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ÍNDICE
Breves Meditações Sobre os Salmos
Principalmente em Seu Caráter Profético
J. G. Bellett
Parte 1
“Convinha que se cumprisse tudo o que de Mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc 24:44).
“Porque d'Ele fala Davi” (At 2:25 – TB).
Introdução
O Livro dos Salmos é uma coleção de Meditações, Orações e Louvores, proferidos por várias pessoas sob várias circunstâncias; todas, certamente, movidas pelo Espírito Santo. Tem este título, “O Livro dos Salmos”, por inspirada autoridade (At 1:20).
Os próprios Salmos são comemorativos ou proféticos, ou expressam a trajetória presente da alma. Eles têm toda a variedade de confissão, súplica e louvor; de doutrina, história e profecia.
O Senhor Jesus é visto e ouvido neles, pessoalmente ou misticamente. Entre eles, há alguns aos quais podemos atribuir um tempo e lugar na história do Senhor, lendo-os, portanto, como as declarações de Seu coração sob determinada ocasião. Assim, por exemplo, é o Salmo 22 . Mas há outros aos quais você não pode atribuir tão distintamente tal caráter específico; são meditações ou experiências mais livres e indefinidas.
E isso é exatamente o que se conhece na comunhão dos santos com Deus. Às vezes, ela será motivada pelas circunstâncias; outras vezes será mais livre e espontânea, resultante, não das condições atuais, mas do conhecimento geral de Deus e de Seus caminhos no mundo, ou de Seus tratos com eles próprios.
A vida do Senhor Jesus era de comunhão constante e ininterrupta. Seu espírito ou coração era o altar no qual o fogo estava sempre ardendo (veja Levítico 6). E assim, se nenhuma circunstância peculiar dirigia ou formava Sua comunhão com Deus, ainda assim Sua alma estava no santuário; ainda assim, o fogo estava aceso por sua própria virtude.
A solitude[1] de nosso Senhor na adoração precisa ser muito observada. Como se diz d'Ele, Ele Se levantava antes do amanhecer, ou saía para um lugar solitário, para orar, para que pudesse ser notado como sozinho em oração. Assim se diz: Ele retirava-Se para os desertos e ali orava; Ele continuava a noite toda em oração; Ele estava solitário orando. Nem uma vez sequer Ele é visto em oração, mesmo com Seus discípulos, embora Ele reconhecesse suas orações, ensinando-os e encorajando-os a orar.
[1] N. do T.: Solitude é um estado de isolamento voluntário e positivo; já solidão é uma condição associada à dor e à tristeza.
Por que, então, isso? Se Ele ensinou e os encorajou a orar, e também Ele mesmo orou, por que Ele não Se juntou a eles em oração?
Esta pode ser a resposta. Suas orações tinham um caráter que nenhuma outra poderia ter tido. Ele foi “ouvido por causa da Sua piedade” (Hb 5 – ARA). Ele não precisava de mediador, mas permaneceu aceito em Si mesmo. Ele não invocou o mérito de ninguém; Ele não usou o propiciatório com sangue sobre ele. Esse era o caráter de Sua comunhão em oração; mas nela não havia entrada para nenhum adorador, exceto Ele mesmo. Ele orou em um templo erguido, por assim dizer, por um Adorador como o Filho de Deus, que oferecia oração em um altar que não podia ser visto em lugar algum; não tinha nenhum padrão no topo do monte. Ele era um Adorador de uma ordem singular, assim como Ele era um Sacerdote de uma ordem singular, ou um Servo de uma ordem singular. Ele não devia serviço, mas aprendeu isso; Ele não devia adoração, mas Ele a prestou. Ele era o Servo voluntário (Êx 21:5; Hb 5:8), e o Adorador pessoal aceito. Assim, Ele orava “sozinho”.
Mas não há intenção de afirmar que todos os Salmos são declarações do Senhor Jesus. Não há necessidade de um pensamento como esse. Por exemplo, o Salmo 1 não é Sua linguagem, mas a descrição divina, a descrição de Deus, do Homem abençoado ou próspero. Jesus é, não duvido, no sentido completo e perfeito, o Feliz descrito ali; mas o Salmo não é Sua expressão. E estou à vontade para admitir que não O vejo pessoalmente nos Salmos tanto quanto via antes.
Os Salmos são comumente mencionados como Salmos de Davi: e corretamente; porque, embora Moisés, Esdras e outros possam ter sido os escritores de alguns deles, Davi foi principalmente usado neles. E além disso, Davi era mais rico e variado em suas experiências (por meio do Espírito Santo, o verdadeiro “mestre da lira hebraica”) do que qualquer outro dos santos do passado. Ele conhecia todas as dores da justiça e do pecado, ou a prova de um mártir e de um arrependido. Ele também conhecia as variedades de humilhação e honra. Sua vida cheia de mudanças deu ao Espírito a maior oportunidade de exercitar sua alma. E de tudo isso surgiria um livro como o dos Salmos. E, além disso, o Senhor parece reconhecer Davi como o escritor deles em Mateus 22:43.
E em conexão com isso, eu destacaria 2 Samuel 22 e 1 Crônicas 16 como exemplos da maneira pela qual muitos Salmos foram originados. Esses capítulos contêm vários Salmos. E a partir disso, aprendemos que as condições, circunstâncias ou atos de Davi, ou de outros do povo de Deus, tornaram-se a ocasião para que o Espírito Santo soprasse por meio deles declarações e revelações adequadas ao tempo ou à circunstância, mas que alcançaram seu pleno significado além deles. Davi é libertado de Saul, a arca de Deus é trazida para a tenda preparada para ela, e o Espírito usa esses eventos como Sua oportunidade; no alcance e na bússola da inspiração (sabendo como Ele sabe o fim desde o início), Ele toma cenas maiores e ainda distantes. Então, novamente, o cântico de Ana pode ser chamado de Salmo com esse caráter. O evento em que ela se torna mãe é uma ocasião para o Espírito Santo usá-la como Seu vaso ou instrumento, e Ele a inspira com uma declaração que, enquanto expressa ou celebra sua presente alegria pessoal, antecipa os interesses e alegrias do reino de Deus em outras épocas (1 Sm 2).
