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Revista mensal publicada originalmente em novembro/2009 pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
Tema da edição
Autor desconhecido
W. J. Prost
D. C. Buchanan
R. E. – Christian Friend
W. J. Lowe
J. G. Bellett (adaptado)
W. J. Prost
C. P. H.
A Vida de Jacó

A vida de Jacó é um estudo fascinante das relações de Deus com a natureza humana na vida dos Seus. Todos nós podemos ver algo de nós mesmos na vida de Jacó e seus filhos, e podemos e devemos aprender lições valiosas de como Deus fez todas as coisas cooperarem juntas para o bem de Jacó, apesar de seus defeitos e falhas. Deus foi fiel às Suas promessas a Jacó, mas Se mantendo fiel à Sua própria santidade ao tratar com ele.
Embora Jacó fosse herdeiro das promessas e valorizasse as bênçãos de Deus, ele não as buscou pela fé, mas tentou de maneira pecaminosa e enganosa obtê-las: primeiro como ele comprou a primogenitura de seu irmão Esaú e depois obteve a bênção de seu pai, mentindo e o enganando. Como consequência, Jacó se tornou um vagueante de um lado para o outro a maior parte de sua vida, mas Deus foi fiel com ele, o ensinando, por meio de muitas amargas lições pessoais e familiares, a confiar em Deus e não em si mesmo.
No final de sua vida, Jacó subiu à altura dos pensamentos de Deus e, pela fé, chamou todos os seus filhos diante de si e os abençoou. Jacó, o suplantador, foi renomeado por Deus, com o nome de Israel, o príncipe com Deus. No entanto, ele e seus descendentes são frequentemente referidos pelo antigo nome em vez do novo, como aqueles que andam no caráter do antigo em vez do novo. Nós somos como Jacó? Nossa vida mostra que andamos segundo nossa velha natureza ou segundo a nova natureza?
Tema da edição
Uma Cronologia da Vida de Jacó
Ano a.C.
Aprox. Evento (idade)
1996 - Abrão nasce
1921 - Tera morre (205; Abrão 75)
1896 - Isaque nasce (Abraão 100)
1856 - Isaque se casa com Rebeca (Isaque 40)
1836 - Jacó nasce (Isaque 60; Abraão 160)
1821 - Abraão morre (175 anos; Jacó 15)
1760 - Isaque abençoa Jacó e Esaú (76)
1760 - Jacó vai para Padã-Arã (76)
1753 - Jacó se casa com Leia e Raquel (Jacó 83)
1745 - José nasce (Jacó 91)
1739 - Jacó retorna a Peniel (Jacó 97)
1728 - José vendido ao Egito (José 17 -Jacó 108)
1716 - Isaque morre (180; Jacó 120 – José 29)
1715 - José governa o Egito (Jacó 121 – José 30)
1706 - Jacó desce ao Egito (Jacó 130 – José 39)
1689 - Jacó morre (Jacó 147 – José 56)
1635 - José morre (110)
Autor desconhecido
As Quatro Colunas de Jacó
Na vida dos Seus, conforme registrado na Escritura, Deus às vezes nos mostra Seus caminhos destacando os eventos com marcadores naturais. Encontramos isso na vida de alguns patriarcas, pois descobrimos que Abraão tinha quatro altares, Isaque tinha quatro poços, Jacó tinha quatro colunas e José tinha quatro vestimentas. É claro que outros tiveram algumas dessas mesmas coisas, mas na vida de Abraão e seus descendentes, encontramos essas quatro coisas especialmente mostradas a nós por Deus.
Como nosso tema diz respeito a Jacó, vejamos as quatro colunas mencionadas em sua vida. Uma coluna traz diante de nós algo duradouro e que serve como marca ou documentação permanente. Pode ser de algum evento ou talvez de algum registro de distância percorrida, como em um “marcador de kilometragem”. Descobrimos que Jacó estabeleceu quatro colunas durante sua vida, cada uma delas indicando uma decisão ou posição tomada e o estado espiritual associado a ela.
Confiança na carne
A primeira coluna mencionada foi estabelecida em Betel, onde Jacó passou a primeira noite fora de casa, quando foi obrigado a fugir para Padã-Arã, para escapar da ira de seu irmão Esaú. Deus graciosamente lhe mostrou a escada que alcançava o céu e Ele lhe fez promessas incondicionais. Jacó tinha verdadeira fé e valorizou as promessas de Deus, mas ele tinha uma má consciência e esse mau estado de alma enfraqueceu sua fé, deixando-o desconfortável na presença de Deus. Por ter valorizado as promessas de Deus, ele ergueu uma coluna de pedra, derramando óleo sobre ela – uma figura do Espírito de Deus. Mas então ele tentou fazer um trato com o Senhor, pois sua natureza enganadora ainda não havia sido julgada na presença de Deus. Ele continuou a contar com sua própria esperteza e força, em vez de confiar completamente no Senhor. Eu chamaria essa coluna de coluna da confiança na carne.
Não confiar na carne
A segunda coluna ocorre mais de vinte anos depois, depois de Jacó ter passado um tempo trabalhando para Labão, ter se casado com suas duas filhas e ter se tornado um homem rico. Ainda assim, ele não havia se acertado com Deus. Como resultado, ele havia passado vinte anos na energia carnal, ele e Labão, cada um tentando constantemente superar e enganar um ao outro. Agora ele havia obedecido à Palavra do Senhor e estava retornando à Terra de seus pais. Quando o Senhor lhe disse para fazer isso, lembrou a Jacó que Ele era o mesmo Deus que o havia encontrado em Betel, onde ungiu a coluna e fez o voto. Que graça maravilhosa! Quando Labão perseguiu Jacó e o alcançou, ocorreu uma acalorada contenda, na qual cada um acusava o outro, enquanto defendia sua própria conduta. Quando Labão sugeriu fazer um pacto, foi Jacó que tomou uma pedra para levantar uma coluna. Outras pedras foram adicionadas para formar um montão, que se tornou um testemunho entre Labão e Jacó.
