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Foto do escritorRevista O Cristão

Batalha Celestial (Novembro de 2022)

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ÍNDICE

Tema da Edição

Autor Desconhecido

S. R. Gill

H. Smith

D. C. Buchanan

Things New and Old

J. N. Darby

J. N. Darby

Andrew Miller

Things New and Old

J. N. Darby

Christian Friend

F. B. Hole

TBS (adaptado), Food for the Flock



 

Batalha Celestial


Quanto ao Senhor Jesus Cristo, o mundo O rejeitou, O expulsou e O crucificou. Deus, “ressuscitando-O dentre os mortos e fazendo-O sentar à Sua direita nos lugares celestiais” (Ef 1:20 – ARA). “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, ... e nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2:1). Agora somos um povo celestial de nosso celestial Senhor Jesus Cristo que, no céu, está assentado à direita de Deus e, na Terra, é o Homem rejeitado. Somos chamados por Deus como membros de Seu corpo para representá-Lo aqui na Terra até que Ele venha por nós. Devemos enfrentar uma hoste de inimigos celestiais liderados por Satanás. Ele é um adversário ardiloso e enganador que procura derrotar a Deus e a nós, enquanto estamos entre os homens para lhes apresentar Cristo, nossa Cabeça celestial. Para essa guerra precisamos do poder e da armadura de Deus. Vamos vesti-la, mantê-la, e, na “força de Seu poder”, “vigiando com toda a perseverança”, e em oração, “falar ousadamente” como devemos falar.


 

Luta Cristã


“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” (Ef 6:13).


Assim que um pecador nasce de novo pelo Espírito Santo, ele se encontra em luta. Quando ele estava no mundo, e era do mundo, tudo era suave, mas quando ele se tornou um Cristão, encontrou muitos elementos opostos. Agora, a pergunta é: Qual é a luta apropriada ao Cristão? A Escritura fala de três que estão em: Romanos 7:14-24, Gálatas 5:17 e Efésios 6:12. Olhemos para cada uma dessas lutas e vejamos qual é a que se aplica para o verdadeiro filho de Deus.


A luta de Romanos 7

Na bem conhecida luta de Romanos 7, temos um crente com fortes desejos de santidade, mas, em vez disso, descobrimos que ele está fazendo o oposto. Ele é constrangido a dizer: “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço” (v. 19). Pode Deus pensar que essa deva ser a experiência de Seus filhos? Certamente não, pois Deus nos dá um gozo crescente – tendo paz com Ele e liberdade no Espírito Santo. Todos podem ter que passar por esta experiência de Romanos 7, mais cedo ou mais tarde, mas não para permanecer nela.


O primeiro passo será determinar quem ou o que está em luta. O versículo 14 nos mostra que, por um lado, temos a lei, que é justa e boa, enquanto “eu sou carnal, vendido sob o pecado”. Juntando estes dois, lei e carne, qual será o resultado? Luta. Como pode o que é carnal fazer o que é espiritual? A lei, enquanto faz suas exigências, não me dá poder para atendê-las, e eu não tenho poder próprio. Como agir então?


O pensamento de rebaixar a lei de Deus ao nosso nível é absurdo, mas posso elevar-me ao nível da lei de Deus? Não, pois “as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte” (Rm 7:5). A partir dessa e de outras passagens, aprendemos que o objetivo da lei é trazer à tona a pecaminosidade do homem. Mas, novamente, a lei é o nosso aio [tutor – JND] para nos conduzir a Cristo (Gl 3:24), e, portanto, tem algo a ensinar – que “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18). Não pode haver nenhuma verdadeira libertação – nenhuma paz estabelecida – até que eu tenha apreendido que não há nenhum bem em mim e que não tenho poder para produzir nenhum. Então, tendo eu mesmo, assim apreendido, Cristo entra e revela a Si mesmo para mim como minha sabedoria, justiça, santificação e redenção.


Vendo, então, que nós, criaturas carnais, não podemos nos tornar espirituais – surge mais uma vez a pergunta: O que deve ser feito? Bem, se duas pessoas andam juntas e não podem concordar, a única coisa é a separação em que cada uma segue adiante sozinha. Este é, justamente, o argumento do apóstolo em Romanos 7:1: “A lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive”. Há muitos anos, em Londres, Inglaterra, um homicídio foi cometido, e a polícia prendeu o homem que, sem dúvida, era culpado, mas eles não o levaram para a prisão, nem mesmo perante o magistrado. A simples razão pela qual eles agiram assim foi porque o homem tinha cometido suicídio – ele estava morto. Não adiantava levá-lo a julgamento; tudo o que podiam fazer com ele era enterrá-lo. A lei é poderosa o suficiente enquanto um homem viver, mas é impotente quando o homem está morto.


Em Romanos 6:6 lemos, “Sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com Ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado”. Nosso velho homem – o que somos como filhos de Adão – foi crucificado com Cristo. Assim, o crente está habilitado a considerar-se morto com Cristo (Rm 6:11). Depois de confessarmos que não há nada de bom em nós, esta é a grande verdade que precisamos apreender – que estamos, diante de Deus, como mortos – não mais na carne (isto é, na nossa natureza maligna). Diante de Deus, quanto ao velho Adão, estamos colocados de lado, e não temos mais qualquer posição diante de Deus em Adão, nosso primeiro pai. Repito as palavras, “diante de Deus”, porque embora estamos crucificados e mortos com Cristo, ainda assim, em nossa experiência, encontramos a carne ainda conosco, mas então devemos “nos considerar como mortos”.


Nos tornamos “mortos para a lei” (Rm 7:4 – ARA) e também “livres da lei (Rm 7:6). A lei não pode ter domínio sobre nós, porque estamos mortos. Enquanto estivermos na carne – unidos ao primeiro Adão – não podemos estar unidos a Cristo, o Ultimo Adão. Deus colocou de lado, na cruz, o velho Adão e tudo que pertencia a ele. Tendo isso sido feito, o terreno estava livre para Ele introduzir uma criação totalmente nova.


Isso Ele fez levantando a Cristo dos mortos como o Último Adão – a Cabeça da nova criação. A graça veio por Jesus Cristo; isso concede uma nova natureza e um poder para glorificar a Deus ao produzir muito fruto. Não estamos debaixo de lei, mas debaixo da graça (Rm 6:14). Nós que cremos em Cristo morremos com Ele, e, portanto, a lei não pode nos tocar, mas a lei ainda não foi colocada de lado. Somos nós que fomos colocados de lado e feitos novas criaturas em Cristo. É assim que o crente é liberto da terrível luta de Romanos 7.


Luta contra a carne

Mas há uma segunda luta (Gl 5:17). Aqui os inimigos são diferentes dos de Romanos 7. Em Romanos era a lei e eu, mas em Gálatas é o desejo da carne contra o Espírito, e o Espírito contra a carne. O crente recebeu o Espírito Santo, e deseja andar no Espírito, produzindo o fruto do Espírito, mas a carne pode impedir. Aqui, o grande segredo é manter a carne julgada e considerada morta, para que o Espírito não seja entristecido, e a carne seja impedida de trabalhar.


Luta contra os espíritos malignos

Há, no entanto, uma terceira luta, mencionada em Efésios. Aqui os inimigos são totalmente distintos daqueles de Romanos 7 ou Gálatas 5. ...não temos que lutar contra carne e sangue, mas contra os principados, contra os poderes, contra os governadores do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes (Ef 6:12 – TB)” ou talvez de forma mais exata, “espíritos malignos nos lugares celestiais”. Sendo não somente as trevas, mas os príncipes (ou governadores – TB) das trevas – não somente a maldade espiritual, mas os espíritos malignos – Satanás, o príncipe das potestades do ar, a cabeça e o líder deles.


É importante entender a esfera dessa luta. Ela não está no mundo, nem no deserto, mas está nos lugares celestiais. Essa é, essencialmente, a verdadeira posição dos filhos de Deus, pois foi feito com que se assentem em lugares celestiais em Cristo (Ef 2:5-6). E, na proporção em que estamos no gozo consciente do nosso lugar em Cristo, nos lugares celestiais, entramos em contato com Satanás e esses espíritos malignos nos lugares celestiais(Ef 6:12). Assim, que provisão temos para superar esses terríveis inimigos?


Deus em Sua graça tem feito a mais completa provisão, para que possamos ser capazes de manter o gozo do nosso lugar na mais íntima comunhão com o Pai e Seu Filho Jesus Cristo. Ele proveu uma armadura completa. “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6:13-18).


Lugares celestiais

Deve-se observar muito particularmente que essa armadura deve ser usada nos lugares celestiais, e, portanto, devemos conhecer nosso lugar lá para tomá-la e usá-la. Ela não deve ser usada para se chegar a Deus nos lugares celestiais (fazemos isso crendo em Cristo), mas sim para superar as artimanhas do diabo, para que possamos ser capazes de permanecer e desfrutar continuamente de nosso lugar lá e das bênçãos em Cristo. Estamos assentados em Cristo nos lugares celestiais, e o objetivo de Satanás é nos roubar do gozo dessa nossa porção maravilhosa.


Pela presença do Espírito Santo, o Senhor nos dá tudo e cada vez mais, para conhecer, desfrutar e viver nossa verdadeira posição diante de Deus em Cristo. Deus em Sua maravilhosa graça deu ao verdadeiro crente em Cristo a melhor das posições e as mais plena das bênçãos. Ele “nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus”, “porque n'Ele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. E “estais perfeitos [completos – JND] n'Ele” (Ef 2: 6; Cl 2:9-10).


Deus espera de nós que nunca nos contentemos com o gozo de nada menos do que tudo o que Ele nos deu em Seu amor e boa vontade. Ele nos abençoou livre e plenamente, e conta com a nossa pronta resposta. Não há resposta que O deleite tanto como nos ver usar e desfrutar de tudo o que Ele tem dado tão abundantemente. E, o que é melhor de tudo, Ele nos permite desfrutar de todas as coisas, não sozinhos, mas reverentemente, em íntima comunhão com Ele, sem medo e tremor, descansando na plena percepção de Seu favor, e permanecendo em Seu amor.


Autor Desconhecido.


 

Como Deter um Inimigo das Árvores


“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo” (Ef 6:11).


Por mais bonita, alta e forte que uma árvore possa parecer, ela tem inimigos capazes de matá-la. Alguns desses inimigos são insetos muito pequenos. Um pequeno inimigo persistente é o besouro cascudo. É uma das piores pragas de abetos [árvores em formato cônico] e pinheiros da América do Norte.


