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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
J. N. Darby (adaptado)
H. Spence, Christian Treasury, vol. 3
Food for the Flock, vol. 3 (adaptado)
H. H. Snell (adaptado)
W. J. Prost
J. N. Darby (adaptado)
H. Smith (adaptado)
W. Kelly (adaptado)
J. T. (adaptado)
H. Smith
Christian Truth, vol. 13
Words of Truth, vol. N1
J. N. Darby
G. V. Wigram
Bible Treasury, vol. 3
Bevan, Hinário The Little Flock 93
T. Kelly, Hinário The Little Flock 168
Mrs. J. A. Trench, Hinário The Little Flock 127
Compartilhando com Cristo
É o caráter do amor de Cristo que tudo o que Ele recebe do Pai em glória e bênção, como Homem, Ele compartilha conosco. Se eu falar d’Ele mesmo estando no trono, Ele não pode fazê-lo sem mim; Ele me faz um rei também. Um homem do mundo pode ser generoso, mas ele não coloca outra pessoa em sua própria condição. Isso é o que Cristo faz. “A Minha paz”, diz Ele, “vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá” (Jo 14:27). Eu darei a você a mesma paz que Eu tenho. Assim, também, “Eu lhes tenho dado a glória que Tu Me tens dado” (Jo 17:22 – TB). E não só isso, mas Ele lhes dá o amor de Seu Pai: “para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim e que tens amado a eles como Me tens amado a Mim” (Jo 17:23). Ele nos coloca no Seu próprio lugar. Isso é amor perfeito. Ele mesmo veio, e nos lavou de nossos pecados em Seu próprio sangue. Como Ele é Rei e Sacerdote, Ele nos fez reis e sacerdotes junto a Ele. É somente quando tenho a consciência de estar totalmente perdido e contemplo o amor que Deus mostrou no dom de Seu Filho que posso entender tudo.
J. N. Darby (adaptado)
Junto com Cristo
Quão doce é a meditação sobre a palavra “juntos” encontrada nas páginas sagradas da Escritura e revelada por meio do Espírito Santo ao nosso coração.
O apóstolo Paulo nos lembra, na epístola aos Efésios, dessa “intimidade”. “Nos vivificou… juntamente com Cristo, (pela graça sois salvos;) e nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar [juntos – JND] nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2:5-6).
Assim somos como um corpo “bem ajustado e ligado” e crescemos “para templo santo no Senhor: no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito” (Ef 4:16; 2:21-22).
Além de ser “um templo santo no Senhor”, também somos “herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados [juntos – KJV]” (Rm 8:17).
Há uma bela promessa profética no Salmo 50:5: “Congregai os Meus santos juntos a Mim; aqueles que fizeram Comigo um concerto com sacrifícios” (KJV). Além disso, a doce promessa de nosso Senhor é: “Onde estiverem dois ou três reunidos em [para o – JND] Meu nome , aí estou Eu no meio deles” (Mt 18:20). Nosso Senhor ressuscitado é o Objeto de nossa adoração, o Centro de nossa reunião e o grande Mestre Construtor. Por meio de Sua morte sacrificial e Sua ressurreição, Ele reuniu “juntos em um os filhos de Deus que andavam dispersos” (Jo 11:52 – JND).
Portanto, esperamos por Sua gloriosa Aparição e a reunião com entes queridos que se foram antes, quando seremos “arrebatados juntos [KJV] com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Ts 4:17; veja também Ef 1:10).
À luz dessas preciosas promessas, que gozo é sermos obreiros juntamente com o Senhor, e somos lembrados em João 4:36: “o que semeia e o que ceifa, juntamente se regozijem” (TB).
“Ajudando-nos [juntos – KJV] também vós, com orações por nós” (2 Co 1:11 – JND) para que nosso “coração seja confortado, e vinculado juntamente em amor” (Cl 2:2 - ARA). “Eis quão bom e quão agradável é habitarem juntos os irmãos!” (Sl 133:1 – TB).
H. Spence, Christian Treasury, vol. 3
Cristo Compartilhando Sua Vida Conosco
Vida eterna
No evangelho de João, temos a vida eterna que estava com o Pai manifestada na Terra e comunicando-se quando o Espírito de Deus capacitou o ouvido para ouvir as palavras do Filho e crer n’Aquele que O enviou – assim aquela alma passa da morte para a vida. Mas a epístola de João continua essa história e caráter da vida eterna, e nos mostra como, agora, habita nos santos e se manifesta aqui neles durante a ausência de Cristo, Aquele que é essa vida eterna. A vida eterna na epístola de João é descrita como habitando no santo, primeiro tendo estado aqui n’Aquele que é a vida eterna.
O Verbo Se fez carne e habitou na Terra por 33 anos, exibindo em Sua caminhada, caminhos e palavras, em Sua história diária e interação com o homem, o que era essa vida eterna. Onde quer que houvesse convicção do pecado pelo Espírito, a fé abria os olhos para descobrir virtude em Jesus. A natureza não via nada além do filho do carpinteiro, mas as percepções da fé podiam exclamar: “Vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai” (Jo 1:14).
Tantos quantos O receberam
“Mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no Seu nome” (Jo 1:12). Devemos lembrar que todas as coisas foram dadas a Ele por Deus, mas “ninguém conhece o Filho, senão o Pai” (Mt 11:27). Ele veio na forma humana para revelar a Deus. “Deus nunca foi visto por alguém” (Jo 1:18), então, o Filho de Deus, por meio de Sua Palavra, revela o Pai para o mais humilde dos crentes. E Ele não só revela Deus a nós, mas traz a vida eterna em Si mesmo para todos quantos O recebem pela Palavra, de modo que não só nascemos de novo e nos tornamos filhos, mas por esta vida eterna em nós, temos a capacidade de conhecer o próprio Deus como o verdadeiro Deus, e Jesus Cristo a Quem Ele enviou.
Feitos aptos para Ele em glória
Mas esse Bendito, para nos preparar para tal associação celestial com Ele em glória, teve que defender as reivindicações da justiça de Deus contra o pecado e o mal que Satanás havia trazido. Ele tinha que ser feito pecado, Aquele que não conheceu pecado, para que pudéssemos ser feitos justiça de Deus n’Ele. E, tomando esse lugar de pecado, Ele teve que enfrentar e sofrer toda a justa ira de Deus contra o pecado, mesmo sendo Ele o mais obediente em fazer a vontade de Deus. Ainda mais, Ele teve que passar pelo poder de Satanás e sua hora de trevas antes que Ele pudesse, em vitória, nos levar Consigo, como irmãos, para a casa de Seu Pai.
