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ÍNDICE
Autoestima
Bill. Prost
Parte 3
Ocupação com Cristo
O verdadeiro Cristianismo faz de Cristo tudo, e nada de si mesmo, e aqui reside a raiz de todos os problemas na vida Cristã. Por que há (e digo isso com vergonha) tantas divisões entre os Cristãos hoje? Por que a Igreja não se manteve unida como era no princípio? É porque o homem quis ter um lugar, em vez de permitir que Cristo fosse tudo. Todo falso ensino, sem nenhuma exceção, dá alguma glória ao homem e tira a glória de Cristo.
Se você e eu estivermos ocupados com Cristo, e nossos pensamentos forem tirados de nós mesmos, isso terá um efeito maravilhoso em nós. Pessoas olharão para nós e dirão (não que esse seja nosso desejo, mas acontecerá), “Eles parecem estar em paz consigo mesmos. Eles não têm problemas com autoestima”. Teremos uma dignidade moral sobre nós que outros podem chamar de autoestima, mas não é autoestima, é “estima por Cristo”. Por quê? Porque o crente que está ocupado com Cristo não tem pensamentos elevados nem baixos sobre si, mas foi tirado de si mesmo. A essência do verdadeiro Cristianismo não é ter pensamentos elevados ou baixos sobre si mesmo, mas é não estar pensando sobre si mesmo de maneira alguma. O que devemos fazer quando pensamentos sobre o “eu” começam a ocupar nossa mente? Sugiro que os tiremos imediatamente de nossa mente. Podemos verdadeiramente dizer que esses pensamentos vêm do “eu”, e que o “eu” não é mais o “eu” correto para reinar em nossa vida. Eu não devo nada ao “eu” – ele não tem mais nenhum direito. Eu reconheço que isso é um ataque de Satanás, tentando usar o “eu” para me fazer pecar. Simplesmente me afasto dele, pois agora estou “em Cristo”, e Ele deve reinar em mim.
Quando estava na autoescola, uma das coisas que eles enfatizavam era para ter foco na direção. Diziam para não olhar para a frente do carro, ou para a estrada imediatamente à nossa frente, mas manter os olhos a centenas de metros à frente na estrada. Então o carro seguiria em linha reta, faria as curvas mais suavemente e proporcionaria uma direção mais uniforme. O mesmo princípio se aplica a vida Cristã. O crente que tem o olhar em si mesmo terá um caminho de “altos e baixos” e não conseguirá trilhar um caminho plano. Aquele que está ocupado com Cristo e não está preocupado consigo mesmo irá trilhar um caminho estável (firme), porque sua vista está fora de si mesmo. Trataremos de alguns pontos práticos sobre isso na próxima seção.
Podemos ter certeza, sob a autoridade da Palavra de Deus, de que há mais em Cristo para encorajar nosso coração do que há em nós mesmos para nos desencorajar. Olhamos para nós mesmos e nos sentimos desencorajados e deprimidos? Pensamos sobre como falhamos, os erros que cometemos, as qualidades que não temos, e daí por diante? Satanás irá nos ocupar com nós mesmos dessa maneira, e a sabedoria do mundo nos dirá que temos que acreditar em nós mesmos, que temos que pensar positivamente e dizer a nós mesmos que podemos. O ponto a ser percebido é que Satanás quer nos ocupar conosco mesmo e não se importa se é de forma positiva ou negativa. Tudo equivale à mesma coisa e rouba o nosso gozo em Cristo. Apenas o Espírito Santo pode preencher nosso coração com as coisas de Cristo e nos tirar de nós mesmos.
Novamente, surge a pergunta: “Não devemos reconhecer as habilidades que Deus nos deu, e usá-las?” Sim, de fato, e encontramos isso revelado em Romanos; “Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida de fé que Deus repartiu a cada um” (Rm 12:3). Esse versículo implica que está correto pensar elevado de nós mesmos, mas não tão elevado? Não, esse não é o significado dessa passagem. Em vez disso, o pensamento é que devo reconhecer as habilidades que Deus me deu, e o trabalho que Ele me deu para fazer, e devo fazê-lo. Devemos lembrar que esse versículo está em Romanos capítulo 12, e temos que passar pelos capítulos 6, 7 e 8 para chegar lá. Quando entendemos a verdadeira posição Cristã como mortos, sepultados e ressuscitados com Cristo, então os nossos talentos são trazidos, para serem usados para a glória de Deus. Devemos reconhecer o que Deus nos deu para fazer, e não pensar mais elevado de nós mesmos do que deveríamos pensar – não querer fazer algo para o qual não estamos preparados. Mesmo como Cristãos, o orgulho tende a se mostrar, e podemos querer fazer algo que Deus não nos deu para fazer. Essa exortação protege contra isso. Assim como todo membro do corpo humano tem uma função, assim todo membro do corpo de Cristo tem uma função.
