perspectiva diferente. João vê a vivificação no contexto de um Salvador vivo, Aquele que vivifica a quem Ele quer. O apóstolo Paulo, cuja visão celestial de um Salvador ressuscitado caracterizou seu ministério, nos vê como mortos com Cristo e ressuscitados com Ele em novidade de vida (Rm 6:4; Cl 2:12-13). No ministério de Paulo, o poder vivificador de Deus é o mesmo poder que Ele exerceu ao ressuscitar Cristo de entre os mortos. “Para que saibais... qual a sobre excelente grandeza do Seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do Seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dos mortos e pondo-O à Sua direita nos céus” (Ef 1:18, 19-20).[9] Conectada com Cristo em ressurreição, a vivificação agora nos coloca em uma esfera totalmente diferente: “Deus... nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2:4-6). A nova vida que possuímos nos leva a novas associações: “quando estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com Ele, perdoando-vos todas as ofensas” (Cl 2:13).


Nascido de Novo


João não fala apenas de vivificação, mas também de novo nascimento. “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3:3). O novo nascimento responde, agora não à morte, mas à nossa condição moral diante de Deus. Ele contrasta com a corrupção. É notável que o apóstolo Paulo não fale explicitamente do novo nascimento – das consequências, ele sem dúvida o faz. Pedro e Tiago também falam sobre o novo nascimento; ambos se dirigem a um remanescente fiel entre Israel para quem o novo nascimento foi especialmente significativo. Vivificação e novo nascimento não são eventos diferentes, mas antes, aspectos complementares da mesma obra vivificante de Deus.


O ministério de João trata da natureza de Deus e da família de Deus. João conhecia o Salvador vivo: “O que era desde o princípio, O que vimos com os nossos olhos, O que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 Jo 1:1). Foi ele quem se deitou no peito do Senhor (Jo 13:25; 21:20). João também viu “a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai” (Jo 1:14). Era o Filho dando a conhecer o Pai – sem o Filho não poderia haver revelação do Pai. “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, este O fez conhecer” (Jo 1:18; ver também Jo 14:9). É, portanto, de acordo com o ministério de João que temos o assunto do novo nascimento. Por ele somos trazidos para a mesma família. “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus” (1 Jo 5:1).[10] A vida que agora possuímos como resultado do novo nascimento é bem distinta de nossa vida natural. João, em seu evangelho, apresenta essa vida em Jesus – é um livro de começos. Quando chegamos à primeira epístola de João, no entanto, encontramos que aquilo que era verdadeiro n’Ele, agora está em nós. “Que é verdadeiro n’Ele e em vós” (1 Jo 2:8).


A alma convertida é nascida de novo, e não é apenas um novo começo, como Nicodemos erroneamente pensou; a pessoa é nascida do alto: “Se o homem não nascer do alto (Jo 3:3 – margem KJV). Para o judeu, há um significado especial nisso. Eles confiaram em seu nascimento natural: “Nós somos descendência de Abraão” (Jo 8:33). O nascimento natural, entretanto, nos dá uma natureza de Adão – aquela natureza corrupta e decaída conhecida como carne. O novo nascimento, por outro lado, é um começo inteiramente novo com um ponto de origem completamente diferente. “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus (Jo 1:13). A expressão de cima é encontrada uma segunda vez no terceiro capítulo de João: “Aquele que vem de cima é sobre todos, aquele que vem da Terra é da Terra e fala da Terra” (v. 31). Com o novo nascimento, essa vida celestial agora é nossa vida. As esperanças de Israel eram terrenais; o Senhor os estava apresentando às coisas celestiais (Jo 3:12). Essas coisas eram difíceis para o judeu entender, e ouvir que deveria nascer de novo era uma afronta à sua herança.


O assunto do novo nascimento não é exclusivo ao Novo Testamento. Isso não deveria ter sido uma doutrina notável para Nicodemos, um mestre em Israel: “Tu és mestre de Israel e não sabes isso?” (Jo 3:10). É notável que o Senhor disse: “Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3:7). “Vos” está no plural – não era apenas Nicodemos que precisava de um novo nascimento, todo o Israel precisava. Israel não vai alcançar benção em terreno natural – terreno no qual eles descansaram. A necessidade da limpeza moral de Israel é dada claramente no Velho Testamento. “Então, espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o Meu Espírito” (Ez 36:25-27).


A água mencionada por João é a Palavra de Deus – como também o é em Ezequiel. A água é figurativa; a água literal nunca pode lavar a imundícia da carne (1 Pe 3:21). O poder purificador da Palavra, porém, é confirmado em outro lugar: “Vós já estais limpos pela Palavra que vos tenho falado” (Jo 15:3). “Também Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra (Ef 5:25-26). Quando Pedro fala sobre o novo nascimento, a Palavra de Deus é inequivocamente o agente. “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1 Pe 1:23). Da mesma forma, Tiago conecta o novo nascimento com a Palavra: “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela Palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das Suas criaturas” (Tg 1:18).


