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Coração (Setembro de 2021)

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ÍNDICE


J. N. Darby

J. G. Bellett

H. E. Hayhoe

W. J. Prost

P. Wilson

C. H. Mackintosh

W. Kelly

Bible Herald

Bible Treasury

J. L. Erisman

W. T. P. Wolston

A. Trigge

G. C. Willis

G. V. Wigram

S.T. (Poema adaptado)

 

O Coração do Homem Encontrando o Coração de Deus


Há coração suficiente em Jesus para abrir o coração do mais vil pecador. O pecador descobre que tem importância para o coração de Deus quando não consegue encontrar nenhuma no seu próprio. A mulher que era uma pecadora amou muito porque muito lhe foi perdoado. Foi um coração quebrantado que encontrou o coração de Deus, e o coração de Deus encontrou um coração quebrantado. É maravilhoso quando o coração do homem realmente encontra o coração de Deus.


J. N. Darby


Fluxo do Coração


Você precisa estar em dependência presente ao pregar. Não há poder a menos que estejamos recebendo enquanto falamos. O que você precisa é de uma conexão viva com o coração de Deus, e então o que flui do coração de Deus para o seu coração chegará com poder ao coração daqueles para quem você fala.


J. G. Bellett


Incredulidade de Coração


Todo nosso fracasso, seja como pecadores ou santos, é por causa da nossa incredulidade na bondade que está no coração de Deus. A incredulidade quanto à bondade do coração de Deus é a raiz de toda a nossa frieza, descuido e falta de fervor nas coisas de Deus.


H.E. Hayhoe

 

O Coração


Todos estamos familiarizados com a expressão “o coração” e, pelo menos na sociedade ocidental, quase todos nós entendemos o duplo significado que está associado a ela.


O órgão


Em primeiro lugar, podemos pensar no coração em termos médicos, como aquela entidade em nós que bombeia nosso sangue pelo corpo. Como tal, o coração é de fato um órgão maravilhoso, pois precisa continuar batendo para podermos permanecer vivos. Se o coração para de bater e nada é feito para remediar a situação, danos irreversíveis ao corpo ocorrem em menos de cinco minutos, especialmente ao cérebro.


Em uma pessoa normal e saudável, o coração pode bater cerca de 100.000 vezes em um dia de 24 horas, bombeando em média cinco litros por minuto. Durante exercícios vigorosos, esse volume pode aumentar para 10 ou 15 litros por minuto, e mais ainda para quem está em ótimas condições físicas.


O que também é maravilhoso sobre o coração é que ele tem seu próprio marcapasso interno natural, o chamado nodo sinoatrial (ou nó SA). Os impulsos que fazem o coração bater de maneira adequada se originam aqui e são transmitidos para o resto do coração por meio de fibras nervosas. Esses impulsos continuam a ser gerados em uma sequência regular, independente do sistema nervoso central. A velocidade desses impulsos pode ser modificada, é claro, por vários fatores do corpo, sobre os quais não iremos nos estender aqui. Quando eu estava na faculdade de medicina, lembro-me bem de perguntar a um de meus professores o que fazia com que esses impulsos fossem gerados pelo nó SA. A resposta dele foi, “Deus, se você acredita n'Ele”. Respondi que certamente acreditava n'Ele, pois somente Ele poderia criar algo que enviaria impulsos continuamente por toda a vida, para manter o coração funcionando.


Pensamentos e sentimentos


No entanto, como mencionamos, a expressão “o coração” tem outro significado, e é com esse significado que estamos preocupados nesta edição da revista O Cristão. A Palavra de Deus usa o termo “coração” mais de 800 vezes, quase sempre com o significado de “pensamentos e sentimentos”. A expressão é usada pela primeira vez em Gênesis 6:5, onde está registrado que Deus disse: “Toda a imaginação dos pensamentos de seu coração [do homem] era só má continuamente”. O versículo a seguir refere-se ao coração de Deus, onde está registrado que “isso O afligiu [a Deus] no Seu coração” (JND). Se olharmos para as várias referências ao coração na Escritura, veremos que é uma expressão geral para todo o homem interior. Às vezes é mencionado como o centro das afeições e da vontade, enquanto, em outras ocasiões (como no versículo citado de Gênesis 6:5), refere-se ao nosso eu pecaminoso com seus desejos malignos. Quando a Escritura diz: “Se o nosso coração nos condena” (1 Jo 3:20), abrange tanto a consciência quanto as afeições. Quando lemos: “Dá-Me filho Meu, o teu coração” (Pv 23:26), são mais as nossas afeições que estão em vista. Em Jeremias 17:9, lemos que “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” Aqui está o homem em toda a sua pecaminosidade como resultado de sua queda. Quando lemos, “o véu está posto sobre o coração deles” (2 Co 3:15), trata-se de percepção espiritual, ou falta dela. Assim, dentro da estrutura da Palavra de Deus, o coração se refere a todo o exercício moral dentro de nós. A palavra deve, é claro, ser interpretada em certa medida pelo contexto em que for usada.


A mente


Na Escritura, a expressão “a mente” pode por vezes coincidir com “o coração” no seu significado, mas há uma distinção; eles não são termos sinônimos. O coração se refere mais ao centro do desejo e da afeição, enquanto a mente está mais relacionada ao pensamento, à percepção e à razão. Dessa forma, meu coração tende a ir em direção ao que é importante para mim (onde estão minhas afeições), porém eu tenho a capacidade de colocar a minha mente em algo como um ato da minha vontade. Assim, a vontade, ainda que, em certo sentido, seja parte da mente, também controla e direciona a mente de diferentes maneiras. Mas quanto ao coração, nosso Senhor Jesus disse: “Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12:34). Encontramos as duas expressões usadas em conexão com Nabucodonosor: “Seu coração exaltou-se e sua mente endureceu-se em soberba” (Dn 5:20 – KJV). Seu coração se exaltou em soberba, e, como resultado dessa soberba, ele endureceu sua mente contra Deus. Em outros artigos desta edição, procuramos mostrar um pouco do que a Escritura diz sobre o nosso coração e o coração de Deus.


“O coração”


É interessante notar que, mesmo no mundo em geral, a expressão “o coração” ocupa um lugar de destaque em nossa fala cotidiana, e principalmente no âmbito do afeto e do amor. Falamos de alguém que tem um “grande coração” para uma causa em particular, ou de um indivíduo que “coloca todo o seu coração” em algo. Falamos daqueles que estão apaixonados, dizendo, por exemplo, que alguém “roubou o coração dela”. Figuras de coração são usadas para indicar o amor entre pessoas e aparecem com frequência em cartões de Dia dos Namorados e de aniversário.


Com relação à expressão “o coração”, um escritor do New York Times recentemente fez esta observação:


“Para avaliar com precisão uma situação humana, você precisa projetar uma certa qualidade de atenção que seja pessoal, gentil, respeitosa, íntima e afetuosa – mais se comover e se sensibilizar do que simplesmente observar com indiferença. […] Vejo cada vez menos esse tipo de atenção na América, mesmo em meio às tragédias de 2020. Longe de se sensibilizarem uns com os outros, o país inteiro parece ainda mais dividido, mais endurecido e cada vez mais cego para outras vidas que não a nossa própria”.