Sabemos, quando este Bendito veio do céu com a verdade e a bondade de Deus para o homem, como Ele foi desprezado e rejeitado. Nem sequer uma casa em Belém estava aberta para Ele. Essa foi a recepção que o homem deu a Deus! Quão diferente é a recepção de Deus ao homem como pecador! Até o ladrão estaria com Ele, naquele dia, no Paraíso. Aqueles que pela graça deixaram o Salvador entrar no coração, são feitos filhos, e deixados por um tempo aqui nesse relacionamento para andar como vasos, tendo neles esta vida eterna, para brilhar diante dos homens como filhos andando na obediência de Cristo diante de Deus. Com Cristo habitando de tal maneira no coração deles, esse fruto será amor, não em palavras, mas em obras.
Deus é o Doador
Deus é o Doador e a Fonte dessa vida, mas é no Filho que obtemos a vida, e, embora haja diferentes graus de seu gozo, como em crianças, jovens e pais, o caráter é o mesmo em cada um – humildade, amor e obediência. É uma bela planta, e ainda mais belas flores vêm dela. Sendo do plantio do Pai, não pode ser arrancada.
É verdade que o Pai nos conhece aqui como Seus filhos, e sabemos que até os cabelos da nossa cabeça estão todos contados. Em vista disso, o Senhor nos exorta: “Não temas, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o Reino” (Lc 12:32).
Tudo isso é muito precioso e necessário para nós quando passamos por este mundo maligno. Isso nos capacita, na confiança de tal cuidado, a lançar todo o nosso cuidado sobre Ele, pois Ele cuida de nós. Mas no momento em que tomamos o nosso lugar em Cristo Jesus diante de Deus, no entendimento da morte e ressurreição e no poder do Espírito Santo descendo de um Cristo glorificado, nesse momento nos apoderamos de tesouros mais profundos do amor do Pai dos quais nos alimentamos. Somos agora filhos de Deus, tendo a mesma vida que o Seu Filho amado. Como tal, podemos desfrutar das mesmas coisas que Cristo desfruta – um privilégio inestimável!
Em Cristo diante d’Ele em amor
Descobrimos que os pensamentos de Deus sobre nós e Suas afeições para conosco são agora medidos pelo que é devido ao amor e obediência de Cristo. Não é meramente o cuidado de Deus como Criador e Preservador sobre Seu povo em misericórdia, mas sim como Seu Filho conheceria tal amor do Pai. “Como o Pai Me amou, também Eu vos amei a vós” (Jo 15:9). No propósito de Deus estamos agora diante d’Ele em Cristo e em amor, para Sua própria complacência e deleite em nós. Conhecemos o amor de Cristo “que excede todo entendimento” e está sendo preenchido com toda a plenitude de Deus!
Tendo assim nos salvado e nos chamado para uma santa vocação, nos escolhido em Cristo Jesus antes da fundação do mundo, e nos ressuscitado juntamente com Cristo, Ele agora espera que sejamos aqui uma manifestação de Deus pelo Espírito Santo. Daqui em diante, nos séculos vindouros, Ele manifestará as riquezas de Sua graça em Sua bondade para conosco por meio de Cristo Jesus, mas Ele nos deixa aqui agora, como indivíduos, para aprendermos lições de Seu amor e paciência conosco. Ele nos ensina mais sobre nosso próprio coração e forma nossas afeições espirituais por Sua Palavra e Espírito, para que possamos desfrutar mais plenamente de nossos privilégios quando estivermos em Sua presença naquele dia. Ele nos deixa aqui no deserto como filhos, não apenas para os nossos próprios ricos e preciosos privilégios habitados pelo Espírito Santo, mas também para que nós, como filhos de Deus, “no meio duma geração corrompida e perversa”, possamos brilhar “como luzeiros no mundo” (Fp 2:15). Mas esta dignidade pertence apenas àqueles que têm a vida eterna e estão conscientes de que não são deste mundo, assim como Ele não é deste mundo – aqueles que passaram em fé com Cristo além da ressurreição.
Food for the Flock, vol. 3 (adaptado)
Compartilhando Glória com Cristo
A glória vindoura da Igreja é o que de mais importante ela compartilha com Cristo. O próprio Bendito Senhor virá para ela. Seu coração está voltado para aquela Igreja que Ele amou e pela qual Ele Se entregou. Ele está ansioso para apresentá-la a Si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha ou ruga ou coisa semelhante. No último capítulo do Apocalipse, Ele diz três vezes:
“Eis que venho sem demora” (ver Ap 22:7, 12, 20 – ARA), ao que os fiéis respondem: “Amém! Vem, Senhor Jesus” (Ap 22:20 – ARA).
Ele virá novamente para Sua Igreja; portanto, está escrito que “o mesmo Senhor descerá do céu com alarido” (1 Ts 4:16) e que todos seremos transformados – transformados em um momento. Isto é o que está por vir. Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados – apenas pense nisso – em um momento, num piscar de olhos, pois o próprio Senhor descerá do céu, e se estivermos vivos ou na sepultura (como muitos que foram antes), todos seremos transformados. O Senhor está esperando ansiosamente por isso. O Senhor disse em João 17: “Pai, aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam Comigo, para que vejam a Minha glória que Me deste” (Jo 17:24).
A esperança dos que partiram
Aqueles que foram antes também estão ansiosos por isso. Sabemos que a felicidade deles é perfeita, pois agora estão na presença do Senhor (2 Co 5:8), mas na condição em que estão, ainda não têm o corpo glorificado. Esperam ansiosamente a vinda do Senhor, quando o corpo deles ressuscitará e se unirá ao seu espírito. Então eles terão um corpo capaz de entrar nas alegrias da glória eterna, como um com Cristo, pois eles são Sua própria carne e ossos. Da mesma forma, todo crente deve estar ansioso por Sua vinda, e podemos agradecer a Deus pela mudança que veio sobre muitos Cristãos a este respeito. Duzentos anos atrás, um homem que sustentasse a verdade da segunda vinda do Senhor era quase considerado como tendo perdido sua razão. Mas agora há milhares que se apegam firmemente a esta importante doutrina como verdade divina. Eu não duvido que o Senhor esteja vindo logo, e é por isso que Ele está despertando os Seus santos para a verdade da Sua vinda. Certamente, um clamor foi ouvido: “Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro” (Mt 25:6 – ARA). Bem-aventurados os que O esperam, porque essa é a verdade mais alegre, consoladora e purificadora.
Transformação e trasladação
O primeiro estágio, então, por assim dizer, da glória vindoura é essa transformação, e depois a trasladação – ser arrebatado para encontrar o Senhor nos ares. Enoque foi trasladado antes que os juízos fossem derramados sobre o mundo, e é isso que estamos esperando. O que satisfará o nosso coração? Nada além de ver a Cristo, e é isso que teremos. Sejamos apenas pacientes, e teremos isso em breve. Daqui a pouco veremos a Sua face!
