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Breves Meditações Sobre os Salmos - Parte 4/9

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ÍNDICE


 

Breves Meditações Sobre os Salmos

Principalmente em Seu Caráter Profético

J. G. Bellett

Parte 4

 

Salmo 70

 

Temos aqui muito da linguagem dos versículos finais do Salmo 40. E essa é uma expressão adequada para o homem de muitas, muitas dores, e poderia ter sido frequentemente repetida. Isso tem alguma conexão também com o próximo Salmo (veja o versículo 2 e Salmo 71:13). Podemos nos lembrar, em conexão com o versículo 3, das blasfêmias de Marcos 15:29.

 

Salmo 71

 

Davi é distintamente ouvido neste Salmo. O Espírito de Cristo também, como em companhia do Remanescente, do qual Davi, em suas dores e arrependimento, é uma figura tão marcante. A aflição de Davi vinda da mão de Absalão foi a aflição de sua “velhice”, ou quando ele estava “de cabelos brancos”. Portanto, misticamente, a aflição do Remanescente será na velhice de Israel (Is 46:4).

 

O fato de ser tirado da sepultura, ou da cova, ou dos abismos (profundezas) da Terra (v. 20), expressa o perdão de pecados, assim como a ressurreição de Cristo foi a garantia dessa graça (Is 38:17).

 

Mas o caráter mais marcante neste Salmo é o desejo de Davi de ter Deus e Sua justiça magnificados nele. Ele já havia sido um prodígio, mas desejava ser ainda mais. Sua história tinha sido até então uma exibição de graça maravilhosa. Tirado dos apriscos para ser ungido rei; defendido da cruel inimizade de Saul; levado à honra, como antes havia sido fortalecido para a vitória; esses eram os caminhos brilhantes da graça para com ele. Mas agora, ao ser restaurado após o pecado e a apostasia, isso o tornaria uma maravilha ainda maior. Ele realmente mostraria que “a graça triunfante reina”.

 

É nisso que a alma de Davi se fixa aqui. Não na confissão do pecado, cujo fruto foi seu sofrimento causado por Absalão, mas na glória do pensamento de ilustrar a graça abundante. Ele aguarda apenas para ser preparado para o louvor de Deus “cada vez mais” – de falar da justiça de Deus, “e só dela”. E verdadeiramente abençoada é uma experiência tão rica como essa; quando um pobre pecador, na percepção da graça divina, não faz confissão, mas triunfa com o pensamento de ilustrar em sua própria pessoa a abundância da bondade de Deus. Vemos isso em Paulo. Davi pode confessar o pecado, e isso de coração, em ocasiões adequadas, e inclinar a cabeça sob o castigo de tal pecado (veja Salmo 51, e outros); mas aqui, não é seu pecado que ele confessa, mas é a graça de Deus abundando sobre ele que ele exaltaria para sempre, e para esse fim aguarda e antecipa a libertação dos problemas presentes e o aumento de sua grandeza. Assim, sua história mostraria de forma mais impressionante do que nunca a justiça e o louvor de Deus.

 

E acrescentaríamos (embora já tenha sido sugerido) que a história de Israel é notavelmente semelhante à de Davi: – Sua eleição, embora o menor na casa de seu pai – preservação quando foi perseguido – capacitação e poder – depois, pecado e confisco de tudo, com cativeiro além do Jordão – e, finalmente, restauração e descanso. Esses são os semelhantes caminhos de Deus com Israel e também com Davi; e assim ambos podem declarar as obras maravilhosas de Deus e falar somente de Sua justiça o dia todo. Portanto o Remanescente, em seus dias, pode muito bem se encorajar na história de seu amado Rei nos dias antigos. Pois, dessa forma, ele é colocado como modelo para eles (como Saulo de Tarso) de toda a longanimidade divina (veja 1 Timóteo 1:15-16).

 

Salmo 72

 

Aquele Bendito, que chamou a Si mesmo de “maior do que Salomão”, certamente está “aqui”. Cristo como Rei dos reis, revestido de toda a régia dignidade e reinando em justiça, com pleno domínio universal e duradouro, como no Milênio ou nos tempos da restauração e refrigério, é apresentado aqui (veja Salmo 45; 2 Samuel 23:1-4; Isaías 9, 11, 32; Jeremias 23:5-8). Este é o tempo do qual se diz: “E o SENHOR será Rei sobre toda a Terra; naquele dia, um será o SENHOR, e um será o Seu nome” (Zc 14:9).

 

Esse Rei procede de maneira totalmente diferente dos deuses terrenais que são considerados infiéis às suas comissões reais ou judiciais (Sl 82). Ele governará ou julgará sabiamente, conforme demonstrado pelo decreto de Salomão entre as duas meretrizes (1 Rs 3). E o cetro da justiça em Sua mão garantirá paz – montes e outeiros, ou governos e cargos, trazendo paz por meio da justiça (Sl 72:3). Desse modo, esse reino expressará a presença do verdadeiro Melquisedeque, ou a soberania d’Aquele que é ao mesmo tempo Rei de Justiça e Rei de Paz. Pois a justiça estando em poder, então, a paz, a divina paz, será o resultado em todo o mundo: tudo o que é inconsistente com isso será julgado. Isaías 11 exibe isso de maneira bela também.

 

Conseguir um nome tem sido o grande esforço do homem, mesmo que o diabo seja o que o tenha dado (veja Gênesis 3:5, 4:17, 11:4; Salmo 49:11; Daniel 4:30; Apocalipse 13:2). Mas Jesus receberá um nome de Deus (v. 17, Fp 2:9). E então a antiga promessa a Abraão será cumprida em Cristo, sua Semente, pois todos serão abençoados n’Ele (veja v. 17 e Gênesis 12:3).