É triste ver essa tendência nos invadindo, e, certamente, ela não se limita aos Estados Unidos da América. Mas devemos entender que a familiaridade com o coração de Deus no Cristianismo é que trouxe a filantropia e a boa vontade que se têm visto na Cristandade ao longo dos anos e que, consequentemente, se espalhou para o resto do mundo. Mas ao renunciar a Deus e à Sua Palavra, não surpreende que o homem tenha se tornado mais egocêntrico, narcisista e insensível aos sentimentos e sofrimento dos outros.


W. J. Prost

 

Entregar o Coração a Deus:

Uma Perversão do Evangelho


Existe uma história, bastante contada, sobre o chefe indígena norte-americano que buscou obter a salvação oferecendo primeiro seu cobertor e depois sua arma a Deus. Disseram-lhe que presentes como esses não comprariam o favor divino, mas que, se ele quisesse ser salvo, deveria entregar seu coração a Deus.


Bem, isso parece muito certo e bom, mas o autor já se encontrou com pessoas que foram levadas à dúvida e ao legalismo pelo uso dessa mesma frase. Despertados para o senso de sua pecaminosidade e impressionados com a importância de se estar bem com Deus, eles se ajoelham e procuram ardentemente dedicar o coração a Ele. Com uma sensação de alívio por terem feito a “entrega”, eles se levantam, após se ajoelharem, determinados a viver uma vida mais santa no futuro.


Em pouco tempo, porém, eles descobrem, por amarga experiência, que seu coração é tão mau como sempre e que os velhos pensamentos pecaminosos voltam a encher a mente com uma força avassaladora.


Talvez eles pensem que a entrega não foi sincera o bastante; então, com maior fervor do que antes, eles tentam “entregar o coração a Deus” e rogam a Ele para tomá-los e guardá-los. E qual o resultado? Infelizmente, depois que a primeira impressão de alívio e expectativa passa, eles têm de reconhecer novamente sua falta de sucesso e logo concluem que não adianta mais tentar. Então, eles afundam em um estado de alma de dureza e indiferença, e talvez se voltem para as atrações do mundo, lançando-se no turbilhão de prazeres dele, na esperança de amortecer seus sentimentos de decepção.


Para ganhar favor


Falar de entregar o coração a Deus para ganhar o Seu favor é um grande erro, e surge de três causas: (1) uma avaliação errada de seu próprio coração; (2) um uso incorreto da Escritura; (3) uma ideia errada do evangelho.


Observe cuidadosamente como o coração natural é descrito nas seguintes passagens da Escritura:


“Enganoso é o CORAÇÃO, mais do que todas as coisas, e [desesperadamente – KJV] perverso?” (Jr 17:9)


“Porque do CORAÇÃO procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt 15:19).


“E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a Terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu CORAÇÃO era só má continuamente” (Gn 6:5).


Essas três passagens são muito claras e diretas, e não precisam de interpretação. Sem dúvida, elas ensinam que o coração humano – o seu e o meu – é naturalmente cheio de enganos, incuravelmente perverso e a fonte de todo tipo de mal, não apenas às vezes, mas “continuamente”.


Com essa descrição diante de mim, será que devo levar, como presente, ao Deus santo algo que Ele mesmo declara ser desesperado por maldade e que supera todas as coisas em engano? Será que isso irá induzir Aquele que é tão puro de olhos que não pode ver a iniquidade a olhar com favor para mim? Certamente, tal presente, em vez de adquirir a boa vontade de Deus, só poderia suscitar Sua santa condenação e ira.


“Dá-me o teu coração”


“Mas a própria Bíblia não diz: 'Dá-me o teu coração'?”, alguém pode perguntar. Você se refere a Provérbios 23:26, mas você já notou as duas palavras significativas com as quais esse versículo começa? “Filho Meu”, diz, “dá-Me o teu coração” (TB). Estas duas palavras, “filho Meu”, mostram que a pessoa endereçada mantém uma relação conhecida com Aquele que fala. Mas você é realmente Seu filho? E Ele é mesmo seu Pai? Nem todos podem dizer “Sim” a essa pergunta, pois o Novo Testamento deixa bem claro que todos os crentes no Senhor Jesus Cristo, e somente eles, podem afirmar serem filhos de Deus (Ver João 1:12; Gálatas 3:26). Se você, como pecador culpado, confiou no Salvador e recebeu de Suas benditas mãos o perdão de seus pecados, você realmente é um filho de Deus. Nesse caso, a você a exortação: “Dá-Me o teu coração”, aplica-se com toda a força. Você agora não é mais de você mesmo, mas d'Ele, e constrangido pelo amor d’Ele, será sua maior alegria colocar tudo o que você tem à disposição d'Ele – em outras palavras, dar-Lhe o seu coração. E Ele é digno!


Contudo, até que você possa dizer que foi salvo, por Seu amor e poder, do pior dos destinos, você não tem o direito de arrogar para si privilégios familiares enquanto não pertencer ao círculo familiar. Passagens da Escritura como “Dá-Me o teu coração” e “Oferecei-vos a Deus” (ARA) referem-se apenas aos verdadeiros crentes. Aplicá-las a quaisquer outros é fazer um uso errado delas e semear as sementes de uma triste colheita de decepção e desespero.


Mas o mau uso de tais passagens é geralmente o resultado de um entendimento imperfeito do evangelho. As pessoas não são suficientemente cuidadosas para aprender por si mesmas no Livro de Deus qual é a maneira de Deus de abençoar pecadores.


O evangelho dá


Existem dois pontos importantes em conexão com as boas novas. Em primeiro lugar, Deus é revelado no evangelho como um Deus que dá. Ele nem sempre apareceu diante dos homens nesse caráter. No Monte Sinai, Ele falou como um Deus que exige, e foi isso que Ele afirmou. “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo a teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento” (Mt 22:37-38 – ARA).


Mas, infelizmente, entre os milhares da humanidade, não se achou nem um só que O amasse de todo o coração. Se a salvação pudesse ser obtida apenas dessa forma, nenhum pecador jamais teria sido salvo. O dia de exigir, porém, terminou, e o dia de dar tomou o seu lugar. A lei diz: Amarás a Deus; o evangelho diz: Deus ama você. A lei exigia amor e obediência do homem e o amaldiçoava porque ele não os proporcionava. O evangelho pressupõe que o homem é incapaz de atender a qualquer justa reivindicação, e, portanto, nada exige, mas traz consigo todas as bênçãos. Deus agora é revelado como o grande e bom Doador.


O dom de Deus


Se perguntarem: O que causou essa grande mudança? A resposta é logo dada. Além de ser um Deus de incontestável justiça, Ele é um Deus de infinito amor. Ele viu que, a menos que Sua sabedoria elaborasse um plano e a menos que Seu coração fizesse um sacrifício, Ele nunca poderia dirigir-Se aos homens em termos de graça e misericórdia.


Então, em vez de continuar a exigir, Ele deu. E qual foi o dom? O melhor que Ele poderia dar. Ele “amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito”. Para qual propósito? Para que o Filho pudesse atender tão plenamente às justas reivindicações de Deus que Deus não precisasse fazer mais exigências aos homens, mas pudesse dar livremente tudo o que estava em Seu coração para dar. A maldição foi suportada no Calvário pela Vítima sem mácula, adquirindo para Deus o pleno direito de ocupar o lugar de alguém que dá ao invés de demandar.


O lugar de Deus como alguém que dá


“Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” foram as palavras do Senhor Jesus, e, como resultado da obra da cruz, em que Deus foi glorificado, Deus fica com o lugar mais bem-aventurado, e nós temos apenas que ocupar o lugar de gratos recebedores.