Você se lembra de como o coração de Mefibosete estava voltado para o rei, e que durante sua ausência, ele sentia uma tão profunda empatia pelo rei em sua rejeição que não lavou os pés nem aparou a barba (2 Sm 19:24). Quando seus olhos brilharam sobre o próprio rei, ele não conseguia pensar em mais nada e não se importava com mais nada. Ele tinha Davi; o que mais ele poderia desejar? Deixar Ziba ou outros terem toda a terra foi a declaração de seu coração agradecido, “pois, já veio o rei, meu senhor, em paz à sua casa” (2 Sm 19:30).
E o primeiro olhar dos nossos olhos sobre o nosso precioso Senhor encherá nossa alma de gozo, de modo que prontamente exclamaremos:
Adeus mortalidade!
Jesus é meu;
Bem-vinda eternidade!
Jesus é meu.
Posse plena
Sim, então teremos plena posse daquilo que tanto desejamos. O nosso gozo será perfeito, a nossa felicidade completa. Veremos aquele Bendito Salvador, a Quem, mesmo não tendo visto, amamos. “Na casa de Meu Pai há muitas moradas... vou preparar-vos lugar” (Jo 14:2).
Há muitas moradas no céu, mas há um lugar especial para a Igreja; Ele foi preparar esse lugar, para que onde Ele estiver, possamos estar também. Nós estaremos lá, pois Sua Palavra é verdadeira; Sua promessa é certa; Ele não pode negar a Si mesmo. Então Jesus terá diante de Si todos aqueles que formam o corpo de Cristo, a noiva do Cordeiro, a Igreja do Deus vivo. Sim, Ele a apresentará a Si mesmo. Seu coração amoroso sentirá então: “Esta é a Igreja que Eu amo; esta é a Igreja que Eu comprei; esta é a Igreja que é mais querida ao Meu coração do que a Mim mesmo; esta é a Minha noiva, a quem estou unido para sempre.”
H. H. Snell (adaptado)
Cristo Compartilhando Sua Herança Conosco
Todos nós gostamos de receber uma herança, embora estejamos, é claro, tristes que aquele que a deixa para nós teve que morrer para que a obtivéssemos. No entanto, a maioria de nós que viveu até a meia-idade aprendeu que receber uma herança nem sempre acontece de forma tranquila. O mundo tem um ditado: “Você realmente não conhece alguém até que tenha que compartilhar uma herança com eles”. Com demasiada frequência, as famílias brigam entre si sobre quem deve receber o quê, e ressentimentos se desenvolvem quando alguns sentem que foram enganados no que receberam. Quando o Senhor Jesus estava na Terra, um homem pediu-lhe para persuadir seu irmão a dividir a herança com ele (Lc 12:13). Além disso, às vezes a herança é menor do que o herdeiro pensava. Lembro-me de quando minha esposa e eu fomos nomeados em um testamento, e quando chegou a hora de distribuir os fundos, o dinheiro que nos havia sido destinado a dividir havia sido gasto pelo indivíduo, e não havia mais nada (não que isso importasse para nós, pois ficamos bastante surpresos até mesmo por sermos nomeados no testamento).
A terra prometida a Abraão
Nós lemos um pouco sobre herança na Palavra de Deus, e especialmente no Velho Testamento. Israel recebeu uma herança terrenal, e muito é dito sobre como eles a possuíram, como a terra foi dividida, como eles falharam em viver para a glória de Deus e como eles finalmente perderam essa herança. No entanto, Deus não desistiu do Seu povo, e em um dia vindouro, sabemos que Ele os trará de volta a sua terra, não em incredulidade, como eles estão fazendo hoje, mas com um novo coração e um novo espírito (Ez 36:26). Naquele tempo, eles terão a herança completa que Deus prometeu a Abraão, e não apenas parte dela, como tinham no Velho Testamento. Será um dia maravilhoso para Israel quando isso acontecer e quando a bênção de Deus repousar sobre eles durante o Milênio.
No entanto, mesmo naquele dia maravilhoso, eles não compartilharão, nesse sentido, a herança com Cristo. Sim, a terra é do Senhor, e eles a receberão de Sua mão naquele dia, mas não compartilharão a herança da mesma forma que a Igreja. Falaremos mais sobre isso mais tarde, mas por enquanto vamos olhar um pouco para o que o homem pensou em fazer com a herança de Cristo. Em Mateus 21:33-44, Marcos 12:1-11 e Lucas 20:9-18, temos a parábola sobre a vinha, que foi deixada aos lavradores, repetida três vezes. Claramente, o dono da vinha é Deus Pai, e depois de enviar seus servos várias vezes para receber frutos da vinha, ele finalmente enviou seu Filho amado, que é obviamente um tipo do Senhor Jesus. Em todos os três casos, os servos ímpios disseram entre si: “Este é o herdeiro: vamos, matemo-lo, e a herança será nossa”. Com o poder de Satanás por trás dele, o homem usurpou a reivindicação de Deus quanto a este mundo e tem se aproveitado dele como se fosse seu. Mas é parte da herança de Cristo, e um dia o usurpador será tirado e a Cristo será dado o Seu devido lugar.
O “mestre usurpador”
Eu digo que o usurpador será eliminado, pois enquanto o homem realmente tentou tomar a herança que pertence a Cristo, Satanás tem sido o “mestre usurpador”. Nas tentações no deserto, o Senhor Jesus enfrentou Satanás sobre esse mesmo assunto, e Satanás ousou tentar o Senhor Jesus mostrando-Lhe “num momento de tempo, todos os reinos do mundo” (Lc 4:5). Então ele disse: “Dar-Te-ei a Ti todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero” (v. 6). Sua oferta foi: “Se Tu me adorares, tudo será Teu” (v. 7). Essa abordagem funcionou até certo ponto com todos os outros seres humanos desde que o pecado entrou neste mundo, pois o homem pecador responde à concupiscência da carne, à concupiscência dos olhos e à soberba da vida. Mas aqui estava Alguém que não tinha uma natureza pecaminosa para responder a tais tentações e que reconheceu o usurpador quando o viu. Satanás pode usar pequenas coisas para tentar o homem, mas, se necessário, pode “subir a aposta” para todos os reinos deste mundo, a fim de manipular o homem pecador. É instrutivo que o Senhor Jesus não tenha discutido com a reivindicação de Satanás quanto aos reinos deste mundo, pois Ele estava contente em esperar até que o Pai os desse a Ele.
