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Revista mensal publicada originalmente em dezembro/2020 pela pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
W. Kelly (adaptado)
R. Beacon (adaptado)
D. C. Buchanan
J. N. Darby (adaptado)
D. C. Buchanan
J. N. Darby
F. B. Hole (adaptado)
W. J. Prost
J. L. Harris
W. J. Prost
W. Kelly (adaptado)
J. N. Darby
R. Beacon
W. Lavington
Autor desconhecido
Semelhanças do Reino
A expressão “reino dos céus” provém do Velho Testamento e aparece apenas em Mateus – o evangelho do Rei. Nosso evangelista escreve tendo em vista Israel e, portanto, lança mão de uma frase que é tirada da profecia de Daniel, que fala dos dias vindouros em que os céus deveriam reinar. Antes disso (Dn 2), ouvimos que o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído – o reino dos céus. Há um Homem glorioso a Quem o governo do céu será confiado. O Filho do Homem não destruirá simplesmente o que se opõe a Deus, mas introduzirá um reino universal. A rejeição de Jesus pelos judeus levou à forma dupla assumida pelo reino dos céus. Enquanto a antiga visão de um reino estabelecido por poder e glória, como uma visível soberania sobre a Terra, é adiada, a rejeição de Jesus na Terra e Sua ascensão à mão direita de Deus levam à introdução do reino dos céus de uma forma misteriosa – o que, de fato, está acontecendo agora. Assim ele tem dois aspectos. Quando Cristo subiu ao céu e tomou Seu lugar ali como o Homem rejeitado, mas glorificado, o reino dos céus começou. O Senhor diferenciou o reino dos céus, de sua forma publicamente manifesta, com aquele reino aberto apenas à fé – mais abençoado sendo conhecido por fé do que por vista. Nunca houve tempo nos caminhos de Deus tão abençoados para uma alma quanto os caminhos de Deus agora.
W. Kelly (adaptado)
O Propósito de Deus e os Caminhos Morais Atuais
Graça e fé são as características da atual dispensação. Mas Mateus 13 dá a história. Ela começou em graça soberana, mas porque era graça, o homem a desprezou, e isso termina em julgamento. A fé foi o substituto da lei, mas o homem tornou-se mais firme na incredulidade do que antes e aumentou sua condenação. É verdade que Satanás primeiro teve que trazer seu próprio material para dentro da esfera do reino, e o homem descuidado logo deu a oportunidade. Os homens dormiram e o diabo semeou joio, que dá caráter a todo o campo, e a colheita aparece externamente como uma colheita de joio. Assim, o julgamento é o fim público do campo onde a boa semente foi semeada. Terrível é a perversão do bem dado, quando Aquele que deu em graça é obrigado a julgar o lugar que a recebeu. A autoridade da Palavra foi usada para abrigar os pássaros do ar, e a verdade da Palavra fermentada com corrupção.
O melhor se torna o pior
Satanás foi frustrado em sua tentativa de desviar o Rei de Sua senda divina, mas ele conseguiu desviar os servos, e assim a concessão do maior e melhor dom de Deus foi a ocasião para o desenvolvimento do pior mal. Infelizmente, o homem sob as responsabilidades que decorrem desta dispensação da graça tem feito pior do que durante a da lei. A impiedade de Israel fez com que os pagãos blasfemassem o nome de Jeová, mas agora, dentro da esfera da profissão Cristã, uma coisa pior é encontrada. O judeu sempre professou reverência pela lei, embora na prática a desobedecesse. O que vemos agora nas chamadas terras Cristãs? A Palavra de Deus é considerada por alguns como nada mais do que um mito, classificada com as lendas do paganismo. Por outros, o Senhor é falado como um homem bom, embora equivocado, estimado como um herói que realmente desejou elevar o homem moralmente, mas que permitiu que Seus discípulos acreditassem e propagassem uma mentira para realizar o fim que Ele tinha em vista. Ele é visto como um entusiasta que preferiu morrer a retirar Suas pretensões. A literatura atual está repleta de escritos que contêm essa horrível doutrina, uma blasfêmia tão absurda quanto repulsiva.
Apesar do espírito da graça
Isso também não se limita a escritores que são infiéis declarados, pois a verdade da Palavra é minada, se não abertamente negada, por aqueles que assumem o lugar de serem mestres teológicos. Todos esses livros, escritos por mestres traiçoeiros, são muito mais perniciosos e perigosos do que a grosseira infidelidade dos séculos anteriores. Uma característica distintiva dos dias atuais é que toda sombra de pensamento infiel tem seu representante e mestre. O ateísmo é tornado a estrutura da ciência e ensinado em seus covis e, sendo exaltado à categoria de ciência, é aplicado como um corretor da Palavra de Deus. Ele não se detém nas coisas materiais, mas entra com ousadia no domínio moral e ousa julgar o que Deus deve ser e o que não deve ser; decide quanto – ou melhor, quão pouco – da criação pertence a Deus e quanto pertence à "evolução". Isso não se limita aos poucos “científicos”; é popularizado, e as massas, inclinadas por natureza a dizer “não há Deus”, aceitam prontamente os ditames do ateísmo e do materialismo. Deus suporta tudo isso, pois o dia presente é de salvação, não de julgamento, e Sua longanimidade é a prova. A impiedade humana tornou a paciência de Deus um meio de condenação mais profunda. Se “Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano (ou comum) o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10:28-29).
O reino dos céus é o governo de Cristo do céu sobre este mundo. Mas como Cristo reina quando Ele é rejeitado? Os princípios do reino foram revelados ao homem em graça, e depois que o homem expulsou o Rei, ele usou Seu nome e a própria autoridade subjugadora pertencente ao reino para estabelecer um sistema para si mesmo, onde o nome do Rei é livremente usado, mas Seus direitos praticamente ignorados. Em vez da justiça reinando, toda a pior corrupção da natureza é dominante; o nome de Cristo pode estar nos lábios, mas a verdade de Cristo em Seu poder vivificante é em grande parte desconhecida. Portanto, o tempo presente revela os mistérios do reino dos céus.
Segredos do reino
Um reino na Terra como o cenário do poder e da glória de Cristo não era segredo; isso foi abundante e claramente predito pelos profetas. Judeus piedosos estavam esperando por isso, regozijando-se na esperança disso. Além disso, foi predito, embora talvez imperfeitamente apreendido, que o futuro Rei seria desprezado e rejeitado, ferido na casa de Seus amigos, avaliado em trinta moedas de prata - o preço de um escravo. Mas não foi revelado que o Rei deveria estar quase vinte séculos ausente, e que durante Sua ausência os homens iriam arrogar a si mesmos Sua autoridade e usá-la para estabelecer o poder humano. Menos ainda foi revelado pelos profetas que a rejeição de seu Rei pelos judeus deveria ser, na sabedoria de Deus, a ocasião para o chamado de um povo para uma porção celestial, que, enquanto aqui passando por um caminho de predestinado sofrimento, teria “esperança em Cristo” por uma porção celestial (1 Co 15:19). São essas duas coisas que vemos agora – a ausência do Senhor da cena de Sua glória futura, e a obra oculta pela qual Ele assegura para Si um povo que, apesar do sofrimento, está destinado a uma glória maior do que a gloria terrenal do reino (2 Co 4:17). Estes são alguns dos segredos – as coisas até então não reveladas sobre o reino dos céus.
