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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
Tema da edição
P. Wilson
H. H. Snell (adaptado)
A. T. Schofield (adaptado)
W. J. Prost
Christian Friend, Vol. 1 (adaptado)
G. Cutting
The Springing Well, Vol. 5
Proverbs W. Kelly (adaptado)
W. Kelly
E. Light
A Boca, os Lábios, a Língua
(Pv 10:11-14, 18-21)
11 “A boca do justo é manancial de vida, mas a violência cobre a boca dos ímpios.
12 O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões.
13 Nos lábios do sábio se acha a sabedoria, mas a vara é para as costas do falto de entendimento.
14 Os sábios escondem a sabedoria, mas a boca do tolo é uma destruição.
18 O que encobre o ódio tem lábios falsos, e o que difama é um insensato.
19 Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente.
20 Prata escolhida é a língua do justo; o coração dos ímpios é de nenhum preço.
21 Os lábios dos justos apascentam muitos, mas os tolos, por falta de entendimento, morrem”
Tema da edição
A Língua, os Lábios, a Boca
A garganta, a língua, os lábios e a boca são enumerados em Romanos 3, naquela imagem tenebrosa do pecado e da culpa do homem, pois têm sido instrumentos do mal que vem do íntimo – de um coração perverso.
“A sua garganta é um sepulcro aberto; com a língua tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura” (Rm 3:13-14).
Sim, sua garganta é um sepulcro aberto; isto é, é a saída para um lugar onde reina a morte moral. A sua língua tem sido usada para enganar – talvez em mentiras deliberadas, ou talvez apenas usando verdades parciais para enganar. O veneno das áspides está sob seus lábios para infectar aqueles que ouvem sua fala, e sua boca está cheia de maldição e amargura. Tal é o homem em sua condição de distância e inimizade para com Deus – uma imagem tenebrosa de fato.
Confissão com a boca
No capítulo 10 da mesma epístola, descobrimos que, quando o evangelho é recebido com fé, esses mesmos lábios são usados de outra maneira: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus [ou, Jesus como Senhor] e, em teu coração, creres que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo; Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” (Rm 10:9-10).
Depois que alguém recebe no coração a verdade de que o Senhor Jesus morreu por ele e ressuscitou, então a boca é aberta em confissão daquela bendita Pessoa como Senhor. Sim, a mesma boca que antes era usada para enganar, amaldiçoar e envenenar está agora aberta, para confessar como seu próprio Senhor, Aquele que antes era desprezado. Bendita mudança!
Isso é ilustrado no ladrão que foi salvo enquanto estava pendurado em uma cruz ao lado do Senhor Jesus. A princípio, ele se juntou a seu colega ladrão para insultar o Senhor da glória, mas quando a luz brilhou em sua alma, ele falou contra tal conduta e mencionou o temor de Deus. Ele repreendeu o outro ladrão, testemunhou a inocência do Senhor e depois se voltou para Jesus e se dirigiu a Ele como Senhor. Que mudança, e em tão pouco tempo! Seus lábios, língua e boca, que haviam sido usados tão recentemente no serviço de Satanás, agora eram usados para confessar Jesus como Senhor. Foi assim com Saulo de Tarso, o irado perseguidor de todos os que honravam o nome de Jesus, pois quando ele foi colocado face a face com o fato de que era o Senhor Jesus que ele estava perseguindo, ele usou seus lábios para reconhecer Jesus como Senhor. Essa mesma característica continuou a marcar o apóstolo Paulo, pois quando ele se aproximava do fim de sua jornada, ele falou carinhosamente de “Cristo Jesus, meu Senhor” (Fp 3:8). O tempo não apagou nem obscureceu o que sua língua proferiu na estrada de Damasco anos antes.
O fruto dos nossos lábios
Em Hebreus 13 lemos, “Portanto, ofereçamos sempre, por Ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13:15).
Que coisa maravilhosa é que esses nossos lábios – uma vez usados para o que era mau – agora podem dar frutos para Deus! E como eles podem produzir frutos? Quando “confessam o Seu nome”! Primeiro, o coração deve sentir essa gratidão; então os lábios a pronunciam a Deus, e Ele a chama de “fruto”. Fruto abençoado, mas ele todo é o resultado do que Sua própria graça operou por nós e em nós.
Há muitos versículos que falam de como a boca pode ser usada, mas aqui está outro que gostaríamos de observar: “para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15:6). A boca que antes era usada em desrespeito a Deus, agora pode ser usada para glorificá-Lo, e isso junto com os santos de Deus.
Palavras para edificação
Então, em Efésios 4, onde recebemos exortações para andar de acordo com a posição em que estamos agora, encontramos estas palavras:
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê [ministre – TB] graça aos que a ouvem” (Ef 4:29).
Nossos lábios não devem apenas confessar Jesus como nosso Senhor, produzir frutos para Deus e glorificá-Lo, mas, por Sua graça, podem ser usados para o que é bom, a fim de edificar outros Cristãos. Quem, senão Deus, poderia tomar tais lábios e torná-los instrumentos de bênção?
Mas também há uma reflexão triste e solene para nós, que somos salvos, em que esses lábios podem ainda produzir o que não é bom ou o que não edifica, por isso somos exortados a não permitir que saia de nossa boca qualquer palavra corrupta. Quão facilmente alguém pode cair nesse mal! O coração ainda é incuravelmente perverso, e possuímos uma natureza maligna que pode se mostrar; em nenhum lugar é mais apto a ser visto do que no que sai de nossa boca. Talvez algo contaminante tenha sido ouvido por nós, e não tivemos a cobertura no vaso (Nm 19:15), e isso encontrou uma entrada em nossa mente; algo nos contaminou e a tendência é repeti-lo para outro. É triste, muito triste quando fazemos isso, pois nossa boca se torna então um instrumento para contaminar outros, e não para edificá-los.
O uso da língua
A epístola de Tiago fala muito sobre a língua e o que ela faz. Tiago não se aprofunda até a fonte no coração, mas nos dá a conhecer as coisas terríveis que saem da boca. Diz (leia Tiago 3) que “é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas”. Sim, a língua é apenas um pequeno membro, mas pode causar danos incalculáveis. Como ela pode se vangloriar! E a vanglória é odiosa para Deus; isso é orgulho. A língua é uma coisa que nenhum homem domou, embora tenha domado criaturas da Terra, do mar e do ar; é um mal rebelde. Mas o escritor inspirado continua dizendo que da mesma boca não deveriam sair coisas boas e ruins; uma fonte não dá água doce e amargosa, ou água salgada e doce. Essas palavras devem nos exercitar muito sobre o que sai de nossa boca.