Mais adiante, no Novo Testamento, obtemos a herança mencionada em conexão com Cristo e nossa parte nela. Paulo pôde recomendar os santos de Éfeso “a Deus e à Palavra da Sua graça, a Ele, que é poderoso para ... dar herança entre todos os santificados” (At 20:32). Mais tarde, enquanto estava diante de algumas autoridades romanas, Paulo contou-lhes como ele havia sido comissionado para comunicar aos gentios, entre outras coisas, sobre a “herança entre eles que são santificados pela fé que está em mim” (At 26:18 – KJV).
A herança prometida no Novo Testamento
Qual é, então, essa herança de que Paulo fala? Isso nos é dado em Apocalipse 21:7: “Quem vencer herdará todas as coisas, e Eu serei seu Deus, e ele será Meu filho”. A herança que Cristo terá não é apenas este mundo, mas todas as coisas criadas, pois Deus entregou tudo nas mãos de Seu Filho amado. Mas o maravilhoso é que Ele vai compartilhar tudo isso conosco. Um hino expressa bem isso:
Aquele amor que dá, não como o mundo, mas compartilha
Tudo o que possui com Seus amados coerdeiros.
Aspectos da herança prometida
Há várias coisas que a Escritura traz diante de nós sobre essa maravilhosa herança. Em primeiro lugar, estamos predestinados a ela. A herança terrenal para a nação de Israel e outros com eles é “desde a fundação do mundo” (Mt 25:34), mas aqueles que farão parte da Igreja foram “escolhidos…n’Ele antes da fundação do mundo” (Ef 1:4). Nós “obtivemos uma herança, sendo predestinados segundo o propósito d’Aquele que faz todas as coisas segundo o conselho da Sua própria vontade” (Ef 1:11 – JND).
Em segundo lugar, recebemos o Espírito Santo como “o penhor da nossa herança” (Ef 1:14), e assim temos a completa certeza de que Deus cumprirá Sua promessa de nos dar, com Cristo, essa herança.
Em terceiro lugar, é considerado parte da nossa recompensa, pois receberemos “do Senhor a recompensa da herança” (Cl 3:24). Isso foi, sem dúvida, um incentivo especial para escravos, que foram informados de que, mesmo em seu trabalho para seus mestres, eles serviram “a Cristo, o Senhor”.
Finalmente, somos lembrados em Hebreus 9:15 que recebemos a “promessa da herança eterna”. A herança de Israel no Velho Testamento nunca foi mencionada como sendo eterna, e sabemos que por desobediência eles perderam essa herança, pelo menos temporariamente. Mas temos uma herança eterna, e nunca podemos perdê-la.
Resumindo, embora possamos nos debruçar sobre vários aspectos de nossa herança, entretanto, e com razão, o aspecto mais maravilhoso disso é que nosso Senhor e Salvador herda tudo, e compartilha tudo conosco, como Sua noiva. Não temos direito sobre essa herança por direito próprio, mas nosso bendito Salvador, que nos ama e morreu por nós, garantiu-a para nós e tem o prazer em compartilhar tudo conosco. Toda a criação celestial e terrenal deve ser colocada sob Cristo e sob aqueles que estão unidos a Ele. Percebemos isso e vivemos no gozo e antecipação disso? No entanto, há algo ainda mais precioso em tudo isso, como alguém disse: “Ainda mais abençoada do que a glória vindoura será a celebração da graça que nos levou até lá”.
W. J. Prost
Compartilhando a Casa do Pai com Cristo
Começando em João 14, o Senhor está conduzindo Seus discípulos para longe da Terra para associar a mente deles a Ele no céu; apesar de Sua rejeição como Filho de Deus, Filho de Davi e Filho do Homem, havia testemunho de tudo o que Ele era. Os gregos vão adorá-Lo; então Ele declara: Se Eu quiser tomar este lugar, devo morrer. Sua participação com os homens na Terra está totalmente encerrada; todos se voltaram contra Ele e O rejeitaram. Agora, em vez de trazer bênçãos para eles, Ele os está levando para o céu. A chave para tudo isso é ter “parte Comigo” (Jo 13:8). E isso é como se Ele dissesse: “Eu trouxe vocês, pela redenção, ao mesmo lugar em que Eu mesmo estou. Ele é o vosso Deus assim como é o Meu; o vosso Pai assim como é o Meu. Eu não vou ficar sozinho na casa do Pai”.
Os filhos em casa
Ele sabia para onde os estava levando, e o que estava colocando diante do coração deles tinha esse caráter específico, ou seja, era onde os filhos estavam em casa. Ele os havia trazido para o lugar de filhos, e quando chegasse a hora, Ele os levaria para a casa do Pai. A casa, Ele diz, é onde Eu estou, e onde Eu, como Filho, encontro Meu gozo, descanso, bem-aventurança e glória, e é lá que vocês também encontrarão isso. A sua porção está Comigo na casa de Meu Pai.
Seja qual for a bem-aventurança para a qual Ele tenha ido, Ele virá, no mais profundo interesse pessoal, para nos levar até lá. Depois de Seu Pai, os Seus redimidos são tudo para Ele. Ele virá ao encontro deles e os fará subir para Si na casa de Seu Pai. Essa é a base de todo o Seu ensinamento aqui. Estamos vivendo nessas coisas agora antes de estarmos de fato lá?
Ele provocou uma ruptura total com o mundo. Quando o mundo inteiro O rejeitou, Ele subiu para Se sentar à direita de Deus. O Acolhido do Pai é o Rejeitado do mundo. O mundo não O vê mais, pois tudo está acabado com o mundo. Mas nós, em glória, estaremos moldados à imagem do Filho, para que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos.
O objetivo diante de nós
Vamos ver, então, como devemos entender isso agora. Em primeiro lugar, é o objetivo diante de nós; em segundo lugar, o que eu sei do lugar, e como eu conheço o lugar. Se encontrei o Pai em Cristo, sinto a bem-aventurança de estar com o Pai e o Filho. Em Cristo temos a revelação do Pai e o que nos leva ao Pai: “Eu sou o Caminho”. Se, indo a Ele, encontrei o caminho para o Pai, encontrei o caminho, bem como o lugar, e conheço a bem-aventurança da casa do Pai porque sei que esse é o centro de tudo. Tenho consciência do amor e do favor divino que me colocou nesse lugar, e sou capaz de clamar: “Abba, Pai”.
