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Revista mensal publicada originalmente em outubro/2009 pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
Tema da edição
J. T. Armet
A. Miller
Things New and Old, 18:104
H. Smith (adaptado)
J. N. Darby, adaptado de Collected Writings, 16:234
J. A. Trench (adaptado)
C. H. Mackintosh, adaptado
J. W. T.
Devoção

A devoção é algo muito mais profundo e, ao mesmo tempo, muito mais simples do que muitos supõem. Muitos pensam que, se estiverem sinceramente engajados na obra do Senhor e buscando n’Ele orientação e bênção, isso é ser devotado, mas devoção é muito mais do que isso. É ter o próprio Cristo como o deleite e recurso do meu coração e ter a minha mente inclinada para Ele. O serviço mais elevado que podemos prestar ao Senhor é servir Seu coração. Precisamos estar ocupados com Cristo, com o intuito de nos familiarizarmos mais com Seu caráter, precisamos estar estudando-O, para que possamos aprender o que Lhe agrada. Muitos, como Marta, estão ocupados para Cristo; poucos, como Maria, estão ocupados com Ele.
O poder constrangedor de Seu amor em nós é a pedra fundamental da verdadeira devoção. Aos Seus pés é o lugar onde o servo retorna para acampar e de onde ele sai para servir, renovado com o próprio Senhor e com o gozo de Sua presença. O caminho do Senhor com Seus discípulos nos dá o padrão da devoção e do serviço. “E nomeou doze para que estivessem com Ele e os mandasse a pregar” (Mc 3:14). “E, regressando os apóstolos, contaram-Lhe tudo o que tinham feito. E, tomando-os Consigo, retirou-Se para um lugar deserto” (Lc 9:10).
Things New and Old 17:309 (adaptado)
Tema da Edição
As Peles de Carneiros Tintas de Vermelho
A cobertura do tabernáculo de “peles de carneiros tintas de vermelho” fala de consagração. Quando lembramos que o carneiro era o animal usado em conexão com a consagração dos sacerdotes e que essa consagração era marcada pela devoção, podemos ver facilmente como essa cobertura apontaria para a devoção de Cristo a Deus. As peles tingidas de vermelho falam de Sua devoção até a morte. Nenhum número de sua medida é fornecido com essa cobertura, como acontece com as outras, pois a devoção de Cristo, em Sua consagração a Deus, era sem medida.
Se as cortinas de pele de carneiros falam da devoção de Cristo em Sua consagração a Deus, a vida do Cristão também deve ser caracterizada pela devoção a Ele. Que sigamos a exortação: “Apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12:1).
J. T. Armet
Devoção
“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12:1).
A verdadeira devoção Cristã flui evidentemente da devota consideração das misericórdias ou compaixões de Deus para com o pobre e enjeitado pecador. O apóstolo apela ao coração dos irmãos como aqueles que felizmente conheciam as riquezas da misericórdia divina para com almas perdidas e arruinadas. O efeito de meditar sobre esse aspecto do caráter de Deus é a transformação à Sua imagem e a devoção à Sua glória, como nosso culto santo, agradável e racional. Bendito e precioso privilégio! E essa santa imitação do caráter divino, importa observar, não é o resultado de nossos próprios esforços, mas flui naturalmente da bendita verdade de que somos feitos participantes da natureza divina, conforme ensinado mais plenamente pelo apóstolo em outro lugar. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo vos amou e Se entregou a Si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave”.
Aqui, faça uma pausa por um momento e medite profundamente; o assunto é vasto e muito prático. Falando em devoção, santidade, consagração, qual é o seu padrão? São suas próprias possíveis conquistas por meio de incansáveis vigílias, jejuns, diligências ou o quê? O “eu”, de mil maneiras, pode ser aquilo que governa você, mas errado em todas elas. Será que Deus poderia apresentar a Seus filhos um objeto inferior ou menor do que Ele mesmo, como moralmente demonstrado na Pessoa e obra de Seu Filho amado? Impossível! “Desonraria a Ele mesmo e a graça que Ele nos mostrou, e seria a perda mais grave para Seus amados filhos, a quem Ele quer/deseja exercitar e abençoar ainda mais e mais, mesmo neste cenário de maldade e dor, transformando as circunstâncias mais adversas em uma ocasião de nos ensinar o que Ele é nas profundezas de Sua graça e nos enchendo com o senso dela, de modo a formar nosso coração e moldar nossos caminhos... Nem a lei nem mesmo a promessa jamais abriram um campo como esse. O próprio chamado para imitar a Deus pressupõe a graça perfeita na qual estamos; na verdade, seria insuportável se fosse diferente” (W. Kelly).