Em Colossenses 3, somos instruídos a tirar as “palavras torpes” da nossa boca e a não mentir uns aos outros (vs. 8-9). Com que facilidade contamos algo de outra forma e não exatamente como nos foi contado. Somos muito capazes de colorir as coisas, a colocar uma luz diferente nelas, e será que isso não é, em sua essência, mentir? Quão cuidadosos devemos ser para contar as coisas corretamente e julgar cada violação da exata verdade!
Inveja e conflito
Quando Paulo escreveu sua segunda carta aos Coríntios, ele disse que temia que, quando chegasse a eles, encontraria “pendências, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos” (2 Co 12:20). Quão triste que tal condição pudesse existir entre os santos de Deus! Que pendências ou contendas têm ocorrido na Igreja na Terra! Que confusão e obra maligna têm sido forjadas pela inveja! E o que diremos de iras e contendas, ou animosidades e dissensões? Elas não vêm de dentro, de um coração maligno, daquilo que é deixado sem julgamento por nós mesmos? Mas as detrações, ou como outra tradução coloca, “difamações” (TB), trouxeram tristeza a muitos corações. Com que facilidade agimos pelas costas dos outros e dizemos coisas para prejudicar nossos irmãos. Não é esse um mal predominante? Isso não está ainda em operação entre os filhos de Deus? E oh, aqueles mexericos ou fofocas! Quem pode avaliar o problema e a tristeza nas assembleias do povo de Deus provocadas por mexericos? Mexericar, ou fofocar, nunca é sobre o bem; é sempre algo obscuro. Mas alguns santos se escondem atrás do fato de que o que eles fofocam é a verdade, mas será que isso é “amável... de boa fama” ou louvável? Quantas maledicências e mexericos seriam evitados se nos recusássemos a falar pelas costas de nosso irmão algo que não diríamos na frente dele. E apontaríamos o dedo para o outro? Há alguém que não seja, em alguma medida, culpado disso? Mas fiquemos de sobreaviso, pois a Palavra de Deus adverte sobre esses males e seus tristes resultados.
Grande parte das fofocas seria evitada se mostrássemos o espírito de amor; o amor nunca prejudicará o objeto de sua afeição. Se o amor fosse mais ativo, estaríamos mais no espírito de oração, buscando o bem e a bênção do nosso irmão em vez de falar dele aos outros. O Senhor falou aos outros sobre as falhas de Pedro, ou mesmo seu fracasso? Em vez disso, Ele disse a Pedro: “Eu orei por ti”. Estamos mais prontos para falar aos outros das falhas de nosso irmão do que para levá-lo diante do trono da graça!
Desses mexericos vêm raízes de amargura, e logo muitos são contaminados. Que o Senhor nos exercite a todos para estarmos em guarda contra as investidas desse mal pernicioso, porém mostrar o amor que “cobre uma multidão de pecados”. Que Deus veja o amor em exercício em favor dos nossos irmãos!
Sãs palavras de sabedoria
Existem algumas sãs palavras de sabedoria no livro de Provérbios sobre este assunto, que citaremos: “Na multidão de palavras não falta transgressão”. E isso não é verdade? Onde há muito falatório, há pecado nele. “Mas o que modera os seus lábios é prudente” (Pv 10:19).
“O difamador (fofoqueiro) separa os melhores amigos” (Pv 16:28). Uma obra maligna, de fato! Mas quantos amigos foram separados pelo trabalho de algum fofoqueiro – alguém que pode ter dito a verdade, mas a coloriu, ou colocou uma luz errada sobre ela, e o prejudicado não teve reparação, pois ele não tinha conhecimento do que foi feito.
“O que guarda a boca e a língua guarda das angústias a sua alma” (Pv 21:23). Sãs palavras! Palavras necessárias!
Fofoca
E lembremo-nos de que quando alguém dá início a alguma calúnia ou informação maldosa, “sem lenha, o fogo se apagará; e, não havendo maldizente, cessará a contenda” (Pv 26:20). Não temos o poder pôr fim a alguma informação maldosa, em vez de repeti-la e continuar a espalhá-la? Será que sempre tomamos cuidado para não colocar lenha no fogo?
Um irmão tinha o hábito de perguntar a qualquer um que lhe trouxesse uma fofoca: “Posso contar isso à pessoa de quem você está falando? Se não, nem me diga.”
E uma má notícia não viaja mais rápido do que uma boa? Sim, até uma mentira corre mais rápido que a verdade. Anos atrás, alguém disse: “Uma mentira vai dar a volta ao mundo antes que a verdade possa calçar os sapatos”. E então, quando uma notícia maldosa é iniciada e mais tarde descoberta como incorreta ou falsa, os mesmos que a espalharam fazem um esforço igual para circular a verdade e corrigir o erro? Em muitos casos, não.
“Põe um guarda”
Para encerrar, há dois versículos nos Salmos que podemos usar como uma oração todos os dias. Não que aprovemos formas prescritas de oração, mas esses versículos expressam mais adequadamente qual deve ser o verdadeiro desejo de nosso coração:
“Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a Tua face, SENHOR, rocha minha e libertador meu” (Sl 19:14). Quão cuidadosos devemos ser para que as palavras de nossa boca sejam aceitáveis aos olhos d’Ele! Nosso irmão pode não ouvir o que é dito sobre ele, mas há Alguém que ouve e sabe tudo, e devemos procurar que tudo o que está no nosso coração e o que sai da nossa boca possa encontrar Sua aprovação.
E o segundo versículo que citaremos é: “Põe, ó SENHOR, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141:3). Se esse fosse o desejo do nosso coração e a linguagem dos nossos lábios, quando nos encontrássemos com outros Cristãos, quão diferente seria o assunto de nossa conversa. Que o Senhor nos conceda graça para desejar esta guarda de boca e lábios. E que a língua, os lábios e a boca, anteriormente usados em nosso pecado e loucura, sejam usados para glorificar a Deus e ministrar graça aos outros.
P. Wilson
A Língua
Existem três características especiais da língua como “instrumento de injustiça para o pecado”.
Primeiro, é o grande instrumento de engano e lisonja. Somente de Cristo pode ser dito: “o Qual não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano” (1 Pe 2:22). Mas em referência a outros, este é o solene veredito: “Porque não há retidão na boca deles; o seu íntimo são verdadeiras maldades; a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua” (Sl 5:9). Tal lisonja e engano tem sido uma marca de falsos profetas e falsos mestres. Esses profetas profetizaram “mentiras”, “enganos”, “coisas suaves” e as pessoas adoravam que assim fosse.
Bajulação
Os homens podem lisonjear a Deus, assim como Israel da antiguidade. “Quando os matava, então O procuravam; e voltavam, e de madrugada buscavam a Deus... Todavia lisonjeavam-No com a boca... Porque o seu coração não era reto para com Ele” (Sl 78:34, 36-37 – ACF). O homem pode lisonjear seu semelhante, mas a sabedoria de Deus dá um solene aviso: “Não te intrometas com aquele que lisonjeia com os seus lábios” (Pv 20:19 – ACF).