Como posso ver e conhecer isso? Em Cristo. Quando o coração se apodera disso, tem a fonte de toda a bem-aventurança que teremos quando Cristo vier para nos levar até lá, e o espírito desfruta disso agora porque isso é tudo para nós como uma coisa presente. Não receberemos nada lá que não nos seja revelado agora, como nossa porção, enquanto estivermos na Terra. Ainda não vimos a glória. Recebemos a obra de Cristo como nosso título a ela, e o amor do Pai para desfrutar. Nós não apreendemos tudo isso, mas é uma coisa abençoada poder dizer: Eu tenho o próprio pensamento de Cristo sobre a bem-aventurança do céu, quanto gozo Ele tinha em pensar na casa do Pai. Temos isso agora. Que tranquilidade de espírito isso dá! Que confiança de coração n’Ele! Entrei nesse lugar pelo que vi em Cristo. Ele é o Caminho; encontrei o Pai em Cristo.
Outro Consolador
Agora, quando Ele estabelece um objetivo diante do nosso coração, Ele insiste na segunda parte: “Orarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador”. Ele deseja que tenhamos o poder e a verdade de um Espírito Santo presente como Aquele pelo Qual apreendemos essas coisas. O Espírito Santo somente é conhecido por estar em nós. Cristo deveria ter sido conhecido por todos, mas o Senhor diz do Espírito Santo: “Ele [o mundo] não O vê, nem O conhece” (Jo 14:17). O mundo precisa ver os frutos do Espírito em obras e poder, mas Ele é conhecido somente onde Ele habita. O Senhor diz que o Espírito permanecerá conosco; Ele não Se afastará como o Senhor Se afastaria. Nós não ficaremos órfãos, mas veremos o Senhor. O Espírito nos tornará conscientes de que vivemos pelo Senhor. Temos tudo o que está no céu; nós, pobres vasos, purificados pelo sangue e, na medida em que somos purificados, aptos para Deus. Deus desce e habita no vaso. Eu tenho Cristo de volta, não de forma palpável agora, mas eu sei que não sou deixado sem consolo. Eu sei que é ouvir Sua voz, o ouvir o testemunho do Espírito que está presente comigo. Eu tenho descanso n’Ele – Sua paz.
E veja o que flui desta presença do Consolador. “Vós Me vereis” e “porque Eu vivo, e vós vivereis”. É a vida que venceu a morte; Ele esteve sob a morte por nós, e se Ele vive triunfante sobre tudo, eu também vivo. Somos abençoados por ter vida do, com e no Senhor Jesus Cristo. Quão ansioso Ele está para nos fazer felizes! Você sabe como andar nessa vida, como viver essa vida? Não é pelo que se vê, mas pelo que é invisível e eterno, no conhecimento do Pai e o Filho. A consciência de pertencer a essa esfera nos torna celestiais no andar e nos caminhos.
Ouvido atento
Um filho pode estar em casa e não saber os desejos do pai? Se sim, ele deve ser um filho muito desatento. Se você está vivendo no relacionamento de um filho, deve estar no poder do que o Pai gosta. A alma deve estar atenta aos desejos de Cristo. Cristo disse, “desperta-Me de manhã em manhã, desperta-Me o ouvido para que Eu ouça como os que são instruídos” (Is 50:4 – TB). Se estamos andando como Cristo, com nossos ouvidos abertos como filhos atentos, devemos entender quais são os Seus desejos; devemos conhecê-los e responder a eles. Ele tem prazer em nos fazer conhecer a Sua vontade. Aqui não é aquela graça e amor soberanos que deram Seu Filho por mim quando eu era pecador, mas é o Pai tratando os filhos de acordo com o andar dos filhos. É a manifestação da vida e dos caminhos de Cristo; tudo é muito fraco em nós, mas o coração do Senhor é sempre verdadeiro. Que antecipação do céu é isso – andar com o Pai e o Filho! O Senhor procura nos fortalecer e encorajar no caminho da obediência, e até que chegue a hora de morarmos com Ele, Ele virá e permanecerá conosco, se andarmos nisso. O que Ele nos dá aqui é Sua paz, enquanto nos coloca em Seu próprio lugar naquela comunhão ininterrupta com Seu Pai.
Que o Senhor dê ao Seu povo um completo julgamento próprio na completa consciência do que somos, como colocados de lado diante de Deus na cruz, e a consciência do lugar que Deus nos colocou em Cristo. Que possamos andar em paz e confiança de coração como Seus filhos e na serena humildade que Cristo andou ao passar pelo mundo.
J. N. Darby (adaptado)
Compartilhando Amor e Compartilhando Ódio com Cristo
Em João 15:1-17, o Senhor nos apresenta a nova companhia Cristã, não de fato em sua formação ou administração (para isso o tempo ainda não havia chegado), mas em suas marcas morais e privilégios espirituais. É vista como uma companhia governada pelo amor de Cristo e, permanecendo em Seu amor, unida pelo amor uns aos outros. Nas palavras que se seguem (v. 18 e seguintes), o Senhor passa, em pensamento, fora do círculo Cristão de amor para falar do círculo de ódio do mundo, advertindo assim Seus discípulos do verdadeiro caráter do mundo, pelo qual seriam cercados, e preparando-os para a perseguição que sofreriam.
Compartilhando com Cristo
Se compartilhamos com Cristo o amor, o gozo e as santas intimidades do círculo interior, devemos também estar preparados para compartilhar com Cristo o ódio e a reprovação que o mundo teve por Ele. Não há nenhuma sugestão de que os discípulos deveriam tentar fazer o melhor dos dois mundos, como os homens falam. Deve ser Cristo ou o mundo; não pode ser Cristo e o mundo. Um grupo que de algum modo exibisse as graças de Cristo seria reconhecido pelo mundo como identificado com Ele, e o ódio que o mundo expressou por Cristo seria mostrado a Seu povo. O ódio e a perseguição sofrida por Cristo seriam deles.
O mundo é um vasto sistema que abraça todos os grupos, classes e falsas religiões, tendo em comum o ódio a Deus. O mundo pelo qual os discípulos foram imediatamente cercados era o mundo do judaísmo corrupto. Hoje, o mundo com o qual os crentes estão principalmente em contato é o mundo da Cristandade corrupta. Sua forma externa pode mudar de tempos em tempos, mas no coração é sempre marcada pela alienação de Deus e pelo ódio a Cristo.
Odiado pelo mundo
Por que esses homens comuns foram odiados pelo mundo? Não era um grupo de pessoas pobres que amavam uns aos outros, que viviam de forma ordeira, sujeitos ao governo, sem interferir em suas políticas? Não andaram eles anunciando boas novas e fazendo boas obras? Por que é que tais atitudes eram odiadas?