“A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida” (Ap 21:6). Essa é a maravilhosa mensagem que agora ressoa descendo do céu para este tenebroso mundo de pecado, e como que para enfatizá-la e torná-la de aplicação ainda mais ampla, o convite é acrescentado: “E quem quiser, tome de graça da água da vida” (Ap 22:17). Marque essas palavras de ouro: “[Eu] darei” e “tome”. Em vez de o pecador dar e Deus tomar, é Deus quem dá e o pecador que toma.


Pensar nisso não faz seu coração saltar de gratidão ao Doador de todo o bem? Você deseja responder, de alguma forma, à Sua graça? Diga então como Davi: “Que darei eu ao SENHOR por todos os benefícios que me tem feito?” E seja sua resposta como a dele: Tomarei o cálice da salvação” (Sl 116:12-13). Simplesmente tomar o que Ele tão livremente oferece seria a melhor maneira de mostrar sua gratidão, e nada poderia agradá-Lo mais do que isso. “[Eu] darei”; “tome”; “tomarei”. Palavras preciosas!


“Graças a Deus por Seu dom inefável” (2 Co 9:15 – ARA).


P. Wilson, Christian Truth, Vol. 13 (adaptado)

 

A Cabeça e o Coração


A [seguinte] pergunta foi feita, com relação as coisas espirituais: “Qual é a diferença entre crer com a cabeça e crer com o coração?”


O termo “crer com a cabeça” é considerado por alguns como algo questionável; no entanto, certamente encontramos na Escritura o que é transmitido por essa expressão. Em João 2, por exemplo, nosso bendito Senhor expõe a mera crença intelectual. “E, estando Ele em Jerusalém pela Páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no Seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque Ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2:23-24). “Muitos creram no Seu nome”, mas o coração deles permaneceu intocado, e a consciência não alcançada. Não havia senso de pecado e nem conversão do coração a Cristo.


Entendimento natural


A mente, ou entendimento natural, estava convencida de que Aquele que operou tais milagres devia ser Deus, mas, embora o entendimento estivesse assim convencido, não havia sujeição de coração a Deus e nenhuma confiança no próprio Cristo. Eles podiam apreciar os milagres que Ele fazia e imaginar que estavam honrando Aquele que os operou. Mas Aquele que sabia “o que havia no homem” não poderia dar crédito a tal profissão de fé, por mais bela que fosse em sua aparência. Pode ter passado como genuína na avaliação do homem, mas Deus olha no coração, e Ele precisa ver a “verdade no íntimo”. A crença deles era mera persuasão humana, fundada, como nosso Senhor sugere, no que havia no homem. A fé que liga a alma a Cristo está fundamentada no testemunho de Deus para Ele. Isso faz toda a diferença.


Mas há uma coisa que marca essa fé meramente humana: ela não produz nenhum movimento na alma em direção a Deus. Não havia dúvida por parte desses judeus quanto ao estado pecaminoso do homem, mas eles não tinham nenhum exercício de consciência quanto ao perdão e à vida eterna. Eles nunca se afastaram de si mesmos e não entenderam que a salvação seria encontrada em outro.


O caso de Nicodemos


Se agora nos voltarmos por um momento para o caso de Nicodemos em João 3, veremos o contraste perfeito com toda essa mera obra superficial. A diferença essencial entre Nicodemos e os judeus em João 2 é que ele foi a Cristo com um senso de necessidade. Ele viu os milagres, assim como os judeus tinham visto, mas foi despertado nele um desejo de conhecer a mente de Deus sobre essas questões. Esse é um sinal claro de fé genuína, pois leva o homem para fora de si mesmo. Nicodemos aprendeu, em certa medida, que não havia nada de bom nele mesmo e que a bênção poderia ser encontrada somente em Jesus. Em todos esses casos, não pode haver dúvida de que Deus está trabalhando na alma.


Quando a verdade age no coração no poder do Espírito, ela cria uma necessidade. Nicodemos evidentemente sentia uma carência que nada em si mesmo ou em sua religião poderia jamais suprir. Ele tinha sido um religioso de estatura e, sem dúvida, estava bem familiarizado com as doutrinas e formas de sua religião, mas agora sua consciência havia sido alcançada pelo bendito Jesus, e um novo desejo tinha sido despertado em seu coração. Ele sentiu que havia algo faltando, e contentar-se nesse estado era impossível. Aquele a quem ele tinha visto fazer obras tão maravilhosas e falar palavras tão maravilhosas era a pessoa certa de quem se aproximar em sua perplexidade. Pode haver uma grande demora em se tomar uma decisão, bem como medo de outros, mas quando há na alma um verdadeiro senso de pecado e Cristo é o objeto de seus desejos, a plena expressão de fé virá.


Foi o que aconteceu com Nicodemos. Ele foi a Jesus à noite; ele tinha medo do mundo e de seus companheiros de religião. No entanto, a semente vital estava lá e, embora rodeada de perigos, aumentou em poder e, com o tempo, manifestou sua origem divina. No capítulo 7, nós o encontramos defendendo Cristo perante o conselho, e, no capítulo 19, ele é ousado o suficiente para enfrentar o mundo pelo rejeitado e crucificado Jesus. Essa é a diferença entre aquele tipo de crença que se apoia na mente do homem e a fé que se fundamenta na verdade de Deus. Uma cede sob circunstâncias adversas; a outra é intensificada por elas.


Crer no coração


Está perfeitamente claro na Palavra de Deus que todas as expressões exteriores de fé são totalmente inúteis, a menos que fluam de uma obra interior, da graça, no coração. “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo; visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” (Rm 10:9-10 – ACF). O termo “coração” nessa passagem pode abranger todo o homem interior, em contraste com a confissão da boca, ou expressão exterior. Quando a obra é do Espírito de Deus, pela Palavra, a mente não é apenas instruída, mas o coração é tocado e a consciência é alcançada. É pela consciência que a luz entra e revela o triste estado da alma. Isso torna um homem sério.


Mas, como o Espírito de Deus trabalha de maneira muito diferente com indivíduos diferentes, convém que, onde quer que vejamos o menor sinal de uma obra divina, sejamos lentos em julgar. Enquanto os anjos celebram um novo nascimento, podemos estar olhando com desconfiança incrédula! Quão doce e fortalecedor para o coração em tal momento é o espírito de Cristo! Ele junta as ovelhas com Seu braço e as carrega em Seu seio. Não deveríamos procurar seguir o Seu exemplo?


Deus aniquilou o pecado e trouxe a justiça pela cruz, e agora a graça reina “pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5:21). “Bem-aventurados todos aqueles que n'Ele confiam” (Sl 2:12).


C. H. Mackintosh (adaptado)

 

Guarda o Teu Coração


Provérbios 4 conclui renovando o chamado para se dar ouvidos às palavras de um pai revestidas da autoridade de Jeová.


“Filho meu, atenta para as minhas palavras; às minhas razões inclina o teu ouvido. Não as deixes apartar-se dos teus olhos; guarda-as no meio do teu coração. Porque são vida para os que as acham e saúde, para o seu corpo. Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida. Desvia de ti a tortuosidade da boca e alonga de ti a perversidade dos lábios. Os teus olhos olhem direitos, e as tuas pálpebras olhem diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam bem ordenados! Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal” (Pv 4:20-27).