Ódio
Em segundo lugar, a língua é o instrumento pelo qual o ódio do coração a Deus – e o desafio do coração a Deus – é frequentemente manifestado. É de fato “um pequeno membro”, mas é “um mundo de iniquidade”; “inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno” (Tg 3:5-6). O pensamento do homem natural é: “Com a nossa língua prevaleceremos; os lábios são nossos; quem é o senhor sobre nós?” (Sl 12:4). Assim é dito a respeito da besta no livro do Apocalipse: “E foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfêmias... e abriu a boca em blasfêmia contra Deus, para blasfemar do Seu nome, e do Seu tabernáculo, e dos que habitam no céu” (Ap 13:5-6).
A língua, por meio da educação, pode ser usada para esconder os pensamentos do coração, mas muitas vezes, em uma manifestação súbita, ela indica o que está passando no coração. É certamente verdade que “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34). Embora a decência convencional possa restringir o homem na presença de seu semelhante, quando a piedade provoca zombaria ou expressão de desprezo, essas palavras vãs são um verdadeiro indicador do estado real do coração diante de Deus.
Presunção arrogante
Terceiro, a língua é o principal instrumento pelo qual os homens expressam os pensamentos orgulhosos de seu coração, por mais impotentes que sejam para levá-los a efeito. “Assim também a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas” (Tg 3:5). É o resultado característico do falso ensino trazido à Igreja (2 Pe 2:18) que os homens falariam “coisas mui arrogantes de vaidades”. Então, novamente, quando “a graça de Deus” é transformada em permissividade da vontade humana, “difamam autoridades superiores” (ARA) e “dizem mal do que não sabem” (Jd 8,10). Poderíamos multiplicar exemplos de como o homem afirma, a cada passo, sua independência de Deus, até que finalmente desafia abertamente a Deus e ao Cordeiro. O homem pode fazer grandes coisas, mas a Palavra de Deus diz: “Não temas… O SENHOR faz grandes coisas” (Jl 2:21 – ARA). Deus confronta o homem em terrível julgamento com base na arrogante presunção de sua língua, bem como na voluntariosa audácia de seus atos.
Pronto para ouvir, tardio para falar
Não é da “língua para falar” que os homens precisam, mas do “ouvido para ouvir”, e nunca a língua será usada corretamente para a glória de Deus até que haja o ouvido para ouvir. “Todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar” (Tg 1:19). Os homens inverteram a ordem divina e ambicionaram a prontidão de fala, embora o ouvido seja surdo para ouvir. Todos querem falar; poucos têm paciência para ouvir. O ato judicial mais doloroso já infligido por Deus a Israel foi deixá-los com “ouvidos negligentes para ouvir”. Isso alarmou o apóstolo quanto aos hebreus convertidos, para que não houvesse um retorno à perdição, porque eles eram “negligentes para ouvir”. O olho pode estar cego, o ouvido ensurdecido e o coração engordado (ou insensível), mas a boca foi deixada intocada para contar sua verdadeira condição. E quando agradou a Deus abrir os olhos de alguém para ver Sua glória, a confissão foi: “ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios” (Is 6:5).
Se a língua deve ser recuperada para a glória de Deus, precisamos começar pelo ouvido. Esta é a ordem divina. O próprio Jesus fala assim: “O Senhor JEOVÁ Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem. O Senhor JEOVÁ Me abriu os ouvidos, e Eu não fui rebelde; não Me retiro para trás” (Is 50:4-5). Os homens ainda desejam a língua dos eruditos; confessam que têm incapacidade de se expressar e desejam poder falar como outros que falam de Cristo e Sua salvação, mas ignoram que o que falta é o ouvido obediente.
O ouvido para ouvir
Quando Moisés recebeu do Senhor o encargo de libertar Israel do Egito, ele viu todas as dificuldades quanto ao povo recebe-lo e de faraó ouvi-lo. Entre outras dificuldades, ele roga: “Ah! Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua” (Êx 4:10 – ARA). Moisés ignorava que o necessário era o ouvido pronto. Ao que lhe replicou o Senhor: “Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não Sou Eu, o SENHOR? Vai, pois, agora, e Eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Êx 4:11-12 – ARA). Se Moisés tivesse a língua dos sábios, isso seria por ter seu ouvido despertado para ouvir como os sábios, de outra forma a doutrina seria a doutrina de Moisés, e não a doutrina de Deus.
Mas a ordem divina é vista mais claramente n’Aquele que é Perfeito: “como ouço, assim julgo, e o Meu juízo é justo, porque não busco a Minha vontade, mas a vontade do Pai, que Me enviou” (Jo 5:30). Novamente, quando os judeus se maravilharam, dizendo: “Como sabe Este letras, não as tendo aprendido? Jesus respondeu e disse-lhes: A minha doutrina não é Minha, mas d’Aquele que Me enviou”. E então Ele acrescenta que o verdadeiro aprendizado e a capacidade de falar só podem ser adquiridos na mesma escola. “Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele [tem o ouvido pronto], conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo de Mim mesmo” (Jo 7:15-17 – ARA). O ouvido aberto é o caminho para a língua dos eruditos (ou instruídos).
H. H. Snell (adaptado)
Engano e Mentira
Este é um dos pecados específicos relacionados com a língua, aquele membro indisciplinado que nenhum homem pode domar. Diversas vezes o engano e a mentira são enfaticamente proibidos e condenados pelo Deus da verdade (Cl 3:9; 1 Pe 3:10; Pv 12:22; 24,28).
Nenhum engano em Cristo
Quando Pedro fala da vida do Senhor Jesus como um exemplo para imitarmos, ele enfatiza que nenhum engano foi encontrado em Sua boca. Aqueles que enganam são, portanto, evidentemente muito diferentes de Cristo. Ao escrevermos para aqueles que professam serem filhos de Deus, ao olhar para alguns exemplos desse terrível pecado na Escritura, tomaremos apenas aqueles em que estiver envolvido um filho de Deus, ou pelo menos um professo.
Mentir por causa do medo
Encontramos em Gênesis 18:15, Sara contando uma mentira descarada por causa do medo. Quantas vezes isso acontece, como resultado de termos feito ou dito algo de que nos envergonhamos. Pode ser uma coisa certa, e assim nos envergonhamos de Cristo; ou pode ser uma coisa errada, e temos vergonha de sermos descobertos. Em ambos os casos, uma mentira escapa de nossos lábios antes que percebamos. A cura radical para isso é não fazer o que nos envergonha; ou, se a coisa estiver certa, não nos envergonhar do que fazemos. Se, no entanto, caímos em um pecado, não vamos adicionar outro a ele, mas no momento em que a mentira estiver prestes a sair de nossos lábios, deixemos que o pensamento, “Deus me ouve”, instantaneamente a detenha. Uma mentira desse tipo para se proteger é talvez a mais desprezível, odiada tanto pelos Cristãos quanto pelos homens do mundo. Tendo assim olhado para isso, vamos resolutamente evitá-la, mesmo nas menores coisas, e nunca emprestar nossa língua a tal engano mesquinho.