Normalmente, esses besouros vêm em enxames, perfurando por rachaduras na casca e, finalmente perfurando seu caminho até a seiva. Em uma árvore saudável, esses besouros, muitas vezes, ficam submersos na resina que escorre do buraco e assim morrem. Mas em árvores enfraquecidas e afetadas pela seca, não há resina suficiente para prendê-los. Uma vez que os besouros atingem a parte vital da madeira onde há seiva, formam túneis onde colocam seus ovos. Quando os ovos eclodem, as larvas continuam a se alimentar na árvore.


Se não houvesse como parar esses pequenos insetos persistentes, no fim, não haveria mais pinheiros ou abetos. Deus forneceu proteção para essas árvores usando outro inseto conhecido como besouro quadriculado que pode pegar os besouros cascudos durante seu voo e comê-los. Não só os besouros quadriculados matam os besouros cascudos, mas também entram nos túneis que os cascudos já fizeram. Os besouros quadriculados colocam seus ovos ao lado dos ovos dos besouros cascudos, e quando as larvas eclodem, elas atacam e matam as larvas recém-eclodidas do cascudo.


Deus também deu outro amigo às árvores – a vespa braconidae [espécie de parasita, predador que ataca os besouros]. De alguma forma desconhecida, ela localiza as larvas do besouro cascudo, mesmo que possam estar sob alguns milímetros da casca. Essa vespa injeta os seus próprios ovos nas larvas do besouro cascudo. Os ovos eclodem rapidamente e essas larvas alimentam-se imediatamente dos seus hospedeiros, que, naturalmente, matam as larvas do besouro.


Os besouros assassinos nos lembram do inimigo Satanás, que “anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5:8). Seus ataques são muitas vezes, de alguma forma, pequenos, dos quais podemos nem mesmo estar cientes, mas dizemos: “Isso não é muito; não estou preocupado com isso”. Mas, que cuidados precisamos com a oração para que Satanás não obtenha uma vantagem sobre nós.


A única maneira de aplicar a armadura de Efésios 6:11 ou resistir aos ataques de Satanás é recorrer ao Senhor Jesus em cada prova. “Finalmente ... fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder” (Ef 6:10). Com Ele tomando o nosso lugar diante do nosso inimigo, podemos dizer: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15:57).


S. R. Gill


 

Poder do Senhor e do Inimigo


O poder do Senhor

O apóstolo primeiro dirige nossos pensamentos para o poder que há para nós antes de descrever o poder que está contra nós. Para enfrentar esse combate, devemos sempre lembrar que toda a nossa força está no Senhor e, portanto, Paulo diz: “fortalecei-vos no Senhor e na força de Seu poder” (Ef 6:10). Nossa dificuldade, muitas vezes, é perceber que não temos força em nós mesmos. Naturalmente, gostaríamos de ser fortes em números, fortes em dons ou fortes no poder de algum líder forte, mas nossa força real e única está “no Senhor e na força de Seu poder”.


A oração do primeiro capítulo traz diante de nós a força do poder de Deus. Cristo foi ressuscitado dentre os mortos e colocado à direita de Deus nos lugares celestiais, “acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1:21). Sendo assim, diz o apóstolo, essa é a “sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós os que cremos” (Ef 1:19). O poder que está contra nós é muito maior do que o nosso poder, mas o poder que está sobre nós é um poder superior; ele supera todo o poder que se opõe a nós. Além disso, Aquele que tem o poder supremo é Aquele que possui “insondáveis riquezas” e nos ama com um amor que “excede todo entendimento” (Ef 3:19).


Nos dias de outrora, Gideão estava preparado para o combate, e primeiro lhe foi dito: “O Senhor é contigo”; depois ele foi exortado: “vai nesta tua força”. A família de Gideão poderia ser a mais pobre em Manassés e ele mesmo o menor na casa de seu pai, mas o que importava a pobreza de Gideão ou sua fraqueza se o Senhor fosse por ele e com ele (Jz 6:12-15)? Assim, dias mais tarde, Jônatas e seu escudeiro puderam enfrentar um grande exército na força do Senhor, pois, disse Jônatas, “para com o SENHOR nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos” (1 Sm 14:6).


Portanto, em nossos dias, com o fracasso que nos segue, a fraqueza entre nós e a corrupção nos rodeando, precisamos de um novo senso da glória do Senhor, do poder do Senhor, das riquezas do Senhor, do amor do Senhor e, com o Senhor diante de nós, avançar “na força do Seu poder”.


À parte de Cristo, não temos poder. O Senhor pôde dizer: “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15:5), mas, disse o apóstolo, “posso todas as coisas n’Aquele que me fortalece” (Fp 4:13). É somente quando nossa alma é mantida em comunhão secreta com Cristo que seremos capazes de nos valer do poder que está n’Ele. Sendo assim, todo o poder de Satanás será direcionado para colocar nossa alma fora de contato com Cristo e procurar nos impedir de nos alimentar d’Ele e andar em comunhão com Ele. Pode ser que ele procure nos tirar da comunhão com Cristo pelos cuidados e deveres da vida cotidiana ou pela doença e fraqueza do corpo. Ele pode procurar usar as dificuldades do caminho, as contendas entre o povo de Deus ou os insultos mesquinhos que temos de enfrentar, para enfraquecer o espírito e afligir a alma. Se, no entanto, em vez de permitir que todas essas coisas fiquem entre nossa alma e o Senhor, as fizermos ocasiões para nos aproximarmos do Senhor, aprenderemos o que é ser forte no Senhor, enquanto nos damos conta de nossa própria fraqueza. Então seremos instruídos a respeito da bem-aventurança da palavra: “Lança o teu fardo sobre o Senhor, e Ele te susterá” (Sl 55:22 – AAIB).


O poder do inimigo

Primeiro, somos exortados a lembrar que não é contra a carne e o sangue que lutamos. O diabo pode, de fato, usar homens e mulheres para se opor ao Cristão e negar a verdade, mas temos que olhar além dos instrumentos e discernir aquele que os está usando. Uma mulher, em carne e osso, se opôs a Paulo em Filipos, mas Paulo discerniu o espírito maligno que a moveu, e no poder do nome de Jesus Cristo ele entrou em combate com a maldade espiritual, ordenando que o espírito maligno saísse da mulher (At 16:16-18).


Um verdadeiro discípulo, em carne e osso, se opôs ao Senhor quando Pedro disse, em vista dos sofrimentos do Senhor: “tem compaixão de Ti”, mas o Senhor, conhecendo o poder de Satanás por trás do instrumento, disse: “para trás de mim, Satanás” (Mt 16:22-23).


O combate, então, é contra Satanás e suas hostes, qualquer que seja o instrumento usado. Principados e potestades são seres espirituais em posição de governo, com poder para executar suas vontades. Eles podem ser seres bons ou maus; aqui em Efésios eles são seres maus, e a maldade deles parece tomar uma direção dupla. Com relação ao mundo, eles são “os príncipes das trevas deste século [mundo – TB]; com relação aos Cristãos, eles são as “hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. O mundo está em trevas, na ignorância de Deus, e esses seres espirituais governam e dirigem as trevas do paganismo, da filosofia, da falsamente chamada ciência e da infidelidade, bem como as superstições, as corrupções e o modernismo da Cristandade. O Cristão é trazido à luz e abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais. A oposição ao Cristão então assume um caráter religioso por seres espirituais que procuram roubá-lo da verdade de sua vocação celestial, enganá-lo em um caminho que é uma negação da verdade, ou em conduta que é inconsistente com ela.


O caráter da oposição

Além disso, somos instruídos quanto ao caráter da oposição. Não é simplesmente perseguição, ou uma negação direta da verdade, é a oposição muito mais sutil e perigosa descrita como “as ciladas do diabo”. A cilada é algo que parece justo e inocente, contudo, desvia a alma do caminho da obediência. Quantas vezes, nestes dias de confusão, o diabo procura levar aqueles que têm a verdade a algum caminho, que no início se desvia muito pouco do verdadeiro curso e que levantar qualquer objeção a isso pode parecer rigoroso. Há uma pergunta simples que cada um de nós pode fazer a si mesmo pela qual cada cilada pode ser detectada: “Se eu seguir este caminho, para onde ele me levará?”


Quando o diabo sugeriu ao Senhor que Ele transformasse as pedras em pão para atender às Suas necessidades, pareceu uma coisa muito inocente de se fazer. No entanto, isso era uma cilada que teria levado para fora do caminho da obediência a Deus, e uma negação da Palavra que dizia: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4:4).


Para desviar os crentes gálatas da verdade do evangelho, o diabo usou a lei como uma cilada para prendê-los na falsa importância do legalismo. Para desviar os santos coríntios da verdade da assembleia, o diabo usou o mundo como uma cilada para conduzi-los à permissividade carnal. Para desviar os santos colossenses da verdade do mistério, o diabo usou as ciladas de “palavras persuasivas”, “filosofia” e superstição para prendê-los na exaltação religiosa. Essas ainda são as artimanhas que temos de enfrentar.


H. Smith


 

Coloque os Pés no Pescoço Deles


As batalhas que Josué e Israel travaram contra os habitantes da terra de Canaã correspondem à batalha espiritual empreendida contra as hostes de Satanás, como apresentadas a nós, no livro de Efésios. Nossas bênçãos estão com Cristo no céu, mas há hostes satânicas nos lugares celestiais que batalham contra nós com o fim de nos impedir de viver no bem daquilo que é nosso. Assim, precisamos da armadura de Deus para resistir e permanecer firmes naquilo que Cristo nos tem assegurado.


Em Josué 10, temos a batalha que se seguiu quando Josué e Israel foram obrigados a subir para defender os gibeonitas com os quais tinham feito uma aliança. Israel tinha sido enganado pela cilada sutil dos gibeonitas. Todavia, o Senhor estava com Israel e os defendeu dando a eles vitória sobre os 5 reis que atacaram Gibeão. Esses eventos correspondem à guerra que temos com as hostes de Satanás como descrita em Efésios 6. “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo” (v. 11). Foi Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém, que liderou essa aliança de 5 reis para lutar contra Israel e Gibeão. Seu nome significa, “senhor da justiça”, parecido com o do seu predecessor em Canaã durante o tempo de Abraão, Melquizedeque (rei de justiça). Mas a justiça de Adoni-Zedeque estava somente no nome que ele usava para enganar. Durante o tempo de Abraão, a iniquidade dos amorreus não havia sido preenchida. Eles reconheciam externamente a autoridade de Deus, mas havia injustiça neles; eram tão maus que Deus os afastaria de Canaã. Aquela era a hora de Deus dar a terra a Israel. Foi dito a Josué para destruí-los. Da mesma forma, em Efésios 6, temos uma guerra contra cinco inimigos que lutam contra nós. Eles procuram impedir a nossa apreciação da porção celestial. Temos de nos manter firmes contra eles.