O Senhor dá duas razões para esse ódio. Em primeiro lugar, eles eram um grupo de pessoas que Cristo havia escolhido do mundo (v. 19). Em segundo lugar, eles eram um grupo de pessoas que confessaram o nome de Cristo diante do mundo (v. 21). A primeira causa atrairia mais particularmente o ódio do mundo religioso; a segunda, o ódio do mundo em geral. No decorrer de todos os tempos nada tem enfurecido mais o homem religioso do que a graça soberana que, passando por cima de todos os esforços religiosos do homem, acolhe e abençoa o excluído e o miserável. A própria menção da graça de Deus que abençoou uma viúva e um leproso gentios levou os líderes religiosos de Nazaré a se levantarem em ira e ódio contra Cristo. A graça soberana que abençoa o filho mais novo enfurece o filho mais velho (Lucas 15).
Perseguido
Além disso, os discípulos são avisados de que esse ódio se mostrará em perseguição. “Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós”. Essa expressão ativa de ódio está mais diretamente relacionada com a confissão do nome de Cristo, pois o Senhor disse: “Mas tudo isso vos farão por causa do Meu nome”. A perseguição, seja de Cristo ou de Seus discípulos, provou que os perseguidores não tinham conhecimento d’Aquele que enviou Cristo – o Pai.
Não há, no entanto, nenhuma desculpa para tal ignorância. As palavras do Senhor e as obras do Senhor deixaram o mundo sem desculpa, seja por ódio ou ignorância. Se Cristo não tivesse vindo e falado ao mundo palavras como nunca o homem tinha falado, se Ele não tivesse feito entre eles obras que nenhum outro homem tinha feito, eles não poderiam ter sido censurados com o pecado da inimizade voluntária contra Cristo e o Pai. Eles ainda teriam sido criaturas caídas, mas dificilmente teria sido demonstrado que eles eram criaturas voluntariosas e que odiavam a Deus. Mas agora não havia disfarce para o pecado deles. Não havia como esconder o fato da culpa do mundo: Ela tinha sido revelada. Cristo havia revelado plenamente – por Suas palavras e obras – todo o coração do Pai. E isso só trouxe à tona o ódio do homem a Deus. O mundo como tal foi deixado sem esperança, pois, de acordo com sua própria lei, eles odiavam a Cristo sem razão. Assim, o ódio do mundo não é mais ignorância: É pecado. É um ódio sem razão. Ai! Nós, mesmo como Cristãos, às vezes podemos dar ao mundo motivo de ódio, mas em Cristo não havia motivo. Há, de fato, um motivo para o ódio, mas não está n’Aquele que é odiado, mas no coração daqueles que odeiam. Se houver fidelidade voluntária a Cristo, os Seus compartilharão desse ódio.
H. Smith (adaptado)
Compartilhando Ódio de Deus pelo Pecado
No último versículo de 1 João 2, o assunto da nossa justiça é introduzido. Vimos que Deus é justo em 1 João 1:9. Que verdade maravilhosa é essa que Deus é declarado Fiel e Justo para perdoar nossos pecados e nos purificar de toda injustiça! Deus é capaz de agir não apenas graciosamente em nosso favor quando não o merecemos, mas também age para perdoar, de forma justa, aquilo que é tão ofensivo a Ele como pecados. É verdade que, quando nascemos de Deus, também evitamos os pecados; aprendemos a condenar o próprio pecado e a nós mesmos por termos sido culpados de pecados. Não é isso que acontece desde o início quando o crente se volta para Deus? Estando diante d’Ele, abomina a si mesmo e aos seus pecados. Quando a obra do Senhor Jesus é recebida no poder do Espírito, bem como em Sua Pessoa, então, até mesmo o novo convertido vê as coisas claramente, como elas são aos olhos de Deus. Ele começa a conhecer não somente as coisas sob a visão de Deus, mas o próprio Deus, em Seu sentimento de perfeito amor para com aqueles que são Seus.
Justiça - novo nascimento
Aqui, no entanto, nossa justiça é declarada como algo inseparável do nosso novo nascimento. Isso muitas vezes alarma qualquer um imaturo na fé, porque ele naturalmente logo se volta para olhar para dentro de si. Mas o que temos que fazer é descansar em Cristo, que para nós é feito justiça. Não há proveito algum para a fé olhar para nós mesmos; isso traz apenas o conhecimento de nossa fraqueza absoluta. Somente quando nosso olhar espiritual é preenchido por Cristo, Seu poder se aperfeiçoa em nossa fraqueza. Então, de fato, haverá a justiça prática.
Embora no último versículo ele tenha introduzido a justiça, o escritor (João) imediatamente parece se afastar dela nos versículos iniciais do capítulo 3, onde ele, de repente, irrompe naquelas palavras maravilhosas: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai” (ARA). Assim, ele recebe o amor presente do Pai e a glória futura no mesmo supremo favor aos filhos de Deus em ser como Cristo, “porque assim como é O veremos. E qualquer que n’Ele [Cristo, fundado sobre Ele] tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele [Cristo] é puro”. Sendo Cristo o Padrão, e sendo Ele absolutamente puro, faz com que o Cristão sinta que deve purificar-se de tudo o que é indigno d’Ele. Desnecessário será dizer que, quando olhamos para a conduta diária, muitas vezes há fracasso. Mas João não está ocupado com a falha como regra geral, mas com o princípio e, portanto, ele a coloca em toda a sua simplicidade, de forma abstrata.
Ódio do pecado
O crente é justo como sendo nascido de Deus e, consequentemente, compartilha com Cristo o ódio de Deus pelo pecado, pois nossas ações são resultado do que somos. E todo aquele que pratica a justiça é nascido de Deus, e assim sabe que tem proximidade no relacionamento por ser o objeto do amor do Pai. Assim, a natureza e o relacionamento dão as mãos e caminham juntos, e é isso que o apóstolo nos explica aqui.
“Qualquer que comete o pecado também comete iniquidade [rebeldia – AIBB], porque o pecado é iniquidade [rebeldia – AIBB]” (v. 4). “cometer pecado” aqui significa tanto o princípio do homem quanto sua prática também, pois isso é exatamente o que o homem natural faz aos olhos de Deus. O lugar do homem está no pó como pecador, pois seu pecado é rebeldia – o princípio da vontade própria e da total independência de Deus.