Mentir para benefício próprio
O próximo exemplo está em Gênesis 27:19, quando Jacó conta uma mentira descarada para benefício próprio – outra variedade desprezível desse pecado de múltiplas faces. Observe também que Jacó era um filho de Deus, e o resultado é que, nos próximos 30 anos de sua vida, ele sofreu as consequências de seu pecado, pelo qual também não ganhou nada, pois Deus lhe teria dado tudo no devido tempo. Algum de nós foi vítima desse pecado? Apressando-nos a ser ricos, a melhorar nossa posição ou, de alguma forma, correr à frente de Deus, alguma vez, por motivos egoístas, dissemos uma mentira? Se assim for, tenho certeza de que sofremos desde então, e não pode haver verdadeira restauração até que essa mentira seja confessada não apenas a Deus, mas ao homem. Muitas vezes, uma mentira leva a outra, como no caso de Jacó, e uma vez embarcado nesse percurso fatal, quem pode dizer qual será o fim? Nunca nos permitamos mentir para nosso próprio benefício. Pense por um momento que negação horrível tal pecado é de tudo o que Jesus já foi ou fez!
Mentir para cobrir um pecado
Depois de vários exemplos, chegamos a Davi, que era culpado tanto de mentir (1 Sm 21:2) quanto de enganar (2 Sm 11) do mais terrível caráter, pela qual ele procurou encobrir um pecado horrível, tornando-o duas vezes pior. Oh, quantas vezes algum pecado anterior é a causa de um longo curso de engano e mentira. Amados amigos, procuremos, acima de tudo, ser retos com Deus, com nossos semelhantes, com nós mesmos – e se cairmos em pecado, nunca procuremos encobri-lo com outro, ainda pior do que o primeiro. Um caminho de engano prejudica positivamente a alma, destruindo toda a simplicidade, todo o gozo, toda a comunhão. O resultado desses pecados no caso de Davi foi um curso de sofrimentos quase sem paralelo em sua gravidade, vindos das mãos de seus próprios filhos. Não pensemos, portanto, em escapar dos olhos de Deus que tudo contemplam.
Hábito de mentir
Encontramos em 1 Reis 13:18 um profeta de Deus mentindo de maneira muito irresponsável, sem qualquer razão aparente. Encontramos tais caráteres agora, mesmo entre o povo de Deus – alguns que aparentemente não têm consideração pela verdade e acham mais fácil contar uma mentira do que evitá-la. O único remédio quando a doença se desenvolveu é ir direto a Deus e clamar a Ele por força e vigilância diária para superá-la. Lembro-me de um desses casos. Percebi que uma pessoa estava quase sempre em silêncio, e um dia perguntei a causa. Ele disse que tinha sido tão viciado em mentir que agora estava determinado a não falar nada se não pudesse falar a verdade direta; portanto, ele raramente abria seus lábios e sempre considerava bem antes de falar. Pecados profundamente enraizados exigem algumas dessas medidas radicais.
Dois casos solenes de mentira
No Novo Testamento, dois casos solenes, um de mentira e outro de engano, em Pedro e Ananias, se destacam acima dos outros. Pedro, alertado pelo Senhor, mas confiante em sua própria força, contou três mentiras para se salvar, na verdade chegando ao ponto de negar o Salvador enquanto Ele estava mudo diante de Seus acusadores. Tais pecados não são desconhecidos mesmo hoje. Muitos de nós temos vergonha de expor nossas opiniões, e quando de repente uma pergunta inesperada é feita, por medo ou vergonha, somos levados a mentir, para o triunfo de Satanás e a tristeza de nosso Senhor. Vigiemos seriamente contra isso, e se apanhados nessa armadilha, vamos imitar Pedro em seu caminho de restauração. É notável ver que aquele que caiu é tão perfeitamente restaurado que não apenas ser capaz de acusar os Judeus do mesmo pecado (At 3:14), mas também foi escolhido por Deus para ser o executor de Sua justiça no flagrante engano de Ananias. Esse também foi um pecado malicioso – um caminho de engano sendo praticado apenas para dar aos outros uma falsa impressão de sua generosidade e parecer diferente do que ele era. Essa é outra variedade comum do pecado de mentir. Ansiosos por estar bem aos olhos de nossos semelhantes, em vez de aos de Deus, não hesitamos às vezes em descer a práticas enganosas para parecermos diferentes do que somos, e assim receber louvor de homens que não merecemos. Certamente, tal caminho só precisa ser apontado para ser condenado por todo coração correto. Todos esses exemplos foram selecionados da vida de professos filhos de Deus, e eles merecem uma consideração cuidadosa, dando, em cada caso, impressionantes ilustrações de causas comuns de engano e mentira entre os Cristãos. Mentiras podem ser ditas sem usar os lábios; podemos agir de modo a enganar e procurar nos desculpar porque não dissemos o que é falso. Esta é uma desculpa inútil e não estará diante de Deus nem por um momento. Todos esses redutos de mentiras Ele varrerá para longe.
A única maneira de sermos felizes diante d’Ele, e sermos semelhantes a Cristo em alguma medida, é virarmos as costas com firmeza e determinação ao engano em todas as suas formas, por palavra ou ação, e determinarmos, na força de Deus, que procuraremos sinceramente dizer e não fazer nada que não seja absolutamente verdadeiro, salvando-nos assim de colher os frutos amargos de vergonha e tristeza que um dia se seguirão. Que Deus ajude cada um de nós que é tentado por este pecado a vencê-lo em Sua força e a aprender a abominá-lo e odiá-lo porque é tão odioso a Cristo e tão desonroso ao Seu nome.
“O lábio de verdade ficará para sempre, mas a língua mentirosa dura só um momento” (Pv 12:19).
A. T. Schofield (adaptado)
Palavras de Graça
Em vários artigos desta edição de O Cristão, tem havido um forte foco no uso errado da língua e sérias advertências quanto aos efeitos a longo prazo de dizer coisas pecaminosas. Essas advertências são necessárias, pois como disse o Senhor Jesus: “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34). Nosso coração natural é mau, e se nós, como Cristãos, permitirmos que nossa velha natureza pecaminosa aja, nossa boca refletirá nosso coração mau.