Cinco inimigos contra os quais lutamos


1. Contra as astutas ciladas do diabo. 2. Contra os principados. 3. Contra poderes (autoridades). 4. Contra os príncipes das trevas deste mundo (senhores universais das trevas). 5. Contra a maldade espiritual em lugares altos (espíritos maus em lugares celestiais).


Nesta guerra espiritual devemos permanecer firmes; o Senhor dá a vitória, assim como Ele disse a Josué e Israel. “Não os temas, porque nas tuas mãos os entreguei; nenhum deles te poderá resistir. Josué lhes sobreveio de repente, porque toda a noite veio subindo desde Gilgal. O SENHOR os conturbou diante de Israel, e os feriu com grande matança em Gibeão, e os foi perseguindo pelo caminho que sobe a Bete-Horom, e os derrotou até Azeca e Maquedá. Sucedeu que, fugindo eles de diante de Israel, à descida de Bete-Horom, fez o SENHOR cair do céu sobre eles grandes pedras, até Azeca, e morreram. Mais foram os que morreram pela chuva de pedra do que os mortos à espada pelos filhos de Israel. Então, Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel; e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeão, e tu, Lua, no vale de Aijalom. E o Sol se deteve, e a Lua parou até que o povo se vingou de seus inimigos” (Js 10:8-13 – ARA).


O resultado foi dado antes do início da luta, para que Israel pudesse ir confiando no Senhor (não em si mesmos); os inimigos fugiram de Israel. Aqui vemos como o poder do céu foi usado para destruir os exércitos dos cananeus por pedras de saraiva, e depois com o prolongamento do dia para Israel destruir completamente o inimigo. Que lição para nós permanecermos firmes diante dos “principados celestiais”, das “autoridades”, dos “príncipes das trevas” e dos “espíritos maus”. Eles nos arrastariam para baixo para que nos ocupássemos com coisas terrenais, ou qualquer outra coisa, menos com Cristo no céu.


Seus pés sobre o pescoço

Gostaríamos de chamar a atenção para o exemplo daquilo que Josué fez aos cinco reis que se esconderam numa cova em Maquedá. Josué ordenou que eles ficassem presos no cativeiro durante a batalha naquele dia. Depois os tirou de diante de todos os homens de Israel e disse aos capitães que se aproximassem e pusessem os pés no pescoço dos cinco reis. “E chegaram e puseram os seus pés sobre os seus pescoços. Então, Josué lhes disse: Não temais, nem vos espanteis; esforçai-vos e animai-vos, porque assim fará o SENHOR a todos os vossos inimigos, contra os quais pelejardes. E, depois disto, Josué os feriu, e os matou, e os pendurou em cinco madeiros; e ficaram enforcados nos madeiros até à tarde” (Js 10:24-26). Certamente, essa ação encorajou os homens de Israel a confiar e seguir a Josué, pois eles conquistaram a terra de Canaã. Ao aplicar isso à nossa guerra espiritual, certamente podemos ver como o diabo e os outros inimigos celestiais podem ser mantidos sob nossos pés por meio da confiança e obediência ao Senhor. Que isso nos encoraje a não ceder ou ter medo de Satanás e da sua hoste.


Mas a lição dada por Josué serve também como testemunho ao inimigo derrotado. Assim como os cinco reis foram colocados sob os pés dos capitães, assim as hostes de Satanás são subjugadas ao crente que, em obediência e fidelidade a Cristo, resiste aos artifícios usados por eles nessa guerra. Olhando para a expressão “principados e potestades [autoridades] – aqueles que estão lutando contra nós – podemos notar em Colossenses 2:15 (ARA) como Cristo os derrotou – “despojando [espoliando – KJV] principados e potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Ele alcançou a vitória. Então, em Romanos 8:38-39 somos mais do que vencedores por Aquele que nos amou, “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Então, novamente, temos na oração de Efésios 3 o testemunho daquilo que a Igreja de Cristo é para as hostes do Senhor – aqueles anjos que servem ao Senhor: “Para que agora, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor, no Qual temos ousadia e acesso com confiança pela nossa fé n'Ele” (vs. 10-12).


Principados e potestades de Satanás

Que possamos ser inspirados a colocar os pés no pescoço do inimigo, e na confiança da vitória, por meio da obediência a Cristo, continuar no combate que está diante de nós. O resultado é certo. Tende bom ânimo. Coloque os pés no pescoço dos principados e potestades de Satanás e demonstre ao céu o testemunho de que você pertence a Cristo de acordo com a multiforme sabedoria de Deus. Este é o eterno propósito d'Ele para você. Assim, as hostes celestiais observam este maravilhoso mistério do plano de Deus para Cristo e a Igreja.


Satanás e o seu exército serão em breve expulsos do céu. “E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora chegada está a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do Seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derribado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram a sua vida até à morte. Pelo que alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na Terra e no mar! Porque o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo” (Ap 12:10-12). Enquanto isso, devemos suportar o combate e vestir “toda a armadura de Deus”.


D. C. Buchanan


 

O Capacete da Salvação


Efésios 6:10-18

O capacete da salvação e o escudo da fé estão intimamente ligados, embora sejam perfeitamente distintos. O último é a confiança no que Deus é, o primeiro no que Ele fez. O escudo transmite a ideia de uma confiança mais geral no próprio Deus, o capacete de uma mais especial garantia pessoal na libertação que Ele operou, para nós, em Cristo Jesus. Assim, como vimos, um é sobre todos, o outro coroa a todos. Nossa armadura defensiva está completa. Podemos levantar nossa cabeça com santa ousadia no dia da batalha; podemos enfrentar o inimigo mais forte, ou todas as hostes do inferno, com coragem invencível. Colocamos “toda a armadura de Deus” e estamos cobertos com a força e a salvação de Deus. Bendito seja o Senhor! Somos completos n'Ele, que é a “Cabeça de todo principado e potestade”. Que inimigo pode nos prejudicar, que inimigo pode nos alcançar lá? Estando na luz como Deus está na luz, os governantes das trevas deste mundo nunca se aventurarão lá [nos lugares celestiais]. N’Ele, somos elevados até acima dos anjos que nunca pecaram. Maravilhosa, abençoada, gloriosa verdade! Que possamos usar isso para Sua glória, bênção de nossa alma e derrota de nossos inimigos!


Uma salvação conhecida

Mas será que consideramos bem que o nosso “capacete” é uma salvação conhecida? É mais, muito mais, do que simplesmente esperar ser salvo no final. O inimigo logo tiraria tal capacete da nossa cabeça. Mas alguns podem perguntar: Não é bíblico esperar pela salvação? O que o apóstolo quer dizer quando diz: “Por capacete a esperança da salvação?” (1 Ts 5:8). Certamente nada pode ser mais claro do que isso. Verdade, mas o apóstolo está falando em 1 Tessalonicenses 5 da esperança da vinda do Senhor, não do nosso perdão e aceitação. Nesse contexto, isso, é claro, inclui a glória pela qual esperamos. Alguns pensam que sempre, e onde quer que a palavra “salvação” for usada, ela deve significar a salvação da alma do pecado e do inferno. Esse é um grande erro, e tem sido o meio de confundir a muitos e levar muitos à falsa doutrina. A referida passagem é extremamente bonita. “Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação” (ARA). Aqueles aqui mencionados são os filhos da luz e do dia – os que estão caminhando em comunhão com Deus na “fé e amor”, e com os olhos brilhantes que veem de longe a “esperança”, fixada mais especialmente em Cristo, que está vindo para nos levar para estar com Ele em glória. Esta é a verdadeira e apropriada esperança do Cristão – a esperança da vinda do Senhor. Temos tudo agora menos a glória. Nós ainda estamos no corpo natural, portanto, temos esperança, esperamos, sem nenhuma incerteza, pelo corpo glorioso, graças ao Senhor; E nos “gloriamos na esperança da glória de Deus” (Rm 5:2; Fp 3:21). Mas há outra passagem que parece ensinar, como muitos dizem, que uma salvação conhecida é impossível neste mundo – que devemos esperar até chegarmos ao tribunal antes de sabermos com certeza como isso será conosco. É este: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2:12 – ARA). Aqui, argumenta-se que podemos trabalhar bem por um tempo, mas infelizmente falhamos no final e finalmente não estaremos à altura.


Nossa libertação final do combate

Como na outra passagem, o erro surge de não se considerar o significado da palavra “salvação”. Para ver a sua aplicação, o contexto deve ser considerado. Tanto no versículo 12 quanto em toda a epístola, “salvação” é considerada como uma coisa futura. O próprio Paulo diz: “Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito” (Fp 3:12). Isso, é claro, ele não poderia ser até que estivesse com Cristo em glória. Claramente, então, nossa libertação final de conflitos de todo tipo está implícita na palavra “salvação”, como aqui usada. Portanto, Cristo é mencionado como um “Salvador” no mesmo capítulo, quando Ele vem para transformar nosso corpo de humilhação. “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:20 – ARA). Aqui não é apenas uma questão da salvação da alma do pecado, mas do corpo de humilhação. O erro surge da suposição de que “salvação” tem apenas um significado no Novo Testamento. Aqueles que pensam assim devem muitas vezes sentir-se em dificuldade. Por exemplo, em Romanos 13 lemos: “porque nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé” (v. 11). Como se explica isso? Simplesmente pelo contexto. Aí está a dificuldade. Achamos que a conexão aqui é com “o dia”, mas o dia não havia chegado – o dia da glória. Estava, porém, cada vez mais perto. Daí o coração é animado e encorajado, no combate, pela Palavra do Espírito que se segue: “Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas daluz” (Rm 13:12).


