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ÍNDICE
Autoestima
Bill. Prost
Parte 2
Versículos Mal Utilizados
Com frequência, é necessário desaprender ideias erradas antes que possamos aprender as coisas da maneira correta. Muitos conceitos errados sobre autoestima estão sendo ensinados hoje, algumas vezes até mesmo no contexto da Escritura. Antes de começarmos a discutir pensamentos mais positivos sobre nosso assunto, é necessário mencionar dois versículos que têm sido mal utilizados, até mesmo por crentes, para transmitir ideias erradas sobre a autoestima.
Efésios 5:28 diz: “Assim devem os maridos amar a sua própria mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo”. Esse versículo tem sido interpretado por alguns como significando que você não pode amar sua esposa (ou qualquer outra pessoa) adequadamente a menos que ame a si mesmo. Esse não é o significado do versículo. O que é trazido diante de nós aqui é simplesmente a preciosa verdade de que, quando o homem e a mulher são casados, Deus os vê como uma só carne. Um homem amar a esposa deveria ser tão natural como amar a si mesmo. Será que Deus tem que nos ordenar a amar a nós mesmos? Não, fazemos isso espontaneamente. Todos nós cuidamos muito bem de nós mesmos naturalmente, e Deus está simplesmente dizendo aqui que, se você ama sua esposa, você ama a si mesmo, pois vocês são uma só carne, e, se você destrói sua esposa por quaisquer meios – seja por crítica, infidelidade, ou qualquer outra coisa –, você estará destruindo a si mesmo. Esse versículo não é, de forma alguma, uma autorização bíblica para o amor próprio.
Também, Mateus 22:39, que diz: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, tem sido considerado como autorização bíblica para o amor próprio. Novamente, o amor a si mesmo é tomado como verdade, e a lei dizia ao homem para amar o seu próximo como a si mesmo. Não há nenhum mandamento para amar a si mesmo. Tal pensamento não é encontrado na Palavra de Deus.
Então, Filipenses 2:3 declara: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”. Já ouvi alguns dizerem que está tudo bem estimar a si mesmo, desde que você considere os outros superiores a você mesmo. Levada à sua conclusão lógica, essa interpretação pode resultar no pior dos casos de baixa autoestima, pois, em última análise, teríamos que julgar que todos os outros são melhores do que nós em todos os aspectos. Novamente, não acredito que esse seja o significado do versículo. O pensamento é que todos nós, não importa qual nossa habilidade natural, nosso dom espiritual, ou nossa fidelidade ao Senhor, sempre podemos olhar para outro crente e ver uma qualidade, um dom, ou um traço de caráter desejável que não temos. Além disso, podemos olhar para nós mesmos, e ver um pecado nos assediando que o outro não tem. Se estivermos caminhando com o Senhor, veremos o bem nos outros, enquanto reconhecemos nossas próprias falhas. Não teremos dificuldade em considerar os outros superiores a nós mesmos, pois procuraremos o melhor nos outros. Se pensarmos em nós mesmos, será mais para julgar nossas falhas do que para nos orgulharmos com o que somos, ou com o que fizemos. Esse versículo definitivamente não é autorização bíblica para a autoestima da maneira como o termo é interpretado atualmente. Devemos nos ocupar com Cristo e com os outros, e não com nós mesmos.
Cristo – Seu Amor e Compreensão
Até o momento, temos nos alongado em grande parte no lado negativo da autoestima, pontuando como a presença do pecado corrompeu tudo na criação de Deus. Vimos que mesmo aquelas coisas que Deus nos deu são usadas para um fim errado, e que o orgulho pode brotar e corromper até mesmo os sentimentos corretos. Então, qual é a resposta para isso tudo? Há uma maneira de ter todas essas considerações numa perspectiva correta? Acredito que há. Como em qualquer outra questão na vida, devemos trazer Cristo a ela. N'Ele, por Sua Palavra, encontramos a resposta para tudo. Como alguém me disse uma vez: “A resposta para tudo para o crente é encontrada na cruz”.