Essa coluna testemunha o rompimento das relações naturais, pois nem Jacó nem Labão podiam confiar um no outro. Não se pode confiar na carne, e assim Labão pede que Deus seja testemunha e que vigie Jacó. Ele está dizendo, em outras palavras, que ele não pode confiar em Jacó fora de sua vista. Da mesma forma, Jacó aprendeu a não confiar em Labão, pois cada homem estava planejando e tramando para benefício próprio. Vamos chamar essa de coluna da falta de confiança na carne.
Confiança em Deus
A terceira coluna chega vários anos depois, depois de mais problemas chegarem à família de Jacó. Durante esse período, Jacó lutou com o Senhor e aprendeu que ele não podia receber a bênção por sua própria força, mas apenas se apegando ao Senhor. Ele estava aprendendo lentamente o que era confiar em Deus para tudo. Mas então ele construiu uma casa em Sucote, e depois de se mudar para Siquém, ele comprou uma propriedade, as quais não estavam de acordo com o chamado de Deus e seu caráter de peregrino. Junto com essas ações, sua família entrou em contato com o mundo. Sua filha se envolveu com Siquém, filho de Hamor, e a resultante fornicação e subsequente derramamento de sangue foi uma triste mancha no testemunho de Jacó. Foi só depois de tudo isso que Jacó finalmente removeu os ídolos de sua casa e, por ordem do Senhor, voltou a Betel para construir um altar ali. Pela segunda vez, o Senhor diz a Jacó que seu nome não era mais Jacó, mas Israel. Novamente Jacó levanta uma coluna em Betel, mas que diferença agora! Por meio de uma dura experiência, ele aprendeu a confiar apenas no Senhor, e com essa coluna, ele não apenas a unge com óleo, mas também derrama uma libação.
A libação (ou oferta de bebida) tem um duplo significado. Fala de regozijo – o regozijo que Deus tem em Cristo em vista da obra que realizou na cruz, mas também o regozijo do crente que está em comunhão com Deus como resultado dessa obra. Juntamente com isso, a libação fala de perfeita submissão à vontade de Deus e de uma disposição para ser “derramado” diante d’Ele. Vemos esta mesma aplicação em Filipenses 2:17, onde Paulo está disposto a ser a libação, derramada sobre o sacrifício dos santos filipenses. Esta coluna é um “marco” na vida de Jacó e marca um progresso real em seu relacionamento com Deus. Podemos chamar essa coluna de coluna da confiança em Deus, em contraste com a primeira coluna que ele levantou em Betel.
Abandonando o passado em vista do futuro
Finalmente, no mesmo capítulo (Gênesis 35), temos a coluna que Jacó levanta no túmulo de Raquel. Desde a primeira vez que ele a viu, a vida de Jacó estava centrada em torno de sua amada Raquel. Foi ela quem ele amou pela primeira vez, por quem ele trabalhou sete anos e cujos filhos estavam mais próximos do seu coração. Quando ele foi encontrar com Esaú, foi ela e seu filho José quem ele colocou na retaguarda de sua companhia, procurando protegê-los acima de todos os outros. Mas agora ela morre no parto – o objeto mais querido que ele tinha na Terra. Ele foi forçado a deixá-la ir, mas sua fé triunfou mesmo nessa severa provação.
Antes de tudo, ele é capaz de mudar o nome do segundo filho de Raquel de Benoni (filho da minha tristeza) para Benjamin (filho da mão direita). Isso mostrou verdadeira fé e um coração que olhou para o próprio Deus, que traria bênçãos de toda essa tristeza. Segundo, quando Raquel é sepultada “no caminho de Efrata”, o comentário é adicionado, “esta é Belém”. Embora Jacó sem dúvida não soubesse os detalhes na época, sua fé ainda contemplava futuras bênçãos n’Aquele que nasceria ali. Miquéias 5:2 nos diz a respeito de Belém: “de ti me sairá O que será Senhor em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. Benjamin é uma figura de Cristo aqui, como aquele que primeiramente foi o “filho da minha tristeza”, mas depois triunfa como o “filho da mão direita”. Se Jacó deve deixar de lado o que lhe era mais querido na Terra, Deus enche seu coração, primeiro Consigo mesmo e depois com uma visão de bênção futura, de maneira que é registrado em Hebreus 11:9 que ele, juntamente com Abraão e Isaque, eram “herdeiros com ele da mesma promessa”. Esta última coluna, então, é a renúncia do eu e do desejo terrenal. Raquel é substituída por Benjamin.
Os caminhos do Senhor para com Jacó deram frutos, e a partir daí ele cresce como adorador. Ele passa os últimos anos de sua vida em paz, apesar de ter de confessar perante o Faraó que “poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida”. Mas tudo isso foi no passado; a disciplina de Deus havia produzido em seu coração uma plenitude de gozo e uma visão da glória.
W. J. Prost
O Deus de Jacó
Podemos pensar, ao ler sobre a vida de Jacó, do porque Deus tem o prazer de ser chamado “o Deus de Jacó”, pois Ele é chamado “o Deus de Jacó” com mais frequência do que qualquer outro santo do Velho Testamento. Curiosamente, o próprio Jacó foi o primeiro a usar o termo “o Valente de Jacó”, mas apenas no final de sua vida. Nas falhas de sua vida, Jacó aprendeu a contar com as promessas de Deus. Essas promessas foram primeiro conferidas a Abraão e depois a Isaque.
Um exame da vida de Jacó nos revela seu Deus. “O Deus de Jacó” é o Deus que Jacó conheceu por experiência. Deus falou com ele sete vezes durante sua vida de peregrinação. Essas comunicações nos esclarecem sobre que tipo de Deus Ele era para Jacó.