Reconheço que algumas dessas considerações são difíceis de explicar de uma forma totalmente harmoniosa, e declaramos no início deste artigo que algumas dessas coisas devem ser experimentadas em vez de explicadas. Embora não haja nada na Bíblia contrário à sã razão, há muitas coisas que estão além da razão, porque é um livro de Deus e trata de assuntos além do entendimento humano. Por exemplo, a Bíblia ensina tanto a soberania de Deus quanto a responsabilidade do homem. A mente do homem não consegue conciliar essas coisas completamente, mas é apenas a tolice da mente estreita do homem que nega uma delas a fim de enfatizar a outra. Da mesma forma, é difícil para o homem natural conciliar o reconhecimento de suas habilidades naturais com sua completa depravação como resultado do pecado.
Para a mente espiritual, essas aparentes contradições não apresentam dificuldade, pois “o que é espiritual discerne bem tudo” (1 Co 2:15). Isso se torna apenas outra maravilhosa dimensão da Palavra que Deus nos deu. Nas coisas naturais, precisamos aprender as definições das coisas antes de aprender as coisas propriamente ditas, enquanto, nas coisas espirituais, muitas vezes precisamos aprender as coisas propriamente ditas em comunhão com o Senhor antes de sermos capazes de defini-las.
Nosso assunto contém algumas dessas coisas, e uma delas é ilustrada na vida do apóstolo Paulo. O apóstolo Paulo podia falar de si mesmo como o principal dos pecadores (1 Tm 1:15) e podia também dizer que ele era “o menor de todos os santos” (Ef 3:8 – ARA). Essas palavras não eram meramente retórica exagerada, pois Paulo reconhecia claramente quão pecador seu “eu” natural era. Ele nunca esqueceu que havia perseguido a Igreja de Deus antes de ser salvo. Por outro lado, ele não tinha dificuldade em reconhecer o que a graça havia operado em sua alma, para que ele pudesse dizer de si mesmo: “pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15:10). Como um servo de Cristo, ele podia dizer: “Penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos” (2 Co 11:5), e, “trabalhei muito mais do que todos eles” (1 Co 15:10), mas então acrescentando: “todavia, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (1 Co 15:10). O orgulho não estava conectado com isso, embora a tendência estivesse ali presente, pois Deus lhe enviou um “espinho na carne”, para que ele não se “ensoberbecesse com a grandeza das revelações” (2 Co 12:7). Quando as objeções de alguns em Corinto o forçaram a falar do que ele havia sofrido por Cristo, ele podia dizer; “não o digo segundo o Senhor, mas, como por loucura” (2 Co 11:17). Ele não tinha prazer de falar de si mesmo. Devemos estar contentes em ser qualquer coisa ou coisa nenhuma contanto que Cristo seja glorificado, e esse era o propósito de Paulo. Que esse possa ser nosso propósito!
Do meu cativeiro, tristeza e escuridão:
Jesus, eu venho, Jesus, eu venho;
Para a Tua liberdade, alegria e luz:
Jesus, eu venho a Ti.
Da minha enfermidade para a Tua saúde;
Da minha carência para a Tua riqueza;
Do meu pecado para dentro de Ti:
Jesus, eu venho a Ti.
Do meu vergonhoso fracasso e perda:
Jesus, eu venho, Jesus, eu venho;
Para o ganho glorioso de Tua cruz:
Jesus, eu venho a Ti.
Das dores da Terra para o Teu bálsamo;
Das tempestades da vida, em Tua calma;
Da angústia ao jubiloso salmo:
Jesus, eu venho a Ti.
William T. Sleeper
Efeitos Práticos em nossa Vida
Alguns de vocês provavelmente estão se perguntando se é realmente possível fazer tudo isso na prática em nossa vida, ou se tudo isso são apenas boas ideias teóricas. Podemos esperar viver essas coisas, ou elas eram somente para Cristãos elevados como o apóstolo Paulo? Não pense nem por um momento que outros não tiveram as mesmas dificuldades. Se você soubesse a agonia que outros passaram na tentativa de colocar essas coisas em prática, você perceberia que não é fácil para a pessoa (1 Pe 4:1). Alguém disse: “A verdade é simples, nós é que somos complicados”. Se você vê outros Cristãos que parecem ter colocado essas coisas em prática, é somente porque eles lidaram com elas na presença do Senhor. Algumas vezes, isso custou muitas lágrimas. Um velho poema expressa isso bem:
Muitos dos menestréis exultantes
Em meio àqueles átrios de luz
Dirão de sua mais doce música
“Eu a aprendi durante a noite”.
E muitos hinos que ecoam
Que enchem a Casa do Pai
Prantearam seu primeiro ensaio
Nas sombras de um quarto escuro.
Embora essas coisas não sejam fáceis, isso não deveria nos levar a desistir, como talvez sejamos propensos a fazer. Se cremos na Palavra de Deus, que na morte de Cristo nós também morremos para o pecado, então há poder agora para nós, pela fé, nos considerarmos mortos para o pecado. Podemos contar com Deus para ser tão bom quanto Sua Palavra. O que precisamos é um coração disposto, pois a Bíblia foi escrita para aqueles com um coração disposto. Se houver um verdadeiro desejo em nosso coração de ser mais semelhante a Cristo, então Deus o operará em nós.