Em nossas observações sobre “Amor e Compreensão”, destacamos que ser amado e compreendido é essencial para todo ser humano, e que a negação disso causa sérias dificuldades e, algumas vezes, desastre. E quanto àqueles que não recebem esses tão importantes fatores em sua vida? Todos nós sabemos muito bem que o pecado arruinou até mesmo esse aspecto de nossa vida em muitos casos. Talvez alguns de nós venham de lares Cristãos onde o amor foi dado em grande medida, e mesmo em lares onde Cristo não é conhecido, o amor muitas vezes está presente. Mas sabemos que, infelizmente, falta amor em alguns lares, tornando muito difícil para as crianças que crescem nesse ambiente. Elas tendem a olhar tudo através dos olhos daquilo que vivenciaram.
Conversei com algumas pessoas que tinham dificuldade de acreditar que Deus as amava, porque haviam vivenciado tão pouco amor em sua vida. Elas buscavam amor e compreensão de alguns como seus pais e, quando não encontravam, achavam difícil acreditar que alguém mais as pudesse amar. Outras ouviram durante toda sua vida que eram inúteis e imprestáveis, e por isso achavam difícil acreditar que alguém pudesse se importar com elas, ou que tivessem qualquer habilidade para fazer algo. Ainda, outras viveram a maior parte de sua vida sob a sombra de uma terrível experiência, talvez na sua infância, e foram incapazes de se recuperar disso.
Vimos que a sabedoria humana tem uma resposta para esse problema, tentando convencer o indivíduo de seu valor próprio, de sua capacidade e de sua importância neste mundo. Essa abordagem pode ter algum mérito em conscientizá-lo de suas habilidades dadas por Deus. Entretanto, ela não vai longe o suficiente, pois o resultado lógico final é apenas orgulho, de um lado, ou desapontamento, do outro.
Enquanto minha esposa e eu aproveitávamos uma viagem pela costa oeste dos Estados Unidos no verão passado, me virei para ela e disse: “Sabe, uma necessidade básica de todo ser humano é amor e compreensão”. Ela respondeu “O que acontece se você não recebe isso? O que acontece se você cresce num ambiente hostil?” Alguns dos que estão lendo isso podem ter vindo de lares assim, e (devo dizer) alguns de vocês podem ter vindo de assembleias onde parece haver pouco amor e compreensão. Você pode honestamente tentar fazer algo, e receber apenas críticas por isso, seja no lar ou em qualquer outro lugar. Você já teve a experiência de tentar ajudar, e lhe disseram para não se intrometer porque você não consegue fazer direito? Talvez você comece a se questionar onde você se encaixa, e o que deveria estar fazendo.
Já nos referimos ao Salmo 63:3, que diz: “Porque a Tua benignidade é melhor que a vida; os meus lábios Te louvarão”. O versículo 1 declara: “Ó Deus, Tu és o meu Deus; de madrugada Te buscarei; a minha alma tem sede de Ti; a minha carne Te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água”. Deus provê amor e compreensão para aqueles que não os tiveram, não por causa do que somos, mas por causa do que Ele é! É de Sua benignidade que precisamos mais do que qualquer outra coisa, e Ele a dará mesmo que ninguém mais o faça!
“Olhando para Jesus, Autor e Consumador da fé, o qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, Aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos [vossa alma – ARA]” (Hb 12:2-3).
Deus nos deu um Exemplo, e esse é o Senhor Jesus Cristo. Aqui a ênfase é no andar prático do crente, e o Senhor Jesus é apresentado como um Exemplo para nós. Havia Um, nosso Senhor Jesus Cristo, que (digo isso com reverência) estava contente com a aprovação de apenas Um. O Salmo 88:18, diz: “Afastaste para longe de Mim amigos e companheiros; os Meus íntimos amigos agora são trevas”. O Salmo 69 é um dos Salmos Messiânicos, que fala sobre o Senhor profeticamente; este versículo declara: “Afrontas Me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo; esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei” (Sl 69:20).