Trabalhando a nossa salvação

Podemos perguntar, então, qual é o verdadeiro significado destas palavras: “operai [desenvolvei – ARA] a vossa salvação com temor e tremor”? Procure cuidadosamente o que acontece antes e depois dessas palavras. Assim, vamos encontrar o significado para a passagem. Paulo deixou os santos em Filipos, e Deus está com eles. Não que Deus estivesse ausente quando Paulo estava presente; essa não é a questão. Deus nunca deixa, nem abandona o Seu povo. Mas quando um pai está presente e faz tudo por seus filhos, eles estão predispostos a apoiar-se nele; quando ele está longe deles, eles devem pensar e trabalhar por si mesmos. Assim tinha sido, até então, com os filipenses. E Paulo disse: “Assim pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor”. O apóstolo que havia trabalhado entre eles estava agora longe, prisioneiro em Roma. Ele não estava mais presente para ajudá-los com seu conselho e energia espiritual. Eles foram, então, lançados mais diretamente sobre o próprio Deus. Então ele diz, “porque Deus é Quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade”. Portanto, eles deveriam trabalhar ainda mais fervorosamente, mesmo com “temor e tremor”, visto que Deus estava operando neles. Ele os exorta a “temer e tremer”, não para que caiam e se percam, mas para que não desonrem a Deus por qualquer falta de zelo, de diligência, de fervor ou de fidelidade, no dia da provação.


Tinham agora de enfrentar as ciladas do inimigo sem a ajuda da presença de Paulo, mas Deus agia neles; por isso a sua perda se converteu em grande ganho. Eles foram lançados inteiramente sobre Deus para toda ajuda, todo conselho e toda orientação necessários. No lugar de enfraquecer o crente, isso o encoraja para o serviço e para a batalha. Ao mesmo tempo, não devemos esquecer que há um aviso profundo e solene nas palavras do apóstolo. É como se ele tivesse dito: “Vocês têm muitas dificuldades e perigos para enfrentar e superar em seu caminho através do deserto. O combate é sério: Vocês têm os esforços de um inimigo poderoso, sutil e ativo contra quem lutar, e eu não estou mais com vocês para ajudar com o meu conselho, para exortá-los e estimulá-los com o meu exemplo. Vocês devem orar mais, ser mais vigilantes, mais sóbrios, mais pessoalmente dependentes dos recursos do próprio Deus”. “ porque Deus é Quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade”. Assim eles foram coroados, e assim todos os guerreiros deveriam ser coroados, no dia da batalha, com uma conhecida e apreciada salvação.


Salvação conhecida e apreciada

O apóstolo é nosso nobre exemplo em tudo isso, bem como nosso sábio conselheiro. Foi esse capacete de salvação que lhe deu, quando prisioneiro e acorrentado, tanta ousadia e energia no meio de seus inimigos. Sem medo do poder do mundo que estava diante dele, ele ergueu a cabeça no gozo consciente de seu relacionamento com Deus e desejou sinceramente que seus juízes e seu público fossem tão felizes quanto ele. “Assim Deus permitisse”, disse Paulo a Agripa, “que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias” (At 26:29). Ele não estava pensando em si mesmo, pois não tinha nada a temer por si; nenhum golpe do inimigo poderia privá-lo de seu capacete. Foi assegurada pela cruz e pela glória de Jesus, e brilhava diante de todos. Essa salvação presente e conhecida libertou-o para pensar nos outros, cuidar do bem dos outros e apelar ao coração dos outros, em palavras de ardente eloquência. Assim, que possamos guerrear e lutar, com a salvação como nosso capacete, por meio do poder de um Espírito Santo não entristecido.


Things New and Old, Vol. 14 (adaptado)


 

As Hostes do Senhor


Pode parecer um pouco estranho que a luta tenha um lugar tão relevante na epístola aos Efésios. Encontramos na epístola a mais completa revelação de nossa posição e da caminhada do Cristão, mas também somos especialmente achados em luta, e somos chamados a vestir “toda a armadura de Deus”. Na verdade, nunca entramos num combate como esse até conhecermos os nossos privilégios. Em Gálatas temos luta, mas não os privilégios da Igreja, pois a carne não é a mesma coisa que os espíritos maus. Mas separem os santos do mundo, e que sejam vasos preparados a serviço do Mestre, e essa é a própria razão pela qual eles entram na luta. Se ocupamos o lugar de privilégio em que estamos, temos de entrar na luta. Se atravessamos o Jordão, devemos encontrar os cananeus e os ferezeus. Todos nós sabemos algo sobre os exercícios no deserto – descobrir o que está em nosso coração –, mas é quando entramos na terra que entramos na luta.


Nós “morremos com Ele”, que é exatamente a figura do Jordão, e estamos “assentados nos lugares celestiais, em Cristo”. É o lugar de todo Cristão, mas muitos não percebem isso. Muitos estão perguntando se não estão ainda no Egito e estão olhando para o sangue. Mas no Mar Vermelho, eu recebo a morte e a ressurreição de Jesus Cristo; o julgamento que caiu sobre os egípcios me salvou. Assim como eu (e todo pobre pecador em Adão) fui expulso de um paraíso terrestre por causa do pecado, então eu sou levantado e colocado em um paraíso celestial por causa da justiça. Passando pelo deserto, temos exercícios de coração, mas então chegamos ao Jordão onde passamos pela morte, por assim dizer, e a terra é nossa; comemos o grão da terra do ano antecedente (Js 5:12).


O deserto e a terra

Ao longo desta epístola, você encontra os dois lugares – o deserto e a terra. Somos colocados lá no lugar que é nosso, e claro, estamos aqui em nosso corpo, mas chega-se a esta conclusão: O inimigo está aqui. Temos o nosso lugar em Cristo, mas os Seus inimigos ainda não estão debaixo dos Seus pés. A consequência é colocar-nos em batalhas. Ouviremos as pessoas falarem do Jordão sendo a morte e Canaã sendo o céu, mas, na realidade, a luta é o que caracteriza a terra.


Aqueles que entram na terra são tão completamente do Senhor que Ele os usa para o combate contra Seus inimigos. Como podem travar as batalhas do Senhor se estão na carne? Portanto, se quisermos ter sucesso nessas batalhas, devemos estar mortos na prática. Paulo combateu nessas batalhas, mantendo tudo o que pertencia a ele completamente destruído, de modo que nada de Paulo apareceu. Ele sempre levava em seu corpo a morte do Senhor Jesus, para que também a vida de Jesus se manifestasse em seu corpo mortal. Um homem que está morto e ressuscitado não tem nada a ver com este mundo. Associados ao Senhor naqueles lugares celestiais, somos o testemunho daquilo que Ele é lá.


Nosso estado e nossa atividade

Ao olhar para as partes da armadura, percebemos primeiro as partes subjetivas, ou seja, que nosso estado vem primeiro e depois vem a atividade. Não há atividade divina até que Deus tenha agido divinamente conosco. Cristo vem e coloca tudo o que é divino e celestial em um homem exatamente em contato com tudo o que está errado no homem. A verdade de Deus, que foi revelada no Novo Testamento, é trazida diretamente ao coração dos homens, e quando ela é efetivamente aplicada em mim, recebo o cinto da verdade sobre meus lombos; meu coração está inteiramente sujeito a uma palavra celestial. Sempre que entro nesse estado, há conflito, mas agora a minha condição é o efeito da verdade; as afeições estão corretas, pois o meu coração está na verdade.


As peças da armadura

“Vestir a couraça (peitoral) da justiça” é algo prático, mas isso não é justiça para com Deus. Porém, se eu vou pregar a Cristo e alguém possa dizer de mim: “Ora, aqui está um homem pregando que é pior do que seus vizinhos”, Satanás vai tomar posse da situação imediatamente. Devemos vestir o peitoral da justiça, isto é, a alma e o andar devem ser retos.


Em seguida, meus pés devem ser calçados “na preparação do evangelho da paz”. O egoísmo é um sentimento que provoca contendas, pois ele diz, eu devo manter meus direitos. Mas o Cristão carrega a paz, porque ele tem paz no íntimo; ele carrega através do mundo o Espírito e o caráter de Cristo. Cristo podia andar por este mundo em perfeita paz, porque Ele tinha Seus lombos perfeitamente cingidos com a verdade e tinha, de modo perfeito, o peitoral da justiça. Nós também podemos caminhar íntegros por meio de tudo o que o homem possa trazer contra nós, se nossos pés estiverem calçados.


Quando o coração está ajustado nas três primeiras peças, podemos abraçar “o escudo da fé”. Há uma confiança abençoada em Deus. Satanás pode fazer o que quiser, pode se esconder em lugares secretos, mas ele não pode romper o meu escudo de fé. Ele tem feito o seu melhor para seduzir e afligir, mas Cristo em Sua posição por nós o venceu completamente. A ordem é: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4:7), “resistir”, não vencê-lo. Se uma vez resistimos a ele honestamente, ele encontra Cristo em nós e foge imediatamente. Ele nunca pode passar através da confiança em Deus, pois o escudo da fé está levantado, e ele não pode fazer nada.


Agora vem o “capacete da salvação”. Isso é a armadura defensiva e o estado da alma que vem antes. Muitos entraram em ação sem conhecer a si mesmo, mas vestidos com este “capacete da salvação” podem levantar a cabeça, pois sabem que a salvação é deles, e que a porção que lhes pertence é a glória. Como homens em Cristo (tudo sendo um assunto resolvido), agora eles tomam “a espada do Espírito” e podem começar a luta. A primeira grande coisa, se quisermos ser ativos no serviço do Senhor, é que devemos estar perfeitamente ajustados com Ele. É o homem que tem o segredo do Senhor em poder na sua própria alma que pode sair para o serviço (Sl 25:14). Ele não se distrairá com outros pensamentos, pois tem o segredo do Senhor.


Oração

“Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6:18). Estas duas sempre andam juntas: a Palavra de Deus e a oração. Maria sentou-se aos pés de Jesus e ouviu as Suas palavras. No momento em que eu entendo que o combate é contra Satanás e suas artimanhas, eu percebo que metade da batalha tem que ser continuada com Deus. Encontramos o próprio Senhor no Getsêmani orando fervorosamente, e quando o combate veio, Ele estava perfeitamente calmo. Ao contrário de Pedro, que estava dormindo, amaldiçoou e jurou que não O conhecia. A verdadeira seriedade e súplica vêm de estarmos envolvidos nos interesses de Deus no mundo.