Grande parte da Cristandade interpreta o novo nascimento como uma regeneração do espírito humano. Isso equivaleria a nada mais do que uma restauração da natureza decaída. A natureza de um limoeiro é produzir limões; nada vai mudar isso, exceto se cortado. O terrenal só pode gerar o terrenal. “O que é nascido da carne é carne” (Jo 3:6). A carne foi assunto encerrado na cruz; lá ela foi cortada fora: “No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão de Cristo” (Cl 2:11). Para ser perfeitamente claro, a circuncisão aqui fala da cruz – o cortar de Cristo – não de circuncisão literal. Não há restauração da velha natureza. Em vez disso, temos uma nova vida nascida do Espírito por meio da Palavra de Deus. É uma natureza santa, totalmente livre de corrupção. “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a Sua semente permanece n’Ele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus” (1 Jo 3:9).


Antes de prosseguirmos com o assunto do novo nascimento, devemos observar a diferença entre o que foi prometido no Velho Testamento e a vida eterna apresentada no Novo Testamento. Sim, Nicodemos deveria ter entendido a necessidade de um novo nascimento e purificação. Ele não poderia, entretanto, saber da vida eterna.[11] O Senhor lhe diz a este respeito: “Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?” (Jo 3:12). A vida eterna não é simplesmente uma vida que nunca acaba.[12] A expressão vida eterna reflete o caráter da nova vida que temos por meio de Cristo: “E a vida eterna é esta: que conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a Quem enviaste (Jo 17:3). A apresentação da vida eterna é especialmente o ministério do apóstolo João. A vida eterna foi manifestada na vida do Senhor Jesus – vemos isso retratado lindamente no Evangelho de João. “Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada” (1 Jo 1:2). A vida eterna é agora a presente possessão de todos os que creem. Este é o assunto da primeira epístola de João: “Outra vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro n’Ele e em vós; porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia” (1 Jo 2:8). “Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna vós que credes no nome do Filho de Deus” (1 Jo 5:13 – JND). Os discípulos dos Evangelhos (com exceção de Judas) eram almas convertidas – eles possuíam uma nova vida: “Ora, vós estais limpos, mas não todos. Porque bem sabia Ele quem O havia de trair; por isso, disse: Nem todos estais limpos” (Jo 13:10-11). Não se poderia dizer, entretanto, que eles possuíam a vida eterna. Até a morte de Cristo, as esperanças dos discípulos eram terrenas; Sua morte, é claro, mudou tudo (Lc 24:21). Após a ressurreição de Cristo, Ele “assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20:22). Assim como com o primeiro Adão (Gn 2:7), neste ato temos a transmissão da vida, mas agora é a vida eterna. É o Espírito de vida em Cristo Jesus transmitido ao crente (Rm 8:2). Cristo, que é um Espírito vivificador, concede vida espiritual a eles de acordo com o poder da ressurreição.[i]


Lavagem da Regeneração


Na epístola de Paulo a Tito, temos a palavra regeneração. “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3:5). A palavra grega paliggenesia, traduzida como regeneração, significa literalmente começando de novo.[13] Ela é comumente tratada como sinônimo de novo nascimento, mas é isso? A palavra não é usada por João, Pedro ou Tiago – todos eles falam do novo nascimento. Esta palavra aparece em apenas um outro lugar na Escritura.[14] Nesse caso, seu uso é bastante claro. “Quando, na regeneração, o Filho do homem Se assentar no trono da Sua glória” (Mt 19:28). Aqui, Mateus está descrevendo a nova ordem das coisas durante o reinado milenar de Cristo.


Tito está ocupado com nosso testemunho perante o mundo.[15] “Vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente” (Tt 2:12). “Que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam, e estejam preparados para toda a boa obra” (Tt 3:1). Nossa conduta como eleitos de Deus (Tt 1:1) é contrastada com nossa condição anterior: “Insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros” (Tt 3:3). Fomos libertados de tudo isso por meio da bondade e do amor de Deus, nosso Salvador. É importante reconhecer que um Deus Salvador não simplesmente nos livra da pena de nossos pecados. Ele também nos liberta de nossa condição anterior. Na verdade, até que experimentemos essa libertação, não se poderia dizer que somos salvos. Os filhos de Israel não eram salvos enquanto permaneceram no Egito (embora sob o abrigo do sangue) – foi somente quando o tirano Faraó caiu morto no mar, que lemos sobre a salvação (Êx 15:2).[16]


O uso da regeneração em Tito está de acordo com seu uso em Mateus. A salvação de Deus nos trouxe a uma ordem inteiramente nova de coisas – passamos de um estado de ruína para um lugar totalmente novo. A lavagem da regeneração não é exatamente novo nascimento. É uma expressão do novo estado de coisas para o qual a graça nos preparou. Os dias do Reino, quando tudo será feito novo, ainda não chegaram, mas fomos preparados para isso. O batismo é uma figura disso. Pedro, em sua primeira epístola, conecta o batismo com o dilúvio: “Enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água: Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo” (1 Pe 3:20-21 – ARF). O mundo foi purificado pelo dilúvio; Noé encontrou-se em uma nova condição de coisas. A corrupção associada ao mundo antediluviano foi destruída pelas águas do dilúvio – essas mesmas águas fizeram flutuar a arca, salvando assim Noé e sua família.