A. Miller
O Verdadeiro Cristão Devoto
O padrão
Uma palavra de inspirada autoridade resolve para sempre toda a questão para a fé: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados”. Este é o padrão e a medida da devoção. Sendo filhos de Deus, somos participantes da Sua natureza, e nunca devemos admitir um padrão inferior à natureza da qual somos participantes. Deus Se manifestou em Cristo Jesus, a expressa imagem de Sua Pessoa. É n'Ele que vemos nossa nova natureza apresentada em toda sua perfeição e plenitude, mas n'Ele como Homem, e como ela deve ser desenvolvida em nós aqui embaixo, nas circunstâncias pelas quais estamos passando.
É realmente humilhante pensar que respondemos tão pouco ao chamado de Deus para sermos imitadores d'Ele como Seus filhos. Mas Ele nos deu um Objeto no qual Ele Se manifesta para dirigir e atrair nosso coração para segui-Lo, e esse Objeto nós conhecemos como Aquele que nos ama e Se entregou por nós, e o único Objeto que o Cristão deveria ter. “Existe um sentido”, disse alguém, “no qual Deus é, moralmente, a medida de outros seres – uma consideração que traz à tona o imenso privilégio do filho de Deus. É o efeito da graça, em que, ao nascer d'Ele e participar da Sua natureza, o filho de Deus é chamado a ser um imitador de Deus, a ser perfeito como seu Pai é perfeito. Ele nos faz participantes da Sua santidade; consequentemente, somos chamados a ser imitadores de Deus, como Seus filhos amados. Isso mostra o imenso privilégio da graça. É o amor de Deus em meio ao mal, e o qual, superior a todo mal, anda em santidade e se regozija, também, juntamente, de maneira divina, na unidade das mesmas alegrias e dos mesmos sentimentos” (J. N. Darby).
Things New and Old, 18:104
“Uma Coisa”
“Falta-te uma coisa” (Mc 10:21).
Na história do jovem rico, duas verdades se apresentam de forma proeminente diante de nós. Primeiro, aprendemos que, de muitas maneiras, nossa vida pode ser excelente, e mesmo assim ainda faltar “uma coisa”. Segundo, descobrimos que essa “uma coisa” é a devoção de um coração só para Cristo.
De todas as diferentes pessoas que entraram em contato com nosso Senhor em Seu curso terrenal, talvez nenhum tenha um fim mais triste do que o desse jovem rico. Havia tanta coisa no início de sua história que prometia um futuro brilhante como discípulo de Cristo; no entanto, no final, lemos que ele “retirou-se triste”. Até onde temos registro nas Escrituras, ele nunca mais é encontrado na companhia de Cristo e dos Seus. Portanto, mesmo que no fundo ele fosse um crente, ele perdeu a bênção da companhia de Cristo no meio de Seu povo e falhou como um testemunho para Cristo no mundo.
As boas qualidades
Esse jovem era marcado por muitas excelências da criatura e muita beleza moral. Ele era um jovem fervoroso, pois lemos que ele veio “correndo” para o Senhor. Ele era reverente, pois “se ajoelhou” em Sua presença. Ele tinha um desejo por bênçãos espirituais, como a vida eterna. Sua vida exterior era irrepreensível, pois ele visivelmente observava a lei desde a juventude. Todas essas qualidades, em seu lugar, são belas e atraentes, e o Senhor não foi indiferente a essas excelências, pois lemos: “E Jesus, olhando para ele, o amou”. No entanto, com todas essas excelências, o Senhor discerniu que faltava “uma coisa”.
Três testes
Para manifestar aquela “uma coisa” que faltava na vida dele, o Senhor aplica três testes. Assim como o rapaz, também podemos estar vivendo uma vida exteriormente decente e irrepreensível, e ainda assim nosso testemunho de Cristo ser marcado pela falta de “uma coisa”. Será bom, portanto, provar a nós mesmos pelos três testes que o Senhor coloca diante do jovem.
· Primeiro, ele foi testado por suas posses terrenais.
· Segundo, ele foi testado pela cruz.
· Terceiro, ele foi testado por uma Pessoa – o Cristo rejeitado.
Havia algo que lhe foi pedido para renunciar, algo para tomar e alguém para seguir.
O primeiro teste são as posses terrenais. Tomando-as no sentido mais amplo como todas aquelas coisas que seriam uma vantagem para nós enquanto vivemos no mundo, podemos perguntar: “Já pesamos todas essas coisas à luz de Cristo e as consideramos como perda por causa de Cristo?” Já calculamos as vantagens que o nascimento pode conferir, a facilidade e os prazeres mundanos que as riquezas podem proporcionar, a posição, a honra e as dignidades que o intelecto, o gênio ou as realizações podem garantir? Então, sem minimizar essas coisas, já olhamos diretamente para o rosto de Jesus – Aquele que é totalmente desejável – e, vendo que Ele é incomparavelmente maior do que todas essas coisas, já fizemos, no poder da afeição por Cristo, deliberadamente a escolha de que Cristo será nosso grande Objeto, e não essas coisas?