O conteúdo deste panfleto originalmente foi apresentado em algumas palestas para jovens em Lassen Pines, Califórnia. Nessas situações, muitas vezes experimentamos tanto gozo em Cristo e tanta felicidade em nosso coração que sentimos que nunca mais poderíamos ser desencorajados. Então descemos da experiência do “topo da montanha” apenas para descobrir que aquilo não era o mundo real, e que tanto o mundo ao nosso redor quanto a nossa natureza pecaminosa ainda são os mesmos. Às vezes, os problemas parecem até um pouco piores, pois Satanás nos torna o objeto de seu ataque especial por estarmos desfrutando tanto do Senhor. Há uma resposta para esse dilema?
O Espírito de Deus
Lembremos que Deus nunca nos dá instrução em Sua Palavra que seja impossível de cumprir. Não, Deus colocou o crente na mais abençoada posição, estar “em Cristo”, e agora diz a ele para viver de acordo com a posição em que foi colocado. Deus nos dá toda a instrução de que precisamos para isso em Sua Palavra, e nos dá o poder para fazer isso. Esse poder é o Espírito de Deus.
Apenas o Espírito de Deus pode ministrar Cristo à nossa alma e nos tirar de nós mesmos. Romanos 8 traz isso diante de nós: “Os que são segundo a carne, põem a sua mente nas coisas da carne, mas os que são segundo o Espírito, põem a sua mente nas coisas do Espírito. A mente da carne é morte, mas a mente do Espírito é vida e paz” (Rm 8:5, 6 – TB).
Podemos muito bem perguntar o que significa ter “a mente do Espírito”. Se somos verdadeiramente salvos, temos vida em Cristo. É a vida mais abundante sobre a qual o Senhor Jesus fala no evangelho de João, e é para ser vivida no poder do Espírito de Deus. Isso é muito negligenciado entre os Cristãos hoje, pois, em vez de sermos guiados pelo Espírito, nós tentamos viver a nova vida em nossa própria força.
Recentemente, li um livro escrito por um Cristão sobre o tema 'Conhecer a Vontade de Deus'. A essência de seu argumento era que deveríamos usar nosso próprio julgamento dentro do contexto da Palavra de Deus, e que, desde que o que quiséssemos fazer não fosse contrário a Palavra de Deus, poderíamos nos sentir livres para usar o nosso melhor julgamento em uma tomada de decisão. Isso é totalmente contrário ao que é ensinado no Novo Testamento, pois devemos viver, não segundo a carne, mas segundo o Espírito.
Em João 14:16, o Senhor Jesus se refere ao Espírito Santo como o “Consolador”, e nos diz que Ele O enviará para habitar conosco para sempre. Talvez “Consolador” seja a melhor palavra que temos em Português, mas ela não transmite adequadamente o pensamento contido no original da palavra grega “Paráclito” (TB). Essa palavra é também traduzida como “Advogado” em 1 João 2:1, e significa “aquele que toma conta e cuida de todos os seus assuntos”. Será que percebemos que temos uma Pessoa da Divindade habitando dentro de nós para cuidar de nós de todas as maneiras possíveis? Sim, Ele está aqui para fazer isso, mas será que nós permitimos que Ele nos conduza e guie como deveríamos? Ou confiamos em nosso próprio pensamento, nossa própria força, e O entristecemos permitindo o pecado em nossa vida?
Não temos que pedir ou induzir o Espírito Santo a nos guiar. Em vez disso, devemos ter o cuidado de remover os obstáculos ao Seu trabalho. Quando estamos em um bom estado de alma e não temos nenhum pecado não julgado em nossa consciência, então o Espírito de Deus nos ocupa com Cristo e traz alegria ao nosso coração. Quando pecamos, então o Espírito de Deus nos ocupa com esse pecado até nós confessarmos e experimentarmos o perdão de Deus (1 Jo 1:9).
Vemos, então, que o Espírito de Deus é o poder da nova vida que temos em Cristo, mas que o pecado que é permitido em nossa vida entristece o Espírito (Ef 4:30), e O impede de realizar Seu verdadeiro trabalho. Somos responsáveis em lidar com os obstáculos ao Seu trabalho, e esse é o assunto do nosso próximo capítulo.
Julgamento Próprio
Vimos que devemos nos considerar “mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). Quando vemos nossa verdadeira posição Cristã como estando mortos, sepultados e ressuscitados com Cristo, então não podemos nos satisfazer com nada menos do que isso para nós. Pela fé aceitamos o que a morte de Cristo fez para nós e aceitamos o fato de que estamos mortos e ressuscitados com Ele. Mas quão facilmente voltamos aos nossos antigos caminhos! Devemos ver 2 Coríntios 4 para descobrir como essa tendência pode ser superada.
