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ÍNDICE
Autoestima
Bill. Prost
Parte 1
Prefácio
O tema “autoestima” é muito frequente no mundo hoje, especialmente na América do Norte. Menos de vinte anos atrás, o assunto era raramente mencionado. Agora somos bombardeados de todos os lados com o termo, e até crianças bem pequenas estão sendo ensinadas sobre autoestima nas escolas. A falta dela é supostamente a razão fundamental de quase todos os erros do homem, e a restauração da autoestima é supostamente a cura para quase quaisquer deficiências.
Algum tempo atrás, enquanto aguardava por uma consulta, peguei uma edição da revista Seleções[1] na recepção. Um artigo intitulado “Palavras que produzem milagres” chamou minha atenção, e eu gostaria de citar dois parágrafos desse artigo.
[1] N. do T.: O nome original da revista é Reader's Digest.
“Cada um de nós tem uma imagem mental de si mesmo, uma autoimagem. Para achar a vida razoavelmente satisfatória, esta autoimagem deve ser uma com a qual possamos conviver, uma de que possamos gostar. Quando nos orgulhamos de nossa autoimagem, nos sentimos confiantes e livres para sermos nós mesmos. Funcionamos no nosso melhor. Quando temos vergonha de nossa autoimagem, tentamos escondê-la ao invés de expressá-la. Tornamo-nos hostis e difíceis de lidar.”
“Um milagre acontece com a pessoa cuja autoestima foi elevada. De repente, ela gosta mais das outras pessoas. É mais amável e mais cooperativa com aqueles ao seu redor. O elogio é o polimento que ajuda a manter sua autoimagem brilhante e cintilante.”
Essa citação representa o pensamento atual do mundo, e também entre muitos Cristãos. Embora haja nessas palavras ideias que são muito verdadeiras, há também coisas que são erradas.
Parte do problema de lidar com o assunto reside no fato de que, até o momento, não há um consenso real sobre o significado do termo “autoestima”. Várias definições foram propostas, mas mesmo nos círculos educacionais não há um consenso geral. É óbvio que o termo significa coisas diferentes para pessoas diferentes.
Como com qualquer assunto moral e espiritual, os Cristãos devem se afastar da sabedoria humana e olhar para a Palavra de Deus. Pedro nos diz: “Visto como o Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe 1:3). Paulo disse aos Coríntios que “a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (1 Co 3:19). Com a ajuda do Senhor, gostaria de examinar a Palavra de Deus, onde encontramos a resposta para tudo o que diz respeito ao nosso andar como Cristãos neste mundo. A sabedoria humana nada pode acrescentar à Palavra de Deus.
O assunto é difícil, e estou muito consciente da minha falta de entendimento pleno sobre ele. O homem é um ser complexo, e algumas das considerações relativas a este assunto precisam ser vivenciadas em vez de totalmente explicadas. Também, é dito: “agora, vemos como em espelho, obscuramente” (1 Co 13:12 – ARA), e aqui a palavra “obscuramente” traz o pensamento de algo que é obscuro, ou um enigma (ARC). Embora a Palavra de Deus nos dê perfeita luz para cada passo do nosso caminho, nem sempre ela satisfaz nossa curiosidade, nem responde todas as nossas perguntas. Tenhamos isso em mente quando houver aspectos deste assunto que podem estar além do nosso entendimento.
Existem muitos assuntos trazidos diante de nós pela Palavra de Deus que estão além do entendimento humano. A mente humana só pode ir até certo ponto, e então percebemos que estamos na esfera do infinito. Geralmente, tais assuntos consistem em duas verdades que devem ser mantidas em equilíbrio, mas que não podem ser totalmente reconciliadas pela mente humana. Eu acredito que a dignidade humana na criação, bem como a depravação do homem como resultado da queda, são duas dessas verdades. O homem natural tenta reduzir essas verdades a um nível que ele possa entender e, ao fazer isso, sempre cai em erro de um lado ou de outro. É triste dizer, mas mesmo crentes verdadeiros às vezes fazem isso ao tentar impor uma estrutura feita pelo homem à verdade que Deus nos deu em Sua Palavra. A resposta correta para nós é adorar humildemente Aquele que escolheu revelar essas coisas a nós, enquanto percebemos que nossa mente finita não pode compreender totalmente o infinito. Só podemos apreciar essas verdades e equilibrá-las em nossa vida ao andarmos em comunhão com Aquele que escolheu revelá-las a nós.
Para dar uma estrutura ao nosso assunto, gostaria de considerar o homem em três posições ou estados. Primeiro, o homem na criação antes da queda; segundo, o homem como uma criatura caída; e terceiro, o homem em Cristo. Outras considerações serão desenvolvidas em relação a essas três posições à medida que avançamos.
