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Revista mensal publicada originalmente em julho/2009 pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
Selecionado de J. N. Darby
E. P., The Bible Treasury, 19:63
W. Brockmeier
W. W. Fereday
J. N. Darby (adaptado)
T. B. Baines
J. A. Trench
Adaptado de Words of Truth, 8:217
J. W. Smith
J. G. Deck, Hinário Little Flock, hino 215
A Cruz
Não há nada como a cruz. Lá o terrível pecado do homem se encontrou com o perfeito amor de Deus. Na cruz o pecado se elevou ao ponto mais alto da maldade e foi aniquilado em seu pior ato. Deus está acima do homem, mesmo no auge de seu pecado, não o permitindo, mas o aniquilando por Cristo, em amor, morrendo pelo pecado. Na cruz, o pecado foi conhecido no que ele é, e para se ter um coração verdadeiro, ele precisa ser conhecido, e Deus foi conhecido, conhecido em luz. E o coração correto quer isso. Deus é conhecido em perfeito amor; não precisamos esconder ou ocultar nosso pecado.
O poder de Satanás foi completamente manifestado, e isto sobre os homens em suas paixões. Lá vemos o Homem perfeito como em nenhum outro lugar, perfeito amor ao Pai, perfeita obediência absoluta, e isto no próprio lugar do pecado e no cálice que ele encheu, e em fraqueza humana, onde o poder de Satanás foi manifestado, e no abandono de Deus. Na cruz, Deus revelou Sua perfeita justiça contra o pecado, e Seu soberano, perfeito e infinito amor ao pecador – Sua majestade e verdade foram ambas feitas realidade. Assim é a cruz. Na história da eternidade, ela permanece única. O homem na glória de Deus é o seu resultado abençoado.
Selecionado de J. N. Darby
A Bênção de Deus por Meio da Cruz
Quão divinamente precioso para o coração do santo mais simples de Deus, é ser capacitado pela Sua Palavra a se elevar para conhecer Sua mente! Aprendemos que Aquele que é o único Abençoador Se deleita em abençoar, não apenas nos renovando com Seu amor, mas nos trazendo pelo sangue de Cristo sem mancha e em perfeita paz à Sua presença, a mais santa de todas. Quão maravilhoso é conhecer os resultados da cruz, não apenas ao apagar todos os nossos pecados, tão odiosos aos olhos de Deus, mas na eficácia do sacrifício que torna o crente apto ao céu de maneira tão verdadeira como glorificou a Deus com respeito ao pecado.
Em Cristo, Deus encontrou Seu maior prazer e o expressou repetidamente. Mas o pecado não foi julgado até a cena de Seu próprio Filho sendo feito pecado na cruz do Calvário, na qual a Terra tremeu e as rochas se fenderam e o próprio Sol se encobriu em trevas. Foi, de fato, a tão aguardada hora que permanece única em todos os tempos, sim, na eternidade, quando a obra expiatória de Cristo foi consumada, para nunca mais ser repetida.
Deus glorificado
Deus foi glorificado nisto até mesmo quanto ao pecado, e deu a garantia imediata de toda a Sua satisfação, rasgando o véu do templo de cima a baixo. Pela cruz, toda e qualquer alma que crê em Seu testemunho da obra de Seu amado Filho é chamada a ver o sangue sobre e diante do propiciatório. Pelo Seu sangue, a paz é feita e estamos aptos a entrar em Sua santa presença, no completo descanso da estimativa de Deus quanto à redenção eterna. Pela fé, não apenas o pecado e a morte, mas também Seu julgamento foram enfrentados na morte de Cristo, e os gloriosos triunfos que coroaram o Cordeiro que foi elevado foram dados e tornados conhecidos a nós. Assim, pela graça, agora podemos adotar a linguagem do hino e cantar,
Triunfamos nos Teus triunfos, Senhor;
Tuas alegrias proporcionam nossas mais profundas alegrias;
Elas provam o amor divino.
O evangelho divulgado
O evangelho é divulgado a toda criatura debaixo do céu, proclamando a justiça de Deus para todos e sobre todos os que crerem. Mas quão indescritivelmente solene também é a cruz para este mundo já julgado, que rejeita a Cristo e aguarda apenas o dia da execução de sua sentença. Então será o dia do Senhor, em que tudo dará lugar Àquele, o único que é digno, o único capaz de governar com equidade e em justiça para a glória de Deus Pai.
Em resposta à cruz, todas as coisas no céu e na Terra serão reconciliadas a Deus, e o universo será adequado a Ele e aos remidos acima e abaixo. “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram”. Pela graça já sabemos isso e muito mais, por meio da obra de Cristo para a glória de Deus e para nossa alma. É somente quando mantemos essa esperança abençoada e o aparecimento da glória diante de nosso coração, em comunhão com Ele mesmo, que podemos elevar-nos acima das seduções desta presente era maligna e das circunstâncias de provação do deserto pelas quais passamos, a fim de trazer glória ao nome inigualável de Cristo. “É certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados”.
E. P., The Bible Treasury, 19:63
A Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem” (1 Co 1:18).
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6:14).
“Pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades” (Ef 2:16).
“Achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2:8).
“Havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio d’Ele reconciliasse Consigo mesmo todas as coisas” (Cl 1:20).
“Olhando para Jesus, Autor e Consumador da fé, O qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz” (Hb 12:2).
“Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pe 2:24).
A cruz não é um objeto de veneração
Por muitos anos alguns usaram de maneira inadequada o símbolo da cruz, mas teremos grande bênção para nossa alma se contemplarmos este grande assunto e ensino da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.