Será que, às vezes, você e eu dizemos: “Ninguém entende; parece que ninguém me ama ou se importa comigo”? Acredito que, às vezes, o Senhor Jesus leva você e eu a um ponto em nossa vida onde Ele pergunta se estamos dispostos a seguir em frente se tivermos apenas Sua aprovação e Seu amor. Qual era o gozo que estava posto diante d'Ele em Hebreus 12:2? Acredito que era o gozo de fazer a vontade do Pai, e Ele é um Exemplo para nós. Deus tirou qualquer possível confortador na cruz. Por quê? Em parte, foi para nos mostrar que nosso bendito Salvador foi capaz de suportar tudo aquilo sem nenhum apoio humano. Estamos dispostos a fazer isso? Você está disposto a dizer: “Senhor, Teu amor e aprovação são suficientes”? Eu não sou responsável pela falta de amor e compreensão que posso ter experimentado quando criança, mas Deus me considera responsável, como um indivíduo maduro, pela minha reação a essas experiências, porque Ele me deu tudo para me capacitar a superá-las.
Percebo que isso é mais difícil para alguns do que para outros. Algumas pessoas são naturalmente mais resistentes e conseguem lidar com as críticas mais facilmente. Algumas parecem sobreviver à falta de amor e compreensão, enquanto outras ficam totalmente devastadas. Que cada um de nós possa aprender a dizer: “Senhor, ajuda-me a aprender vivendo na luz do Teu amor e compreensão”. Nunca seremos verdadeiramente felizes em nossa vida Cristã até que possamos dizer: “Estarei contente se estiver desfrutando apenas do amor do Senhor em meu coração e tiver a percepção em minha alma de que estou fazendo a Sua vontade”.
Quando atingimos o ponto de precisar apenas da aprovação d’Ele, do amor d’Ele, da compreensão d’Ele, uma coisa maravilhosa acontece. Descobrimos que o Senhor nunca nos deixa totalmente sem comunhão, amor, cuidado e encorajamento. Não, Ele sabe que precisamos da ajuda e encorajamento uns dos outros, e nunca nos deixará sozinhos.
Houve momentos em minha vida em que fui levado ao ponto de dizer: “Senhor, Teu amor é suficiente”. Não significa que eu já tenha experimentado total rejeição de todos aqueles de quem eu esperava amor e compreensão, mas houve momentos em minha vida quando senti que o problema que eu estava vivenciando dificilmente poderia ser compartilhado com mais alguém. Talvez você já tenha se sentido assim. É maravilhoso, nessas circunstâncias, sentir o Senhor quase colocando Sua mão em seu ombro e dizendo para você ir em frente, que Ele entende, que Ele te ama e Se importa. Mas, em qualquer uma dessas situações, Deus enviou alguém para me levantar, uma palavra de encorajamento, uma “injeção de ânimo”, como dizemos. Algumas vezes foi apenas uma palavra gentil, mas foi exatamente o que eu precisava. O Senhor sabe o quanto precisamos desse impulso e Ele o dará, justamente na hora certa. Então ficamos ocupados com Ele, percebendo que o encorajamento, embora venha de nossos irmãos Cristãos, vem, em última instância, d'Ele. Olhamos para Ele, não para os outros, nem mesmo para nós mesmos. Ao considerá-Lo, e tudo o que Ele suportou, estamos ocupados com Sua perfeição e percebemos que Ele compensará por tudo o que o pecado possa ter nos privado.
“Um Homem em Cristo"
Consideramos o homem na criação e o homem como uma criatura caída. Agora vamos considerar o homem em Cristo. Já vimos que o pecado entrou neste mundo pela desobediência do homem e que ele afetou todas as partes do nosso ser. Porque o pecado entrou neste mundo, cada um de nós tem uma natureza pecaminosa e caída. Vimos que o pecado tira até mesmo nossas habilidades dadas por Deus e as usa de maneira errada. Na última seção dissemos que a resposta de tudo para o crente é encontrada na cruz. Para entender essa declaração plenamente, devemos considerar a verdade encontrada em Romanos, capítulos 6, 7 e 8.