Essa, se assim posso me expressar, é a origem de muitos Salmos. Essa é a história do seu nascimento, o lugar e a hora dele. E Davi é especialmente usado pelo Espírito dessa maneira. E enquanto ele estava encerrando sua vida memorável, notável pela mão de Deus, bem como pelo Espírito de Deus tão maravilhosamente, ele diz de si mesmo e de seus cânticos: “Diz Davi, filho de Jessé, e diz o homem que foi levantado em altura, o ungido do Deus de Jacó, e o suave em salmos [doce salmista – JND] de Israel. O Espírito do SENHOR falou por mim, e a Sua Palavra esteve em minha boca” (2 Sm 23:1-2). Assim, ele foi usado – ele era o cantor, mas o Espírito Santo era o Compositor da música. Os cânticos de Davi eram “os cânticos do Senhor” e, por eles, Davi profetizou de acordo com a mente do Espírito. Sua língua era “a minha língua é a pena de um destro [habilidoso – ARA] Escritor”. O Senhor, como o apóstolo fala, estava “dizendo por [em – JND] Davi” (Hb 4:7).
E eu diria ainda sobre esses “cânticos do Senhor”, o que ocupou minha mente com interesse até agora, que há um grande valor moral em aprender verdades proféticas em ou por meio dos Salmos; porque eles não são tratados como meras doutrinas, mas são tratados e sentidos pelas várias paixões da alma. Assim, Paulo nos ensina que “o endurecimento [a cegueira – JND] veio em parte sobre Israel”, ou que “os ramos foram quebrados”. Esta é uma afirmação ou doutrina a ser entendida e crida. Mas a mesma verdade é transmitida nos Salmos (veja Salmo 65) nas palavras: “Prevalecem as iniquidades contra mim”; no entanto, não como uma mera doutrina, como nos é dada no estilo mais didático das epístolas, mas como aquilo que estava, por assim dizer, partindo o coração de um pobre judeu quando ele pensava nisso. Então, “todo o Israel será salvo”, é outro ensinamento ou doutrina de Paulo. Mas ela é transmitida no mesmo Salmo neste estilo – “mas Tu perdoas as nossas transgressões” – não, portanto, simplesmente como uma afirmação, mas como a expectativa exultante do mesmo pobre israelita de coração partido.
E assim é, que há um valor moral em aprender verdades por meio dos Salmos. Pois há uma tendência em nós de apreender mentalmente a verdade como um objeto ou uma proposição, e então simplesmente falar sobre ela. Mas nos Salmos, a verdade é entregue em companhia das paixões da alma. Os Salmos são, se assim posso dizer, o coração do volume divino. Eles estão no meio do corpo; e lá as pulsações são sentidas; lá o sangue emana e retorna; lá as afeições do homem renovado encontram seu lugar e se exercitam. E é seguro estar lá às vezes, sim, e usar outras passagens de acordo com a maneira que foi ali ensinada e praticada.
Não preciso dizer que alguns dos Salmos são diálogos; alguns deles introduzem até mais de dois oradores; e alguns deles são, por assim dizer, monólogos.
Novamente: alguns deles seguirão em ordem, como os capítulos de um livro; enquanto outros devem ser lidos isoladamente e sem conexão.
Mas, para um discernimento correto dessas e de outras coisas semelhantes, os sentidos espirituais precisavam ser exercitados (Hb 5). A mente de Deus só pode ser conhecida de forma proveitosa e santa pelo Espírito de Deus. Mas ainda assim, neste mundo, até o fim, qualquer um de nós terá somente um conhecimento “em parte” (1 Co 13:9).
Não há nada mais proposto nos esboços a seguir, do que dar uma pequena ajuda à apreensão da mente do Espírito nessas declarações abençoadas, seja em seu sentido profético ou moral, ou em ambos. Pois a alma sabe muito bem que isso não passa de um ou dois goles dessas águas frescas e vivas que ela já alcançou. Mas uma coisa todos nós podemos com desejo buscar, para que elas possam, pelo menos, passar por nossos lábios sem serem obscurecidas ou perturbadas, para o refrigério de outros do rebanho de Deus. Que seja assim, bendito Salvador!
NOTA: – A palavra “Remanescente” costuma ocorrer nessas meditações. Gostaria apenas de observar, embora geralmente não seja necessário, que essa palavra é usada tanto por profetas como por apóstolos, e as pessoas que ela expressa muitas vezes se referem a lugares onde a palavra não é usada. Geralmente esta palavra refere-se ao verdadeiro Israel dos últimos dias, aquele grupo fiel de israelitas que, naqueles dias da completa apostasia da nação, se apegará ao Senhor, e à verdade e às promessas de Seu concerto, e que, portanto, no tempo dos julgamentos divinos sobre sua nação, por causa da completa transgressão, será preservado, como foi Noé, para os lugares terrenais, e finalmente se tornará a semente ou o centro da nação aceita, abençoada e adoradora nos dias do reino.
Veja esta palavra “Remanescente” (ou restante, resto, resíduo) usada (entre outras passagens) em Is 1:9, 10:21-22, 11:11; Ez 14:22; Jl 2:32; Am 5:15; Mq 2:12, 4:7; Sf 3:12-13; Zc 8:12; Rm 9:27, 11:5.