Há um paralelo na história de Israel com o abuso de um símbolo da morte de Cristo. “Este (Ezequias) tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã (ou pedaço de bronze)” (2 Rs 18:4). A serpente de bronze que um dia significou a salvação dos filhos de Israel havia se tornado um objeto idólatra de adoração. Hoje, alguns também exibem prontamente o símbolo do sofrimento e da morte de Cristo, enquanto casualmente difamam o nome do Filho de Deus. Deus não tem nenhum prazer em tal demonstração. Ele deseja ver amor por “nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade” (Ef 6:24).
Fazemos bem em lembrar que Deus não Se esqueceu do valor da figura da serpente de bronze mesmo que o homem tenha corrompido seu significado. O próprio Senhor Jesus Se referiu a essa passagem quando estava falando a Nicodemos: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado” (Jo 3:14). Então, que não negligenciemos a preciosa verdade conectada com a cruz e, ao mesmo tempo, tomando cuidado para não fazer dela um objeto de veneração.
É muito fácil para nós ter uma visão limitada da cruz. Podemos presumir que quando a cruz é mencionada, fala apenas do lugar de sofrimento que nosso Salvador suportou para nos falar de Seu coração e amor em nos salvar dos nossos pecados. Admitidamente, isto é profundo, além do que podemos imaginar, ainda assim há mais para nosso coração e consciência contemplarem. Os fatos da cruz são trazidos diante de nós nos evangelhos, mas a doutrina da cruz, como nos é revelada nas epístolas, nos leva para muito além disso.
Com isto não queremos negar que não haja distinções instrutivas para considerarmos nos evangelhos. Por exemplo, porque no evangelho de João não é mencionado que Simão Cireneu carregou a cruz do Senhor? Ao invés disso, lemos: “E, levando Ele às costas a Sua cruz, saiu” (Jo 19:17). Será que não é porque, de acordo com o evangelho de João, temos o Senhor Jesus apresentado a nós em toda a dignidade do Filho de Deus? Todos os outros devem desaparecer de vista diante da majestade do Eterno. Ele carregou a cruz Sozinho, ou “por Si mesmo” (Hb 1:3). Quando foi dito a Abraão que ele deveria oferecer seu filho Isaque, é dito aos seus moços que ficassem para traz, enquanto o pai e o filho iriam seguir adiante (Gn 22:5-6). De acordo com esse tema, no evangelho de João, o Pai e o Filho permanecem em preciosa comunhão; nenhuma menção é feita ao clamor de abandono ou às horas de trevas Mas devemos passar a considerar algumas coisas significativas sobre a cruz nas várias epístolas.
A sabedoria do homem
Em Corinto, a assembleia estava sendo influenciada pela sabedoria secular, e aqui a cruz coloca de lado o homem e sua sabedoria. Paulo mostra que foi essa sabedoria que levou os homens a crucificarem o Senhor da glória (1 Co 2:6, 8). Calvário significa “caveira” (Lc 23:33). A sabedoria deste mundo nunca nos levará a compreender a mente de Deus, pois o crente entende pelo Espírito de Deus.
Ocasionalmente, ouvimos o versículo: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e Este crucificado” (1 Co 2:2), sendo explicado como se significasse que o único assunto sobre o qual Paulo falou era Cristo morrendo pelos nossos pecados e, portanto, isso seria tudo sobre o que deveríamos falar a respeito. Embora até uma leitura superficial das cartas de Paulo provasse o contrário, devemos observar a expressão “entre vós”, ou seja, vós, Coríntios. (Compare, “a vós, perante os olhos... Jesus Cristo foi já representado como crucificado” Gálatas 3:1, como relacionado às assembleias na Galácia). A força desta passagem é que Paulo não veio a esse povo orgulhoso e educado com uma linha do que iria apelar para seu intelecto. Pelo contrário, ele rejeitou os métodos e aprendizagens do homem e uma aproximação que iria apelar ao homem na carne. A cruz anulou toda essa abordagem (1 Co 2:35).
A religião do homem
Em Gálatas a cruz coloca de lado o homem e sua religião. Os falsos irmãos estavam promovendo coisas como a circuncisão e a observância de dias santos, para promover sua causa e corromper a pureza do evangelho. Paulo contrasta a circuncisão com a cruz. Os judaizantes estavam se gloriando no ritual que figurativamente representava o homem se despojar da carne – enquanto faziam exatamente o oposto do que a figura pretendia ensinar! Além disso, ele contrasta a marca da circuncisão com as marcas ou sinais que ele sofreu ao ser perseguido por Cristo. Paulo era circuncidado, mas sofreu porque se recusou a fazer disso uma marca de posição espiritual. Ele se gloriava na cruz, que o separou no coração e na prática do mundo religioso que se gloriava na carne, e pelo qual ele foi reprovado pelo mundo religioso (“o escândalo da cruz” – Gl 5:11). A cruz não apenas simboliza a morte, mas o escândalo conectado a crucificação.
A parede de separação
Em Efésios, o pensamento principal da cruz é o meio pelo qual a parede de separação foi desfeita e a inimizade entre judeus e gentios foi removida. Cristo é a nossa paz, não aqui entre Deus e o homem, mas entre homem e homem. Agora ambos temos acesso ao Pai (Ef 2:11-22).
Serviço em humildade
Talvez poucos versículos sejam lidos entre nós com a mesma frequência que Filipenses 2:5-11. O assunto aqui não é o sofrimento expiatório, mas temos a cruz trazida diante de nós como o fim do caminho do serviço humilde de nosso bendito Senhor e o padrão para seguirmos como um remédio para problemas de conflito que surgem entre os santos. A cruz era destinada a criminosos. O bendito Senhor Jesus foi contado com os transgressores. Estamos satisfeitos em segui-Lo ali? Jamais poderíamos participar de Seus sofrimentos expiatórios, mas no caminho do serviço humilde, Ele nos permite conhecer, em certa medida, a comunhão de Seus sofrimentos. Temos sido difamados? Mal interpretados? Maltratados? Se for assim, que possamos considerá-Lo e aprender algo daquele caráter de sofrimento pelo qual Ele passou em perfeição.