O Homem na Criação
Em Gênesis 1, temos a maravilhosa história da criação, culminando na criação do homem no sexto dia. “E disse Deus: Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a Terra, e sobre todo réptil que se move [rastejam – ARA] sobre a terra” (Gn 1:26). A palavra “imagem” aqui tem o pensamento de representatividade, de modo que aquele homem deveria ser o representante de Deus na Terra. “Semelhança” tem o sentido de semelhança moral, na medida em que aquele homem estava em relacionamento direto com Deus, e recebeu afeições relativas ao restante da criação que eram condizentes com o fato de ele ser cabeça sobre ela.
Ao final do sexto dia, lemos: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn 1:31). Neste contexto, precisamos reconhecer no homem a obra das mãos de Deus, e o fato de que Deus disse “que era muito bom”. A elevação do homem acima do restante da criação é muito pronunciada, e ele recebeu qualidades que o capacitavam especialmente para uma posição tão exaltada na criação de Deus. Embora o homem tenha perdido muito da “semelhança” de Deus pela queda, ele ainda é o representante de Deus na Terra. Ainda há dignidade associada ao homem por sua posição na criação, mesmo que ele tenha caído.
Parte da dignidade e posição do homem como cabeça da criação inclui as várias habilidades[2] que Deus deu a ele e que não foram concedidas às criaturas inferiores. Um indivíduo, por exemplo, pode ter uma tremenda habilidade em matemática. Sem dúvida que isso foi dado por Deus e poderia estar presente mesmo que o homem não tivesse pecado. Outro pode ter uma habilidade em música, ou talvez em trabalhar com as mãos, e ambas as habilidades o homem teria sem a queda. É correto e apropriado que essas habilidades sejam reconhecidas, tanto pelo indivíduo que as possui quanto pelos outros. Nesse sentido, o termo “autoestima” não é de todo errado, mas talvez o termo “autoimagem” ou “autoavaliação” seja melhor. Dizer que sou inútil em relação ao que Deus me fez ou depreciar minhas habilidades dadas por Deus é achar que a obra das mãos de Deus é falha e lança injúria sobre Ele.
[2] N. do T.: Podemos entender por habilidade: uma aptidão específica ou um conjunto de aptidões dadas por Deus a um indivíduo. O autor cita diversas vezes no texto sobre a habilidade dada por Deus.
Novamente, isso aponta a dificuldade do termo “autoestima”, pois ele não significa a mesma coisa para todos. Sinto que o termo é pobre, pois remete nosso pensamento para nós mesmos. Como veremos mais adiante, Deus quer voltar nosso pensamento para um Objeto fora de nós – o Senhor Jesus Cristo. Mas, se usado em conexão com o homem na criação, o termo pode não transmitir um pensamento totalmente errado.
Paulo tinha algo desse pensamento diante dele ao escrever para os Filipenses, quando disse: “Não atente cada um para o que é propriamente seu [para suas próprias qualidades – JND], mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp 2:4). Tendemos a ser muito conscientes de nossas próprias qualidades, enquanto não reconhecemos aquelas que os outros possam possuir. Por outro lado, alguns não reconhecem nem mesmo suas próprias qualidades que Deus lhes deu.
Em Mateus 25:14-30, encontramos a parábola dos talentos. Ela traz diante de nós a soberania de Deus em dar diferentes habilidades para vários indivíduos. (Na parábola das dez minas em Lucas 19, encontramos o equilíbrio para isso, onde a responsabilidade do homem é trazida diante de nós.) Embora os talentos possam incluir dons espirituais, acredito que eles também trazem diante de nós nossas habilidades naturais, dadas por Deus, por cujo uso todo homem será responsabilizado. Apocalipse 4:11, diz: “Senhor… Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade são e foram criadas”. É por isso que fomos criados e recebemos as habilidades que temos. O homem com apenas um talento claramente representa a alma que foi para uma eternidade perdida, ainda assim Deus o teve por responsável por não ter usado para proveito o que lhe foi confiado. Ele não usou sua energia e sua habilidade para agradar a Deus.
Em resumo, então, vemos que Deus criou o homem para o Seu agrado, e lhe deu dignidade como cabeça da criação. Também, Ele nos deu habilidades específicas, que nada têm a ver com a queda e que temos a responsabilidade de reconhecer e usar para Ele. Nesse sentido, temos que ter a mesma imagem de nós mesmos que Deus tem de nós. Não fazer isso é desconsiderar o próprio Deus, e ter pensamentos errados sobre Deus. Usar o termo “autoestima” para descrever isso não é totalmente errado, mas sugiro que há uma melhor linguagem que podemos usar para transmitir esse pensamento. Isso nos leva à nossa próxima consideração.
Amor e Compreensão
Todos nós fomos criados com certas habilidades que foram dadas por Deus e com a necessidade básica de amor e compreensão. Ainda assim, a maioria de nós conhece ou já ouviu falar de indivíduos que ouviram, talvez desde sua infância, que são completamente inúteis, que nunca fazem nada direito, que nada têm a oferecer. Acontece com frequência no mundo em geral, e, triste dizer, com grande frequência entre crentes. Tal atitude é, claramente, contrária à Palavra de Deus, como vimos. Sabemos que a vida desses indivíduos termina, muitas vezes, em desastre, a menos que os danos possam ser corrigidos.