O ouvido que escuta, a mente atenta e o coração


Quando a afeição dos pais, no temor d'Aquele que se digna a nos ensinar, deseja trazer lições de sabedoria ao filho, o ouvido que escuta e a mente atenta não podem ser dispensados. O respeito pessoal, embora devido, não é suficiente: os ouvidos, os olhos e, sobretudo, o coração têm sua parte a cumprir. Tal treinamento deve ser mantido “no meio” do coração. O que mais pode-se comparar com o que tem Cristo como fonte, caráter, objeto e alvo? “N’Ele, estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1:4). Não é de se admirar, então, que se possa acrescentar: “Porque são vida para os que as acham e saúde, para o seu corpo”, ou como o apóstolo diz a seu próprio filho Timóteo, “a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir. Esta palavra é fiel e digna de toda aceitação” (1 Tm 4:8-9). Sem dúvida, também, o Cristianismo deu um imenso acréscimo à verdade com a vinda do Filho de Deus, pois, “sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” (1 Tm 3:16 – ARF). Sim, o segredo da piedade é n'Ele assim conhecido conforme Ele é; todo o resto é apenas uma bela demonstração da carne, que brilha por um momento antes de se apagar para sempre.


Daí o chamado para “guardar o teu coração sobre tudo o que se deve guardar”. É necessária a máxima vigilância, “porque dele procedem as fontes da vida” (ARA).


O centro moral


A Escritura sempre vê o coração como o centro moral do qual dependem toda a conduta externa e o andar. Por isso, o Senhor, em Lucas 8, fala daqueles que, ouvindo a Palavra com coração reto e bom, a guardam e dão fruto com perseverança. Em João 15, Ele diz: “Se vós estiverdes em Mim, e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15:7). Isto, de fato, é piedade: habitar n'Aquele que é vida e salvação e paz; e Suas palavras serem, não apenas obedecidas, mas constantemente apreciadas, resultando em orações subindo e respostas descendo. Não admira, então, que Seu Pai é glorificado, muitos frutos produzidos, e o Senhor Jesus não se envergonha de possuir tais pessoas como Seus discípulos.


Mas, enquanto isso, ainda é permitido que o mal continue ao redor, e o que dificulta tudo, ele está em nossa própria natureza, o velho homem. Que ele foi crucificado com Cristo a fim de que o corpo do pecado fosse anulado, para que não mais sejamos escravos do pecado, é o nosso bendito conhecimento pela fé. Isso não é razão real para negarmos a existência dessa coisa maligna em nós, mas o melhor e mais poderoso fundamento para que o pecado não “reine” em nosso corpo mortal, pois não estamos sob a lei, mas sob a graça. Portanto, embora esse conhecimento pudesse ser obtido no Velho Testamento, tanto naquela época como agora, a palavra é: “Desvia de ti a falsidade da boca e afasta de ti a perversidade dos lábios” (Pv 4:24). A Epístola de Tiago é a prova clara da importância que isso tem e que é ainda mais insistida, se é que possível, do que no passado.


Os olhos e os pés


Há um outro apelo, igualmente urgente. “Os teus olhos olhem para a frente, e as tuas pálpebras olhem direto diante de ti” (Pv 4:25). Cristo sempre foi o objeto da fé, e agora Ele é revelado como o caminho, não menos que a verdade e a vida. Mas, moralmente falando, o olho é de grande importância, o estado de nossa visão espiritual. Assim como Cristo dá olhos para aqueles que nasceram cegos, somente Ele torna e mantém clara a nossa visão. “A luz do corpo é o olho. Se, pois, o teu olho for bom, também todo o teu corpo será cheio de luz; mas, se o teu olho for mau, também o teu corpo será cheio de trevas. Toma cuidado, portanto, para que a luz que está em ti não seja trevas” (Lc 11:34-35 – KJV). Não nos esqueçamos da penetrante palavra. Cristo guia com segurança só quando o olho é bom.


Também recebemos direção em detalhe. “Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam bem ordenados!” A negligência não provém da fé tanto quanto a pressa, e escorregamos das duas formas por falta de dependência e atenção à Palavra de Deus.


O caminho de Cristo é estreito, porém direto através deste mundo para Ele Mesmo na glória. Os santos sempre foram chamados a andar tendo Deus diante de seus olhos, e a vontade d’Ele agora é declarada para assim honrar o Filho. Portanto, “não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal”, pois o mal está em ambos os lados.


W. Kelly (adaptado)

 

Propósito de Coração para Cristo


O que precisamos entre nós é propósito de coração. Não precisamos de mero conhecimento, mas de propósito de coração, individualidade de amor para com Cristo; [precisamos] que Ele, e somente Ele, seja a estrela polar atraindo o nosso coração inteiro a Ele enquanto atravessamos o deserto. Temos dois belos eventos disso em João 12 e 20.


Dois belos exemplos


Com Maria de Betânia, não havia luz incomum ao sentar-se aos pés d’Ele; ela simplesmente amava seu Senhor. Em João 12:3, ela deu uma expressão, das mais caras, de seu amor; não apenas o unguento, mas ela enxugou os pés d’Ele com seus cabelos, e “encheu-se a casa do cheiro do unguento”. Na mente de Maria, havia somente um pensamento, e somente uma Pessoa presente podia ler o enigma de seus estranhos atos. O que ela queria era perfumar? Não, o apego pessoal apenas ao Senhor e o coração inclinado a Deus para saber o que fazer para expressá-lo levaram-na a ouvir d’Ele como pôr a honra em Jesus. Seu pensamento foi: “Qual a coisa mais cara que posso dar a Ele?” [Com] Judas foi completamente o oposto: “Quanto posso colocar na bolsa?” Ambos falaram do que estava cheio o coração.


Então, ela recebeu essa orientação de Deus! Com toda a sua mente voltada para Cristo, Deus sugeriu ao coração dela o ato adequado. O poder do Senhor permitiu que ela experimentasse algo novo. Oh, que coisa bela é o andar de alguém cheio de Cristo! Um canal preparado por Deus para Seus próprios propósitos. O que poderia ter sido mais sábio? Foi num belo momento oportuno também. Deus honra Seu povo permitindo que o propósito amoroso de Seu povo faça exatamente o que Ele deseja para Seu Filho. Maria fez exatamente aquilo que mostrou que ela estava em comunhão prática, porque Cristo era o objeto.


Maria Madalena


Onde há propósito de coração, ele é levado a um lugar de privilégio muito abençoado (João 20). Quanto a Maria Madalena, seu pensamento foi: “Meu Senhor está sepultado; eu irei visitar o local”. Mas todas as suas esperanças foram destruídas quando ela descobriu que a pedra havia sido removida. Por isso, ela foi até os discípulos, dizendo, com efeito: “Perdemos o Objeto de nosso amor”.


Os discípulos não tinham o propósito de coração que Maria tinha (v. 10). “Tornaram, pois, os discípulos para casa”; isso mostra quão baixo em amor até mesmo os melhores de Seus discípulos estavam. O lar de Maria era o sepulcro de seu Senhor! Nenhuma afinidade ou interesse estava em outro lugar, e ela ficou imóvel no local. Sem dúvida, o Senhor a manteve lá para que ela colhesse a recompensa de seu amor incansável.