Bênção e reconciliação
Em Colossenses, a cruz é trazida diante de nós em outro aspecto. É a base sobre a qual a Divindade pode abençoar e reconciliar. Deus não está em guerra com este mundo. É verdade que Ele julgará este mundo em justiça (Atos 17:31), mas neste momento Deus está reconciliando o homem Consigo mesmo. Ele reconciliará todas as coisas nos céus e na Terra (Observe que não diz “debaixo da Terra”, como em Filipenses 2:10, porque ali o assunto é confissão de que Jesus é o Senhor – não reconciliação). A Divindade já reconciliou os crentes. A “a cédula que era contra nós nas suas ordenanças” (a obrigação dos judeus pela lei – Êxodo 24:3, 6-8) foi anulada na cruz; portanto, não era para os judeus nem para os gentios (Gl 2:14 – JND).
Sacrifício e devoção
Os crentes judeus, aos quais se dirige o livro de Hebreus, estavam sofrendo muitas provações. Depois de procurar encorajar esses santos que estavam sofrendo em suas provações únicas, delineando vários exemplos daqueles que viveram pela fé, o escritor desvia os olhos de todos os outros, por mais nobres que fossem, a olharem firmemente para Jesus como o Objeto da fé. Ele suportou. Embora Ele tenha desprezado a afronta, Ele teve que suportar a cruz. Eles suportaram a contradição dos pecadores contra si mesmos? Ele também. Mas eles ainda não haviam resistido até o sangue (isto é, dado sua vida como mártires). Eles podem ser chamados para isso, mas Ele já havia feito isso antes. A cruz é então vista como a medida suprema de sacrifício e devoção a Deus.
O lugar da maldição
Finalmente, em 1 Pedro, temos a cruz referida como “o madeiro” (1 Pe 2:24). Como em Gálatas 3:13, essa expressão conecta a cruz com o que os judeus conheciam por experiência de Deuteronômio 21:22-23. (A crucificação era romana). O madeiro nos traz a morte sob a maldição de uma lei violada, cujo horror jamais conheceremos. Se em Êxodo 15 o madeiro lançado nas águas as tornou doces, devemos lembrar que não havia doçura na cruz. O Senhor Jesus deve provar sua amargura para que possamos beber da doçura resultante. Quando o poeta escreveu a expressão “Rude Cruz”, talvez pretendesse fazer referência a Atos 5:30. A ARC traduz como “o madeiro”; o JND como “a cruz”, mas com uma nota marginal indicando que literalmente a palavra é “madeiro”, sugerindo quão rude era essa morte.
No meio do jardim do Éden, estava a árvore da vida (Gênesis 2:9). Da mesma forma, está no meio do paraíso de Deus (Ap 2:7). No local onde nosso Senhor foi crucificado, havia também um jardim (João 19:41). Embora saibamos de outros evangelhos que outros dois foram crucificados com Ele, somente em João lemos: “E Jesus no meio” (Jo 19:18). Para Ele era um madeiro de morte, mas para nós um madeiro de vida.
Ó cruz de Cristo! Ó madeiro glorioso!
Que lugar pode ser comparado a ti?
W. Brockmeier
O Escândalo da Cruz
Ordenanças e legalismo não envolvem perseguição e sofrimento. O homem natural pode entrar nessas coisas e apreciá-las, e quando aqueles que levam o nome do Senhor afundam a esse nível, o mundo e eles mesmos estão de acordo e podem caminhar juntos. Quão triste e por quanto tempo isso tem sido verdade na Cristandade! Se o apóstolo tivesse pregado a circuncisão e misturado o judaísmo em geral com o Cristianismo que ele ensinava, ele teria sido poupado de muita coisa, como ele mesmo diz: “Logo, o escândalo da cruz está aniquilado”. Mas, contra tudo isso, ele resolutamente pôs seu rosto, a todo custo para si mesmo, e também outros homens fiéis que estavam com ele.
W. W. Fereday
Gloriando-Se na Cruz
Nada é tão difícil do que tirar um homem de si mesmo; é impossível, exceto dando a ele uma nova natureza. O homem se gloria de qualquer coisa que traga honra a si mesmo – qualquer coisa que o distinga do próximo. Não importa o que seja, contanto que lhe dê uma vantagem sobre os outros. Alguns podem se gloriar em seus talentos. Existem diferenças na mente dos homens; a vaidade é mais vista em alguns, desejando a boa opinião de outros; o orgulho é mais visto em outros, tendo uma boa opinião de si mesmos. Riqueza, conhecimento, qualquer coisa que distinga um homem, ele se gloria nisso e cria um pequeno mundo ao seu redor. Também há outra coisa em que os homens se gloriam, além de coisas como talento, nascimento e riqueza, e essa é sua religião. Assim, o homem toma exatamente o que Deus deu para tirá-lo de si mesmo e atribui crédito para si mesmo por isso.