Em 1 João lemos: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; todo aquele que ama, é de Deus, e conhece a Deus. Quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1 Jo 4:7-8 – TB). A necessidade de ser amado e compreendido é parte de cada um de nós. Quando um indivíduo não recebe amor e compreensão, isso causa dificuldades em sua vida. Às vezes, essas dificuldades se tornam avassaladoras, de modo que a necessidade de amor se torna mais importante do que a própria vida.
No verão de 1980, uma mulher de nome Judith Bucknell foi morta em Miami. Seu homicídio poderia ter sido apenas mais outra estatística, exceto por seu diário. Aparentemente ela era jovem, atraente e bem-sucedida, mas seu diário permanece um monumento da terrível solidão que ela experimentou. “Quem vai amar Judy Bucknell?”, ela escreveu. “Sinto-me tão velha. Não amada. Desprezada. Abandonada. Esgotada. Quero chorar e dormir para sempre”. Externamente ela estava feliz, tinha um bom emprego, roupas elegantes, um belo apartamento – todos os adereços da “boa vida”. Ainda assim, ela escreveu: “Estou sozinha e quero compartilhar alguma coisa com alguém”. A dor em seu coração não podia ser satisfeita com coisas materiais ou relacionamentos superficiais, porque estavam faltando amor e compreensão reais.
Sem dúvida, esse pensamento é expresso nos Salmos, onde lemos: “Porque a Tua benignidade é melhor que a vida; os meus lábios Te louvarão” (Sl 63:3). O salmista havia aprendido que a benignidade era mais importante para ele do que a vida, e ele a havia encontrado no próprio Senhor. Se reduzirmos a maioria dos nossos problemas pessoais a um denominador comum, são provavelmente amor e compreensão os ingredientes que faltam. Às vezes, a necessidade de ser amado e compreendido é equiparada com a necessidade de autoestima, mas, novamente, o termo é pobre. O termo “autoimagem” é mais preciso, mas também tende a nos fazer pensar em nós mesmos.
Uma criança, enquanto cresce, necessita perceber que Deus lhe deu habilidades que não estão conectadas com a queda. Por exemplo, talvez a criança mostre ter uma habilidade com as mãos e consiga trabalhar bem com ferramentas. Pais sábios e amorosos notarão isso e encorajarão essa habilidade. Talvez eles comprem ferramentas para ela e providenciem um ambiente onde sua habilidade possa se desenvolver. Eles elogiarão seus esforços, mesmo que no início seu trabalho seja um pouco grosseiro. Outra criança pode ter habilidade em música; bons pais reconhecerão isso e encorajarão isso dentro dos canais adequados. Tudo isso é bom e correto, e é encontrado na Palavra de Deus.
Em Provérbios 22:6, lemos: “Ensina a criança conforme o teor de seu caminho, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (JND). Para realizar isso, devemos reconhecer que cada criança é diferente e que não podemos tratar todas da mesma forma. Envolve conhecer “a criança” e reconhecer o teor do “seu” caminho. Os pais deveriam amar todos os filhos igualmente, mas tratá-los como se todos fossem iguais é um erro, e contrário à sabedoria da Palavra de Deus.
Elogiar é uma parte importante desse encorajamento, e muitas vezes esquecemos o quanto isso é significativo para a criança. Já conheci pais que nunca elogiaram os filhos por medo de torná-los orgulhosos. Devemos lembrar que as crianças, como Samuel, podem ainda não conhecer o Senhor. Eles veem o mundo deles através dos olhos daqueles que mais têm importância para eles, normalmente seus pais e, às vezes, outros adultos, como parentes próximos ou professores. A maioria de nós consegue se lembrar da grande influência que essas pessoas tiveram sobre nós durante nossos anos de formação.
Assim, podemos ver que todos nós fomos criados com uma necessidade básica de amor e compreensão, e que é correto que isso seja provido em qualquer esfera onde existam influência e autoridade. Onde faltam amor e compreensão, há sempre dificuldade e, muitas vezes, desastre.
Alguns imediatamente perguntarão: “E quanto àqueles que não recebem esse ingrediente tão importante em sua vida? Estão eles condenados à dificuldade e desastre a que nos referimos?” Antes de responder essa pergunta, devemos considerar o homem como uma criatura caída.
O Homem como uma Criatura Caída
Vimos que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, ignorante do mal, e que Deus pôde dizer de Sua obra que era “muito bom”. Entretanto, esse belo estado de coisas durou somente um curto período de tempo, e o homem introduziu o pecado neste mundo pela desobediência do único mandamento que Deus deu a ele. O pecado entrou na criação de Deus e contaminou tudo aquilo que Ele fez. Toda a criação sofreu como resultado da queda do homem, seu cabeça, mas o homem, como o ser na mais elevada posição, talvez tenha sentido mais os efeitos disso do que o restante da criação.
É importante cada um de nós percebermos que nascemos neste mundo com uma natureza pecaminosa e caída, como resultado da introdução do pecado neste mundo. Davi se referiu a esse fato, quando disse: “Em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51:5). Também, lemos: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5:12).