O controle do Senhor sobre o mal
Em Mateus 13, todos, exceto a primeira parábola, são os mistérios – segredos – do reino. O campo de joio dá o fato de que, onde a boa semente foi semeada, o diabo semeou o joio, que ambos crescem até o fim e depois vem o julgamento. O aspecto ou forma do mal e seu caráter moral são dados na parábola da mostarda e no fermento. A primeira semelhança – o semeador – é a história mostrada em figura, mas perfeita e completa em sua brevidade, como só a sabedoria divina poderia dar. Tão logo Satanás viu uma nova esfera de bênçãos aberta para o homem perdido, apressou-se em arruiná-la. Assim como ele fez quando a bênção da criação e a felicidade foram colocadas nas mãos do homem, agora ele procura afastar do homem as bênçãos da redenção. Ele estragou a criação (embora apenas por um tempo), mas a bênção da redenção repousa sobre um fundamento que nem todo o seu poder pode tocar. As inundações do mal podem se enfurecer e aumentar muito mais sob uma dispensação da graça do que quando a lei ameaçava do Sinai; a astúcia e o poder de Satanás podem ter agora um campo mais amplo para manifestação, mas tudo isso apenas prova quão firme e invencível é a Rocha contra a Qual as ondas mais poderosas do mal satânico e humano se lançam em vão. É assim que o Senhor reina agora, controlando o mal de Satanás e do homem por um poder secreto, que somente a fé pode reconhecer. Outros segredos são trazidos à luz pela árvore e pelo fermento que mostram a malignidade do joio em sua dupla forma – poder mundano e corrupção doutrinária.
A profecia havia anunciado os dias em que o Deus do céu levantaria um reino que deveria subjugar todos os outros reinos e encher toda a Terra, mas nunca foi predito que os homens estabeleceriam um poder para sua própria glória e diriam que era o reino que Deus havia anunciado. Também é dito que a justiça caracterizará o reino, mas era um segredo que, antes de seu estabelecimento, um poder injusto prevaleceria, dando abrigo aos emissários de Satanás como os galhos de uma grande árvore aos pássaros do ar; que tal cena do mal, por meio da perversão da verdade, seria apresentada dentro da esfera chamada Cristandade, e que o credo permearia a massa como fermento em três medidas de farinha. Grandeza externa e corrupção interna! Verdadeiramente, mistérios do reino dos céus.
Julgamento
O julgamento é o único final adequado. O Senhor do campo é compelido a enviar os executores de Sua ira sobre o mundo culpado e corrupto, e os anjos, como ceifeiros no campo da colheita, atam o joio em feixes para o fogo. Os anjos “colherão do Seu Reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniquidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes. Então, os justos resplandecerão como o Sol, no reino de seu Pai” (Mt 13:41-43).
R. Beacon (adaptado)
A Parábola do Semeador
As parábolas do reino dos céus encontradas em Mateus nos dão uma visão do tempo presente quando nosso Senhor Jesus Cristo, o Rei, está no céu e Seu reino está na Terra. O “reino dos céus” é um termo territorial; refere-se à esfera na Terra onde há o reconhecimento exterior da autoridade do céu durante o tempo presente. O reino dos céus está dentro do escopo do reino de Deus (veja Lucas 19:12). Tal como o reino dos céus, o reino de Deus foi anunciado como estando próximo por João Batista e foi revelado pelo Senhor Jesus, mas como sabemos, o legítimo Rei foi rejeitado. Então se tornou um reino em mistério. Nesta forma ele tem seu início na ascensão de Cristo. Quando o Senhor recolhe o trigo no celeiro, em Sua vinda, seu caráter é mudado e é chamado de “o reino de seu Pai” – o lado celestial do reino. O reino de Deus é um termo mais amplo; também foi anunciado por João Batista. Começou enquanto o Senhor ainda estava na Terra e continuará por todo o milênio até o estado eterno. A figura das duas primeiras parábolas em Mateus 13 é tirada de Levítico 23 sobre a colheita de grãos de cevada e trigo – a festa das primícias e a festa das semanas (Pentecostes). Essa figura de semear e colher grãos retrata como o evangelho é pregado e as almas entram no reino; então, na consumação deste mundo (ou na conclusão do século – JND), o Senhor colherá do campo (o mundo) Sua colheita celestial.
Figuras comuns
O Senhor Jesus introduz o assunto do reino dos céus com a parábola do semeador. A figura de duas das festas de Jeová é usada aqui porque essas duas festas descrevem profeticamente o mesmo tempo – os dias atuais quando o Senhor está reunindo um povo para o céu. O movimento do molho das primícias (Lv 23:10-12) estava ligado ao início da colheita de grãos. Representa a ressurreição do Senhor Jesus dentre os mortos como o início de uma nova colheita. A colheita de grãos continuou nas sete semanas seguintes até o Pentecostes, quando houve uma celebração diante do Senhor. A parábola do semeador em Mateus 13 se baseia nessa figura para descrever como as pessoas entram no reino dos céus. O reino como tal não poderia existir até que o Senhor tivesse ressuscitado dos mortos. Após Sua ressurreição, Ele ascendeu ao céu e o reino dos céus começou. Isso era desconhecido nos tempos do Velho Testamento, embora esteja oculto nas Escrituras nas figuras das festas de Jeová.
Sem datas mensais
A festa das primícias e o Pentecostes encontrados em Levítico 23 não têm datas mensais para sua observância. A razão para isso é que essas duas festas são proféticas do tempo presente, quando as coisas celestiais são a nossa esperança, em vez de tempos e estações terrenais. Essas são distintas das outras festas que são proféticas de eventos terrenais. Essas duas festas apresentam uma profecia da ressurreição do Senhor Jesus e a colheita para o céu que se segue. O ponto de referência dessas duas festas correspondia ao momento em que a cevada estava madura. Os israelitas não podiam comer o novo grão até que o molho das primícias fosse movido diante do Senhor pelo sacerdote. Foi uma figura profética da ressurreição do Senhor Jesus dentre os mortos. As duas primeiras parábolas em Mateus 13 expandem esse tema, começando com a semeadura da semente e continuando até a colheita. Durante o tempo presente desde que Cristo ascendeu ao céu, o reino dos céus está se formando aqui na Terra. Ele está reunindo pessoas em Seu reino. Todos os que professam conhecê-Lo entram no reino dos céus. No final desta era (ou século), a colheita será concluída. Mas, como vemos na seguinte parábola do trigo e do joio, muitos entram pela profissão feita. Eles são comparados ao joio; eles não são verdadeiros. Estes terão de ser separados do trigo. No final desta era, não entrarão no céu.
“Carne e sangue não podem herdar o reino de Deus”
Uma característica significativa da colheita do grão é que, quando o fruto amadurece, a planta morre; isso é distinto da colheita da videira ou da oliveira, onde a planta vive ano após ano. Quando o Senhor considerou Sua volta para o céu depois de terminar Seu ministério aqui na terra, Ele disse a Seus discípulos: “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”. (Jo 12:24) . Isso significava que, a menos que Ele morresse como o grão de trigo, Ele não poderia ter um povo Consigo mesmo no céu. O resultado de Sua morte e ressurreição é que Ele pode ter um povo Consigo mesmo no céu. Uma nova vida é necessária. Embora a “carne e sangue não podem herdar o reino de Deus” (1 Co 15:50), ao receber a palavra do evangelho podemos entrar no reino. Para que isso fosse possível, o Senhor como o grão de trigo caiu na terra e morreu. Agora pela mensagem do evangelho temos a oportunidade de receber esta nova vida. Com ela podemos entrar no céu, embora ainda nos falte a transformação do corpo. A boa semente é semeada no coração de homens e mulheres em todo o mundo, com vistas à colheita de grãos para o céu.
A parábola do Semeador
Quando o Senhor Jesus contou a parábola do semeador, foi diferente das mensagens anteriores. Em vez de buscar fruto no homem em seu estado natural, Ele ofereceu algo novo. Isso foi necessário por causa da falha do homem sob a lei. O Senhor começa Seu reino semeando a boa semente. A Palavra de Deus é a boa semente; a pregação da Palavra dá nova vida. Mas existem entraves para a reprodução deste fruto. A parábola do semeador lista quatro tipos de terreno onde a semente pode cair. A semente que caiu em boa terra produziu variadas quantidades de frutos. Mas a semente nos outros três casos falhou em produzir bons frutos. Algumas caíram “ao pé do caminho”, algumas em “pedregais” e outros “entre espinhos”. Esses três casos retratam o que acontece, no primeiro caso, quando Satanás, o inimigo, tira o que está semeado no coração; no segundo caso, o que acontece quando a carne é firme e não há arrependimento; e, no último caso, onde o mundo sufoca o crescimento espiritual.