O bendito Senhor desceu até onde estávamos – foi feito pecado por nós nas partes mais baixas da Terra, com todo o poder de Satanás contra Ele. Tendo subido ao alto, Ele nos tira tão inteiramente das mãos do inimigo que nos coloca em um lugar onde temos os mesmos interesses que Cristo – o lugar mais abençoado, se apenas tivermos o poder de mantê-lo. Mas quanto mais estamos na vanguarda da batalha, mais somos expostos aos dardos inflamados, e nenhum lugar exige mais dependência de Cristo do que quando somos expostos dessa maneira. Isso nos leva a uma constante e incessante dependência e oração, não só para nós mesmos, mas para todos os santos. Se eu estiver andando com Deus, não só orarei por mim mesmo, mas estarei em contínua intercessão por todos os santos.


Quando eu tiver passado o Jordão e a afronta deste mundo for removida, posso estar no exército do Senhor. Nesta posição, não é o aprendizado ou a sabedoria humana, mas sim as ciladas de Satanás que temos que temer. No momento em que saímos da presença consciente de Deus, estamos em perigo. Mas com a armadura de Deus, podemos contar com Ele e não apenas andar com segurança, mas sempre ganhar terreno contra Satanás.


J. N. Darby (adaptado)


 

A Armadura da Oração


Como vimos que a Palavra de Deus é a espada do Espírito, assim também vemos que importância o Senhor atribui à oração! Há dois tipos de oração: aquela que é a expressão de nossas necessidades, e aquela que é feita na energia do Espírito, e que é, portanto, infalivelmente respondida. Seja para manejar a espada do Espírito, seja para orar, a vida Cristã já deve existir, pois, para poder orar pelos outros, a nossa própria vida deve estar com Deus. Entre os Cristãos há muita pouca intercessão, porque eles vêm a uma reunião de oração depois de levar uma vida desvanecida, absorvida pelas coisas presentes. A consequência é que suas orações revelam a fraqueza do indivíduo, e não a obra do Espírito para o bem da Igreja. Muitas vezes, a oração é uma confirmação quanto a nossos próprios fracassos. Se estivéssemos atentos a essas coisas em nossa caminhada diária, nossas orações seriam intercessões, em vez de súplicas a cada dia por nossas próprias falhas. O que devemos desejar é que nossas orações individuais sejam tais que nos permitam orar por todos os santos; sem isso elas nunca terão essa poderosa energia do Espírito. Satanás encontrará alguns meios para derrotar os Cristãos. Como isso torna recomendável que haja alguns que sejam capazes de trazer a ajuda de Deus! Quanto mais somos fiéis quanto à nossa posição neste mundo, mais seremos expostos às emboscadas do inimigo, e se não nos mantivermos assim perto de Deus, o inimigo encontrará alguma maneira de causar estragos.


Os Cristãos mais fiéis e maduros sentem sua dependência de Deus e de todos os santos. O dom apostólico de Paulo dependia, em certo sentido, das orações dos santos: Deus pretendia que assim fosse, a fim de que a Igreja pudesse ser unida em suas afeições (2 Co 1:11 – ARA). O apóstolo estava em uma posição de destaque, e talvez ele tenha recebido o poder pelas orações de alguém, como uma pobre mulher acamada, mas todos os frutos ocultos serão vistos no último dia. É uma coisa encorajadora ver que Deus honra os membros ocultos que são os menos honrados aos olhos da carne. Esse pensamento nos encoraja a caminhar humildemente em nossa posição. Frequentemente há pessoas que não vemos, que são o meio de bênção para aqueles que estão em uma posição muito proeminente. Devemos pensar no louvor que Deus dá, e não no dos homens. A única coisa em nosso serviço é glorificar a Deus. Se o meu coração, que ninguém vê, não bater, não posso correr. Há indivíduos que são verdadeiramente o coração da Igreja; muitas vezes não são as coisas que são vistas que são as mais preciosas aos olhos de Deus.


J. N. Darby


 

Firmemente Fundamentado


Não é muito difícil entender o caráter da luta sob Josué, mas podemos perguntar: Qual é o caráter, a influência ou o modo de ação daqueles espíritos malignos? Ciladas, astúcias e mentiras são as suas armas mais bem sucedidas. Eles vão desafiar nosso direito, questionar a nossa condição, e em todos os sentidos disputar a nossa posse atual dos lugares celestiais. Temos de conhecer bem o nosso terreno, em todos os pontos, para o manter. E para isso devemos ser guiados inteiramente pela Palavra de Deus, à parte dos sentimentos. Devemos saber o que é estar no céu como uma questão de fé, enquanto ainda na Terra como uma questão de fato. Devemos também entender a verdade abençoada de estar na presença de Deus em toda a aceitação de Cristo, embora ainda aqui no meio de dificuldades, fracassos e enfermidades. Em suma, devemos manter, em face de cada inimigo, o nosso presente direito ao céu, a nossa condição para estar lá, nossas grandes possessões como um herdeiro de Deus e coerdeiros com Cristo (1 Jo 4:17; Rm 8:7).


Andrew Miller


 

O Dia Mau


Alguns consideram esse “dia” como abrangendo todo o período da vida do crente, ou mais especialmente os períodos que ele passa por provação e sofrimento. No entanto, com essa ideia, perdemos a Cristo de vista. Há outros que pensam que esse “dia” faz referência a todo o período desde que Cristo foi crucificado. Eu diria que esta última é a opinião correta. A ausência de Cristo na Terra, a presença de Satanás como o “príncipe deste mundo”, e as manifestações de seu poder, que Deus tem permitido, constituem “o dia mau”. Cristo era a luz do mundo enquanto Ele estava aqui, mas Ele foi rejeitado e crucificado, e voltou para Seu Pai. Desde então, este mundo tem estado novamente nas trevas e governado por demônios, embora, é claro, Deus seja Supremo e prevaleça sobretudo para Sua própria glória e para o bem de Seu povo. Satanás é o deus a quem este mundo adora, e o príncipe a quem ele segue. Que solene! Que pensamento terrível! Que lugar horrível este mundo! Certamente todos nós deveríamos nos interessar menos por ele do que nos interessamos se realmente acreditamos neste fato terrível.


Things New and Old Vol. 14


 

A Consequência da Luz


As muitas bênçãos da Igreja (como em Efésios 1:3) nos colocaram em uma espécie de luta que não teríamos sem tais bênçãos. Assim, a Igreja está sujeita a mais falhas do que judeus ou gentios estavam, porque eles não foram chamados para a mesma bênção. Um judeu pode fazer muitas coisas que seriam monstruosas se feitas por um Cristão e, no entanto, não encontrar nenhuma contaminação em sua consciência. Ao ser rasgado o véu, no qual o conhecimento de Deus estava envolto, a luz brilhou; e a consequência é que essa luz que saiu do lugar santo não pode tolerar o mal. Os Cristãos estão em uma posição mais perigosa do que os judeus, se não andarem na luz. Satanás pode atrair e me seduzir com muitas coisas, que não teriam poder contra mim se eu não fosse tão favorecido. “Fortalecei-vos no Senhor”, eis o lugar da força. Não há força senão em Cristo – eu não tenho nenhuma em nenhum momento, exceto quando a minha alma está em comunhão secreta com Ele, e por Ele com Deus Pai. O poder direto de Satanás está nesse ponto, para impedir que nossa alma viva em Cristo. Revesti-vos de toda a armadura de Deus; não há defesa contra Satanás sem isso. A força é sempre o efeito de estar ligado a Deus em espírito de dependência.


J. N. Darby


 

A Batalha Celestial


Se um homem Cristão não está andando no Espírito, se a carne não é subjugada, ele não pode mostrar ao mundo o ambiente, espírito e caráter do céu; ele está manifestando outra coisa. Mas as lutas nos lugares celestiais (Ef 6:12) não são meros conflitos em subjugar nossa carne; são lutas mantidas na percepção e apropriação das coisas em Canaã que pertencem a nós mesmos e a outros. Se Josué e os israelitas tomaram cidades em Canaã, foi porque estavam em Canaã. Nossos inimigos estão lá, e lá é onde devemos encontrá-los.


Há coisas em que temos que ser fiéis na Terra, mas também há coisas que nos pertencem porque estamos assentados em lugares celestiais em Cristo. Um homem pode ser coerente em ser fiel na Terra, sem exibir, contudo, o homem celestial. Pode-se ver alguns crentes razoavelmente coerentes na Terra, cuja alma não está procurando perceber o que lhes pertence em Cristo. O esforço de Satanás é sempre para dificultar que façamos isso. Não podemos levar a carne para a batalha celestial. Se minha carne não está mortificada, não posso empunhar as armas dessa guerra. A carne sempre traz o poder de Satanás; ele tem poder sobre ela, e onde a carne é permitida, Deus nunca pode agir com ela ou nos mostrar o poder d'Ele contra nossos inimigos. Satanás não nos afetaria se estivéssemos caminhando como nascidos de Deus e como tendo toda a armadura de Deus, tendo a carne habitualmente mortificada. Devemos ser capazes de caminhar na simplicidade do nosso próprio serviço, e ele não poderia entrar com suas ciladas, como no caso de Acã (Js 7) e dos gibeonitas (Js 9).


No momento em que chegamos ao solo celestial, vemos a espada do Senhor desembainhada, pois Ele é o Capitão do Seu exército. E assim é conosco, há a espada desembainhada. No momento em que entramos nos lugares celestiais, os cananeus estão contra nós. A Igreja de Deus deve estar buscando perceber pela fé, enquanto está aqui embaixo, tudo o que pertence a ela por estar assentada nos lugares celestiais em Cristo. Assim que Josué cruzou o Jordão, não só estava em Canaã, mas em Canaã e em luta.


Christian Friend, adaptado


 

A Preparação do Evangelho da Paz


O que “a preparação do evangelho da paz” (Ef 6:15) significa? Não quer dizer que devemos preparar o caminho do evangelho em um sentido evangelístico (embora fazer isso é sem dúvida muito desejável), mas que nós mesmos devemos estar sob a preparação a qual o evangelho da paz produz. Se nossos pés forem calçados dessa maneira, levaremos a paz do evangelho a todas as nossas relações com os homens deste mundo, e seremos protegidos ao assim fazê-lo.


F. B. Hole


 

Conflito Celestial


Leia Josué 5:13-15; Josué 6:1‑16

Nessas passagens em Josué temos uma figura da guerra celestial, e é importante que entendamos, porque o filho de Deus nunca está fora da guerra. Se você traçar o caminho dos filhos de Israel verá que foi assim. Há Faraó no Egito; Amaleque no deserto; Balaão quando você deixa o deserto; e na terra há a maior força do inimigo, as sete nações aparelhadas contra a posição celestial (a terra prometida).