Religião
A medida da verdade, ligada à religião que os homens mantêm, é a própria ocasião de sua glória. Assim, aquele que confessa a Deus se gloriará em sua religião sobre aqueles que não O confessam; o judeu se gloria em sua religião; ele tem a verdade e “a salvação é dos judeus”; até o Cristão é grato por ter a verdade, mas depois se orgulha sobre ela, e isso traz o mal. A sutileza do inimigo é vista na medida em que é na verdade que ele faz um homem se gloriar. Com Jonas, havia apenas esse orgulho em ação: Ele tinha orgulho de ser judeu e não iria a Nínive, como Deus lhe disse, porque tinha medo de perder sua reputação. Ele preferiria ver todos os de Nínive destruídos do que ver perdido o seu próprio crédito como profeta. Jonas era um verdadeiro profeta, mas, glorificando a si mesmo, ele transformou sua religião em um terreno de glória própria. O que quer que seja que você esteja se adornando – pode até ser com o conhecimento das Escrituras – é se gloriar na carne. Uma coisa tão pequena é suficiente para nos deixar satisfeitos conosco mesmos
O “eu”
Gloriar-se na religião é algo mais profundo. Tudo o que vem do homem não tem valor. Um homem não pode se gloriar em ser um pecador. A consciência nunca pode se gloriar, e não há religião verdadeira sem a consciência. O que há então na religião que o homem se gloria? Sempre deve ter um caráter legalista, porque deve haver algo que ele tenha que fazer – severas penitências ou qualquer coisa, não importa a que custo, desde que glorifiquem o “eu”. “Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos... Eles... querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne” (Gl 6:12-13). O homem poderia impor cargas pesadas. Por que ele faria isso? Porque o “eu” quer algo para fazer. Quando o homem se gloria no “eu”, pode haver a verdade em certa medida, mas é sempre de caráter legalista, porque deve haver algo que o homem possa fazer para Deus. Gloriar-se na carne não é gloriar-se no pecado, mas, como em Filipenses 3, glória religiosa, glória em algo além de Cristo. Mas na cruz o homem não tem nada a dizer sobre isso. Não é minha cruz, mas “a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”, e a única parte que tive na cruz de Cristo foi o pecado. Meu pecado tinha a ver com isso, porque O levou até lá. Isso coloca o homem completamente abaixo. A única coisa que tenho na cruz é o meu pecado.
Pecado
Há este pensamento adicional: Estamos totalmente perdidos sem Ele. O amor divino me trata como um pecador totalmente perdido, e quanto mais vejo esse amor perfeito e divino, mais vejo como sou vil, totalmente desprezível, contaminado e perdido. Como pecador, gostei de me contaminar; Sou um escravo miserável, arrastado até a minha contaminação. A cruz, quando vejo o que ela é, destrói a glória no meu “eu” e coloca a verdade no interior também, pois não apenas me mostra o quão mau eu sou, mas me alegra em confessar meu pecado, em vez de dar desculpas por ele. Sou despertado para dizer que sou culpado de ter amado tudo isso. O amor abre o coração e me permite vir e dizer a Ele o quão mau eu sou. Assim, tenho prazer em registrar tudo o que Ele fez, tudo o que devo a Ele, e isso é gratidão. Não há deleite no pecado, mas alegria no remédio.
O prazer de Deus
Então temos, por outro lado, o deleite de Deus na cruz. “Havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz” (Cl 1:20), Deus nos concede nos deleitarmos com Ele no valor da cruz. E primeiro vemos nela o amor indescritível de Deus – “Mas Deus prova o Seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5:8). Foi o amor agindo em sua própria energia, somente de si mesmo, tão propriamente divino que uma alma que o esperasse, como uma consequência natural, não poderia ser um objeto adequado para Ele. A obra de Deus e o caminho de Deus são mostrados de uma maneira que o homem não poderia nem deveria ter imaginado. Sou um pecador pobre e miserável, e ali vejo o amor de Deus em dar Seu próprio Filho. Quando Ele perdoa, há a energia positiva e ativa do amor em dar a melhor coisa – a coisa mais próxima de si – pelo pecado, que é a coisa mais distante de si, dando-O para ser “feito pecado”. Quando eu olho para a cruz, vejo amor perfeito e infinito, Deus dando o Seu Filho para ser “feito pecado”; Também vejo sabedoria perfeita e infinita.
Pecados julgados
Com a consciência, não posso desfrutar do amor de Deus sem vê-Lo tratando com meus pecados. Deus pode me aceitar em meus pecados? Ele pode aceitar uma oferta imperfeita? Como diz Miqueias: Posso dar “O fruto do meu ventre, pelo pecado da minha alma?” Caim trouxe o fruto de sua própria obra, sem qualquer senso de pecado; a dureza de seu coração foi provada por isso, e um esquecimento absoluto de seu pecado. Eu vejo na cruz o que o meu pecado é. Não posso ver isso como Deus vê sem aprender de Deus. O homem se esqueceu de Deus o suficiente para se levantar contra Aquele que era o remédio de Deus para sua miséria. Então o juízo deve ser executado; A autoridade de Deus deve ser vindicada. Devem os anjos ver o homem desafiando Deus, e Ele não Se importar com isso? Não! Deus é um Juiz justo, e o juízo deve ser executado. Há julgamento e assim como amor vistos na cruz; não apenas Cristo, o Santo, sendo feito pecado, mas passando pelo juízo devido ao pecado. Existe a implacável ira de Deus contra o pecado, mas o perfeito amor de Deus ao pecador. Ali Sua majestade, a qual insultamos, é vindicada; até o Filho Se curva a isso. Se Ele deseja manter o brilho da glória do Pai, Ele deve justificar Seu caráter dessa maneira. A verdade de Deus foi provada na cruz. “O salário do pecado é a morte”. O homem havia esquecido isso, mas Cristo Se levanta, como a Testemunha de Deus em um mundo assim, mostrando que o que Deus disse é verdadeiro. “O salário do pecado é a morte”. O amor com o qual Deus atrai o homem para Si prova exatamente isso ao mesmo tempo.