O pecado é rebeldia
“Qualquer que comete o pecado também comete iniquidade [rebeldia – AIBB], porque o pecado é iniquidade [rebeldia – AIBB]”. O pecado não é transgressão da lei (como traz a versão ARA e a KJV), mas rebeldia; esse é o verdadeiro sentido. Nenhuma outra interpretação é possível legitimamente. Fazer da lei, em vez de Cristo, a regra de vida para o Cristão é um erro. “E bem sabeis que Ele Se manifestou para tirar os nossos pecados; e n’Ele não há pecado” (1 Jo 3:5). Imediatamente o apóstolo introduz exatamente o oposto. Onde encontrar alguém totalmente livre da rebeldia? Havia apenas Um, e Ele era tão evidente que era desnecessário nomeá-Lo. Sim, sabemos que o Senhor Jesus foi manifestado para tirar nossos pecados. Quão adequado a uma Pessoa divina, mas ao mesmo tempo um verdadeiro Homem! Ele realmente abominou o pecado e, como é dito imediatamente após Sua obra, “n’Ele não há pecado”. Não é simplesmente “não havia” antes de Seu advento, e “não haveria” depois de Sua ressurreição, mas “n’Ele não há pecado”. É uma verdade absoluta. Como nunca houve pecado em nenhum momento, então nunca poderia haver. E ainda, Aquele sem pecado foi exatamente Aquele a Quem Deus fez pecado, para que nós, que realmente éramos pecadores, pudéssemos ser feitos justiça de Deus n’Ele. Por um lado, isso se refere ao objetivo e ao ato sem igual de Sua morte expiatória; por outro, refere-se ao caráter imutável e santo de Sua vida, tão singularmente manifestado e particularmente testado neste mundo. Assim, isso foi manifesto a todos os olhos, a menos que fossem cegos ou não enxergassem direito.
Nenhum outro remédio
“Qualquer que permanece n’Ele não peca” (1 Jo 3:6). Não há outro remédio contra o pecado a não ser permanecer n’Ele, constantemente dependente e confiante. A proteção ou preservação não estão em quem invoca o nome do Senhor. É coisa excelente agir assim, mas muitos que hoje dizem “Senhor, Senhor” serão ignorados naquele dia. Permanecer em Cristo é a prova para uma fé viva em Cristo, que não é vazia ou vã, mas, pelo contrário, opera por amor, como foi dito aos gálatas que estavam sob influência da lei. E isso nem poderia ser de outra maneira. “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, O Qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20). Ele não Se envergonha de nos chamar irmãos, Ele provou Seu amor por nós até o fim. Nem o Pai nem o Espírito Santo jamais foram encarnados para mostrar obediência absoluta em vida e em morte ao suportar o juízo por nossos pecados sob as mãos de Deus. Cristo sim. Há para nós um motivo de poder abundante, particularmente porque há uma natureza justa comunicada, bem como um relacionamento de tal proximidade com Deus, como somente o amor supremo do Pai poderia conceber e conceder.
W. Kelly (adaptado)
Herdeiros, Sofredores e Glorificados com Cristo
“Não recebestes o espírito de escravidão para estardes outra vez com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O Espírito mesmo dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus. E se filhos, também herdeiros; herdeiros de Deus, e coerdeiros de Cristo, se realmente padecemos com Ele, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm 8:15-17 – TB).
Nossa associação com Cristo é particularmente mencionada: “E se filhos, também herdeiros; herdeiros de Deus, e coerdeiros de Cristo, se realmente padecemos com Ele, para que também com Ele sejamos glorificados”. Três coisas são trazidas à tona: (1) nossa posse, “coerdeiros”; (2) nosso privilégio, “padecemos com Ele”; (3) nossa perspectiva, “com Ele sejamos glorificados”.
Uma herança
Sabemos que a herança é nossa, inalienável e segura – “uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós” (1 Pe 1:4). O sofrimento de um tipo ou de outro, como nossa porção presente neste mundo, é o que podemos esperar; aceitamos isso, ou logo aprendemos por experiência. Sim, e “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3:12). Então, além de tudo isso, a glorificação é a nossa perspectiva de acordo com o propósito de Deus, pois, Quem “os justificou, também os glorificou” (Rm 8:30). Pode-se notar como tudo flui do relacionamento – “se filhos, então herdeiros”. O direito e o vínculo que provêm do nascimento andam juntos. Somos filhos de Deus, aqui e agora. O significado dessa verdade – o relacionamento com Deus e a importância de perceber a verdadeira natureza do vínculo espiritual que provém do nascimento – por mais que a enfatizemos, nunca enfatizaremos o suficiente, dada sua magnitude.
Adoção
Este é um novo relacionamento com Deus, no qual os crentes são admitidos. Ele é construído sobre outro plano e de uma natureza totalmente diferente de qualquer outro anteriormente apreciado pelo homem. O elo é formado por meio de sermos nascidos de novo espiritualmente, nascidos de Deus, pela vida eterna que temos n’Ele e por Deus enviar o Espírito de Seu Filho em nosso coração que clama: “Abba, Pai”. Como aqui em Romanos 8, onde temos a propriedade (v. 14), a adoção (v. 23) e a manifestação (v. 19) apresentadas em conexão com a posição de sermos “filhos de Deus”, o próprio vínculo de nascimento imediatamente se evidencia: “Recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Abba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (vs. 15-16). Encontramos aqui a herança ligada com o nosso relacionamento com Deus como Seus filhos.
Filiação
Gálatas liga a herança com filiação (Gl 4:7). Não há aqui uma diferença essencial na questão da herança, embora haja uma distinção importante, “crianças” e “filhos”. O nascido de novo é um filho de Deus que, recebendo a Cristo e crendo em Seu nome, é nascido “não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1:12-13 – ARA). Todos eles são filhos de Deus que têm “fé em Cristo Jesus” (Gl 3:26). Se por um lado temos o laço ou o vínculo de relacionamento que legitimamente permeia a família de Deus, por outro há o estabelecimento do lugar e da posição, embora também da responsabilidade, caracterizando aqueles que, sob a economia Cristã, estão assim relacionados. O que nossa passagem mostra, então, é que nossa herança não se liga apenas à filiação (com toda a riqueza de privilégio e lugar implícita no termo), mas que ela está envolvida no próprio vínculo de nascimento – “se filhos, então herdeiros”. Não estamos, portanto, duplamente seguros em nossa herança, por direito e por vínculo, pela graça de Deus?
Coparticipantes
“Herdeiros de Deus”! Que porção é a nossa! Não um simples legado de alguém a quem a morte levou. Também não é simplesmente como a “herança dos santos na luz”, ainda que ela possa ser assim caracterizada. Somos coerdeiros com Cristo. Não é um legado deixado em testamento, como já foi dito, mas sim uma associação de bênção a qual somos trazidos. Devemos ser coparticipantes com Cristo, como nos mostra Efésios 1, naquilo que resultar do cumprimento do propósito de Deus.