Vida, crescimento e frutos
No evangelho de Marcos, junto com a parábola do semeador, há uma seção adicional que nos conta como a boa semente cresce e produz frutos, embora não seja percebida pelos observadores. “O Reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra, e dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como. Porque a terra por si mesma frutifica; primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga. E, quando já o fruto se mostra, mete-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa” (Mc 4:26-29). No crescimento e desenvolvimento da planta do trigo, existem três estágios: “a erva”, “a espiga” e “o grão cheio na espiga ”. Todos os três são necessários para a planta reproduzir frutos. As três fases correspondem à vida, crescimento e fruto. Todos os três são necessários para dar frutos e, portanto, a necessidade de estar atento contra os três obstáculos correspondentes à boa semente que produz frutos. Esses três obstáculos são o maligno, a carne e o mundo . O maligno tira a semente que dá vida, então não há vida. O segundo ataque é da carne de coração endurecido que impede o crescimento , e sem crescimento não pode durar. Terceiro, o mundo sufoca os frutos, as coisas da vida presente sufocam a Palavra e nenhum fruto é produzido. O Senhor deseja muito fruto, assim como todo bom agricultor trabalhará arduamente para produzir uma colheita abundante.
D. C. Buchanan
A Parábola do Semeador
É muito importante lembrarmos de que tudo aquilo que é o poder da morte no incrédulo é o obstáculo ao poder de produzir frutos na vida do crente. Isso é trazido à tona, com seu remédio específico, nesta parábola. É o caso das aves do céu, do terreno pedregoso, da semeadura entre os espinhos e da boa terra, trinta, sessenta e cem vezes mais. O primeiro deles é o poder de Satanás – o poder da morte. Quando a Palavra (o poder da vida) é semeada no coração não quebrantado, o diabo a tira assim que é semeada. O diabo trouxe a morte por uma mentira e mantém os homens nela; por outro lado, pela verdade de Deus somos vivificados.
Mas existe Um (Ele mesmo, o Verbo) que é especificamente o poder vivificador, sim, o Filho de Deus, “o último Adão, [é] espírito vivificante” (1 Co 15:45 – AIBB). O Filho do Homem semeia a semente, mas é o Filho de Deus Quem vivifica. “Para isto o Filho de Deus Se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (1 Jo 3:8). Ele declara a Si mesmo: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11:25), e com esse poder Ele ressuscita Lázaro dentre os mortos. Temos então o Filho de Deus, pela Palavra, destruindo as obras do diabo no poder da morte. Este é o primeiro tema da parábola.
O solo pedregoso
Mas há outro tema que é igualmente destrutivo - o recebimento da Palavra em terreno não profundo. Foi recebido superficialmente; surgiu rapidamente “porque não tinha terra funda” (Mt 13:5). Não houve qualquer processo profundo de exame próprio que tenha entrado na consciência e avivado o homem interior. A Palavra repousava nas afeições e no entendimento naturais, que são simplesmente a carne; ela é recebida apenas pelos sentimentos naturais e, portanto, imediatamente age com alegria. Uma vez que não atinge a consciência, os mesmos sentimentos naturais foram rapidamente influenciados por problemas e perseguições, e “logo se ofende [escandaliza – ARA]” (Mt 13:21). Isso tudo é apenas a carne e não produz nada. A isso sabemos quão invariavelmente o Espírito Se opõe – “A carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro” (Gl 5:17). Não precisamos multiplicar as passagens da Escritura para mostrar a oposição desses dois, mas temos aqui no Espírito o poder oposto que vence a carne, e assumindo que um homem tenha vida, ainda o faz. Este caso, no entanto, ainda é o homem natural, embora as afeições ou o intelecto possam ter sido encantados com o maravilhoso plano de redenção.
O solo espinhoso
Mas o mesmo ponto vale para um crente. Quando ele não anda no Espírito, ele é inútil e o seu estado é baixo. É na mortificação da carne pelo Espírito que os frutos do Espírito encontram crescimento comparativamente livre. Este, então, é o contraste aqui – a carne e o Espírito. A forma mais bela da carne, a recepção aparentemente alegre da Palavra, não produz nada.
O terceiro caso é igualmente claro. O poder impeditivo é declarado diretamente: “os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra” (Mt 13:22). O mundo e o amor a ele se opõem continuamente ao Pai. “Tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2:16). O ódio do mundo ao Filho mostrou que ele não era do Pai. Os filhos, ligados ao Pai, não eram deste mundo, assim como Cristo, o Filho, não era do mundo.
Todos os que estão familiarizados com o evangelho de João notaram a oposição entre o mundo e a filiação de Cristo. Nosso Senhor assim conclui toda a apresentação de Sua obra e Seu povo ao Pai: “Pai justo, o mundo não Te conheceu; mas Eu Te conheci, e estes conheceram que Tu Me enviaste a Mim” (Jo 17:25). Nós entendemos bem a oposição entre os dois. Mas no crente, que reconhece imediatamente o mal da carne, quantas vezes encontramos o mundo segurando um poder prevalecente e um título reconhecido sobre o julgamento ou hábito, e a frutificação, comparativamente falando, totalmente estragada!
Vamos, então, reconhecer pela Escritura que o mundo é um obstáculo positivo à frutificação - o “muito fruto” no qual o Pai é glorificado. Por esta simples razão, nossa filiação, nossa herança, o reino, muitas vezes não são reconhecidos. O diabo, que age sobre nós pela carne, é o deus e príncipe deste mundo; em contraste, o Espírito naqueles que são vivificados, onde não é ofuscado pelo espírito deste mundo, testifica que somos filhos e herdeiros. Assim, em liberdade, clamamos por meio dela, Abba, Pai, e os frutos são a cem por um. A energia do reino está lá e, portanto, mortos para o mundo, temos poder sobre ele.
O diabo, o mundo e a carne
Sobre a explicação da parábola, eu diria mais algumas palavras. A inseparabilidade dos males não está em questão; o diabo, o mundo e a carne estão intimamente associados. Do Pai, do Filho e do Espírito não preciso falar, mas não devemos esquecer Sua unidade em cada ato, seja da criação ou de qualquer outra coisa. Eles agem invariavelmente em Um e invariavelmente na mesma ordem; isto é, pelo Filho, por meio da energia do Espírito.
Outra observação é necessária. Embora tenhamos visto o amor ao mundo como um impedimento à plena frutificação dos filhos de Deus, devemos lembrar de que esse conhecimento, em princípio, é a posição de todo crente. “Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai” (1 Jo 2:13 – ARA). Caso contrário, não poderíamos colocar todos os crentes sob esta responsabilidade. Mas será visto que a medida da frutificação da vida depende muito de seu exercício nas verdades que observamos aqui. A apreensão do Pai no pleno desenvolvimento da glória da Filiação atribui um caráter totalmente novo a todo o curso da vida do Cristão. Este é o nosso chamado peculiar, e uma apreensão defeituosa do princípio da glória celestial em algum ponto irá diminuir a eficiência do serviço Cristão. Ao mesmo tempo, apreciamos o Filho por administrar o poder do reino contra “o iníquo”; o Espírito, como vencedor do poder enganoso da carne, e o Pai em contraste com o amor do mundo. A plenitude de tudo estava em nosso Senhor. A plenitude de toda ajuda deve ser encontrada no Pai, Filho e Espírito Santo, e é nossa responsabilidade prática aproveitar essa ajuda. Ao mesmo tempo; o gozo da comunhão com Eles é nosso abençoado privilégio.
Negligência de poder
O Cristianismo mal proposto brota continuamente do poder de Satanás, por meio da negligência do poder especial de Uma ou Outra das Pessoas da Divindade, enquanto a indulgência de qualquer um dos males pode nos lançar nas mãos de Satanás. Aqui está a sabedoria de ministrar às almas doentes, pois a fonte do mal pode ser uma; sua manifestação pode ser outra. Um crente será saudável e forte contra o inimigo, na medida em que tiver reverência a todas as Pessoas da Divindade.