O segundo teste é a cruz. O Senhor diz ao jovem: “toma a cruz” (ACF). Estamos preparados para aceitar o lugar em relação ao mundo em que a cruz nos colocou diante de Deus? Paulo pôde dizer: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo” (Gl 6:14). A cruz está entre nós e os nossos pecados, o velho homem e o julgamento, mas será que também vimos que ela está entre nós e o mundo? Se tomarmos a cruz, não apenas o mundo estará condenado para nós, mas seremos totalmente recusados pelo mundo.
O terceiro teste é um Cristo rejeitado, pois o Senhor disse ao rapaz: “Segue-Me”. Estamos preparados para nos identificarmos com Aquele que é odiado e rejeitado pelo mundo; Aquele que nasceu em um estábulo e foi embalado em uma manjedoura, que, em Sua passagem por este mundo, não tinha onde reclinar a cabeça, que morreu de forma infame, morte sobre uma cruz de vergonha, e foi sepultado em um túmulo emprestado; Aquele que em ressurreição ainda se encontrava na companhia de alguns pobres pescadores; Aquele que estava e ainda está fora no lugar de reprovação? Estamos preparados para sair a Ele fora do arraial, levando Seu vitupério?
Assim, os testes naquele dia, como também hoje, são: Podemos renunciar às vantagens terrenais, tomar um lugar fora do mundo e seguir a Cristo, Aquele que é rejeitado? Esses testes chegam até nós como chegaram ao jovem, e a pergunta para cada um é: Que resposta devemos dar?
Como Demas ou Pedro
Podemos responder a esses testes de duas maneiras. Primeiro, como o jovem a respeito de quem lemos, que “retirou-se triste”, podemos voltar às coisas da Terra. Ele não se afastou com raiva ou ódio de Cristo. Ele não tinha nada contra Cristo, mas o mundo era forte demais para ele. Como Demas de um dia posterior, ele amou o presente século. Segundo, podemos dar uma resposta como Pedro e os discípulos, sobre quem aprendemos que deixaram tudo e seguiram a Cristo (v. 28).
Devoção a Cristo
Aquela “uma coisa” que faltava ao jovem era devoção de um coração só para Cristo. Então ele “retirou-se”. Os discípulos, com toda sua ignorância, fraqueza e muitas falhas, foram atraídos a Cristo com afeição e, assim, deixaram tudo para segui-Lo.
Quantas vezes desde aquele dia a história desse jovem se repetiu! Existe algo mais triste do que olhar para trás e lembrar quantos jovens começaram bem e pareciam ter um futuro promissor, mas onde estão hoje? Apesar de excelências como seriedade, sinceridade e zelo, eles voltaram atrás, se não para o mundo grosseiro, para o corrupto mundo religioso, e a razão é clara: Faltava-lhes “uma coisa” – a devoção de um coração só para Cristo, aquela que coloca Cristo diante da alma como o primeiro e supremo Objeto da vida. Pode ser que eles tenham colocado a si próprios antes de Cristo, ou a necessidade de almas antes de Cristo, ou o bem dos santos antes de Cristo, ou o serviço antes de Cristo, com o resultado de que, no final, eles voltaram para as coisas da Terra. Não há poder suficiente, no amor pelas almas, no amor pelos santos ou no desejo de servir, para manter os pés no caminho estreito. Somente o próprio Cristo pode nos manter fora no lugar de reprovação, seguindo-O de perto.
H. Smith (adaptado)
Devoção Cristã
Se há uma coisa que é importante agora, é a devoção Cristã. Não a separo da doutrina Cristã, mas a fundamento nela; certamente não a separo da presença e do poder do Espírito (uma das mais importantes dessas doutrinas), pois ela é produzida por isso. Mas creio ser da maior importância para os próprios santos e para o testemunho de Deus a devoção Cristã fundamentada na verdade e produzida pelo poder do Espírito. Creio certamente que a doutrina é de profunda importância agora: a clareza quanto à redenção; a paz que pertence ao Cristão por meio da justiça divina; a presença e o vivo poder do Consolador enviado do céu; a segura e bendita esperança da vinda de Cristo novamente para nos receber para Si para que onde Ele estiver estejamos nós também, de que seremos semelhantes a Ele vendo-O como Ele é e de que, se morrermos, estaremos presentes com Ele; o conhecimento de que, ressuscitados com Ele, seremos abençoados não somente por meio de Cristo, mas com Cristo, e a profunda e prática identificação com Ele, por estarmos unidos a Ele pelo Espírito Santo. Todas essas coisas, e muitas coisas relacionadas a elas, mantidas no poder do Espírito Santo, nos separam do mundo, abrigam a alma, pela possessão espiritual de Cristo glorificado, pela possessão consciente de Cristo, das objeções da infidelidade atual e dão uma fonte viva para a alegria e esperança de toda a vida Cristã. Mas a expressão do poder dessas coisas no coração se manifestará em devoção.