Podemos acrescentar que o Senhor Jeová Se agradou em Se revelar a Moisés pelo nome: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (Êx 3:6). O Livro dos Salmos tem muitas referências ao “Deus de Jacó”. E lemos em Hebreus a respeito das peregrinações de Abraão, Isaque e Jacó: “Pelo que também Deus não Se envergonha deles, de se chamar seu Deus” (Hb 11:16). Esses três viveram a vida inteira como peregrinos. O Deus deles, que nunca desaponta a fé, tem uma cidade celestial especial para eles.
Jacó buscando a bênção por meio do engano
Muitas bênçãos foram destinadas à casa de Isaque. Jacó deveria ser o destinatário delas, mas seu pai e mãe ensinaram-lhe duas coisas que eram uma armadilha para ele. Seu pai tinha a gratificação de si mesmo em vista ao abençoar seus dois filhos, e sua mãe acrescentou mentira e engano como o meio para alcançá-la. Rebeca foi a principal pecadora, e assim ela desaparece de vista. Mas Deus ainda poderia lidar em graça com Jacó. Jacó passou grande parte do resto de sua vida fugindo dos problemas que essas coisas causavam.
Deus primeiro falou com ele por meio do sonho de uma escada para o céu. “E eis que o SENHOR estava em cima dela e disse: Eu sou o SENHOR, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque. Esta terra em que estás deitado ta darei a ti e à tua semente. E a tua semente será como o pó da Terra; e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul; e em ti e na tua semente serão benditas todas as famílias da Terra. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra, porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito” (Gn 28:13-15). Essa promessa incondicional de seis partes começa com uma declaração da verdadeira fonte das bênçãos de Jacó: “Eu sou o SENHOR”. Isso contrasta com o desejo de Isaque por carne saborosa. Deus abençoa por Quem Ele é. As experiências subsequentes de Jacó o ensinam isso. Ele foi levado para se apossar dessas seis promessas. A prova é vista no final de sua vida, da maneira como ele abençoa seus filhos, cruzando conscientemente as mãos para abençoar os filhos de José.
Jacó em Padã-Arã
A segunda vez que o Senhor falou com Jacó também foi por um sonho, pois ele não estava perto do Senhor como Abraão. O relacionamento entre Jacó e Labão se deteriorou, e Jacó deveria deixar Padã-Arã. Como Deus havia prometido, Ele não o abandonou. Ele lembra Jacó que ele deve voltar a Betel para cumprir a promessa feita a Jacó. “E disse o SENHOR a Jacó: Torna à terra dos teus pais e à tua parentela, e Eu serei contigo” (Gn 31:3). Jacó ainda conta à sua família o que o Senhor havia dito: “E disse-me o Anjo de Deus, em sonhos: Jacó! E eu disse: Eis-me aqui. E disse Ele: Levanta, agora, os teus olhos e vê que todos os bodes que cobrem o rebanho são listrados, salpicados e malhados; porque tenho visto tudo o que Labão te fez. Eu sou o Deus de Betel, onde tens ungido uma coluna, onde Me tens feito o voto; levanta-te agora, sai-te desta terra e torna-te à terra da tua parentela” (Vs. 11-13). Uma questão importante é se Jacó havia obtido tudo o que havia ganho em Padã-Arã por meio de sua própria habilidade e astúcia, ou se foi o Senhor que o abençoou. Se era do Senhor, ele deveria retornar a Betel para reconhecer isso como prometido; se não, Jacó poderia agradecer a si mesmo. Jacó foi obrigado a voltar para a Terra da promessa com sua família e riquezas, mas ele não foi direto para Betel.
O Anjo lutando com Jacó
Quando Jacó foge de Labão, o Senhor o defende por causa da injustiça de Labão (não pela integridade de Jacó). Depois que palavras fortes são trocadas e uma coluna é levantada, eles se separam amigavelmente. Mas Jacó deve se encontrar com seu irmão Esaú, que havia dito que o mataria. Será que Jacó não podia confiar na defesa que o Senhor já havia mostrado? O Anjo do Senhor deve lutar com Jacó para fazê-lo confiar em Deus. Mas Jacó não cessaria de lutar até que sua coxa estivesse fora da articulação; sua fé então se apega a Deus pela bênção. E o Anjo disse: “Deixa-Me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não Te deixarei ir, se me não abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então, disse: Não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel, pois, como príncipe, lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste. E Jacó Lhe perguntou e disse: Dá-me, peço-Te, a saber o Teu nome. E disse: Por que perguntas pelo Meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva” (Gn 32:26-30). Para apreciar adequadamente a defesa de Deus, é necessário conhecê-Lo. Sim, Jacó recebe o novo nome “Israel” por prevalecer – ele está começando a conhecê-Lo – mas o Senhor não revela Seu nome a Jacó. O Senhor havia lhe dito: “E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores”. Mas Jacó, em sua experiência, não estava na apreciação completa de seu Deus. Ele só podia dizer: “Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva”. Mais tarde, ele seria capaz de falar com inteligência “do Valente [Deus] de Jacó”.
Jacó em Siquém
Jacó vai a Sucote e depois se vira para Siquém, pois tem medo de ir a Betel. Mas as duras experiências com seus filhos e os homens de Siquém o fazem seguir em frente. E Deus, que o tinha protegido de Esaú, o lembra pela segunda vez: “Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugiste diante da face de Esaú, teu irmão. Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Tirai os deuses estranhos que há no meio de vós, e purificai-vos, e mudai as vossas vestes. E levantemo-nos e subamos a Betel; e ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia e que foi comigo no caminho que tenho andado” (Gn 35:1-3). Jacó reconhece que o Senhor o havia libertado em sua angustia, mas há ídolos e impurezas em sua casa que devem ser tirados. Ele os esconde debaixo do carvalho. Isso o impediu de se encontrar com Deus em Sua casa – Betel. O Deus de Jacó quer sua companhia em santidade. Jacó entende isso e responde. Sua santidade também causa terror aos moradores das cidades ao redor de Siquém e os impede de perseguirem Israel. Não era suficiente para Jacó ter a bênção sem o Abençoador. Ele precisa purificar sua casa e subir a Betel.