Como a solene verdade da queda do homem se relaciona com nosso assunto? No século XIX, um jovem se aproximou de um Cristão mais velho que havia andado com o Senhor por muitos anos. O jovem lhe perguntou se ele teria algum conselho para um jovem que está iniciando na vida Cristã. Sua resposta foi curta e direta ao ponto, pois ele disse: – Aprenda bem cinco palavras: “A carne para nada aproveita” (Jo 6:63). Esta citação do Evangelho de João apresenta muito sucintamente uma verdade muitíssimo importante. O pecado, ao entrar neste mundo, afetou cada parte do nosso ser.
Esse efeito do pecado em todas as partes de nossa vida é ilustrado pelo que aconteceu com um irmão em Cristo que opera uma fazenda leiteira e que tinha um rebanho muito bom de vacas. Ele comprava sua ração de uma grande empresa que também fabricava pesticidas. De alguma forma, parte do pesticida se misturou à ração do gado na fábrica, e essa mistura foi vendida em sacos rotulados simplesmente como ração para gado. Era um poderoso veneno, e no final todo seu rebanho de vacas leiteiras teve que ser abatido e enterrado. O que foi ainda mais angustiante foi que simplesmente se livrar da ração contaminada não foi suficiente. Ela havia afetado as crias das vacas que não morreram e havia contaminado o celeiro e muitas coisas no celeiro. Não havia praticamente nada que não tivesse sido afetado pelo veneno, e levou muito tempo para tudo voltar ao normal. O pecado neste mundo é assim. Não está isolado de certas coisas, como talvez gostaríamos de pensar. Não, ele tocou todas as coisas, cada parte do nosso ser.
Sabemos que nós todos temos pecado e temos uma natureza pecaminosa, mas será que percebemos que o pecado atingiu cada parte de nós, como indivíduos naturais?
Muitos de vocês estão cientes de que há diferentes tipos de personalidade, e de uma forma geral todos podemos nos enquadrar em um (ou em uma combinação) desses diferentes tipos. Por exemplo, algumas pessoas são muito trabalhadoras, bem-disciplinadas, e bem-organizadas. Essas são as pessoas que conseguem administrar qualquer coisa e que geralmente conquistam muito neste mundo. Sem dúvida essa habilidade foi dada a elas por Deus, e é justo dizer que teriam tido essa habilidade mesmo que o homem não tivesse caído. Mas essas pessoas normalmente têm um lado negativo, pois, muitas vezes, são arrogantes e intolerantes com os outros. Podem ser sarcásticas e, muitas vezes, não trabalham bem com outras pessoas. Podem chegar ao topo no mundo dos negócios e ocupar cargos de gestão, mas algumas vezes não são apreciadas pelos seus subordinados.
Por outro lado, existem aquelas que são muito mais abertas e amigáveis, e são o que chamaríamos de “pessoas sociáveis”. São intuitivas, conseguem sentir o sentimento de outras pessoas e reagir apropriadamente. Normalmente têm muitos amigos e são muito queridas pelas outras pessoas. Novamente, isso é uma característica dada por Deus e teria sido parte delas sem a queda. O lado negativo é que essas pessoas, muitas vezes, têm problemas com autodisciplina e dificuldade em disciplinar outras pessoas. Elas têm mais dificuldade em cumprir o horário dos compromissos, gerenciar seus negócios de forma ordenada e assumir responsabilidades com seriedade.
O que vemos na personalidade dos homens, incluindo nós mesmos, é em parte o que Deus em Sua sabedoria criou, e parte o que o pecado introduziu. Vemos beleza na natureza, e reconhecemos a obra das mãos de Deus, mas daí vemos a ruína que o pecado trouxe. O homem natural, sem a sabedoria da Palavra de Deus, não consegue juntar essas duas coisas. Ele acha o mundo uma confusão desesperadora de bem e mal. Somente a Palavra de Deus pode nos dar compreensão de como essas coisas podem coexistir no mundo.
Esses aspectos negativos de nossa personalidade são parte do efeito da queda do homem. Quando se trata de nós mesmos, quantas vezes damos desculpas, dizendo: “Eu fui feito assim!” A implicação é que você terá que me aceitar do jeito que eu sou, porque foi assim que o Senhor me fez. Isso não está de acordo com a Palavra de Deus. Nós somos “assombrosa e maravilhosamente feito[s]” (Sl 139:14 – TB), e isso inclui tanto a nossa constituição mental quanto a física. Entretanto, os efeitos do pecado são todos muito evidentes em nós, mentalmente, assim como fisicamente. Devemos reconhecer nossas habilidades dadas por Deus, mas nunca atribuir à mão de Deus as coisas que o pecado trouxe a este mundo.