Golpes duros
Muitos anos atrás, um jovem foi para a China para trabalhar com Hudson Taylor na divulgação do evangelho. Como era seu costume, Hudson Taylor levou o jovem para almoçar a fim de lhe dizer o que ele poderia esperar em sua vida na China. Durante a refeição, Hudson Taylor, de repente, bateu forte na mesa com o punho fechado, fazendo com que parte da água saísse dos seus copos. Quando o jovem olhou para ele surpreso, Hudson explicou-lhe que na China, ele, sem dúvida, levaria muitos “golpes duros”. Então ele continuou dizendo que, quando ele recebia um duro golpe, o que estava dentro saía, assim como a água havia espirrado dos copos quando Hudson bateu na mesa.
Essa é uma boa lição para todos nós, pois é quando recebemos um golpe duro neste mundo que nosso verdadeiro estado de alma é exposto. Um velho irmão costumava nos lembrar de que “as circunstâncias não produzem nosso estado de alma; elas o manifestam”.
Vencer o mal com o bem
No entanto, a palavra de Deus é equilibrada, e se precisamos de advertências contra o uso errado de nossa boca, também precisamos de encorajamento para usá-la da maneira certa. A Escritura nos lembra: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:21). Além de guardar nossos lábios, devemos também falar palavras que sejam boas e corretas. Isso é mais importante do que nunca hoje, quando homens e mulheres dizem quase qualquer coisa publicamente sem nenhuma vergonha.
Nosso Senhor Jesus Cristo nunca pecou de forma alguma, e isso foi particularmente perceptível no que Ele disse. Repetidamente os líderes Judeus tentaram enredá-Lo em Seu discurso, na esperança de serem capazes de acusá-Lo de alguma coisa. No entanto, Ele nunca sucumbiu a nenhuma dessas tentativas. Vejamos algumas coisas que Ele disse.
Palavras de graça
Quando nosso Senhor começou Seu ministério terrenal, O encontramos na sinagoga de Nazaré, onde Ele foi criado. Depois de ler uma parte do livro de Isaías, Ele falou ao povo, e está registrado que eles “se maravilharam das palavras de graça que saíam da Sua boca” (Lc 4:22). Nosso Senhor começou trazendo graça diante do povo, pois eles estavam acostumados a ouvir as palavras inflexíveis de uma lei que nenhum deles podia guardar. Mas aqui estava Aquele que veio a eles em graça, apresentando-Se como Aquele que traria cura e libertação para eles, se O quisessem. Infelizmente, eles ficaram ofendidos, pensando que Ele era apenas o filho de José, e não o Filho de Deus. Sua familiaridade com Ele cegou o coração deles quanto a Quem Ele era.
O poder das palavras
É sabido que, quando nos comunicamos com os outros, não são apenas as palavras que dizemos, mas também o tom de nossa voz e nossa linguagem corporal que fazem parte da mensagem. Desnecessário será dizer que o tom da nossa voz e a nossa linguagem corporal têm mais peso do que o que dizemos. Podemos ter certeza de que, quando nosso Senhor falou com palavras de graça, tudo o que Ele disse estava em harmonia com o tom de Sua voz e Sua linguagem corporal. Mais tarde, em Seu ministério, os líderes Judeus enviaram oficiais para prendê-Lo. Quando voltaram sem Ele, os oficiais disseram aos seus líderes: “Nunca homem algum falou assim como este Homem” (Jo 7:46). Isso ilustra outro ponto sobre palavras piedosas – há um poder moral nelas que é maior do que o poder físico. Os oficiais tinham o poder natural de prender o Senhor, mas Suas palavras tiveram tal efeito sobre eles que não puderam fazê-lo. Vemos esse mesmo efeito mais tarde em Lucas 4, quando Ele falou na sinagoga em Cafarnaum. Mais uma vez, lemos que “admiravam-se da Sua doutrina, porque a Sua palavra era com autoridade” (v. 32). Há um poder nas palavras faladas pelo Espírito de Deus, e elas têm um efeito mesmo em pessoas ímpias. Lembro-me de muitos anos atrás trazer um amigo da faculdade para uma reunião do evangelho em uma conferência bíblica e, embora ele não tenha sido salvo naquela época, ficou muito impressionado com a mensagem do evangelho. O evangelho naquele caso foi dado por um irmão que não tinha educação especial, mas havia poder no que ele disse. (O jovem em questão foi salvo muitos anos depois.)
Lemos em João 1:17 que “a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”, e embora não possamos ter uma sem a outra, é significativo que a graça seja mencionada primeiro. Deus é um Deus de graça, e o que pregamos hoje é “o evangelho da graça de Deus” (At 20:24). Assim como as palavras do Senhor Jesus refletiram essa graça, assim também você e eu devemos fazê-lo em nosso discurso. Uma palavra de graça muitas vezes quebra um coração duro quando uma solene advertência parece não ter efeito. Paulo poderia exortar os colossenses da mesma maneira e dizer-lhes: “A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal” (Cl 4:6 – AIBB). A graça deve estar sempre lá, mas o sal também é necessário.
Fortes palavras de advertência
Nosso bendito Senhor falou com graça, como vimos, mas houve momentos em que Ele teve que falar fortes palavras de advertência. Ele teve que dizer àqueles em Nazaré (Lc 4:24-27) que não havia bênção para aqueles que O rejeitaram apenas porque Ele havia crescido entre eles. Ele teve que advertir os escribas e fariseus pela hipocrisia deles em Mateus 23:1-36, chamando-os de “insensatos” e de “raça de víboras”.
No entanto, apesar de Suas fortes palavras para eles, Ele concluiu Seu discurso lamentando sobre a cidade de Jerusalém e expressando o desejo de que Ele pudesse reunir seus filhos, “como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas” (v. 37). Apesar de sua incredulidade e rejeição a Ele, Seus pensamentos eram para com eles e para o julgamento que eles trariam sobre si mesmos. Seu amor por eles nunca mudou.
Hora de falar
Assim como o exemplo que temos com as palavras de graça de nosso Senhor, há muitas outras referências à fala e a como e quando usamos nossos lábios. Eclesiastes 3:7 nos diz que há um tempo para falar e um tempo para ficar calado. Muitas vezes, não falar tem um impacto maior do que muitas palavras. Ao confortar alguém que esteja passando por provação, como é bom sentar-se calmamente em companheirismo e compreensão. Muitas palavras não são necessárias nesse caso.
1 Coríntios 14:3 nos admoesta a falar aos homens para “edificação, exortação e consolação”. Essas três coisas precisam de aprendizado, sabedoria e compaixão. Somos lembrados do versículo: “Na multidão de palavras não falta transgressão” (Pv 10:19). A consideração em oração deve vir antes do falar muito!
E para culminar toda essa instrução, temos aquele belo versículo em Provérbios 25:11: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo”. Todos nós já experimentamos essa “palavra dita a seu tempo” e podemos apreciar seu valor – a palavra certa, falada no momento certo e da maneira certa. Que possamos diariamente pedir ao Senhor Sua direção para cada palavra nossa!