Conflito no deserto

No mundo, Satanás é contra até mesmo um pobre pecador, pois o apóstolo diz: “Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deusdeste século cegou os entendimentos dos incrédulos” (2 Co 4:3-4). Depois que Faraó é vencido, você entra no deserto e encontra Mara [águas amargas]; você bebe a morte, mas é sustentado por Cristo naquele lugar. E então Amaleque sai para lutar – para intimidar – para contestar o fato de que você está tomando esta posição. Aqui você encontrará duas coisas: uma, a intercessão de Cristo para apoiá-lo; e a outra, você expõe a luta. Josué escolheu os homens e saiu para lutar contra Amaleque, e entretanto a intercessão foi a verdadeira ajuda.


Deixe-me dar uma ilustração. O Senhor disse a Pedro – “Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22:31). Houve intercessão, não para a sua salvação – ele era salvo: foi para que a fé de Pedro não falhasse. Mas Pedro estava pronto para a luta? Pelo contrário, ele confiou em si mesmo ao ir para a casa do sumo sacerdote, e lá estava satisfeito ao encontrar um fogo. Mas o diabo também estava lá. Eles não viram o diabo, mas ele estava lá para evitar que Pedro fosse um homem dependente. Essa era a batalha celestial. Satanás busca por todas essas armadilhas para nos manter longe do lugar de dependência, que é necessário quando estamos no deserto.


Conflito fora da terra

Agora vá para Números 21; lá está o povo fora do deserto. Você encontra um grande número de crentes agora, realmente firmados na graça, sabendo o que Deus fez por eles e neles, tendo a vida em Cristo, e o Espírito Santo habitando neles, como em João 3 e 4. A serpente de bronze estava na borda do deserto; os crentes estão fora, quanto ao seu estado, e pensando, talvez, que tudo será um simples velejar agora. Seom, rei dos amorreus, vem contra eles, eles lutam com Seom, e o Senhor os livra. Isso também foi uma batalha, mas não foi uma batalha celestial. O povo está agora fora do deserto e indo para Canaã, e eles têm esta batalha desesperada no caminho. Eles são como um homem no livro de Hebreus; ele está indo para o céu, mas ainda não está lá. Um santo logo descobre se está indo para o céu; mas há algo como estar no céu e estar indo paralá no mesmo momento. “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado” (Hb 12:4). Isso fala de morte – de martírio, e sem dúvida muitos homens devotos de Deus têm tido suas batalhas neste lado do Jordão. Eles sofrem muito, porém, buscam uma posição religiosa aqui onde estão, assim como as duas tribos e meia, que escolheram um lugar para se estabelecer antes de cruzarem o Jordão.


Adquirindo possessões

O que descobrimos praticamente nisso é que não devemos adquirir possessões nessas batalhas; embora haja conquistas no lugar, não devemos ocupar o lugar. Por outro lado, quando chegamos às batalhas celestiais, tudo o que ganhamos é possessão – nosso direito. Por exemplo, Lutero foi apoiado pelo Eleitor [Príncipe] da Saxônia, e como resultado ele tinha uma posição aqui. Isso, porém, estava completamente errado. Se você estabelece um sistema religioso no mundo você está completamente errado. Você não deve adquirir possessões onde a batalha é ganha, a menos que seja do outro lado, além do Jordão.


Batalha com Balaão e com o mundo

Em consequência destas grandes batalhas, surge outro terrível inimigo. Esse terrível inimigo é Balaão, e muitos homens fortes caíram por meio dele. O que Balaão representa? Balaão age sobre a suscetibilidade da natureza que você tem. Você é convidado para uma festa social, e aceita o convite porque lhe convém naturalmente, e você é levado para longe. A maioria dos casamentos inadequados resulta de Balaão. Se a atitude natural de sua mente o leva a um círculo ou classe de sociedade onde esses gostos são satisfeitos, essa é a armadilha de Balaão. Eu tenho pavor da palavra “social”, pois uma série de prejuízo moral está sob essa palavra. Primeiro, as pessoas são convidadas a sair, e isso as leva a associações mundanas com suas loucuras que as acompanham. Olhe para as crianças, de onde elas tiram as noções que muitas delas têm? Na escola, de seus companheiros. É surpreendente as coisas que as pessoas aprendem em companhia de outras. Se você estivesse do outro lado do Jordão – portanto um homem morto – não seria convidado a sair, pois um homem morto não teria interesse nas coisas daqui. Se tivermos tomado a posição de estamos mortos, obtemos maior felicidade do lado de lá do Jordão do que possivelmente poderíamos deste lado. Esse é o ponto. Não é pressupor nada, mas as coisas aqui não têm interesse para nós.


Coisas melhores substituindo coisas ruins

Muitos de vocês, se convidados a participar de algum tipo de diversão, não achariam nada divertido, e por quê? Porque têm prazeres mais elevados. Como a rainha de Sabá, são as melhores coisas que me permitem desistir de coisas aqui. Não adianta censurá-los. Eu mesmo fiz isso, mas descobri que era inútil. Você pode aliviar sua consciência, mas não libertará ninguém deles dessa maneira. Deixe-os se apegarem a coisas melhores, e as outras cairão como folhas mortas. É da mesma forma com uma criança pequena. Se você quiser tirar uma coisa perigosa da mão dela, ofereça-lhe algo brilhante. Essa é a coisa superior, o poder eclipsante. Eu disse a mim mesmo antes: “Isso é uma coisa que eu nunca posso desistir”, mas a deixei quando consegui a coisa melhor, e eu não me ressenti por isso porque eu tinha gozos celestiais. Assim como no caso de certos arbustos e árvores, a folha velha não cai até que a nova seja formada. É o poder expulsivo de uma nova Pessoa. Não é uma coisa agora, mas uma Pessoa. Uma pessoa contém muito mais do que qualquer número de coisas pode conter. Há uma grande variedade sobre uma pessoa, e há uma infinidade de variedade na Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Se O conhecêssemos melhor e O estudássemos mais, estaríamos constantemente fazendo novas descobertas de Seu valor todos os dias.


Conflito Cristão adequado na Terra

Subimos, então, para a terra, e aqui está o conflito Cristão apropriado, que é realmente trazer o Cristo celestial à Terra. Você diz, eu não estou à altura dessa batalha? Eu nunca estive nela, e, ela está muito além de mim? Bem, eu digo, você está pronto para isso, ou você gostaria apenas de olhar para isso? Muitas pessoas gostam de ver resenhas, pois apresentam a ideia de uma batalha, e temo que essa seja geralmente a maneira pela qual a batalha em Efésios é lida. É apenas uma revisão para muitos, não o conflito real.


Bem, para que serve o conflito? É para ser um homem celestial, pois temos uma pátria celestial. Israel lutou pela “terra”. Os cruzados são para mim um povo muito interessante, porque arriscaram suas vidas para tirar a terra santa das mãos dos pagãos e dos sarracenos. Eles morreram por isso, e suas guerras foram chamadas de “guerras santas”. A ideia era boa, mas foi realizada de forma errada. A ideia era conseguir espaço para Cristo nesta Terra. Qual seria o certo então? O certo é conseguir espaço moral para Cristo. Eles lutaram para obter a Palestina para Cristo. Nosso conflito é permanecer aqui como homens celestiais por um Cristo celestial.


Não é Cristo em humilhação que devemos apresentar, mas o Cristo celestial. O que Paulo diz? “ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo, agora, já O não conhecemos desse modo” (2 Co 5:16). É o Homem em glória que devemos apresentar. É do grão da terra do ano antecedente que devemos nos alimentar e, então, saímos para a batalha. Tome o antítipo – devemos estar fortalecidos “no Senhor e na força do Seu poder” (Ef 6:10). Esse é o grão da terra. Devemos apresentar um homem celestial em cada círculo e relacionamento aqui. Nem nas epístolas de Pedro nem em Romanos temos algo sobre a família. Por que é assim? Porque lá você não está alto o suficiente. Ali vemos um pecador liberto na terra. Em Efésios vemos um homem celestial, então ele pode descer ao ponto mais baixo. É a altura em que está que lhe permite descer, com o poder que pertence a essa posição elevada. Ele passou para os céus, e não apenas para os céus, mas Ele é mais alto que os céus. Portanto, tudo deve ser feito de acordo com essa posição. Esse é o caráter maravilhoso da prática de Éfeso.


Poder celestial para uma luta celestial

Nada pode ser mais claro de que o conflito deve trazer à tona um homem celestial, nos vários círculos em que você se encontra na Terra. Conto sete círculos em Efésios, mas não importa quantos sejam, se você ler Efésios 4 e 5, descobrirá que não há uma única coisa ali que possa ser realizada exceto no poder celestial.


Paulo diz: “Para conhecê-Lo”, isto é, como Ele é agora. E eu pergunto, você não gostaria de conhecê-Lo como Ele é agora? Você acha que iria contentar se caso uma esposa ou um filho dedicado pudesse dizer: “Conheci meu marido ou meu pai há dez anos, mas não sei como é agora”? Ora, nunca ouvimos falar de tal coisa. No entanto, essa é realmente a maneira como alguns crentes pensam sobre Cristo. Eles O conhecem como o Salvador que morreu aqui, mas não O conhecem como Ele é agora – o Homem glorificado.


Mas talvez você pergunte: Quem está à altura desse conflito? Eu sei o quão pouco estou apto a isso, mas não podemos fugir do que Deus nos chamou. Não podemos fugir de Filipenses 3:10 – “para conhecê-Lo, e a virtude da Sua ressurreição, e a comunicação de Suas aflições” (v. 10). Outra vez, “tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (v. 8). Isso não era salvação; Paulo tinha isso. Verdade, Ele é nosso Salvador, mas a graça de Deus é tão grande que o levaria adiante, a conhecê-Lo como a Cabeça de Seu corpo, a Igreja, e quando você O conhecer como sua Cabeça, oh, que felicidade!