O Cristianismo exerceu uma poderosa influência sobre o mundo, mesmo onde ele é abertamente rejeitado, bem como onde é professamente recebido. Cuidar dos pobres e suprir necessidades temporais tornaram-se deveres reconhecidos da sociedade. E, onde a verdade não é conhecida e o Cristianismo está corrompido, a devoção diligente a isso, com base no falso mérito, é amplamente usada para propagar essa corrupção. E, mesmo onde prevalece a infidelidade, os hábitos de sentimento, produzidos pelo Cristianismo, prevalecem, e o homem se torna objeto de cuidados diligentes, embora muitas vezes pervertidos. O testemunho do verdadeiro santo certamente não deveria faltar onde a falsidade imita os bons efeitos da verdade. Mas existem motivos mais elevados do que esses, e é do verdadeiro caráter da devoção que eu quero falar.
Motivo e mérito
Quanto ao galardão, como motivo ou mérito, é claro que tal pensamento destrói toda a verdade da devoção, porque não há amor nisto. É o “eu”, buscando, como “Tiago e João”, um bom lugar no reino. O galardão existe na Escritura, mas é usado para nos encorajar nas dificuldades e perigos em que motivos mais elevados e mais verdadeiros nos colocam. Assim o próprio Cristo, “o Qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta”. No entanto, sabemos bem que Seu motivo era o amor. Assim Moisés “ficou firme, como quem vê Aquele que é invisível” (AIBB), “porque tinha em vista a recompensa”. Sua motivação era cuidar de seus irmãos. Portanto, o galardão é sempre usado, e é uma grande misericórdia dessa maneira. E cada um recebe seu galardão segundo seu próprio trabalho.
A fonte e o manancial
O manancial e fonte de toda devoção verdadeira é o amor divino preenchendo e operando em nosso coração, como Paulo diz, “O amor de Cristo nos constrange”. Sua forma e caráter devem ser extraídos das ações de Cristo. Portanto, a graça precisa primeiro ser conhecida pela pessoa, pois é assim que eu conheço o amor. Assim é que esse amor é derramado no coração. Aprendemos o amor divino na redenção divina. Essa redenção nos coloca também em justiça divina diante de Deus. Assim, toda questão de mérito, de justiça própria, é excluída, e o interesse pessoal em nossa obra é deixado de lado. “A graça”, nós aprendemos, reina “pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo”. O infinito e perfeito amor de Deus nos permite desfrutar agora do amor divino. Falo de tudo isso agora em vista do amor assim mostrado. Isso entrelaça nosso coração a Cristo, levando-o a Deus n’Ele, trazendo Deus n'Ele a nós. Dizemos que nada nos separa desse amor.
A ordem dos efeitos
O primeiro efeito é elevar o coração, assim santificando-o: nós bendizemos a Deus, adoramos a Deus, assim conhecido; nosso deleite está em Jesus. Mas, estando assim próximo a Deus e em comunhão com Ele, o amor divino entra e flui em nosso coração. Somos animados por ele ao desfrutá-lo. É o amor de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor; não menos Deus, mas Deus revelado em Cristo, pois ali aprendemos o amor. Assim, em toda verdadeira devoção, Cristo é o objeto principal e governante; depois “os Seus” que estão no mundo; e então nossos semelhantes. Primeiro a alma deles, depois o corpo, e todas as necessidades em que se encontram. A vida de bondade d’Ele para com o homem governa a nossa, mas Sua morte governa o coração. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a Sua vida por nós”. “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se Um morreu por todos, logo, todos morreram. E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou”.
Devemos observar também que toda ideia de mérito e justiça própria é totalmente excluída; portanto, é uma nova vida em nós que desfruta de Deus e para a qual Seu amor é precioso. Não é a benevolência da natureza, mas a atividade do amor divino no novo homem. Sua genuinidade é assim testada, porque Cristo tem necessariamente o primeiro lugar com essa natureza, e sua atuação está naquela avaliação do certo e do errado que somente o novo homem possui e da qual Cristo é a medida e o motivo.
Mas é mais do que uma nova natureza. Nosso corpo é o templo do Espírito Santo, e o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado. E, assim como em nós é como uma fonte a jorrar para a vida eterna, assim também rios de água viva fluem de nós pelo Espírito Santo que recebemos. Toda devoção verdadeira, então, é a ação do amor divino nos remidos, pelo Espírito Santo dado a eles.
Benevolência natural
Pode haver um zelo que percorra terra e mar, mas é no interesse de um preconceito ou é a obra de Satanás. Pode haver uma benevolência natural revestida de um nome mais nobre, mas que se irrita se não for aceita por si só. Pode haver um senso de obrigação e atividade legalista, que, pela graça, podem levar mais longe, embora seja a pressão da consciência, não a atividade do amor. A atividade do amor não destrói o senso de obrigação do santo, mas altera todo o caráter de sua obra. “Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”. Em Deus, o amor é ativo, mas soberano; já nos santos ele é ativo, mas é um dever, por causa da graça. Ele deve ser livre para ter o caráter divino de ser amor. No entanto, devemos tudo e mais do que tudo Àquele que nos amou. O Espírito de Deus que habita em nós é um Espírito de adoção e, portanto, de liberdade com Deus, mas fixa o coração no amor de Deus de uma maneira que constrange. Todo sentimento correto em uma criatura deve ter um objeto e, para ser correto, esse objeto deve ser Deus, e Deus revelado em Cristo como o Pai, pois é assim que Deus possui nossas almas.