W. J. Prost
Uma Palavra Sobre a Fala Imprudente
Escritura nos diz que “o indignaram junto às águas de Meribá, de sorte que por causa deles [o povo de Israel] resultou mal a Moisés: Porque eram rebeldes ao espírito de Deus, E Moisés falou imprudentemente com os seus lábios” (Sl 106:32-33).
É muito importante percebermos que Deus trata conosco com base no Seu próprio relacionamento para conosco. Isso é tão verdadeiro na disciplina quanto em qualquer outra coisa, pois recebemos a correção de nosso Pai porque Ele é nosso Pai. Deus não pode ignorar os pecados de Seus santos como os do mundo. O pecado em um santo de Deus é muito mais sério do que em um incrédulo, uma vez que a glória de Deus sofre muito mais em nossas mãos.
Além disso, é reconfortante ver que Deus não hesita em registrar em Sua Palavra os fracassos de Seus santos. Ele está nos mostrando neles que a Sua fidelidade nunca falha. Embora Deus visite os pecados de Seu povo, suas bênçãos não falharão, pois Deus não falha em Suas promessas por causa do nosso fracasso.
Moisés
Quando chegamos a Moisés, descobrimos que “ele falou imprudentemente com os lábios”. O próprio Moisés registra isso várias vezes, para mostrar que mesmo uma palavra imprudente não passa despercebida.
Creio que pecamos muito a esse respeito, ao falar imprudentemente com nossos lábios. Como diz o apóstolo Tiago: “Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg 3:2). É aqui que Satanás obtém tal vantagem sobre nós. A quantidade de tristeza assim trazida sobre as almas não pode ser estimada, pois grande parte do mal que surge entre os santos é de falar imprudentemente com os lábios.
Em contraste, onde Moisés falhou, o Senhor Jesus Se manteve firme. Quando Ele estava aqui, todas as vezes que aqueles escarnecedores Lhe rodearam procurando enredá-Lo em Seu discurso, toda a contradição dos pecadores contra Si mesmo, toda a argumentação deles nunca fizeram emergir d’Ele uma palavra imprudente. Em vez disso, Sua sabedoria brilhou visivelmente ao silenciá-los.
Murmurando
Não é incomum, que aqueles que conheceram a redenção por meio do sangue do Cordeiro, murmurem, como fez Israel, por não terem “as vinhas, os figos e as romãs”, tão rapidamente quanto desejavam. Quando a congregação estava sem água, o que Moisés e Arão poderiam fazer? Eles não tinham recursos em si mesmos; só poderiam levar isso diante do Senhor. “Então, Moisés e Arão se foram de diante da congregação, à porta da tenda da congregação e se lançaram sobre o seu rosto” (Nm 20:6). Como resultado, lemos que “a glória do SENHOR lhes apareceu”. Quão abençoado foi isso para Moisés e Arão! Quaisquer que sejam as circunstâncias, no momento em que chegamos diante do Senhor, a glória do Senhor aparece. “E o SENHOR falou a Moisés, dizendo: Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha perante os seus olhos, e dará a sua água; assim, lhes tirarás água da rocha e darás a beber à congregação e aos seus animais” (Nm 20:7-8). Moisés deveria ter descansado simplesmente no Senhor, pois a vara que ele deveria ter tomado era a vara de Arão – a vara da graça sacerdotal.
As águas de Meribá
Deus honrará Seus servos, mas no momento em que saímos do lugar de servo, Ele nos humilha. Moisés pega a vara e diz: “Ouvi agora, rebeldes; (nós) tiraremos água desta rocha para vós?”. Ele não santifica o Senhor aos olhos da congregação, pois ele diz “nós”, não “o Senhor”. Tão logo assumimos ser alguma coisa, saímos do lugar de servo. Então, “Moisés levantou a sua mão e feriu a rocha duas vezes com a sua vara”. Foi-lhe dito para falar à rocha, mas ele a fere duas vezes, como se o poder divino precisasse ser ajudado pela energia humana. Mas ainda assim “saíram muitas águas”. A fidelidade de Deus não é tocada pelo fracasso de Seu servo. Moisés falha, mas Deus não nega que Moisés seja Seu servo, nem nega o poder da vara. Deus pode estar usando o ministério de um indivíduo para abençoar a alma dos outros, quando Ele está prestes a disciplinar essa mesma pessoa, tão usada por Ele. Ele permanece fiel; Ele não negará (bendito seja o Seu nome!) a Sua própria verdade, embora misturada com muita fraqueza, e até mesmo com o ego, naqueles que a pregam.
“Pelo que o Senhor disse a Moisés e a Arão: Porquanto não Me crestes a Mim, para Me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não metereis esta congregação na terra que lhes tenho dado. Estas são as águas de Meribá, porque os filhos de Israel contenderam com o SENHOR; e o SENHOR Se santificou neles” (Nm 20:12-13).
Amados, lembremo-nos de que foi uma pequena coisa, uma palavra imprudente, que fez com que Moisés perdesse Canaã. E lembremos, além disso, de que o governo da língua é mais pressionado sobre nós no Novo Testamento do que quase qualquer outra coisa. “Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado” (Mt 12:37). Buscar exaltar a nós mesmos é rebelião contra Deus, pois é tomar a glória de Deus e dá-la a nós mesmos. Aonde quer que formos, esforcemo-nos para levar conosco um senso da presença de Deus, Sua santidade e Seu amor; isso nos preservará de mil armadilhas.
Christian Friend, Vol. 1 (adaptado)
Falando de Cristo aos Outros
“Às vezes sinto”, escreve alguém, “que devo falar com homens muito acima da minha posição na vida, e me preocupo muito por causa da minha incapacidade de fazê-lo. Fico perplexo ao saber se Deus quer que eu faça isso ou não, e então entro em tal estado que não sou útil para ninguém”.
O mero esforço para falar vale pouco; na verdade, não achamos que Deus Se importaria que você falasse de Seu amado Filho sob tais circunstâncias. É da “abundância do coração” que a boca fala, e lembre-se de que, quanto a falar de Cristo, o coração não tem abundância própria. É somente quando a plenitude do amor de Deus em Cristo está fluindo para dentro do coração que há qualquer poder para um transbordamento. Para usar uma figura, quando a pressão da água é grande, ela encontrará vazão através da menor abertura, e quando o amor de Cristo é desfrutado pela alma, nenhuma “bomba” de esforço legalista será necessária para produzir um transbordamento.