Esse Remanescente teve seu tipo, ou sua representação, em todas as épocas da história da nação. Eles são amplamente falados pelos profetas, e descritos em suas provações, seu arrependimento, sua fé e obediência, sua disciplina pelo Espírito e sob a mão de Deus, seus clamores, suas experiências e sua libertação; e com tudo isso os Salmos têm, creio, muito a fazer. Veja, entre outras passagens, Is 6:13, 25-27, 33:15, 50:10, 59:9-15, 65:8-9, 66:2, 5; Jr 31; Ez 6:8, 7:16; Os 2:14; Jl 2:28; Zc 12, 13; Ml 3:16.
Salmo 1
JESUS, o Filho do Homem, é aqui apresentado em Sua santidade e integridade pessoal, e depois em Suas recompensas, como “a árvore plantada junto a ribeiros de águas” (veja Jeremias 17). Essas recompensas esperavam Jesus em Sua ressurreição, e ainda O aguardarão em Seu reino ou no “julgamento”, e lá os justos compartilharão Suas recompensas e os ímpios perecerão.
Este salmo é muito reconfortante para a alma. É o homem piedoso no cuidado e condução de Deus, que vemos diante de nós. Ninguém se intromete para perturbar o descanso e a segurança do justo; mas ele vai, em seu próprio caminho sem distrações, para sua recompensa.
E é gratificante ver este livro, que é o grande depositário dos exercícios da alma, ser aberto com um quadro tão terno e reconfortante como este – a porção do homem piedoso no favor do Senhor, encontrando ali a sua felicidade. E nossa alma deve sempre seguir em frente em semelhante felicidade. O Israel dos últimos dias, o Remanescente piedoso, também terá seu lugar aqui.
Salmo 2
Aqui, no entanto, a influência reconfortante do salmo anterior não é sentida; está completamente despedaçada; pois o mundo entra em cena. Não é mais a intimidade de Deus e do homem piedoso. Aquela senda neste salmo é invadida pelos pés rudes e selvagens de um maligno mundo opressor.
“Sofrimento e glória” é o que temos aqui – a ira do homem contra o Ungido do SENHOR; mas a triunfante exaltação d’Ele pelo SENHOR.
Jesus, o Cristo de Deus, é apresentado em Sua graça e poder e, consequentemente, a tolice de resistir a Ele e a bem-aventurança de confiar n'Ele.
A confederação, que é anunciada aqui, foi formada quando Jesus foi crucificado (veja Atos 4). Ele a punirá quando retornar em Seu reino (veja Lucas 19). Ela ainda existe em princípio, estando o curso deste mundo já julgado, mas poupado pela longanimidade divina. A confederação estará totalmente desenvolvida em todas as suas formas de maldade nos últimos dias — aqueles dias aos quais os Salmos, como regra geral, pertencem. Ela age com base no antigo desejo e mentira da serpente (Gn 3:5). Ela quer destronar Deus. Presentemente, no entanto, Aquele que habita nos céus ri de tudo; como foi expresso pelo anjo rolando a pedra e assentando-se nela, enquanto ele colocava a sentença de morte no coração de seus guardiões (Mt 28). O que era tudo isso senão o Senhor dizendo à confederação que crucificou Jesus que Ele zombará de todos eles? Com o mesmo espírito, dos céus, o Senhor Jesus desafiou Saulo, o zelote perseguidor, em Atos 9.
Mas há muito mais do que este riso presente; pois o decreto de Deus em relação a Cristo é a grande oposição e, é claro, prevalecerá. E esse decreto, como aqui anunciado pelo próprio Senhor, Lhe dá filiação e herança: A filiação já é Sua pela ressurreição (At 13); a herança será Sua em breve, em glória.
NOTA: – Observando esses Salmos juntos, Jesus sob a lei, aprovado por Deus e adquirindo bênçãos por Sua justiça, é Quem podemos ver no primeiro: Jesus em testemunho ou como ungido, resistido pelo homem, mas exaltado por Deus, e assegurando bênçãos ou executando julgamento sobre outros, é Quem vemos no segundo.
Salmo 3
Este salmo é a devota meditação de um servo aflito de Deus. Provavelmente foi a experiência de Davi, mas o Espírito de Jesus respira nesse salmo. É uma meditação ou oração matinal, e o aflito parece ter coragem ao acordar agora em segurança; antecipando assim, como garantia ou exemplo, a manhã de Seu reino, quando todos os Seus inimigos serão removidos. Esse levantar-se matinal do homem piedoso, como uma promessa da abertura do reino, é doce e impressionante; pois o reino estará próximo quando esses “últimos dias” chegarem e o Remanescente for manifestado.
Salmo 4
Essa meditação é a companheira da anterior. Ela é uma oração noturna do mesmo homem piedoso. Ele parece ter passado por um dia difícil (como era todo dia para Jesus, uns mais outros menos), mas tendo sido sustentado e revigorado nele.
O homem piedoso, como aqui, pode se deitar e dormir (v. 8); mas ele adverte a outros para irem para a cama, e lá consultar seu próprio coração, e examinar seu próprio espírito (v. 4). Ele conhece o seu próprio título pleno para descansar em Deus sem ser perturbado; pois Deus dá “aos Seus amados o sono”. O Senhor Jesus constatou isso, embora ventos e ondas açoitassem o barco no mar da Galileia (veja Marcos 4).