O pecado não arruinou toda a criação igualmente. Embora toda a criação tenha sentido os terríveis efeitos do pecado, Deus preservou este mundo de experimentar o efeito completo da queda do homem. Lembre-se do jovem príncipe rico que foi ao Senhor Jesus, querendo saber o que ele precisava fazer para herdar a vida eterna. Quando ele disse ao Senhor que havia guardado todos os mandamentos desde a sua mocidade, está registrado que “Jesus, contemplando-o, o amou” (Mc 10:21 – TB). Esse não é o mesmo pensamento do amor de Deus por este mundo, como expresso em João 3:16. É verdade que o amor do Senhor se estende a todos neste mundo, mas esse versículo em Marcos 10 mostra o amor que o Senhor Jesus sentiu por aquele belo caráter, alguém que tinha o genuíno desejo de fazer o que era correto. Às vezes, encontramos aqueles que têm naturalmente uma disposição muito adequada, assim como encontramos pessoas que são exatamente o oposto. Aqui o Senhor amou esse jovem por causa do que ele era naturalmente. Mas a conversa que se segue com ele revelou o que realmente estava em seu coração.
Quando o Senhor lhe disse claramente o que lhe faltava, seu verdadeiro estado diante de Deus foi revelado. Ele pensava que poderia ganhar a vida eterna guardando a lei, mas as palavras do Senhor mostraram que ele estava falhando na própria essência da lei. Quando perguntaram ao Senhor Jesus qual era o primeiro mandamento da lei, Ele respondeu:
“O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc 12:29-31).
Se o jovem príncipe tivesse amado Deus com todo seu coração, alma, entendimento e força, ele teria ficado feliz em seguir o Senhor Jesus. Se ele tivesse amado seu próximo como a si mesmo, ele teria ficado feliz em abrir mão de seus bens para dá-los aos pobres.
É algo humilhante perceber que muitas vezes Deus não escolhe a personalidade mais refinada, mas, em vez disso, escolhe aqueles que parecem ter sido mais seriamente afetados pelo pecado. Paulo nos diz: “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são” (1 Co 1:27-28). Somos atraídos por aqueles, como o jovem príncipe rico, que têm uma personalidade naturalmente mais agradável, mas que muitas vezes não têm interesse no evangelho. Então, talvez encontremos o Senhor salvando aqueles que naturalmente desprezaríamos. Tudo isso tem o efeito de cumprir 1 Coríntios 1:29, que declara: “Para que nenhuma carne se glorie perante Ele”. A graça de Deus é engrandecida ao trazer os piores deste mundo para Cristo e ao exibi-los com Ele por toda a eternidade como um troféu de Sua graça.
Isso nos leva a outro ponto muito importante. E o que fazer quanto aos aspectos de nossa personalidade que não são errados, aquelas habilidades que foram dadas por Deus? Não podemos ter algum orgulho delas e, nesse sentido, estimarmos a nós mesmos? Podemos admitir que somos pecadores, e ainda sentir que há coisas boas a nosso respeito que podemos desenvolver.
Temos que perceber que até mesmo aquelas habilidades que Deus nos deu são afetadas pelo pecado, porque nossa natureza pecaminosa, sem dúvida sob o controle de Satanás, usa essas habilidades de forma errada. Embora as habilidades por si só não sejam erradas, pode-se fazer um uso errado delas.
Suponha que um indivíduo tenha habilidade em matemática. Como vimos, não há nada errado com essa habilidade, e sem dúvida ela foi dada por Deus. Mas Satanás, usando o pecado como alavanca, quer aproveitar essa habilidade e usá-la para a finalidade errada. Assim, os homens usaram suas habilidades em física e matemática para construir bombas, que agora têm a capacidade de destruir o mundo. Outro pode ter habilidade em música, enquanto alguns, que podem não ter habilidade para produzir música, têm o ouvido para apreciá-la. Sem dúvida, isso também é parte da bondade de Deus para com o homem. Novamente, o diabo usa a música para ocupar a mente humana com o prazer, e para impedi-la de pensar nos assuntos eternos. É solene que a primeira menção da música na Bíblia é em conexão com a família de Caim. Caim saiu da presença do Senhor, construiu uma cidade e passou a cercar-se de tudo que ele pensava que o faria feliz, mas deixou Deus de fora. Foi um descendente de Caim (Jubal) que “foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão” (Gn 4:21). Isso não significa que há algo errado com a música, mas ressalta o fato de que o pecado usurpa até mesmo nossas habilidades dadas por Deus, e nos faz usá-las para um propósito errado.
Vamos dar um passo adiante. Suponha que nossas habilidades dadas por Deus sejam usadas para o propósito correto. Estamos, então, fazendo o que é agradável a Deus? Podemos então atribuir crédito a nós mesmos? Não, mesmo fazendo o que é certo, como criaturas caídas sem Cristo, o motivo sempre será errado. O orgulho se mostrará, mesmo que minha habilidade seja usada para um bom propósito. Isso nos leva à nossa próxima consideração.