Jacó em Betel
“E apareceu Deus outra vez a Jacó, vindo de Padã-Arã, e abençoou-o. E disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó; não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel será o teu nome. E chamou o seu nome Israel. Disse-lhe mais Deus: Eu sou o Deus Todo-poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação e multidão de nações sairão de ti, e reis procederão de ti. E te darei a ti a terra que tenho dado a Abraão e a Isaque e à tua semente depois de ti darei a terra. E Deus subiu dele, do lugar onde falara com ele. E Jacó pôs uma coluna no lugar onde falara com Ele, uma coluna de pedra; e derramou sobre ela uma libação e deitou sobre ela azeite” (Gn 35:9-14). Jacó fez o voto de que, se o Senhor o abençoasse e o trouxesse novamente a este lugar em paz, ele faria do Senhor seu Deus e daria a Ele o dízimo. O Deus de Jacó levou Israel a conhecê-Lo, não mais como falando do topo da escada do céu, mas em estreita proximidade com Jacó em Betel. Jacó Lhe dá uma oferta. O Deus de Jacó acrescenta uma sétima promessa àquelas que Ele havia dado no começo. Ele acrescenta: “e reis procederão de ti”.
Jacó em Berseba
Os dez filhos de Jacó trazem de volta Simeão do Egito, com a notícia impressionante de que José ainda está vivo. José está agora no centro das relações de Deus com Jacó. Jacó começa a jornada para o Egito. Ele faz uma pausa em Berseba para oferecer um sacrifício ao Deus de seu pai Isaque. Naquele momento, “e falou Deus a Israel em visões, de noite, e disse: Jacó! Jacó! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não temas descer ao Egito, porque Eu te farei ali uma grande nação. E descerei contigo ao Egito e certamente te farei tornar a subir; e José porá a sua mão sobre os teus olhos” (Gn 46:2-4). Deus, falando com ele em uma visão durante a noite e chamando o nome de Jacó duas vezes, enfatiza quão longe estavam os Seus caminhos dos de Jacó. Ele havia dito: “Todas estas coisas vieram sobre mim”. Os eventos a respeito de José foram uma bênção além dos pensamentos de Jacó. O Deus de Jacó havia tornado em bênção os piores pecados dos dez filhos de Jacó. O próprio filho que Jacó pensou que estava morto se tornou “o preservador da vida” para toda a família. O Deus de Jacó pode tomar as piores coisas que Seu povo faz para provar o melhor do que Ele faz (Rm 8:28).
Jacó no Egito
Jacó foi sustentado nos últimos dezessete anos de sua vida por José. Sob os cuidados de seu filho, o Deus de Jacó fez dele uma bênção e um adorador. Ele abençoa o faraó. Ele abençoa os dois filhos de José, reivindicando-os como seus próprios filhos. “Pela fé, Jacó, próximo da morte, abençoou cada um dos filhos de José e adorou encostado à ponta do seu bordão” (Hb 11:21). Ele abençoa José, repetindo o que Deus havia falado com ele pela primeira vez: “O Deus Todo-poderoso me apareceu em Luz, na terra de Canaã, e me abençoou, e me disse: Eis que te farei frutificar e multiplicar, e te porei por multidão de povos, e darei esta terra à tua semente depois de ti, em possessão perpétua”.
A vida de Jacó é cheia de exemplos que demonstram a provisão e o cuidado de Deus. Por um bom motivo, Deus diz: “amei a Jacó”. Que cada um de nós tenha uma sensação disso ao passar pelas experiências da vida, pois o Deus de Jacó é o nosso Deus.
D. C. Buchanan
A Juntura da Coxa de Jacó
“Jacó, porém, ficou só” (Gn 32:24). Essa foi a ocasião de sua maior bênção. O início de sua história espiritual foi em Betel (cap. 28), mas aqui ele está completamente quebrantado e recebe esse maravilhoso nome de Israel.
Observe como uma crise como essa é frequentemente o momento da mais rica bênção espiritual. Jacó havia acabado de escapar de Labão, mas aparentemente caiu em mãos muito piores – as de seu ofendido irmão Esaú. Agora, até o próprio Deus parecia estar contra ele, pois “lutou com ele um Varão, até que a alva subia”. Mais tarde em sua história, o próprio Jacó proferiu o clamor: “Todas estas coisas vieram sobre [contra – JND] mim” (Gn 42:36). Mas em ambos os casos, o sofrimento foi o precursor da bênção. O processo de nos quebrantar geralmente é longo, mas não pode haver verdadeira bênção para nossa alma sem isso. A experiência dos filhos de Deus em todas as épocas atesta isso. Paulo é descido em um cesto antes de ser arrebatado ao terceiro céu. Se Deus está tratando conosco, por mais doloroso que seja o processo, certamente as bênçãos se seguirão, se apenas nos humilharmos diante d’Ele. Não são grandes ou proeminentes dons que mais precisamos, senão que seja tocada a juntura de nossa coxa – para não confiarmos na carne, pois quando somos fracos, somos fortes. Mas não gostamos de admitir que somos fracos, e Deus tem que lutar conosco como fez com Jacó, não para provar que Ele é mais forte do que nós, mas para nos tornar conscientes de nossa fraqueza e que podemos nos apoiar n’Ele para obter força.
Lutar ou se apegar?
Jacó continuou lutando até que a juntura de sua coxa foi tocada e deslocada a articulação. Ele não podia mais lutar, mas podia se segurar, e se segurou. Agora não é Deus que luta com Jacó, mas Jacó se apega a Deus, e é isso que deve acontecer com todos nós. Se nos apegamos a outro, isso implica que confiamos em sua força; se lutarmos, isso mostra que temos confiança em nós mesmos. Estamos nos apegando ou lutando? A fraqueza se apega; a força luta. E conosco, qual delas acontece? Nós aprendemos a nos apegar a Deus? É fazendo assim que encontramos bênção. Uma coisa é Deus se apossar de nós, e outra coisa é nos apossar d’Ele. Somente fraqueza sentida sabe como fazer isso. “A Ele nossa fraqueza se apega”, como às vezes cantamos (Hinário Little Flock Himnbook, hino 316).