J. T. (adaptado)
Uma Companhia Adequada para Compartilhar com Cristo
Será encontrada na Igreja uma companhia adequada para compartilhar com Cristo as glórias vindouras de Seu reinado. Tudo o que o Noivo herda, a noiva herdará. Como ela é participante dos Seus sofrimentos, no dia da Sua rejeição, ela será participante do Seu trono no dia da Sua glória. Quando Cristo reinar sobre a vasta Terra, ela reinará com Ele.
H. Smith
Compartilhando com Cristo a Presença do Pai
Na verdade, o Cristianismo começa com a possessão da vida eterna, e essa vida está no Filho: “o fim” é também vida eterna, mas tudo é “dom de Deus”. Temos a vida eterna enquanto continuamos “na esperança da vida eterna”. Encontramos a redenção também apresentada a nós na Escritura da mesma maneira. Temos a redenção agora, e estamos à espera da redenção. Quanto aos crentes é mencionado: “Em Quem [Cristo] temos a redenção pelo Seu sangue”, e ainda estamos esperando “a redenção do nosso corpo” (Ef 1:7; Rm 8:23). O mesmo pode ser notado quanto à salvação; somos salvos e, no entanto, aguardamos a salvação. Recebemos “o fim” da nossa “fé”, sim, a salvação da nossa “alma” (1 Pe 1:9), e ainda “seremos salvos da ira por meio d’Ele” (Rm 5:9). O mesmo escritor inspirado que diz: “Quem nos salvou”, também diz: “esperamos o Salvador” (Fp 3:20) “que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o Seu corpo glorioso” (Fp 3:21). Nos é dito em 1 Tessalonicenses 4:16-17 que esta mudança e trasladação se darão quando o próprio Senhor descer do céu com alarido. Então, tendo a vida eterna em todos os seus gloriosos resultados, compartilhamos com Cristo a presença do Pai na casa do Pai, em toda a indizível bem-aventurança da glória eterna.
Christian Truth, vol. 13
Compartilhando com Cristo a Vitória sobre a Morte e o Mundo
Primeira João 5:5 é uma verdade gloriosa! É pela dependência que obtemos a vitória – pela dependência em Jesus. Há duas vitórias nas quais eu tenho parte – uma na comunhão, outra no poder. Eu compartilho com Cristo a vitória sobre o mundo e a vitória sobre a morte. “Tragada foi a morte na vitória” (1 Co 15:54). Mas quando alcançamos vitória sobre o juízo (Tg 2:13), devemos ficar de lado e recebê-la das mãos de Cristo. Vocês têm algo a dizer quanto a tirar o pecado? Vocês sabem que não têm; ou seja, são devedores. Preparem-se, olhem fixamente e adorem por aquilo que Cristo fez. E dessa maneira vocês são chamados à vitória. Vocês podem ser considerados tolos, mas carregam o poder de Deus. Vocês possuem aquilo que é a vitória sobre o mundo! Ah! Queremos pensamentos elevados. Os pensamentos de Deus são muito elevados, embora Ele os limite em poucas palavras de um texto simples. São elevados e abundantes.
Words of Truth, vol. N1
A Vida D’Ele É a Minha Vida
Quando Eu, também, volto meus olhos para Jesus, quando contemplo toda a Sua obediência, Sua pureza, Sua graça, Sua ternura, Sua paciência, Sua devoção, Sua santidade, Seu amor, Sua inteira liberdade de todo egoísmo, posso dizer, essa é minha vida.
Essa é uma graça imensurável. Pode ser que esteja obscurecida em mim; mas não é menos verdade que essa é a minha vida. Oh, como eu desfruto de ver isso assim! Como eu bendigo a Deus por isso! Que descanso para a alma! Que puro gozo para o coração! Ao mesmo tempo, o próprio Jesus é o Objeto das minhas afeições; e todas as minhas afeições são formadas nesse santo Objeto.
J. N. Darby
Compartilhando Suas Dores
“Meu Pai, se é possível, passa de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres. “ (Mt 26:39).
Se você percorrer o mundo como um filho de Deus e marcar as tristezas de Cristo com o pensamento de compartilhá-las em alguma pequena medida, você verá que elas se tornam muito preciosas para você também neste aspecto, mostrando o que a vida d’Ele era aqui embaixo, e o que a sua deve ser. Devemos esperar melhor jornada, um caminho mais suave do que o nosso bendito Senhor? Se a milésima parte de Suas tristezas viesse sobre um de nós, não poderíamos suportá-la – ela nos destruiria – mas podemos, em nossa pequena medida, seguir e provar Seu cálice de tristeza.
G. V. Wigram
Todos de Um
“Porque, assim O que santifica como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos” (Hb 2:11 - ARA). Cristo, e aqueles separados para Deus por meio do Espírito, são todos uma companhia, na mesma posição diante de Deus. Não é a mesma coisa com o Pai; nem o significado é exatamente que Ele e os outros eram da mesma natureza como meros filhos de Adão. São somente os santificados, os filhos que Deus Lhe deu, que Ele chama de Seus irmãos. Se fosse simplesmente uma questão de humanidade, Ele a compartilha, é claro, com toda a humanidade, embora não no mesmo estado que qualquer outra, seja santa ou pecadora. O significado se destaca claramente; Ele e os santificados estão todos na mesma natureza humana, estando diante de Deus – uma posição tomada em ressurreição. Então só pode ser dito deles como no Salmo. 22, “Então, declararei o Teu nome aos Meus irmãos; louvar-Te-ei no meio da congregação” (v. 22).
Bible Treasury, vol. 3
Cristo Compartilhando o que Ele Ganhou
Do palácio de Sua glória,
Do lar de gozo e amor,
O próprio Senhor veio nos buscar;
Ele queria nos ter lá em cima.
E em eras passadas e distantes,
Naqueles átrios tão brilhantes e serenos,
Antes que estivéssemos, Ele Se regozijava,
Tudo o que Ele ganhou conosco compartilhar.
Bevan, Hinário The Little Flock 93
Compartilhando Sua Cruz de Rejeição
Que dia será aquele em que o Salvador aparecer!
Como são bem-vindos aqueles que compartilharam de Sua cruz!
Uma coroa incorruptível então será deles,
Uma rica compensação pelo sofrimento e perda
T. Kelly, Hinário The Little Flock 168
Compartilhando Seu Gozo
Oh! Que lar! O Filho que conhece,
Ele somente – todo o Seu amor;
E nos traz como Seu bem-amado
Para aquele brilhante descanso acima;
Habitar em Seu seio – conhecer tudo
O que aquele seio contém,
E veio à Terra para torná-lo conhecido,
Para que possamos compartilhar Seu gozo.
Mrs. J. A. Trench, Hinário The Little Flock 127
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que… nos gerou de novo… para uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós”
(1 Pe 1:3-4)
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