Salmo 5
Este Salmo ainda está conectado ao anterior. É uma meditação noturna (veja o versículo 3). Assim, esse segue o anterior. Nele, o mesmo Homem piedoso olha para os poderes malignos que guerreiam contra Ele, mas antecipa Sua vitória e libertação. Mas seja de manhã, à tarde ou à noite, esses Salmos mostram o padrão de uma fé plena em Deus. Fruto diferente de acordo com cada diferente ocasião. Jesus podia “chorar” como também podia “regozijar-Se em Espírito”. Cada ocasião encontrou n'Ele seu devido fruto, e tudo era belo; pois tudo estava em seu devido tempo. Ele sabia em que espírito fazer Sua jornada ao monte santo em Mateus 17, e em que espírito Se colocar na estrada para Jerusalém pela última vez (veja Marcos 10:32). Ele sabia como estar abatido e ter abundância, e em cada caso, com perfeição.
Salmo 6
Esta é outra meditação à noite (v. 6). Mas esta é de mais profunda tristeza do que a anterior. Era misticamente meia-noite, e nela a alma implora para ser libertada da sepultura. E Ele pleiteia contra o poder da morte com o fundamento de que, se a morte encerrasse a cena, Deus será esquecido; pois Deus não é o Deus dos mortos (veja Isaías 38).
Mas há uma antecipação da mesma libertação e vitória como no Salmo 5. Todos esses Salmos sugerem fortemente que o homem piedoso, que é ouvido neles, está vivendo nos últimos dias da tristeza de Israel, e na véspera da libertação e do reino. E, em espírito, Jesus estava naqueles dias.
Salmo 7
No progresso desta ocasião mística, agora neste Salmo alcançamos o amanhecer. Assim, Jeová é chamado a Se levantar e despertar (v. 6), como se fosse hora de Ele estender a mão para a libertação de Seus justos perseguidos. Ainda é o respirar do Espírito de Jesus, mas (como em cada um deles) em companhia de Seu Remanescente no último dia.
Mas aqui, à medida que o dia se aproxima, Ele ainda, mais ampla e gloriosamente, antecipa a destruição do grande inimigo – sua queda na vala que ele fez para os outros; cujo evento, como o amanhecer, é o prenúncio do dia, pois será seguido pela reunião da congregação ao redor do Senhor, como é aqui esperado.
Salmo 8
Este Salmo encerra esta temporada mística; pois agora chegamos à segunda manhã – o oitavo dia ou dia da ressurreição – a abertura do reino ou “o dia do Senhor”. Não é necessário comentário para mostrar ou provar isso (veja Hebreus 2). Esta é a manhã antecipada por Jesus ou pelo Piedoso ao Se levantar do sono em Salmos 3. Este é o louvor que havia sido prometido anteriormente (veja Salmo 7:17); havendo os ímpios agora chegado ao fim e a congregação havendo sido reunida.
O Senhor cita isso em referência aos hosanas que O acolheram em Sua visita real a Jerusalém (Mt 21:16). Pois esses hosanas eram, em espírito ou em princípio, os louvores do reino, como é este Salmo. E a criação se junta ao coro.
No Salmo 2, vimos a realeza do Messias, Filho de Davi, Filho de Deus; aqui vemos o senhorio do Filho do Homem, Seu domínio sobre as obras de Deus. Todas essas Suas glórias serão entendidas e exibidas nos dias milenares.
NOTA: – De acordo com isso, podemos fazer uma pausa aqui e ler os Salmos 3-8 conectados, levando o adorador, em espírito, ao reino. E outros observaram que nossa história a cada vinte e quatro horas (o período assim transcorrido nestes Salmos) é, da mesma maneira, uma espécie de mistério. Pois depois de passar o dia, à noite deixamos de lado nossas roupas e entramos no sono, o emblema da morte, e lá permanecemos (com visões no espírito) até que a manhã nos acorde, e então somos vestidos novamente, como estaremos na segunda manhã, ou na manhã da ressurreição e glória.
NOTA: – Devo acrescentar outra breve observação. 1 Coríntios 15:27-28 ilustra a maneira pela qual as passagens posteriores se ampliam, sem interferir nas passagens anteriores. O apóstolo estabelece cada sílaba do salmista, dando a Cristo o domínio de acordo com o Salmo 8. Mas depois ele prossegue. Pois o salmista havia deixado, bem como colocado, o senhorio ou reino universal nas mãos de Cristo; mas o apóstolo, raciocinando sobre a força das palavras do salmista, é instruído pelo mesmo Espírito a revelar uma cena de glória que estava além do reino assim deixado pelo salmista na mão de Cristo.
Salmo 9
Este Salmo se manifesta com muita clareza. É o Messias liderando o louvor de Seu povo justo nos últimos dias pela destruição do grande inimigo pelo Senhor e a consequente entronização predita do Messias em Sião. Há também um belo insulto contra o inimigo, agora assim caído, semelhante ao que o Espírito de Cristo sopra no profeta Isaías contra o rei da Babilônia (Is 14), e uma descrição do clamor dos aflitos no dia de sua calamidade.
O mundo também é declarado como aprendendo a justiça pelos juízos de Deus no último dia (v. 16), e como em Isaías 26:9. E a natureza desses julgamentos também – a captura dos ímpios em sua própria armadilha, como em Salmos 141:10, Sl 35, Sl 57, Sl 94, Sl 109, Sl 112. A destruição de Hamã é uma figura disso (Et 7, 10); e a cruz é gloriosamente a ilustração do mesmo acontecimento, pois nela, pela morte, aquele que tinha o poder da morte foi destruído.
A queda e a destruição do inimigo na presença de Deus (v. 5), são surpreendentemente ilustrados na Escritura, em dias de visitação ou julgamento divino (veja Salmo 94; Êx 14:24-25; Jo 18:6). Nessas passagens eles são a antecipação da destruição e queda do grande inimigo infiel ou anticristão do último dia (veja Apocalipse 19). Quão terrivelmente as nações então aprenderão que são “meros homens” (Sl 9:20), embora tenham absorvido e praticado a velha mentira da serpente: “sereis como Deus”.