 

Mas toda essa realeza e poder de Jesus são para o louvor de Deus (vs. 18-19). Pois, no reino todos O reconhecerão como Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2). E o Seu trono será então intransferível, como é agora o Seu sacerdócio; pois está aqui escrito “e (Ele) viverá” – será constituído “segundo a virtude da vida incorruptível [indissolúvel – JND] (Hb 7) – e a oração e o louvor sustentarão e cercarão esse reino, como foi com Salomão, para sempre. Todo desejo termina em uma cena como esta, em um reino como é previsto aqui – as orações de Davi cessam – pois este reino é a resposta delas. E certamente o pensamento é abençoado e animador. Mas sabemos que uma noite sombria deve anteceder aquele dia brilhante e feliz. De fato, sabemos – e esse pensamento é sério. O mundo inteiro se maravilhará após a Besta, antes que toda língua confesse Jesus como Senhor.

 

Posso apenas acrescentar que esse reino agora não limita as expectativas da fé, embora tenha respondido às orações de Davi. Pois a luz adicional da revelação de Deus nos ensinou a aguardar “novos céus e nova Terra” depois desse reino. Aquele reino deve ser entregue, e então Deus será tudo em todos (veja Salmo 8).

 

NOTA: O Salmo 71 nos dá a velhice da tristeza Judaica; e então, o Salmo 73 a manhã, ou primavera, do gozo Judaico, ou a glória de Salomão. Pois embora haja o tempo de “angústia para Jacó”, “ele, porém, será salvo dela” (Jr 30).

 

Aqui termina a segunda parte do Livro dos Salmos, de acordo com a divisão Judaica.

 

Salmo 73

 

Este Salmo delineia com muita ternura e precisão o caminho de uma alma tentada. A prosperidade dos ímpios é a tentação. Nos versículos 13 e 14, a tempestade da alma parece estar no auge, e o versículo 15 revela o primeiro controle gracioso dado a ela pelo Espírito. O santuário é então adentrado – isto é, a mente de Deus sobre toda a cena é entendida, e tudo é interpretado à luz de “o fim” (v. 17); pois essa é a luz que o santuário fornece e na qual os sábios andam (Dt 32:29; Sl 90:12). E então vemos a obra adicional do Espírito restaurador de Deus, até que a pobre alma reflita sobre seu caminho, trazendo vergonha a si mesma, mas provando também o amor imutável de Deus; pois do comedor saiu comida — a tentação extraiu os recursos ainda mais ricos que estão em Deus. O segredo da ressurreição é apreendido e a alma descansa. O adorador havia sido como um animal, sentindo e raciocinando como se a vida presente fosse tudo. Mas ele aprende (o que Paulo se propôs a aprender dia após dia com mais perfeição – veja Filipenses 3) o poder da ressurreição, e isso lança uma luz nova e calma sobre tudo em que ele anda, e vê Aquele que é invisível (veja Salmo 77).

 

Observe neste Salmo 73, em contraste com o Salmo 37, o mesmo assunto está diante da mente em ambos – o curso do mundo e a prosperidade dos ímpios. Mas não há a calma da fé aqui como ali, mas as paixões da alma. Lá, a luz tranquilizadora da fé e da esperança ilumina a alma do início ao fim, mas aqui o repouso e o gozo da fé são alcançados por meio de profundas aflições de coração que surgiram da incredulidade.

 

Assim também, em contraste com o Salmo anterior, podemos observar como as coisas são diferentes no “presente século (mundo) mau” e no “mundo vindouro”. Lá, vimos que a justiça e a reparação dos erros marcarão o reino ou o mundo vindouro, e a paz e a prosperidade será o fruto certo da piedade então. Aqui, vemos que o opressor engorda com suas opressões, e um cálice de lágrimas é espremido para os justos.

 

Mas, dessa forma, diferentes lições são aprendidas. O único mundo em que nosso Deus age e Se mostra nunca poderia ter ensinado as lições do outro. No mundo presente, estamos aprendendo que Ele tem tesouros de graça para atender às nossas necessidades, e, no mundo vindouro aprenderemos Seus tesouros de glória para atender aos nossos regozijos. Como a bênção confiada a Arão, e aquela confiada a Melquisedeque (veja Números 6; Gênesis 14). Ambas eram bênçãos, mas diferentes, cada uma se adequando à condição diferente do povo de Deus – ao tempo que eles sofriam necessidade, fraqueza e tentação, e depois ao tempo de força, vitória e honra.

 

Salmo 74

 

Temos neste Salmo uma amostra de súplica a Deus muito terna e triste. É evidentemente a expressão do Remanescente à vista da desolação de Sião. O inimigo é visto triunfando no pleno orgulho da vitória sobre a casa e o povo de Deus, e a congregação do Senhor é deixada em opróbrio sem sinal ou profeta. O desejo é que o Senhor Se mostre como o Parente vingador de Israel. Pois, de acordo com a lei, o parente deveria resgatar, vingar e edificar a casa do irmão. E esse é um clamor a Ele para agir como um Vingador. No êxodo do Egito, Ele agiu assim, e isso é pleiteado aqui. Ele então, como Parente deles, resgatou Israel do Egito e vingou Israel sobre o Egito, dividindo as águas para o Seu povo e quebrantando as cabeças do leviatã. Débora celebra Jeová como um Vingador em Juízes 5, e os céus celebram o Senhor nosso Deus da mesma forma em Apocalipse 19:2.