Sepultado com Ele pelo Batismo


É preciso falar um pouco sobre o batismo, embora esteja apenas indiretamente relacionado ao nosso assunto. Muitos acreditam que nascer da água (Jo 3:5) se refere ao batismo. Eles falam sobre nascer de novo por meio do batismo – essa é a chamada doutrina da regeneração batismal. A Escritura ensina claramente que a água do batismo não pode remover a imundícia da carne (1 Pe 3:21). A água, da mesma forma, não pode conferir ou produzir nova vida. A água mencionada no terceiro capítulo de João é figura da Palavra de Deus como Pedro e Tiago confirmam (1 Pe 1:23; Tg 1:18). O batismo é sobretudo, um sepultamento; nada poderia estar em maior contraste com o dar a vida. Por meio dele, estamos externamente dissociados de nossa vida anterior e colocados em um novo lugar na Terra – não no céu. O batismo é administrativo e não judicial. Uma pessoa pode ser batizada e não ser salva (At 8:13). Por outro lado, todo verdadeiro crente tem novo nascimento, seja batizado ou não.


“Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte” (Rm 6:3-4). Por meio do batismo, deixamos administrativamente a vida de Adão pela morte. Este ensino nos é retratado no Velho Testamento na travessia do Mar Vermelho “Nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar” (1 Co 10:1-2). Ao atravessar o Mar Vermelho, os filhos de Israel foram libertados de suas antigas associações, a morte sendo a figura, e se encontraram em uma nova posição – o deserto. Além disso, os filhos de Israel, tendo sido separados do Egito e de seu governante, estavam agora sob uma nova autoridade – a de Moisés. Nós, que fomos batizados, também fomos colocados administrativamente em uma nova posição diante do homem e de Deus, e estamos sob uma nova autoridade, a de Cristo. Existe uma conduta compatível com a posição assumida. Notamos que todos os filhos de Israel homens, mulheres e crianças – foram levados através do Mar Vermelho para esta nova posição,[17] embora muitos tenham falhado em entrar na Terra Prometida por causa de sua incredulidade (Hb 4:6). Tanto Lídia quanto o carcereiro filipense (Atos 16) tiveram sua casa batizada. Em ambos os casos, apenas a fé pessoal do indivíduo é registrada; no entanto, nenhuma parte de sua casa seria deixada no Egito – sua casa foi externamente marcada como Cristã; não era mais judia ou pagã.


É necessário corrigirmos algumas outras coisas atribuídas ao batismo. O batismo não é a lavagem da regeneração de que fala Tito, embora seja uma figura dela. O batismo não nos dá a remissão de pecados. É verdade que lemos: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados (At 2:38).[18] Neste capítulo, Pedro está pregando para uma multidão de judeus menos de dois meses após a crucificação. Esses israelitas, cientes de sua precária posição por terem crucificado seu Messias, não estavam recebendo a promessa da remissão de seus pecados no ato do batismo. Em vez disso, o batismo era para ou tinha em vista a remissão de pecados. Eles foram identificados com uma geração perversa e, como tal, eram culpados do sangue de Jesus (vs. 36, 40). O juízo viria sobre aquela nação e cidade (como aconteceu em 70 d.C.). No batismo, porém, eles se desassociariam daquele povo culpado. Ao fazê-lo, ficaram em um lugar onde a remissão poderia vir. Observamos também (sem entrar em detalhes) que o batismo não nos torna membros de Cristo e não nos admite na Igreja. Essas doutrinas errôneas são amplamente ensinadas.


Existem, entretanto, coisas que o batismo faz – identificação com Cristo na morte, identificação com uma nova autoridade e assim por diante. Em cada caso, o batismo trata da nossa posição externa e não do nosso estado interno. Nenhuma ordenança pode mudar o estado interno do homem. Pedro nos diz que o batismo salva, mas em que sentido? “Como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne” (1 Pe 3:21 ARF). O batismo nos salva deste mundo mau – a separação que já existia entre Noé e o mal antes do dilúvio, não poderia ter sido mais completa. Tão certo quanto o batismo nos associa a Cristo em Sua morte; também nos desassocia de nossa identidade anterior – assim como aconteceu com os judeus em Atos dois (At 2:38, 40). O batismo também lava o pecado, mas em que sentido se não remove a imundícia da carne? “E, agora, por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor” (At 22:16). Paulo não queria ter nada a ver com seu eu anterior (Fp 3:8). No batismo, tudo isso foi colocado externamente em um lugar de julgamento. Neste capítulo, Paulo relata sua conversão perante os judeus. Por causa do batismo, eles não poderiam mais acusá-lo de ser o que fora anteriormente – na verdade, por causa do batismo, ele seria rejeitado como apóstata. Não há menção disso no relato histórico (Atos 9), nem quando ele falou aos gentios (Atos 26). Se houvesse um sentido mais significativo, teria sido encontrado em todas as três vezes mencionadas. No batismo, nós nos revestimos de Cristo (Gl 3:27-28). Mais uma vez, exteriormente, com certeza o batismo o faz. O soldado de um regimento veste um novo uniforme – isso pouco diz sobre sua conduta futura, ou mesmo sobre sua preparação para a função, mas certamente o identifica perante o mundo como parte daquele regimento. Da mesma forma, o batismo me torna um discípulo (Mt 28:19). Também me leva à esfera da profissão Cristã (Ef 4:4-6).