Uma entrega de amor a Deus
O que se supõe aqui não é uma lei contendendo ou barrando uma vontade que busca seu próprio prazer, mas a entrega bem-aventurada e agradecida de nós mesmos ao amor do bendito Filho de Deus, e um coração entrando nesse amor e em seu objeto por meio de uma vida que flui de Cristo e do poder do Espírito Santo. Portanto, é uma lei de liberdade. O coração se move na esfera em que Cristo Se move. Ama os irmãos, pois Cristo os ama, e todos os santos, porque Ele os ama. Ele busca por todos por quem Cristo morreu, mas sabendo que somente a graça pode trazer qualquer um deles; tudo suporta “por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna”; procura apresentar “todo homem perfeito em Jesus Cristo”; deseja ver os santos crescerem até a estatura d'Aquele que é a Cabeça em todas as coisas e andarem dignos do Senhor; deseja ver a Igreja apresentada como uma virgem pura a Cristo. Permanece em seu amor, ainda que, quanto mais abundantemente ame, menos seja amado. Está pronto para suportar dificuldades como um bom soldado de Jesus Cristo.
O fator governante
Um motivo governante caracteriza todo o nosso andar: tudo é julgado por ele. Um homem que vive de prazeres joga dinheiro fora; o mesmo acontece com um homem ambicioso. Eles julgam o valor das coisas pelo prazer e pelo poder. Já o homem avarento pensa que o caminho desses é loucura, e julga todas as coisas por sua tendência de enriquecer. O Cristão julga tudo por Cristo. Se algo impede Sua glória na própria pessoa ou em outra, é lançado fora. Não é julgado como sacrifício, mas lançado fora como um obstáculo. Tudo é escória e esterco pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, nosso Senhor. Lançar fora a escória não é nenhum grande sacrifício. Quão abençoado é o “eu” desaparecer aqui! “O que para mim era ganho” desapareceu. Que libertação isso é! Indizivelmente preciosa para nós mesmos e que nos eleva moralmente! Cristo deu a Si mesmo. Temos o privilégio de esquecer o “eu” e viver para Cristo. Nosso serviço em graça será recompensado, mas o amor tem suas próprias alegrias em servir em amor. O “eu” gosta de ser servido. O amor se deleita em servir. Assim vemos em Cristo, na Terra, agora; quando estivermos em glória, Ele Se cinge e nos serve. E não devemos nós, se tivermos o privilégio, imitar, servir, nos entregarmos a Ele, que tanto nos ama? Viver para Deus interiormente é o único meio possível de viver para Ele exteriormente. Toda atividade exterior que não seja movida e governada por isso é carnal e até mesmo um perigo para a alma, pois tende a nos fazer dispensar Cristo e introduzir o “eu”. Isso não é devoção, pois devoção é devoção a Cristo, e ela está necessariamente em procurar estar com Ele. Eu temo grande atividade sem grande comunhão, mas acredito que o coração, quando está com Cristo, viverá para Ele.
A forma de devoção, de atividade exterior, será governada pela vontade de Deus e pela competência de servir, pois a devoção é algo humilde e santo, fazendo a vontade de seu Mestre, mas o espírito de serviço indiviso a Cristo é a verdadeira porção de todo Cristão. Queremos sabedoria; Deus a dá liberalmente. Cristo é nossa verdadeira sabedoria. Queremos poder; nós o aprendemos em dependência d’Aquele que nos fortalece. Devoção é um espírito dependente, como também humilde. Assim foi em Cristo. Ela espera no seu Senhor. Tem coragem e confiança no caminho da vontade de Deus, porque se apoia na força divina em Cristo. Ele pode fazer todas as coisas. Por isso, ela é paciente e faz o que tem que fazer de acordo com Sua vontade e Palavra, pois então Ele pode operar, e Ele faz tudo o que é bom.