O crente fará progresso espiritual ao conhecer o Pai e o Filho por meio do Espírito, e a manifestação do poder e da glória da obra d’Eles se revelará gradualmente. A vivificação pelo Filho fará o crente discernir bem as operações do Espírito contra a carne, e ambas encontram seu pleno desenvolvimento na manifestação da glória do Pai, na consciência de que Seu reino não é deste mundo.
O Espírito de obediência
Sinto também, ao falar assim, que estou pisando em terreno santo, mas terreno que nosso Deus em Sua misericórdia nos abriu e no qual devemos caminhar. Lembremos também de que a indulgência com um desses males aparentemente remotos traz o poder dos outros, pois Deus não está ali. Assim, a indulgência de Salomão com o mundo trouxe a indulgência da carne, e a consequência foi o poder direto de Satanás na adoração idólatra de suas esposas. Só mais uma coisa que é importante comentar. Não é por especulação ou conhecimento que essas coisas são obtidas, embora sejam ministradas. Em vez disso, somos santificados “para a obediência” (1 Pe 1:2). O Espírito de obediência é o grande segredo de todas as bênçãos presentes e práticas do crente, pois o Espírito não é entristecido, e assim Se torna o ministro da graça e do conhecimento tanto do Pai quanto do Filho. O crente mais pobre e simples, caminhando assim, desfruta das bênçãos da fidelidade prometida tanto do Pai, como do Senhor e do Espírito, aos benditos propósitos de amor em que estamos e da glória divina.
J. N. Darby (adaptado)
A Semelhança do Trigo e do Joio
Mateus 13:24-43
A parábola do trigo e do joio é a primeira “semelhança” do reino dos céus. Esta “semelhança” é uma parábola que conta como é o reino dos céus. Deus usa, como na parábola do semeador, a figura de semear e colher grãos para nos ensinar sobre o Seu reino. Nesta parábola, a boa semente foi semeada no campo, mas o inimigo sutilmente semeou a má semente no campo. “O inimigo que o semeou é o diabo”. Estes são chamados de joio; eles representam aqueles que não são verdadeiros crentes, pois não produzem bons frutos. Quando o joio aparece pela primeira vez, eles se parecem com o trigo, mas mais tarde no ciclo de crescimento é mais fácil detectar a diferença. Depois que o joio apareceu, os servos sugeriram que seria bom removê-lo. No entanto, podemos considerar que, se alguém falhou em estar vigilante para impedir que o inimigo semeasse o joio, seria ele melhor em remover o joio do trigo? Não, havia o perigo de danificar o trigo ao arrancar o joio. O Senhor sabia disso, e a história confirma que os homens não são bons em distinguir o verdadeiro do falso. Os servos foram instruídos a deixar os dois crescerem juntos até a colheita. O Senhor tinha um bom propósito ao permitir que o joio crescesse com o trigo. É indicado na parábola do tesouro escondido no campo. Deus tem um tesouro escondido neste mundo – os filhos do reino. Visto que Cristo foi rejeitado e expulso do mundo, Ele não poderia ter Seu reino na Terra. Então, Deus escolheu levar para Si um povo da Terra para o céu. Seu tesouro são os filhos do reino; eles estão escondidos no mundo, embora à plena vista. O joio se finge de trigo. Quando o reino estiver completo na consumação do século, Ele levará Seu tesouro para o céu. Os filhos do reino têm uma porção celestial do reinado com Cristo sobre a Terra. As pessoas deste mundo não percebem o que está acontecendo.
O processo de separação
Nesta parábola, retratamos uma série interessante de eventos finais. Na época da colheita, o primeiro evento a acontecer são os ceifeiros recolhendo o joio em feixes no campo. “O campo é o mundo”. Os feixes de joio são deixados no campo para serem queimados posteriormente. O Senhor usa anjos para fazer esse trabalho. “Os ceifeiros são os anjos”. Então o trigo é recolhido no celeiro. “A boa semente são os filhos do reino”. Depois que o trigo é recolhido no celeiro, o joio é queimado. “O joio são os filhos do maligno”. E, finalmente, “então os justos brilharão como o Sol no reino de seu Pai”. A casa do Pai é o destino daqueles que fazem parte do reino celestial.
Atando os feixes
“Os ceifeiros são os anjos”. Parece-me que estamos perto o suficiente da vinda do Senhor para ver que os ceifeiros estão começando a juntar o joio em feixes dentro da esfera da profissão Cristã. Nos últimos anos, sob a bandeira do Cristianismo, muitas novas organizações ditas Cristãs estão atraindo pessoas para falsos cultos, organizações de adoração mundana, milagres mentirosos e outras ideologias que têm “aparência de piedade, mas negando a eficácia dela” (2 Tm 3:5). Por artifício humano, esses grupos atraem as pessoas para que sigam sua causa, em vez da causa de Cristo. Pode ser possível que verdadeiros crentes estejam ligados a esses cultos, mas se estiverem, serão removidos deles quando o Senhor vier. Que todos os verdadeiros crentes tomem cuidado ao se juntar a tais grupos. Esses grupos são os feixes que ficarão no mundo depois que o Senhor levar os Seus para casa.
O trigo
Nas Escrituras, o trigo está sempre relacionado com as coisas celestiais. O Senhor falou de Si mesmo como o grão de trigo que deve cair na terra e morrer para ter um povo no céu com Ele. A colheita do trigo desta parábola desenvolve este tema. O trigo é recolhido no celeiro. No arrebatamento, o Senhor levará Seu povo para o céu, assim como Ele orou por todos aqueles que creriam n’Ele por meio da palavra dos discípulos em João 17:20. Então, no versículo 24, Ele acrescentou este pedido: “Pai, aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam Comigo, para que vejam a Minha glória que Me deste”. E em João 14:2-3 Ele disse: “Na casa de Meu Pai há muitas moradas ... vou preparar-vos lugar. E, se Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também”. Mais detalhes da vinda do Senhor nos são revelados em 1 Tessalonicenses 4:16-17 e 1 Coríntios 15.
A queima do joio
Depois que o trigo for recolhido no celeiro, que é a parte celestial do reino, o Senhor, como Filho do Homem, enviará Seus anjos para queimar o joio. Eles são os falsos professantes do Cristianismo que ainda estarão na Terra depois que o Senhor vier. Eles, estando ainda na Terra, serão “colhidos de Seu reino” como os que ofendem; qualquer reivindicação que eles façam de ser parte de Seu reino terrenal não subsistirá. É por isso que é tão importante distinguir o chamado celestial da Igreja. Aqueles que buscam um reino na Terra com o Senhor estão sujeitos a cair no laço dos feixes de joio. Visto que o privilégio de entrar nas coisas celestiais é tão grande, o julgamento pelo abuso dele também é severo. “Ali haverá choro e ranger de dentes”.
Festa das Semanas
Voltando por um momento à festa das Semanas (Pentecostes), quando todo o Israel subia a Jerusalém para a celebração da colheita de grãos, vemos uma figura comum com a colheita de grãos da parábola do trigo e do joio. Durante o período de sete semanas, o grão era recolhido. Então, na festa das Semanas (Pentecostes), todos subiam a Jerusalém perante o Senhor para uma celebração. A celebração consistia em mover dois pães cozidos com fermento perante o Senhor Jeová. Esses dois pães representam os santos celestiais apresentados diante de Deus. Os pães, juntamente com as respectivas ofertas pelo pecado e sacrifícios de cheiro suave, são apresentados perante Deus. Embora tenham fermento neles, os sacrifícios que os acompanham os tornam aceitáveis a Ele. Esta é também uma figura do que acontecerá no arrebatamento quando os mortos em Cristo e os crentes vivos forem apresentados ao Senhor, como 1 Coríntios 15:23 afirma: “Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo na Sua vinda”. Naquela época, eles serão levados para o céu, para serem perfeitamente semelhantes a Cristo. O Arrebatamento dos vivos e mortos não foi revelado até que Cristo ascendeu como Homem ao céu, mas aqui os vemos sendo apresentados ao Senhor. Um comentário vem à mente sobre o que apresentamos nesta figura. É assim: “Deus encontrou tal deleite em Seu Filho Jesus Cristo que Ele queria muitos mais como Ele”. Os dois pães de Pentecostes movidos diante do Senhor são o resultado do grão de trigo caindo na terra. Cristo tem Seu povo no céu com Ele mesmo. Que dia que será esse!