Capítulo Sete de Romanos


O deserto do Sinai era apenas a terra pela qual Israel viajou em seu caminho para a terra prometida de Canaã. Nós também temos um destino diante de nós – estar com Cristo no céu. Na epístola aos Efésios, somos vistos como assentados nos lugares celestiais em Cristo (Ef 2:6).[19] Posicionalmente, Deus nos vê dessa maneira, e isso deve caracterizar nossa vigilância e nosso caminhar. O livro de Romanos não nos leva tão longe quanto Efésios. Ele está ocupado com a experiência do crente no deserto – nossa senda atual por este mundo. Isso não diminui o valor do livro. A experiência no deserto é necessária, pois é aí que somos testados em termos de responsabilidade. No deserto, os filhos de Israel foram provados e humilhados (Dt 8:2). Da mesma forma, devemos aprender o que somos na carne.


O Cristão tem duas naturezas diametralmente opostas – a carne e a nova natureza. A natureza de Adão deve ser vista no lugar de morte e a natureza divina deve governar nossa vida. Deus não nos diz para morrermos para o pecado – devemos mortificar toda manifestação do pecado (Cl 3:5). Como viva em Cristo (que morreu), a natureza de Adão é vista por Deus como morta. Devemos considerar da mesma forma. “Considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). No batismo, o velho foi enterrado. A quem nos apresentamos agora? “Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça” (Rm 6:13). Neste versículo, o primeiro ‘apresentar’ é uma ação no presente; o segundo, por outro lado, poderia ter sido traduzido como apresentado a Deus”. A menos que tenhamos feito o segundo, não podemos esperar alcançar o primeiro. Uma vida Cristã feliz surge quando nos rendemos totalmente a Deus e permitimos que Ele assuma o controle. Não podemos olhar para nós mesmos em busca do poder da vida Cristã; devemos olhar além de nós mesmos, para o Espírito de vida em Cristo Jesus. Antes de chegarmos a isso – ao estado feliz de Romanos oito – devemos, entretanto, passar pelo capítulo sete.


A primeira metade do sétimo capítulo considera nosso livramento da condenação de uma Lei infringida. Isso é dirigido ao judeu – o gentio nunca esteve sob a Lei. O judeu ficou aquém do padrão estabelecido pela Lei de todas as maneiras concebíveis. O homem supõe que a graça baixou o nível estabelecido pela Lei, tornando-lhe possível cumpri-la, mas isso seria injusto da parte de Deus. Os tribunais dos homens podem reduzir uma sentença com base em uma violação menor, mas não é o caso de Deus. O livramento da condenação da Lei vem, não pelo enfraquecimento da Lei, mas pela morte. Uma mulher é casada por lei com seu marido enquanto ele estiver vivo; se ele morrer, ela estará absoluta e inquestionavelmente livre (Rm 7:3). A Lei da mesma forma, nada tem a dizer a um homem morto. Estamos mortos para a Lei. Observe, a própria Lei não está morta – nós é que estamos.


A segunda metade do capítulo aborda um assunto relacionado. Alguém nascido de Deus tem o desejo e o zelo de agradar a Deus. Eles olham para si mesmos e comparam com o que Deus requer. Mais do que isso, eles procuram cumprir o padrão justo de Deus; isso é, em princípio, lei. É um passo necessário para reconhecermos nosso verdadeiro estado, mas é um caminho que leva à escravidão. Este foi o monólogo do filho pródigo antes de encontrar com o pai – “Faze-me como um dos teus trabalhadores” (Lc 15:19). Cada um de nós deve aprender por experiência própria que a carne é tão atraída por seus antigos vícios como sempre foi – que a carne não mudou e não vai mudar. Esta parte de Romanos sete descreve a luta de alguém que busca controlar o comportamento da carne seguindo um conjunto de regras. Qualquer tentativa desse tipo pressupõe um poder interno capaz de controlar e reformar a carne. A descoberta deve ser feita – e ela é importante e necessária – de que somos totalmente impotentes para controlar a carne.