No livro de Romanos, até o versículo 12 do capítulo 5, temos abordada a questão do pecado. A culpa absoluta de todo o mundo é estabelecida, e então a obra consumada de Cristo é apresentada como o único remédio. Então, de Romanos 5:12 até o final do capítulo 8, a questão do pecado em sua raiz e princípio é trazida diante de nós. Devemos ter clareza sobre o problema do pecado se quisermos ver a resposta bíblica para a questão da autoestima.
É importante ver que, quando Deus nos salva, Ele não perdoa nossa natureza pecaminosa e caída, nem a remove. O Senhor Jesus diz a Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3:7). Quando chegamos como pecadores culpados, Deus perdoa nossos pecados e nos dá uma nova vida em Cristo. Agora o crente tem duas naturezas: uma que é irremediavelmente pecaminosa e não pode agradar a Deus; e uma nova natureza que é verdadeiramente vida em Cristo e que não pode pecar. Ter essas duas naturezas em nós causa o conflito em nossa vida.
A velha natureza pecaminosa nunca melhora durante toda a nossa vida. Ela está sempre conosco e continua tão ruim depois de vinte anos após eu ter sido salvo quanto era antes de eu ser salvo. Deus quer que eu mostre a nova vida e sua natureza no meu andar Cristão, mas com que frequência a velha natureza tenta se impor! É por isso que os Cristãos pecam, e a ocupação comigo mesmo e o orgulho são parte desses pecados.
Em Romanos 5, temos a verdade de que o sangue de Cristo tirou os meus pecados. Em Romanos 6, temos a verdade adicional de que, na morte de Cristo, Deus viu a morte do nosso “velho homem”. “Sabendo isto: que o nosso velho homem foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6:6). Agora, o mandamento é: “Considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). Antes da morte de Cristo, nunca foi dito ao homem que considerasse a si mesmo (ou seja, o velho homem) como morto. Em vez disso, ele foi colocado sob a lei, até que Cristo viesse. “A lei nos serviu de tutor até Cristo” (Gl 3:24 – JND). Agora Cristo morreu e ressuscitou. O crente, identificado com Cristo, pode dizer que também morreu para o pecado, e, assim, o pecado não tem mais domínio sobre ele. Agora Deus nos vê, não como pecadores caídos, mas como aqueles que têm nova vida em Cristo. Devemos permitir que a nova vida e natureza caracterizem nosso andar Cristão, e reconhecer que morremos para o pecado.
O ato do batismo traz essa nova posição diante de nós. Ao ser batizado, o crente confessa sua identificação com a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Ele não está mais identificado com um mundo pecaminoso que rejeitou o Senhor Jesus, mas agora faz parte da família de Deus. Ele morreu para o pecado. Ele não deve mais continuar com seus antigos caminhos de pecado; ele agora deve andar “em novidade de vida” (Rm 6:4). O pecado em mim – minha velha natureza pecaminosa – não tem mais direitos sobre mim. “Se alguém está em Cristo, nova criatura [criação – TB] é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5:17).
Esse conflito entre a velha e a nova natureza é trazido diante de nós de maneira prática em Romanos 7. Aqui o homem é verdadeiramente nascido de novo e tem a nova vida, mas ainda não experimentou a libertação do pecado. Como muitos de nós, o homem em Romanos 7 descobriu que, embora tivesse a nova vida e quisesse fazer o que era correto, não tinha poder para fazê-lo. Quantos de nós sinceramente desejamos viver a vida Cristã, mas, constantemente, descobrimos que pecamos, apesar de nós mesmos? Quantos de nós descobrimos, nas palavras de Romanos 7:15, “porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço”.