O justo resplandece
A explicação da parábola do trigo e do joio termina com a expressão: “Então os justos resplandecerão como o Sol no reino de seu Pai” (Mt 13:43). Os santos no céu se regozijarão no relacionamento com seu Pai. Estes são os que entraram no reino dos céus enquanto estavam na Terra, mas agora estão no céu, então a terminologia mudou. Não é mais chamado de “reino dos céus”; é chamado de “o reino de seu Pai”. Eles estão com Cristo na casa do Pai brilhando como o Sol – testemunhas de Sua glória. Que o Senhor nos encoraje a continuar fiéis a Ele até o momento em que estivermos com Ele em Sua vinda!
D. C. Buchanan
Satanás Semeia Maldade
Na parábola do joio, Cristo veio ao mundo e semeou o trigo; o diabo semeou joio. Isso não é simplesmente homens não convertidos, mas a operação de Satanás para prejudicar e estragar a obra de Deus. Houve homens não convertidos antes da vinda de Cristo, e Satanás apresentou tentação adequada ao orgulho, cobiça e presunção do homem para guiá-los a seus princípios; este é o homem sábio do mundo. Mas há outra coisa agora. Satanás vem para introduzir o mal onde Deus introduziu o bem.
J. N. Darby
Uma Aparente Contradição
“Deixai crescer ambos juntos até a colheita” (Mt 13:30).
“Saí do meio deles, e apartai-vos” (2 Co 6:17).
Estamos bem seguros de que realmente não há contradições na Palavra de Deus, embora haja passagens que apresentem uma aparência contraditória ao leitor superficial. Em uma inspeção mais próxima, entretanto, a contradição desaparece e algumas ricas instruções espirituais vêm à tona. Um caso em questão é fornecido pelas duas Escrituras mencionadas acima.
Em Mateus 13, toda tentativa por parte dos servos da parábola de separar o trigo do joio, arrancando o último, é proibida – o trigo representando “os filhos do reino”, e o joio, “os filhos do maligno”. Em 2 Coríntios 6, uma separação entre o crente e o incrédulo é estritamente ordenada. Certamente parece haver uma contradição aqui.
Não se pode afirmar que diferentes épocas são contempladas nas duas passagens e que a solução do problema reside nisso. A parábola do joio no campo mostra como o reino dos céus em sua forma atual assumiu seu caráter de muita mistura, que será encerrado com a vinda do Senhor. Isso mostra que a mistura deve persistir ao longo do período atual. As instruções de Paulo quanto à separação são válidas exatamente pelo mesmo período. Ambas as passagens se aplicam à época atual em que vivemos.
O Reino e a Igreja
Notamos, no entanto, que é o reino dos céus que é comparado a essa emaranhada mistura de trigo e joio no campo, enquanto a instrução para sair e se separar dos incrédulos é dirigida à “igreja de Deus que está em Corinto”. Há uma diferença aqui.
O reino dos céus obviamente não é o céu, mas sim aquela esfera na Terra onde o governo do céu é reconhecido. Todos aqueles que professam e se chamam Cristãos professam estar sob a autoridade do Senhor que tomou assento nos céus. Nessa parábola, “o campo” é explicado pelo Senhor como sendo “o mundo”, e é pela semeadura da boa semente no mundo que os filhos do reino foram gerados. Pela semeadura de joio do inimigo neste mesmo campo, os filhos do maligno foram produzidos. Todos estão no mesmo mundo e completamente misturados, especialmente naquelas partes que podemos chamar de Cristandade.
A remoção do joio
Agora, esta parábola deixa bem claro que não é tarefa dos servos do Senhor hoje tentar desembaraçar os filhos do maligno e tirá-los do mundo. Eles serão desembaraçados dos filhos do reino e eliminados quando o Filho do Homem vier e inaugurar a era do Reino manifestado em poder, e a obra será feita por anjos e não por homens. Eliminar o mal da Cristandade não é tarefa nossa.
Muitos Cristãos se apegam à ideia de que à igreja foi confiada a missão de converter o mundo; que o evangelho Cristão, complementado pela educação e influência cristãs, reduzirá o joio e finalmente o eliminará, e assim o Milênio será introduzido. Não há suporte para essa ideia na parábola, mas exatamente o contrário. A sugestão feita pelos servos do pai de família era que eles deveriam arrancar o joio do campo, mas ele proibiu expressamente isso. Ele viu que lhes faltava o discernimento e a habilidade necessários, e que seus esforços resultariam tanto em arrancar o trigo quanto em arrancar o joio.
A inquisição
Havia uma advertência profética nisso. Temos apenas que ler um pouco de história para saber quais esforços foram feitos; principalmente pelo grande sistema papal, mas também por outros, para erradicar o joio do campo – em outras palavras, para eliminar os “hereges” da Cristandade. Em nenhum país o papado foi mais bem-sucedido nessa obra do que na Espanha. Eles empilharam os feixes de lenha ao redor dos “hereges” e os queimaram aos montes, chamando a ocasião solene de “auto-de-fe”, que significa “um ato de fé”. A ironia disso tudo é que eles estavam na verdade destruindo aqueles que realmente tinham fé. A Inquisição terminou com o sentimento triunfante de que haviam arrancado todo o “joio” da terra, quando na realidade haviam arrancado todas as folhas visíveis de “trigo”.
Portanto, um breve resumo da parábola do joio do campo seria o seguinte: enquanto o reino dos céus persiste em sua forma atual, os servos humanos são proibidos de tentar corrigir a situação arrancando do mundo os filhos do maligno.
Comunhão com os incrédulos
Mas em 2 Coríntios 6 a Igreja está em vista e não o reino. Aqueles que são membros de Cristo e de Seu corpo não são instruídos a erradicar os ímpios da Terra. No entanto, eles são instruídos a se separarem no que diz respeito a toda “comunhão” com os ímpios. Embora não sejamos chamados a corrigir as coisas no grande “campo” do “mundo”, somos chamados a deixar uma forte linha de demarcação existir e ser muito visível entre nós e o mundo. A verdade aqui não é contraditória a Mateus 13, mas complementar a essa passagem.
Não devemos estar “em jugo desigual com os incrédulos”. A palavra “desigualmente” pode ser traduzida com mais precisão como “diversamente”. É uma alusão a Deuteronômio 22:10, onde é proibido arar com animais como um boi e um jumento juntos. Eles são diversos em natureza e, portanto, completamente diferentes em hábitos e marcha. Seria um total desajuste e acarretaria sofrimento para ambos os animais. Agora há uma diversidade fundamental de natureza entre o crente e o incrédulo, que proíbe qualquer coisa como um jugo entre eles. É claro que nos movemos entre os incrédulos e temos muito contato com eles em nossos chamados diários e, muitas vezes, até mesmo em casa. Somos chamados a nos comportar com a maior graça e deixar nossa luz brilhar diante deles. Mas não devemos nos unir a eles.
Jugos desiguais
A pergunta pode ser feita: o que exatamente constitui um jugo? Os versículos de 2 Coríntios 6:14-16, contendo uma série de perguntas, ajudam a responder a isso “Que sociedade … que comunhão … que concórdia … que parte … que consenso?”Estas cinco palavras mostram que tipo de coisa é proibida. Além disso, eles são seguidos pela instrução positiva de “sair … se apartar … não toqueis o imundo” – três outras palavras que reforçam as cinco questões. Não devemos nos envolver em nenhuma comunhão ou parceria que nos colocaria sob o jugo de incrédulos e nos comprometeria com as coisas impuras com as quais o mundo deles está cheio. Sem dúvida, o casamento é um jugo desse tipo, e a parceria comercial é outro; outras coisas também estão sob o escopo desta palavra. Repetidas vezes temos que nos perguntar quando nos propõem compromissos: Isso me envolverá em um jugo desigual?