John Newton[20] em sua autobiografia, “Out of the Depths” (Fora das Profundezas), relata essa luta. Tendo quase perdido sua vida no mar (e não pela primeira vez), John começou a orar e buscar fervorosamente a Deus. É evidente que ele se tornou um homem diferente depois dessa experiência, embora ainda fosse cativo – o cativeiro, creio eu, mencionado em Romanos sete. Newton escreve: Não posso duvidar de que essa mudança, na medida em que prevaleceu, foi operada pelo Espírito e pelo poder de Deus, embora eu fosse muito deficiente em muitos aspectos. Em certo grau, eu senti os meus mais enormes pecados; tinha pouca consciência do mal inerente ao meu coração.[ii] Isso é consistente com aquele que tem uma nova vida. Há zelo em fazer o que é certo, e pensamentos e conduta pecaminosos são intensamente sentidos. Quem não tem nova vida, embora tenha consciência, não sente o pecado. Sua condição é dada em Efésios: “mortos em ofensas e pecados” (Ef 2:1). Newton lutou por anos neste estado até que finalmente teve paz. “Ele é capaz de salvar até ao mais profundo”, deu-me grande alívio. …e esperar ser preservado, não por meu próprio poder e santidade, mas pelo grande poder e promessa de Deus, por meio da fé em um Salvador imutável.[iii] A chave para a descoberta de Newton foi um poder de fora de si. Infelizmente, a compreensão de John Newton sobre sua experiência e as verdades de que falamos foram limitadas pelo sistema teológico a que ele se associou.[21]


Voltando agora a Romanos sete, lemos como a Lei, longe de subjugar a carne e suprimir a pecaminosidade, provoca exatamente o comportamento que ela condena: “O pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda a concupiscência” (Rm 7:8). A culpa, deve-se admitir, não é da Lei, mas da carne. Esta é a primeira descoberta do orador: a carne é pior do que fraca; ela está vendida sob o pecado. “Porque bem sabemos que a Lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado” (Rm 7:14). Assim que nos apoderarmos dessa verdade, deixaremos de nos surpreender com os pensamentos e o comportamento da carne – ela fará o que a carne sempre faz. E, no entanto, apesar disso, há um verdadeiro desejo de fazer o que é certo: “Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço” (Rm 7:15). De onde vêm esses desejos corretos e apropriados, e quem é o “eu” que faz aquilo que “eu” aborreço?


Isso leva à segunda descoberta: “E, se faço o que não quero, consinto com a Lei, que é boa. De maneira que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7:16-17). O indivíduo aprende que existe um novo princípio – um novo “eu” – operando dentro dele, distinto da carne. A responsabilidade não foi abandonada; o orador claramente aceita a responsabilidade por seu próprio comportamento – é isso que o incomoda tanto. No entanto, ele chegou à conclusão de que agora existe um princípio inteiramente novo em ação, distinto do antigo “eu”. Na verdade, ele se recusa a identificar-se com o velho “eu” e o chama pelo que é, pecado (a velha natureza, a carne). Alguém disse: Você tem três “eus” na Escritura e, em termos, eles são contraditórios: “E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20). Então não tenho carne em mim? Sim, de fato, e esse é outro “eu”.[iv] A vida que agora vivemos é aquela nova vida em Cristo – não o velho “eu”, que é visto como tendo sido crucificado com Cristo. Embora a expressão disso possa parecer estranha, ela é clara para quem já passou por isso. Quanto ao terceiro “eu”, é o narrador refletindo sobre a experiência.


Agora chegamos à terceira e libertadora descoberta: “Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a Lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à Lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado” (Rm 7:23-25). Apesar das duas descobertas anteriores, elas não trouxeram felicidade. Dois princípios estão em ação – a palavra lei agora é usada para significar um princípio governante, como na lei da gravidade. Qual é a solução? A lição final aprendida é que não podemos nos livrar a nós mesmos. O pedido é Quem e não o que me livrará. Devemos olhar para fora de nós mesmos; a resposta é encontrada no poder do Espírito Santo – ou, como Romanos 8 coloca: “Porque a Lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8:2 – JND).


Em certo sentido, nada mudou; as duas naturezas ainda estão presentes – uma governada pela Lei de Deus e a outra pela lei do pecado. É importante reconhecer isso. Embora alguns ensinem o contrário, esses versículos nos mostram que a velha natureza permanece em nós (Rm 7:25). Se o crente pudesse se livrar da velha natureza nesta vida, isso teria sido declarado nesses versículos – mas não o foi. Encontramos o oposto; a carne permanece em nós. No entanto, não estamos mais na carne, ou seja, sob seu poder. “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito” (Rm 8:9). Há um poder de fora de nós – um novo princípio – que nos livra do domínio do pecado. Essas coisas são desenvolvidas em Romanos oito.