E agora o que você é chamado a fazer é exibir a Ele na Terra e, portanto, há conflito. Satanás incitou o homem ao clímax da maldade – para colocar Aquele bendito Ser sobre a cruz. O primeiro pecado do homem foi dar as costas a Deus; para o segundo, não há desculpa; ele tirou o Filho de Deus da Terra. Acho que as pessoas não são sensíveis o suficiente para perceber isso. Eles não andam com o senso disso sobre eles. Eles admitem o primeiro, mas não o segundo. E agora o que Deus diz, em Sua maravilhosa graça: Eu te escolhi antes da fundação do mundo para que você fosse santo e irrepreensível diante de Mim em amor. Vocês são membros do corpo de Cristo, e quero que O demostrem aqui na Terra. Para que serve todo o ensino? Qual é o ponto visado no ministério? “Até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4:13). Isso não é algo futuro; aplica-se a nós aqui e agora. Falando dos dons, Paulo diz, você deve trabalhar para alcançar isso. Talvez você responda que nunca levaremos as pessoas a fazer isso. Bem, não vamos parar de trabalhar nisso. Esse é o fim de todo ensino; e se é o fim do ensino, é também o resultado da guerra.


Defendendo um Cristo celestial onde Ele foi rejeitado

Em Efésios 6:18-19 encontramos: “Orando em todo tempo... e por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho”. Isto é, não apenas o evangelho, mas o mistério do evangelho. O que Paulo realmente queria era divulgar esta verdade: Cristo – o Cristo celestial; esse é o conflito. Quando Satanás trouxe o homem ao clímax da maldade, para recusar o Filho de Deus nesta Terra, e Deus O exaltou à Sua própria mão direita, Deus demonstrou, que o corpo de Cristo estava aqui. Nós somos membros dele, agora pertencendo ao lugar onde Ele está, e devemos ser a expressão d’Ele aqui embaixo no mesmo lugar onde Ele foi recusado. Você percebe que toda a força do inimigo deve ser direcionada contra isso? Bem, esse é o conflito.


Deus sustenta os Seus que sustentam o Seu Cristo

Deus tem Seu objetivo, e Ele apoiará os Seus mantendo esse objetivo. E é um grande conforto para nós saber que é O objetivo de Deus nos manter para Cristo aqui. Se sabemos disso, não precisamos temer nenhuma oposição. Pois não importa quem se oponha, posso ter o objetivo de Deus diante de mim, não minha própria vontade. Mas haverá uma oposição amarga. Sim, o objetivo de Deus sempre foi resistido por Satanás. Você descobrirá que qualquer que seja o objetivo de Deus no momento, ele é o que mais se opõe; nada é mais marcante. Quando Deus enviou Seu Filho ao mundo; quem mais se opôs a Ele? Ora, os fariseus. Aqueles homens piedosos que defendiam a observância da lei em seu sentido mais estrito; aqueles diante dos quais outros homens se curvaram por causa de sua piedade; estes foram os homens que se opuseram a Cristo. Os fariseus se opuseram a Ele quando esteve aqui, e os saduceus quando Ele deixou o mundo.


Quem teria pensado que aqueles que eram os defensores da lei, os mais estritos e os mais rígidos quanto à religião – os judeus – seriam aqueles que se oporiam ao Senhor? Tanto que quando o Senhor cura um homem no dia de sábado, eles declaram que Ele não está em condições de ficar aqui. Você pode entender o caráter enraizado e implacável da oposição contra o que o coração de Deus está estabelecendo? Paulo foi deixado sozinho; todos os homens o abandonaram; mas o Senhor ficou ao lado dele. E Paulo não estava nem um pouco perplexo. Leia o que ele diz a Timóteo em sua segunda epístola a ele. Ele escreveu essa epístola depois de ser assim abandonado, e você verá que ele não está nem um pouco desanimado. Pelo contrário, ele diz a Timóteo que confiasse as coisas que ouviu a homens fiéis, que também fossem capazes de ensinar a outros.


Bem, este é o conflito, e se você entrar nele, você pode ter batalhas duras para lutar enquanto se levanta pelo Senhor, ou segue em frente como um homem celestial, pois Satanás é um inimigo implacável. Se lermos Pedro ou Hebreus, veremos que ali aos santos está escrito para enfrentar o diabo, mas não como aqui; ali estava “bramando como leão”. O caráter temerário da oposição de Satanás nos lugares celestiais é que ela é invisível.


O grande poder de Deus para a batalha

“Quando vier o Consolador... testificará de Mim” (Jo 15:26). Esse é o objeto do nosso conflito. Esta passagem se refere a Cristo em glória, não estando na Terra. Quando Ele subisse ao céu, o Espírito Santo testificaria d’Ele na Terra. O que estou pensando agora não é o conflito, mas o apoio que temos quando estamos nele. O Espírito Santo desceu aqui para estar conosco, a fim de manter os de Cristo aqui. Como isso é maravilhoso! Mas a Igreja falhou como testemunho. Por quê? A Igreja muito cedo se atraiu pelo mundo, e o Espírito Santo não a ajudaria em coalizão com o mundo. Ele é contra este mundo, pois ele rejeitou a Cristo. O Espírito Santo está aqui para manter os interesses de Cristo. Graças a Deus, foi recuperada a verdade de que o Espírito Santo está aqui com este propósito. Amados amigos, no serviço de Cristo devemos ser independentes do mundo. Se o mundo me ajuda a pregar o evangelho, não devo aceitá-lo. Não podemos tê-lo, pois temos um poder maior, que é contra o mundo.


Começamos com este grande poder que não operará em conjunto com o mundo. Você pode tanto esperar que o fogo coopere com a água, quanto esperar que o Espírito Santo coopere com o mundo. O Espírito Santo está aqui marcando o mundo com o pecado; como então Ele poderia cooperar com isso? Ele convence o mundo do pecado como um criminoso no banco dos réus. O criminoso pode não reconhecer, mesmo assim é condenado. Não precisamos ler o jornal para saber quão perverso é o mundo. A presença do Espírito Santo aqui nos diz quão perverso é o mundo. Sua presença aqui declara o pecado do mundo. Porque Cristo foi rejeitado, o Espírito Santo está aqui vindicando em favor de Cristo. Vemos o mundo inteiro como um deserto moral. Sinto que perdemos um pouco o sentido disso, e que a verdadeira causa de todo o colapso é que a Igreja perdeu a dependência do Espírito Santo, aquele maravilhoso poder com o qual ela começou.


Em João 15, o Senhor nos diz como o mundo O aborreceu e que nos aborreceria. Podemos perguntar: Por que o mundo deveria nos odiar? É uma coisa amarga quando estamos tentando fazer o bem a eles, trazer a eles o mais alto tipo de benevolência – as riquezas de Cristo – que eles nos odeiem. Qual é a razão? É porque Satanás não O quer. Você não pode explicar a inimizade a menos que entenda que o ódio do diabo a Cristo está na base dela.


Bem, que coisa maravilhosa é para Josué poder dizer, não vou guerrear com minhas próprias forças! Como um grande general sai com seus supridores, suas munições e suas reservas, assim sai Josué. Ele não vai guerrear por conta própria.


Então podemos dizer que temos o poder: “Fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder” (Ef 6:10). Nossa atitude é, não vamos desistir. Devemos ser aquilo que na guerra é chamado de “a esperança perdida”. Isso nos dá a ideia, embora seja um nome infeliz. A “a esperança perdida” é um número de homens que se aventuram a abrir uma brecha na fortaleza, mesmo que isso lhes custe a vida. Eles colocam suas vidas em jogo para ter sucesso, e por isso são chamados de “a esperança perdida”. Não há esperança para eles, a menos que sejam bem-sucedidos, mas geralmente são bem-sucedidos. No nosso caso não gosto do título, mas esse é realmente o nosso lugar; arriscamo-nos por assim dizer a abrir a brecha, mas é com plena confiança, porque temos um poder que não é nosso. Conhecemos a oposição que vamos encontrar, mas mesmo assim avançamos bem-dispostos e somos bem-sucedidos.


Josué contra Jericó

Agora me volto para o que está contra nós; Josué contra a cidade de Jericó (Josué 6) ilustra isso em tipo[1]. É muito importante que conheçamos a doutrina de Paulo, pois se não a conhecermos, não poderemos entender o tipo. O valor do tipo é que em sua prática você nunca deve estar abaixo dele. Você pode dizer que não está à altura do antítipo, mas o antítipo sozinho pode explicar o tipo, porque é espiritual. O antítipo de Jericó são os espíritos malignos nos lugares celestiais (Efésios 6). O tipo é uma cidade, e a ideia de cidade é uma concentração de tudo que se encontra neste mundo. Podemos falar de Paris como representante da França, porque a cidade é a concentração do país. Assim é aqui; Jericó é o tipo dessa oposição – essa resistência organizada. O que Israel viu diante deles foi uma cidade murada; nenhuma probabilidade de obter possessão dela. O conflito conosco é representar Cristo aqui, e a força contra nós é tipificada por esta cidade. Você não faz idéia do caráter da demasiada oposição que existe contra você.


Nunca subestime o inimigo e suas artimanhas

Um bom general nunca subestima seu inimigo, e uma grande causa de fracasso conosco é que não estimamos adequadamente a oposição do mundo. Creio que é uma grande coisa quando a alma tem o senso do enraizado caráter de oposição a Cristo que há no mundo. É uma ajuda maravilhosa, porque o mantém em guarda. Você lê sobre batalhas e, geralmente, em caso de fracasso, descobrirá que o general subestimou seu inimigo. Não subestimemos a oposição do mundo. Você sempre descobre que o homem que tem mais de Cristo é aquele que tem a mais aguda apreensão de Satanás. Não me refiro ao medo comum, mas que ele prevê o perigo. “Não ignoramos”, diz o apóstolo, “dos seus ardis”, (2 Co 2:11 – JND). É contra suas artimanhas que temos que lutar, e esse é o caráter perigoso disso. Se vejo um homem vindo para me derrubar, vejo claramente o que ele está prestes a fazer. Mas agora são as artimanhas de Satanás – como uma mina na terra; uma pessoa andando toca uma mola escondida, e a bomba explode. Tal é o caráter desesperador da guerra que temos que enfrentar. Ele é um inimigo invisível; ele não mostra o rosto. Ele é um inimigo desesperado, que sabe tudo sobre mim e sabe como me tocar no ponto em que sou mais fraco. É no meu ponto fraco que ele trabalha, mas ele faz isso com suas artimanhas. Esse é o tipo de inimigo com o qual temos que lidar, e seu grande objetivo é impedir que sejamos uma representação de Cristo.


Verdade do evangelho e verdade da Igreja

Você pode pregar a justificação pela fé; que será tolerado em grande medida. Mas se você ensinar sobre o corpo de Cristo, com certeza enfrentará oposição. Você estará em guerra. Se um Cristão quer ter um caminho fácil, que ele não se envolva com a Igreja. Se você deseja ter um caminho suave e fácil, não se envolva com a Igreja. Você pode pregar o evangelho e ter tempos fáceis comparativamente, mas se a Igreja for seu interesse, você terá muitas tristezas.