 

O profeta ou o suplicante é movido pelo mesmo coração profundo e aflito de Isaías, quando em espírito olhou para a mesma cena de desolação. Ele deseja saber, se pudesse, quanto tempo a miséria duraria (v. 10, Is 6:11).

 

O suplicante pleiteia ainda as promessas que protegem Israel e a Terra (veja o versículo 17, com Gênesis 8:22; e o versículo 16 com Jeremias 33:20). Ele também clama pelo concerto, e que essa causa era a causa de Deus. E isso está de acordo com seu mediador Moisés, que em seus dias, clamou pelos pais, e o concerto da promessa, e a honra do nome d’Aquele que os resgatou do Egito (veja Êxodo 32:12-13). E o próprio Senhor diz que, na preservação atual de Israel e seu estabelecimento final, Ele tem respeito pelo Seu próprio nome (Dt 32:27). E no relato de Seus caminhos com Israel, em Ezequiel 20, temos o mesmo pensamento repetidas vezes.

 

A desolação de Sião aqui contemplada é ou pela mão de Nabucodonosor, dos romanos, ou do rei voluntarioso no último dia. De fato, no julgamento de Deus, a Judéia é uma cena de desolação, desde os dias dos caldeus até que o inimigo caia sobre a gloriosa monte santo, e os reinos se tornem do Senhor.

 

NOTA: O versículo 7 pode nos lembrar da invasão dos caldeus (2 Rs 25:9); o versículo 4 pode nos trazer à mente os ídolos nas muralhas, ou a abominação da desolação (Dn 9:27; Mt 24:15).

 

Salmo 75

 

Este é um pequeno Salmo muito marcante e de interpretação fácil e simples.

 

O primeiro versículo nos dá a ação de graças da nação agora, por antecipação, salva e vingada em resposta ao seu clamor no Salmo anterior. As obras de Deus naquela salvação, e a vingança recém-executada, mostraram que Ele estava perto de Seu povo, enquanto eles celebravam aqui. Seu nome estava há muito tempo distante de Israel. Mas agora, à medida que a fé deles antecipa, prestes a realizar Suas “maravilhas” em favor deles, eles sabem que Ele está voltando e trazendo Seu nome para perto novamente.

 

Os versículos a seguir, do segundo ao fim, são as declarações do Messias. Ele promete governar em justiça, quando receber o povo como Sua herança (v. 2; veja 2 Samuel 23:4; Salmo 101). Ele reconhece a apostasia de todos os reinos e sistemas até que Seu próprio cetro se levante (v. 3; 1 Sm 2:8-10; Dn 2:44). Ele desafia os rebeldes ou os poderes apóstatas do mundo, que se ergueram contra o Senhor, assegurando-lhes que Deus logo os visitaria (vs. 4-8; Sl 82, 83; Ag 2:22; Hb 12:27). Ele então, em contraste com eles, compromete-Se a manter Seu cetro para o louvor de Deus e na justa dispensação de recompensa e punição (vs. 9-10; Mt 25:31; Ap 3:21).

 

Que consciência santa e gloriosa de Si mesmo enche a alma do Messias em toda essa declaração! Ele sabe que, quando receber a congregação, julgará com retidão. E Ele sabe também que só Ele sustenta os pilares do mundo.

 

Assim, o assunto deste Salmo se mostra claramente para nós. O cálice de vinho, o cálice de tremor, o cálice de Sua fúria, o cálice do vinho do furor de Sua ira, são vários títulos do mesmo cálice, que é o emblema dos juízos divinos, como as salvas ou taças de Apocalipse 16. O cálice da salvação, por outro lado, expressa o gozo do reino (veja Salmo 116; Lucas 22:18). Oh, que manhã ensolarada será a ascensão e o aceno deste cetro justo, aqui antecipado pelo próprio Senhor, se espalhando sobre esta criação espinhosa e que geme! E é um ponto impressionante e bonito neste Salmo, que o cálice aqui bebido pelos povos da Terra não passa para o Messias. Ele toma, em vez disso, o outro cálice e imediatamente invoca o nome do Senhor (veja os versículos 8-9 e Salmos 116:3). O cálice da ira é para a mão deles, o cálice da salvação para a d’Ele. Ele uma vez tomou, de fato, o cálice das aflições, o cálice do Getsêmani, por nós, pobres pecadores; mas é o cálice do louvor, o gozo do reino, que permanece para Ele agora, enquanto os poderes apóstatas da Terra estão espremendo a escória do cálice da fúria.

 

Salmo 76

 

Este Salmo ainda está conectado aos anteriores. Pois, como o Salmo 74 foi o clamor do Remanescente sobre a desolação de Sião, e como o Salmo 75 apresentou o Messias desafiando o inimigo e tomando o reino como em resposta a esse clamor, então este Salmo O mostra assentado em Sião, não mais, portanto, uma desolação, mas saudada como o trono e santuário do Senhor, feita mais excelente do que todos os montes de presa, ou os reinos precedentes dos gentios. O nome de Deus passa a ser “grande... em Israel”, como foi anteriormente trazido “perto” por Suas ações de julgamento (Sl 75:1, 76:1).

 

Embora o Espírito tenha pensamentos mais amplos, a ocasião deste Salmo foi, provavelmente, a derrubada do exército de Senaqueribe. Por esse sinal, a libertação foi alcançada eminentemente em favor de Sião (veja 2 Reis 19:20-35). De modo que foi dito ao rei da Assíria: “A virgem, a filha de Sião, te despreza, de ti zomba”. Como aqui, o salmista diz que em Sião Deus “quebrou as flechas do arco; o escudo, e a espada e a guerra”. O versículo 7 nos faz lembrar do Salmo 2:12.