Você geralmente estará seguro, querido amigo, ao falar quando não puder evitar, e se a qualquer momento sentir uma relutância, não continue “tentando” nem continue se preocupando porque não consegue dizer uma palavra. Considere os seus caminhos e o funcionamento secreto do seu coração, e sem dúvida encontrará o que está minando o seu gozo do amor de Cristo, pois tenha certeza de que todo o segredo está nisso. A salvação não nos custa nada, mas andar por este mundo na plenitude do gozo celestial envolve a renúncia de muitos ídolos! Desfrute de Seu amor, e tudo o que Seu amor não pode desfrutar, isto é, tudo o que você não poderia pedir que Ele compartilhasse com você será corretamente avaliado e tratado adequadamente.
G. Cutting
O Serviço Apenas dos Lábios não se Aproveita
A mera profissão da fé Cristã não salvará: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus” (Mt 7:21). O serviço apenas dos lábios não se aproveita. Deve haver sujeição à autoridade das Palavras de Cristo – curvar-se absolutamente a Ele como o único Salvador e esperança do povo de Deus. Construir sobre Ele é construir sobre a Rocha que nunca pode ser movida. Todo aquele que n’Ele crê não será envergonhado.
The Springing Well, Vol. 5
A Boca, os Lábios, a Língua
O Livro de Provérbios tem muitas referências à “boca”, “lábios” e “língua”. Os versículos a seguir são retirados da tradução de W. Kelly, juntamente com seus comentários. Esses versículos listam os usos positivos e negativos de cada um.
“A boca dos justos” é uma fonte de vida, mas “a boca do tolo” está perto da destruição. A sabedoria é encontrada “nos lábios” dos inteligentes, e eles alimentam muitos, mas “lábios mentirosos” cobrem o ódio. “A língua” dos justos é como prata escolhida, mas não é assim o coração dos ímpios. Ensina-nos sempre, Senhor, como “a boca”, “os lábios” e “a língua” se destacam como um meio predominante para expressar boa vontade!
11 A boca do justo é uma fonte de vida; Mas a boca dos ímpios encobre a violência.
12 O ódio suscita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões.
13 Nos lábios do sábio se acha a sabedoria, mas a vara é para as costas do que não tem entendimento (ou coração).
14 O sábio acumula conhecimento, mas a boca do tolo [está] perto da destruição.
18 O que encobre o ódio tem lábios mentirosos, e o que profere calúnias [é] um tolo (ou vil)
19 Na multidão de palavras não falta transgressão; Mas o que refreia os seus lábios procede sabiamente.
20 A língua do justo é como prata escolhida; O coração do ímpio é de pouco valor.
21 Os lábios dos justos alimentam a muitos; Mas os tolos morrem por falta de entendimento”
(Pv 10:11-14, 18-21 WK)
A boca do homem tem uma intenção e caráter muito diferentes do que a do animal, onde ela expressa necessidades animais, inócuas ou prejudiciais aos outros. A boca do homem tem um propósito mais nobre e é única, sendo o meio de expressar sua natureza interior como alguém que está em relacionamento, não apenas no reino da natureza que ele deve governar, mas em sujeição a Deus a Quem ele representa ou, infelizmente, mal representa. Aqui, diz-se que a boca de um homem justo é uma fonte de vida (v. 11), pois essa é a mente divina. A pessoa não é simplesmente vista como de Deus, providencialmente, como Agar viu junto à fonte de água no deserto. Essa é uma questão de ver Aquele que é invisível. A pessoa se torna, assim, uma fonte ativa de bênção para os outros e de bênção para aquela natureza que tem agora a mancha da morte pelo pecado do homem desde Adão. Essa bênção é dada antes que o segundo Homem restaure todas as coisas, como Ele certamente fará no devido tempo. Enquanto isso, a boca do justo, pela graça, é uma fonte de vida. Ele é uma testemunha de Deus em Cristo; e assim como ele crê, assim ele fala. Com os ímpios isso é totalmente diferente. Sua boca não apenas pronuncia a violência da vontade própria e da impiedade, mas faz o que é ainda pior ao encobrir a violência que sente, que, se revelada, pode levar a uma cautela ou restrição salutar e advertência solene.
Os lábios
Observe novamente no versículo 13, somos informados de que “nos lábios do sábio se acha sabedoria; mas a vara é para as costas do que não tem entendimento” (ou coração). Como isso é verdade e evidente nas nossas experiências! Não é só que todo homem sábio tem sabedoria, mas em seus lábios ela é encontrada. Como o ego é traído ao buscá-la de outra forma! Quem procuraria sabedoria em outro lugar a menos que ele (talvez inconscientemente) quisesse o seu próprio caminho? Por outro lado, aquele que não tem coração, no sentido moral, merece a vara para seu próprio castigo. Se seu olho fosse simples, não lhe faltaria luz.
Em seguida, no versículo 18, ouvimos a advertência ainda mais solene contra a má vontade hipócrita, seu caráter e sua consequência natural, e o julgamento de Deus sobre ela, seja o que for que os homens digam. “O que encobre o ódio tem lábios mentirosos, e o que profere calúnias é um tolo”. O Senhor sonda os rins [as mentes – ARC] e os corações, o que não podemos fazer; portanto, precisamos nos beneficiar de Sua Palavra. Mentiras malévolas, quando reveladas, provam o ódio que estava encoberto, e espalhar calúnias expõe o tolo. O oráculo divino não se rebaixa à polidez enganadora da sociedade, mas fala o que todos os santos podem ouvir, seja por conforto ou por admoestação.
Além disso, no versículo 19, somos advertidos contra falar demais, pois nosso Senhor denunciou as vãs repetições em oração, como os gentios, e longas orações em público como os Judeus faziam. É bom em todos os momentos vigiar e abster-se, exceto no incontestável dever. “Na multidão de palavras não falta transgressão; mas o que refreia os seus lábios procede sabiamente”. Não deixemos, então, de pedir ao Senhor que ponha uma guarda à nossa boca e guarde a porta de nossos lábios, como no Salmo 141:3. Nossa natureza maligna está pronta demais para vigiar a boca do próximo para a vergonha da fé e do amor.
A língua
A língua dos justos, como nos é dito no versículo 20, é como prata escolhida. Isso é surpreendentemente apropriado e sugestivo. Poderíamos pensar que outros metais poderiam ser adequados para a aplicação. Muitas línguas que não são justas cortam como o aço mais brilhante e afiado. Mas, assim como a prata nas associações do santuário apontava para a graça e o ouro para a justiça divina, também no uso entre os homens a prata é especialmente adaptada para examinar feridas sem corroer ou infeccionar. Assim é a língua dos justos, sempre com graça, temperada com sal. Daí o apelo apostólico aos “espirituais” para que restaurem aquele que foi surpreendido em alguma transgressão; os não espirituais tendem a ser severos, enquanto os carnais seriam descuidados e se ressentiriam do verdadeiro julgamento.