Embora escrito na primeira pessoa, Romanos sete não é autobiográfico. O relato começa, “E eu, nalgum tempo, vivia sem Lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri” (Rm 7:9). Isso não era verdade sobre o apóstolo Paulo; como judeu, ele estivera sujeito à Lei (Fp 3:5-6). E, ao contrário de uma linha alternativa de raciocínio (e uma caracterização ainda pior), este capítulo não nos dá a luta diária do apóstolo contra o pecado – uma sugestão que diz muito sobre o coração daqueles que ensinariam assim. O capítulo apresenta as descobertas de quem conhece o perdão (Rm 1-5), mas não a liberdade. Essas são as lições aprendidas por uma alma vivificada que busca controlar a carne por seus próprios meios. É uma retrospectiva; alguém em tal condição não está em condições nem em posição de analisar seu conflito.


Romanos 7 é frequentemente confundido com Gálatas 5. Nesse capítulo, lemos sobre o conflito entre a carne e o Espírito Santo (Gl 5:17). O Espírito Santo não é mencionado nenhuma vez em Romanos 7. Não é até chegarmos a Romanos 8 que encontramos o Espírito de Deus e lá Ele aparece cerca de 20 vezes! Essa observação é a chave para entender Romanos 7. O tom dos capítulos sete e oito é muito diferente. Romanos 7 e Gálatas 5 são, por sua vez, frequentemente confundidos com Efésios 6. Lá, a guerra não é interna, mas externa, “Contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:12). A experiência de Romanos 7 é uma luta única (mas necessária) para o crente; ela pode ser breve ou longa, como foi para John Newton. O conflito de Gálatas 5 pode ser diário, mas não deve ser considerado como o caminhar Cristão normal. A experiência de Efésios 6, entretanto, será a experiência normal de um Cristão que está indo bem para com Deus.


Romanos 7 descreve as experiências de alguém que tem uma nova vida, embora ainda não habitado pelo Espírito Santo. No entanto, experimentamos luta semelhante sempre que procuramos controlar a carne por nosso próprio poder. Se ignorarmos as duas naturezas e acreditarmos genuinamente que devemos reformar a carne ou fazê-la obedecer à Lei, Romanos 7 caracterizará nossa vida Cristã. Muitos se encontram neste estado miserável porque não sabem disso. Os monges da antiguidade tentaram destruir a concupiscência matando-a com uma vida austera; nunca funcionou e nunca funcionará. Tudo o que sempre fez foi provocar a carne e produzir concupiscência da pior espécie. Posso dirigir pela estrada confortavelmente a certa velocidade, com a consciência tranquila. Quando, no entanto, vejo um limite de velocidade numa placa, o que eu faço? Eu não dirijo a cinco por hora a menos, mas a cinco por hora a mais! Quando sou multado, a lei estabelece minha culpa. Ela me disse o que era certo, mas não me deu poder para o fazê-lo.



Nosso Caminhar Prático


Não devemos apenas reconhecer que estamos mortos e sepultados com Cristo, mas devemos andar no benefício disso. O pecado não precisa mais ter domínio sobre nós; essa escravidão foi quebrada na cruz por meio da morte. A experiência do Cristão deve ser de liberdade. Não liberdade para agradar a carne – pois não estamos mais na carne – mas sim, para agradar a Deus. Em Romanos sete, “estávamos na carne” (v. 5); mas quando chegamos a Romanos oito, aí encontramos: Não estais na carne, mas no Espírito” (v. 9). Isso não é ginástica mental – o crente não é mais a mesma pessoa que era antes da salvação. O incrédulo nunca pode estar em outra coisa senão na carne. Temos uma nova natureza e a habitação do Espírito de Deus. “De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne” (Rm 8:12).


Ao buscar aplicar esses princípios em nossa vida, é importante compreender que nossos desejos naturais, dados por Deus, não são pecados em si mesmos – eles resultam de se estar em carne e não na carne; nós somos seres humanos. Jesus teve fome, sede e cansaço (Mt 4:2; Jo 4:6-7; Mc 4:38). Deus nos deu desejos para o nosso bem e para nossa bênção. Se nunca tivéssemos fome, morreríamos de desnutrição; se não houvesse atração sexual, não haveria procriação. Deus providenciou para que a humanidade satisfizesse esses desejos de uma forma adequada à Sua santidade e sem pecado. “Mas, por causa da prostituição [fornicação – JND], cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido” (1 Co 7:2). Nossos desejos, no entanto, podem e nos levam a pensamentos errados, e com certeza podem ser satisfeitos de maneira contrária à santidade de Deus. Quando nos permitimos entreter com pensamentos errados (as tentações internas que sentimos), o desejo se torna concupiscência. A raiz da concupiscência é o pecado (Rm 7:8). É falso dizer que a tentação e a concupiscência não são pecado a menos que ajamos de acordo com elas. Certamente, quando a concupiscência age, o pecado é consumado, mas o pecado estava presente muito antes (Tg 1:15). Devemos manter nossos pensamentos em sujeição à Palavra de Deus. Existem coisas práticas que podemos fazer para ajudar, mas o mais importante, é que devemos reconhecer que o poder de colocar essas coisas em prática não vem de nós mesmos, mas de Deus por meio do Espírito Santo.