 

Em um belo esforço, as pessoas manifestam essa grande conquista. E, no final, o Profeta de Deus, que havia antecipado tudo isso, extrai a moral de que o Senhor adquire glória a partir da violência e da iniquidade do homem (Êx 9:14, 16, 29); então, subjuga tudo isso, e por fim, espalha em torno de Si um povo feliz e adorador, mantendo toda a Terra em piedosa sujeição ao Seu cetro como Rei dos reis.

 

Os reinos dos gentios são apropriadamente chamados de “montes de presa”. Daniel diz, falando deles, “estes grandes animais” (Dn 7:17). Eles eram, na estima de Deus, os covis de animais selvagens.

 

Podemos observar mais particularmente que o versículo 10 revela uma verdade muito gloriosa. Ele sugere que todas as coisas, mesmo as menos promissoras – como “a ira do homem” – terminarão em louvor a Deus; e tudo o que não puder ajudar nesse feliz resultado será retirado da cena, restringido, por assim dizer, pelo poder soberano divino. Quão verdadeiramente nossa alma deve triunfar nesse pensamento! As coisas podem parecer más e confusas, mas não há uma circunstância sequer no “poderoso labirinto” que não aumente a aleluia ao redor do trono e na presença do Senhor, e ajude a dar-lhes harmonia e poder para todo o sempre.

 

Salmo 77

 

Há algo muito tocante, e ao mesmo tempo muito instrutivo, no caminho da alma neste Salmo. Isso pode nos lembrar de Salmos 73. Pode ser lido como uma expressão do Judeu sob sua disciplina no último dia, mas a alma de qualquer santo pode aproveitá-la.

 

O primeiro versículo nos dá o resultado, ou o fim do caminho, como é comum nos Salmos. O caminho da alma é então traçado de volta ao seu início.

 

Foi um tempo de angústia, e o suplicante busca religiosamente o Senhor. Mas isso não era propriamente fé. Era a operação do sentimento religioso despertado no dia da angústia. Não levava à força ou à liberdade. Lembranças surgem para agravar a dor. A alma vê a Deus mais em suas próprias tristezas e exercícios do que em Seus feitos e caminhos. Era Deus, mas Deus como em conexão com as dores presentes; e murmurações são lançadas por toda essa operação. No entanto, o Espírito de Deus, por fim, introduz Seu poder e luz, e ao mesmo tempo a corrente da alma é mudada. Ele leva o suplicante a ver que tudo isso não passava de natureza. “Isto é enfermidade [fraqueza – JND] minha”. Havia um caráter religioso nisso, mas era apenas o homem, ou a fraqueza da natureza, não a força e o repouso de fé. E o Espírito então tira a alma de diante de Deus, assim visto à luz de suas próprias tristezas, para Deus visto e entendido à luz de Seus próprios caminhos. As coisas antigas são novamente lembradas; mas são as coisas antigas da salvação de Deus, e não das tristezas do suplicante (vs. 5, 11); dias antigos, quando Seu povo teve que passar por profundezas sem fim e caminhos inexplorados, e ainda assim provou que Ele era seu Líder e Pastor. E os feitos de Deus exibem a Si mesmo, dizem o que Ele é, e assim formam um “santuário”, como o salmista fala aqui (v. 13).

 

E não é este o verdadeiro conforto do Evangelho, conhecer nosso Deus em Seus feitos por nós? Com esse Evangelho aprendemos um conto simples que não precisa de intérprete – recebemos um testemunho atento de amor eterno e dedicado. Lemos uma “glória” que nos alegra “na face de Jesus Cristo”. Mas Suas relações conosco são em disciplina e esperam ser interpretadas. Jó ficou perturbado quando pensou no modo como Deus tratava com ele; mas por um momento feliz o Espírito o levou aos tratamentos e atos de Deus por ele, e tudo foi triunfo (Jó 19:23-27). E assim também, o salmista aqui.

 

Salmo 78

 

Um certo distinto Profeta aqui Se anuncia como tendo segredos profundos para abrir (vs. 1-2). Um grupo de profetas, então, de acordo com a designação divina e por meio de admoestação, traça a história dos caminhos de Deus em graça e os caminhos de Israel em perversidade, desde Êxodo até Davi (vs. 3-72).

 

Assim, temos “coisas novas e coisas velhas” – as novas sendo os segredos apenas sugeridos pelo orador dos dois primeiros versículos, e as velhas sendo as coisas bem conhecidas relembradas pelo grupo de profetas Judeus.

 

Agora sabemos que o Senhor Jesus Cristo tomou o lugar desse distinto Profeta – o Profeta das coisas novas, e assim, em medida, cada um foi instruído no reino dos céus (Mt 13:35-52). Nesse tal sentido, o menor deles é maior do que João Batista. Paulo estava eminentemente entre esses escribas instruídos, estando consciente de que estava trazendo as coisas novas (veja 1 Coríntios 2, Efésios 3, Colossenses 1), coisas mantidas em segredo ou mistérios ocultos. E nenhum escriba é devidamente instruído no reino dos céus, ou um devido mestre na presente dispensação, se não discernir entre as coisas “novas e velhas”.