Em 2 Coríntios 4 lemos: “Trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nosso corpo” (2 Co 4:10). Esse é um passo além de nos considerarmos mortos para o pecado. Podemos assumir essa abençoada posição diante de Deus, e é correto fazê-lo, mas então descobrimos que nossa velha natureza pecaminosa não aceita gentilmente ser colocada em seu lugar de morte. Descobrimos que Satanás não nos deixa em paz apenas porque nos vemos como Deus nos vê, como mortos e ressuscitados com Cristo. Quanto mais desejarmos viver para Cristo, mais a natureza pecaminosa se manifestará. Mais do que isso, cada nova verdade que o Espírito de Deus nos revela encontrará sua rejeição correspondente em alguma parte de nossa natureza pecaminosa.
Quando era mais jovem, costumava observar os mais velhos que pareciam estar andando com o Senhor, e parecia que a natureza pecaminosa se “extinguia” depois de um tempo. Conforme envelheci, percebi o quanto isso era falso. Na verdade, aqueles que pareciam estar andando com o Senhor haviam aprendido, em sua medida, a não depositar nenhuma confiança naquela natureza pecaminosa. Haviam aprendido a verdade desse versículo, que é um exercício de julgamento próprio diário, de hora em hora, de momento a momento, para manter a natureza pecaminosa em seu lugar de morte.
Há um significado muito especial na maneira como esse versículo é escrito. Note que ele não diz: “Trazendo sempre no corpo o fato de que estou morto para o pecado”. Não, devemos trazer no nosso corpo “a mortificação do Senhor Jesus”. Esta é a realidade prática de aplicar a sentença de morte aos desejos de nosso corpo natural. O Senhor Jesus apela ao nosso coração, e nos lembra que isso custou a Ele Sua vida para que o nosso “velho homem” pudesse ser “crucificado com Ele”.
Nunca seremos capazes de andar adequadamente como Cristãos a menos que sejamos, continuamente, trazidos de volta para a cruz. Não é suficiente sabermos de maneira intelectual que Deus vê nosso velho homem como crucificado com Cristo, e que estamos mortos para o pecado. Não é suficiente sabermos em nossa mente que Deus nos quer ocupados com Cristo, e não com nós mesmos. Iremos falhar continuamente a menos que nosso coração seja tocado pelo fato de que custou a vida de nosso Salvador para que pudéssemos nos considerar “mortos para o pecado, mas vivos para Deus”. Nunca seremos capazes de nos separar deste mundo da maneira correta, a menos que lembremos que foi este mundo que colocou nosso Salvador na cruz. Deus apela ao nosso coração em vez de nosso intelecto, pois é somente quando nosso coração está correto que podemos viver a vida Cristã adequadamente.
Não é aquele que mais sabe que faz o melhor Cristão, mas aquele que mais ama. Eu encorajaria você a ler a Palavra de Deus e também o bom ministério escrito que está disponível, porque trazem Cristo diante de você. Mas conhecimento por si só não o manterá – a Pessoa de Cristo deve ser preciosa para você. Algumas vezes vemos um simples crente que sabe relativamente pouco das Escrituras, mas que parece estar mais próximo do Senhor do que nós e parece ter mais alegria em sua alma. Talvez tenhamos sido criados num lar Cristão e tenhamos ouvido essas coisas desde pequenos. Podemos ter sido salvos há muitos anos, e saber muito mais. Por que não temos essa alegria? É porque esse simples crente está desfrutando do que ele conhece de Cristo, enquanto temos permitido alguns obstáculos interferirem.
Talvez você diga; “Como faço para ter esse amor pelo Senhor em meu coração? Gostaria de amá-Lo mais!”. Um irmão agora com o Senhor costumava nos lembrar constantemente; “Nunca tente amar o Senhor mais do que você ama! Apenas pense em quanto Ele te ama!” Se formos levados de volta para a cruz e estivermos ocupados com o amor do Senhor por nós, então nosso amor fluirá de volta para Ele, e descobriremos que essas coisas se tornarão mais claras para nós.
Posso ouvir alguns de vocês dizendo: “Mas você não conhece as dificuldades e problemas da minha vida. Você não conhece o lar de onde vim, a situação no trabalho que tenho que encarar todos os dias. Você não conhece a solidão e as tentações que tenho que enfrentar. É fácil falar sobre essas coisas, mas é difícil colocá-las em prática”.
Para responder a essas objeções, vamos ler Jeremias: “Pois dois males fez o Meu povo: deixaram-Me a Mim, fonte de águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2:13 – TB). Uma fonte é um contínuo manancial de água, enquanto uma cisterna é apenas um lugar para armazenar a água que foi colocada nela. Uma cisterna é uma coisa boa, mas, se houver uma rachadura nela, toda água vazará, e ela é inútil. Deveríamos nos perguntar qual delas vamos ter: a fonte ou a cisterna rota? Podemos nos pegar olhando para este mundo e dizendo que precisamos de companhia. Se não conseguimos ter companhia Cristã, então talvez procuremos por companhia do mundo. Outros podem buscar coisas materiais, ou uma carreira, pensando que isso irá satisfazê-los. Alguém que é mais velho pode focar em sua família, ou viagens, ou um hobby. Embora não haja nada inerentemente errado em algumas dessas coisas, temos que perceber que todas elas são cisternas rotas. A verdade de que somente Cristo pode satisfazer meu coração deve tomar conta de minha alma.