“Deixa-me ir, porque já a alva subiu”. Ah, Jacó, você pode deixá-Lo ir agora! O dia chegou. É esse o pensamento de Jacó? Bem longe disso. Porém ele disse: “Não Te deixarei ir, se me não abençoares”. O dia deve ter sido muito bem-vindo depois de uma noite de batalha, mas para Jacó, Deus era melhor que tudo. E observe que é d’Aquele próprio que deslocou a coxa de Jacó que ele espera a bênção. E ele estava certo. Temos nós aprendido a conhecer a Deus assim – que Ele apenas aflige para abençoar – apenas enfraquece para dar espaço à Sua força? Talvez você tenha sofrido alguma aflição. Você já se apegou a Deus nela e clamou: “Não Te deixarei ir, se me não abençoares”? Há uma bênção por trás da provação, como houve para Jacó. Era doloroso ter sua coxa deslocada – talvez mais doloroso confessar o que ele era – mas que bênção seguiu! Deus não aflige simplesmente por afligir, mas apenas para preparar o terreno para as bênçãos reservadas. Estamos prontos para dizer a Deus: “Tu podes tirar tudo de mim; apenas dá-me a Ti mesmo; Eu não Te deixarei ir”?
Um novo nome
Deus disse: “Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó”. Deve haver a confissão mais completa se queremos a bênção. Se Deus não tem nenhuma reserva para conosco, não devemos esconder nada d’Ele. Jacó confessou o que era – “Eu sou o suplantador”. Ele aprende duas lições aqui, as quais também devemos aprender – sua fraqueza e sua pecaminosidade. Sua fraqueza foi demonstrada por sua coxa ter sido deslocada, e sua pecaminosidade por ser um suplantador. E agora que essas duas lições foram aprendidas, Deus pode vir e dizer-lhe: “Não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel”. Que mudança! Mas é assim. “[Ele] que do pó levanta o pequeno e, do monturo, ergue o necessitado, para o fazer assentar com os príncipes, sim, com os príncipes do Seu povo” (Sl 113:7-8).
Por que não somos mais abençoados? A resposta simples é: não chegamos ao fim de nós mesmos. Os pobres e os necessitados, como nosso salmo nos diz, e aqueles que se tornam fracos, como Jacó, são aqueles a quem Deus pode fazer príncipes. Mas há uma outra pergunta: Como essa condição pode ser alcançada? Por estar ocupado com Deus e entrando frequentemente em Sua presença. Aproveitando todas as oportunidades de estar a sós com Deus, aprendemos que deve ser Cristo e não o “eu”.
E então Deus interpreta o nome para ele. “Pois, como príncipe, lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste”. Era sua fraqueza que prevalecia, não sua força. Sim, é nossa fraqueza que tem poder com Deus, assim como o choro de uma criança tem mais poder com a mãe do que o choro de um homem forte. Por que uma mãe corre tão ansiosamente por causa do choro de seu bebê? É o clamor da impotência e, até que aprendamos nossa total fraqueza, nunca teremos poder com Deus. Não foi o Jacó forte do versículo 24, mas o Jacó fraco do versículo 25 que prevaleceu. Isso é mencionado em Oséias 12:4, onde lemos sobre Jacó: “Como príncipe, lutou com o Anjo e prevaleceu; chorou e Lhe suplicou; em Betel O achou, e ali falou conosco”.
Foi um nome maravilhoso que Jacó recebeu. Mas ele não estava contente – ele queria saber outra coisa. Ele disse: “Dá-me, peço-Te, a saber o Teu nome”. Com Jacó agora, o desejo é conhecer a Deus, pois ele está olhando para longe de si mesmo. Ele está na presença de Deus, e tudo o mais é esquecido. “Não Te deixarei ir! Diga-me o Teu nome”.
O lugar da fraqueza
“E saiu-lhe o Sol, quando passou a Peniel; e manquejava da sua coxa” (Gn 32:31). Devemos sempre permanecer no lugar da fraqueza, pois é o lugar do poder. Jacó aqui era como Paulo depois, que poderia dizer: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas”. Israel sempre teve que voltar a Gilgal, e Paulo tinha um espinho na carne. Não temos recursos em nós mesmos. Jacó mancava por causa de sua coxa; no entanto, ele havia prevalecido. Ele tinha que encontrar Esaú agora com um tendão encolhido, mas isso o ensinou a não confiar em sua própria força natural, mas n’Aquele que o havia enfraquecido e fortalecido.
Inclinando-se e adorando
Tendo analisado a história espiritual de Jacó, concluiríamos agora tocando no final de sua vida. Nos referimos a Hebreus 11:21, onde lemos: “Pela fé, Jacó, próximo da morte, abençoou cada um dos filhos de José e adorou encostado à ponta do seu bordão”. É a única menção a ele neste capítulo, mas ele é visto como um adorador, e seu bordão indica o seu caráter peregrino. Com seu bordão, ele passou pelo Jordão no começo de suas andanças, e agora ele está à beira do túmulo, e ainda é o bordão, mas quão diferente, como mudou o homem que se apoia nele! É a sequela do deslocamento da juntura da coxa sendo tocada. A lição havia sido aprendida – ele se inclina. Quem pode adorar e abençoar os outros deve ser ele próprio dependente. E podemos nós, alguma vez, nos permitir ser outra coisa? Para Jacó tudo agora era um deserto, pois ele estava fora da terra prometida. Mas que grandeza moral investe esse peregrino idoso! Ele abençoa os filhos de José e adora a Deus.