 

Mas as coisas velhas, assim como as novas, são da graça. A diferença está no velho ser Judeu ou terrenal, o novo ser da Igreja ou celestial (Jo 3:12). Essa é a diferença. Mas as coisas velhas ou Judaicas deste Salmo falam muito claramente de graça e de salvação finais. Pois aqui se registra que Israel se destruiu a si mesmo, e que Deus, por fim, surgiu em graça que poderia estabelecer Davi, e escolheu Sião e Judá para sua ajuda e recuperação. E assim será no último dia. Eles agora são novamente um povo disperso e julgado, tendo novamente destruído a si mesmos; mas novamente eles serão reunidos e abençoados sob o verdadeiro Davi, o verdadeiro Rei de Sião, o verdadeiro Leão de Judá. E na integridade de um coração que nunca pode se desviar, e na habilidade de uma mão que nunca pode errar, Ele guardará e alimentará Seu rebanho Judeu em suas montanhas nativas.

 

NOTA: Eu sugeriria que um ponto final deve ser colocado no versículo 2; e que os versículos 3 e 4 devem ser lidos assim: “Aquilo que ouvimos e conhecemos, e nossos pais nos disseram, não esconderemos de seus filhos”, etc.

 

Salmo 79

 

Ouço este Salmo como a expressão da aflição dos cativos depois que Jerusalém caiu nas mãos de Nabucodonosor. Mas também o leio como as aflições do Remanescente sob a mão do grande inimigo no último dia.

 

E podemos observar que os cativos na Babilônia expressariam sua tristeza em linguagem adequada aos Judeus até que o Messias e o reino viessem, porque a era é uma só. Os tempos dos gentios começaram com o cativeiro e não terminarão até que o trono de Davi reviva nas mãos do Messias. A mente de um Judeu justo, se assim posso dizer, em certo sentido é a mesma ao longo desta era. E temos uma coisa semelhante na história da Igreja. Paulo profetiza sobre certos males nos “últimos tempos” e nos “últimos dias”, mas ainda fala sobre eles a Timóteo como se tivessem chegado (1 Tm 4; 2 Tm 3). E assim, em certo sentido, eles haviam chegado, na medida em que o mesmo espírito estava operando então. Toda a era da Cristandade, assim como Israel, no julgamento discernidor do Espírito de Deus, sustenta um caráter único do começo ao fim.

 

Mais especificamente, este Salmo, julgo eu, é o clamor do Remanescente na hora de sua mais profunda angústia sob a pressão da besta (Ap 13), após a matança das testemunhas (Ap 11). Isso pode ser lido como o intenso clamor do Remanescente preservado depois que seus irmãos foram martirizados (v. 3). Esses dois remanescentes, ou duas porções do mesmo remanescente, é visto pelo Senhor em Sua grande palavra profética em Mateus 24. Creio que o Apocalipse de João prossegue com a mesma distinção de porções preservadas e martirizadas do fiel Israel naqueles dias.

 

Reconhecem seu pecado, confiam apenas na misericórdia, pleiteiam a glória do próprio Nome de Deus, apresentam a Deus seu opróbrio e tristeza, e a infidelidade e opressões dos inimigos, e fazem de seu opróbrio o opróbrio de Deus – fazem da causa deles, a Sua causa.

 

Eu observaria uma diferença que me impressionou. O salmista ou os profetas, ao relembrarem a causa da atual rejeição de Israel, falam de suas iniquidades e pecados como neste Salmo; mas o apóstolo, no mesmo contexto, fala de Israel não se submeter à justiça de Deus (Rm 9-10). Tal diferença é fácil e maravilhosamente compreensível.

 

Salmo 80

 

Este Salmo parece estar em conexão com o anterior. O Salmo 79:13 sugere o versículo 1 do presente Salmo. Consequentemente, a alma do Remanescente avança em liberdade e confiança. Não há a mesma confissão de pecado, mas um apelo mais forte por libertação e uma percepção mais completa dos conselhos divinos. O Homem à direita de Deus é invocado – o Filho do Homem é tornado poderoso para os propósitos de Deus. Que pensamento, enquanto o proferimos! Pensar que há um Homem, “um Homem real”, agora glorificado nos mais altos céus. E assim é Jesus em ressurreição e ascensão (veja Mateus 28:18; Salmo 110:1; Daniel 7:13; 1 Pedro 3:22).

 

O versículo 2 refere-se a Números 10, onde, na jornada da congregação, aprendemos que a Arca ia imediatamente à frente do estandarte de Efraim, Benjamim e Manassés, e ao avançar havia um clamor ao Senhor como aqui.

 

O versículo 17 pode nos lembrar muito especialmente de Mateus 26:64.

 

O profeta, ao rogar por Israel, é animado por pensamentos ternos e elevados das antigas glórias de Israel, como o apóstolo depois é também animado (Rm 9:1-5). E isso é muito bonito. A própria natureza da ruína evidencia a grandeza do que foi construído e desperta a empatia mais profunda.