Autoestima e Orgulho
Vimos que, quando o homem foi criado, Deus pôde dizer de Sua obra que tudo era “muito bom”. Assim, o homem era bom, no sentido de que ele era ignorante do mal e tinha uma semelhança moral com Deus. Isso não significa que ele era santo, ou mesmo justo, pois ambos implicam o conhecimento e a aversão ao pecado. Havia uma beleza moral no homem na inocência, e de certa forma havia uma semelhança moral com Deus, mas em nenhum sentido ele era igual a Deus.
Estou ciente de que muitos de vocês estão tendo cursos de autoestima, tanto na escola quanto no mundo corporativo. Em muitos casos, parte da filosofia da Nova Era está sendo misturada a isso. Para aqueles que não estão familiarizados com ela, toda a base da então chamada filosofia da Nova Era é o ocupar-se consigo mesmo, até o ponto de dizer que somos todos deuses, e que a própria essência de Deus está dentro de cada um de nós. Somos instruídos a “pensar grande” a respeito de nós mesmos porque somos, de fato, realmente deuses. Este é o final solene de grande parte do pensamento atual sobre autoestima. Quando o homem, e não Deus, se torna o ponto de referência, o homem acaba se deificando [ou se idolatrando].
Quando o homem foi criado, tudo era belo porque era a obra de Deus. O homem não havia feito nada para produzir o bem com o qual estava cercado, e em seu estado de inocência e bondade moral não havia orgulho. Ele podia, sem dúvida, reconhecer as qualidades e habilidades que Deus havia dado a ele, mas em comunhão desimpedida com Deus ainda não havia orgulho de si mesmo. Com a introdução do pecado, o orgulho entrou, e a Palavra de Deus nos mostra claramente que é um dos piores pecados. “Olhos altivos [arrogantes – JND ou olhar orgulhoso – KJV]”[3] encabeça a lista de coisas que o Senhor odeia (Pv 6:17), e mais adiante o mesmo livro nos diz que: “Abominação é para o SENHOR todo altivo de coração [coração orgulhoso – JND]” (Pv 16:5). Depois, no Novo Testamento lemos que: “A soberba [o orgulho – JND] da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2:16). Muitos outros versículos da Palavra de Deus nos mostram que orgulho é um pecado muito sério.
[3] N. do T.: Enquanto a altivez isola os indivíduos devido ao seu desrespeito inerente e complexo de superioridade, o orgulho pode fomentar um senso de pertencimento e realização, motivando indivíduos e comunidades. O orgulho excessivo, contudo, pode levar à arrogância ou presunção, que compartilha semelhanças com a altivez, destacando a tênue linha entre o orgulho saudável e a prejudicial importância própria.
O pensamento básico e equivocado que permeia a maior parte do pensamento atual sobre autoestima é que uma autoestima adequada requer orgulho, e o orgulho em si é bom. Nossa citação inicial da Revista Seleções falava em ter “orgulho de nossa autoimagem” para sermos “confiantes e livres para sermos nós mesmos”. O espírito de orgulho tem permeado tanto nosso mundo hoje que entra em quase todas as fases da vida, talvez sem que percebamos. Devemos entender, à luz da Palavra de Deus, que toda forma de orgulho é errada e um pecado contra Deus.
Para entender o assunto da autoestima adequadamente, devemos compreender que o orgulho é a resposta errada ao sucesso. Temos a tendência de nos orgulhar de nossas habilidades naturais, mas devemos entender que todas elas foram dadas por Deus. Somos propensos a nos orgulhar até mesmo de nosso andar pecaminoso, pensando talvez que há algo bom a ser tirado dele.
Geralmente nós defendemos nossa natureza pecaminosa e caída, e seus atos, em vez de condená-los! Se alguém me disser que tenho um temperamento explosivo, provavelmente irei negar, ou encontrar alguma falta em quem me diz, de maneira a evitar que atinja minha consciência. Se alguém me disser que sou exagerado e não falo a verdade, irei vigorosamente negar e talvez dizer aos outros que aquele que falou comigo é um caluniador e fofoqueiro. É uma manobra bem conhecida do mundo, quando somos acusados de algo, tentar desenterrar o máximo possível de “sujeira” sobre o nosso acusador, para evitar encarar o que pode ser verdade. Raramente estamos dispostos a admitir que estamos errados, até para nós mesmos. Isso fere demais o nosso orgulho. Acredito que o maior obstáculo para o progresso em nossa vida Cristã é nossa falta de disposição para admitir quão ruim o pecado realmente é em nós, enquanto o primeiro passo para a felicidade é compreender a ruína que o pecado trouxe e assim não ter confiança em nós mesmos.
Dando um passo adiante, somos ainda mais propensos a nos orgulhar do que a graça operou em nós. Os coríntios eram culpados disso, e Paulo lhes disse: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (1 Co 4:7 – ARA).