E quanto ao serviço para o Senhor? Posso dizer a mim mesmo que sairei para pregar o evangelho – talvez isso satisfaça o meu coração. Posso querer ir para algum país estrangeiro para servir ao Senhor. Ou fazer da assembleia local o meu foco e voltar toda minha energia para torná-la um lugar feliz, porque quero vê-la crescer e ver meus irmãos encorajados. Será que alguma dessas coisas me fará feliz? Não, não farão. “Mas”, alguns podem dizer; “todas essas coisas não são coisas boas de se fazer? O Senhor não nos disse para pregar o evangelho, e para encorajar outros crentes?” Sim, mas elas ficam aquém do maior motivo que Deus estabeleceu diante de nós. Em todas essas coisas, nossa visão está muito baixa. Se eu começar a pregar o evangelho e talvez não veja muitas bênçãos, tenderei a desanimar. Se fizer de minha família meu foco, posso muito bem negligenciar o que é devido ao Senhor.
Qual a resposta para tudo isso? A Palavra de Deus nos ensina a ter nossa visão acima de tudo, no próprio Cristo. Quando Ele está diante de nós, não dependemos de nada deste mundo para nossa felicidade. Ele é imutável, e, quando nosso coração está ocupado com Ele, há uma estabilidade, uma calma, uma paz que nada pode abalar. Se nosso gozo depende de qualquer coisa deste mundo, até mesmo as melhores coisas, então nosso estado de espírito terá altos e baixos dependendo de como as coisas estão indo por aqui. Deus quer nos elevar acima disso tudo.
Estarmos ocupados com Cristo nos torna negligentes com nossas responsabilidades aqui no mundo? Não, pois o pensamento de que queremos agradá-Lo em todas as coisas nos faz querer fazer tudo para Ele e da melhor maneira possível. Não negligenciaremos nosso trabalho, nossa família, a assembleia local ou até mesmo nós mesmos. Mas esses não serão o nosso objeto – em vez disso, desejaremos fazer tudo para Cristo.
Um dos maiores problemas entre os Cristãos hoje é que estamos usando as falhas dos outros no corpo de Cristo como uma desculpa para nossas próprias falhas. Estamos tornando nossa alegria dependente do comportamento dos outros e nossa capacidade de viver como Cristãos dependente de como os outros andam.
Afirmo com plena convicção que nossa alegria em Cristo não deve depender de mais ninguém. Se isso acontecer, então estamos permitindo alguma coisa estar entre nós e o Senhor, e Ele nos ama demais para nos deixar ser verdadeiramente felizes sob essas circunstâncias. Nossa felicidade pode durar por um tempo, mas então o Senhor nos testará, talvez removendo aquela pessoa de quem nossa felicidade depende, ou permitindo que alguma provação entre em nossa vida. Então fica claro que outros e outras coisas são realmente o nosso objeto, e não Cristo.
Conheci um irmão que se mudou da assembleia em que ele estava, porque as coisas estavam difíceis lá. Ele pensou que, se ele levasse sua família para outro lugar, as coisas seriam melhores e sua família seria mais feliz no Senhor. Não funcionou, porque nem nossos irmãos nem a assembleia devem ser a fonte de nosso gozo. Se nós não pudermos superar a situação na qual nos encontramos, não seremos capazes de superar em lugar nenhum. Isso se aplica para uma situação familiar, um problema no trabalho, na assembleia local, ou qualquer outra situação. Cristo é capaz de dar graça em qualquer circunstância na qual Ele nos tenha colocado. Meus irmãos podem ser um verdadeiro encorajamento, e uma assembleia feliz é uma grande bênção, mas ambos são de ajuda apenas na medida em que trazem Cristo diante de mim.
Com certeza, o Senhor pode, muitas vezes, nos levar a mudar nossas circunstâncias e, ao fazer isso, pode nos tirar de uma situação difícil. Então podemos ser gratos pelo fim da provação e tomar isso como vindo do Senhor. Mas apenas o Senhor pode nos guiar nesses casos, e devemos estar muito diante d'Ele, para que não façamos a mudança por nossos próprios motivos, e sim porque é a mente d’Ele.
Devo deixar claro que não estou falando de uma situação na qual o Senhor não quer que estejamos. Algumas vezes, pedimos ao Senhor por Sua ajuda em uma situação na qual Sua única vontade para nós é que não estejamos ali de maneira nenhuma. Em tal caso, devemos sair daquela situação a qualquer custo, como, por exemplo, um trabalho onde alguém está em jugo desigual com um incrédulo. Não podemos vencer quando estamos em direta desobediência à Palavra de Deus. Mas, em uma situação em que o Senhor nos colocou, devemos nos submeter ao que Ele permitiu e aprender a lição que Ele está nos ensinando. Nosso próximo assunto é muito útil nesse sentido.