Salmo 10
Este Salmo deve ser lido em conexão com o 9. O clamor do Remanescente é apresentado de forma mais ampla, e a iniquidade do inimigo é descrita mais detalhadamente.
A resposta ao clamor, e depois o estabelecimento do reino, é prenunciada de forma bela no final.
O orgulho ateu – o homem se tornando seu próprio deus – o homem não aprendendo lições de Deus, seja em graça ou em juízo, e a perseguição dos justos, dão fortemente o caráter a esta última forma de mal. E então algumas marcas são colocadas sobre o grande inimigo dos últimos dias, em todas as partes da Escritura, onde quer que ele seja vislumbrado ou antecipado, profética ou simbolicamente.
NOTA: – Na Septuaginta, os Salmos 9 e 10 são apenas um. Consequentemente, do Salmo 10 ao Salmo 147, o número do Salmo na Septuaginta é um a menos do que a maioria das versões. No Salmo 147, o número de salmos se tornou o mesmo novamente, porque esse Salmo foi divido em dois na Septuaginta.
Salmo 11
Esta é a meditação de uma alma em visível grande perplexidade. A natural segurança dos justos, “os fundamentos” da ordem social, reis e juízes (veja Salmo 82; Romanos 13), se transtornaram (estão destruídos – JND). Mas Deus ainda está em Seu devido lugar – esse é o alívio da alma. “Sempre seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Rm 3: 4) é a declaração do Remanescente aflito nos últimos dias, pois Jesus foi seu Padrão e Precursor em Suas tristezas causadas pelas mãos do homem.
Quão diferente, podemos observar, é o mundo que a fé apreende, daquele com o qual o sentido ou a visão interage. O mundo visto é aqui declarado fora do seu curso – os ímpios prosperando, os justos oprimidos. Mas a fé apreende uma cena em que Deus está em toda a santidade, calma e poder de um trono e um templo, Sua alma amando os justos, odiando os ímpios e preparando juízos para eles quando a provação dos justos terminar. Tais eram as duas cenas ou mundos abertos no início de Jó. No mundo visível ou palpável, o adversário estava fazendo o que lhe agradava; no lugar invisível, o Deus de toda a graça estava soberanamente preparando bênçãos para Seu santo. Moisés andava como se estivesse “vendo Aquele que é invisível” (JND).
Salmo 12
Esta é outra meditação, juntamente com a oração de um justo em meio ao mal abundante; e esse mal é evidentemente o mal que deve estar desenvolvido e abundante nos últimos dias, como acabamos de ver antecipado no Salmo anterior. A zombaria dos infiéis (como a que foi predita como marca dos últimos dias – 2 Pe 3), é a sua principal característica. O que pranteia, no entanto, ouve em espírito a resposta do Senhor à sua oração (v. 5); então celebra a fidelidade de Suas palavras, que foram todas elas provadas e purificadas; e finalmente professa sua certeza de que a fidelidade de Deus prevalecerá mesmo nos piores tempos.
A “geração” do versículo 7 é descrita no versículo 8. Essa palavra é, portanto, usada em um sentido moral; na verdade, deve ser assim usada pela força das palavras “para sempre”. O povo ou geração com a qual tanto o Senhor Jesus como o Remanescente lutam em seus vários dias são moralmente uma e a mesma “geração”. E a partir disso podemos interpretar Mateus 24:34 de uma forma moral. Talvez haja uma referência implícita a essa passagem.
Salmo 13
O clamor de uma alma submetida à dolorosa prova de paciência, mas a paciência está tendo “sua obra perfeita”; pois essa alma confia na benignidade e, pela antecipação da fé, canta a salvação. Tal era Jesus no sentido mais completo; Ele que diariamente sabia “o que é padecer” (ARA). Mas o Remanescente, dos mesmos últimos dias, que espera pacientemente é ouvido aqui. A prova está preparada para eles.
Estas palavras nos Salmos, “até quando” e “para sempre”, frequentemente expressam essa prova de paciência. “Sua benignidade dura para sempre” será o estilo mudado do adorador quando o tempo da paciência acabar e o reino chegar.
Salmo 14
Este Salmo nos dá a reflexão solitária de uma alma piedosa a respeito do ateísmo do mundo. Ele recita o veredito de Deus (vs. 3-4) sobre o homem depois de fazer uma averiguação solene (como ele fez antigamente em Babel e em Sodoma – Gn 11:5, 18:21) – então antecipa a confusão dos filhos dos homens, quando Deus Se mostra no meio de Sua geração (portanto, moralmente oposta à geração do Salmo 12:7-8), e termina expressando um desejo por essa ocasião.
O “rei voluntarioso” dos últimos dias está certamente contemplado no “néscio” ou ateu deste Salmo, pois a confederação que ele lidera deve ser desfeita quando a salvação aqui predita vier de Sião. Mas homem é homem. “O que é nascido da carne é carne”. E assim o apóstolo pode citar este Salmo, ao descrever os homens em Romanos 3. Pois todos nós, por natureza, temos a mente do “voluntarioso”, ou do ateu – separados (ou alienados – TB) da vida de Deus (Ef 4).
Assim, embora esta seja a meditação de Jesus ou de Seu Remanescente olhando para o infiel dos últimos dias, toda alma instruída pode usá-la (veja Salmo 53). Aliás, a linguagem do versículo 3 na Septuaginta é usada pelo apóstolo em Romanos 3:11-18.
Salmo 15
Este pequeno Salmo parece apresentar os justos nos dias do “néscio”, o Remanescente no tempo da última facção apóstata.
Os versículos 2-5 podem ser lidos como o oráculo divino respondendo à pergunta do profeta no versículo 1.