Cristo era o que a atraía mais do que qualquer outra coisa; os anjos não a surpreenderam (v. 12). O que eram eles diante d'Aquele que ela queria? Nada podia afastá-la. A agulha de sua bússola era inteiramente fiel a um ponto; sua alma estava num estado em que tudo que honrava a Cristo passava diante dela. E os anjos extraíram dela a fonte de sua tristeza: [...] meu Senhor”, como se fosse somente dela.


Um objeto procurado


Que cena comovente se segue (vs. 14-15). O Senhor, ressuscitado da sepultura, ciente do estado de todos os Seus discípulos, viu aquela mulher absorta n'Ele, e Ele Se comunicou com ela para lhe provar que Seu amor por ela era maior do que o dela por Ele. “A quem procuras?” (v. 15 – ARA) “Senhor, se tu O tiraste, dize-me onde O puseste, e eu O levarei”. Mesmo morto, ela ainda queria tê-Lo. E Ele disse: “Maria”. O que quer que houvesse naquela palavra, qualquer que tenha sido a maneira de chamá-la, ela se virou dizendo: “Mestre!” Ela agora tinha um Cristo vivo. Ela ganhou o lugar de mensageira da ressurreição – bendito privilégio! Como ela ganhou? Com pleno propósito de coração, tão ocupada com o Senhor que ela estava acima de todos os outros objetos, e nem os anjos nem os discípulos a desviaram. Que firmeza de coração ela deve ter tido ao sair com a mensagem para alegrar e consolar os discípulos! Ali estava sua recompensa; durante todo o tempo, ela não pensou em devoção pessoal; ela pensou em Cristo. Ele tinha seu coração. Se seu olho é bom, ter um objeto e segui-lo são duas coisas que você não consegue separar.


“Não Me detenhas […], mas vai ter com os Meus irmãos”. Ressuscitado, Ele poderia reconhecê-los nesta nova relação. “Meu Pai e vosso Pai; e [...] Meu Deus, e vosso Deus” – bendita posição dos filhos de Deus trazida no Pentecostes! Uma mulher recebeu essa verdade antes de todos, simplesmente por um propósito de coração, [para] além da fé. Ele mesmo, como objeto de adoração no céu, é algo que aumenta a quantidade de verdade revelada, Deus encontrando e levando almas ao propósito de coração, a locais aonde Cristo chegou. O conhecimento é inútil sem o coração, mas eles não devem estar separados. Eu preferiria ter menos conhecimento, mas real propósito de coração por Cristo e o próprio Cristo.


Essas mulheres no túmulo de nosso Senhor não são vasos para ser apresentados exteriormente, mas Cristo tinha que ser ungido para Seu sepultamento. Ele tinha que ter alguém para olhar Seu túmulo, e Deus as usou para honrá-Lo. Esses são, talvez, os dois maiores exemplos de Cristo atraindo o coração após Ele, e elas seguindo com propósito de coração; por isso, Deus as usa para ungir Cristo e saudar Seu Filho após Sua ressurreição. Oh, que haja mais propósito de coração por Cristo entre todos os filhos de Deus!


Bible Herald, 1877 (adaptado)

 

Salmodiando em Vosso Coração


Em 1 Coríntios 14, somos instruídos a cantar com o espírito e o entendimento (v. 15) Os Cristãos devem ser inteligentes nos caminhos do Senhor, e não “meninos no entendimento”. Há, entretanto, um outro elemento ao cantar que é de igual importância. Sem a melodia do coração é impossível render louvor aceitável ao Senhor.


Encontramos isso expresso repetidamente tanto no Velho quanto no Novo Testamento. O salmista deseja mais de uma vez louvar a Jeová de “todo o coração” (Sl 9:1; 111:1; 138:1). Em duas das epístolas de Paulo, há também exortações especiais nesse sentido: “Cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5:19); “Cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Cl 3:16).


Coração e mente


O coração, portanto, deve estar reto diante do Senhor, assim como a mente. Ambos devem estar em exercício; a mente deve contribuir com inteligência espiritual, e o coração com emoções sagradas.


A Escritura mostra que existe uma íntima relação entre os dois e que o coração exerce uma influência considerável sobre a mente. Quando é descrito o declínio do homem, do conhecimento de Deus para as trevas do paganismo, primeiro afirma-se que eles “se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu”. Segue-se então que, “como eles se não importaram em reter Deus em [seu] conhecimento, Deus os entregou a uma mente réproba” (Rm 1:21,28 – KJV). O coração tolo e obscurecido foi o precursor da mente réproba. Novamente, o apóstolo ora pelos efésios para que Deus lhes dê “o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento d'Ele; iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento” (Ef 1:17-18 – ARA). Assim, está claro que, enquanto o conhecimento de Deus foi perdido devido ao obscurecimento do coração, o pleno conhecimento d'Ele é agora comunicado por meio da iluminação do coração. Visto que o coração, portanto, é o caminho para todo entendimento verdadeiro e apropriado das coisas de Deus, é da mais alta importância que o coração seja estritamente guardado, exatamente como está dito: “Guarda com toda a diligência o teu coração, pois dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23 – ATB).


A Escritura é uniforme ao ensinar que o coração é a essência do ser do homem. É o centro das afeições e dos impulsos que levam o homem adiante no caminho da vida. O próprio Senhor declarou que é do coração que procede tudo o que contamina (Mt 15:19). Por outro lado, o coração do homem renovado deve caracterizar cada ação; como servos de Cristo, devemos fazer “de coração a vontade de Deus” (Ef 6:6). Na verdade, o próprio Espírito de Deus está em nosso coração para originar e caracterizar todas as afeições. Isso o apóstolo ensina: “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de Seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4:6 – ARA).


Esse fato é de grande importância para nós, que aprendemos o engano do coração natural (Jr 17:9). Agora, é Ele quem enche o coração com tal senso do incomparável amor de Deus (Rm 5:5) que, do que está cheio o coração, a boca fala (Mt 12:34-35; Lc 6:45 – ARA).


Melodia do coração


Mas, enquanto a melodia do coração não pode existir separada do Espírito Santo, a responsabilidade de produzi-la recai sobre o cantor. Espera-se que aquele que profere os louvores ao Senhor com os lábios ofereça melodia simultânea no coração, pois o Espírito Santo certamente não agirá a menos que o crente honre Sua presença aqui na Terra e se entregue à Sua direção. É, portanto, incumbência do adorador assumir uma atitude de fé e dependência a fim de assegurar a operação do Espírito Santo, sem a qual nenhum sacrifício de louvor pode ser aceitável nas alturas.


Observe também que em Efésios 5:19, os santos são exortados não apenas a cantar ou apenas a salmodiar no coração, mas a cantar e a salmodiar no coração. Nenhum grau de melodia com a voz pode se tornar um substituto equivalente para a melodia no coração, conforme [mostram] as palavras diante de nós.


Alguns sustentam que uma correta ministração mecânica de hinos a Deus é suficiente, mas que os tais considerem seriamente as solenes palavras de advertência do Senhor aos escribas e fariseus. “Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-Me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de Mim. Mas em vão Me adoram” (Mt 15:7-9). Eles eram, na verdade, apenas “coisas inanimadas [isto é, sem vida], que fazem som” (1 Co 14:7).


Instrumentos musicais


É imperativo, portanto, que junto com a voz melodiosa haja o acompanhamento melodioso do coração. Isso deve substituir os instrumentos musicais da adoração no templo. O Cristão não é convidado a louvar ao Senhor com o som de uma trombeta, com o saltério e a harpa e com os címbalos altissonantes; não obstante, sua canção deve ser distinta com o enternecido e santo entusiasmo do homem interior.