Falamos daqueles com “baixa autoestima” e de outros que têm “alta autoestima”. Muitas vezes, eles são na realidade lados opostos da mesma moeda, e essa moeda é o orgulho. A pessoa com “baixa autoestima” fica deprimida e chateada porque sua autoimagem não é o que ela pensa que deveria ser. Ela na verdade tem uma autoestima bem elevada – é só que a realidade não condiz com seus ideais. Ela não aceita a maneira como Deus a fez. (Estamos falando agora sobre suas habilidades dadas por Deus, não sobre o pecado.) Quantas vezes alguns de nós já olhamos no espelho e de coração desejamos ser mais altos, ter uma cor de cabelo diferente, ser mais inteligentes ou talvez ter outras qualidades que o Senhor não nos deu! Quantas vezes observei outras pessoas participando de atividades atléticas e desejei ter alguma dessas habilidades! Conforme a vida foi passando, descobri que muitos daqueles que eram tão bons em atividades atléticas desejavam ter melhor desempenho no círculo acadêmico, onde talvez alguns de nós se sentissem um pouco mais confortáveis. Parece que sempre queremos o que não temos. Triste dizer, mas Satanás age sobre nós pela nossa natureza pecaminosa, para nos tornar infelizes com o que Deus nos deu e para nos consumir com pensamentos sobre os talentos que Ele não nos deu.
Aquele com “alta autoestima” pensa que está em um determinado ponto, quando absolutamente não está. Ele tem uma autoimagem irrealista, enquanto outros geralmente têm uma avaliação muito mais realista dele! Você conhece esse tipo de pessoa – alguém que está sempre falando de si mesmo e do que pode fazer. Nós o achamos insuportável e não queremos estar perto dele.
Mas você pode dizer, “Estou contente comigo mesmo. Estou bem no meio – não tenho nem alta nem baixa autoestima”. Isso é o que o artigo na Revista Seleções está tentando nos dizer – que devemos entender qual é nossa autoimagem e nos orgulhar dela. Isso também é errado, pois o orgulho, como vimos, é sempre condenado na Palavra de Deus. Embora devamos reconhecer nossas habilidades dadas por Deus, devemos compreender que nunca seremos felizes se nos ocuparmos com nós mesmos, pois o orgulho sempre se mostrará. As pessoas hoje dizem que há uma epidemia de baixa autoestima em nossa sociedade. Sejamos honestos e admitamos que há uma epidemia de orgulho. Isso é resultado de o foco estar no homem em vez de em Deus.
A sabedoria deste mundo diz que temos que construir a autoestima do indivíduo. É-nos dito que devemos tomar o indivíduo e mostrar-lhe que ele tem boas qualidades, que ele é uma pessoa valiosa, que tem habilidades que podem ser desenvolvidas e que ele pode ter orgulho de si mesmo. Devemos mostrar-lhe que ele é um membro útil à sociedade, que tem um trabalho a fazer no mundo e uma importante contribuição a fazer. Isso é bom até certo ponto, pois muitos não percebem suas habilidades naturais devido à falta de encorajamento, amor e compreensão adequados. Mas, se essa abordagem me faz focar em mim mesmo, eu sempre estarei ocupado comigo mesmo, seja de forma positiva ou negativa. O orgulho sempre tende a se mostrar, se eu for o objeto do meu próprio coração.
Antes de encerrar minha prática médica, eu costumava fazer muitas cirurgias. Eu poderia ter permitido que minha habilidade cirúrgica fosse minha fonte de autoestima – isso é o que o mundo nos diz para fazer. Embora qualquer habilidade que eu tivesse fosse dada por Deus e, portanto, devesse ser reconhecida e usada, teria sido errado ela ser uma fonte de orgulho. Um colega meu, que costumava aplicar as anestesias para mim, descobriu que eu tinha uma motosserra e a usava com frequência para cortar madeira para nossa lareira. Ele me disse que eu era um tolo – que um deslize com aquela motosserra poderia arruinar uma ou ambas das minhas mãos, e acabar com a minha carreira. Isso era verdade, e, se minha autoestima estivesse depositada em minha habilidade como cirurgião, então a perda de minhas mãos, de fato, não somente teria acabado com minha carreira como cirurgião, mas com minha autoestima também.
Tudo o que temos neste mundo, seja saúde, habilidades, posses, ou qualquer outra coisa, é tão frágil e pode ser perdido muito facilmente. Iremos edificar sobre coisas que são temporárias e tão facilmente perdidas? Muitos estão fazendo justamente isso, e é por isso que tanta ênfase está sendo dada à autoestima. Mas o problema não está desaparecendo. Pelo contrário, parece estar ficando pior. Isso ocorre porque simplesmente todo o conceito da autoestima tende a ser baseado no que o homem pecador é, e em coisas que não apenas nunca podem satisfazer, mas que podem ser perdidas muito facilmente.
E quanto ao perigo de se elogiar alguém e fazer com que a pessoa se encha de orgulho? Alguns pais raramente fazem elogios a seus filhos, por medo de torná-los orgulhosos de si mesmos. Todos nós já tivemos pessoas com autoridade sobre nós que nunca falavam conosco, a menos que fosse para nos dizer que tínhamos feito alguma coisa errada. Crianças nesse tipo de lar ou pessoas que trabalham para tais supervisores não encontram um ambiente propício para crescer ou para trabalhar. É errado, então, um homem dizer à sua mulher que ela é bonita, ou dizer à sua filha que o vestido novo dela está bonito? É perigoso notar o terno novo de alguém, ou dizer a ele que ele fez um bom trabalho?