R. E. – Christian Friend
Lições da Vida de Jacó
Os caminhos de Deus para com o homem, embora possam variar em forma nas dispensações sucessivas, permanecem os mesmos em princípio. Como claramente apresentado na história do Velho Testamento, eles apegam-se ao nosso coração e demandam nossa atenção, enquanto que as doutrinas que os incorporam são frequentemente pouco apreendidas e, infelizmente, são prontamente colocadas de lado como tendo pouca aplicação na nossa vida e caminhada diárias. Além disso, há o perigo de a mente se ocupar com doutrinas em vez de o coração e a consciência serem exercitados. Precisamos preservar o caráter da “criança” que aprende a princípio não por meio da doutrina, mas pela observação de pessoas e fatos para os quais sua atenção é atraída. Daí a importância do Velho Testamento, pelo qual descobrimos como a verdade é coordenada e de que maneira deve afetar o coração.
Betel, o lugar terrível
Jacó oferece um exemplo do funcionamento do coração. Ele não era um homem “profano”, como Esaú. À sua maneira, ele queria andar de maneira correta e cobiçava fervorosamente a bênção prometida; mas em vez de esperar o tempo de Deus, ele tentou obtê-la por si mesmo, com o resultado de que ele teve que deixar sua casa e fugir para Padã-Arã. Em sua jornada, Deus deu a ele um sonho maravilhoso, falando com ele do topo da escada sobre a qual os anjos de Deus estavam subindo e descendo, fornecendo evidência inequívoca de que Deus continuamente ministraria às suas necessidades. De manhã, ao despertar, ele chamou o lugar de “Betel” – a casa de Deus. Ele tomou consciência da presença de Deus, mas isto era mais do que ele podia suportar, e prontamente ele deixou aquele que para ele era um lugar “terrível”, porque era “a porta dos céus”, e assim continuou sua jornada sozinho (Gn 28). Na sua história que se segue, é notável como ele evita Betel. Embora desejoso de obter a bênção como herdeiro da promessa, ele estava despreparado para se encontrar com Deus e ter que tratar com Ele de uma forma próxima e pessoal. Mas a graça de Deus o perseguia. Vinte anos depois que ele teve esta visão, quando ainda estava em Padã-Arã, Deus apareceu para ele, dizendo, “Eu sou o Deus de Betel... levanta-te agora, sai-te desta Terra” (Gn 31:13).
Os deuses estranhos
Quem teria pensado que “deuses estranhos” seriam encontrados na casa de Jacó? Mas assim aconteceu. Nós também precisamos aprender que nosso coração não é confiável. A menos que estejamos andando com Deus, nosso coração e consciência sendo trazidos para a luz e julgados ali, podemos nos encontrar continuando com todos os tipos de coisas más, enquanto ao mesmo tempo pode haver uma grande dose de serenidade exterior, uma demonstração de piedade e uma busca de bênção.
Não devemos confiar em nós mesmos. Nossa única segurança é ter tudo testado pela luz da Palavra de Deus, e andar perto do Senhor, em humildade e dependência d’Ele, para que possamos aprender Sua mente e conhecer mais da comunhão com Ele mesmo, e, assim, sendo guardados por Ele, escapar dos perigos e das influências sedutoras da cena que nos rodeia. Que o Senhor nos faça levar a sério as lições que vemos exemplificadas em Jacó.
W. J. Lowe
Caráter da Família de Jacó
Naor fazia parte da família de Tera, pai de Abrão, mas quando Tera e Abrão obedeceram ao chamado de Deus e deixaram Ur, ele e sua esposa continuaram na Mesopotâmia. Eles evidentemente prosperaram lá, os filhos nasceram para eles e seus bens e propriedades aumentaram. Eles seguiram uma jornada fácil e respeitável por todo o mundo, mas não cresceram no conhecimento de Deus e prestaram pouco ou nenhum testemunho a Seu nome. O caráter da família de Naor foi assim formado. Eles não estavam em trevas totais como o povo de Canaã. Eles tinham uma medida de luz derivada de sua conexão com Tera e Abrão, e como descendentes de Sem, mas tudo isso foi tristemente obscurecido pelos princípios do mundo que eles apreciavam e dos quais eles se recusaram a se separar. E um caráter e posição da família foram assim formados.
Betuel
Betuel, filho de Naor, floresceu no mundo, e ele, por sua vez, teve um filho chamado Labão, que evidentemente sabia como administrar bem seus negócios e avançar na vida. Com a chegada do servo de Abraão, no entanto, uma nova energia do Espírito visitou essa família. Eles não estavam na escuridão total dos pagãos, e como o chamado do Deus da glória havia perturbado o estado das coisas na casa de Tera, então agora a missão de Eliezer perturbava o estado das coisas na casa de Betuel. Eliezer, servo de Deus, assim como de Abraão, veio à casa de Betuel para tirar Rebeca dela e conduzi-la naquela mesma jornada que, duas gerações antes, o chamado do Deus da glória levara Abrão. Dessa maneira, um novo ato de separação foi produzido nessa família.
Rebeca
Rebeca, sabemos, respondeu a esse chamado. Mas seu caráter já havia sido formado, como acontece com todos nós, mais ou menos, antes de sermos convertidos. Chega o momento da vivificação, e o chamado separador do Senhor é atendido. Mas nos acha em certo caráter, derivado da natureza, da educação ou dos hábitos familiares, que levamos conosco pelo deserto, desde a Mesopotâmia até a casa de Abrão. Isso é sério, e a história de Rebeca ensina essas sérias lições para nós. A história bem conhecida revela tristemente o que podemos chamar de caráter da família. Labão, seu irmão com quem ela crescera, era um homem mundano e sutil e conhecedor, e mais tarde encontramos Rebeca exercitando os mesmos princípios. Na obtenção da bênção para seu filho Jacó, vemos esse estilo fermentado de Labão trabalhando poderosamente. Sua mente estava muito pouco inclinada a repousar na suficiência de Deus e muito acostumada a se apoiar em suas próprias invenções.