Muitos Cristãos piedosos tiveram que sofrer com suas perspectivas mundanas porque obedeceram a essa Escritura. Ele talvez pudesse ter ganhado muito mais dinheiro se tivesse consentido em ser sócio de algum homem ímpio e participar de seus empreendimentos. Isso é exatamente o que contemplam as palavras finais do capítulo. Podemos ser perdedores quanto às coisas do mundo, mas no final não perderemos, pois o Senhor Deus Todo-Poderoso nos acolherá e será nosso Pai de uma maneira muito real. Podemos sempre confiar n’Ele.
Em conexão com isso, Escrituras como 1 Coríntios 5:13 e 2 Timóteo 2:19-21 têm seu lugar. Ambas mostram que o mal flagrante – seja moral ou doutrinário – não deve ser aceito na Igreja de Deus. Não só deve haver uma linha clara de separação entre os santos e o mundo, mas o mal dos tipos mencionados nessas duas passagens não deve ter lugar no meio deles. E isso é ainda mais urgente e importante porque nos encontramos em meio a um estado tão misto de coisas no mundo. Justamente porque não podemos erradicar o joio do campo do mundo, é muito importante manter a linha de separação, que é garantida e ordenada pela Escritura.
Compreendidas corretamente, então, as duas passagens, citadas no início, apoiam-se e reforçam-se mutuamente.
F. B. Hole (adaptado)
Fermento
Na terceira semelhança do reino dos céus, temos outro aspecto negativo da responsabilidade do homem apresentado a nós, mas desta vez o agressor é retratado como uma mulher.
“Outra parábola lhes disse: O Reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado” (Mt 13:33).
O fermento na Escritura fala do mal e, especialmente, da sutil operação do pecado; isso é consistente em toda a Palavra de Deus. Nas festas de Jeová em Israel, a festa dos pães asmos seguia-se imediatamente à Páscoa. Durante toda a semana da festa, não só não deviam comer pão levedado, como também não deveria haver fermento em suas casas (Êx 12:15, 19). Da mesma forma, nenhum fermento deveria ser oferecido com qualquer sacrifício (Êx 34:35). No Novo Testamento, Paulo usa a mesma figura para descrever a operação do mal moral (1 Co 5:6) e do mal doutrinário (Gl 5:9). Muitas outras Escrituras poderiam ser mencionadas para mostrar claramente que o fermento é infalivelmente uma figura do mal na Palavra de Deus.
Mal traiçoeiro
Aqui, então, temos uma mulher introduzindo o que é mau em “três medidas de farinha”. A mulher na Escritura retrata algo muito abençoado ou muito mau, dependendo do contexto. O fato de uma mulher fazer isso fala daquilo que é feito em segredo – aquilo que trabalha de forma traiçoeira. O que o homem faz é em público; o que a mulher faz é em segredo. Satanás às vezes faz seu trabalho maligno publicamente, mas outras coisas ele faz em segredo, para que os homens não percebam. A disseminação da má doutrina e prática na profissão do Cristianismo ocorreu nesse caráter – lentamente, durante um período de tempo, de modo que seus efeitos não foram notados imediatamente. Sem dúvida, havia pessoas fiéis que viam o mal e falavam contra ele, mas, de modo geral, o mau ensino foi introduzido lentamente até que o fermento se espalhou amplamente. Então foi tolerado e finalmente aceito.
Cristianismo corrupto
Quando lemos a frase “até que tudo esteja levedado”, isso não significa que tudo na Cristandade foi completamente estragado. Se assim fosse, nada restaria senão a mera profissão, caracterizada pela má doutrina e prática. Em vez disso, significa que onde quer que haja uma profissão de Cristianismo, a doutrina e a prática do mal podem ser encontradas, pois Satanás foi esperto o suficiente para espalhá-la por todo o reino dos céus. Para o observador casual, a Cristandade parece totalmente fermentada. Infelizmente, esta condição de coisas afastou muitos do Cristianismo. Mohandas Gandhi, o pai da Índia moderna, teria dito: “Se os Cristãos realmente vivessem de acordo com os ensinamentos de Cristo, conforme encontrados na Bíblia, toda a Índia seria Cristã hoje”. Em sua História da Civilização na Europa , Guizot observa: “Nenhuma sociedade jamais fez tantos esforços quanto a igreja Cristã, do quinto ao décimo século, para estender sua esfera e suavizar o mundo externo à sua própria semelhança”. Este foi o processo de fermentação acontecendo sob a mão da “mulher”, pois foi a disseminação do Cristianismo corrupto. Quando o impulso principal é o desejo de estender a influência, a própria doutrina não permanece sã. Assim, em toda a Cristandade, a judaização sistemática tornou-se a regra, muitas vezes acomodando ritos e práticas pagãs, e tudo para agradar a multidão e facilitar sua assim chamada conversão. Embora isso certamente não seja desculpa para aqueles que rejeitam a Cristo, nós, Cristãos, devemos nos envergonhar desse mau testemunho.
Podemos ser gratos por aqueles que, caminhando com o Senhor, reconheceram claramente esta condição de coisas e se separaram dela. Mas permanece o fato de que, no sentido que descrevemos, tudo foi fermentado. Em um dia vindouro, depois que o Senhor vier e levar cada verdadeiro crente para casa para estar com Ele, não restará nada além de uma profissão vazia. Nesse momento, em sentido absoluto, tudo será fermentado, pois não haverá mais realidade.
As três medidas de farinha
Mas o aspecto mais grave de tudo isso é o fato de que o fermento foi introduzido em “três medidas de farinha”. A farinha na Escritura fala de Cristo, e especialmente de Sua Humanidade perfeita, enquanto ainda retém tudo o que pertence à Sua divindade. “n’Ele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9). Isso é apresentado em figura na oferta de manjares, onde Cristo em Humanidade é tipificado pela farinha fina que deveria ser oferecida como um “cheiro suave ao Senhor”. A mesma figura é usada no tempo de Eliseu, quando ele e os filhos dos profetas preparavam um caldo. Quando alguém colheu coloquíntidas, que eram venenosas, e as cortou na panela, o remédio de Eliseu era: “Trazei, pois, farinha. E deitou-a na panela ... e não havia mal nenhum na panela” (2 Rs 4:41). Assim, o antídoto para a má doutrina (retratada na coloquíntidas) era introduzir Cristo (retratado pela farinha).
Pode haver diferentes interpretações do número três, pois às vezes fala de testemunho abundante. (Dois é um testemunho adequado, enquanto três é um testemunho completo ou abundante.) Alguns pensaram que aqui, em nossa parábola, poderia falar da Trindade do Pai, Filho e Espírito Santo. Eu também sugeriria que três fala de morte e ressurreição, pois nosso Senhor esteve no sepulcro três dias, e então Ele ressuscitou no terceiro dia.
Má doutrina
Quando a má doutrina circula em meio à profissão do Cristianismo, geralmente é camuflada sob discussões de questões periféricas que são menos censuráveis. Mas Satanás não se contenta com essas questões menores; o que Ele quer é um ataque direto à Pessoa de Cristo ou à obra de Cristo, e muitas vezes a ambos. Eu sugeriria que isso é o que é retratado pelo fermento sendo introduzido em “três medidas de farinha”. Muitos falsos sistemas, pelo menos inicialmente, ocupam as almas com a importância da guarda de certos dias, ou, caso contrário, discussões sobre assuntos como detalhes de profecias, questões sobre guardar a lei de Moisés, ou regras sobre questões alimentares, mas ao mesmo tempo eles são sustentados por graves falsos ensinos sobre a Pessoa e a obra de Cristo. Esses últimos ensinamentos não são vistos a princípio, de modo que as almas são pegas desprevenidas. Verdadeiramente, o fermento foi escondido nas três medidas de farinha e deixado agir sem ser visto. No momento em que as almas se conscientizam dos maus ensinamentos, elas já estão enredadas.