O propósito de Deus realizado
Há mais na cruz. Deus realiza todos os Seus propósitos por meio dela. Ele está trazendo “muitos filhos para a glória”, e como poderia trazer esses pecadores contaminados para a mesma glória com o Seu próprio Filho? Deus realizou tão plenamente a obra que, quando estivermos na glória com Ele, seremos parte da demonstração dessa glória. Portanto, Ele diz: “Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça” – uma Maria Madalena, um ladrão na cruz, troféus dessa graça, por toda a eternidade! E como Ele poderia colocá-los em tal lugar com Seu próprio Filho? Sua própria glória e amor se elevam sobre todo o nosso pecado e o remove; Ele mesmo fez isso.
Paz e amor
Para nós, então, a cruz fez duas coisas: Ela nos deu paz de consciência e nos transformou em vasos de tal amor e graça. A consciência tem certeza e paz, e mais do que isso, uma confiança que Adão na inocência nunca poderia ter tido. Há comunhão e paz em minha própria alma, e há outra coisa também: tenho clareza de entendimento nos caminhos de Deus.
Quando você não conhece a cruz, pode usar os esforços humanos para acalmar sua consciência. Quando você a conhece, ela deixa livres os afetos espirituais. Quando vejo a cruz, posso amar a Deus. Se eu O ofendi, posso ir até Ele diretamente e dizer a Ele, porque sou filho, e meu relacionamento não é alterado por isso. Minha comunhão é com o Pai e o Filho – esse é meu feliz privilégio. Quando posso me gloriar na cruz, há um fim para a glória do “eu”, pois não sou nada além de um pecador. Nossa alma está se gloriando na cruz do Senhor Jesus Cristo, ou no “eu”? Se você não está se gloriando na cruz, é para sua própria perda, para não dizer para seu próprio pecado, pois nunca pode ver o amor de Deus, a santidade de Deus, a sabedoria de Deus, a verdade de Deus, como na cruz. A própria natureza que está conectada com o mundo é o que ocasionou a morte de Cristo. Portanto, quando eu me glorio na cruz, estou crucificado para o mundo.
J. N. Darby (adaptado)
Palavras da Sabedoria do Homem
Frequentemente se esquece que a carne no crente é exatamente a mesma que a carne no incrédulo. Isso sem dúvida era algo conhecido pelos santos de Corinto, mas certamente negligenciado e, como o mal que a carne traz para a Igreja sempre se assemelha ao predominante no mundo ao redor, temos aqui os vícios da sociedade grega penetrando na assembleia de Corinto. Permissividade de comportamento e de opiniões distinguia o mundo ao seu redor, e esses males logo apareceram na Igreja. A permissividade de comportamento mostrava-se em sua tolerância à conduta moral, que nem sequer era “nomeada entre os gentios”, em sua embriaguez e indulgência à mesa do Senhor, e no caráter desordenado de suas reuniões. A permissividade de opiniões mostrou-se em seus pensamentos tolerantes quanto a se identificar com a adoração de ídolos e em sua prontidão para se dividir em escolas de doutrina de acordo com a preferência por certos mestres.
De fato, eles não viram a ruína do homem. Eles acreditavam na queda como um fato, mas falharam em entender as consequências envolvidas. Eles admitiriam que a queda alienou completamente o homem de Deus, mas não entenderam que isso cegou completamente a natureza moral do homem, a ponto de torná-lo incapaz de enxergar a verdade de Deus. Este é exatamente o erro de nossos próprios tempos. Muitos pensam que a carne precisa de melhoria. Outros admitem sua ruína moral e a necessidade de uma nova natureza, mas poucos veem a total incapacidade da sabedoria natural do homem de julgar corretamente as coisas de Deus. Os coríntios, ignorando essa verdade, trouxeram sua própria sabedoria carnal para as coisas divinas, e o resultado inevitável foi confusão e divisão. Eles estavam se dividindo em escolas de doutrina, como seitas em nossos dias, e o apóstolo declara que eles eram carnais e andavam como homens.
Filosofia
O apóstolo Paulo aborda essa tendência de exaltar a sabedoria do homem em sua primeira epístola aos coríntios. Paulo diz: “Porque Cristo enviou-me não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã”. Em que medida da pregação de hoje a sabedoria humana não é apenas permitida, mas exigida? Os pregadores são procurados por sua eloquência, sua lógica, seus talentos, e não pela fidelidade com que apresentam a verdade de Deus. Mas a Palavra de Deus é clara. A cruz de Cristo e a sabedoria do homem não podem andar juntas. Se a cruz de Cristo deve ser exaltada, a sabedoria do homem deve ser rebaixada. Se a sabedoria do homem deve ser engrandecida, a cruz de Cristo se tornará “vã”.
A razão é simples: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Co 1:18). Tão amplamente os pensamentos do homem divergem dos de Deus que, mesmo na mais maravilhosa demonstração do poder salvador de Deus, o homem pode discernir nada além de loucura. Não é de admirar, pois se Deus deve ser conhecido, Ele deve ser conhecido moralmente. Mas a consciência dos homens recua ao olhar para Deus em Seu caráter moral. Portanto, muito antes “como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso” (Rm 1:28). Os mais sábios se tornaram tolos nas coisas de Deus. As pessoas mais instruídas e filosóficas do mundo reconheceram sua ignorância levantando um altar “ao Deus desconhecido”. Outros procuravam especulações ociosas, mas todos eram igualmente cegos quanto ao que Deus era. Isso estava de acordo com a sabedoria de Deus, pois, como Ele é santo e justo, essas são as primeiras coisas que um pecador deve aprender e essas são exatamente as verdades que a sabedoria natural nunca pode alcançar. Deus deve ser conhecido, não como o homem caído pode entendê-Lo, mas como Ele Se revelou, e isso somente a alma ensinada pelo Espírito pode compreender. “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (2 Co 2:14).