Não é o título do pecador ao reino que é discutido aqui. Isso seria tratado de forma muito diferente. O Salmo fala do Remanescente, manifestando-se em justiça, em contraste com os malfeitores do Salmo 14. Veja a mesma coisa em Isaías 33:15-16.
O assunto é o caráter e não o título. É claro que não precisa ser dito que o título de todos é um e o mesmo – o sangue digno e aceito de Jesus.
NOTA: – Este Salmo pode ser considerado como o encerramento de uma série de meditações e experiências que começaram com o Salmo 11. Pois todas elas são declarações de uma alma sobrecarregada com uma percepção da impiedade do dia, e que clama com desejo a Deus – os últimos dias são contemplados de forma clara e certa, e essas declarações são do Remanescente de então.
O desafio no versículo 1 pode trazer à mente uma linguagem semelhante ao Salmo 24:3. Mas ali a resposta dada, no final do Salmo, introduz o próprio Messias de forma muito mais distinta e pessoal do que aqui.
Com isso, também me lembro de Apocalipse 5:2. Pois temos um desafio lá também. “Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos?” E a gloriosa resposta ali dada novamente apresenta o Messias, apenas em caracteres ainda mais completos, ricos e sublimes, como o Cordeiro que havia sido morto e o Leão da tribo de Judá.
Salmo 16
Sabemos pelo Espírito Santo, em Atos 2:30, que este Salmo é a expressão de Jesus por meio de Davi. É a linguagem do Senhor habitando conscientemente na casa de Deus como Sacerdote ou Adorador. Consequentemente, Ele não terá outro Deus e receberá Sua herança (como um sacerdote, Nm 18:20) somente de Deus, considerando-a a melhor; e em constante comunhão encontrará confiança, gozo, louvor e esperança. E o primeiro ato desse adorador é confiar no Senhor, reconhecendo que ele não pode beneficiar o Senhor, pois o Senhor precisa beneficiá-lo. Veja a contradição disso na adoração de Israel, no Salmo 2, e na adoração dos gentios, em Atos 17. É fácil e natural lembrar aqui a resposta do Senhor ao jovem príncipe em Lucas 18. Na perfeição moral do lugar que ocupou, o Filho em carne poderia falar de Deus como o Único bom.
Embora seja verdade que o Senhor não era nosso Sacerdote até que Ele ressuscitou (Hb 5, 8), nem assumiu serviços oficiais de tal caráter sobre Ele, ainda assim Ele era um Sacerdote para Deus, ou um Adorador, durante toda a Sua vida na Terra; mostrando todas as virtudes pessoais de tal Pessoa, andando sempre no santuário e sempre tomando a Deus como Sua porção. E que incenso, que incenso perfeito e constante, era a vida de Jesus assim contemplada! Que cheiro suave de oferta de manjares era tudo o que Ele sempre fez ou disse!
“Teu Santo” é a carne de Jesus (At 2:27, 31). Esse título a isso vem de Lucas 1:35, que separava a natureza humana de Jesus de toda a mácula e a mantinha no mais pleno favor e aceitação de Deus.
Salmo 17
Este Salmo, por outro lado, é a declaração de Jesus, não conscientemente habitando na casa do Senhor, mas como Se tivesse saído e encontrado as oposições dos homens. Mas assim como Ele Se portava dentro com a santidade de um Adorador, aqui fora Ele está Se guardando de todo o mal em meio a todos; e na confiança dessa integridade, esperando pela sustentação que vem da “presença” de Deus, e as recompensas da justiça na ressurreição em breve, quando Seus perseguidores, que são “do mundo, cuja porção está nesta vida”, forem derrubados.
O Remanescente justo perseguido também pode proferir isso em companhia de Jesus: na verdade, eles parecem ser introduzidos muito distintamente (v. 11).
NOTA: – Esses dois Salmos apresentam assim as experiências do Senhor de forma muito diferente. No Salmo 16 Ele entra em todo o gozo presente de ser um Morador da casa de Deus, um Sacerdote ou Adorador que sentiu que Suas linhas (ou sortes) haviam caído em lugares deliciosos, porque Ele estava dentro da casa com Deus. No Salmo 17 Ele está fora, na provação do mundo, encontrando as oposições dos homens, e buscando ajuda e libertação, e olhando apenas para as coisas futuras como Seu gozo. No Salmo 16, a ressurreição vem como o fim de um caminho abençoado; no Salmo 17, ela vem como alívio de um caminho difícil e perigoso.
As experiências de Seus santos também estão de acordo com isso. Às vezes, é o simples regozijo da ressurreição e, às vezes, a esperança de serem aliviados por isso de muitos fardos presentes que enchem a alma deles. Estar “dentro do véu” e ao mesmo tempo “fora do arraial” é a atitude devida do crente – e é cheia de beleza moral e dignidade.
Salmo 18
Este é o louvor do Messias pela libertação ou ressurreição, que tinha sido esperada no final do Salmo anterior. Ele celebra a Jeová como Sua fortaleza e Seu escudo (chifre – JND) – símbolos de força e realeza. Ele recita Seus desejos no dia de Sua angústia e a maravilhosa redenção que a mão de Jeová operou para Ele e Seu Israel, quando no lugar da morte, ou em meio às confederações de Seus inimigos no último dia. Sua libertação é a resposta de Deus ao Seu clamor. Então, a Terra treme. Como tremeu o local de reunião, com a voz da Igreja, em Jerusalém (At 4). Pois o Juiz de toda a Terra vingará os Seus próprios eleitos que clamam a Ele. O assopro da Sua boca e o esplendor da Sua vinda farão isso (vs. 8, 12; 2 Ts 2:8).