Qual a razão de não sermos capazes de conseguir a vitória? Encontramos a resposta no versículo 18. Devemos chegar à conclusão bíblica de que “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18). Muitas vezes, estamos dispostos a admitir que pecamos, mas não estamos dispostos a admitir que não há nada em nós que tenha algum mérito diante de Deus. Não estamos dispostos a reconhecer que não há absolutamente nada em nós na carne que Deus possa aceitar – tudo foi arruinado pelo pecado. Mais do que isso, devemos também chegar à triste conclusão a que o apóstolo chega, no versículo 24, quando diz: “Miserável homem que eu sou!” Não somente é a velha natureza em nós incuravelmente má, mas nossa condição é miserável além do que podemos imaginar. Isso é algo doloroso de se perceber, mas essencial se quisermos conhecer a libertação do pecado. É somente quando isso é percebido em nossa alma que deixamos de ter qualquer confiança em nossa velha natureza pecaminosa e nos voltamos para Cristo. É por isso que a última parte dos versículos 24 e 25 diz: “Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 7:24-25). A libertação vem, não por estarmos ocupados com nós mesmos e tentando nos melhorar, mas sim olhando para fora de nós mesmos, para Cristo. Então, encontramos libertação imediata, porque estamos ocupados com o que Cristo é, em vez de com o que somos.
Muitas vezes, recuamos horrorizados quando vemos quão terrível e pecaminosa nossa natureza realmente é. Não queremos admitir isso, então defendemos nossa velha natureza pecaminosa, ou inventamos desculpas para ela, em vez de admitir que ela é tão ruim quanto aparenta ser. O caminho para a libertação é admitir plenamente o que Deus já nos disse em Sua Palavra, que “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso” (Jr 17:9). Deixe nossa natureza pecaminosa ser tão má quanto Deus diz que é – Deus a condenou na cruz, e na morte de Cristo eu morri para o pecado. “Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3).
Romanos 8 traz diante de nós a posição abençoada do crente que foi libertado do pecado. Não apenas meus pecados foram lavados, mas fui libertado da lei (ou princípio) do pecado e da morte. Não mais estou diante de Deus como um pecador arruinado, mas estou “em Cristo Jesus” (Rm 8:1), e “não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:4). Em vez de tentar melhorar a natureza pecaminosa, eu simplesmente me afasto dela, reconhecendo que, diante de Deus, eu estou “em Cristo” e tenho uma nova vida n'Ele.
No passado, mais pessoas queimavam madeira e carvão para aquecer suas casas, e homens conhecidos como limpadores de chaminé eram muito comuns. Como você deve saber, com a queima da madeira e do carvão uma substância chamada creosoto se acumula nas chaminés e, se não for limpa periodicamente, pode acabar causando um incêndio na chaminé. Esses limpadores de chaminé costumavam limpar chaminés como forma de sustento. Algumas vezes as chaminés eram largas o suficiente para que meninos e homens entrassem nelas para fazer a limpeza, e você pode imaginar como eles ficavam imundos. Eles ficavam cobertos de fuligem da cabeça aos pés. Você podia ver os homens indo de casa em casa, todo imundo de fuligem, com suas vassouras e outras ferramentas sobre os ombros.
Agora, deixe-me fazer uma pergunta; “O que te deixaria mais sujo, abraçar um limpador de chaminé ou lutar com ele?” Se você pensar por um momento, concordará que não fará muita diferença – você ficará completamente sujo de qualquer maneira.
Se pensarmos no limpador de chaminé como nossa velha natureza pecaminosa, a aplicação é óbvia. O diabo não se importa se abraçamos o pecado ou continuamente lutamos contra ele, porque seremos contaminados de qualquer maneira. Devemos nos manter afastados do limpador de chaminé – ficar bem longe dele. Isso é o que a Palavra de Deus nos diz para fazer quando nossa natureza pecaminosa tenta agir – devo simplesmente me afastar dela e permitir que o Espírito de Deus traga Cristo diante de mim. Todo verdadeiro crente é habitado pelo Espírito de Deus, e o Espírito de Deus é o poder da nova vida. Iremos falar mais disso adiante.