A loucura da pregação
Mas quando “na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” (1 Co 1:21) A salvação de Deus deve se dirigir à ruína moral do homem, e esse é exatamente o fato que o orgulho da sabedoria humana não irá reconhecer e nem pode fazê-lo. Por isso, a cruz se torna a zombaria dos sábios, a pedra de tropeço daqueles de espírito mundano. O homem admira poder e sabedoria, mas somente quando adequado a seus próprios pensamentos. Os judeus procuraram um Messias adornado em majestade e glória mundanas; os gregos buscavam um deus adequado às suas próprias especulações filosóficas. Como, então, reconhecer ou receber um Salvador que veio vestido de humildade e fraqueza? “Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Co 1:22-24).
O poder e sabedoria de Deus
Era impossível para o judeu, sem nenhum senso da ruína moral de seu povo, reconhecer o poder de Deus n'Aquele que ele viu ser desprezado e cuspido, açoitado e crucificado. Era impossível para o grego, sem consciência do pecado ou necessidade, e buscando apenas a gratificação de seu intelecto, discernir a sabedoria de Deus na morte de um obscuro Galileu que fora crucificado entre dois ladrões. Para perceber a sabedoria e o poder de Deus em tal cena, deve haver o completo abandono de toda pretensão humana, a submissão do coração à justiça de Deus e a consciência da necessidade como um pecador perdido e arruinado. É somente “para os que são chamados, tanto judeus como gregos”, que o poder e a sabedoria de Deus podem brilhar a partir de tal cenário.
Mas para os que são chamados, que maravilhas de poder e sabedoria são aqui reveladas! Onde a vitória foi tão completa quanto a que foi alcançada quando este Homem de dores inclinou Sua cabeça e entregou o espírito? A escravidão de ferro do pecado e de Satanás, da sepultura e da morte, foi quebrada para sempre; o véu que escondia Deus do homem e mantinha o homem afastado de Deus foi rasgado em dois, de alto a baixo; o justo julgamento de Deus foi suportado pelo imaculado sacrifício, e a fonte de Sua graça e amor foi liberada para fluir em correntes de bênçãos mais ricas para um mundo em ruínas. Tal foi a demonstração do poder de Deus em Cristo crucificado, e Sua sabedoria não foi menos evidente ou menos adorável. Se é pela Igreja que Deus agora manifesta Sua multiforme sabedoria aos principados e poderes nos lugares celestiais, onde estaria essa Igreja se não fossem as horas de trevas passadas pelo Santo na cruz? Ali foi que a astúcia e as artimanhas de Satanás se voltaram para sua própria confusão, sua aparente vitória transformada em derrota, e o aparente fracasso de Cristo convertido em triunfo. Da mais baixa profundidade, Ele subiu ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens, pois verdadeiramente “a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”.
Para que nenhuma carne se glorie
E este é sempre o caminho de Deus, para que “para que nenhuma carne se glorie perante Ele”. Assim foi quando Jesus estava neste mundo, pois então as coisas de Deus foram escondidas dos sábios e entendidos e reveladas aos pequeninos. Assim foi antigamente: pela tolice de soprar chifres de carneiros ao redor de uma fortaleza poderosa que “caíram os muros de Jericó, sendo rodeados durante sete dias”. Foi pela fraqueza da aguilhada de boi de Sangar, dos trezentos de Gideão e da queixada de Sansão que Israel foi libertado e os exércitos dos inimigos se puseram em fuga. Em todos os lugares vemos Deus escolhendo “as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias” e “as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes”.
A sabedoria do homem
Tal é, e sempre foi, o caminho de Deus. Que a sabedoria natural do homem está corrompida e é inútil nas coisas de Deus, e que Deus escolheu agir por aquilo que a sabedoria do mundo despreza como tolice, é evidente para onde quer que olhemos. Ele deseja despojar o homem caído de toda a glória, a fim de tornar Cristo Jesus para o crente “sabedoria, e justiça, e santificação e redenção”. Quão pior do que inútil, então, trazer aquilo que Deus assim desacreditou, à pregação do evangelho, ao ensino da verdade de Deus ou à ordem de Sua Igreja. Quando trazido para a pregação do evangelho, seu efeito é tornar a cruz de Cristo sem efeito; quando trazido para o ensino da verdade de Deus, seu efeito é causar conflitos e sectarismo, substituir “filosofias e vãs sutilezas” por aquele mistério em “Quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”; quando trazido para a ordem da Igreja, seu efeito é deslocar as direções das Escrituras para regras e formas da imaginação do homem. Seja na forma de sabedoria ou cerimonial, de racionalismo ou ritualismo, é, como vemos na epístola aos colossenses, um intruso e perturbador, do qual aqueles que estão mortos com Cristo deveriam conhecer a sua libertação.
A sabedoria de Deus
Há apenas uma regra para o novo homem, e essa é a Palavra de Deus – e apenas um intérprete das Escrituras, e esse é o Espírito Santo. Aqui temos a sabedoria de Deus, e não a do homem; se quisermos entendê-la corretamente, devemos fazê-lo descartando completamente a sabedoria do homem e tomando o lugar de alunos da escola de Deus. “E alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio” (1 Co 3:18). Numa época em que a sabedoria e a ciência do homem estão se exaltando a si mesmas contra Deus, e mesmo os verdadeiros crentes são enganados por suas pretensões, é bom ver claramente a total inutilidade dessas coisas em nos ajudar a entender a mente de Deus e agarrar com mãos firmes a verdade da toda a suficiência e autoridade soberana daquela Palavra, que é “divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra” (2 Tm 3:16-17 – AIBB).