Com graça no coração


Em Colossenses, somos chamados a cantar “com graça” em nosso coração, pois a graça toca a alma no mais profundo de seu íntimo. Aqueles que contemplam o amor de Cristo, na medida em que Ele os lavou de seus pecados em Seu próprio sangue e os fez reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai, não podem deixar de Lhe atribuir a glória e o domínio para todo sempre.


A graça provoca no coração manifestações de louvor e ação de graças a Deus, porque é a Deus que cantamos, em Colossenses, como o Autor da graça; enquanto, em Efésios, o Senhor está diante da alma evocando as melodias do coração – “cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração”.


O segredo


E certamente pode-se dizer que aqui está o segredo dessa melodia de coração. Se alguém perguntar: “Como posso produzir essa harmonia interior?”, a resposta é, “Deixe Cristo estar diante da alma”. Por que tantas vezes a língua canta enquanto o coração está calado? Não será porque a bendita Pessoa de nosso Salvador e Senhor está esquecida? A voz associa-se com indiferença a outras, e o coração está apático e apagado, ou ainda, ocupado com os mais inúteis pensamentos. Oh, que a fé perceba Sua presença de tal forma que nisto, assim como em outras coisas, possamos exibir uma conduta que nos convém [exibir] e, se assim podemos falar, seja digna d'Ele.


Será que não podemos dizer que foi o senso da presença do Senhor no calabouço de Filipos que fez com que Paulo e Silas cantassem “canções à noite”? Por isso, eles cantavam em voz alta, salmodiando em seu coração. Eles não eram como aqueles que cantam “canções junto ao coração aflito”, pois a presença do Senhor faz até “a língua dos mudos cantar” (Is 35:6), e nenhum dos Seus remidos consegue ficar triste diante d'Ele, pois a luz do rosto do Mestre transforma até as circunstâncias de tristeza em ocasiões de alegria.


O coração rendido


Acima de todas as coisas, portanto, que o coração renda sua melodia ao Senhor. “Nenhum coração, a não ser pelo Espírito ensinado, salmodia a Ti”. Não é a voz refinada, mas o coração renovado que o Pai procura. Deve ser um conforto, portanto, para aqueles cujo canto consiste apenas em fazer “um barulho alegre ao Senhor”, eles poderem, de alguma forma, entoar uma melodia no coração.


Bible Treasury (adaptado)

 

Amor de Um Coração Puro


Primeira Timóteo 1:5 refere-se ao “fim do mandamento”. Talvez uma melhor tradução seja “o fim do que é ordenado”. Ao contrário da lei, não temos mandamentos específicos no Novo Testamento, mas é simplesmente, como em João 15, permanecer n'Ele e Suas palavras permanecerem em nós.


Esse grande resumo especifica três coisas que devem chamar nossa atenção. Vamos examiná-las na ordem dada. “Caridade [amor] de um coração puro”. Talvez se pergunte: O que é um coração puro à luz da Escritura? Temos instrução em 2 Timóteo 2:22: “Segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”. Então, em 1 Pedro 1:22, somos exortados: “amai-vos ardentemente uns aos outros, com um coração puro”. Acredito que a mente e o coração do novo homem estão intimamente ligados, e as exortações quanto a cada um são semelhantes em caráter. O coração é visto como o centro das afeições, e a mente como o lugar onde a inteligência do novo homem está armazenada.


A mente e o coração de Cristo


Em Filipenses 2:5, é dito: “Que haja em vós a mesma mente que houve também em Cristo Jesus” (KJV). Então, temos em Romanos 12:2: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (AIBB).


Na oração de Efésios 3, o desejo é que “habite Cristo no vosso coração” (ARA). Então, no capítulo 4, lemos: “Se é que O tendes ouvido, e n’Ele fostes ensinados, conforme é a verdade em Jesus; a saber, quanto ao trato passado, tendo-vos despido do velho homem [...] e sendo renovados no espírito da vossa mente; e tendo-vos revestido do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4:21-24 – JND).


Parece, então, a partir dessas escrituras, que o “amor de um coração puro” pode brotar apenas de quem é nascido de novo, e que todos os pensamentos e desejos do velho homem são colocados no lugar de morte, para que apenas os pensamentos e desejos do novo homem estejam em evidência, e, por isso, ele vem de um coração puro. Todo o egoísmo e ambição, que caracterizam a época atual, não têm lugar no coração e na mente do novo homem. Não é um estado alcançado de uma vez por todas na prática, mas é uma questão de estar diante do Senhor constantemente em julgamento próprio.


O Senhor nos faz passar por uma escola de treinamento aqui em nossa jornada no deserto, semelhante ao antigo Israel, conforme apresentado em Deuteronômio 8: [...] para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração […] para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR” (Dt 8:2-3 – ARA).


Este “amor de coração puro” seria aquele amor que Cristo sempre manifestou aqui, que procede do coração do Seu povo. E nos lembramos d’Ele no que é dito em João 13: “tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (ARA).


J.L. Erisman

 

Um Coração Guardado


Jeremias 2, 3 e 4 dão um belo desdobramento da profunda angústia que é para o Senhor se Seu povo não estiver perto d’Ele. Ah, amado, nada pode satisfazer o coração do Senhor Jesus, a não ser ter a você e a mim perto d’Ele. E nada pode satisfazer nosso coração, a não ser estar perto d’Ele, pois “aquele que recaiu de coração se fartará dos seus próprios caminhos” (Pv 14:14 – JND). Não diz aquele que recaiu exteriormente, mas aquele que recaiu de coração.


Quão sábio é Deus ao dizer: “Sobre tudo o que se deve guardar guarda o teu coração; pois dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23 – ARA). Novamente, como um homem “pensa em seu coração, assim ele é” (Pv 23:7 – KJV). Não é o que eu faço ou digo, mas o que o meu coração é – com o que as afeições estão ocupadas. Nas coisas espirituais, a inteligência muitas vezes vai à frente do coração, e o principal motivo da falta de poder espiritual é o orgulho de coração. Tenhamos cuidado com a recaída de coração; Deus deve ter realidade.


Agora olhe esses três capítulos extremamente interessantes de Jeremias. Eles nos mostram que, em dias passados, Deus tinha um povo que Ele amava com um amor muito profundo – um amor que Ele expressava continuamente. Eles mostram também a bela maneira pela qual Ele busca reconquistar Seu povo para Si, depois que eles se desviaram. Nada poderia ser mais tocante. Veja a profunda afeição de Deus por Seu povo! Também, no próprio povo, podemos ver a imagem de como é nosso próprio coração, e a única forma de restauração, quando eles se afastam de Deus.


A maneira de Deus para a restauração


Agora, a maneira como Deus lida com alguém que recaiu certamente não é a nossa maneira. A maneira de Deus é bela e perfeita. Houve um grande reavivamento exterior em Judá, durante o reinado do rei Josias (2 Cr 34-35). Mas Deus olhou no fundo e viu que era apenas fingimento. “Nem por tudo isso voltou para Mim Judá de todo o seu coração, mas falsamente, diz o SENHOR” (Jr 3:10 – ARF). Portanto, Jeremias foi escolhido para levar esta palavra a eles!