 

Sobre o peso deste Salmo, por assim dizer (veja versículos 3, 7, 19), pode-se observar que temos a Pessoa do Senhor surpreendentemente revelada por meio da Escritura. Assim, considerado sob diferentes luzes, Ele é tanto Aquele que responde à oração quanto o Suplicante. Ele recebe o Espírito e derrama o Espírito (Zc 12:10; At 2:33). Ele é a Rocha (Mt 16:18), e ainda assim Ele olha para Deus como a Rocha (Sl 62). Ele é Um do rebanho (Sl 23), e ainda o Pastor do rebanho (Jo 10). Ele está no trono sendo louvado, e ainda assim o Líder do louvor do povo (Sl 116; Ap 5). Ele é um Sacerdote, e ainda assim os redimidos são sacerdotes para Ele (Ap 20:6). Em um aspecto, Ele é Judeu, desejando o favor divino para Sua nação e esperando que a face de Jeová se volte novamente para Seu povo (Is 8:17). Em outro aspecto, Ele é como o próprio Jeová, o Deus de Israel, com o rosto desviado de Seu povo (Mt 23:39), assim surpreendentemente revelado em Seu lugar divino e humano, tanto como o Cabeça esperado de Israel, quanto como o Deus de Israel. Tudo isso pode ser entendido quando o grande mistério de “Deus manifestado em carne” e seus resultados gloriosos são entendidos. Mas quem pode declarar tudo? (veja Salmo 18).

 

Salmo 81

 

Ainda estamos na mesma conexão; pois este Salmo é a expressão do Remanescente vivificado, como eles haviam desejado no Salmo 80. Esta é a linguagem da alma deles agora revividas e arrependidas, ou de Israel guardando a festa das trombetas, que era a figura de arrependimento de Israel no último dia, de acordo com Levítico 23. Este é o verdadeiro toque da trombeta na Lua nova, ou a expressão do avivamento de Israel após o atual intervalo gentio (vs. 1-5) – o tempo do retorno da luz, ou quando a Lua brilhar novamente sob a luz de seu Senhor.

 

Mas o Senhor é movido por esse arrependimento de Israel, e então relembra tanto Seus caminhos como os caminhos deles em tempos mais antigos, justificando, assim, Seus tratos com eles; pois Ele os faz entender que foi a própria loucura e maldade deles que tornaram necessário esse reavivamento; que, se tivessem obedecido à Sua voz, “o seu tempo seria eterno” – eles não teriam conhecido nenhuma ruptura ou interrupção. Agora, em Sua graça, Ele os vivificou novamente; mas deseja que eles nunca se esqueçam disso – que eles mesmos tornaram necessário um reavivamento ou uma nova vivificação.

 

Mas Ele não apenas justifica Seu tratamento com eles dessa maneira; mas Suas palavras são maravilhosamente adequadas para aprofundar e fortalecer o espírito de arrependimento neles, assim como o olhar de Jesus para Pedro operou, juntamente com o canto do galo, na restauração de sua alma. E isso é bastante natural – pois Deus surpreendentemente entra nos caminhos do coração do homem. O coração, em um dia de brandura e arrependimento, sentiria poderosamente um apelo tal como esse.

 

O versículo 13 pode nos lembrar de Deuteronômio 5:29 e de Isaías 48:18; de todas essas passagens colhemos outros testemunhos da profunda ternura e empatia do Senhor, pois antes que Israel pecasse, Ele é apresentado como Aquele que deseja que eles não pequem, mas que permaneçam um povo abençoado; depois de terem pecado, Ele é apresentado como lamentando pela maldade deles e perda da bênção.

 

Salmo 82

 

Neste Salmo, o Senhor Deus, por direito soberano, Se levanta para julgar os poderes e governos do mundo, aqueles poderes gentios a quem Ele confiou a espada durante a rejeição de Israel. Ele os chama para prestar contas de sua mordomia. Ele lembra a eles de qual foi a sua comissão, convence-os de infidelidade a ela e, em seguida, pronuncia a sentença. Em vista disso, Seu povo se conforta e pede que Ele tome para Si Seu grande poder e reine; pois este julgamento será seguido por Ele tomar para Si a possessão de todas as nações; e sabemos que o conhecimento do Senhor será espalhado por meio de Seus julgamentos (veja Isaías 26:9; Apocalipse 15:4).

 

Quão abençoado é ver a fidelidade de Cristo à Sua mordomia em contraste com a infidelidade aqui repreendida. O reino, portanto, não é tirado d’Ele, mas Ele o entrega (veja 1 Coríntios 15:24), isso prova Sua fidelidade.

 

Mas podemos acrescentar a este Salmo que ele nos ajuda a ver o contraste entre a dispensação passada e a atual. Naquela época, Deus constituiu deuses terrenais, ou juízes, representantes de Seu poder e governo, entre Seu próprio povo, como vemos em Êxodo 22:28. Mas agora é o Filho enviado do céu, cheio de graça e verdade; não mais o Representante do julgamento no mundo, mas o Ministro da graça para o mundo. Um juiz ou deus terrenal era a expressão do tempo então – o Filho do Pai, cheio de graça para com os pecadores, é a expressão do tempo agora (veja João 10:32-38). Mas juízes ou deuses terrenais ainda são reconhecidos por Deus (Rm 13:1). Este Salmo pressupõe isso, pois exibe o julgamento e remoção deles, quando o Senhor tomar o reino no último dia. Mas eles não formam o caráter desta dispensação. A graça aos pecadores faz isso.

 

Salmo 83

 

Este Salmo ainda está na mesma conexão. É um dos clamores de Israel no último dia. Eles clamam ao Senhor para quebrar o silêncio (Sl 28:1); eles mostram a Ele as más ações de seus inimigos confederados, dizendo por assim dizer: “Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças”; eles fazem a causa tanto d’Ele quanto deles; e pedem tal sinal de julgamento sobre eles que os habitantes do mundo possam assim aprender justiça, ou que há um Deus que julga na terra (Sl 58:10-11; Is 26:9).