T. B. Baines
Paz por Meio do Sangue da Cruz
O efeito da presença de Cristo aqui, na plena revelação de Sua bondade, foi que ela se tornou um sinal para manifestação desenfreada de tudo o que o homem era contra Deus. Assim, todo o nosso estado foi exposto completamente. Em vez de reconciliação, Sua presença apenas atraiu toda a irreconciliabilidade do coração natural. E “havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio d’Ele reconciliasse Consigo mesmo todas as coisas” (Cl 1:20). Tendo começado com o centro da inimizade, a reconciliação se estenderá a toda a criação, mas Ele começa com o homem. O homem só se opunha ao coração e à vontade de Deus. Seu estado completo vem à tona agora com toda a luz adicional da cruz sobre essa condição.
“Um morreu por todos”
“Se Um morreu por todos, logo, todos morreram” (2 Co 5:14). Até a cruz, Deus estava tratando com o homem como vivo na carne. Então Ele enviou Seu próprio Filho ao mundo, tendo como único resultado a manifestação de toda a inimizade do coração do homem. Agora Deus vê o homem como morto em pecados; quão abençoado é ter-nos curvado a isso, que estamos absolutamente mortos em pecados pela rejeição do Senhor Jesus Cristo. E agora, quando nos entregamos ao que somos diante de Deus, a reconciliação começa a brilhar diante de nós – não relacionada aos pecados, mas ao estado de inimizade do coração do homem. Deus Se identificou com nossa condição; Ele O “fez pecado por nós” (2 Co 5:21). Todo o nosso estado, tendo sido completamente exposto, foi julgado na cruz de Cristo. Esse foi o fim, não apenas de tudo o que fiz, mas de tudo o que sou.
A nova criação
Já não conhecemos mais a Cristo segundo a carne (2 Co 5:16). Nós O conhecemos agora como ressuscitado dos mortos, uma nova criação, tendo entrado naquele lugar como Homem. É uma criação totalmente nova, onde todas as coisas são de Deus. Assim, vemos um Homem subindo em justiça divina diante de Deus, e todo aquele lugar maravilhoso ao qual Ele foi se abrindo diante de nós, como o lar do nosso coração. Nenhum distúrbio pode ocorrer ali entre sua alma e Deus. A palavra reconciliação é difícil de explicar. Encontramos uma ilustração dela em José e seus irmãos. Depois de gozar o fruto do seu amor por quinze anos, quando o pai deles morreu, eles disseram: “Porventura, nos aborrecerá José” (Gn 50:15). Eles não tinham sido reconciliados. Com quantas pessoas acontece assim agora, muitas vezes desconhecida até o leito de morte por alguém que desfruta dos frutos de Sua obra há anos. Existe uma suspeita oculta o tempo todo, porque eles nunca viram como Deus fechou a história do primeiro homem. Que descanso de coração quando isso é conhecido!
J. A. Trench
Reconciliação pela Cruz
Cristo em Sua morte na cruz é o meio pelo qual, somente por Ele, todas as coisas são reconciliáveis a Deus, sejam as coisas no céu ou as coisas na Terra; tudo em mim que é contrário a Deus é julgado ali, e somente por meio disso sou reconciliado a Deus. Ele suportou toda a ira que eu merecia. Ele suportou a morte por todas as coisas, pois o julgamento estava em tudo. Não são apenas meus pecados, mas tudo sob julgamento do qual a cruz me liberta. As pessoas admitem que nada além da cruz poderia libertá-los de seus pecados e reconciliá-los a Deus, mas tudo aqui está sob julgamento e não existe outro caminho pelo qual tudo o mais seja reconciliado, exceto na da mesma maneira que eu, um pecador, fui. Se tudo aqui é reconciliável apenas por meio da cruz, é evidente que tudo precisava de reconciliação, e nenhuma reconciliação poderia ser efetuada senão pela cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual você e eu deveríamos dizer: “o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo” (Gl 6:14). Não façamos disso nossa gloria, “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6:14).
É evidente que o apóstolo não está aqui falando de seus pecados. Ele está falando de todas as coisas sob julgamento, e está se gloriando diante de Deus em sua própria posição por meio dela – não lamentando que ele tenha que renunciar o mundo, ou tentando manter o máximo possível dele, sem perder a paz em sua consciência, mas que ele é absolutamente separado de tudo isso pela cruz de Cristo, o mundo crucificado para ele e ele para o mundo.
Tudo sob julgamento
Se você sentisse que o julgamento estava sobre tudo, você gostaria de se livrar dele. Você conhece como é um alívio colocar a cruz entre você e seus pecados, ou melhor, saber que Deus fez isso. Agora, você não voltaria aos seus pecados – você não neutralizaria a eficácia da cruz e retornaria à responsabilidade de seus pecados. Você se regozija de ter para sempre, aos olhos de Deus, se separado de seus pecados. Agora, se você pudesse sentir sobre tudo o que há no mundo, assim como sente sobre os seus pecados, você se alegraria por estar, pela Sua mesma cruz, crucificado para o mundo, e o mundo para você. Isso resolve de imediato a questão entre o que é do homem e o que é divino.
Tudo que se relaciona com o primeiro Adão, ou com o qual ele estava conectado, é julgado na morte de Cristo. Todas as coisas julgadas estão de um lado de Sua morte, e as coisas não julgadas do outro lado. Regozijo-me ao descobrir que estou livre, não apenas dos meus pecados, mas de tudo o que está ao meu redor que não é de Deus. Tudo o que não está reconciliado por meio da cruz está sob julgamento. Que encorajamento para o meu coração perceber que eu estou, por meio cruz de Cristo, completamente fora disso, “e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o Qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20). É importante ver tudo que a cruz abrange, e que a morte de Cristo me separa de tudo aqui, para Ele mesmo. Só a morte d'Ele me conecta com qualquer coisa aqui. Lembro-me d'Ele em Sua morte e a anuncio até que Ele venha.