Quando o Senhor Jesus foi tentado, nada n’Ele respondeu à tentação externa. Se eu colocar um ímã perto do ferro, imediatamente haverá uma atração entre eles. Se, por outro lado, eu colocar o ímã perto do ouro, nada daquele metal será atraído para o ímã. Da mesma forma, com nosso bendito Senhor, não foi simplesmente que Ele resistiu à tentação (como muitos afirmam), mas que não havia simplesmente nada n’Ele para responder à tentação. Ele era, por assim dizer, ouro puro. Enquanto tivermos a velha natureza em nós, haverá algo que reage à tentação – algo para o anzol de Satanás prender. Por esta razão, precisamos andar como aqueles que verdadeiramente se consideram mortos para o pecado, mas como vivos para Deus por Jesus Cristo nosso Senhor (Rm 6:11). A nova natureza não pode ser tentada.


Se estou com fome, faz sentido ficar diante da vitrine de uma padaria que vende deliciosos doces? Isso suprimirá o desejo ou o provocará? Se estivermos ocupados com as coisas que despertam nossos desejos, por que deveríamos nos surpreender quando pensamentos errados entram em nossa mente? O salmista não pede apenas que as suas palavras sejam agradáveis, mas também a meditação do seu coração: “Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a Tua face, Senhor, Rocha minha e Libertador meu!” (Sl 19:14). Simplesmente negar a nós mesmos, entretanto, não resolverá o problema – os monges e sua vida ascética provaram isso. No entanto, se estivermos nos alimentando daquilo que está em comunhão com nossa nova natureza – lendo a Bíblia, orando, ouvindo o ministério, em suma, estando ocupados com Cristo – e abandonando a velha natureza, a mente não se distrairá tão facilmente. Não quero menosprezar os desejos poderosos que vivem dentro de nós. A fome é algo que todos nós entendemos. Uma vez que roubar não é uma opção (eu quero crer), não alimentamos essa ideia. Quando se trata de desejos sexuais, no entanto, recorrer a material ilícito para satisfazer o desejo é cada vez mais visto com indiferença. A verdade é que esse tipo de material nunca vai satisfazer e só serve para tornar as coisas ainda piores. Além disso, esses pensamentos devem ser identificados pelo pecado que são. “Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mt 5:28). As fantasias da mente são pecaminosas (Pv 24:9). Todo pecado consumado começa como um pensamento. Se o fruto é pecado, a raiz também é.


Temos nos concentrado no negativo; mas e os desejos da nova natureza? Não são eles reais? A natureza que é de Deus não ansiaria nada, a não ser Ele – e sinceramente ansiaria! Ela deseja seguir a Deus e anseia vê-Lo possuindo todo o Seu poder e glória.[v] Davi escreveu, embora como se estivesse sob a Lei: “Ó Deus, Tu és o meu Deus; de madrugada Te buscarei; a minha alma tem sede de Ti; a minha carne Te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água, para ver a Tua fortaleza e a Tua glória, como Te vi no santuário” (Sl 63:1-2). Se reconhecermos que este mundo é uma terra seca e sedenta, menos satisfeitos ficaremos com suas ofertas. Além disso, não podemos conhecer a Deus em Seu santuário se nunca tivermos passado um tempo lá. Em vez de afagar e satisfazer aos desejos naturais, devemos atender aos desejos da nova natureza. Cristo é o nosso sustento para esta jornada no deserto: “Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim, e Eu, nele” (Jo 6:56 – JND). Paulo exortou Timóteo dizendo “segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado” (1 Tm 6:11-12). Devemos nos apoderar daquilo que realmente é vida – não desta vida temporal. “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6:21).


Conclusão


Os capítulos 1 a 8 de Romanos contêm ensinamentos fundamentais do Cristianismo e todo crente deveria estar firmemente alicerçado neles. Infelizmente, por mais que devamos à Reforma por haver recuperado a verdade da salvação por meio da fé e não das obras, os ensinamentos de Romanos um a oito foram, e ainda são, amplamente mal compreendidos. Comentários salutares sobre Romanos estão disponíveis. As coisas que temos considerado, e a aplicação prática delas em nossa vida, podem ser mais apreciadas explorando-se um pouco deste ministério. Quando jovem, pessoalmente achei útil “On the Epistle to the Romans”, de Charles Stanley.[22]The Epistle of Paul to the Romans”, de B. Anstey fornece uma exposição completa do livro.



 


[1] Algumas traduções inserem o artigo, a carne em vez de apenas carne, onde é desnecessário, por exemplo em Rm 1:3; 2:28 na tradução de JND. Outro exemplo: Gl 2:20 não fala da vida que agora vivemos na carne, mas sim em carne, ou seja, no corpo.