O apóstolo Paulo falou sobre si como “um homem em Cristo” (2 Co 12:2). Ele não era mais o homem que havia sido antes de ser salvo, embora sua natureza pecaminosa permanecesse com ele e fosse tão ruim como era antes. Mas diante de Deus ele reconheceu que ele estava “em Cristo” e que Deus olhava para ele como “um homem em Cristo”. Ele não tentou mais melhorar sua natureza pecaminosa, porque foi condenada na cruz, e ele havia morrido para o pecado. Como “um homem em Cristo”, ele via a si mesmo como Deus o via e praticamente assumiu a posição de que estava morto para o pecado. Então, ele procurou viver no benefício dessa posição.
“Cristo Vive em Mim”
Vimos que a verdadeira posição do Cristão é de estar morto, sepultado e ressuscitado com Cristo. No que diz respeito ao pecado, Deus o condenou na cruz. Na morte de Cristo, Deus viu a crucificação do meu velho homem, e a cruz foi o fim de tudo que eu era como criatura pecaminosa da raça de Adão. Agora, estou habilitado assumir essa posição na prática e me considerar “como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). Com essa bendita verdade em mente, podemos ir adiante e ver a verdadeira resposta bíblica sobre a autoestima.
O título deste capítulo vem de um versículo em Gálatas: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, O qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20).
A sabedoria deste mundo, como já vimos, diz que devemos desenvolver nossas boas qualidades e perceber qual é o nosso potencial. Devemos perceber que somos pessoas valiosas e que temos uma contribuição a fazer. É-nos dito que devemos ter fé em nós mesmos. Já comentamos que há algum mérito em reconhecermos nossas habilidades dadas por Deus, mas, a menos que o fator do pecado seja considerado e tratado, tal ensinamento nunca resolverá o problema da autoestima.
Ocupação com nós mesmos sempre resultará em orgulho ou em desapontamento. Tudo foi contaminado pelo pecado, e nós ou nos orgulharemos pelo que somos, ou ficaremos deprimidos pelo que não somos. Sem dúvida, em alguns casos tal ensinamento desenvolverá a qualidade ou habilidade em um indivíduo, de modo que as pessoas irão dizer que ele funciona. Entretanto, tal abordagem nunca poderá nos levar além da esfera de nós mesmos. A base para isso é tão frágil, e pode ser perdida facilmente. Aquele que está ocupado consigo mesmo nunca será verdadeiramente feliz.
O que precisamos é permitir que Gálatas 2:20 controle nossa alma. Precisamos perceber o que é “[eu] já estou crucificado com Cristo”, O “eu” aqui é o que eu era antes de ser salvo, o “eu” que eu era como filho de Adão e membro de uma raça pecadora e caída. Tendo uma nova vida em Cristo, estou habilitado a dizer que o velho “eu” realmente não é mais quem eu sou. Diante de Deus, estou “em Cristo” e devo deixar a nova vida que Cristo deu a mim ser o “eu” de agora em diante. Como isso é realmente vida em Cristo, posso verdadeiramente dizer: “Cristo vive em mim”.
Deus testou o homem ao longo de todo o Velho Testamento, e todos os Seus testes provaram apenas a absoluta ruína do homem em sua condição caída. Agora Deus terminou com o “primeiro homem” e está começando novamente com o Seu Homem, o Senhor Jesus Cristo. A maravilhosa verdade é que, quando o primeiro homem (Adão, e por fim, nós mesmos) falhou em tudo que Deus lhe confiou, Deus trouxe o Seu Homem, o Senhor Jesus Cristo. Cristo foi fiel em todas as áreas onde o primeiro homem falhou, e todos os propósitos de Deus serão cumpridos num Homem, Seu próprio Filho amado. Este é o significado do Salmo 8:4-5, que diz: “Que é o homem mortal para que Te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Contudo, pouco menor O fizeste do que os anjos e de glória e de honra O coroaste”. Em maravilhosa graça Deus escolheu nos associar a Ele, e nos deu nova vida n'Ele! Em vez de esperar algo do homem, Deus está colocando algo nele. A resposta de Deus não é autoestima, mas “estima por Cristo”!