Morte necessária
A reconciliação exigia Sua morte. Era necessária para mim e para tudo o que vejo. Poderia esta mesma Terra ser reconciliada sem a Sua morte? Sabemos que não poderia. Posso examiná-la ou admirá-la sem lembrar do preço da reconciliação – ou, melhor dizendo, não estão todas as coisas da Terra rotuladas com ela? Sua morte é a única associação aceitável, solene e importante, que você pode ter na Terra. Tudo o mais que você vê, e até a si mesmo, exigia Sua morte. Você deveria estar agradecido por isso ter lhe garantido absolutamente à vista de Deus, como um homem novo, totalmente separado da cena, embora enquanto esteja nela, essa é sua única associação – seu único contato admissível com ela. Sua morte se torna a lembrança verdadeira e mais agradecida de seu coração em relação a Ele, enquanto você está na Terra. Você não gosta de se lembrar d'Ele em qualquer outro lugar aqui; você gosta de lembrar-se d'Ele onde Ele acabou com tudo o que era contra Deus – tudo do velho homem – e trouxe tudo de acordo com o coração de Deus.
Adaptado de Words of Truth, 8:217
O Escândalo da Cruz
Jesus, quando questionado por João se Ele era o Messias, disse: “E bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em Mim”. O escândalo era tão parte da Sua missão quanto dar vida e saúde aos necessitados. João se escandalizou por sua prisão? Ele deve aprender agora que sua honra mais verdadeira como o precursor de seu Senhor estava em sofrer por Ele. Uma benção especial ligada ao fato de ele compartilhar os sofrimentos de Cristo – “Bem-aventurado é aquele”. Oh, como essa palavra deve ter acalmado a mente perturbada de João! Como ela explicaria sua situação como prisioneiro e acrescentaria brilho à sua cadeia. Nela o Senhor previu Sua própria cruz e marcou a natureza de todo verdadeiro testemunho Cristão.
Seria um serviço fácil se tivéssemos apenas que pregar o evangelho aos pobres e testemunhar os atos benevolentes de um gracioso Salvador, mas, embora esse seja nosso privilégio, estamos conectados com Aquele que foi crucificado. Ele considera a cruz Sua maior glória e valoriza o coração que segue no mesmo caminho.
Paulo invadiu a luxuosa Corinto com o evangelho, mas seu lema era que ele não deveria saber nada entre eles além de Jesus Cristo e Ele crucificado. Isso firmou sua alma e o manteve afastado da loucura de Corinto. Ele procurou conhecer um Cristo crucificado.
E no luxo – o luxo religioso – do dia, como essa verdade investigativa é necessária! O dia da glória chegará, mas, enquanto isso, somos chamados a aprender o escândalo da cruz. Por um lado, esse escândalo ainda não cessou, e a cruz é, como sempre, o emblema da inimizade do homem a Deus, assim como, por outro lado, é a prova do amor de Deus e do Seu julgamento. Deus prova tudo pela cruz de Cristo. Aquilo que mais se assemelha a ela é mais precioso para Ele, e a religião que recusa a cruz é tida como abominação por Ele.
Cristianismo popularizado
Quanto desse “escândalo” pode ser encontrado no Cristianismo popularizado de hoje? Nenhum; o único esforço parece ser o de evitar a cruz, tanto no caráter expiatório quanto no condenatório do mundo. Ele é desprezado como antigamente e, portanto, essa popularização da verdade provocou a anomalia mais terrível possível. O que poderia ser uma farsa maior do Cristianismo dos apóstolos do que a triste falsificação que vemos ao nosso redor? Não há qualquer semelhança entre o que é apresentado a nós no livro dos Atos e o Cristianismo que ama o dinheiro, busca o prazer e está voltado para o mundo. Ele é, como sistema, a negação do Cristianismo e, pela decadência geral, temos que carregar a vergonha. Se, então, um testemunho pode ser tornado mais brilhante do que outro, consiste em não se escandalizar em Jesus.
O sucesso exterior em Sua obra é privado da maior parte de sua glória, se a ofensa estiver faltando. “E bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em Mim” teve seu significado profundo e significativo para João preso, assim como o fato de que cegos, coxos, surdos e leprosos foram curados ou mortos ressuscitados. A ofensa da cruz foi e é parte integrante e essencial do único testemunho divino.
J. W. Smith
Mistério dos Mistérios!
Ó hora solene! Ó hora única
Em poder solitário,
Quando o único Filho de Deus Pai,
Como Homem pelos pecadores, para expiar
Expira – visão extraordinária!
O Senhor da glória crucificado!
O Senhor da vida morreu e sangrou!
Mistério dos Mistérios!
A árvore da vida e da morte;
Centro de duas eternidades,
Que olham com olhos arrebatados e adoradores,
Avante de ti e de volta para ti
Ó cruz de Cristo, onde toda a Sua dor
E morte são nosso ganho eterno.
Ó como nosso coração mais íntimo se move,
Enquanto olhamos para aquela cruz;
A morte do Amor Encarnado!
Que vergonha, que tristeza, que gozo provaríamos,
Que Ele devesse morrer por nós!
Nosso coração foi partido por aquele clamor,
"Eli, Eli, lama sabactani?"
J. G. Deck, Hinário Little Flock, hino 215
“E bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em Mim”
Mateus 11:6
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