Temos que vigiar contra a tendência peculiar de nossa própria mente – precisamos repreender severamente a natureza, para que sejamos sãos na fé (Tt 1:13) – não para desculpá-la porque ela é natureza, mas sim para mortificá-la ainda mais por amor d’Aquele, que nos deu outra natureza.
Jacó
Jacó teve sua mente formada pela mesma influência inicial. Ele era todos os dias um homem astuto e calculista. Seu plano em obter a primogenitura primeiro e depois a bênção, seus esquemas enquanto trabalhava para Labão, sua confiança em seus próprios arranjos, e não na promessa do Senhor, quando reencontrou com seu irmão Esaú, e sua permanência em Siquém e seu estabelecimento ali em vez de seguir a vida de um peregrino pela terra como seus pais – tudo isso revela a natureza e o funcionamento do velho caráter da família. Quanto precisamos vigiar a semente precoce plantada no coração e a semente que estamos ajudando a semear no coração dos outros!
Conhecemos muito bem a astúcia que Rebeca e Jacó praticaram com Isaque, mas a santidade do Senhor consumiu tudo isso. Nada veio dessa sutileza e carnalidade. Isaque perdeu seu Esaú, Rebeca nunca mais viu Jacó, e o calculista Jacó se viu no meio de árduos trabalhos, um estrangeiro longe da casa de seu pai por muitos anos. Nenhuma bênção veio de tudo isso; tudo foi decepção e repreendido pela santidade do Senhor.
A obra da graça
Mas resta ver a graça assumindo sua posição e atitude elevadas e triunfantes. Sua santidade é estabelecida assim pelo Senhor com grande decisão, deixando de lado todas as vantagens que o pecado havia prometido a si mesmo, e então a graça reina. Até a miséria à qual seu pecado havia reduzido Jacó apenas desencadeia a glória da graça. Jacó teve de deixar-se sozinho, sem amigos, sem cuidados, sem proteção, tendo as pedras do lugar como seu único travesseiro. Mas a graça, que transforma a sombra da morte em manhã, estava preparando um descanso glorioso para ele; ele ouviu a voz do maravilhoso amor, e lhe foram mostrados mundos de luz nesse lugar de solidão e treva. Ele sonhou e viu os altos céus ligados àquele ponto muito escuro e árido onde estava deitado. Ele ouviu o próprio Senhor do céu falando com ele em palavras de promessa. Ele se vê, apesar de tão errôneo, tão pobre e tão vil, associado à uma glória que tudo permeia. A santidade da graça ainda o deixa errante, mas as riquezas da graça lhe dirão o consolo atual e as futuras glórias seguras.
O novo caráter da família
Existe, então, algo como o caráter familiar, e a lembrança disso deve nos deixar vigilantes e zelosos em relação a todos os nossos hábitos e tendências peculiares. Quando estamos lidando com outras pessoas, a memória deve nos tornar compreensivos e com um espírito de intercessão, dispostos a defender esse fato de que há caráter ou força de hábitos e educação iniciais trabalhando mais ou menos em todos nós. Lembremos também que, se, por um lado, devemos deixar o caráter e certos hábitos com os quais estamos conectados pelo nascimento e edução, também devemos manifestar o caráter com o qual nosso nascimento e educação na família celestial nos conectaram. Que o velho seja subjugado em nós e o novo se levante e afirme seu lugar em nós! Que vigiemos contra o caráter que herdamos dos laços naturais ou hábitos naturais, e que o caráter de nosso nascimento celestial seja estimado e expressado para Seu louvor, que nos gerou novamente, da morte em que nos estávamos, como vivos para e com Ele mesmo.
J. G. Bellett (adaptado)
Jacó e Judá
A propensão natural de Jacó por trapacear e conspirar para obter as bênçãos de Deus causou-lhe muita tristeza e trouxe a disciplina de Deus. Como geralmente acontece, esse modo de vida também teve um efeito triste em sua família. No entanto, Jacó teve proveito com os caminhos de Deus com ele, e a graça de Deus também trabalhou em sua família. Em ninguém isso é mais evidente do que em Judá.
Não se fala muito dos filhos de Jacó e de seu caráter até Gênesis 34, quando sua raiva pela fornicação de Siquém com sua irmã Diná os levou a agir de maneira enganosa com os homens daquela cidade. No final eles mataram todos os homens da cidade e levaram suas esposas e filhos em cativeiro. Simeão e Levi assumiram a liderança em tudo isso, e, embora Jacó estivesse perturbado com o que eles haviam feito, ele deve ter reconhecido seu próprio caráter se manifestando em seus filhos. Mais tarde, é registrado que Rúben cometeu fornicação com Bila, concubina de Jacó, e novamente, embora Jacó tenha ouvido falar, ele evidentemente não disse nada. Finalmente, em Gênesis 37-38, encontramos o pecado na família de Jacó piorando. Simeão e Levi eram homens violentos, mas não há registro de que fossem imorais. Rúben cometeu um ato imoral, mas depois intercedeu por José quando seus outros irmãos queriam matá-lo. Judá, no entanto, incorporou os dois pecados.
Judá
Judá foi o instrumento que sugeriu que José fosse vendido ao Egito, sabendo que vendê-lo como escravo naqueles dias equivalia a uma sentença de morte. Ele não apenas queria que José fosse morto, mas sua avareza encontrou uma maneira de lucrar com isso. Então, no capítulo 38, a triste história da família de Judá é registrada – seu casamento com a filha de um cananeu, o pecado de seu filho Onan e sua morte subsequente, sua imoralidade com a própria nora e sua subsequente dupla personalidade ao ordenar que ela fosse queimada por seu adultério. Pelos padrões humanos, Judá era claramente o pior da família, pois era violento e imoral, e de uma maneira pior do que seus irmãos. Simeão e Levi pelo menos poderiam reivindicar algum motivo para sua violência, mas o ódio de Judá por José não tinha fundamento. Rúben havia cometido um ato imoral, mas Judá era muito pior ao procurar uma mulher que ele pensava ser prostituta e depois condenar sua nora por supostamente ter feito a mesma coisa.