Li uma história há algum tempo, que acho que ilustra muito bem o ponto. Havia uma jovem que teve uma criação muito difícil. Alguns de vocês podem se identificar com isso. Ela ouvia de seus pais e de outros que ela não fazia nada certo e, como resultado, teve sérios problemas quando chegou ao início da idade adulta. Para um observador ocasional, ela parecia ter muitas coisas a seu favor. Ela era atraente, tinha bastante habilidade natural e era uma verdadeira Cristã, mas ela simplesmente parecia não conseguir superar a ideia de que ela era inútil. Ela foi ao psiquiatra e a todo tipo de grupos de autoajuda, mas nada parecia mudar. Finalmente, ela veio até um homem Cristão que estava preparado para ouvir sua história e tentar ajudá-la. Ela lhe contou sua situação, como parecia que nunca conseguia fazer nada certo, e concluiu dizendo: “Eu simplesmente me sinto tão inútil o tempo todo”.
Após ouvir atentamente por um longo tempo, ele olhou para ela e disse mansa e gentilmente: “Talvez você seja inútil”. Ele estava se referindo, com certeza, à sua natureza pecaminosa, não às suas habilidades dadas por Deus. Você pode imaginar a reação dela. Ela olhou para ele com raiva em seus olhos, e disse: “Ninguém nunca falou comigo assim antes! Meu psiquiatra sempre me diz que sou uma pessoa valiosa, que tenho que acreditar em mim mesma, que…”. Então, ele a interrompeu, perguntando: “E isso funcionou?” “Não”, ela respondeu, “mas eu não estou pronta para desistir de mim mesma ainda!”
Devemos estar prontos para desistir de nós mesmos quanto à nossa natureza pecaminosa, se é para Cristo viver em nós. Tivemos que chegar ao fim de nós mesmos para sermos salvos, e temos que perceber a absoluta ruína do “velho homem” se quisermos andar como Cristãos da maneira correta. Enquanto estivermos focados em nós mesmos, as coisas nunca estarão certas. Deus quer que nossa nova vida em Cristo seja expressa de forma prática em nós.
Talvez digamos: “Oh, eu tentei, mas não adiantou. Simplesmente não consigo fazer isso”. Então, somos como o homem em Romanos 7, que estava tentando fazer isso em sua própria força. Sempre haverá uma luta, e sempre perderemos até que nos apropriemos do que Cristo fez por nós na cruz. Assim como tivemos fé de que o sangue de Cristo foi suficiente para tirar nossos pecados, também devemos ter fé de que nosso “velho homem” foi crucificado com Cristo. Nos dois casos a fé conta com a avaliação de Deus quanto à obra consumada de Cristo. A fé crê no que, aos olhos de Deus, é um fato já consumado – que, na morte de Cristo, eu morri para o pecado. Então, tenho o poder para agir conforme Romanos 6:9, e me considerar morto na prática. Assim, adoto a visão que Deus tem de mim, de que o verdadeiro “eu” é agora o novo homem, a nova vida que possuo em Cristo.
Se tenho nova vida em Cristo, é possível que eu possa falhar em alguma coisa que Deus dá ao novo “eu” para fazer? Não, pois todos os recursos de Deus estão disponíveis para aquele que anda no caminho da obediência e permite que a nova vida em Cristo se expresse. Isso parece elementar, e ainda assim é um fato surpreendente. A nova vida, que sempre age para agradar a Deus, não pode falhar em nada do que faz.