Oposição e rejeição
Há um outro lado disso que precisamos considerar. O simples fato de prestar um serviço indiviso em amor é somente gozo e bênção. Mas estamos em um mundo onde isso sofrerá oposição e rejeição, e o coração naturalmente procuraria preservar a si próprio. Isso foi o que Pedro apresentou a Cristo e Cristo tratou como sendo Satanás. Descobriremos que a carne instintivamente recua diante do fato e do efeito da devoção a Cristo, porque significa renunciar o “eu” e traz sobre nós reprovação, abandono e oposição. Temos que tomar nossa cruz para seguir a Cristo, não voltar para nos despedir daqueles que estão à vontade na casa. Se dissermos que ainda é nossa casa, seremos, na melhor das hipóteses, um “João Marcos” na obra. E descobriremos que sempre haverá então um “deixa-me ir primeiro” (TB)! Se houver qualquer coisa que não seja Cristo, ela se colocará à frente de Cristo, e não será devoção a Ele com olho simples. Mas isso é algo difícil para o coração, que não haja interesse próprio, nem preservação própria, nem satisfação própria! No entanto, nenhuma dessas coisas é devoção a Cristo e aos outros, mas exatamente o oposto. Portanto, se quisermos viver para Cristo, devemos nos considerar mortos, e vivos para Deus por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Obediência
O amor tem um outro caráter: qualquer que seja sua devoção e atividade, ele é obediência. Não pode haver uma vontade justa em uma criatura, pois justiça em uma criatura é obediência. Adão caiu, tendo uma vontade independente de Deus. Cristo veio para fazer a vontade d'Aquele que O enviou, e, em Sua mais elevada devoção, Seu caminho era o da obediência. “Se aproxima o príncipe deste mundo e nada tem em Mim. Mas é para que o mundo saiba que Eu amo o Pai e que faço como o Pai Me mandou”. Isso tanto dirige em devoção como nos mantém tranquilos e humildes.
Nossa conclusão, então, é uma devoção simples, indivisa a Cristo; Cristo, o único Objeto, quaisquer que sejam os deveres aos quais esse motivo possa levar à fidelidade; não conformidade com o mundo que O rejeitou; uma brilhante esperança celestial conectando-se com Cristo em glória, que virá e nos receberá para Si mesmo e nos fará semelhantes a Ele, para que sejamos como homens que esperam por seu Senhor; Seu amor nos constrangendo, em todas as coisas se importando com o que Ele Se importa, Cristo crucificado e Cristo diante de nós como nossa esperança, os centros em torno dos quais toda a nossa vida gira.
J. N. Darby, adaptado de Collected Writings, 16:234
“A Mim Nem Sempre Me Tendes”
“O segredo do SENHOR é para os que O temem”. Não haveria nenhum testemunho desse mais profundo caráter de Sua glória? Sua graça havia preparado um vaso adequado para isso, em alguém que, de coração, entrou no verdadeiro caráter do que estava acontecendo. Era Maria – aquela que havia aprendido a conhecê-Lo como ninguém mais parecia tê-Lo conhecido nos Evangelhos. O coração dela antecipa o que estava mais profundo em Seu coração, mesmo antes de este encontrar expressão em Suas palavras. O segredo do Senhor estava com Maria, como com todos os que O temem, e assim, com a inteligência adequada do momento, ela “tomando uma libra de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-Lhe os pés com os seus cabelos”. “Para cheirar são bons os Teus unguentos; como unguento derramado é o Teu nome”. Assim foi naquele dia: “e encheu-se a casa do cheiro do unguento”.
A estima do Senhor de sua devoção
Mas o que é tão precioso aqui é a maneira como nosso Senhor expressa Sua estima pelo ato de devoção dela, em contraste com os pensamentos de Seus pobres discípulos, que nada entendiam. “E os Seus discípulos, vendo isso, indignaram-se, dizendo: Por que este desperdício?” Judas acrescentou: “Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros, e não se deu aos pobres?” Então Jesus disse: “Deixai-a; para o dia da Minha sepultura guardou isto. Porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a Mim nem sempre Me tendes”. Ele não receberá mais o unguento de nossas mãos; Ele passou para além do alcance de tal ato, embora não além da expressão de nosso amor. No entanto, há um sentido em que os Seus O terão para sempre e de uma maneira mais bendita do que eles O tinham enquanto Ele ainda estava com eles na Terra. A porção que Maria escolheu por Sua graça sabemos que nunca será tirada dela. Ainda assim, há uma maneira como O temos agora, neste dia de Sua rejeição, que nunca O teremos em glória. Há uma comunhão em Seus sofrimentos, mais íntima e mais doce, se é que é possível, do que a comunhão em Sua glória. E se perdêssemos isso? É isso que afeta meu coração. Se Maria tivesse falhado em aproveitar aquela última noite, para prestar o testemunho adorador de amor à Sua preciosidade, ela nunca poderia reparar isso por toda a eternidade. Quão perfeitamente adequado ao momento foi aquele testemunho da perfeita fragrância de Sua morte diante de Deus, a Quem os homens consideravam merecedor apenas da cruz de um malfeitor! Ela veio de antemão para ungi-Lo para Seu sepultamento, e quão rapidamente a oportunidade teria sido perdida para sempre! Não é que o amor não encontrará maneiras adequadas de expressar-se a Ele na glória eterna, mas não será da maneira como Ele procura agora, e Ele perde, se faltar.