“A mim me veio a palavra do SENHOR, dizendo: Vai e clama aos ouvidos de Jerusalém: Assim diz o SENHOR: Lembro-Me de ti, da tua afeição quando eras jovem, e do teu amor quando noiva, e de como Me seguias no deserto, numa terra em que se não semeia. Então, Israel era consagrado ao SENHOR e era as primícias da Sua colheita; todos os que o devoraram se faziam culpados; o mal vinha sobre eles, diz o SENHOR” (Jr 2:1-3 – ARA).


Eu amo ver a afeição da alma, e o fervor, que marcam um novo convertido. Perguntemos ao nosso coração: “Será que o amor simples de Jesus, o deleite em Jesus, e o desejo de ser tudo e qualquer coisa para Ele são os mesmos do início quando fomos salvos?” Você pode ter esquecido aquela emoção inicial de afeto, mas Deus não esqueceu. Ele disse a Israel: “Lembro-Me de ti, da tua afeição quando eras jovem, e do teu amor quando noiva, e de como Me seguias”. Onde? Em um deserto. O que estava no deserto? Apenas duas coisas: Deus e a areia.


Primeiro amor


O segundo capítulo de Jeremias é muito parecido com o segundo capítulo do Apocalipse. O Senhor ali diz à igreja de Éfeso: “Tenho, porém, contra ti, que deixasteo teu primeiro amor” (Ap 2:4). Entrou alguma coisa, diz aquele bendito Amante em Apocalipse 2, que ofuscou a Mim e toda a sua afeição por Mim. Ah, amados, onde está nossa alma em relação a Cristo?


Deixe-me implorar a você, especialmente a você que é jovem, que tome cuidado com a recaída. O primeiro movimento em direção a ela é que algo entra para interceptar o desfrute do amor de Cristo, e o coração perde sua doce apreensão do amor e graça d’Ele. Você se esquece d’Ele, mas Ele não se esquece de você. Paulo traz o mesmo pensamento diante de nós quando diz: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo” (2 Co 11:2-3). Foi um grande exercício para o amado apóstolo naquele tempo, para que nada entrasse e tornasse Cristo menos precioso para eles. Aos tessalonicenses ele também diz: “Porque, agora, vivemos, se estais firmes no Senhor” (1 Ts 3:8).


O coração corrigido


Será que estas linhas estão na mão de alguém que está dizendo, “Afastei-me do Senhor?” É bom que você saiba disso, pois o Senhor sabe disso e sempre busca nos trazer de volta. Para fazer isso, Ele repreende? Não. Ele pode ter que repreender e castigar, mas o que restaura é a Sua Palavra. “Não Me esqueço da sua devoção; você pode ter esquecido, mas era doce para Mim, diz o Senhor, por isso nunca esqueci a hora em que você veio a Mim, e Eu era tudo para você”. Por meio de uma palavra como essa, Ele procurou recuperar Israel; e, amado amigo, o mesmo acontece com o Senhor hoje! Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre.


Mas não adianta alguém que recai tentar consertar as coisas exteriormente. A lavagem externa não é suficiente. É o coração – aquilo que está dentro – que deve ser corrigido. “Pelo que, ainda que te laves com salitre e amontoes sabão, a tua iniquidade estará gravada diante de Mim, diz o Senhor JEOVÁ” (Jr 2:22). Se minha alma estiver exercitada, posso dizer: “Como vou voltar?” A resposta é simples: confissão. “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1:9). Não há rompimento do relacionamento por parte de Deus. É realmente lindo ver como Deus procura ternamente recuperar e ligar a alma a Si mesmo.


W. T. P. Wolston (adaptado)

 

A Mão e o Coração de Deus


Será que atribuímos as coisas apenas à mão de Deus e não vamos mais longe? Aquele que devidamente toma para si o título de “Pai das misericórdias e Deus de todo o consolo” consola os que estão em tribulação, não só para que eles próprios sejam consolados, mas para que possam consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que eles mesmos foram consolados por Deus.


Espero nunca esquecer uma lição que aprendi com Deus há alguns anos, que vou apenas registrar, na esperança de que possa ser usada para ajudar e confortar outras pessoas.


Enxergue como vindo do coração d’Ele


Há muitos anos, e não muito antes de ser chamado para passar por uma provação muito pesada e dor, fui para Londres. Enquanto estava lá, fui certa noite a um lugar onde sabia que haveria uma leitura da Bíblia. Durante a reunião, o irmão mais velho, em cuja casa a reunião foi realizada, fez o seguinte comentário: “Frequentemente falamos de enxergar as coisas como vindas da mão do Senhor, mas será que damos crédito ao Seu coração por mover a Sua mão?” Fiquei muito impressionado com o comentário na época, mal sabendo o que estava adiante de mim. Minha mente retornava a isso ocasionalmente, e eu via que a mão era apenas a serva do coração, mesmo nas coisas comuns. Por exemplo, se um ladrão rouba alguma coisa, o coração primeiro a cobiçou, e a mão é apenas o agente que se apropria daquilo que o coração anseia.


Voltei para minha casa e, cerca de seis semanas depois, alguém muito, muito querido para mim faleceu repentinamente. Em minha profunda dor, a observação mencionada veio diante de mim. Outros falavam sobre fulano de tal ter sido o meio que trouxe a infecção etc. Mas para mim, agradecendo a Deus pela graça concedida, não havia uma segunda causa a ser considerada. Não, devo atribui-la ao próprio Deus, e não apenas à Sua mão, mas ao Seu coração.


O quê, o coração d’Ele? Sim, o mesmo coração que deu Jesus. Oh, a deliciosa doçura e infinita preciosidade do pensamento eram inexprimíveis! Eu sabia o que era ter o próprio Deus enxugando as lágrimas dos meus olhos.


Lágrimas enxugadas


Lembro-me de outro incidente que está, em todos os sentidos, em sintonia com o que estou dizendo. Uma jovem irmã no Senhor tinha acabado de perder seu bebê, seu primogênito, e estava profundamente triste, como era de se esperar. Um irmão mais velho que a conhecia bem escreveu para ela, e na carta dizia o seguinte: “Que você conheça a alegria de ter Jesus enxugando as lágrimas de seus olhos, e saiba que mais abençoado é tê-Lo enxugando suas lágrimas do que não ter lágrimas para enxugar”.


Concluindo, eu gostaria de acrescentar que encontrei em minha própria experiência a verdade do que certa vez ouvi alguém dizer: “Não há amargura, mesmo na mais profunda dor, a não ser que a vontade esteja agindo. É a ação da vontade que traz a amargura”.


A. Trigge

 

Desanimar


Lemos dos lábios de nosso bendito Senhor Jesus que os homens “devem orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18:1). Na língua grega, a palavra “desfalecer” é en-kakein, formada a partir da palavra kakos, que significa “covarde”. Mas, de “covarde”, passou a significar qualquer coisa que fosse ruim, mesquinha ou vil, pois para os gregos a covardia era tudo isso. A primeira parte da palavra, en, significa “em”. A palavra inteira em conjunto significa literalmente: “Ceder ao mal”. Nós a encontramos traduzida por palavras ou expressões como desfalecer, desanimar, desencorajar-se, acovardar-se.


O mal que nos cerca é tão forte, a batalha é tão feroz, e o resultado parece tão impossível, os lados parecem tão desiguais, que enquanto oramos, somos tentados a dizer em nosso coração, se não com nossos lábios: “Não tem jeito, não adianta orar mais por essa pessoa; eu desisto”. “Não!”, o Senhor diz, “Não! Não ceda! Não desanime! Não se desencoraje! Não se acovarde!”