O fermento começou a trabalhar cedo na Igreja, pois mesmo nos dias de Paulo, em Corinto, havia quem negasse a ressurreição (1 Co 15:12-19). Mais tarde, quando as coisas progrediram ainda mais, João teve que advertir os crentes de que “muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 Jo 4:1). Em sua segunda epístola, ele teve que advertir a senhora eleita e seus filhos que “Todo aquele que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus”. Ele lhes disse: “não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis” (2 Jo 5, 9-10). A heresia ariana, que veio depois, foi uma consequência natural do gnosticismo que já existia nos dias de João. Na verdade, começou no terceiro século d.C., mas foi defendido por Ário no quarto século e essencialmente negou a divindade de Cristo. Como bem sabemos, muitas outras heresias se seguiram ao longo dos anos, à medida que o fermento se espalhava.
Tudo isso foi escrito para nossa instrução e advertência, a fim de que possamos discernir a condição do reino dos céus hoje. A multidão, em cuja presença essas três primeiras semelhanças foram ditas, não entendeu, mas o Senhor espera que os Seus sejam espiritualmente inteligentes e reconheçam o que aconteceu com a profissão Cristã sob a responsabilidade do homem. Essa inteligência espiritual nos faz estar sóbrios e vigilantes, por um lado, mas também em paz, pois vemos que Deus está acima de tudo, nos disse tudo de antemão e também nos mostrou o fim de tudo.
W. J. Prost
Fermento na Farinha
“O Reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado” (Mt 13:33). É o processo de fermentação que se destaca aqui, resultando em uma massa levedada. O Senhor já havia dado a razão de Seu ensino dessa maneira. “Por isso, lhes falo por parábolas, porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem” (Mt 13:13). A verdade oculta sob a parábola será extraída apenas pelo espiritual, e as conclusões da postura moral mais oposta serão extraídas da mesma parábola pela sensibilidade do intelecto e pela mente espiritual. A mesma parábola é como a coluna de nuvem durante a noite: escuridão para os egípcios e luz para Israel. Ela cega o mais aguçado intelecto, mas dá profunda instrução aos humildes, que dependem do ensino do Espírito Santo.
Diante de nossos olhos, a Cristandade se destaca como uma massa levedada. O processo de fermentação continuou e ainda está acontecendo; um resultado foi produzido, e esse resultado é, de comum acordo, chamado de Cristianismo. Existem dois modos principais de corrupção rastreáveis tanto na história de Israel quanto na da Igreja. Ambos envolviam o mesmo princípio – a perda de sua separação, que era, de fato, sua glória e sua força. Israel queria ser como as nações, quando o fato de que ele “habitará só e entre as nações não será contado” era sua verdadeira glória. Israel se apoiou em um braço de carne, no Egito ou na Assíria, sua casa de escravidão ou prisão, quando o braço do Senhor era sua força e salvação. Assim também Israel trocou sua glória por aquela que não lhe servia, adotando a idolatria das nações na adoração do verdadeiro Deus. “Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente desolados, diz o SENHOR, porque o Meu povo fez duas maldades: a Mim Me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2:12-13). Na prática, pode ser difícil separar os dois males um do outro, seja no caso de Israel ou no que diz respeito à Igreja. Há uma distinção proposital na figura da mulher colocando fermento na massa e a prostituta com o “cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição” (Ap 17:4). É a diferença entre o que a mulher faz com o que lhe é confiado e o que a mulher recebe pelos favores que concede, pois ela dá “presentes a todos os teus amantes” (Ez 16:33). Tanto a mulher quanto a prostituta ajudam no crescimento da Babilônia, mas de maneiras diferentes; o jeito tranquilo e plausível da mulher é menos suspeito, mas não menos perigoso, do que o mal descarado da prostituta. Em palavras simples, a maneira gradual pela qual a Igreja se insinuou ao mundo não é tão transparentemente má quanto à maneira aberta pela qual a Igreja recebeu o mundo em si.
J. L. Harris
A Árvore de Mostarda
Em outro artigo desta edição, vimos como Satanás procurou estragar a obra do Espírito de Deus semeando joio no meio do trigo. Agora chegamos a outro de seus artifícios, na parábola da árvore de mostarda.
“Outra parábola lhes propôs, dizendo: O Reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem, pegando dele, semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham nos seus ramos” (Mt 13:31-32).
Quando o Cristianismo começou, era realmente como “um grão de mostarda”. O Senhor Jesus foi rejeitado como o Rei legítimo, e Sua própria nação exigiu que Ele fosse crucificado. Consequentemente, o reino dos céus assumiu o caráter de um reino em mistério, com apenas um pequeno número que reconheceu o Rei legítimo e estava pronto para reconhecer Suas reivindicações enquanto Ele estava ausente. De fato, desde que o pecado entrou neste mundo, aqueles que valorizam as reivindicações de Deus e andam com Ele sempre foram minoria. Seja antes do dilúvio de Noé, no tempo de Abraão, ou mesmo em Israel, o povo escolhido de Deus, havia apenas um pequeno número que realmente seguia o Senhor. O sistema do mundo que começou com Caim dominou a Terra, pois “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8:7).
Quando nosso Senhor Jesus foi rejeitado, o teste do homem acabou e Deus pronunciou o julgamento sobre o homem. Mas então, por meio da obra de nosso Senhor Jesus Cristo na cruz, Deus providenciou uma maneira de escaparmos do julgamento vindouro. Mais do que isso, Ele começou a formar Sua Igreja de todas as raças, grupos étnicos e nações, chamando-os para se separarem deste mundo. Eles deveriam desistir de posição e prestígio terrenal para ser uma companhia celestial e esperar que seu Senhor viesse e os levasse para estar com Ele no céu. Eles foram enviados de volta ao mundo como testemunhas da graça de Deus e, portanto, deveriam estar NO mundo, mas não ser DO mundo. Como tal, aqueles no reino dos céus seriam como “o grão de mostarda” – sem importância neste mundo. Seu poder seria de natureza moral e espiritual, como quando os judeus em Tessalônica reclamaram de Paulo e Silas às autoridades: “Estes que têm alvoroçado o mundo chegaram também aqui” (At 17:6). Mas eles não buscaram a comunhão ou aprovação do mundo, pois pregar um Cristo rejeitado não era popular.
No entanto, nossa parábola diz que, embora o grão de mostarda seja “a menor de todas as sementes”, quando cresce, “é a maior das plantas e faz-se uma árvore”. Os estudiosos da Bíblia têm constantemente procurado por uma planta natural que corresponda a esta descrição, e geralmente falham em encontrar algo adequado. Existem vários tipos de plantas de mostarda, e algumas, sob as circunstâncias certas, podem até crescer para se assemelhar a uma pequena árvore, mas é difícil encontrar uma que seja uma erva e que se transforme em uma árvore. Eu sugeriria que essa aparente dificuldade é deliberada da parte do Espírito de Deus, pois Ele nunca pretendeu que a pequena erva do Cristianismo se transformasse em uma árvore. Assim como não é natural que a planta da mostarda cresça de uma erva para uma árvore, também não é normal que o Cristianismo se torne grande neste mundo. No entanto, aconteceu. Satanás tem feito um bom trabalho em rebaixar o Cristianismo ao nível de uma religião mundana, pois ele sabe que então perderá seu poder.
O que começou no cenáculo no dia de Pentecostes, com apenas 120 crentes, desde então se transformou na “grande casa” da cristandade que conhecemos hoje, com suas impressionantes hierarquias, belos edifícios, riqueza material e, infelizmente, sua mistura de crentes e incrédulos. Doutrinas falsas e más práticas também têm permeado a profissão do Cristianismo, e assim descobrimos que “vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos” desta árvore de mostarda.