Este Salmo mostra surpreendentemente Cristo em dois lugares e dois caracteres muito distintos. Pois Ele está aqui tanto como o Libertado quanto o Libertador. Ele é Aquele que faz esta súplica, e Aquele que a responde. Tudo isso, é claro, simples e necessariamente decorrente de Sua Pessoa, Divina e Humana como ela é, – de Ele ser um com Seu povo aflito, e ainda assim é o Senhor que os resgata e os abençoa: como O vemos em Isaías 8, esperando em Jeová que virou Seu rosto de Israel, e em Mateus 23, o próprio Jeová, com Seu rosto virado.
A libertação de Davi das mãos de Saul foi a figura disso; e a libertação de Israel (com quem o Messias aqui Se identifica) no último dia, será a verdadeira libertação aqui celebrada pelo espírito profético. O resgate de Israel do Mar Vermelho, onde a força de Faraó pereceu, é mencionado (vs.15-16), pois essa foi outra figura da ressurreição ou libertação. Assim, a derrota de Adoni-Zedeque, que era a figura do último inimigo ou o rei voluntarioso nos dias de Josué, também é vista no versículo 12 (veja também em Salmos 144, Isaías 30:27-33; 64:1-3).
E o Libertado torna-Se o Conquistador e, no final, o Reinante. O Senhor O fortalece, e Ele parece estar à altura de tudo. A mesma mão de Deus que O resgata, Lhe dá vitória e, por fim, O investe de domínio. Ele acende Sua candeia e O faz atravessar uma tropa.
E assim este Salmo nos diz, como Paulo ensina em Romanos 8, “aos que justificou, a esses também glorificou”. Pois o Senhor não para, não pode parar com mera libertação, mas continua a fazer perfeita a Sua bondade no reino. O cântico de Israel em Êxodo 15 e o dos anciãos em Apocalipse 5 proferem a mesma verdade. Se Ele nos transporta para o reino de Seu amado Filho, é como nos colocar no caminho seguro e pronto para a herança dos santos na luz (Cl 1). Ele aperfeiçoa aquilo que nos diz respeito.
Mas tudo isso é a favor dos justos (vs. 20-27); retribuindo um justo julgamento aos outros. Esse é o carácter da ação aqui. Pois a libertação do “homem violento” não será tanto em graça mas em justiça. O pecador é libertado somente em graça, por meio da expiação, da maldição do acusador, da pena do pecado e do julgamento justo da lei. E assim o Israel de Deus, em breve, no dia do seu arrependimento. Mas em conflito com o inimigo, eles serão justos como Davi com Saul. Eles sofrerão como mártires ou como os justos, e, como tais, serão libertados. E esse justo julgamento, essa retribuição da justiça e do mal, é o caráter da ação no livro do Apocalipse (veja Apocalipse 22:11, 15), como é deste Salmo.
Em 2 Samuel 22 temos que este Salmo foi a declaração de Davi em um momento apropriado; e embora eu tenha acabado de notar isso acima, posso insistir novamente aqui, a respeito da prova que isso oferece da natureza típica de certas partes da história. Pois a libertação de Davi das mãos de Saul é aqui publicada em um tal estilo que nos diz claramente que outra e muito mais magnífica libertação foi vista por meio dela.
O cântico de Ana, da mesma maneira, contempla além da ocasião em que foi proferido (1 Sm 2). Nada é mais comum do que isso. E isso é julgado por alguns como o significado dessas palavras: “que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2 Pe 1). Todos os eventos individuais fazem parte de um grande sistema de governo divino.
Salmo 19
Esta é a meditação de um verdadeiro adorador de Deus, honrando-O tanto em Suas obras quanto em Sua Palavra. Os gentios deveriam (mas não o fizeram, Rm 1) ter conhecido a Deus por Suas obras, e Israel deveria (mas não o fez, Rm 2) ter guardado Sua Palavra ou Sua lei. O verdadeiro adorador aqui, portanto, condena a ambos e glorifica a Deus em Suas duas grandes ordenanças ou testemunhos.
As obras e a Palavra de Deus têm essas duas qualidades – elas glorificam a Deus e abençoam a criatura, como mostra este Salmo. Assim: o firmamento anuncia a obra das mãos divinas, mas também carrega o Sol que dá seu calor a toda a criação. Portanto, a lei é perfeita, glorificando assim seu Criador como o firmamento, mas também refrigera a alma. A glória de Deus e as bênçãos de Suas criaturas são igualmente cuidadas nas grandes cenas do poder e sabedoria divinos. Mas não há esforço, nenhuma indisposição na Terra para receber bênçãos dos céus; mas o homem deve se estimular, como o salmista aqui faz, para obter a bênção para sua alma que a lei ou a Palavra traz para ele.
Este Salmo é mencionado pelo apóstolo (Rm 10:18) com o propósito de identificar gloriosamente os ministérios dos céus e do evangelho. O serviço que um presta à Terra é como o que o outro presta ao mundo, ambos se difundindo por toda parte para que nada possa ser escondido do calor fertilizante ou do calor salvador. O ministério dos céus à Terra, em sua universalidade, é o padrão do evangelho ao mundo. E o Senhor em Seu próprio ministério divino também era exatamente isso. N'Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; e essa luz ilumina todo homem no mundo (Jo 1:4, 9).
Tal era a competência ou qualidade da luz ou do ministério do Filho de Deus. Em princípio, chegou a todos. Nada na criação está fora do alcance do calor do Sol, e nenhum homem no mundo está fora do alcance do testemunho do evangelho (Cl 1:23).
NOTA: – Temos relatos dos pecados voluntários em Números 15 e Deuteronômio 17, e acredito que quando chegamos às passagens do Novo Testamento os vemos em Hebreus 6 e 10.