O despertar do amor
Será que não foi para conquistar nosso coração para Si mesmo que Ele morreu e ressuscitou? Em Lucas 7, Ele descreve cada uma das provas do amor da mulher pecadora, pois o amor dela era precioso para Ele. Podemos nós, como Seus perdoados, ser conhecidos em um mundo frio e sem coração tão claramente quanto ela – pelo amor que procura derramar sua expressão nesse precioso Objeto? “Aquele a quem pouco é perdoado pouco ama”. Não que a ação dessa querida mulher em Lucas 7 deva ser confundida com a de Maria de Betânia, um tanto semelhante exteriormente, como se fosse da mesma ordem de inteligência. Mas ambas eram a expressão do amor, de verdadeiro apego dedicado à Pessoa do Senhor Jesus, cada uma em seu próprio lugar e medida. A primeira foi o despertar inicial do amor, como quando Ele primeiro atrai o coração para Si por toda a Sua bendita graça; a segunda foi o fruto da experiência profundamente provada do que Ele é em Si mesmo.
Talvez perguntemos: “Como podemos saber o que Lhe convém agora?” Ah! O amor descobre, porque estuda seu objeto, como Maria fez, sentada aos pés de Jesus. Assim ela ganhou a inteligência instintiva com a qual agiu. A posse da inteligência da mente e da vontade do Senhor é a primícia e a prova do amor, e o amor precisa ser guiado pela inteligência que ele assim obtém, a fim de se expressar de maneira aceitável ao Senhor. Maria Madalena precisava disso quando pensou em levar o corpo morto do Senhor. Mas ela O amava, e isso a deteve no lugar onde ela adquiriu a inteligência da mais rica maneira. Além disso, o amor tem seu próprio modo de se expressar, que nenhuma mera inteligência poderia imitar. Mas quantos são os inumeráveis detalhes em que esse princípio entra, o amor encontrando sua alegre liberdade somente em realizar Sua vontade sob Seus olhos, em cada aspecto da vida, o amor conferindo seu caráter peculiar e sua aceitação à obediência.
Nossa estima por Ele
A própria maneira como O temos agora, na presença do mundo que O expulsou, oferece constantes oportunidades para que nosso amor se expresse. Na glória, não haverá “eu” para negar, nenhuma cruz para tomar, nenhum mundo para recusar, nenhum rompimento dos laços mais queridos de parentesco, nenhum julgamento equivocado por parte de outros crentes para enfrentar, nenhuma perda de qualquer tipo para sofrer por amor a Ele. Todos os corações fluirão juntos para Ele ali. Agora, essas coisas testam nossa estima por Ele e oferecem o privilégio de provar o que é a excelência do conhecimento de Cristo Jesus, nosso Senhor, para nossa alma.
Infelizmente, na vil traição do nosso coração, é muito fácil escapar de tudo isso. Se você seguir a profissão comum de Seu nome, usar da segurança que a infinita e soberana graça lhe deu do juízo vindouro para se estabelecer e ficar à vontade no mundo que O rejeitou, fizer o bem aos homens, como com o unguento vendido por tanto e dado aos pobres, essas coisas conquistarão para o Cristão o favor e a estima do mundo, e o vitupério de Cristo será desconhecido. Mas com que incalculável perda Suas comoventes palavras nos lembram: “A Mim nem sempre Me tendes”.
Nossa oportunidade
Quando a glória chegar, “os Seus servos O servirão”, perfeitamente então, tão certamente quanto veremos “o Seu rosto”, o amor encontrando novas maneiras de se expressar ao seu Objeto na glória; mas, se Ele viesse hoje à noite para nos levar para ela, nunca mais Ele nos chamaria para sairmos a Ele fora do arraial, levando Seu vitupério; Ele nunca mais pediria: “fazei isto em memória de Mim”, conduzindo nosso coração a anunciar Sua morte; nunca mais esperaria ou receberia, das afeições nupciais da Noiva formadas pelo Espírito, o clamor que Lhe diz “Vem”; nunca mais esperaria que estivéssemos identificados com Seus interesses na Igreja e com Seu testemunho para o mundo. Tudo isso e muito mais teria terminado para sempre e a oportunidade teria passado, se a perdermos agora. “A Mim nem sempre Me tendes”.
Oh! Que conheçamos o poder dessas palavras para despertar nossa alma a mais devoção que aproveitará ao máximo os dias conforme eles vêm, e que tão rapidamente passam, e que nunca mais serão recuperados! Oh! Que sejamos encontrados para Ele, diante de tudo, considerando qualquer coisa em que experimentemos a comunhão de Seus sofrimentos o nosso maior ganho e glória presentes.
J. A. Trench (adaptado)
O Poder da Devoção
O poder da devoção inteligente é o entendimento da perfeita purificação de nossa consciência. Muitos não entendem isso e estão tentando alcançar essa purificação, o que é uma completa inversão da ordem de Deus. Temos uma consciência purificada, não por qualquer coisa que fizemos, mas pelo sangue de Jesus. Ele nos colocou no interior do véu. Estamos dentro do Santo do Santos, com uma consciência perfeitamente purificada, não mais tendo “consciência de pecado”. Mais do que isso, o sacerdócio de Cristo entra para me manter na prática onde o sangue de Cristo me colocou, e a advocacia de Cristo me restaura se eu pecar. “Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2:1). “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1:9). No momento em que me julgo quanto ao pecado, tenho o direito de saber que ele se foi.