De maneira geral, uma árvore na Escritura é aquela que oferece proteção e abrigo, às vezes de maneira boa e às vezes de maneira ruim. Em Ezequiel 17:22-24, temos o Senhor em um dia vindouro exaltando a “árvore baixa” da casa de Davi, enquanto derruba a “árvore alta” (provavelmente as nações gentias). Nesta árvore “todas as aves de toda sorte de asas e à sombra dos seus ramos habitarão” – uma figura da bênção milenar. Entretanto, neste mesmo livro, em Ezequiel 31:3-14, encontramos o assírio comparado a uma grande árvore, onde “Todas as aves do céu se aninhavam nos seus ramos” (v. 6). Mais adiante no capítulo, Faraó e suas hostes são descritos da mesma maneira. Aqui as aves são típicas de líderes orgulhosos e arrogantes, para quem a árvore oferecia proteção pelo menos temporária. Esta mesma figura é usada para descrever a condição apóstata final da igreja professante em Apocalipse 18:2: “Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, e abrigo de todo espírito imundo, e refúgio de toda ave imunda e aborrecível!”
Em nossa parábola, as aves novamente têm uma conotação ruim – uma figura de líderes arrogantes e presunçosos, que frequentemente são Cristãos apenas por profissão, mas que encontram proteção nos grandes sistemas que se desenvolveram sob a bandeira da Cristandade. Vários anos atrás, li sobre um homem que era ateu confesso, mas foi ordenado a pregar em uma grande denominação Cristã porque se formou em um de seus seminários. Tais são as aves que se alojam na grande árvore de mostarda.
Tudo isso começou quando a Igreja começou a abdicar de seu chamado celestial e a se aliar ao mundo. Tudo parecia bom, mas quando a Igreja procura trabalhar com o mundo, ela deve trabalhar nos princípios do mundo, pois o mundo nunca pode se elevar para abraçar os princípios Cristãos. A Igreja deve descer ao nível do mundo, e então ela perde seu testemunho. Alguém observou apropriadamente que quando a Igreja perde o sentido de seu chamado celestial, humanamente falando, ela perde tudo. Isso é verdade, pois não é o chamado da Igreja corrigir o mundo. Em vez disso, ela deve chamar os homens para se separarem de um mundo condenado para terem bênçãos celestiais. Além disso, o mundo não será corrigido pelo evangelho; mas, “havendo os Teus juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (Is 26:9). O caráter da Igreja agora é propriamente o de um embaixador, não de um ativista. No entanto, quantos crentes abraçaram este último caráter e estão usando sua energia e recursos na direção errada!
Como já mencionamos em conexão com a árvore em Ezequiel 17, chegará o dia em que o Senhor Jesus virá em poder e glória para executar o julgamento. Naquele dia, Sua Igreja virá com Ele, não como aquela que é desprezada pelo mundo, mas manifestada em glória com seu Noivo. Naquele dia o Senhor Jesus virá “para ser glorificado nos Seus santos e para Se fazer admirável, naquele Dia, em todos os que creem” (2 Ts 1:10). Mas, por enquanto, devemos nos contentar em ser como o “grão de mostarda” – “a menor de todas as sementes”, no que diz respeito a este mundo. O verdadeiro Cristianismo não será popular no mundo, nem buscará grandeza e influência mundanas. Será caracterizado pelo poder espiritual – um poder que Deus continua a usar para abençoar neste mundo de pecadores perdidos. Esse poder é muito mais eficaz do que o poder material, pois é assim que Deus está trabalhando hoje. Quando estamos vivendo e trabalhando na corrente dos pensamentos de Deus, todo o Seu poder está por trás de nós.
W. J. Prost
Fermento
“O Reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado” (Mt 13:33). Aqui descobrimos que haveria a disseminação da doutrina interior, assimilando a si mesma o que quer que surgisse em seu caminho. “Fermento” é usado no Evangelho de Mateus, bem como ocasionalmente em outros lugares, para doutrina. As três medidas de farinha não são legitimamente consideradas como significando o mundo inteiro; eles são, suponho, um certo espaço definido dedicado à ação da doutrina do fermento, através do qual a doutrina se espalha efetivamente. Sempre que o “fermento” ocorre simbolicamente na Palavra de Deus, nunca é empregado, exceto para caracterizar a corrupção que tende a trabalhar ativamente e se espalhar.
Acredito que o fermento aqui estabelece a propaganda de dogmas e decretos, depois que a Cristandade se tornou um grande poder na Terra (correspondendo à árvore, que foi o caso, historicamente, no tempo de Constantino, o Grande). Sabemos que o resultado disso foi um terrível afastamento da verdade. Quando o Cristianismo se adquiriu respeitabilidade no mundo, em vez de ser perseguido e repreendido, multidões de homens foram trazidas. Um exército inteiro foi batizado por uma palavra de comando. Agora a espada era usada para defender ou impor o Cristianismo; sem dúvida, pensava-se que a recompensa terrenal e o favor imperial poderiam acelerar a queda do paganismo. Tudo isso preparou o caminho para espalhar o fermento, mas não para a sã verdade de Deus, nem para Sua graça.
W. Kelly (adaptado)
A Mente de Cristo sobre a Semeadura
Na primeira das parábolas em Mateus 13, encontramos o Senhor saindo para semear a semente. As seis parábolas seguintes têm um caráter muito distinto. As três primeiras revelam o que acontece no mundo, como consequência da semeadura da semente; e as três últimas, revelam internamente a mente de Cristo no que diz respeito ao efeito.
J. N. Darby
A Boa Terra
O Semeador aparece em três Evangelhos; quatro lançamentos de semente, dos quais três são iguais em resultado, conforme registrado por cada evangelista. Mas há uma diferença marcante no resultado do quarto, e cada um está em harmonia com o ensino do Espírito em cada Evangelho. Em Mateus, o retorno da boa terra é “um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta”. Em Marcos, a ordem é invertida; “um produziu trinta, outro, sessenta, e outro, cem”. Essa diferença de ordem é um mero acidente? Não, ela foi projetada e há um propósito divino nele. Em ambos os Evangelhos há a diversidade de produção de frutos, que, sem dúvida, deve ser vista entre os Cristãos em todos os tempos. Mas a ordem das palavras em Mateus aponta para o declínio do conjunto da profissão, mesmo na frutificação da boa semente. Não por defeito da boa semente, que é a Palavra, mas por alguma má qualidade da boa terra. Em Marcos, a ênfase está no caráter de "Servo" de nosso Senhor e na responsabilidade individual dos discípulos. Em cada dispensação, à medida que o conjunto da profissão declina, a fidelidade individual brilha mais do que nunca. Foi assim em Israel e é assim na profissão do Cristianismo.
R. Beacon
A Massa Fermentada
No momento em que flertamos com o mal e depois o amenizamos, os sentidos ficam embotados quanto ao que é devido ao Senhor, de modo que temos o melancólico espetáculo dos chamados Cristãos de hoje reafirmando más doutrinas que seus pais rejeitaram e pelas quais eles foram à morte. Vamos considerar isso e ser sábios. “Um pouco de fermento leveda toda a massa” (1 Co 5:6). A Cristandade está prestes a se tornar, em um tempo mais curto do que pensamos, aquela “massa levedada” da qual o Senhor predisse, quando Ele falou da misteriosa mulher que introduziu o fermento nas três medidas de farinha até que tudo estivesse levedado (Mt 13:33). Isso ocorrerá, sem dúvida, no sentido pleno da passagem, quando a Igreja for levada pelo Senhor em Sua vinda para os Seus (Jo 14:3; 1 Co 15:51-52; 1 Ts 4:16-17). Mas o espírito de iniquidade já está operando, e é somente a presença do Espírito Santo na Igreja que impede a plena manifestação do mistério da iniquidade. Então a falsa igreja aparecerá em suas verdadeiras cores, e como Babilônia, a grande, receberá sua condenação do Senhor Deus que a julgará (Ap 17).
W. Lavington
O Semeador
Aquele que trabalha no campo do mundo
Deve trabalhar com uma fé sublime,
Pois a semente que ele semeia deve estar no solo
E esperar o bom tempo de Deus;
Mas, no entanto, a colheita é certa,
Embora o semeador possa não ver os feixes;
Pois nunca uma palavra foi dita d’Ele,
Mas deve ecoar por toda a eternidade.
Autor desconhecido
“O Reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem, pegando dele, semeou no seu campo”
Mateus 13:31
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