No entanto, o desafio de permitir que a nova vida se manifeste em nossa vida é provavelmente a maior dificuldade que todo Cristão tem. Como aquela jovem a quem me referi, não estamos prontos para desistir de nós mesmos e reconhecer que nossa natureza pecaminosa não pode fazer nada para agradar a Deus. Queremos ser mais como Cristo. Falamos sobre isso, talvez cantemos sobre isso, mas o ponto principal é que nós gostamos demais de nós mesmos. Não é de amor-próprio que necessitamos, pois isso só me ocupará com o que sou por natureza. O antídoto é estar ocupado com Cristo e desfrutando de Seu amor em nosso coração. Então, estarei ocupado com o que Ele é, e não com o que eu sou.
Vemos um exemplo de como aprender a desviar o olhar de nós mesmos e olhar para o Senhor na vida de Gideão. O Senhor havia entregado os filhos de Israel nas mãos dos midianitas por causa dos pecados deles. Quando o anjo do Senhor se aproximou de Gideão e lhe disse que o Senhor iria usá-lo para libertar Israel, sua resposta foi: “Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai” (Jz 6:15). Mas ele estava disposto a ser obediente, e o Senhor o guiou gentilmente. Quando ele ainda não conseguiu ser persuadido a seguir adiante, o Senhor graciosamente respondeu quando ele colocou o velo de lã em duas ocasiões distintas. Então, para mostrar que deveria ser feito em Sua força, o Senhor reduziu seu exército para apenas trezentos homens. Finalmente, Ele disse a Gideão que descesse ao arraial dos midianitas, e lá ele ouviu uma conversa dentro de uma tenda que o convenceu de que o Senhor iria dar-lhe a vitória. Gideão obteve a vitória, mas de tal forma que o Senhor ficou com toda a glória. Gideão não tinha nada de que se gloriar, pois era claramente a mão do Senhor. Ele exemplificou a Escritura: “quando estou fraco, então, sou forte” (2 Co 12:10).
Após a vitória, quando os homens de Efraim ficaram contrariados com Gideão, porque sentiram que ele não lhes havia dado o lugar de honra, a atitude correta de Gideão foi demonstrada na sua resposta para eles. Em vez de o orgulho se mostrar, a graça deu-lhes crédito por aquilo que haviam feito, enquanto Gideão assumiu uma posição humilde. O sentimento ruim “se abrandou para com ele”, porque Gideão não queria nenhum crédito para si, mas ficou feliz em dá-los aos outros. Mais tarde, quando os homens de Israel queriam que Gideão governasse sobre eles, ele recusou, dizendo que o Senhor deveria governar sobre eles.
Compare isso com Jefté, alguns anos depois, que evidentemente tinha um problema real com o orgulho. Ele se recusou a liderar o povo em batalha contra os filhos de Amom, a menos que eles prometessem fazê-lo cabeça sobre eles se ele os livrasse. Então, quando os mesmos homens de Efraim ficaram contrariados novamente, Jefté respondeu-lhes asperamente, e uma guerra civil se seguiu, na qual quarenta e dois mil foram mortos. O mundo diria que tanto Jefté quanto os homens de Efraim tinham baixa autoestima, mas orgulho é a palavra certa aqui.
“Ah”, você diz, “mas, se eu não tivesse algum orgulho de mim mesmo, não me preocuparia com minha aparência, em fazer um bom trabalho em meu emprego, em cuidar da minha casa, etc.” Certa vez, meu falecido sogro me contou que, quando jovem, ele fez a mesma pergunta a seu pai. A resposta de seu pai foi: “Filho, se você lembrar que, toda vez que você sai por aquela porta e desce a rua, toda vez que vai para o trabalho, toda vez que você interage com os outros de alguma forma, você é um filho de Deus e que tudo que você faz e diz reflete sobre Aquele a Quem você pertence, isso cuidará de todas essas coisas, tal como sua aparência, trabalho, etc., mas sem dar qualquer espaço para o orgulho. Se você lembrar que você foi enviado ao mundo para agradar ao Senhor, você fará todas essas coisas da maneira correta, mas com um Objeto fora de você mesmo”.
Bill Prost
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