“Entregues à Morte”
Já falamos da importância de “Trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo” (2 Co 4:10), mas o versículo imediatamente seguinte nos leva um passo adiante; ele declara: “E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal” (2 Co 4:11). Podemos ter sentido a necessidade de levar em nosso corpo a mortificação do Senhor Jesus, e até mesmo ter feito isso até certo ponto, querendo realmente tratar com aquilo que não agrada ao Senhor. Se sempre fizéssemos isso perfeitamente, o versículo 11 não teria necessidade de estar ali. Mas o Senhor vê coisas em nossa vida que não vemos – talvez coisas que pensamos não ser tão ruins, talvez uma atitude à qual nos acostumamos há muito tempo, ou algum motivo oculto que não percebemos ter um tamanho efeito em nossa vida. Então somos “entregues à morte” – uma declaração forte. O que isso significa? Significa que o Senhor permite circunstâncias em nossa vida para trazer diante de nós aquele motivo oculto, aquele pecado que nós não vemos, ou pelo menos não pensamos que seja tão sério. É a misericórdia de Deus que Ele faça isso, pois assim seremos capazes de ver mais claramente o que está impedindo nosso pleno gozo de Cristo, e de nos livrar disso. Mas com que frequência nos rebelamos contra o tratamento do Senhor conosco, e não aprendemos a lição! Olhamos para as próprias circunstâncias, ou talvez para os indivíduos envolvidos nelas, e nos recusamos a deixar o Senhor nos mostrar que Ele permitiu a dificuldade.
Devemos lembrar que nunca há qualquer causa secundária com Deus. Quando aceitamos a provação como vinda do Senhor, e d’Ele somente, então podemos ir a Ele no espírito de Hebreus 12:11, exercitados pela disciplina e descobrindo que ela “produz fruto pacífico de justiça” (Hb 12:11). Se outras pessoas estiverem envolvidas e tiverem agido de forma errada conosco, podemos deixar isso com o Senhor; Ele irá tratar com elas. Que Deus nos possa dar a graça para aceitar todas as nossas circunstâncias como vindas d'Ele, e então ir a Ele, perguntando-Lhe por que Ele as permitiu. Se fizermos isso, então Ele pode nos mostrar coisas em nosso coração que necessitam ser tratadas. Assim a vida de Jesus será mais e mais manifesta em nós, em vez da velha natureza pecaminosa. Se este é o propósito de Deus na provação, ela não faz tudo isso valer a pena?
Nunca devemos nos permitir o luxo de sentirmos pena de nós mesmos. Todos nós gostamos de fazer isso às vezes. Ouvimos falar de pessoas que fazem o que é chamado de “festa da piedade”. Várias pessoas (às vezes, somente duas!) se reúnem e se revezam para falar sobre as injustiça que sofreram dos outros, a forma como foram maltratadas, a forma como as pessoas tiraram vantagens delas, e daí por diante. Há uma satisfação sutil em relatar todas essas injustiças e depois ouvir alguém dizer: “Oh, que horrível – coitado de você!” Eu mesmo sou culpado de ter feito isso, e tive que perceber diante do Senhor que isso era nada além de pecado. Era permitir que minha velha natureza pecaminosa agisse. Deus nos deu o exemplo d'Aquele que sempre se compadeceu dos outros em todas as situações, até mesmo quando Ele estava experimentando o maior dos sofrimentos. Quando estamos ocupados com Cristo, Deus nos dará a graça de sentir compaixão até mesmo por aqueles que estão nos causando o maior mal.
Para ilustrar como o Senhor Jesus quer que vivamos, gostaria de me referir há um incidente em Sua vida.
“Então, se aproximou d'Ele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-O e fazendo-Lhe um pedido. E Ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem um à Tua direita e outro à Tua esquerda, no Teu reino. Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que Eu hei de beber e ser batizados com o batismo com que Eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. E diz-lhes Ele: Na verdade bebereis o Meu cálice, mas o assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda não Me pertence dá-lo, mas é para aqueles para quem Meu Pai o tem preparado. E, quando os dez ouviram isso, indignaram-se contra os dois irmãos. Então, Jesus, chamando-os para junto de Si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e qualquer que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo, bem como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a Sua vida em resgate de muitos” (Mt 20:20-28).
Aqui o Senhor mostrou aos Seus discípulos que o Cristianismo não é caracterizado pelo que se encontra, mas pelo que se traz. Nosso bendito Salvador não veio para ser servido, mas para servir, e Ele deixou um exemplo para nós. Você está em uma situação difícil em casa ou no trabalho? Deus lhe dará a graça para enfrentar essa situação, primeiro dando-lhe paz sobre ela em sua própria alma, e depois para ajudá-lo a mostrar um pouco do amor e graça de Cristo aos outros. Você está em uma situação difícil na assembleia local? O Senhor pode usar você para ser de ajuda. Um andar piedoso consistente nunca passará despercebido.