Agora, tendo comentado sobre essas duas coisas – o poder por nós e o poder contra nós – eu confio que você vai fazer isso como o Israel daquele dia.


A armadura e a oração

Passaremos agora às características do guerreiro. Existem duas, e você as vê tanto no tipo quanto no antítipo. Em Josué, a primeira eram os homens armados, e a segunda, os que tocavam cornetas. Assim, em Efésios 6 encontramos armadura e oração: armadura para Satanás e oração para Deus. Armadura contra Satanás sempre será bem-sucedida. A oração é que estou sempre dependendo de Deus, nunca independente dEle. Independência é quando um homem faz algo para Deus por sua própria vontade. Uzá era independente quando colocou a mão na arca. Quem mandou ele fazer isso? Você diz que ele fez isso por Deus. Mas era contrário à Palavra de Deus. Ele era independente. A independência é um pecado pior do que o que é chamado de carnalidade. O último é uma desgraça para você, mas no primeiro caso de independência, você tentou fazer algo para Deus, deu um bom nome para isso talvez, e fez exatamente o que Deus não queria que você fizesse.


Agora vou apenas tocar na armadura. Eu não quero passar por toda ela, embora seja muito interessante, e Satanás quer estragá-la se puder. Primeiro, esteja cingido com a verdade; depois a couraça da justiça; ser honesto e correto. Mas isso não é tudo. Você pode ter isso, e agora, Satanás pode dizer, eu vou te incitar e fazer você perder a paciência. Agora você estragou tudo, perdeu a calma. Seus pés deveriam ter sido calçados com a preparação do evangelho da paz. Muitas vezes testemunhamos isso.


Soldados mais certos e mais intemperantes

É triste até certo ponto que o homem, que pode estar mais correto, seja muitas vezes o mais intemperante, por estar tão indignado com o errado. Mas “a ira do homem não opera a justiça de Deus” (Tg 1:20). Você pode estar indignado, mas não por sua conta. Você se irrita com o mal, e então perde a calma porque há um ponto não armado; seus pés não estão calçados “na preparação do evangelho da paz”. Depois, há o escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito. Existem várias partes diferentes na armadura, e nenhuma é agressiva, mas todas protetoras, exceto a última. A última é “a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”.


Nossa família sofre se nossa armadura não está colocada

Encontramos uma coisa interessante em Pedro: uma mulher pode conquistar seu marido sem palavra; isto é, pelo efeito da Palavra sobre si mesma. Mesmo isso não seria agressivo; seria o que ela é por meio da Palavra. Gostaria de insistir sobre a importância de usar a armadura. Não há nada talvez em que falhemos tanto, mesmo em nossa família, como estar sem a armadura. Não há lugar onde somos descobertos tão rapidamente quanto em nossa própria família, porque ela conhece bem nossos pontos fracos. A grande coisa é estar armado. Se eu estiver invulnerável, sou invencível.


Minha armadura e minha consciência

Tome uma ilustração. Se eu fosse um filho Cristão ou esposa Cristã em uma família mundana, estaria em completa sujeição ao meu pai ou meu marido. Ou seja, eu abriria mão da minha liberdade em qualquer medida, mas não da minha consciência em nenhuma medida. Se ele me dissesse: Você não deve sair desta casa em nenhum domingo, eu poderia dizer: Muito bem, você será obedecido totalmente. Mas se ele me disser: Você deve ir a tal e tal lugar no dia do Senhor – algo que comprometeria minha fidelidade a Cristo, eu respondo: Não, isso envolve minha consciência, e isso é para Deus; você não tem autoridade sobre isso. Você pode ter o direito sobre mim em qualquer medida, mas nunca sobre minha consciência. Eu não podia ir lá. Você pode abrir mão de sua liberdade em qualquer medida, mas não de sua consciência, em nenhuma medida.


O Senhor nunca foi a lugar algum para agradar a Si mesmo, mas para prestar um serviço aos outros. Estou falando agora da caminhada celestial; que está além da caminhada no deserto. A diferença entre a caminhada celestial aqui e a caminhada no deserto é que, na celestial, você sempre é superior às suas circunstâncias.


A segunda característica é o hábito de dependência de Deus, e aí, como em Efésios 6:18-19, o clímax é alcançado. “orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos e por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a Palavra com confiança”.


Perseverança e paciência na guerra

Uma grande coisa para distinguir você é a paciência. Todos sabemos como precisamos disso quando enfrentamos oposição. Quando há grande oposição, então é o momento em que precisamos especialmente de paciência, e aqui, muitas vezes, falhamos. A paciência é uma coisa maravilhosa. Nós vemos isso aqui. Durante sete dias Josué e Israel rodearam a cidade de Jericó, e deve ter sido uma coisa muito cansativa para eles; nenhum grito se ouve até o sétimo dia. Que maravilhoso senso eles devem ter tido da Palavra de Deus e da dependência d’Ele! Como uma criança em uma família mundana, eles dependiam de Deus. Eles circundam a cidade sete dias, e no último dia sete vezes. Paciência, maravilhosa paciência. Nada mantém mais nossa confiança em Deus como a paciência. Raramente vemos isso em nossos dias. Acredito que não confiamos em Deus o suficiente. Eu acredito que o incidente dado em 1 Samuel 7:9-12, no final daquele período, é um encorajamento para nós. Deus apareceu, com trovões, quase no final. Josué estava no princípio. Deus trouxe Samuel quase no final. E nós temos o mesmo Deus. Está dito, Deus trovejou, e houve uma grande derrota.


Em Atos 16, temos um exemplo mostrando todos os princípios apresentados, e recomendo a sua atenção. Foi a primeira vez que Paulo veio à Europa, e creio que o Espírito de Deus apresenta aqui o que era especialmente necessário na Europa. Na Europa, a Igreja primeiramente aceitou o apoio do mundo. Mas o livro de Atos é um livro das ações do Espírito Santo, pelo qual temos que percorrer todos os dias. Em Josué vemos a rota que percorremos e os princípios trazidos à tona.


Paulo é chamado em visão para descer à Macedônia para ajudá-los, e ele vai, mas não encontra homem algum. Era preciso paciência. Ele esperava um homem, pois um homem lhe apareceu, não um anjo. Então ele vai para um lugar onde as mulheres costumavam orar, e aqui ele tem que esperar, e por fim uma mulher, que não era do lugar, mas de Tiatira, com o coração aberto, atendeu às coisas que Paulo disse, e sendo batizada com sua família, ela disse a Paulo: “Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa e ficai ali”. Ainda não há nada sobre um macedônio; mas Paulo entra na casa dela e fica lá. Satanás, vendo-o neste aparente dilema, envia-lhe um de seus instrumentos, uma mulher que possui um espírito de adivinhação, e ela diz: Eu te darei apoio. Assim, ela os seguiu por muitos dias e clamou dizendo: “Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo” (At 16:17).


Veja a paciência de Paulo; por muitos dias ele suporta isso, mas por fim ele não aguenta mais e ordena que o espírito saia dela. Ele se recusou a ser apoiado por Satanás, e qual foi a consequência? Não havia um poder naquele lugar que não estivesse sobre ele, e a coisa mais impressionante e mais terrível sobre isso é que o próprio Satanás, que algumas horas atrás o proclamava servo do Deus Altíssimo, é aquele que agora desperta o povo para destruí-lo. A cidade inteira está incitada contra ele – população, magistrados, polícia, para colocar Paulo na prisão, e Satanás parece ganhar o dia. Talvez Satanás estivesse exultante, mas foi feito da maneira mais ilegal, para não usar um termo mais forte. Foi a coisa mais injusta já feita a um homem que não fez nada de errado colocá-lo na prisão, e depois prender seus pés no tronco. Mas ele não perdeu sua coragem ou energia. Pelo contrário, à meia-noite ele e Silas estão orando e dando graças a Deus, tão contentes como se estivessem em casa. O que você pensaria se tivesse passado por aquela prisão? Muitas vezes penso que se tivéssemos paciência para andar em simples confiança em Deus, como Ele interferiria por nós e nos livraria! Que coisa maravilhosa ter essa confiança! O pequeno Paulo sabia, trancado na prisão na silenciosa hora da meia-noite, quando tudo estava quieto, como Deus iria interferir por ele. Que um grande terremoto viria e sacudiria todas as suas ligaduras e abriria todas as portas. O carcereiro que se retirou para descansar em sua indiferença finalmente é despertado. Pulando para dentro, ele pede uma luz e, caindo aos pés deles, diz: “que é necessário que eu faça para me salvar?” Suponho que ele era o homem para quem Paulo foi enviado. Ele é o primeiro homem da Macedônia de que lemos. Que mudança! Como a população deve ter se sentido na manhã seguinte quando soube que Paulo e Silas eram os hóspedes do carcereiro!


A mesa de Deus para nós na presença de nossos inimigos

Acredito que mesmo agora, se realmente nos levantarmos pelo Senhor, Ele traria algo notável no ponto exato em que nos levantamos por Ele. Deus prepara uma mesa para nós no deserto na presença de nossos inimigos. Você não acha que Ele nos dá muito mais neste mundo presente? Eu acredito nisso da forma mais absoluta. Por que não distinguimos isso? Porque não acreditamos nisso. Não caminhamos com paciência simples e abençoada, esperando, com confiança em Deus. Ele preparará uma mesa para nós na presença de nossos inimigos, e que mesa maravilhosa estava aqui! Ora, as mesas estão completamente viradas. Por quê? Porque eles creram em Deus; eles sabiam que Ele apoiaria Seu próprio Objeto, e que Ele Se levantaria por eles todo o tempo que eles permanecessem em simples confiança n’Ele.


Que o coração de cada um de nós seja movido a uma maior fidelidade a Ele. Alguns aqui são jovens; você ainda não entrou no campo de batalha. Bem, é tudo para que o coração de uma pessoa seja conduzido em simples afeição pelo Senhor. Se assim for, ele logo será encontrado no conflito por Ele, testificando de um Cristo celestial, no próprio local onde Ele foi rejeitado.


TBS (adaptado), Food for the Flock, Vol. 9


 

“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”

(Ef 6:13 – ARA)

 

[1] N. do T.: Tipo e antítipo: Aquilo que é prefigurado no tipo, é visto de forma plena no antítipo.

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