 

Lemos ao longo da Escritura sobre confederações contra Israel (Is 7, 8; Ez 38; Jl 3; Mq 4:11; Zc 14:2-3). A destruição deles será completa, como a expulsão da palha da eira de verão. E o Israel de Deus se comporta aqui como Isaías os instrui. Eles não confiam em uma contra-confederação, mas santificam o Senhor em seu coração e fazem d’Ele seu Objeto (veja Isaías 8).

 

A confederação contemplada aqui parece existir depois que Israel tiver se tornado uma nação novamente (v. 4). Os Profetas parecem olhar ocasionalmente para tais assuntos; e sem dúvida a ação dos últimos dias, quando o Senhor tomar o reino e aparecer em Sua glória, será amplamente estendida. Deus, como alguém já disse, não apenas julga a última rebelião do anticristo ou da besta, mas tendo feito sentir Seu poder, chegando o momento de Sua ira, Ele julga todas as nações. A Escritura não pode ser anulada; isso é verdadeiro e precioso. Nós, no entanto, podemos ser capazes de segui-la em nossos pensamentos apenas parcialmente.

 

O julgamento termina com a exaltação do Deus de Israel, Jeová, em Seu Reino sobre toda a Terra.

 

Salmo 84

 

Este Salmo foi uma adequada expressão de Davi quando separado da casa de Deus (2 Sm 15). Esse pode ser o desejo de qualquer santo que, por meio do Espírito, tem sede do céu. E será a expressão do paciente Remanescente que espera.

 

Na consideração dessa alma há três ordens de bênçãos. Primeira, onde há permanência constante na casa de Deus; para eles, a ocupação é com o louvor contínuo. Segunda, onde há deslocamento até aquela Casa, com ocasionais refrigérios de espírito. Terceira, onde há confiança em Deus, mesmo distante daquela Casa, e sem a presente perspectiva dela (vs. 4-5, 12).

 

Observe que, para Jesus, toda a Terra estava distante dos tabernáculos de Deus – uma terra seca e cansada (Sl 63). Sua alma estava sedenta em todos os lugares, exceto quando Ele encontrou a fé de uma pobre pecadora. Então, Ele teve comida para comer e água para beber mesmo estando aqui. Mas a presença de Deus era tudo para Ele. E restaurar essa presença a esta Terra apóstata era, em certo sentido, o propósito de Sua visitação a ela. O início e o término de Seu ministério expressaram isso. Pois Ele então purificou o templo (Jo 2; Mt 21) – uma ação que indicava que Ele estava livrando esta Terra da contaminação, para que pudesse voltar a ser a habitação e o louvor de Deus.

 

O santo parece meditar com deleite divino sobre o pensamento do pardal e da andorinha (representando como se fossem todas as Suas criaturas) encontrando seu descanso no santuário de Deus. Pois assim será no reino vindouro. A criação, que agora geme, será então libertada à liberdade e glória.

 

O espírito deste precioso Salmo é muito abrangente. Todos os santos, com Jesus como seu Líder, podem respirar essa linguagem. Ele abrange o coração de todo o povo de Deus. Bem pode ser, como tem sido, o companheiro apreciado das meditações de nossa alma em todos os momentos. Quão feliz será quando chegarmos juntos àquela casa onde o louvor ainda ou para sempre será ouvido!

 

Salmo 85

 

Aqui a eleição Judaica se regozija com a bênção antecipada de sua terra e povo, expressando seu desejo no dia de sua angústia, mas esperando com plena certeza de que serão atendidos em misericórdia.

 

E eles reconhecem o grande resultado dessa misericórdia: – a verdade brotando da Terra e a justiça do céu aprovando-a – o Senhor dando Sua bênção e a terra produzindo seu crescimento. E eles também parecem apreender a maneira pela qual este reino será introduzido. E sabemos que é da mesma forma pela qual nós, pobres gentios, recebemos bênçãos agora (Rm 11:31); isto é, pela cruz de Cristo, onde de fato “a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (vide Romanos 3:26).

 

Pois a “verdade”, que exigia a morte (Gn 2:17), e a “misericórdia”, que não pode pensar em nada além de vida e bênção, estão aqui juntas. A morte é suportada de acordo com a verdade, e o culpado recebe vida e liberdade de acordo com a misericórdia. A “justiça” também beija a “paz” e a “paz” beija a “justiça”. Em vez de se ofenderem com a presença uma da outra, elas se dão as boas-vindas. Pois a justiça é mais do que honrada por aquilo que Aquele que faz a paz oferece a ela na cruz; e a paz está profundamente satisfeita, ao ver que pode se apresentar aos pecadores com um título tão certo como o da justiça honrada e consumada. E todas essas glórias brilharão em beleza consistente naquele reino que esta cruz maravilhosa introduz. Tudo é harmonia onde antes tudo era conflito.

 

Nesta nossa era atual, em vez de a verdade brotar da Terra e a justiça olhar do céu, é rebelião e pecado aqui, e graça irradiando do alto.

 

Salmo 86

 

Este Salmo, no seu espírito, pode facilmente ser o companheiro de qualquer um dos santos no dia de suas angústias – como parece ter sido o respirar da alma de Davi. O “pois sou santo” do versículo 2 não deve ser lido como algo além do que o apelo comum a Deus de uma alma conscientemente piedosa. Isso não parece afirmar perfeição pessoal.

 

Os queridos e sofredores servos de Cristo desejavam que um sinal fosse mostrado para o bem diante de seus inimigos (v. 1; At 4:29-30). E depois, o temor veio sobre todos (At 5:13). A vara de Arão que floresceu veio desde a presença divina como um sinal para silenciar os adversários, e assim a ressurreição é aquele sinal glorioso em favor de Jesus que confunde todos os que resistem a Ele, e provará em seu resultado que é realmente difícil para eles recalcitrar ou resistir contra os aguilhões.