Quando o Senhor estava no Jardim do Getsêmani (falo reverentemente), Ele poderia ter pensado apenas em Si mesmo. Em vez disso, Seus pensamentos eram para os Seus discípulos, e Ele disse a eles: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26:41). Quando os soldados vieram prendê-Lo, Ele disse: “Se é a Mim, pois, que buscais, deixai ir estes” (Jo 18:8 – ARA). Quando Pedro posteriormente O negou, o Senhor Se virou e olhou para ele, sem dúvida com amor e compaixão. Quando homens O estavam pregando na cruz, Ele disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34). Quando o ladrão ao Seu lado, que pouco antes O estava injuriando, disse: “Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás Comigo no paraíso” (Lc 23:42, 43). Quando Ele viu Sua mãe ali junto à cruz, como o filho mais velho na família Ele assumiu a responsabilidade de providenciar os cuidados dela, e a entregou a João. Em tudo Seus pensamentos eram para os outros, e não para Si mesmo. Certamente você e eu nos curvamos em humilde adoração diante de tal graça, percebendo que nunca a alcançaremos enquanto estivermos neste mundo. Como observamos anteriormente, Deus está começando essa obra em nós aqui neste mundo, e, se Cristo está preenchendo nosso coração, então podemos pedir a graça para reagir às situações como Ele reagiu. Se foco na injustiça que os outros estão cometendo, eu mesmo cometerei injustiça. Se meus olhos estão no Senhor, embora outros possam ser culpados de ações erradas, posso ter reações corretas.
Se outra pessoa está fazendo algo certo, posso sentir com ela e ser de ajuda e de encorajamento para ela. Mas, se estiver agindo errado, posso sentir por ela. Posso pedir ao Senhor a graça para ser de ajuda para essa pessoa, mesmo que eu esteja sofrendo com a injustiça que está sendo cometida por ela. Isso é sempre algo difícil de fazer, e às vezes há situações em que, humanamente falando, parece ser absolutamente impossível. Há situações em que a injustiça é tão grande e o dano emocional tão severo que parece impossível ter a graça para se compadecer pelo transgressor. Eu não minimizaria, de forma alguma, a seriedade de algumas dessas injustiças. Mas, então, somos levados de volta para a cruz, e somos lembrados de Hebreus; “Considerai, pois, Aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos [vossa alma – ARA]” (Hb 12:3). Ninguém jamais passou por tantas tristezas como nosso bendito Salvador, e Ele passou sozinho. O que O manteve (e novamente falo reverentemente) foi o gozo que Lhe estava proposto, e nisso Ele nos deixou um exemplo. Espero expressar isso com sentimento, que, embora a diferença entre uma situação e outra possa ser uma questão de grau, o princípio permanece o mesmo. Uma situação pode requerer mais graça do que outra, mas “Ele dá maior graça” (Tg 4:6 – ARA). Dizer que há uma situação que pode surgir em nossa vida na qual Ele não poderia dar a graça para agir de acordo com Sua Palavra é negar Sua suficiência.
Lembro-me de ter conversado com uma menina que veio de um lar muito difícil, onde seu pai não a havia tratado muito bem. Após ouvi-la por algum tempo, pude certamente simpatizar com a dor que ela sentia. Ela tinha todas as razões para estar amarga e ressentida sobre o que ela vivenciou. Quando comecei a conhecê-la um pouco melhor, e falávamos sobre o remédio para aqueles sentimentos, disse a ela; “Você consegue superar a sua dor e sentir simpatia por seu pai, que provavelmente também está sofrendo e precisa de ajuda?” Ela nunca havia pensado nisso antes. A sabedoria do mundo iria dizer que temos que expressar nossa raiva, que temos que confrontar o transgressor, que temos que fazê-lo sentir/perceber o quanto fomos machucados. Mas a sabedoria de Deus nos mostra que podemos levar nossa dor ao Senhor e resolver tudo com Ele somente. (E é importante lidar com essa dor – encobri-la e fingir que nada aconteceu não é a resposta.) Às vezes, um amigo de confiança e confidente pode ser de grande ajuda para colocar em ordem as muitas emoções conflitantes em um momento como esse. Mas se tal indivíduo não está disponível, lembremos que o Senhor Jesus passou pela agonia da cruz no Jardim do Getsêmani sozinho com Seu Pai. Foi ali que o suor caiu de Sua testa, e onde Ele pediu a Seu Pai, passa de Mim este cálice. Então, perante o mundo, Seus pensamentos podiam ser para os outros.
Não é errado expressar a dor, e talvez desafogar os sentimentos que brotam em nosso coração – não, é algo mais do que necessário ao lidarmos com essas terríveis experiências. Também não é errado confrontar o transgressor, para deixá-lo ciente do quanto fomos machucados. Se feito da maneira correta e sob as circunstâncias corretas, pode ser muito útil para resolver a questão. Mas lembremos que o Senhor entende melhor do que qualquer outro. Então Ele nos dará a graça, primeiro para estarmos em paz com nós mesmos, e então para termos sentimentos corretos em relação ao transgressor.