Há um ponto de suma importância aqui. Vimos que todos nós precisamos de amor e compreensão. Quando dizemos para alguém: “Gostei muito do seu cabelo; ele está muito bonito”, ou, “Você fez um maravilhoso trabalho, duvido que alguém pudesse ter feito melhor”, qual é a mensagem que estamos transmitindo? Eu diria que o indivíduo a quem nos dirigimos vai embora se sentindo bem, porque agradou alguém que ele queria agradar. Os filhos buscam nos pais amor e aprovação, e, quando os pais os elogiam, eles estão conscientes de que agradaram aqueles que são mais importantes para eles. Não há nada errado nisso, e temos exemplos nas Escrituras. Paulo elogia os Coríntios quando diz: “De maneira que nenhum dom vos falta” (1 Co 1:7). Na segunda epístola, quando ele trata a questão da doação Cristã, ele diz que se gloriou deles junto aos Macedônios “que a Acaia está preparada desde o ano passado” (2 Co 9:2 – ARA). Sem dúvida isso foi de encorajamento para eles, porque tinham agradado ao seu pai espiritual. O próprio Senhor nos encoraja de vez em quando em nossa caminhada Cristã, permitindo que outros nos digam que o que fizemos por eles teve um efeito benéfico.
Talvez o exemplo mais belo do uso correto de elogios ocorra em Cantares de Salomão. Ali, a noiva não tem pensamentos elevados de si mesma, mas se regozija na estima que o noivo tem por ela. Ele a cobre com seu amor e tudo o que vê nela, enquanto ela, em resposta, unicamente sente amor por ele, e fala dele. Seu regozijo está nela, e ele o expressa plenamente, mas tudo isso apenas o torna mais amável para ela, e por isso ela fala apenas dele. Sua única reclamação é que ela não tem uma capacidade maior de desfrutá-lo. Tudo isso é um maravilhoso exemplo do uso apropriado dos elogios e da reação correta a eles.
Satanás, usando a nossa natureza pecaminosa, pode corromper isso tudo. Ele toma esse elogio ou encorajamento e sugere para nós: “Que pessoa maravilhosa você deve ser, para ser tão bonito” ou, “Que pessoa extraordinária você deve ser, para ser capaz de fazer um trabalho como esse!” Então, a chama do orgulho começa a queimar, e tudo é estragado, porque orgulho é pecado. Agradar alguém da maneira correta não é errado, mas ter orgulho disso é a nossa natureza caída transformando isso em pecado.
Às vezes, pode haver uma linha tênue entre as duas coisas, mas essa linha está sempre lá. Há perigo tanto em fazer muitos elogios quanto em não elogiar de nenhuma forma. Já conheci pessoas que nunca elogiavam, porque tinham medo de que o elogio pudesse se transformar em orgulho naquele a quem era endereçado. O resultado era que a pessoa envolvida começava a pensar: “Não consigo fazer nada direito, porque, sempre que tento algo, tudo que recebo é crítica”. Esse não é o caminho de Deus, pois o caminho de Deus é nos encorajar. O “feedback” é necessário para que saibamos quando estamos fazendo certo e quando estamos fazendo errado. Por outro lado, é igualmente verdade que Deus quer desviar o foco de mim mesmo, para que eu esteja ocupado em agradar a Ele. Quando fazemos qualquer coisa para agradar ao Senhor, é apenas porque o que Ele nos deu está se manifestando em nossa vida. Eu gostei de um comentário que uma irmã em Cristo mais velha me fez alguns anos atrás: “Um pequeno elogio para te levantar, mas não o suficiente para te ensoberbecer”. Ela expressou muito bem o que a Palavra de Deus ensina.
Alguém recentemente me entregou um folheto da Care Lines do mês de agosto de 1991, e a mensagem se relaciona muito com nosso assunto. O versículo citado foi: “não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus” (2 Co 3:5). Então o comentário foi o seguinte:
“Autoconfiança no sentido de que eu posso fazer qualquer coisa porque eu sou bom não é um pensamento fundamentado na Escritura. A confiança em Deus, porque Cristo me dá exatamente o que eu preciso para usar para Ele e Sua glória, é a forma como nossa confiança deve ser. Ela não está em nós mesmos, mas em Deus. Ele é a Fonte que nos dá o dom e o poder para realizar as coisas; não nós. Jesus é Aquele que morreu para purificar os nossos pecados; nós não. Cristo ressuscitou dos mortos no terceiro dia; nós não. Certifiquemo-nos de que os outros vejam que nossa confiança é realmente confiança em Deus e que eu, como pessoa, não confio em mim mesmo.”
O orgulho é sempre falado de forma negativa na Palavra de Deus, e é sempre condenado; a confiança é quase sempre mencionada como uma coisa positiva, porque é a confiança em Deus que está em vista. Falaremos mais sobre isso mais adiante!
Bill Prost
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