Estamos realmente do lado vencedor. O Senhor ainda está no trono. Ele ainda se assenta sobre as correntes das águas, e o Senhor nas alturas ainda é maior do que o ruído de muitas águas, sim, do que as grandes ondas do mar (Sl 93:4). Então, anime-se! Tenha coragem! Continue orando! Ore sempre! E jamais se acovarde, nunca desista.


Nos problemas e na doença


Esta palavra, en-kakeo, é usada apenas seis vezes no Novo Testamento, e cada uma delas é muito instrutiva. Já vimos a primeira vez que ela é usada, e é em conexão com a oração. Na próxima, é usada duas vezes nos seguintes versículos, em 2 Coríntios 4:1 e 4:16. “Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos[...] Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia”. E assim, embora problemas e doenças e tristezas venham aqui e consumam nosso homem exterior, não há necessidade de desanimar, não há necessidade de se desencorajar, não há necessidade de se acovardar ou ceder ao mal.


Cansado de fazer o bem


O próximo lugar onde a encontramos é em Gálatas 6:9. E não nos cansemos de fazer o bem”, ou “Não desanimemos de fazer o bem” (JND). É tão fácil desanimar de fazer o bem. Aquela pobre alma que você ajudou outro dia mais tarde provou ser um vigarista e não precisava de nada, e você jurou que não seria enganado com tanta facilidade novamente. Não, não; não desanimemos; não vamos ceder ao mal. Da próxima vez, você pode rejeitar alguém realmente necessitado; e “o que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, também clamará, mas não será ouvido” (Pv 21:13). Ou aquela aula da Escola Dominical que é tão barulhenta e incontrolável! Parece inútil tentar prosseguir com eles. Desista! Não vale a pena mais tentar!


Eu já fiz isso. Certa vez, tive uma Escola Dominical extremamente ruim e, a conselho de um irmão mais velho, desisti. Cerca de três semanas depois, encontrei uma das crianças na rua, e ela disse: “Oh, por que você desistiu da Escola Dominical? Eu queria muito saber que estava salvo. Acho que teria encontrado o Senhor no domingo seguinte; mas eu tive que ir para outro lugar, e lá eu encontrei o Senhor”. Outra vez, um irmão mais velho insistiu que eu deveria desistir de alguns trabalhos infantis que o Senhor havia aberto. Fiquei muito perplexo e procurei o conselho de outro irmão mais velho, e, para minha surpresa, ele disse: “Aceite mais trabalhos desse tipo; mas nunca desista! Toda desistência é do diabo”. Isso foi há mais de cinquenta anos, mas quantas vezes agradeço a Deus por aquelas palavras.


Herbert Taylor, o filho mais velho de Hudson Taylor, uma vez me disse que certa vez estava tão desanimado que disse ao pai: “Pai, estou tão desanimado, vou desistir”. Seu pai respondeu: “Todo desânimo é do diabo!” Deus é “o Deus de todo encorajamento” (2 Co 1:3 – JND). Não, amados, a Palavra de Deus é clara. “Não desanimemos de fazer o bem”.


Na tribulação


A seguir, veja Efésios 3:13. “Por isso vos rogo que não desanimeis nas minhas tribulações por vós, as quais são a vossa glória” (TB). Paulo “desesperou da vida” em suas tribulações pelos santos de Éfeso, mas não se acovardou (At 19:23-41; 2 Co 1:8). Ele estava pronto para entrar e enfrentar a multidão que estava sedenta por seu sangue. Não há necessidade de desanimar, mesmo que as tribulações venham.


Não, antes, “mas também nos gloriamos nas próprias tribulações; sabendo que a tribulação produz perseverança” (Rm 5:3 – ARA). A palavra “tribulação” vem da palavra latina “tribulum”, que significa “um mangual”. Suponho que a maioria dos meus leitores nunca tenha visto um mangual, como aqueles que são usados para debulhar o trigo. Eu o usei e vi a terrível “tribulação” que ele causa no trigo. Mas é assim que o trigo se livra do joio.


No trabalho diário


O último lugar onde encontramos esta palavra en-kakeo é em 2 Tessalonicenses 3:11-13. “Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes, fazendo coisas vãs; a esses tais, porém, mandamos e exortamos, por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão. E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem”. Suponho que isso signifique que você e eu não devemos desanimar, não nos desencorajar, não nos acovardar durante a rotina de nosso trabalho diário no escritório, na loja, na cozinha, no campo, na escola ou em qualquer outro lugar. Façamos nosso trabalho diário para o Senhor, e não para os homens, e não desanimemos nele. É a própria ordem de nosso Senhor. Pode haver muito mal ao seu redor. Pode ser indescritivelmente difícil, mas, mesmo assim, nunca devemos ceder ao mal; nunca se acovardar, nunca desanimar.


Então, para resumir, não vamos ceder ao mal, seja:


Para desistir da oração – Lucas 18:1


Na saúde debilitada e na velhice – 2 Coríntios 4:1, 4:16


Em fazer o que é bom ou em fazer o bem – Gálatas 6:9


Na tribulação – Efésios 3:13


Em nossas tarefas diárias – 2 Tessalonicenses 3:13


G.C. Willis (adaptado)

 

O Coração do Senhor


O coração do bendito Senhor podia penetrar em todos os sentimentos humanos; nesse fato reside exatamente o que dava tal pungência a Seus sofrimentos. Nossa mente é tão pequena que não pode reter mais do que certa medida de grande tristeza ou alegria. Quando em grande tristeza, não conseguimos sentir pequenas coisas. O Senhor sentiu todas as grandes coisas ligadas ao sofrimento, e, ainda assim, os disparos de um lábio, o menear de uma cabeça (Pv 22:7); tudo foi sentido por Ele em detalhes no mesmo momento.


G. V. Wigram

 

Poema:

O Coração de Deus


Minha alma achou a fonte viva, A fonte de toda sua alegria, O rio da paz eterna E que nada pode destruir; O oceano de amor sem fim, Não manchado por aquilo que é ruim, Que flui para todo sempre: O “coração de Deus” é assim!


Sim, o próprio Deus, o Deus vivo, É o Seu coração que eu conheço; Sua mão, que sustenta o universo, Tudo me dá aqui; muito mais do que mereço. Seu coração e mãos a mim guardando, Com divino amor e poder, E, embora aqui, como um peregrino andando, Na glória brilharei sem nada mais temer.


Como é maravilhoso! O Deus vivo Sendo Ele meu Pai também, E, embora sendo eu débil, me fez cativo A Ele que é fiel e só faz bem; Aceito em Seu Filho eu sou, Os meus pecados foram todos perdoados; Pelo sangue de Jesus agora vou; Pra´quela casa, pois, no céu sou esperado.


É maravilhoso que alguém como eu, Tão culpado sem nada merecer, Em Cristo de Deus fui feito Seu, Oh! No Filho ter vida! Sua vida conter Sim, mais do que vida, plena comunhão, E conhecimento de Sua vontade; Pois, do coração de Deus, toda essa unção Minh´alma enche e revela Sua bondade.


S.T. (adaptado)


 

“O Senhor conduza o vosso coração ao amor de Deus”

(2 Ts 3:5 – ARA).


 
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