O versículo 21 busca e define a bênção positiva. “Os lábios dos justos alimentam a muitos". A seguir ouve-se de forma contrária: “mas os tolos morrem por falta de entendimento”. O pão que Jesus tomou e deu por meio de Seus discípulos alimentou a multidão, com mais no final do que no início; e é isso que a alma justa encontra no Senhor para muitos em suas muitas necessidades e de mil maneiras. Eles são chamados a testificar d’Ele, e seus “lábios” “alimentarão muitos”. Assim como certamente fazem os tolos que não creem n’Ele, embora possam ouvir com os ouvidos, “morrem por falta de entendimento”. Sua carne, que o Filho do Homem nos deu para comer, e Seu sangue para beber, é a graça mais preciosa de Sua parte, e a verdade mais necessária da nossa; mas ao ouvir isso, muitos de Seus discípulos voltaram e não andaram mais com Ele. Quão verdadeiro e triste é dizer que “os tolos morrem por falta de entendimento!” Esse é o coração perverso, insensível tanto à sua própria pecaminosidade quanto à bondade de Deus, Aquele que em Cristo desceu a todas as profundezas para salvar os perdidos a todo custo.
A língua dos sábios é saúde
18 “Há uma língua que balbucia como feridas de uma espada; Mas a língua do sábio [é] saúde.
19 O lábio da verdade se firmará para sempre; Mas a língua mentirosa [é] só por um momento.
20 Engano [está] no coração dos que maquinam o mal; Mas para os conselheiros da paz [é] gozo.
21 Nenhum mal sucederá aos justos; Mas os ímpios se encherão de males.
22 Os lábios mentirosos [são] uma abominação para Jeová; Mas aqueles que agem verdadeiramente são o Seu deleite”
(Pv 12:18-22 WK).
A fala do tagarela ou do imprudente é comparada mais apropriadamente às feridas de uma espada; isso causa feridas e dor; flui da leviandade, se não da malícia, e não tem como objetivo o bem. A língua do sábio leva convicção a todo coração reto. Ela pode ferir, se o dever exigir isso, com justiça, mas é uma gentileza; essas feridas cicatrizam, pois provam e removem aquilo que só prejudica. A língua do sábio é saúde.
O lábio da verdade pode ser resistido e detestado por aqueles que têm motivos para temê-lo, mas ele permanecerá para sempre. Não há necessidade, portanto, de gastar tempo em defendê-lo ou expor aqueles que são seus adversários. Se alguém esperar em silêncio, mais aparecerá a sua realidade e importância; enquanto uma língua mentirosa é apenas por um momento, exceto entre aqueles que a amam; e onde será o final disso?
O fruto da boca
20 “O ventre do homem se satisfaz com o fruto de sua boca; Com o aumento dos seus lábios ele se satisfaz.
21 A morte e a vida [estão] no poder da língua; E os que a amam comerão do seu fruto” (Pv 18:20-21 WK).
“O ventre” parece ser empregado aqui em sua dupla aplicação para as afeições mais íntimas, sejam elas boas ou más. A boca revela o coração, como o Senhor nos diz tanto do homem bom quanto do ímpio. Da abundância do coração, fala a boca. Aqui está o outro lado: o interior de um homem está satisfeito com o fruto de sua boca, com o aumento de seus lábios. Que peso, então, tem cada palavra nossa, se trouxermos Deus na questão! Mas se isso satisfaz o homem, o filho de Deus não pode se satisfazer com nada menos do que a Palavra e a graça de Deus. Por isso, também se diz que a morte e a vida estão no poder da língua, e assim as questões relativas ao bem e ao mal. Toda a Escritura declara isso; toda a experiência confirma e ilustra isso.
23 “Quem guarda sua boca e sua língua guarda sua alma dos problemas” (Pv 21:23 WK).
Entretanto, por mais valiosa que seja a habilidade de falar bem, é aconselhável poupar tanto a língua quanto a boca. O momento, o tom, a maneira e a finalidade devem ser considerados, para que uma intenção justa não apenas falhe, mas também provoque. Assim como a boca tem que ter cuidado para não absorver o que não é correto e bom, assim a língua precisa ter cuidado para não deixar escapar o que não é edificante. Manter a boca e a língua como na presença de Deus é manter a alma longe de problemas sem fim.
Proverbs W. Kelly (adaptado)
A Doçura dos Lábios
21 O sábio de coração é chamado inteligente,
a doçura dos lábios aumenta o aprendizado.
22 A sabedoria [é] uma fonte de vida para aquele que a possui;
Mas a instrução dos tolos [é] loucura.
23 O coração do sábio instrui sua boca,
E acrescenta aprendizado aos seus lábios. (Pv 16:21-23 WK).
O sábio de coração é chamado de inteligente, e assim ele é, e isso inspira confiança. Difere muito do que os homens chamam de sagacidade, que é temida em vez de confiável. E a doçura dos lábios que acompanha essa sabedoria aumenta o aprendizado ao redor. A sabedoria é verdadeiramente uma fonte de vida para aquele que a possui, pois ele não se recusa dar água para aqueles que não a possuem. A instrução dos tolos não pode ser nada além de tolice e é totalmente exposta, por causa da vã suposição que eles têm para ensinar. Quão diferente quando o coração do sábio instrui sua boca, como o faz, e acrescenta aprendizado aos seus lábios! Pois não há apenas proveito, mas crescimento. Tais são, de fato, “palavras agradáveis”, e são como um favo de mel, doces interiormente e fortalecedoras exteriormente.
W. Kelly
Meu Tema
Fale-me agora de Cristo, que sofreu humildemente,
Suportando cuspe, flagelação, tristeza e vergonha –
Quem, quando acusado e amaldiçoado, Ele nada respondeu –
Ele é meu Salvador – deixe-me ouvir o Seu nome!
Fale-me agora de Cristo, que sobrecarregado
Suportou a terrível cruz até ao monte cruel do Calvário;
O Senhor da vida! Ele morreu em amarga angústia –
Por meus pecados vis, Seu próprio sangue derramou.
Fale-me agora de Cristo, que falou a Maria,
Na manhã da ressurreição, da derrota da morte,
Revelando ao seu coração esse segredo: “Pai!
Eu agora subo e, em Mim, vocês se reúnem.”
Fale-me agora de Cristo, que em breve virá
Para nos levar para casa, onde a visão nunca pode escurecer,
Onde todos os Seus, com línguas e corações unidos,
Em uma canção eterna, falarão d’Ele!
E quando eu falar, deixe-me falar bem de Jesus,
O totalmente amável, meu Amigo –
Todo o meu pensamento n’Ele traz paz e conforto;
Ele me ama e me amará até o fim.
E. Light
“Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a Tua face, SENHOR, rocha minha e libertador meu”
Salmo 19:14
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