 

“O filho da tua serva” (v. 16 e Sl 116:16) tem sido considerado significar “tua propriedade, como a descendência de uma escrava”, como “um nascido em tua casa”.

 

Mas o Israel do último dia também pode adotar este Salmo, o Espírito de Cristo guiando o coração deles – como vemos tanto neste livro. Pois uma facção infiel é contemplada; como o propósito da destruição do suplicante (v. 14); orgulhosos que não colocam Deus diante deles. E eles parecem lançar-se inteiramente na misericórdia, pleiteando algo do nome do Deus de misericórdia, como Ele Se mostrou a Moisés depois que Israel se destruiu a si mesmo no monte Sinai (v. 15, Êx 34:6). E a alma deles tomando essa posição, é conduzida pelo Espírito com muita segurança para antecipar a glória. Eles aprendem que Deus é Bom e Grande (vs. 5, 10).

 

Salmo 87

 

Este Salmo é em louvor a Sião. Sião é o testemunho de Israel estabelecido em graça e não sob a lei (veja Salmo 78:65-72). Este é o nítido caráter do nome. Consequentemente, seu memorial é abençoado diante de Deus, como os nomes de Abraão, de Isaque e de Jacó estão diante d’Ele (Êx 3). E este lugar é aqui declarado como cenário de Sua força ou de Seu reino duradouro (v. 1) – cena de Seu deleite (v. 2) – a cena também de Sua glória (v. 3).

 

Encorajada por isso, ela aparece então para proferir o seu próprio louvor, como mãe da família de Deus, dando o próprio Senhor como Testemunha desta dignidade dela (vs. 4-6). E isso será assim quando o Novo Concerto vier para ser administrado em Sião e a partir de Sião (veja Isaías 2, Ezequiel 47, Joel 3). Pois o Novo Concerto é a Sara, ou a mãe. Na presente dispensação, nenhum sistema ou lugar na Terra pode ser chamado de a mãe, porque o sangue e o Mediador do Novo Concerto estão no céu. Portanto, Jerusalém, a mãe, ainda é “de cima” (Gl 4). Mas na próxima dispensação ela estará na Judéia, e então a Sião deste Salmo pode olhar à direita e à esquerda, em direção ao Egito e à Babilônia, e reconhecer seus filhos em todos os lugares.

 

O próprio Senhor parece sancionar isso, encerrando com uma expressão do gozo de Sião e de Seu próprio deleite nela (v. 7).

 

Mas isso sugere alguma verdade abençoada. Jerusalém destruiu a si mesma; mas em Deus está o seu auxílio. Ela está manchada de sangue; mas o sangue será purificado (Jl 3). Ela agora está desolada e rejeitada, porque rejeitou Jesus; mas ela será saudada em breve, como “morada de justiça... monte de santidade”, e será chamada de “o SENHOR está ali” (Jr 31:23; Ez 48:35). Jesus até agora a conheceu como o lugar de Suas lágrimas e choro (Lc 19); mas aqui se tornou o lugar de Suas fontes renovadas e de Seus cantores. Essa mudança no comportamento e nas condições de Sião é muito abençoada. “É Sião, por quem ninguém pergunta”, tem sido seu opróbrio; o “gozo de toda a Terra” será seu louvor. E em tudo isso Sião é uma amostra da Terra. Pois assim como até agora tem sido a ocasião de tristeza e arrependimento divinos (Gn 6:6-12), será a cena de deleite e glória divinos (Sl 8, 24, 104:31).

 

Salmo 88

 

Ouvimos neste Salmo um dos clamores d’Aquele que clamou Àquele que era capaz de livrá-Lo da morte (Hb 5:7). Pode ser que tenha sido proferido em algum momento entre Sua prisão no jardim e a Sua cruz. Pois então todos O haviam abandonado, e Ele mesmo não podia sair (vs. 8, 17-18). A sentença de morte estava então eminentemente n’Ele, embora durante toda a vida Ele fosse Alguém prestes a morrer (v. 15) ou falando como o apóstolo, “cada dia morro”. Mas, Ele estava especialmente durante esse intervalo, “posto [prostrado – JND] entre os mortos”. E então, por três horas de trevas, encerrado pelo derramamento de Seu sangue ou vida, Ele estava suportando o julgamento do pecado vindo da esmagadora mão de um Deus justo. Pois observamos que, no decorrer da vida, as aflições de Jesus vieram do homem porque Ele era justo. Mas, finalmente, Ele estava sob as pisaduras de Deus, porque Ele foi feito pecado por nós. E durante as três horas de trevas, Ele estava onde nenhum raio gentil do semblante divino poderia entrar, pois era o pecado que ocupava o lugar, a vítima que foi feita “pecado por nós”, e Deus só poderia Se retirar e deixar tudo em trevas.

 

Jesus aqui clama (veja também Salmos 6:5, 30:9, 115:17) para ser libertado da morte, com o fundamento de que os mortos não poderiam louvar a Deus, nem a sepultura O manifestaria. Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos. “Os vivos, os vivos, esses Te louvarão”, diz Isaías, instruído pelo Espírito a abrir os lábios como alguém consciente da ressurreição. E, assim, Jesus clama por libertação com base nesse mais bendito apelo, de que Deus é conhecido não na morte, mas na vida. “Não morrerei, mas viverei; e contarei as obras do SENHOR” (Sl 118:17).


J. G. Bellett

 

 

 

 

 

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