Que lugar maravilhoso para colocar o crente no início de seu curso – na brilhante luz do semblante de Deus! Mas o que devemos fazer? Descansar ali? Não, mas esse é o fundamento sobre o qual se baseia a superestrutura da devoção prática. O legalismo diz que você precisa se esforçar para alcançar esse lugar de aceitação. O evangelho diz: Cristo me colocou ali. O antinomianismo[1] diz: “Eu já tenho, possuo tudo isso em Cristo”, e aí termina. Mas não! O evangelho me coloca ali para correr a bendita carreira que me está proposta, para me tornar semelhante a Cristo.
[1] N. do T.: Doutrina luterana de João Agrícola (1494-1566) segundo a qual, pela fé e a graça de Deus, anunciadas no Evangelho, os Cristãos são libertados não só da lei de Moisés, mas de todo o legalismo e padrões morais de qualquer cultura.
Cristo fora do arraial
Hebreus 10 me coloca dentro do Santo dos Santos, e Hebreus 13 me leva para fora do arraial. Eu encontro Cristo, no que diz respeito à minha consciência, no “interior do véu”, mas encontro Cristo, no que diz respeito ao meu coração, “fora do arraial”.
Se conheço o conforto que flui por estar no interior do véu, devo buscar me identificar de uma maneira prática com Cristo fora do arraial. Cristo no interior do véu tranquiliza minha consciência; Cristo fora do arraial energiza minha alma para correr de maneira mais devota a corrida que me está proposta. “Porque os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o Santuário [Santos dos Santos – ARA], são queimados fora do arraial. E, por isso, também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13:11-13). Não há dois pontos moralmente mais distantes do que o interior do véu e fora do arraial, e ainda assim ambos são trazidos diante de nós aqui. No interior do véu era o lugar onde a glória de Deus habitava; fora do arraial, era o lugar onde a oferta pelo pecado era queimada. É uma bênção ver Jesus preenchendo tudo o que há entre esses dois pontos. O arraial era o local da profissão ostensiva (em figura, o arraial de Israel; no antítipo, a cidade de Jerusalém). Por que Cristo sofreu fora da porta? A fim de mostrar que estava sendo colocada de lado a mera maquinaria da profissão exterior de Israel.
Podemos ter clareza quanto à obra de Cristo ter sido realizada por nós, mas é tranquilidade de consciência tudo que eu quero? Será constatado que o gozo, a paz e a liberdade que fluem de ouvirmos a voz de Cristo no interior do véu dependem muito de ouvirmos Sua voz fora do arraial. Aqueles que mais sabem o que é sofrer com Ele e suportar Seu vitupério conhecerão mais do gozo com Ele no interior do véu. Nossa conduta precisa ser testada por Cristo. O Espírito Santo será entristecido se o santo seguir um caminho contrário ao que Cristo teria seguido, e então a alma estará emagrecida. Como posso estar desfrutando de Cristo se não estou andando em companhia d'Ele? Onde então está Cristo? “Fora do arraial”. “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13:11-13). Porque Cristo não é do mundo, a medida da nossa separação do mundo é a medida da separação de Cristo. Quando o coração está cheio de Cristo, ele consegue abandonar o mundo; não há dificuldade em fazer isso nesse caso. Simplesmente dizer “Abandone isso” ou “Abandone aquilo” para alguém que ama o mundo de nada adiantará; o que tenho que fazer é procurar ministrar mais de Cristo a essa alma.
C. H. Mackintosh, adaptado
Devoção
Desapareça, cada laço e vínculo terrenal;
Desapareça, afeição, profunda e terna,
De que Cristo não participa;
Tenho eu um vaso de alabastro
Que não está quebrado para o Mestre,
A que meu coração mais rápido se apega?
Ajuda-me a quebrar meu vaso.
Oh! Quebra, seja lá o que for
Que afaste meu coração de Ti,
Que morreu para ganhar meu coração;
Todo outro amor, por mais querido que seja,
Por mais antigo, forte ou próximo que seja,
Do qual Tu não és o tema e a esfera,
É apenas pecado polido.
Todo outro amor deixaria de fluir
Mas o Teu não conhece nenhum frio ou mudança,
Apesar de ser mal correspondido;
A fonte do Teu amor não está em mim
No que sou, ou posso ser;
A profunda, profunda fonte é encontrada em Ti
Ela não pode deixar de arder.
No meu insensível coração imprima
A profundidade e altura de toda a Tua graça,
Para que eu possa Te amar mais;
Possas Tu chamar um verme de Teu tesouro
Possas tu encontrar em mim Teu prazer.
Isso fala de um amor que ninguém pode medir,
Somente reverenciar e adorar!
J. W. T.
Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”
Romanos 12:1
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