Gozo e Paz
Se estivermos andando com o Senhor, perceberemos que podemos amar e cuidar dos outros, e esquecer de nós mesmos. Não precisamos estar preocupados conosco e com o que nos fará felizes. Devemos colocar o Senhor Jesus em primeiro lugar em nossa vida e ter como objetivo agradar a Ele. Então devemos olhar ao redor para os outros e perguntar ao Senhor como podemos ser de ajuda para eles. Se fizermos essas coisas nessa ordem, descobriremos que o Senhor cuidará de nossa felicidade sem sequer pensarmos nela. Mas, se seguirmos o Senhor para sermos felizes, provavelmente não seremos, porque esse é outro motivo errado – é outra cisterna rota. Às vezes temos tempo de especial alegria, como, por exemplo, tempo dispendido com outros Cristãos longe do mundo. Como mencionei anteriormente, podemos desfrutar tanto do Senhor em tais circunstâncias que sentimos que nunca poderíamos ser infelizes novamente. Talvez digamos; “Quero manter isso. Quero ser feliz assim o tempo todo!” O que deveríamos estar dizendo é; “Quero seguir a Cristo. Quero viver para Ele, e ser mais como Ele. Quero agradá-Lo mais, por amor a Ele”. Então nosso motivo está correto, pois estamos ocupados com Ele, e não com nós mesmos. Agradar ao Senhor Jesus é o motivo maior que a Palavra de Deus coloca diante de nós.
Momentos especiais de alegria são como a sensação que temos, ao dirigir, quando pisamos fundo no acelerador e reduzimos a marcha para fazemos uma ultrapassagem. Nós gostamos da sensação da potência que vem com isso, mas nunca pensaríamos em dirigir oitenta quilômetros em marcha reduzida. O carro não é construído para funcionar dessa maneira, e a transmissão retornará para uma marcha mais longa depois que atingimos uma certa velocidade[1]. Da mesma maneira, corredeiras ou cachoeiras em um rio podem proporcionar belos cenários e ser necessárias para restabelecer o oxigênio da água, mas elas não constituem a parte mais produtiva do rio. Os peixes geralmente não vivem em corredeiras, e rios cheios de corredeiras não são bons para navegação. É a parte calma e tranquila do rio que é a mais útil, e é o funcionamento constante do carro em marcha regular que é a mais útil para nos levar de um ponto ao outro.
[1] N. do T.: Onde o autor vive, praticamente, todos os veículos têm transmissão automática.
Embora o Senhor possa nos proporcionar momentos especiais de alegria, eu atribuiria mais ênfase à paz do que à alegria. Paz para o crente tem um significado duplo. No evangelho de João, o Senhor Jesus disse aos Seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou” (Jo 14:27). Acredito que a primeira paz é a que encontramos em Romanos 5:1, a paz que vem do conhecimento de que todos os nossos pecados foram perdoados e que não temos nada a temer do julgamento de Deus. Mas a segunda menção da paz é a que o Senhor chama de “Minha paz”, e esta era a paz que Ele tinha ao fazer a vontade do Pai, e ao saber que Seu Pai estava ordenando cada circunstância para Ele como o perfeito Homem dependente. Temos essa paz dada a nós e podemos desfrutá-la também, na medida em que não houver nada entre nossa alma e o Senhor, que Ele for nosso Objeto e que estejamos buscando agradá-Lo.
Devemos sempre andar em paz, ainda que nem sempre possamos andar com alegria. O Senhor era o Homem de dores, ainda assim Ele estava sempre andando naquela paz que Ele chama de “Minha paz”. A tristeza é uma parte necessária para a vida Cristã, e não deveríamos esperar que fosse de outra forma. Estamos seguindo um Cristo rejeitado em um mundo que ainda é contra Ele. Mas Ele também passou por isso e nos deixou Sua paz como legado.
Os Cristãos mais felizes são aqueles que nem sequer estão pensando em si mesmos, mas cujo coração está cheio de Cristo, buscando agradá-Lo, e então ocupado com o bem e a bênção dos outros. Mas, novamente, não faça isso para ser feliz – faça para agradar ao Senhor! Pense na felicidade d’Ele, não na sua. Você descobrirá que isso colocará um brilho em seu rosto, um entusiasmo em seu andar, e você terá aquela confiança com que devemos andar como Cristãos. Moisés não sabia que seu rosto brilhava, mas os outros viram isso. Ao andar com o Senhor, haverá uma dignidade moral sobre nós que os outros verão, e eles tomarão conhecimento de nós, de que estivemos com Jesus.
Quando contemplamos a maravilhosa cruz
Em que o Senhor da glória morreu
Nosso mais rico ganho contamos como perda,
E vertemos desprezo sobre todo nosso orgulho.
Jamais, Senhor, que nos gloriemos,
A não ser na morte de Cristo, nosso Deus;
Todas as coisas vãs que mais nos encantam,
As sacrificaríamos por Seu sangue.
Lá de Sua cabeça, Suas mãos, Seus pés,
Tristeza e amor fluíram misturados;
Já se encontraram amor e tristeza assim,
Ou espinhos compuseram tão rica coroa?
Fosse todo o reino da natureza nosso,
Oferta muito pequena seria;
O amor que transcende nossos maiores poderes,
Pede nossa alma, nossa vida, nosso tudo.
Isaac Watts
W. (Bill) J. Prost
A leitura das três partes sobre esse tema valeu muito a pena.