[2] Jesus, é claro, veio em carne (1 Jo 4:3), ou seja, em um corpo humano real. Mas seria uma blasfêmia sugerir que Ele estava na carne.

[3] A palavra participante pode (neste caso) ser traduzida por comunhão.

[4] A consciência convence o homem de sua impiedade; a obstinação, por outro lado, é seu estado característico, o qual ele ignora despreocupadamente.

[5] O grego zoopoieo é uma combinação de zoo, vida e poieo, fazer. O mercúrio [elemento químico] foi chamado de “quiksilver” (prata viva) porque se movia; parecendo estar vivo. Outro uso de “quick” no sentido de vivo, é “quicklime” (cal viva) [N.T: vivificar em inglês é quickening].

[6] As analogias humanas sempre falham; salientamos que a vivificação não é um reavivamento de nossa condição anterior.

[7] A palavra vivificar aparece no Velho Testamento, especificamente, no livro dos Salmos. No hebraico significa fazer viver. O contexto, entretanto, mostra que significa um reviver do espírito e não uma nova vida de Deus: “A minha alma está pegada ao pó; vivifica-me segundo a Tua Palavra” (Sl 119:25). É temporário: “vivifica-me novamente” (Sl 71:20 KJV).

[8] Em hebraico, a palavra para vento e espírito são uma e a mesma (ruach) – o mesmo é verdadeiro em grego (pneuma). A analogia é clara – o vento não pode ser visto, mas seus efeitos poderosos são evidentes (Jo 3:8). Em hebraico, uma palavra diferente é frequentemente usada para fôlego (nashama), mas a palavra para vento / espírito (ruach) também pode ser usada – às vezes, as duas palavras aparecem juntas: “Tudo o que tinha fôlego de espírito de vida em seus narizes [nishamat-ruach] da vida” (Gn 7:22). Existe uma forte ligação entre o fôlego e o espírito e a isso podemos acrescentar a palavra vida.

[9] Novamente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo estavam todos envolvidos na ressurreição. Veja também: João 10:18; Romanos 10:11.

[10] O Unigênito é um título exclusivo do Filho de Deus e não deve ser confundido com o fato de sermos gerado por Deus. Traduções que omitem a palavra unigênito de versículos, tais como: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho” (Jo 3:16 ESV), falham em reconhecer seu significado. O unigênito não é uma questão de singularidade, mas de posição e caráter: “Abraão... ofereceu o seu unigênito (Hb 11:17). Isaque não era o único filho de Abraão, mas era o filho da promessa.

[11] A vida eterna é encontrada no Velho Testamento, mas lá é uma condição milenar e se relaciona com a condição física da vida aqui na Terra (Sl 133:3; Dn 12:2).

[12] Todos têm uma existência que nunca termina – tanto os ímpios quanto os redimidos. Há uma grande diferença, entretanto, quanto ao destino das duas classes: “E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna”. (Mt 25:46).

[13] Novamente, Palin significa gênese: origem, começo etc.

[14] Observe: a palavra não aparece na Septuaginta. Josefo (Antiquities of the Jews xi. 3, 9) a usa para a restauração da nação judaica após o exílio babilônico.

[15] As epístolas a Timóteo, por outro lado, abordam a ordem interna da casa de Deus (1 Tm 3:15). Nenhuma, no entanto, deve ser interpretada rigidamente dentro desses contextos (por exemplo, 1 Tm 3:7).

[16] Obviamente, no contexto do Velho Testamento, a salvação de Israel veio de circunstâncias temporais e certamente não era eterna.

[17] Embora apenas os pais sejam mencionados em Coríntios, eles eram responsáveis ​​por suas famílias. Moisés insistiu em que os pequeninos não podiam e não seriam deixados para trás (Êx 10:8-11).

[18] Aqueles que ensinam essa distinção entre o pecado original e o pecado real; o batismo não nos dá remissão de nenhum dos dois.

[19] Isso não é a mesma coisa que estar nos lugares celestiais com Cristo – que é algo que esperamos ansiosamente.

[20] Um clérigo anglicano, autor e redator de hinos, 1725–1807. Talvez mais conhecido como o autor do hino “Amazing Grace”.

[21] John Newton viu as Escrituras através das lentes da Teologia da Reforma: Comecei a entender a segurança da aliança da graça (pág. 115). As Escrituras não falam de tal aliança – este é um dispositivo inventado para explicar várias doutrinas. Este sistema ensina que há uma renovação da natureza decaída. O fato de que temos uma nova natureza inteiramente distinta da antiga não foi compreendido.

[22] Algumas edições usam o título “Life Through Death



 

[i] J. N. Darby, Synopsis of the Books of the Bible, John 20

[ii] John Newton, Out of the Depths, pg. 83

[iii] John Newton, Out of the Depths, pp. 113-114

[iv] J. N. Darby, Notes and Jottings, pg. 11

[v] J. N. Darby, Practical Reflections on the Psalms, Psalm 63

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