Salmo 20
Eu leio este Salmo como a declaração do Remanescente Judeu exercendo uma fé muito viva em seu Messias no dia em que Ele tomará sobre Si o problema deles e sairá para afirmar Seu reino contra o Seu inimigo e deles. Eles, portanto, O encomendam aos cuidados de Jeová e antecipam Sua vitória, e que eles mesmos, como seus pais (Êx 17:15), terão, em Jeová, uma bandeira, embora em conflito com o verdadeiro Amaleque.
O povo, com esse espírito, encomendou Josué aos cuidados de Deus quando ele saía para as batalhas (Js 1:17-18). E de acordo com a ordenança divina, quando Israel saísse para a batalha, eles deveriam se encorajar em Deus e não ter medo das multidões do inimigo, ou de seus carros e cavalos (veja Deuteronômio 20:1). Jesus, como Alguém totalmente obediente a esta ordenança, sai aqui para a guerra neste espírito.
Em todo o poder do versículo 3, vemos nosso Senhor deixando Seus serviços sacerdotais no céu, agora que Ele está prestes a assumir esse outro serviço, esse dever do “Deus das batalhas”, o Redentor da herança. E esta ação presente, Sua saída no devido tempo contra Seus inimigos, havia sido prometida a Ele assim que Ele tomou Seu assento no céu (veja Salmos 110:1). E Ele estava esperando por isso (Hb 10:13).
Salmo 21
Esta é uma continuação da linguagem do Remanescente que tivemos no Salmo anterior. Eles primeiro se dirigem a Jeová, reconhecendo que têm uma antecipação completa e gloriosa da vitória de seu Rei e de Seu estabelecimento em Seu reino, porque Ele confiou n'Ele, seu Deus (veja Salmos 18:2-3; Hebreus 2:13; 5:7). Então, no que pode ser chamado de segunda parte, começando com o versículo 8, eles se dirigem ao Messias como se ainda estivesse nos céus, mas contando a Ele, por assim dizer, de Suas vitórias vindouras; e encerram desejando Sua exaltação, reconhecendo-O Senhor.
Sua coroa é de “ouro fino (puro – ARA)” (v. 3), isto é, de justiça imaculada; e, portanto, Seu reino será duradouro (Hb 1:8-9); “longura de dias para sempre e eternamente” (v. 4).
Davi era a figura do verdadeiro Rei, portanto, em vitória. E o desejo de Davi foi cumprido (2 Sm 7:19); como aqui o Messias está no versículo 4.
O Salmo 110, posso observar, é outro exemplo de um adorador que se dirige a Jeová e a Cristo alternadamente, ao vê-los gloriosamente assentados nos céus. A que caráter de comunhão nossa alma tem direito! Que descobertas a Escritura nos faz sobre o céu como ele é agora! Que visões de glórias ainda vindouras temos lá!
Salmo 22
Este Salmo foi a linguagem da alma do Senhor enquanto Ele estava pendurado na cruz (Mt 27:46). Ele proferiu, talvez, apenas as primeiras palavras, mas Seu espírito passou pelo todo. Ele começa como se Seus clamores por libertação da morte (Hb 5:7) não tivessem sido ouvidos, uma vez que Ele estava agora sob as trevas do rosto virado de Deus. Esta foi a morte de uma vítima, não de um mártir. Foi a morte sob o julgamento do pecado. Nada jamais poderia se assemelhar a isso. Veja como a morte do mártir Estevão é diferente da do Cordeiro de Deus (At 7). Mas ainda assim, o Sofredor perfeito justifica inteiramente a Deus – o Deus fiel dos pais e Seu Deus desde o ventre até agora.
Ele, portanto, ainda clama, apresentando diante dos olhos de Deus, todas as peculiaridades de Sua aflição atual vinda da mão dos homens (veja os vs. 7-8, 12, 16-18). E é estranho como os inimigos, naquela hora, estavam cumprindo a Palavra de Deus contra si mesmos literalmente (veja v. 8 e Mateus 27:43). Mas, por fim, o Bem-aventurado Sofredor parece consciente de ter sido ouvido (v. 21) – ouvido desde “as pontas dos unicórnios [os chifres dos búfalos – ARA]” – ouvido, sem dúvida, por Aquele que O podia livrar da morte (Hb 5:7), pois podemos observar que o clamor de Jesus na cruz: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?”, foi, depois de um intervalo, seguido por outro clamor: “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”. Esse segundo clamor surgiria naturalmente da consciência de que o primeiro havia sido ouvido. E, portanto, pode-se pensar que o Senhor aqui no v. 21 expressa Sua percepção de ter sido ouvido por Seu Libertador da morte.
Diante disso, Ele faz Seus votos: – primeiro, declarar o nome de Deus a Seus irmãos; segundo, louvá-Lo na “congregação” (de Israel) e na “grande congregação” (de todas as nações). O primeiro Ele começou a pagar imediatamente ao ser libertado da morte (Jo 20:17), e ainda está cumprindo em todos os santos (Rm 8:15); o segundo Ele pagará no reino quando Israel e as nações estiverem reunidos, a semente de Jacó glorificando a Deus e as famílias das nações adorando diante d'Ele. Pois então, como Jesus aqui promete, o reino e todas as suas ofertas serão do Senhor.
Mas sobre este Salmo devo observar ainda que, enquanto o Senhor Jesus, nos dias de Sua vida e ministério na Terra, estava salvando e não julgando, inclinando-Se e escrevendo com o dedo na terra como se Ele não tivesse ouvido, em vez de atirar uma pedra em alguém culpado, ainda assim Ele submeteu o mundo, em sua maldade, ao olhar judicial e à observação de Deus. Em João 17 Ele faz isso, quando diz: “Pai justo, o mundo não Te conheceu”. Esse mesmo ato parece-me estar presente neste Salmo muito peculiar e comovente.
J. G. Bellett
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