Não ouvimos falar de Judá até o capítulo 43, quando Jacó pede a seus filhos que vão ao Egito pela segunda vez para comprar comida. Então é Judá que protesta contra Jacó, citando solenemente as palavras de José e reconhecendo a futilidade de ir sem Benjamin. É Judá que se oferece como garantia por Benjamin de trazê-lo de volta para casa em segurança. Finalmente, na jornada de volta, quando o copo de prata é encontrado no saco de Benjamim, é registrado que “E veio Judá com os seus irmãos à casa de José”. Evidentemente, a graça de Deus operou na alma de Judá, pois ele não apenas assume a responsabilidade por Benjamim, mas assume a liderança entre os irmãos, embora não fosse o mais velho.
Confissão e intercessão
Quando eles encontram José e são acusados de roubo, é Judá quem é o porta-voz e que admite sua culpa. Ele sabia muito bem que Benjamin não havia roubado o cálice de prata, mas a graça de Deus havia trabalhado tanto em sua alma que ele reconheceu a justiça do que havia acontecido. Mais do que isso, ele reconhece a mão de Deus em tudo e inclui a si mesmo e a todos os seus irmãos no pecado, pois ele diz: “Achou Deus [não José!] a iniquidade de teus servos” (Gn 44:16). Quando José propõe que apenas o aparentemente culpado (neste caso, Benjamin) precisa sofrer qualquer penalidade, é Judá que tão ternamente implora por Benjamin, oferecendo-se tomar o seu lugar como escravo.
O arrependimento completo havia ocorrido, o pecado havia sido completamente julgado, e agora José pode se revelar a seus irmãos. Que triunfo da graça de Deus! Podemos perguntar o que fez a diferença. Sem dúvida, Deus estava trabalhando na alma de Judá, levando-o ao arrependimento. Em Benjamim, vemos uma figura de Cristo, pois ele era o único dos irmãos que não havia se envolvido em conspirar contra José. No entanto, foi em seu saco que o copo de prata foi encontrado – uma figura de Cristo que suportou pecados que não eram Seus. Foi isso que quebrantou Judá, pois ele sabia que se Benjamin se tornasse escravo, estaria sofrendo pelos pecados deles, não pelos seus. Sua vontade de tomar esse lugar mostrou que ele realmente reconhecia seu próprio pecado diante de Deus.
A história aberta diante de Jacó
Parece que o Senhor também estava trabalhando no coração de Jacó, e podemos imaginar a cena em que os filhos de Jacó voltaram para casa com a maravilhosa notícia de que José ainda estava vivo e era governador de toda a terra do Egito. A Palavra de Deus coloca uma cortina de silêncio em torno da discussão que deve ter havido, mas que revelação deve ter sido! Toda a história deve ser contada – o ódio contra José, a conspiração contra ele, sua venda para o Egito, o despojamento de sua túnica de várias cores e sua subsequente enganação com o sangue do cabrito – tudo deve ser contado. Que lágrimas haveria, que tristeza reconhecer a culpa! No entanto, no meio de tudo isso, parece que um vínculo especial foi formado entre Jacó e Judá. Embora a Escritura não dê detalhes, cada um deve ter confessado seu pecado, Judá, em querer vender seu irmão, e Jacó, por ter mostrado a seus filhos um padrão de desonestidade e engano. Como resultado, quando Jacó desce ao Egito, envia Judá à frente de José “para o encaminhar a Gósen” (Gn 46:28). Havia uma confiança e um vínculo entre eles por causa do pecado comum e do arrependimento comum.
A ordem da bênção
Finalmente, vemos o resultado abençoado dessa obra de Deus nas bênçãos de Jacó. Os irmãos são tratados em ordem de nascimento, e assim Rúben vem primeiro. Não há registro de que ele tenha se arrependido de sua imoralidade, e o pecado seja posto à sua porta: “não serás o mais excelente” (Gn 49:4). Em seguida, Simeão e Levi são nomeados, e eles também não se arrependeram de sua violência e crueldade. Suas ações são condenadas e eles deveriam ser divididos e espalhados em Israel.
Judá é o próximo, e podemos nos perguntar o que Jacó dirá dele, pois certamente seu pecado foi pior do que qualquer um dos três anteriores. Mas, que surpresa! “Judá, a ti te louvarão os teus irmãos”. Nenhuma palavra foi dita sobre seu fracasso, mas apenas as bênçãos pronunciadas sobre ele. Ele se tornou a tribo real, e “a Ele [isto é, Cristo] se congregarão os povos”. O resultado do verdadeiro arrependimento e confissão do pecado é que ele é apagado diante de Deus, e as bênçãos seguem, não apenas a curto prazo, mas levando a Cristo, que brotaria, na linha natural, daquela mesma tribo de Judá.
Com cuidado e detalhes, Deus desenha os caracteres de Seu povo em Gênesis. Vemos a imagem escura, depois a cortina aberta e, finalmente, o maravilhoso Sol da bênção! A bênção ainda segue o arrependimento hoje!
W. J. Prost
Aprendendo com Jacó
“Pela fé, Jacó... adorou encostado à ponta do seu bordão” (Hb 11:21)
Ele adorou apoiado em seu bordão;
Atrás dele se estendia um passado conturbado;
Uma vida como de palha ao vento levada.
Ele podia ter desmoronado, mas ainda assim se apoiou,
E, morrendo, ainda adorou Aquele
Que o ensinou, podou e desmamou.
Enganoso e enganado por anos;
Seus filhos aprenderam suas maneiras astutas
E ele curvou sua cabeça em lágrimas.
Podemos também sentir a dor de Jacó?
E podemos reconhecer erros e falhas,
E transformar tudo isso em ganho?
O Abençoador ainda Se deleita em abençoar;
Um passado estéril dá frutos e flores,
Se humildemente, confessarmos.
C. P. H.
“Eu Sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”
Êxodo 3:6
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